Você está na página 1de 12

Doença

de Fabry
Dra. Luciana Clark
CRM-SP: 84.916
Diretora de Comunicação Científica da Evidências.

Dr. Otávio Clark


CRM-SP: 84.863
Oncologista Clínico;
Presidente da Evidências Consultoria.

2 | Doenças raras
Doença Qual a fisiopatologia dessa doença?
Cada célula tem dentro de si estruturas conhe-

de Fabry cidas como lisossomos9, pequenas organelas que


contêm enzimas e funcionam degradando subs-
tâncias de dentro e de fora do citoplasma.8
Uma das enzimas presentes no lisossomo é a
alfa-galactosidase (α-Gal A). Quando ela está
Existem dezenas de milhares de enzimas no or- ausente ou deixa de funcionar corretamente, o
ganismo humano. organismo começa a acumular uma substância
Basta que uma delas esteja ausente ou funcio- gordurosa (globotriaosilceramida, também conhe-
nando mal para que uma cascata de reações resul- cida como Gb3), principalmente nas paredes dos
te em uma doença complexa, debilitante e poten- vasos sanguíneos.10
cialmente fatal. A causa deste defeito na enzima α-Gal A tem
Este é justamente o caso da Doença de Fabry origem genética: já foram detectados mais de 400
(DF), também conhecida como Doença de tipos de mutações no gene responsável pela sua
Anderson-Fabry, uma patologia rara, de transmis- codificação.1
são hereditária e que afeta múltiplos sistemas.1 Ao contrário de outras Doenças de Depósito
A DF é uma das 45 Doenças de Depósito Lisossômico, a DF não é autossômica recessiva,
Lisossômico conhecidas, que coletivamente afetam mas sim ligada ao X. Em sua maioria as mulheres
1 em cada 7.700 crianças nascidas.1 A prevalência eram consideradas, anteriormente, como portadoras
específica da DF varia de país para país e foi rela- assintomáticas da mutação. No entanto, o que tem
tada entre 1:40.000 e 1:117.000. Alguns estudos ficado evidente é que elas podem apresentar quase
realizados em grupos de risco e outros prospecti- todos os sintomas da doença, como a mesma ex-
vos com coleta de dados sugerem que a prevalência tensão e severidade. A explicação para isso é, pelo
da doença pode ser muito maior do que a estimada menos em parte, devido à inativação randômica de
previamente, como mostra a Tabela 1. um dos cromossomos X durante a embriogênese.11

Tabela 1. Prevalência da DF em diversos países

País Método Prevalência Fonte


Austrália Análise retrospectiva 1:117.000 Meikle et al. 19992

Estados Unidos Análise retrospectiva ~1 : 16.000 Thadhani et al. 20023

Screening secundário em
Japão 2 : 1.000 Ichinose et al. 20054
pacientes nefropatas

Screening secundário em
Áustria 1.6 : 1.000 Kotanko et al. 20045
pacientes nefropatas

Screening secundário em 5 : 100 (homens)


Alemanha Rolfs et al. 20056
pacientes com derrame 2.4 : 100 (mulheres)

Itália Screening neonatal primário 1: 3.100 (homens) Spada et al. 20067

Screening secundário em 1.8 : 100 (homens)


Espanha Monserrat et al. 20078
pacientes cardiopatas 5 : 100 (mulheres)

Doenças raras | 3
Esta peculiaridade faz com que as decisões sobre A idade média de surgimento dos sintomas é entre
o diagnóstico e o tratamento das mulheres sejam 3 e 10 anos para os homens e 6 a 15 anos para as
mais complexas do que dos homens.1 mulheres. A doença leva a uma redução da expec-
tativa de vida para ambos os sexos (50 anos para os
homens e 70 anos para as mulheres), além de ter um
Quadro clínico impacto negativo na qualidade de vida dos pacientes.
O acúmulo do Gb3 em cada órgão ou sistema Os tópicos seguintes mostram uma descrição
traz consequências desastrosas para o paciente, mais detalhada do quadro clínico, conforme o apa-
conforme representado na Tabela 2. relho afetado.

