A Natureza e os Deveres do Ofício de Presbítero Regente
O caráter essencial do oficial de que falamos é o de governante eclesiástico. A expressão “o que
preside,4 com diligência” (Rm.12:8) sintetiza apropriadamente as suas funções conforme lavradas na Escritura. O presbítero docente é na verdade também um regente. Além disso, entretanto, ele é chamado a pregar o evangelho e a administrar os sacramentos. Mas a esfera de ação específica assinalada ao presbítero regente é a de cooperar com o pastor no exame e governo espirituais. As Escrituras, como sabemos, falam não apenas de “pastores e mestres”, mas também de “governos”, de “presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na palavra e no ensino” (Ef.4:11; 1Co.12:28; 1Tm.5:17). Há uma nítida analogia entre o ofício de governante na igreja e o de governante na comunidade civil. Neste último caso o magistrado civil tem uma ampla e importante gama de deveres. Além das funções que desempenha quando convocado à corte de justiça à qual preside, ele pode ser — e frequentemente o é, embora menos notoriamente — chamado a corrigir abusos, fazer cumprir a justiça, coibir, prender e punir criminosos e, de modo geral, fazer executar as leis que foram criadas para promover a tranquilidade e a ordem públicas, às quais jurou defender fielmente. Os deveres do governante eclesiástico são extremamente semelhantes a isso. Na verdade ele não possui o poder de empregar o braço secular para coibir ou castigar os que transgridem as leis de Cristo. O reino sob o qual atua e a autoridade que exerce não são deste mundo. É claro que ele não tem o direito de aplicar multas, aprisionar, ou maltratar externamente os mais dissolutos transgressores da pureza ou da paz da igreja — a menos que estes sejam culpados do que tecnicamente se denomina de “perturbação da ordem”, isto é, da violação dos direitos civis, tornando-se assim sujeitos às penalidades do Direito Civil. E mesmo que isso ocorra, o governante eclesiástico não tem o direito de [por si mesmo] processar o infrator. Ele não possui senão autoridade moral, mas deve recorrer às correções do magistrado ci vil. Ainda assim existe uma óbvia analogia entre o seu ofício e o do magistrado civil. Ambos são igualmente estabelecidos por Deus, ambos são necessários à ordem e conforto sociais, e são ambos dirigidos por princípios que os recomendam ao bom senso e à consciência dos que anseiam pelo bem-estar e felicidade sociais. Deve-se considerar que o presbítero regente, não menos que o presbítero docente (i.e., pastor), age sob a autoridade de Cristo em tudo que legitimamente faz. Se o ofício de que tratamos foi instituído na igreja apostólica por infinita sabedoria — se é uma ordenança de Jesus Cristo tanto quanto é a do ministro do evangelho — ambos são, portanto, igualmente oficiais de Cristo. Ten- do, o presbítero regente, direito a falar e agir em Seu nome. Conquanto eleito pelos membros da igreja (e representando-os no exercício do governo eclesiástico), não é dos que o elegeram mestre e guia que deriva a autoridade de governá-los; tanto quanto aquele que “se afadiga na palavra e no ensino” não deriva deles a autoridade para pregar e ministrar as ordenanças. Há motivos para se crer que algumas pessoas, mesmo na igreja presbiteriana, adotam uma visão diferente sobre este assunto. Elas consideram o presbítero docente como um oficial de Cristo, e atendem às suas instruções oficiais como às de um homem enviado por Ele [Cristo], e vindo em Seu nome. Mas, quanto ao presbítero regente, acostumaram-se a considerá-lo como o detentor de um ofício instituído meramente pela prudência humana e que, por tanto, para o cumprimento de seus deveres oficiais, possui um fundamento bem diferente do ofício que é exercido pelo “embaixador de Cristo” (2Co.5:20). Esta é, sem dúvida alguma, uma perspectiva errada sobre o assunto e uma percepção que, prevalecendo, presta-se a exercer a mais danosa influência. A verdade é que, se o ofício do qual tratamos é de autoridade apostólica, estamos obrigados a sustentar, honrar e obedecer aos indivíduos que o ocupam e cumprem os seus deveres conforme as Escrituras, tanto quanto a qualquer outro oficial ou ordenança instituída por nosso Divino Redentor. Portanto, não há como considerar os presbíteros regentes como meros acessórios eclesiásticos, ou como uma equipe de conselheiros escolhidos tão-somente pela sabedoria humana, e que por causa disso devem ser honrados e obedecidos até onde o capricho humano considerar ser — tanto mais, ou tanto menos — apropriado. Mas como portadores de um ofício divinamente instituído — como o “ministro de Deus para teu bem” (Rm.13:4) — e cujos atos legítimos e fiéis devem comandar nossa obediência conscienciosa. Os presbíteros regentes de cada igreja são convocados para atuarem tanto num âmbito público e formal, quanto numa esfera mais particular de deveres. Quanto ao primeiro dos deveres públicos e formais de seu ofício, eles constituem, na igreja à qual pertencem, um juizado ou corte judicial, denominada entre nós de Conselho da igreja, e em algumas outras denominações presbiterianas de consistório: ambas as expressões portam o sentido de uma assembléia de eclesiásticos, que representam a, e atuam em, benefício da igreja. Esse grupo de presbíteros, encabeçado e presidido pelo pastor em suas reuniões, forma uma assembléia judicial pela qual todos os interesses espirituais da congregação devem ser supervisionados, regulamentados e estabelecidos autoritativamente. O Conselho da igreja tem a seu cargo a manutenção do governo espiritual da congregação; por isso eles têm autoridade para examinar o discernimento e a conduta cristã dos membros da igreja; convocar à sua presença transgressores e testemunhas, membros da própria congregação, e apresentar testemunhas quando necessárias ao termo do processo, pondo-se eles mesmos à disposição para testemunhar quando requeridos; acolher membros na comunhão da igreja; admoestar, repreender, suspender, ou excluir dos sacramentos os que forem achados merecedores de censura; fomentar, de comum acordo, as melhores medidas para a promoção dos interesses espirituais da congregação; e designar delegados aos concílios superiores da igreja. [Forma de Governo, 1821 revisão, 9:6].