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As Proezas de João Grilo você é um desgraçado!

(Leandro Gomes de Barros)


João Grilo foi ver o gado
João Grilo foi um cristão para provar aquele ato
que nasceu antes do dia veio trazendo na frente
criou-se sem formosura um bom rebanho de pato
mas tinha sabedoria os patos passaram n'agua
e morreu depois da hora João provou que era exato
pelas artes que fazia.
Um dia a mãe de João Grilo
E nasceu de sete meses foi buscar água à tardinha
chorou no bucho da mãe deixou João Grilo em casa
quando ela pegou um gato e quando deu fé lá vinha
ele gritou: não me arranhe um padre pedindo água
não jogue neste animal nessa ocasião não tinha
que talvez você não ganhe
João disse; só tem garapa
Na noite que João nasceu disse o padre: donde é?
houve um eclipse na lua João Grilo lhe respondeu:
e detonou um vulcão é do engenho Catolé!
que ainda continua disse o padre: pois eu quero
naquela noite correu João levou uma coité
um lobisomem na rua
O padre bebeu e disse:
Porem João Grilo criou-se oh! que garapa boa!
pequeno, magro e sambudo João Grilo disse: quer mais?
as pernas tortas e finas o padre disse; e a patroa
boca grande e beiçudo não brigará com você?
no sitio onde morava João disse: tem uma canoa
dava noticia de tudo
João trouxe outra coité
João perdeu o pai naquele mesmo momento
com sete anos de idade disse ao padre: bebe mais
morava perto de um rio não precisa acanhamento
ia pescar toda tarde na garapa tinha um rato
um dia fez uma cena estava podre o fedorento
que admirou a cidade.
O padre disse: menino
O rio estava de nado tenha mais educação
vinha um vaqueiro de fora e porque não me disseste?
perguntou: dará passagem? oh! natureza do cão!
João Grilo disse: inda agora pegou a dita coité
o gadinho de meu pai arrebentou-a no chão
passou com o lombo de fora.
João Grilo disse; danou-se!
O vaqueiro botou o cavalo misericórdia, S. Bento!
com uma braça deu nado com isto mamãe se dana
foi sair já muito embaixo me pegue mil e quinhentos
quase que morre afogado essa coité, seu vigário
voltou e disse ao menino: é de mamãe mijar dentro!
A lagartixa subiu
O padre deu uma pôpa por debaixo da batina
disse para o sacristão entrou na perna da calça
esse menino é o diabo tornou-se feia a buzina
em forma de cristão! o padre meteu os pés
meteu o dedo na goela arrebentou a cortina
quase vomita o pulmão
Jogou a batina fora
João Grilo ficou sorrindo naquela grande fadiga
pela cilada que fez a lagartixa cascuda
dizendo: vou confessar-me arranhando na barriga;
no dia sete do mês João Grilo de lá gritava;
êle nunca confessou-se seu padre, Deus lhe castiga!
foi essa a primeira vez
O padre impaciente
João Grilo tinha um costume naquele turututu
para toda parte que ia saltava pra todo lado
era alegre e satisfeito que parecia um timbu
no convivio da alegria terminou tirando as calças
João Grilo fazia graça ficando o esqueleto nu
que todo mundo sorria
João disse: padre é homem?
Num dia de sexta-feira pensei que fosse mulher
às cinco horas da tarde anda vestido de saia
João Grilo disse: hoje a noite não casa porque não quer
eu assombro aquele padre isto é que é ser caviloso
se êle não perdoar-me cara de mata bebé
na igreja há novidade
O padre disse: João Grilo
Pegou uma lagartixa vai-te daqui infeliz!
amarrou-a pelo gogó João Grilo disse: bravo
botou-a numa caixinha do vigário da matriz
no bolso do palitó é assim que ele me paga
foi confessar-se João Grilo o benefício que fiz?
com paciência de Jó
João Grilo foi embora
As sete horas da noite o padre ficou zangado
foi ao confissionário João Grilo disse: ora sêbo
fez logo pelo-sinal eu não aliso croado
pôsto nos pés do vigário vou vingar-me duma raiva
o padre disse: acuse-se; que tive o ano passado
João disse o necessário
No suburbio da cidade
Eu sou aquele menino morava um português
da garapa e da coité; vivia de vender ovos
o padre disse: levante-se, justamente nesse mês
eu já sei você quem é; denunciou de João Grilo
João tirou a lagartixa pelas artes que ele fez
soltou-a junto do pé
João encontrou o português
com a égua carregada de tudo pode saber
com duas caixas de ovos
João lhe disse: oh! camarada João Grilo disse: qual nada
deixa eu dizer a tua égua quêde os elementos seus?
uma pequena charada abra os olhos, mestre velho
que vou lhe mostrar os meus
O português disse: diga, seus estudos se consomem
João chegou bem no ouvido um homem ver outro homem
com a ponta do cigarro só Deus vão ver outro Deus
soltou-a dentro escondido
a égua meteu os pés João Grilo disse: seu mestre,
foi temeroso estampido me diga como se chama
a mãe de todas as mães?