Tabela 2. Quadro clínico típico da DF

Idade usual de aparecimento Sinais e sintomas


Dor neuropática

Córnea verticillata e vasos tortuosos na retina

Perda auditiva

Disidrose (hipo ou hiperidrose)

Até os 16 anos Hipersensibilidade ao calor ou frio

Alterações gastrointestinais / dor abdominal

Letargia e cansaço

Angioqueratomas

Primeiros sinais de alterações cardíacas ou renais: frequência


cardíaca anormal, microalbuminúria, proteinúria

Piora dos sinais e sintomas acima

Progressão da proteinúria, falência renal

Dos 17-30 anos Cardiomiopatia

Acidentes vasculares cerebrais

Dismorfismo facial

Progressão do quadro anterior

Piora do quadro cardíaco (hipertrofia ventricular esquerda,


angina, arritmia, dispneia)
Acima de 30 anos
Acidentes vasculares cerebrais

Osteopenia, osteoporose
Adaptado de Mehta et al.1

4 | Doenças raras
Pele Figura 1: Angioqueratomas nas regiões lombar (A),
peri-umbilical (B) e em flanco (C). Fonte: Germain13
A lesão mais comum em pacientes com DF é o
angioqueratoma, que segundo dados do registro
Fabry Outcome Survey (FOS) afeta 66% dos
homens e 36% das mulheres.12 Estas lesões são cau-
sadas pela dilatação dos vasos superficiais da derme
associadas a uma hiperqueratose da epiderme so-
brejacente. São pápulas e placas hiperqueratóticas
solitárias ou placas com superfície verrucosa irregu-
lar, que variam na coloração, de vermelho-escuro a
azul-escuro. Estão localizadas principalmente nas
coxas, pernas e nádegas, podendo confluir na região
umbilical. As lesões podem também estar presen-
tes em qualquer outro lugar, desde o nascimento
ou ainda podem se desenvolver mais tardiamente.
Somente 30% dos pacientes menores de 16 anos
apresentam o angioqueratoma clássico.10
Outras lesões dermatológicas que podem ocor-
rer nestes pacientes são: telangiectasias (23% dos
homens e 9% das mulheres, respectivamente),
linfedema (16% e 6%), hipoidrose (53% e 28%) e
mais raramente hiperidrose ou anidrose.12 As altera-
ções no mecanismo do suor, causadas pelo depósito
de material lipídico nas glândulas sudoríparas piora
o quadro de intolerância a variações de temperatura
(típico da doença) que é secundário ao comprometi-
mento da inervação simpática da pele.10

Trato gastrointestinal
Mais da metade dos pacientes com DF apresen-
tam sintomas do trato gastrointestinal, que incluem
dor abdominal e episódios de diarreia. A alternância
destes sintomas com períodos de obstipação intes-
Figura 2: córnea verticillata. Fonte: Germain13
tinal mimetiza um quadro de síndrome do intestino
irritável. No entanto, não se detectam alterações de
características inflamatórias nestes tecidos. Estes
sintomas são causados por danos à inervação intes-
tinal e acúmulo de lipídeos nas células da muscula-
tura lisa, endotélio e gânglios.10

Olhos
As opacidades detectadas na córnea dos pacien-
tes (córnea verticillata), apesar de não causarem
perda da visão, são quase patognomônicas da DF.
Estas alterações ocorrem em 75% das mulheres e

