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FRANCA
2016
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
FRANCA
2016
(Ficha catalográfica no verso da folha anterior)
NATHALIA MARCELINO VIEIRA
BANCA EXAMINADORA
Presidente:_________________________________________________________
1º Examinador:______________________________________________________
2º Examinador:______________________________________________________
Albert Einstein
VIEIRA, Nathalia Marcelino. A precarização dos direitos sociais e a terceirização
trabalhista. 2016. 89 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Direito) – Faculdade
de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”,
Franca, 2016.
RESUMO
Os direitos sociais são garantidos pela Constituição Federal Brasileira, porém, a prática da
terceirização culmina, muitas vezes, na precarização das condições de trabalho. Sabe-se que,
no contexto da terceirização, o trabalhador tantas vezes não sabe nem quem é de fato seu
empregador, tampouco a quem deve recorrer. Em decorrência da precária fiscalização e do
aumento do desemprego, empresas se beneficiam dessas condições para diminuir os custos da
produção ou da prestação de serviço, impondo salários irrisórios e condições perversas de
trabalho. A dificuldade da manutenção dos direitos trabalhistas também se justifica através da
contemporânea ordem econômica globalizada, que tem intensificado a flexibilização do
Direito do Trabalho. O presente trabalho tem por objetivo abordar o Projeto de Lei n°
4330/2004, em trâmite no Congresso Nacional, que pretende ampliar as possibilidades da
prática da terceirização, analisando possíveis prejuízos aos direitos fundamentais sociais em
detrimento da dignidade dos trabalhadores terceirizados. Como método de procedimento,
adotou-se o levantamento através da técnica de pesquisa bibliográfica em materiais
publicados e, como método de abordagem, o dialético para a compreensão e a interpretação
aproximada da realidade.
INTRODUÇÃO8
OBJETIVO11
Objetivo geral11
Objetivos específicos11
MÉTODO12
2 A TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL30
CONCLUSÃO87
REFERÊNCIAS90
8
INTRODUÇÃO
1
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 176.
9
Por não gerar vínculo de emprego com o tomador, a terceirização do trabalho pode
comprometer a dignidade do trabalhador em relação aos terceirizados, afinal, o empregador
pode ter vários trabalhadores de diferentes categorias, cada um necessitando de mais ou
menos proteção, sobretudo no que tange a saúde. A fiscalização por parte dos órgãos
competentes também pode se tornar mais precária, visto que é difícil ligar uma ponta da linha
de produção a outra ponta (de venda e lucro). Fato é que a luta dos trabalhadores por
condições dignas de trabalho, melhoria na legislação é, muitas vezes, impedida pelo furor do
capitalismo.
O Projeto de Lei nº 4330 de 2004, já aprovado pela Câmara dos Deputados, autoriza a
terceirização da atividade-fim e estende as regras para as empresas públicas. Ou seja, uma
terceirização ampla, geral e irrestrita. Quatro polêmicas foram descortinadas por esse projeto
de lei: a abrangência das terceirizações tanto para as atividades-meio como atividades-fim;
responsabilidade das obrigações trabalhistas somente da empresa terceirizada – a contratante
terá apenas de fiscalizar; a representatividade sindical passará a ser do sindicato da empresa
contratada e não da contratante; e a possibilidade da Administração Pública contratar
prestação de serviços de terceiros, desde que não seja para executar atividades exclusivas de
Estado, como regulamentação e fiscalização. O presente trabalho pretende discutir o
mencionado projeto, apontando possíveis consequências práticas.
No primeiro Capítulo, procurou-se abordar historicamente a flexibilização dos direitos
trabalhistas ao longo do tempo, com um enfoque econômico, até o atual modelo de economia,
com o fenômeno da globalização e com as novas tecnologias. Buscou-se abordar a evolução
da terceirização, no mundo e, principalmente, no Brasil.
