w w w. u n i s u l . b r
Universidade Sul de Santa Catarina
Estudos
Socioculturais
UnisulVirtual
Palhoça, 2016
Estudos
Socioculturais
Livro didático
Designer instrucional
Marina Melhado Gomes da Silva
Isabel Zoldan da Veiga Rambo
UnisulVirtual
Palhoça, 2016
Livro Didático
E84
Estudos socioculturais : livro didático / [conteudistas] Cláudio
Damaceno Paz, Elvis Dieni Bardini, Jaci Rocha Gonçalves, Tade-Ane de
Amorim ; design instrucional [Marina Melhado Gomes da Silva], Isabel
Zoldan da Veiga Rambo. – Palhoça : UnisulVirtual, 2016.
XX p. : il. ; 28 cm.
Inclui bibliografia.
Capítulo 1
Cidadania e Direitos Humanos 9
Capítulo 2
Identidade e culturas 23
Capítulo 3
Sociedade: teorias clássicas e contemporâneas 43
Capítulo 4
Práticas culturais e processos midiáticos 53
Considerações Finais | 67
Referências | 69
Caro(a) estudante,
Os conteúdos aqui reunidos, além dos demais materiais disponíveis nos tópicos
de estudo do Espaço Virtual de Aprendizagem seguem uma temática, bem como
uma abordagem relacionada à sociedade e à cultura.
É o Direito que deve garantir os interesses de cada um e impedir que uns sejam
prejudicados pelos outros. A pessoa que tem um direito violado está sofrendo
uma perda de alguma espécie. E quando uma pessoa que teve um direito
ofendido não reage, isso pode encorajar a ofensa de outros direitos seus, pois
sua passividade leva à conclusão de que ela não pode ou não quer defender-se.
(DALLARI, 1985).
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Em 1773, na cidade de Boston, ocorreu a The Boston Tea Party. Colonos que
viviam do comércio, por se sentirem prejudicados com a Lei do Chá, disfarçaram-
se de índios peles-vermelhas, assaltaram os navios da companhia de transporte,
que estavam ancorados no porto de Boston, lançando o carregamento de chá
no mar. A reação inglesa foi imediata e mesmo violenta. Em 1774, os rebelados
criaram um exército comum entre as colônias, demonstrando a fragilidade
das suas relações com a metrópole inglesa, fato que abriu caminho para a
independência.
A prática da escravidão foi abolida nos Estados Unidos da América em 1863, com
a Declaração de Emancipação promulgada pelo presidente Abraham Lincoln, no
contexto de uma guerra civil, a Guerra da Secessão. No entanto, a discriminação
racial, mesmo com a abolição, assumiu na cultura estadunidense um caráter
segregacionista, que deu origem a inúmeras ações afirmativas e reações violentas.
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A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi assinada por países do mundo
inteiro, inclusive pelo Brasil, valendo como um compromisso moral desses países.
É necessário que o maior número possível de pessoas conheça a Declaração,
para cobrar de seus governos o respeito ao compromisso assumido. (DALLARI,
1985, p. 52).
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Na escala evolutiva dos direitos, legislados ao longo dos séculos XIX e XX, há
quatro gerações sucessivas de direitos fundamentais:
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Considerando este resumo, você, caro aluno(a), pode alargar sua compreensão
sobre os Direitos Humanos e sua positivação na legislação brasileira. São muitas
as possibilidades para aprofundar estudos nesta área. Selecionamos no EVA
para vocês o texto do autor SARMENTO, Jorge. AS GERAÇÕES DOS DIREITOS
HUMANOS E OS DESAFIOS DA EFETIVIDADE. Leia e destaque alguns avanços e
possibilidades de efetividade dos Direitos Humanos na vida dos brasileiros.
1 Extraído de: ZANETTE, V.R. Schulze. Desafios da cidadania e dos direitos humanos na contemporaneidade.
In: Ética, cidadania e direitos humanos. Livro digital, 5ª ed. Palhoça: UnisulVirtual, 2012.