Doenças raras | 5
90% dos homens portadores da doença, mas é entre a segunda e a terceira décadas de vida.13
importante lembrar que elas podem ser causadas A proteinúria já pode ser detectada em 10%
também pelo uso de amiodarona ou cloroquina, dos pacientes com até 18 anos e em 50% dos
o que auxilia no diagnóstico diferencial. Os pa- pacientes com até 35 anos. Se não tratada, me-
cientes ainda podem apresentar vasos tortuosos tade dos pacientes irá desenvolver insuficiência
em retina (tortuositas vasorum), e mais raramen- renal terminal aos 47 anos.10
te uveíte e aneurisma de veias da retina.10,13 A excreção urinária de proteína está fortemen-
te associada com a progressão da doença renal.
Um estudo retrospectivo multicêntrico com 447
Ouvidos pacientes ilustrou a característica progressiva da
A diminuição da capacidade auditiva nos pa- piora renal. O autor estimou que pacientes com
cientes com DF pode ser aguda (com instalação uma taxa de filtração glomerular (TFG) supe-
em horas ou dias e frequentemente reversível) rior a 60 ml/min/m2 apresentavam uma perda
ou crônica. anual da função entre 3 ml/min/m2 (homens) e
A perda aguda, que pode atingir até um terço 0,9 ml/min/m2 (mulheres). Para os que já tinham
dos pacientes, é 60 vezes mais comum entre os uma TFG inferior a 60 ml/min/m2, as perdas fo-
portadores de DF do que na população geral e ram ainda mais acentuadas: entre 6,8 (homens) e
afeta duas vezes mais homens do que mulheres. 2,1 ml/min/m2 (mulheres) por ano. O pior prog-
A maioria dos casos, no entanto, apresenta uma nóstico foi detectado entre os pacientes que apre-
perda auditiva de instalação mais lenta e definitiva, sentaram proteinúria de 24 horas superior a 1 g.14
que afeta primeiramente as frequências mais altas
e se manifesta na segunda década de vida nos ho-
mens e na quarta década nas mulheres. Este sinto- Sistema Nervoso Central
ma é decorrente do acúmulo do Gb3 nos gânglios As complicações neurológicas mais severas da
audiovestibulares e nos vasos da cóclea. DF são os acidentes vasculares cerebrais (transi-
Outro sintoma comum nesta população são tórios ou não). Um em cada 4 pacientes apresenta
os tinitos, que afetam 60% das mulheres e 40% algum evento cerebrovascular no decurso de sua
dos homens com DF.10 doença. Isto ocorre mais precocemente nos ho-
mens (34 anos) do que nas mulheres (54 anos) e
pode ser precedido clinicamente pela perda audi-
Sistema cardiovascular tiva, tonturas, cefaleia e diplopia.
Os problemas cardíacos, causados pelos depó- É importante lembrar que qualquer paciente
sitos de Gb3 nas células miocárdicas, sistema de com menos de 55 anos que apresente um der-
condução nervosa e vasos cardíacos, podem ser rame tem deve ter a DF incluída na investiga-
graves e debilitantes para os pacientes. ção das causas.10
Em média, mais da metade dos pacientes
apresenta algum sintoma cardíaco aos 36 anos e,
se não tratado, o quadro evolui para hipertrofia Quadro psiquiátrico
ventricular esquerda em um terço das mulheres Pacientes acometidos pela DF tendem a apre-
e mais de 50% dos homens. sentar diversos sinais e sintomas psiquiátricos,
Além da cardiomiopatia, até 20% dos pacien- dentre eles depressão, alterações de sono, trans-
tes irá apresentar episódios recorrentes de arrit- tornos do humor, sensação de fadiga e falta de
mia cardíaca e 15% terão valvopatias.10,13 esperança e mesmo ideação suicida.
Aliado aos outros sintomas apresentados
pelos pacientes, este quadro de depressão, que
Rins pode acometer 28% no sexo masculino e 72%
O comprometimento renal usualmente se no feminino, colabora para a piora da qualidade
inicia com microalbuminúria e proteinúria, de vida dos afetados pela doença.15

6 | Doenças raras
Diagnóstico Isto parece ter um impacto direto na inclusão
O diagnóstico da DF, em pacientes do sexo de pacientes do sexo feminino em protocolos de
masculino, é baseado na redução dos níveis de tratamento. Por exemplo, dados de um registro de
atividade da enzima α-Gal A. Este critério pacientes mostraram que 82% dos pacientes ho-
pode não funcionar para mulheres, principal- mens receberam terapia de reposição enzimática,
mente as heterozigóticas, que podem apresen- comparados a apenas 34% das mulheres, uma di-
tar níveis de atividade entre baixa e normal, ferença que segundo os autores não foi justificada
por variações na gravidade da doença.16
tornando o teste inconclusivo. Para elas, o
diagnóstico é realizado através do sequencia- A Figura 3 detalha um fluxograma que pode
mento direto do gene da α-Gal A.11 auxiliar no diagnóstico da DF.