Derrubou o português tenha cuidado no drama
foi ovos pra todo lado o mestre coça a cabeça
arrebentou a cangalha disse: antes que me esqueça
ficou o chão ensopado vou resolver o programa
o português levantou-se
tristonho e todo melado - A mãe de todas as mães
é Maria Concebida
O português perguntou: João Grilo disse: eu protesto
o que foi que tu disseste antes dela nascer
que causou tanto desgosto já esta mãe existia
a esse animal agreste? não foi a Virgem Maria
- Eu disse que a mãe morreu oh que resposta perdida!
o português respondeu:
oh égua besta da peste! João Grilo disse depois
num bonito português:
João Grilo foi a escola a mãe de todas as mães
com sete anos de idade já disse e digo outra vez
com dez anos êle saiu como a escritura ensina
por espontânea vontade é a natureza divina
todos perdiam pra êle que tudo criou e fez
outro Grilo como aquele
perdeu-se a propriedade - Me responda professor
entre grandes e pequenos
João Grilo em qualquer escola quero que fique notável
chamava o povo atenção por todos nossos terrenos
passava quinau nos mestres responda com rapidez
nunca faltou com a lição como se chama o mês
era um tipo inteligente que a mulher fala menos?
no futuro e no presente
João dava interpretação - Êste mês eu não conheço
quem fez esta tabuada?
Um dia pergunta ao mestre: João Grilo lhe respondeu:
O que é que Deus não vê ora sêbo, camarada
o homem vê qualquer hora? pra mim perdeu o valor
diz ele: não pode ser ter o nome de professor
pois Deus vê tudo no mundo mais não conhece de nada
em menos de um segundo
- êste mês é fevereiro que a fôrça hei de segui-lo?
por todos bem conhecido não chore, fique bem certa
só tem vinte e oito dias a senhora só se aperta
o tempo mais resumido quando matarem João Grilo
entre grandes e pequenos
é o que a mulher fala menos
mestre, você está perdido João chegou no rio
ás cinco horas da tarde
- Seu professor, me responda passou até nove horas
se algum tempo estudou porém tudo foi debalde
quem serviu a Jesus Cristo na noite triste e sombria
morreu e não se salvou João Grilo sem companhia
no dia que êle morreu voltava sem novidade
seu corpo o urubu comeu
e ninguém o sepultou? Chegando dentro da mata
ouviu lá dentro um gemido
- Não conheço quem é esse os lobos devoradores
porque nunca vi escrito; o caminho interrompido
João Grilo lhe respondeu: e trepou-se num pinheiro
foi um jumento está dito como era forasteiro
que a Jesus Cristo servia ficou calado escondido
na noite que êle fugia
de Belém para o Egito Os lobos foram embora
e João não quis descer
João Grilo olhou de um lado disse: eu dormirei aqui
disse para o diretor: siceda o que suceder
fique sabendo o senhor eu hoje imito araquan
sem dúvida exame não fez só vou embora amanhã
o aluno desta vez quando o dia amanhecer
ensinou ao professor
O Grilo ficou trepado
João Grilo foi para casa temendo lobos e leões
encontrou sua mãe chorando pensando na fatal sorte
êle então disse: mamãe e recordando as lições
não está ouvindo encantando? que na escola estudou
não chora, cante mais antes quando do súbito chegou
pois o seu filho garante uns quatro ou cinco ladrões
pra isso vive estudando
Eram uns ladrões de Meca
A mãe de João Grilo disse: que roubavam no grito
choro por necessidade se ocultavam na mata
sou uma pobre viúva naquele bosque esquisito
e tu de menor idade pois cada um de persi
até da escola saíste; que vinha juntar-se ali
João lhe disse: ainda existe para ver quem era perito
o mesmo Deus de bondade
O capitão dos ladrões
— A senhora pensa em carne disse: não fala ninguém?
de vinte mil réis o quilo um respondeu: não senhor
ou talvez no meu destino disse ele: muito bem
cuidado, não roubem vã com as ordens de Jesus!