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É consenso, entre muitos autores que tratam do tema dos direitos humanos,
que a democracia e o Estado de direito são elementos indispensáveis para a
realização desses direitos. No entanto, como já deve ser de seu conhecimento,
existe mais de um tipo de Estado de Direito, bem como mais de um tipo de
democracia. Qual Estado e qual sistema democrático praticam melhor os direitos
humanos? Aliás, algum desses pode realizar tais direitos?
Como uma resposta à própria evolução histórica, podemos observar que muito se
tem evoluído na garantia dos direitos humanos, no próprio entendimento do que
eles são e de sua importância na sociedade mundial e brasileira.
Tendo feito essa análise dos direitos humanos até o presente, cabe agora pensar:
quais são os desafios dos direitos humanos, hoje? E amanhã? Mais ainda: pode-
se afirmar que os direitos humanos são efetivamente garantidos no Brasil? E
no mundo? A resposta mais rápida e fácil a ser dada é que, evidentemente, os
direitos humanos não são garantidos de maneira efetiva como um todo; e nem
para todos, como podemos ver a seguir.
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Hoje em dia as coisas são um pouco mais sutis. Você não possui
a pessoa, você apenas a usa por quanto tempo precisar dela. É
a escravidão por dívida. Funciona assim: oferecem um emprego
para o cara, dão um adiantamento, e ele começa a trabalhar.
Quando chega o dia do pagamento, ele descobre que está
endividado. Tem de descontar o adiantamento, o pagamento do
transporte e o que deve na cantina – alimentos, ferramentas e
remédios – a dívida não termina nunca.
Com isso, as pessoas trabalham, horas a fio, no meio do nada, correndo risco
de vida e, ao final, o que recebem é muito pouco. A boa notícia é que a Justiça
Federal está condenando fazendeiros por terem submetido trabalhadores a
condições semelhantes à escravidão: pessoas que vivem sem remuneração,
presas a relações de dívidas forjadas e as mais variadas condições degradantes
de trabalho, expostas a existência de alojamentos precários, instalações
sanitárias em péssimo estado de conservação, não fornecimento de água potável,
não fornecimento de equipamentos de proteção individual, entre outras. São
muitas as situações sendo superadas pela ação dos órgãos que combatem o
trabalho análogo a escravo.
Nesse contexto,
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Uma das principais argumentações contra o “sistema de cotas” era que, mesmo
conseguindo entrar na universidade, os cotistas acabariam por desistir, ou mesmo
que isso acabaria por prejudicar o próprio andamento do curso, já que esses não
conseguiriam acompanhar os outros estudantes em decorrência do déficit no
ensino médio. No entanto, pesquisas produzidas, por exemplo, Mandelli (2010),
destacam o fato de que, mesmo vindo de um ensino médio defasado, o esforço
dos cotistas é tamanho que apresentam bom desempenho acadêmico.
Também está entre os basilares dos direitos civis o direito de “não ter o lar
violado”. Isso vai depender de uma série de circunstâncias para que realmente
seja respeitado, tais como: o bairro em que mora, o tipo de policial que está em
atividade e, até mesmo, o momento histórico. Tudo isso pode ser comprovado se
nos lembrarmos das invasões que ocorrerem nas favelas dos grandes centros,
em que absolutamente todos os “barracos” são invadidos, mesmo ali morando
pessoas de bem. Essas acabaram pagando por estarem no lugar e no momento
errado.
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Quanto aos direitos políticos, esses não são amplamente assegurados quando o
povo não tem um mínimo de instrução para entender a importância de seus atos
e de suas escolhas, quando prevalece nas práticas dos gestores públicos práticas
de manobras conduzidas pelos interesses pessoais, políticos partidários, de
grupos privilegiados acima dos interesses coletivos e da república.
Podem ser citados muitos outros direitos que são violados diariamente em nosso
país, os quais são resultados de muitos fatores, entre eles deve ser ressaltada
a falta de informação e até de educação da população quanto aos seus direitos
humanos. A importância de nos percebermos como sujeitos transformadores da
vida, dos ambientes de convivência, do local onde moramos, da cidade, do país.
