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Janeiro. Racismo?
Paulo Cruz Follow
Apr 10 · 6 min read
os ais
Porem, há que se fazer uma ressalva: tal constatação tem sido usada,
principalmente pelos a ccionados pela ideologia da luta de classes,
fatalisticamente; como se o negro tendesse à criminalidade por sua
condição social. Mas não é. No entanto, o sociólogo Alberto Guerreiro
Ramos (1915–1982), um dos maiores intelectuais desse país e um
ferrenho ativista do movimento negro, já havia percebido esse erro na
década de 1950. Vejam:
Mas isso é, essencialmente, racismo? Creio que não. Pois, apesar dos
pesares, a convivência entre negros e brancos, no Brasil, é bastante
pací ca, amistosa e fraterna. O racismo de fato, consciente e perverso,
é um ponto fora da curva por aqui. Como disse Gilberto Freyre, numa
entrevista em 1980: “não há pura democracia no Brasil, nem racial,
nem social, nem política, mas, repito, aqui existe muito mais
aproximação a uma democracia racial do que em qualquer outra parte
do mundo”. Nossa imaginação moral, mal formada e débil, não podem
ser confundida com racismo. Se tudo é racismo até que se prove o
contrário — e a tese praticamente hegemônica do racismo estrutural
desemboca nisso — nada o é.
E uma última coisa, que, para mim, é a maior responsável pela situação
social da população negra (e pobre) desse país: a marginalização, o
descaso e o paternalismo produzidos pelo próprio Estado. Sofremos
com um Estado que se propõe a solucionar tudo, mas não ajuda em
nada; que toma dos mais pobres (via impostos) para oferecer aos mais
ricos; que trabalha na lógica de um capitalismo de compadrio, do
patrimonialismo descarado e da corrupção. Os paliativos que oferece —
o assistencialismo — geram ainda mais dependência e pobreza. Os
programas de inclusão são todos incapazes de cumprir a sua função
sociocultural, antes criam ainda mais separatismos e con itos.