vamos ajuntar-nos amanhã
na capela de Belém Os ladrões dali fugiram
quando viram a alma em pé
— Lá partiremos o dinheiro João Grilo ficou com tudo
pois aqui tudo é graúdo disse: já sei como é
temos um roubo a fazer nada no mundo me atrasa
desde ontem que estudo agora vou pra casa
mas já estou preparado; tomar um rico café
e o Grilo lá trepado
calado e escutando tudo. Chegou e disse: mamãe
morreu nossa precisão
Os ladrões foram embora o ladrão que rouba outro
depois da conversação tem cem anos de perdão;
João Grilo ficou ciente contou o que tinha feito
dizendo em seu coração: disse a velha: está direito
se Deus ajudar a mim vamos fazer refeição
acabou-se tempo ruim
sou eu quem ganho a questão Bartolomeu do Egito
foi um rei de opinião
João Grilo desceu da árvore mandou convidar João Grilo
quando o dia amanheceu pra uma adivinhação
mas quando chegou em casa João Grilo disse: eu vou,
não contou o que se deu no outro dia embarcou
furtou um roupão de malha para saudar o sultão
vestiu fez uma mortalha
lá no mato se escondeu João Grilo chegou na corte
cumprimentou o sultão
À noite foi pra capela disse: pronto, senhor rei
por detraz da sacristia (deu-lhe um aperto de mão)
vestiu-se com a mortalha com calma e maneira doce
pois a capela jazia o sultão admirou-se
sempre com a porta aberta da sua disposição
João Grilo partiu na certa
colhêr o que pretendia O sultão pergunta ao Grilo:
de onde você saiu?
Deitou-se lá num caixão aonde você nasceu?
que enterrava defunto João Grilo fitou ele e sorriu
João Grilo disse: hoje aqui — Sou deste mundo d'agora
vou ganhar um bom presunto; nasci na ditosa hora
os ladrões foram chegando que minha mãe me pariu
João Grilo observando
sem pensar em outro assunto — João Grilo, tu adivinha?
e Grilo respondeu, não
Acenderam um farol eu digo algumas coisas
penduraram numa cruz conforme a ocasião
foram contar o dinheiro quem canta de graça é galo
no claro de uma luz cangalha só pra cavalo
João Grilo de lá gritou: e sêca só no sertão
esperem por mim que vou
— Eu tenho doze perguntas mortas são as doze cordas
pra você me responder quando canta um cidadão
no prazo de quinze dias canta, toca e faz verso
escute o que vou dizer cinco vivos num progresso
veja lá como se arruma os cinco dedos da mão
è bastante faltar uma
está condenado a morrer Houve uma salva de palma
com vivas que retumbou
João Grilo disse: estou pronto o sultão ficou suspenso
pode dizer a primeira seu viva também bradou
se acaso sair-me bem depois pediu silencio
venha a segunda e a terceira com outro desejo imenso
venha a quarta e a quinta a terceira perguntou
talvez o Grilo não minta
diga até a derradeira João Grilo, qual é a coisa
que eu mandei carregar
Perguntou: qual o animal primeiro dia e segundo
que mostra mais rapidez no terceiro fui olhar
que anda de quatro pés quase dá-me a tiririca
de manhã por sua vez se tirar mais grande fica
ao meio-dia com dois não mingua, faz aumentar?
passando disto depois
a tarde anda com três? — Senhor rei, sua pergunta
parece me fazer guerra
O Grilo disse: é o homem um Grilo não tem saber
que se arrasta pelo chão criado dentro da serra
no tempo que engatinha mas digo pra quem conhece
depois toma posição o que tirando mais cresce
anda em pé bem seguro é um buraco na terra
mas quando fica maduro
faz três pés com o bastão — João Grilo, vou terminar
as perguntas do tratado
O sultão maravilhou-se e Grilo disse: pergunte
com sua resposta linda quero ficar descansado;
João disse: pergunte outra disse o rei: é muito exato
vou ver se respondo ainda; o que é que vem do alto
a segunda o sultão fez cai em pé, corre deitado?
João Grilo daquela vez
celebrizou sua vinda — Aquele que cai em pé
e sai correndo no chão
— Grilo, você me responda será uma grande chuva
em termos bem divididos nos barros de um sertão;
uma cova bem cavada o rei disse: muito bem
doze mortos estendidos no mundo todo não tem
e todos mortos falando outro Grilo como João
cinco vivos passeando
trabalham com três sentidos — João Grilo, você bebe?