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Identidade e culturas
Jaci Rocha Gonçalves
2 Consulte o TCC de SILVA JUNIOR, Ivo. O contador pluralista (…) no blog Revitalizandoculturas: blogspot.com.br
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Cabe, pois, a todo profissional, o direito e dever de construir uma visão, um olhar
antropológico-cultural pluralista de dualidade sobre o humano como ser holístico
e diverso. Tanto nas pesquisas interativas das ciências biológicas, ciências
sociais, tecnológicas como na saúde. De um lado, aprender a arte da inteireza
de ser e, de outro, capacitar-se a ver a diversidade como um constitutivo do
universo, da biodiversidade e, sobretudo, do humano. Porque só ao humano é
dado, como ser consciente, ter um viver pluralista, multicultural.
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Para uma performance eficiente, deve investir no cuidado adequado das relações
culturais consigo, com o outro e o mundo; daí, sua saúde ético-ontológica
(HEIDEGGER apud GONÇALVES-IUNSKOVISKI, 2015). A primeira relação do
sujeito é com o seu ethos cultural, ou seja, o modo particular de viver e de habitar
eticamente o mundo que uma comunidade tem ao fazer sua história.
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No Brasil, os atos praticados pela colonização desde 1500 aos 900 povos
originários sustentaram um genocídio com extinção paulatina: dos cinco milhões,
hoje restam 350 mil originários e cerca de 250 etnias. De acordo com os números
referidos pelo etnógrafo Francisco Dias Tano, os Bandeirantes, nas ofensivas
entre 1636-1638 às vinte e cinco reduções indígenas dos Sete Povos das
Missões, transformaram em escravos e/ou mataram trezentos mil índios.
Sete Povos das Missões é o nome que se deu ao conjunto de sete aldeamentos
indígenas fundado pelos Jesuítas espanhóis no Continente do Rio Grande de São
Pedro, atual Rio Grande do Sul, composto pelas reduções de São Francisco de
Borja, São Nicolau, São Miguel Arcanjo, São Lourenço Mártir, São João Batista, São
Luiz Gonzaga e Santo Ângelo Custódio.
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Mais uma vez, com apoio da filologia, (BOSI, 2015), podemos ver como a palavra
cultura se formou em nossa língua. Vem do verbo latino colere conjugado no
presente do indicativo colo (eu cultivo a terra) e no particípio passado cultus
(aquilo que foi cultivado e tornado culto no rito religioso). Do particípio futuro
culturus se extraem os adjetivos culturus, a, um (o que ainda vai ser cultivado).
Três palavras que na língua latina amarram o presente, passado e futuro. Portanto,
culturus tem raiz em colo (presente) e em cultus (passado). (GONÇALVES, 2016b,
p. 5)
Sobre a teoria da cultura, muita reflexão se tem produzido desde que em 1871,
Edward B. Tylor (1871, vol. I, p. 1) descreveu cultura como “o conjunto complexo,
a totalidade de conhecimentos, crenças, artes, leis, moral, costumes e qualquer
capacidade e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro de uma
sociedade.” Hoje, aceita por todos os estudiosos do ramo.
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Você pode ter agora uma visão geral das escolas ocidentais mais conhecidas que
se sucederam, objetivando estudar o cultural no humano nesses cerca de 215
anos de buscas de sistematização dos estudos sobre o cultural no ánthropos.
O primeiro laboratório da nascente ciência antropológica foi a Escola do
Evolucionismo Social de matriz inglesa, berço das ciências da natureza.
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Mas pensar assim nos anos 20 era uma postura revolucionária adotada por
Malinowski. Optando por observar e analisar essa coerência interna em cada
sociedade, Malinowski elabora a teoria do funcionalismo que tira seu modelo das
ciências da natureza. Assim, os padrões culturais determinariam o surgimento
do estatuto, que é o liame entre as intuições. Neste processo de análise da
realidade, Malinowski vê como fundamentais três procedimentos metodológicos:
1) a observação de todos os costumes dos nativos; 2) a apreensão das narrativas
orais; e 3) a utilização do método estatístico. Ele mostra também como ponto
essencial na observação do comportamento dos nativos é estar atento aos
imponderáveis da vida real, ou seja, os elementos não abarcados pela análise
estatística e que, na verdade, são a carne e o sangue da arquitetura teórica de
toda pesquisa científica. (GONÇALVES, 2016b, p. 26).