Figura 3
Angioqueratoma,
Arritmia cardíaca, Acidente
hipoidrose, Proteinúria,
Opacificação insuficiência vascular
Sintomas anidrose, Dor a esclarecer falência renal,
de córnea cardíaca, infarto cerebral,
hiperidrose, diálise
do miocárdio apoplexia
linfedema

Necessária
coleta de
informações

Início? Lesões de
Cardiomiopatia?
Aguda/crônica? Córnea substância
Detalhamento Hipertrofia
Localização Aumenta com verticillata? Início? branca?
dos sintomas ventricular
stress, calor ou Retinopatia? Diâmetro da
esquerda?
exercício artéria basilar?

Possível DF

Antecedentes
O paciente ou algum familiar tem outro sintoma do grupo vermelho? Existem mortes inexplicadas na família?
médicos

Provável DF

Homens: atividade leucocitária de alfa-galactosidase A


Diagnóstico
Mulheres: sequenciamento genético do gene GLA
específico
Sequenciamento genético do gene GLA

DF confirmada

Encaminhar para
Terapia de reposição enzimática e tratamento sintomático
tratamento

Fluxograma de diagnóstico. Adaptado de Hoffmann et al.10

Doenças raras | 7
Diagnóstico diferencial nóstico. Em geral, os homens são diagnosticados
Como as apresentações da doença são bastante 13 anos após os primeiros sintomas e as mulheres,
variadas (especialmente em mulheres) e a gama 17 anos após.10
de possíveis diagnósticos diferenciais é extensa, A Tabela 3 descreve os possíveis diagnósticos
na maioria das vezes ocorre um atraso no diag- diferenciais para os sintomas da DF.

Tabela 3. Diagnósticos diferenciais para DF

Órgão/Sistema Sintomas da DF Diagnósticos diferenciais


Fucosidose, sialidose, deficiência de n-acetilgalactosamina,
Angioqueratoma
angioqueratoma pseudolipomatoso acral da infância
Síndrome de Homer, terapia com topiramato, intoxicação
Hipoidrose/anidrose
por acetilcolina, displasia ectodermal
Pele
Hiperidrose Hiperidrose primária

Linfedema Insuficiência vascular, doenças reumáticas

Doenças reumatológicas, fibromialgia, cefaleia, migrânea,


Sistema Nervoso Periférico Dor neuropática neuropatia diabética, porfiria, neuropatia urêmica,
síndrome de Guillan-Barré, neuropatia hereditária
Gastrite, úlcera duodenal, doença celíaca, hemorragia digestiva, doença de
Trato gastrointestinal Dor abdominal, diarreia, obstipação Crohn, colite ulcerativa, diverticulite, dispepsia,
síndrome do intestino irritável

Córnea verticillata Fucosidose, terapia com amiodarona, flecainida, tamoxifeno

Diabetes mellitus, hipertensão arterial, síndrome nefrótica,


Vasos tortuosos em retina neurofibromatose tipo 1, displasia fibromuscular,
Olhos doença de Rendu-Osler-Weber, síndrome velocardiofacial
Doenças reumáticas, nefrite tubulointersticial,
Uveíte
Doença de Behçet, sarcoidose, Doença de Crohn

Aneurisma conjuntival Síndrome de Kawasaki, diabetes mellitus

Perda auditiva aguda/crônica Apoplexia, esclerose múltipla, Síndrome de Leopard

Osteosclerose, borreliose, surdez súbita,


Ouvidos Tinitos
Doença de Ménière, neurinoma do acústico

Tontura Vertigem, Doença de Ménière, neurite vestibular, infarto cerebral

Angina, infarto Aterosclerose

Palpitações Fibrilação atrial, síndrome de Wolf-Parkinson-White, hipertireoidismo


Cardiovascular Mitocondriopatias, Síndrome do QT longo, miocardite,
Doença de Pompe, Doença de Neimann-Pick, hemocromatose,
Miocardiopatia
distrofia muscular de Duchenne, neurofibromatose tipo I,
lúpus, artrite reumatoide, dermatofibrose