João disse: bebo 1 pouquinho
— Esta cova é um violão e disse: eu não sou filho
com prima, baixo e bordão de Baco que fez o vinho
o meu pai morreu bebendo sem haver consolação?
eu o que estou fazendo?de boca aberta
em seu ninho O Grilo então respondeu:
lá muito perto da gente
O rei disse: João Grilo tem num oiteiro importante
beber è coisa ruim um moço muito doente
e Grilo respondeu: qual suas lágrimas têm paladar
o meu pai dizia assim: quem não deixa de chorar
na casa de seu Henrique é ôlho d'água vertente
zelam bem um alambique
melhor do que um jardim O rei inventou um truque
do jeito que lhe convinha
O rei disse: João Grilo — Vou arrumar uma cilada
tua fama é um estrondo ver se João adivinha
João Grilo disse: eu sabendo mandou vir um alçapão
o que perguntar respondo fez outra adivinhação
disse o rei enfurecido: escondeu uma bacurinha
o que tem o pé comprido
e faz o rastro redondo? — João, o que é que tem
dentro deste alçapão?
Senhor rei, tenho lembrança se não disser o que é
de tempo da minha avó é morto, não tem perdão
que ela tinha um compasso João Grilo lhe respondeu:
na caixa do bororó quem mata um como eu
como êsse eu também ando não tem dó no coração
fazendo o rastro redondo
andando com uma perna só João lhe disse: esse objeto
nem é manso nem é brabo
João qual é o bicho, nem é grande nem é pequeno
que passa pela campina nem é santo nem é diabo
a qualquer hora da noite bem que mamãe me dizia
andando de lamparina? que eu ainda caía
é um pequeno animal onde a porca torce o rabo
tem luz artificial;
veja o que determina Trouxeram uma bandeja
ornada de muitas flores
— Esse bicho eu já vi dentro dela uma latinha
pois eu tinha por costume cheia de muitos fulgores
de brincar sempre com êle o rei lhe disse: João Grilo
minha mãe tinha ciúme é este o último estrilo
eu andava pelo campo que rebenta tuas dores
uns chamam pirilampo
e outros de vagalume João Grilo desta vez
passou na última estica
O rei já tinha esgotado adivinhar uma coisa
a sua imaginação nojenta que se pratica
não achou uma pergunta fugir da sorte mesquinha
que interrompesse a João pois dentro da lata tinha
disse: me responda agora um pouquinho de xinica
qual é o olho que chora
O rei disse: João Grilo que se faz uma despesa
veja se escapa da morte sem ter no bolso um tostão
o que tem nesta latinha? me conte todo passado
responda se tiver sorte depois de eu ter-lhe escutado
toda aquela populaça lhe darei razão ou não
queria ver a desgraça
do Grilo franzino e forte Disse o mendigo: sou pobre
e fui pedir uma esmola
— Minha mãe profetizou na casa do senhor duque
que o futuro è minha perda levei a minha sacola
— Dessas adivinhações quando cheguei na cozinha
brevemente você herda vi cozinhando galinha
faz de conta que já vi numa grande caçarola
como esta hoje aqui
parece que dá em merda Como a comida cheirava
eu tive apetite nela
O rei achou muita graça tirei um taco de pão
nada teve o que fazer e marchei pro lado dela
João Grilo ficou na corte e sem pensar na desgraça
com regosijo e prazer botei o pão na fumaça
gozando um bom paladar que saia da panela
foi comer sem trabalhar
desta data até morrer O cozinheiro zangou-se
chamou logo o seu senhor
E todas as questões do reino dizendo que eu roubara
era João que deslindava da comida o seu sabor
qualquer pergunta difícil só por eu ter colocado
ele sempre decifrava um taco de pão mirrado
julgamentos delicados aproveitando o vapor
problemas muito enrascados
e João Grilo desmanchava Por isso fui obrigado
a pagar essa quantia
Certa vez chegou na corte como não tive dinheiro
em mendigo esfarrapado o duque por tirania
com uma mochila nas costas mandou trazer-me escoltado
dois guardas de cada lado para depois de ser julgado
seu rosto cheio de mágoa ser posto na enxovia
os olhos vertendo água
fazia pena o coitado João Grilo disse: está bem
não precisa mais falar:
Junto dele estava um duque então perguntou ao duque:
que veio denunciar quanto o homem vai pagar?