Franz Boas, físico, geógrafo e historiador muito contribuiu com sua escola à
crítica do Método Comparativo ou Etnológico e seus reducionismos. Sugeriu o
acréscimo de certa dose do que chamou de relativização. O relativismo inclui que
os resultados obtidos na etnografia passem pelo crivo dos estudos históricos
das culturas, das condições psicológicas e dos ambientes onde se desenvolvem
essas culturas.
Por essa relativização, Franz Boas abre os olhos para os perigos de falsas
interpretações das teorias deterministas do fenômeno cultural. Fruto das críticas
de Franz Boas e de sua escola a esse possível comportamento reducionista
de generalização foi o contraponto da necessidade de analisar os elementos
culturais em seu contexto de conjunto, já que o vício comum era inferir-se a uma
totalidade a partir de uma parcela mínima da cultura.
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Quadro 1.5 - Métodos e Técnicas com interface para a ciência da Antropologia Cultural
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II - serviço da dívida;
Quanto aos Povos Originários, cf. os artigos 230 e 231, da Constituição Cidadã
de 1988, também antecipam a Declaração Universal dos Direitos dos Povos
Indígenas de 2007.
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Essa é uma das questões que a Teoria Social vem buscando responder desde
o início de sua trajetória. Mobilizaremos as teorias de sociólogos considerados
os clássicos da Sociologia: Emile Durkheim, Karl Marx e Max Weber, para
discutirmos por que vivemos juntos!
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Emile Durkheim
Para Durkheim, a sociedade constituía-se como um reino social, com
individualidade distinta dos reinos animal e vegetal. Dessa forma, a sociedade
não é apenas a soma dos indivíduos que a compõem; ela é uma síntese que se
encontra em cada elemento que compõe os diferentes aspectos da vida.
Durkheim esforçou-se muito para afirmar a exterioridade dos fatos sociais, isto
é, para separá-los de razões pessoais ou de impulsos da consciência individual.
Segundo ele:
Dessa forma, o modo como o indivíduo age é sempre condicionado pela sociedade,
pois o agir individual origina-se no exterior, ou seja, na sociedade. Ele é imposto pela
sociedade ao indivíduo, por isso é coercitivo, tem existência própria e independente da
existência do indivíduo, que age como a sociedade gostaria que ele agisse.
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Pense, por exemplo, que, antes de dormir, você “naturalmente” vai escovar os
dentes. Esse ato de escovar os dentes não é “natural” e, sim, imposto como uma
regra que deve ser seguida por todos. Mas, como não pensamos se devemos ou
não escovar os dentes ao irmos dormir, já interiorizamos essa regra, de tal modo
que ela não parece mais uma coerção social. E é exatamente no momento no
qual não a sentimos mais como impositiva que a regra obtém o sucesso.
De acordo com Durkheim, os fatos sociais têm objetividade porque eles têm
existência independente dos indivíduos. A sociedade, nesse sentido, é mais do
que a soma dos indivíduos, sendo uma espécie de síntese que não se encontra
em nenhum dos elementos que compõem os diferentes aspectos da vida.
Uma vez constituído um fenômeno, ele tem uma forma que cada elemento
individual não possui. A sociedade, nesse sentido, é mais do que a soma das
partes. Por isso, os fenômenos, uma vez combinados e fundidos, fazem nascer
algo completamente novo, o qual não está mais nas motivações individuais e nem
é o resultado das partes colocadas mecanicamente uma ao lado da outra.
A interação entre os indivíduos possui uma força peculiar capaz de gerar novas
realidades. Durkheim mostra que a mentalidade do grupo não é a mesma coisa
que a mentalidade individual; que o estado de consciência coletiva não é a
mesma coisa que o estado de consciência individual e que um pensamento
encontrado em todas as consciências particulares ou um movimento repetido por
todos, não é, em si, um fato social.
Para ter um caráter social, é necessário que sua origem esteja na coletividade
e não nos membros da sociedade. A exterioridade do fato social é dada pela
possibilidade de entendê-lo como objeto de observação, independentemente das
ações dos indivíduos.
