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desigual
Wilson Rufino da Silva – Mestre em Educação pela UFPE - wilson1971aq@gmail.com
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru (FAFICA)
RESUMO
Desafiada pela complexidade do tempo presente, eivado de contradições e possibilidades, a
escola, enquanto instituição multifacetada, é chamada, forçosamente ou não, a se repensar a si
mesma. Primeiramente, porque se compreende diante do problema de sua inadequação face às
demandas da sociedade. Segundo, porquanto precisa repensar a prática cotidiana de sua
gestão. O objetivo do presente estudo é desenvolver uma reflexão sobre o direito à educação
num mundo desigual, com foco na discussão da escola crítico-democrática e reflexiva. Tal
estudo inscreve-se no rol das discussões acerca dos desafios da escola na atualidade. Trata-se
de uma elaboração de natureza teórica, mas que se vale da experiência acumulada de mais de
uma década no supervisionamento de atividades de estágio curricular.
ABSTRACT
Challenged by the complexity of the present time, riddled with contradictions and
possibilities, the school as an institution multifaceted, is called, forcibly or otherwise, to
rethink itself. First, because we understand the problem before its inadequacy to the demands
of society. Second, because they need to rethink the everyday practice of management. The
aim of this study is to develop a reflection on the right to education in an unequal world,
focusing on critical discussion of school-democratic and reflective. This study forms part of
the roster of discussions about the challenges of school today. This is an elaboration of a
theoretical nature, but it is worth the experience of over a decade in supervising the activities
of traineeship.
I. INTRODUÇÃO
Tal discurso é sedutor numa sociedade patrocinadora da exclusão social. Cria-se uma
pseudo-esperança nos “oprimidos”, ao passo que nos “opressores” gera-se um sentimento
piegas de dever cumprido, aplacando sua culpa paternalisticamente (FREIRE, 2005).
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mudar a cara da escola é uma tarefa que só poderá acontecer de dentro para fora e não por
decreto, de cima para baixo, de fora para dentro (DEMO, 2005). Para Freire,
Numa perspectiva realmente progressista, democrática e não-autoritária, não se muda a cara da
escola por portaria. Não se decreta que, de hoje em diante, a escola será competente, séria e
alegre. Não se democratiza a escola autoritariamente (1991, p.25)
Portanto, funções antes exercidas por outras instâncias formativas, hoje se encontram
sendo propostas/impostas pela demanda social à escola. Essa, por sua vez, vê-se despreparada
para atender a tamanha expectativa da sociedade. O que é pior, corre-se o risco de, face à
ampliação das funções da escola, acabar por convertê-la “numa agência de assistência social,
destinada a atenuar as contradições da sociedade capitalista” (SAVIANI, 2003, p. 99). Ao
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Neste sentido, o cotidiano escolar, prenhe de cultura, precisa esta prenhe também de
criticidade, essa forjada na superação da “curiosidade ingênua” pela “curiosidade
epistemológica” (FREIRE, 1996). E, assim, a escola vai tecendo um olhar crítico sobre a
realidade desvelador das possibilidades do fazer humano naquilo que se tem de progresso, ao
passo que também desnuda a distância abismal e anti-ética existente entre os enriquecidos e
empobrecidos. No dizer de Higal,
Embora a escola dificilmente possa corrigir, mesmo que seja de forma parcial, tais iniqüidades,
pode sim criar consciência sob re elas e fomentar o desenvolvimento de um pensamento
autônomo, capaz de processar criticamente tal conhecimento de acordo com as necessidades e
os interesses de formações sociais concretas (2000, p. 189).
Reinventar a escola e sua gestão: eis o nosso desafio. Reinventá-la em suas bases
teóricas, no cotidiano de suas práticas, sobretudo promovendo-a em um espaço-tempo de
vivência participativo-crítico, onde equipe gestora, docentes, discentes, equipe de apoio
administrativo, funcional, pedagógico, comunidade sejam protagonistas na definição de seu
modelo de participação e de gestão, de sua prática educativa, de seu currículo, de sua
concepção de pessoa, de educação, de escola, de sociedade que desejem ver construídos.
Silva afirma que
A participação de todos é importante, pois garante a demodiversidade e o pluralismo,
contemplando as diferenças (o multiculturalismo). Assim a participação tomada enquanto
substância da escola, mexe com todos os seus setores, do administrativo ao pedagógico,
definindo a sua direção e a sua prática. (2005, p.38)
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