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A NECESSIDADE DE UMA PEDAGOGIA CONTEMPLATIVA

O ano de 1979 marca um momento importante na história do estudo da mente.


O Dr. John Kabat-Zinn, professor Emérito de Medicina e fundador da Clínica de Redução
do Estresse, além de fundador do Centro de Atenção Plena da Escola Médica da
Universidade de Massachusetts e do Centro Zen de Cambridge, apresenta ao mundo um
novo método, baseado em um sistema budista milenar de condicionamento da mente,
o MBSR (Mindfulness Based Stress Reduction). Ele se tornou o pioneiro na utilização do
conceito da Atenção Plena (Mindfulness), um dos Oito Nobres Caminhos ensinados por
Buda, na prática da psicoterapia para a redução do estresse. Em 1992 há um novo
desenvolvimento da técnica surgindo a MBCT (Mindfulness Based Cognitive Therapy)
pelos pesquisadores Zindel Segal, John Teasdale e Mark Williams.
Mas foi no ano de 2000 que surge nos EUA o primeiro grupo para utilização do
sistema de Mindfulness na educação, e em 2007 o primeiro programa de Mindful
Schools In-Class no mesmo país.
Desde então inúmeras pesquisas realizadas especialmente por especialistas em
Neuroeducação tem comprovado os efeitos de sua prática na sala de aula, na vida social
e particular dos alunos, bem como na saúde dos professores.
O Reino Unido aprovou o projeto para implementar nas escolas o National
Healthy Schools Programme em vista dos seus muitos benefícios. Inúmeras cartilhas e
métodos foram desenvolvidos para o ensino, onde o aluno é incentivado na prática a
cultivar a gratidão e a bondade, lidar com pensamentos e emoções difíceis, etc. Entre as
perguntas básicas do programa há: Com ter bem-estar? Com ser melhor ainda?
A base chave de todo ensino contemplativo reside em o professor ensinar seus
alunos a aprender a selecionar o objeto de sua atenção. Todas as nossas experiências
são mediadas pelos pensamentos, sensações e percepções. Para o educador é o ensino
de uma prática metacognitiva. Para os alunos, a percepção das experiências como
fenomenológicas.
O treinamento consiste em guiar os alunos através de exercícios para ancorar
processos corporais simples, tais como as sensações relacionadas a respiração, por
exemplo, e o desenvolvimento de emoções positivas. Todas os métodos são elaborados
conforme o período de maturação neurológico, e acompanhados individualmente. O
resultado interno é a regulação aos impulsos e o autoconhecimento.
A maior parte dos problemas educacionais, descartando a situação
socioeconômica do país, ocorrem por desorganização institucional, despreparo (na
maioria das vezes, emocional) dos educadores e mau comportamento dos alunos sem
ações conjuntas entre pais e escola. Algo semelhante ocorre nas universidades e
faculdades dentro de suas características específicas.
Os três princípios em que se norteia o Mindfulness e a Pedagogia Contemplativa
podem ser aliados importantes na resolução dessas dificuldades. O desenvolvimento da
Sabedoria, em busca de um entendimento e aspirações corretas; a Moralidade,
propiciando um modo de vida seguro, com linguagem e ações apropriadas ao convívio
social; e a Concentração, ativando a disciplina, atenção e esforço corretos a cada faixa
etária e situação psicológica.
Os resultados mencionados em diversas pesquisas apresentam um futuro
notável. Controle do estresse, ansiedade e depressão. Bem-estar emocional. Melhora
no desempenho cognitivo. Melhora na regulação mental e no comportamento na
escola. Melhora na empatia e habilidades sociais. Tudo isso como resultado final de um
entendimento das emoções difíceis, da aplicação de uma educação atenciosa e uma
comunicação consciente.
Embora tenha iniciado esse artigo mencionando uma revolução no estudo da
mente à partir de 1979, todos esses entendimentos fazem parte de um conhecimento
milenar. Na Índia, Tibete, China e Japão essas práticas fazem parte da cultura. Há
registros, inclusive, de um monge chinês, o Mestre Guifeng Zongmi, praticante do Zen
Budismo, o Chan, que aplicava técnicas de meditação como forma de tratamento. Muito
semelhante a MBCT.
Outros educadores de culturas diversas mencionaram a importância do estudo
sobre a alma humana, como Aristóteles que disse que “educar a mente sem educar o
coração não é educação.”
A observação pura da própria existência é o que conduz o homem a sua
individuação, usando um conceito junguiano. Porém, o grande educador chinês,
Confúcio, destaca que não é preciso que o homem redescubra isso, pois, a criança, se
continuar em seu caminho natural, já está centralizada e individuada. A cultura é que
distancia o homem de seu centro.
Assim, em resumo, temos muitos motivos para a implementação de práticas
contemplativas, como o Mindfulness, na educação. Escritos milenares. Culturas
diversas. Todas envolvidas no conceito da auto-observação atenciosa. Recursos e
estudos modernos. Simplicidade na execução, baixo investimento e abertura a qualquer
instrutor devidamente orientado a aplicar essa ciência da educação emocional e mental.

Autor: Prof. Dr. Helio Laureano. Neuropsicólogo. Neuropsicopedagogo. Instrutor de


Mindfulness. Especialista em Psicologia Transpessoal. Doutor em Psicologia. Doutor em
Antropologia. Realizando estudos sobre Meditação nas instituições International
Buddhist Academy e Dharma College. Diretor do CENTRO DE ESTUDOS
CONTEMPLATIVOS. (econtemplative.com)

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