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Uma assembleia não é a soma dos indivíduos, mas é a produção de algo novo,
nas palavras de Durkheim, algo “Sui Generis”. A realidade Sui Generis da
sociedade pode ser chamada de representação coletiva de um fenômeno, ou
seja, a forma como a sociedade vê a si mesma e ao mundo que a rodeia, por
meio de suas lendas, mitos, concepções religiosas e suas crenças morais.
Marx
Karl Marx viveu no século XIX, no período da consolidação do sistema capitalista,
que imprimiu uma nova maneira de ser da sociedade. Suas formulações teóricas
sobre a vida social, com destaque para as análises que fez da sociedade
capitalista da sua época, causaram repercussões entre os intelectuais, a ponto
de a Sociologia Ocidental Moderna preocupar-se basicamente em confirmar ou
negar as questões levantadas por ele.
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Weber e a sociedade
Diferentemente de Marx e Durkheim, Weber apontou que, para compreendermos
a sociedade, precisamos centrar a análise no sujeito, pois é a partir da ação
individual que se dará a constituição da sociedade.
Weber não apresentou uma teoria geral sobre a sociedade, estando mais
preocupado em discutir situações sociais concretas. Desse modo, esse pensador
partiu da ideia de que o indivíduo é o elemento primordial para compreender a
realidade social. E essa análise passava pelo comportamento dos indivíduos,
já que tudo que existe na sociedade é resultado da vontade e da ação dos
indivíduos. É em suas condutas individuais que o agente associa um sentido
orientado pelo comportamento dos outros. Leia as palavras do próprio autor:
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Cada indivíduo é levado a agir por um motivo que é dado pela tradição, por
interesses racionais ou pela emotividade.
Weber deixou dito que, por mais individual que seja a ação, o fato de o indivíduo agir
segundo a expectativa do outro faz com que a sua ação tenha um caráter coletivo e
social. É o que ele denominou ação social.
A ação social é a conduta do agente que está orientada pela conduta do outro,
pela expectativa que você possui sobre o que o outro espera que você faça. Na
relação social, a conduta de cada qual entre múltiplos agentes envolvidos orienta-
se por um conteúdo de sentido reciprocamente compartilhado.
Ainda é preciso considerar que essa relação orienta-se pelas ações dos outros,
que podem ser passadas, presentes ou esperadas como futuras (vingança por
ataques anteriores, réplica a ataques presentes, medidas de defesa diante de
ataques futuros). Porém, nem toda espécie de ação, incluindo a ação externa, é
social. A conduta humana é ação social somente quando ela está orientada pelas
ações dos outros. Por exemplo: um choque de dois ciclistas é um simples evento
como um fenômeno natural. Por outro lado, haveria ação social na tentativa
dos ciclistas se desviarem, ou na briga, ou, ainda, considerações amistosas
subsequentes ao choque.
Pensamento contemporâneo
Discutimos três diferentes perspectivas da análise da relação entre indivíduo
e sociedade. Emile Durkheim apontou para a coerção que a sociedade exerce
sobre os indivíduos. Para Karl Marx, a discussão maior se colocou sobre a
inserção dos indivíduos em suas classes sociais. E Max Weber discutiu as ações
individuais como constituintes da sociedade. Mesmo olhando a sociedade e os
indivíduos por diferentes perspectivas, todos os autores clássicos da sociologia
procuraram explicar como se dá a constituição da sociedade.
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Um dos sociólogos que discute essa relação é o francês Pierre Bourdieu (1983),
que desenvolveu o conceito de habitus. Segundo esse autor, habitus significa:
Outro sociólogo que fez significativas contribuições para a discussão sobre o estudo
das sociedades foi o inglês Anthony Giddens. O autor desenvolveu a teoria da
estruturação, procurando resolver a dicotomia entre indivíduo e sociedade. (GIDDENS,
1989).