dizendo que o mendigo - Cinco coroas de prata
na prisão ia morar ou paga ou vai pra chibata
por não pagar a despesa não lhe deve perdoar
que fizera por afoiteza
sem ter como lhe pagar João Grilo tirou do bolso
a importância cobrada
João Grilo disse ao mendigo: na mochila do mendigo
e como é, pobretão deixou-a depositada
e disse para o mendigo:
balance a mochila, amigo As damas da alta côrte
pro duque ouvir a zuada trajavam decentemente
tôda côrte imperial
O mendigo sem demora esperava impaciente
fez como Grilo mandou ou por isso ou por aquilo
pegou sua mochilinha para conhecer João Grilo
sem compreender o truque figura tão eminente
bem no ouvido do duque
o dinheiro tilintou Afinal chegou João Grilo
no reinado do sultão
Disse o duque enfurecido: quando êle entrou na côrte
mas não recebi o meu, que grande decepção!
diz João Grilo: sim senhor, de palitó remendado
isto foi o que valeu sapato velho furado
deixe de ser batoteiro nas costas um matulão
o tinido do dinheiro
o senhor já recebeu O rei disse: não é ele
pois assim já é demais;
- Você diz que o mendigo João Grilo pediu licença
por ter provado o vapor mostrou-lhe as credenciais
foi mesmo que ter comido embora o rei não gostasse
seu manjar e seu sabor mandou que ele ocupasse
pois também é verdadeiro os aposentos reais
que o tinir do dinheiro
representa o seu valor Só se ouvia cochichos
que vinham de todo lado
Virou-se para o mendigo as damas então diziam:
e disse: estás perdoado é esse o homem falado?
leva o dinheiro que dei-te duma pobreza tamanha
vai pra casa descansado e ele nem se acanha
o duque olhou para o Grilo de ser nosso convidado?
depois de dar um estrilo
saiu por ali danado Até os membros da côrte
diziam num tom chocante
A fama então de João Grilo pensava que o João Grilo
foi de nação em nação fôsse dum tipo elegante
por sua sabedoria mas nos manda 1 remendado
e por seu bom coração sem roupa, esfarrapado
sem ser por êle esperado um maltrapilho ambulante
um dia foi convidado
para visitar um sultão E João Grilo ouvia tudo
mas sem dar demonstração
O rei daquele país em toda a côrte real
quis o reino embandeirado ninguem lhe dava atenção
pra receber a visita por mostrar-se esmolambado
do ilustre convidado tinha sido desprezado
o castelo estava em flores naquela rica nação
cheio de tantos fulgores
ricamente engalanado Afinal veio um criado
e disse sem o fitar: um ente vulgar a toa
já preparei o banheiro desde sobre-mesa a sopa
para o senhor se banhar foram postas à minha roupa
vista uma roupa minha e não à minha pessoa
e depois vá pra cozinha
na hora de almoçar Os comensais se olharam
o rei pergunta espantado:
João Grilo disse; está bom; por que o senhor diz isto
mas disse com seu botão: estando tão bem tratado?
roupas finas trouxe eu disse João: isso se explica
dentro de meu matulão por está de roupa rica
me apresentei rasgado não sou mais esmolambado
para ver neste reinado
qual era a minha impressão Eu estando esfarrapado
ia comer na cozinha
João Grilo tomou um banho mas como troquei de roupa
vestiu uma roupa de gala como junto da rainha
então muito bem vestido vejo nisto um grande ultraje
apresentou-se na sala homenagem ao meu traje
ao ver seu traje tão belo e não a pessoa minha
houve gente no castelo
que quase perdia a fala Toda corte imperial
pediu desculpa a João
E então toda repulsa e muito tempo falou-se
transformou-se de repente naquela dura lição
o rei chamou-o pra mesa e todo mundo dizia
como homem competente que sua sabedoria
consigo, dizia João: era igual a Salomão.
na hora da refeição
vez ensinar esta gente - FIM –

O almoço foi servido AS PROEZAS DE JOÃO GRILO


porém João não quis comer
despejou vinho na roupa Este clássico romance de Literatura de
só para vê-lo escorrer Cordel, também conhecido por folheto
ante a corte estarrecida de Cordel, ou simplesmente Cordel, foi
encheu os bolsos de comida escrito pelo paraibano, Leandro Gomes
para toda corte ver de Barros, que foi o maior autor, do
mundo, deste tipo de literatura. Mas que
O rei bastante zangado no final da sua vida, vendeu toda a sua
perguntou pra João: produção e maquinário a João Martins
por que motivo o senhor de Athayde, este passou a assumir a
não come da refeição? autoria de vários Cordéis de Leandro.
respondeu João com maldade:
tenha calma, majestade
digo já toda razão

Esta mesa tão repleta


de tanta comida boa
não foi posta pra mim

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