Valvopatias Endocardite, doenças reumatológicas, mucopolissacaridoses


Cardiovascular
Hipertensão arterial, prolapso de mitral, diabetes mellitus,
Variações de frequência cardíaca
Síndrome de Sjögren, Síndrome MELAS, apneia do sono
Proteinúria, falência renal Diabetes mellitus, hipertensão arterial, glomerulonefrite, lúpus,
Rins
progressiva síndrome hemolítico-urêmica, gota, amiloidose, nefrite
Ataque isquêmico transitório,
Aterosclerose, esclerose múltipla,
Sistema Nervoso Central apoplexia, lesões
mitocondriopatias, arteriopatia cerebral
em substância branca
Fluxograma de diagnóstico. Adaptado de Hoffmann et al.10

8 | Doenças raras
Tratamento hipertrofia de ventrículo esquerdo em pacientes
A Terapia de Reposição Enzimática (TRE) foi que ainda não apresentam o problema e reduz o
introduzida em 2001 e desde o início se mostrou grau de comprometimento naqueles que já têm a
efetiva em aliviar os sintomas da doença e mes- condição estabelecida. A terapia também levou à
mo retardar sua progressão. Um estudo publica- normalização das alterações detectadas no eletro-
do em 2009 analisou pacientes com DF, regis- cardiograma.19
trados na base de dados Fabry Outcome Survey Quanto aos outros sistemas, a terapia reduz a
Observational Database (FOS) e tratados em um dor neuropática, estabiliza a função renal e con-
período de cinco anos com agalsidase alfa. Os re- tribui para a melhora da maioria dos sintomas.20
sultados mostraram redução significativa da mas- Outra modalidade de tratamento que se en-
sa ventricular hipertrofiada, redução dos escores contra em fase de estudos é a chaperona farma-
de dor e melhora da qualidade de vida.17 cológica. A droga em questão é o Migalastat,
Outro estudo, desta mesma base de dados con- cuja função é se ligar à enzima defeituosa
firmou que as pacientes de ambos os sexos res- (α-galactosidase A) e fazer com que ela recu-
pondem de modo similar ao tratamento com pere sua conformação e atividade normais. Nos
agalsidase alfa.18 Existem duas formas disponí- estudos de fase III, este medicamento é admi-
veis de TRE, ambas aprovadas pela ANVISA nistrado por via oral, em doses de 150 mg, em
para uso no Brasil: agalsidase α (Replagal®) e dias alternados.21
agalsidase β (Fabrazyme®). Embora a TRE esteja disponível no Brasil,
As características dos medicamentos estão des- ainda não existe um programa de acesso ao me-
critas na Tabela 4. dicamento semelhante ao implementado para a
De modo geral a terapia é bem tolerada. Efei- doença de Gaucher, por exemplo. Segundo o site
tos adversos (reações alérgicas, cefaleia, ondas do Ministério da Saúde, o Protocolo Clínico e de
de calor, náuseas, vômitos e calafrios) tendem a Diretrizes Farmacêuticas para a doença de Fabry
aparecer nos três primeiros meses de tratamen- estão sendo elaborados, em um trabalho coorde-
to. Com medicações de suporte adequadas para nado pelo Grupo de Doenças Raras, mas ainda
estes sintomas, os pacientes podem retomar o sem previsão de término (notícia disponível para
tratamento.1 consulta no link http://portalsaude.saude.gov.br/
Um estudo recente, realizado no Reino Unido portalsaude/noticia/5495/162/saude-ampliara-
com 66 pacientes, mostrou que a TRE previne a -acoes-de-atencao-aos-pacientes.html).