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É importante destacar que, para o autor, as regras que regulam as atividades não
podem ser assumidas como apenas restritivas ou coercitivas. “A estrutura não
deve ser equiparada à restrição, à coerção, mas é sempre, simultaneamente,
restritiva e facilitadora”. (GIDDENS, 1989, p. 30). Nessa concepção, não há
indivíduos independentes da estrutura social, bem como não existe estrutura
dada, prévia à ação dos indivíduos. Assim, para entendermos os processos
sociais, temos de compreender a ação individual e a relação de tal ação com as
estruturas sociais. As estruturas são significadas por meio da ação individual e a
ação efetiva-se estruturalmente.
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Esse novo contexto da economia tem sido descrito como sociedade pós-industrial, era
da informação, economia da informação, revolução da microeletrônica e da informática.
Algo que está relacionado a uma base crescente de consumidores, tecnologicamente
aptos e que integram, em seus cotidianos, os novos avanços da computação,
entretenimento e telecomunicações.
Segundo Giddens (2005), duas das mais influentes forças das recentes
sociedades modernas, a tecnologia da informação e os movimentos sociais,
uniram-se produzindo resultados surpreendentes. Os movimentos sociais
espalhados pelo globo conseguem unir-se em imensas redes regionais e
internacionais que abrangem organizações não governamentais, grupos religiosos
e humanitários, associações que lutam pelos direitos humanos, defensores dos
direitos de proteção ao consumidor, ativistas ambientais e outros que agem em
defesa do interesse público.
Essas redes eletrônicas de contatos agora têm uma capacidade, nunca vista,
de reagir imediatamente aos acontecimentos, de acessar e compartilhar fontes
de informação, além de pressionar corporações, governos e organismos
internacionais.
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Jornais
De acordo com Bryn (2006), o primeiro sistema de escrita surgiu no Egito e na
Mesopotâmia há cerca de 5500 anos. Os jornais no formato moderno começaram
a circular no século XVIII, e, no século XIX, a imprensa tornou-se de massa, com
uma tiragem diária lida por milhares de pessoas.
Foi nos Estados Unidos que a população viu surgir o primeiro jornal impresso com
preços acessíveis à boa parte de seus moradores.
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Durante mais de meio século, os jornais foram soberanos como principal forma
de transmitir informação de maneira rápida e abrangente. A maior parte das
mídias eletrônicas surgiu no século XX. O primeiro sinal de TV foi transmitido em
1925, quatorze anos depois foi criada a primeira rede de TV, nos Estados Unidos.
A internet comercial é de 1991. Com o surgimento do rádio, do cinema, da
televisão e da internet, os jornais diminuíram sua influência. (BRYN, 2006).
Televisão
Junto com a internet, a TV é o grande fenômeno dos meios de comunicação de
massa nos últimos 50 anos. É possível que uma criança que nasça hoje passe
mais tempo de sua vida, quando acordado, em frente à TV do que fazendo
qualquer outra atividade. Praticamente todos os lares brasileiros têm TV e
ficam ligados por mais de 5 horas diárias. O número de canais de televisão vem
crescendo com os avanços na tecnologia de satélites e cabos.
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Com um conteúdo tão controverso, esse livro foi motivo de intensos debates.
Alguns pesquisadores acusaram o grupo da Universidade de Glasgow de estar
sendo parcial; outra crítica afirmava que a pesquisa não era confiável, pois os
cinco meses em que o grupo analisou os noticiários não foram representativos.
Internet
A internet é um novo fenômeno de mídia. Não se sabe exatamente o número
de pessoas que a utilizam, mas há estimativas de que mais de 100 milhões
de pessoas espalhadas no mundo inteiro podem acessá-la. Seu crescimento
é de aproximadamente 200% em cada ano, desde 1985. O acesso à internet
é extremamente desigual tanto em termos de países, como regiões dentro do
Brasil.
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BRAZIL
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O ciberespaço
A história está repleta de exemplos de tecnologias que favoreceram a
comunicação e a interação entre os humanos. As sociedades ocidentais
desenvolveram-se e transformaram-se com base nessas tecnologias, produzindo
novas formas de relacionamento social e, consequentemente, alterando desde a
formação da subjetividade coletiva até a produção cultural e a vida cotidiana.
O alfabeto, inventado na Grécia por volta do século VI a.C., constitui “a base para
o desenvolvimento da filosofia ocidental e da ciência como conhecemos hoje”
(CASTELLS, 2005). Isso proporcionou a estrutura mental para a comunicação
cumulativa baseada em conhecimento.
Mais do que nunca, o início do século XXI (como preconizado pela ficção
científica, porém, com diferenças pontuais) apresenta uma série de fenômenos
decorrentes das tecnologias de informação e seus impactos nas sociedades
contemporâneas.
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1 De acordo com Levy (1999, p.36), todos os aparatos materiais que permitem a interação entre o universo da
informação digital e o mundo ordinário.
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Nas redes sociais, novos atores sociais surgem representados por ferramentas
como weblog, fotolog, facebook, twitter etc.; ou seja, “espaços de interação,
lugares de fala construídos pelos atores de forma a expressar elementos de sua
personalidade ou individualidade”. (RECUERO, 2009).
Como cita Recuero, “Uma rede social é definida por um conjunto de dois
elementos: atores (pessoas, instituições ou grupos) e suas conexões (interações
ou laços sociais)”. (WASSERMAN & FAUST, 1994 apud RECUERO, 2009, p. 82).
As redes sociais são anteriores à internet, que apenas ampliou o “espaço” para
as interações. Isso só foi possível a partir da criação do aplicativo WWW (World
Wide Web) no início dos anos noventa do século passado. Essa ferramenta
possibilitou organizar os conteúdos da rede por sítios de informação, expandindo
a utilização dessas tecnologias para além dos ambientes militar e científico, que
as originaram.
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Numa visão um pouco mais simplificada, Recuero (2009, p. 102) define sítios de
redes sociais como “sistemas que permitem 1) a construção de uma persona
através de um perfil ou página pessoal; 2) a interação através de comentários e 3)
a exposição pública da rede social de cada autor”.
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Nesse sentido, ele defende o fim dos monopólios da expressão pública, pois no
ciberespaço o indivíduo possui a liberdade e os meios para, por exemplo, “propor
suas sínteses e sua seleção de notícias sobre determinado assunto”. (LEVY,
1999, p. 240); existe uma crescente variedade de modos de expressão (vide as
novas formas de escrita); são progressivos a disponibilidade de instrumentos de
filtragem e de navegação e o desenvolvimento das comunidades virtuais e dos
contatos interpessoais a distância por afinidade, sendo que o “principal fato a
ser lembrado é que os freios políticos, econômicos ou tecnológicos à expressão
mundial da diversidade cultural jamais foram tão fracos quanto no ciberespaço”.
(LEVY, 1999, p. 240).
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Mas o tema não se esgota nestas poucas laudas. Longe disso, pelo fato de ser
um fenômeno em pleno desenvolvimento e ainda com pouca produção analítica,
as ciências sociais ainda tecem neste momento os possíveis instrumentos
teóricos e a delimitação de problemas e hipóteses mais precisas para abordar os
temas que surgem das novas relações sociais mediadas pelas interfaces digitais.
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Por outro lado, também deve ter percebido que as habilidades de análise e
compreensão de contextos, de diálogo com as diferenças socioculturais, de
produção acadêmica são fundamentais para compreender a dinâmica e a
diversidade das sociedades humanas, visando a agir responsavelmente nos
contextos sociais. Estamos felizes por esse seu exercício, passível de contribuir
para um mundo cada vez melhor. Desejamos-lhes sucesso no curso e felicidade
na vida!
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Capítulo 1
BOBBIO, Norberto. Estado, Governo e Sociedade. São Paulo, SP: Paz e Terra,
2000.
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BOFF, Leonardo. Saber cuidar: ética do humano, compaixão pela terra. 7ª ed.
Petrópolis: Vozes, 2001.
LANNA, Marcos. Nota sobre Marcel Mauss e o Ensaio sobre a Dádiva. In: Revista
Sociologia Política, nº 14, 2000.
RIBEIRO, Darcy. A invenção do Brasil. In: O povo brasileiro. Paulus, São Paulo,
2006, (26’). Vídeo.
70
MARX, Karl. Para a crítica da economia política. São Paulo: Abril Cultural, 1982.
Capítulo 4
71
Tade-Ane de Amorim
73
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