Tabela 4. Terapias de reposição enzimáticas disponíveis para DF

Características Agalsidase α Agalsidase β


Ativação gênica a partir de células Técnicas recombinantes a partir de células de ovários
Produção humanas de hamsters chineses

Dose 0,2 mg/kg a cada 2 semanas 1 mg/kg a cada duas semanas

Duração da infusão 40 minutos 2 a 4 horas

Nenhuma, exceto se o paciente


Pré-medicação Antipiréticos e/ou anti-histamínicos
apresentar reação infusional
Adaptado de Alfadhel et al. 22

Doenças raras | 9
Referências -Morell G, et al. Fabry disease and the skin: data from FOS, the
Fabry outcome survey. Br J Dermatol. 2007 Aug;157(2):331-7.
1. Mehta A, Beck M, Eyskens F, Feliciani C, Kantola I, Ramaswami 13. Germain DP. Fabry disease. Orphanet J Rare Dis. 2010;5:30.
U et al. Fabry disease: a review of current management strategies.
QJM 2010 Sep;103(9):641-59. 14. Schiffmann R, Warnock DG, Banikazemi M, Bultas J, Linthorst
GE, Packman S, et al. Fabry disease: progression of nephropa-
2. Meikle PJ, Hopwood JJ, Clague AE, Carey WF. Prevalence of thy, and prevalence of cardiac and cerebrovascular events befo-
lysosomal storage disorders. JAMA 1999 Jan 20;281(3):249-54. re enzyme replacement therapy. Nephrol Dial Transplant. 2009
3. Thadhani R, Wolf M, West ML, Tonelli M, Ruthazer R, Pastores Jul;24(7):2102-11.
GM et al. Patients with Fabry disease on dialysis in the United 15. Muller MJ. Neuropsychiatric and psychosocial aspects of Fabry
States. Kidney Int 2002 Jan;61(1):249-55. disease. 2006.
4. Ichinose M, Nakayama M, Ohashi T, Utsunomiya Y, Kobayashi 16. Wilcox WR, Oliveira JP, Hopkin RJ, Ortiz A, Banikazemi M,
M, Eto Y. Significance of screening for Fabry disease among male Feldt-Rasmussen U, et al. Females with Fabry disease frequently
dialysis patients. Clin Exp Nephrol 2005 Sep;9(3):228-32. have major organ involvement: lessons from the Fabry Registry.
5. Kotanko P, Kramar R, Devrnja D, Paschke E, Voigtlander T, Mol Genet Metab. 2008 Feb;93(2):112-28.
Auinger M, et al. Results of a nationwide screening for Anderson- 17. Mehta A, Beck M, Elliott P, Giugliani R, Linhart A, Sunder-
-Fabry disease among dialysis patients. J Am Soc Nephrol. 2004 -Plassmann G, et al. Enzyme replacement therapy with agalsi-
May;15(5):1323-9. dase alfa in patients with Fabry’s disease: an analysis of registry
6. Rolfs A, Bottcher T, Zschiesche M, Morris P, Winchester B, Bauer data. Lancet. 2009 Dec 12;374(9706):1986-96.
P, et al. Prevalence of Fabry disease in patients with cryptogenic 18. Hughes DA, Barba Romero MA, Hollak CE, Giugliani R,
stroke: a prospective study. Lancet. 2005 Nov 19;366(9499):1794-6. Deegan PB. Response of women with Fabry disease to enzy-
7. Spada M, Pagliardini S, Yasuda M, Tukel T, Thiagarajan G, Saku- me replacement therapy: comparison with men, using data from
raba H, et al. High incidence of later-onset fabry disease revealed FOS--the Fabry Outcome Survey. Mol Genet Metab. 2011
by newborn screening. Am J Hum Genet. 2006 Jul;79(1):31-40. Jul;103(3):207-14.
8. Monserrat L, Gimeno-Blanes JR, Marin F, Hermida-Prieto M, 19. Motwani M, Banypersad S, Woolfson P, Waldek S. Enzyme re-
Garcia-Honrubia A, Perez I, et al. Prevalence of fabry disease in a placement therapy improves cardiac features and severity of Fabry
cohort of 508 unrelated patients with hypertrophic cardiomyopa- disease. Mol Genet Metab. 2012 May 29.
thy. J Am Coll Cardiol. 2007 Dec 18;50(25):2399-403.
20. Anastasakis A, Sevdalis E, Papatheodorou E, Stefanadis C.
9. Lubke T, Lobel P, Sleat DE. Proteomics of the lysosome. Biochim Anderson-Fabry disease: a cardiomyopathy that can be cured. Hel-
Biophys Acta. 2009 Apr;1793(4):625-35. lenic J Cardiol. 2011 Jul-Aug;52(4):316-26.
10. Hoffmann B, Mayatepek E. Fabry disease-often seen, rarely 21. National Institutes of Health - NIH. Study of the Effects of Oral
diagnosed. Dtsch Arztebl Int. 2009 Jun;106(26):440-7. AT1001 (Migalastat Hydrochloride) in Patients With Fabry
11. Kistler AD, Siwy J, Breunig F, Jeevaratnam P, Scherl A, Mullen W, Disease. 2012 [cited 2012 September]; Available from: http://www.
et al. A distinct urinary biomarker pattern characteristic of female clinicaltrials.gov/ct2/show/NCT00925301?term=migalastat&rank=4.
Fabry patients that mirrors response to enzyme replacement thera- 22. Alfadhel M, Sirrs S. Enzyme replacement therapy for Fabry di-
py. PLoS One. 2011;6(6):e20534. sease: some answers but more questions. Ther Clin Risk Manag.
12. Orteu CH, Jansen T, Lidove O, Jaussaud R, Hughes DA, Pintos- 2011;7:69-82.

DR - 03/12 - Produzido em dezembro de 2012

Rua Dona Brígida, 754 - Vila Mariana - São Paulo - SP - CEP 04111-081
Tel.: (11) 2061-2797 - E-mail: atendimento@editoraplanmark.com.br
© 2012 Planmark Editora Ltda. Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste material poderá
ser reproduzida ou transmitida, sejam quais forem os meios empregados, sem a autorização prévia
por escrito da Planmark Editora Ltda. O conteúdo desta publicação é de responsabilidade exclusiva
de seu(s) autor(es) e não reflete necessariamente a posição da Planmark Editora Ltda. 2891
www.editoraplanmark.com.br

10 | Doenças raras
REPLAGAL*
alfagalsidase
*marca depositada
Concentrado para solução para infusão
Uso adulto e pediátrico acima de 7 anos

APRESENTAÇÃO: Frasco contendo 3,5 mg/3,5 mL de alfagalsidase. USO PEDIÁTRICO E ADULTO. INDICAÇÃO: REPLAGAL é indicado para terapia crônica de repo-
sição enzimática em pacientes com diagnóstico confirmado de doença de Fabry. CONTRA INDICAÇÕES: Hipersensibilidade à substân-
cia ativa ou a qualquer dos excipientes. ADVERTÊNCIAS E REAÇÕES ADVERSAS: Reações relacionadas
à infusão - reações idiossincrásicas: tremores, cefaleia, náusea, pirexia, calor e fadiga. Reações sérias
à infusão são incomuns e podem cursar com: pirexia, tremores, taquicardia, urticária, náusea/vômito,
edema angioneurótico, estridor laríngeo e edema de língua. Outros sintomas relacionados à infusão
podem incluir vertigem e hiperidrose.
Reações à infusão podem estar associadas a eventos cardíacos desencadeados por estresse hemodinâmico em pacientes com manifestações cardíacas pré-exis-
tentes relacionadas à doença de Fabry. O início de reações relacionadas à infusão geralmente ocorre nos primeiros 2-4 meses após o início do tratamento, embora
reações tardias (após 1 ano) também tenham sido relatadas. Estes efeitos foram reduzidos com o tempo. Em caso de ocorrência de reações leves ou moderadas à
infusão, a infusão poderá ser temporariamente interrompida (5 a 10 minutos) até que os sintomas cessem e a infusão possa ser posteriormente reiniciada. Efeitos
leves e temporários podem não necessitar de tratamento médico ou descontinuação da infusão. O pré-tratamento oral ou intravenoso com anti-histamínicos e/ou
corticosteroides, de 1 a 24 horas antes da infusão, poderá prevenir reações subsequentes. Reações alérgicas do tipo hipersensibilidade - Em caso de reações
alérgicas graves ou anafiláticas, a administração deve ser descontinuada imediatamente e tratamento de suporte adequado deve ser iniciado. Anticorpos IgG
contra a proteína - pode ocorrer desenvolvimento de anticorpos IgG contra a proteína, aproximadamente após 3-12 meses de tratamento. Não foram detectados
anticorpos IgE em nenhum paciente tratado com REPLAGAL. Uso em renais crônicos - Não é necessário ajuste de dose em pacientes com comprometimento
renal. A presença de lesão renal extensa (TFG <60 ml/min) poderá limitar a resposta renal à terapia de reposição enzimática. Há dados limitados disponíveis em
pacientes sob diálise ou após transplante renal, e nenhum ajuste de dose é recomendado. Uso na gravidez e lactação - Dados clínicos muito limitados sobre
gestações expostas a REPLAGAL (n=4) não revelaram efeitos adversos na mãe e/ou neonato. Não se sabe se REPLAGAL é excretado no leite humano. Não utilizar
REPLAGAL durante a gravidez ou lactação sem orientação médica. Uso em pacientes geriátricos - Não há dados em pacientes com mais de 65 anos e nenhum
regime de dose pode atualmente ser recomendado. Uso pediátrico - A experiência em crianças é limitada. Estudos em crianças (0-6 anos) não foram realizados
e nenhum regime de dose pode atualmente ser recomendado nesta população de pacientes, uma vez que a segurança e a eficácia ainda não foram estabelecidas.
Não foram encontradas questões inesperadas de segurança no estudo de 6 meses de duração com REPLAGAL administrado na dose de 0,2 mg/kg nesta popu-
lação, este regime de dose é sugerido para crianças de 7-18 anos de idade. Uso em pacientes com comprometimento hepático - Não foram realizados estudos
em pacientes com comprometimento hepático. Efeitos sobre a capacidade de dirigir e operar máquinas - pouca ou nenhuma influência sobre a capacidade de
dirigir e operar máquinas. INTERAÇÕES
MEDICAMENTOSAS: Não deve ser administrado concomitantemente com
cloroquina, amiodarona, benoquin ou gentamicina, uma vez que estas substâncias apresentam potencial
de inibição da atividade intracelular de α-galactosidase. Em estudos clínicos, medicamentos para a dor
neuropática (como carbamazepina, fenitoína e gabapentina) foram administrados concomitantemente à
maior parte dos pacientes, sem qualquer evidência de interação. Incompatibilidades - Na ausência de
estudos de compatibilidade, este medicamento não deverá ser misturado com outros medicamentos.
POSOLOGIA: administrado na dose de 0,2 mg/kg de peso corporal em semanas alternadas, por infusão intravenosa, durante 40 minutos. MODO DE USAR E CUIDA-
DOS DE CONSERVAÇÃO DEPOIS DE ABERTO: • Calcular a dose e o número de frascos necessários de REPLAGAL. • Diluir o volume total de REPLAGAL concen-
trado necessário em 100 mL de solução de cloreto de sódio nove MG/mL (0,9%) para infusão. Tenha cautela para garantir a esterilidade das soluções preparadas,
uma vez que REPLAGAL não contém nenhum conservante ou agente bacteriostático, a técnica asséptica deverá ser observada. Após a diluição, a solução deverá
ser misturada cuidadosamente, sem ser Agitada. • A solução deverá ser inspecionada visualmente quanto à presença de material particulado e descoloração antes
da administração. • Administrar a solução para infusão durante 40 minutos, utilizando acesso intravenoso e filtro integrado. Uma vez que não há conservantes,
recomenda-se que a administração seja iniciada o quanto antes e concluída no período de 3 horas da diluição. • Não infundir REPLAGAL concomitantemente com
outros medicamentos no mesmo acesso intravenoso. • Apenas para uso único. Qualquer produto não utilizado ou resíduo deverá ser descartado em conformidade
com as exigências locais. ARMAZENAGEM: Armazenar em Refrigerador (2°C - 8°C). Proteger da Luz.
Informações técnicas completas - Vide Bula - VENDA SOB PRESCRIÇÃO MÉDICA - Reg. MS - 1.6979.0002.
SAC: 0800 773 8880. Data da impressão: Novembro/2012.

Material destinado exclusivamente a profissionais prescritores e dispensadores de medicamentos.


Av. das Nações Unidas, 14.171 - 5º andar
Torre Ebony - São Paulo - SP
04794-000
www.shire.com.br
SAC 0800-773-8880

Você também pode gostar