O Capítulo 2, por sua vez, trata especificamente da terceirização no Brasil, baseando-
se nas legislações e entendimentos existentes atualmente, principalmente na Súmula n° 331
do Tribunal Superior do Trabalho. Examinaram-se os requisitos da terceirização lícita, suas
vantagens e a responsabilidade da empresa tomadora de serviços, passando, posteriormente, a
abordagem do Projeto de Lei nº 4330/04 e a necessidade de regulação da terceirização por
meio de lei.
Por fim, no Capítulo 3, foram abordados os direitos sociais dos trabalhadores
terceirizados. Buscou-se conceituar tais direitos e como devem ser aplicados na prática
jurídica, principalmente no tocante à terceirização, à luz do entendimento do jus filósofo
Ronald Dworkin e do seu método interpretativo. Por conseguinte, abordou-se a precarização
das relações de trabalho decorrente da terceirização da mão-de-obra, bem como os prejuízos
10
impingidos ao trabalhador, visando à conclusão sobre quais proteções são necessárias aos
trabalhadores terceirizados e quais foram incluídas no Projeto de Lei nº 4330/04.
Cumpre ressaltar a relevância do tema diante da sua atualidade e da larga adoção da
terceirização, amplamente utilizada pelas empresas para competirem no mercado moderno
globalizado. Torna-se ainda mais relevante diante de um Projeto de Lei em trâmite perante o
Congresso Nacional, da controvérsia que ele suscita e da complexidade das posições
assumidas pela doutrina e pela jurisprudência. A atualidade da pesquisa não se restringe
apenas ao plano teórico do Direito, mas abrange a vivência no plano prático da reconstrução –
ou da manutenção – do ordenamento jurídico pátrio.
11
OBJETIVO
Objetivo geral
Objetivos específicos
MÉTODO
[...] que penetra o mundo dos fenômenos através de sua ação recíproca, da
contradição inerente ao fenômeno e da mudança dialética que ocorre na
natureza e na sociedade.3
2
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia
Científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 182.
3
Ibidem, p. 105.
13
No que diz respeito aos materiais, foram utilizados apenas os já publicados, como, por
exemplo, doutrinas, legislação, artigos científicos, teses, dissertações, monografias,
jurisprudência, notícias e textos publicados em revistas e sítios eletrônicos, entre outros.
4
PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. Metodologia do Trabalho
Científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo: Feevale,
2013. p. 35.
14
5
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr,
2015.
6
MARTINS, Sérgio Pinto. Flexibilização das condições de trabalho. São Paulo: Atlas, 2000.
p. 37.
15
legislação, como faz a Constituição no artigo 7º, incisos VI, XIII e XIV; trata-se de menor
rigidez da legislação, permitindo adaptações no trabalho em virtude de modificações sociais e
econômicas.
A Constituição Federal, em seu artigo 7º, VI, prevê a flexibilização dos salários,
permitindo a redução destes, mediante negociação coletiva. Outra forma prevista pela
Constituição, no mesmo atrigo, inciso XI, é a participação nos lucros ou resultados da
empresa, como forma de retribuição desvinculada da remuneração. Já no inciso XIII, faculta
a redução da jornada de trabalho e a compensação de horários. Outras formas de
flexibilização também são previstas, segundo José Ribeiro de Campos:
É importante a adaptação das normas trabalhistas diante de novas realidades, mas sem
minorar os princípios constitucionais. Os direitos fundamentais devem ser resguardados em
um Estado Democrático.
7
CAMPOS, José Ribeiro de. A terceirização e a responsabilidade da empresa tomadora
dos serviços. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 19-20.
8
DIEESE. Os trabalhadores frente à terceirização. Pesquisa Dieese, v. 7, 1993. In: CAMPOS,
José Ribeiro de. A terceirização e a responsabilidade da empresa tomadora dos serviços. São
Paulo: IOB Thomson, 2006.
16
único ponto da produção com metas rígidas a cumprir tivesse uma otimização do tempo de
produção.
No fim da década de 60, o modelo fordista entrou em declínio em decorrência da
“crise do lucro”, da globalização do mercado e da consequente crise do Estado de Bem-Estar
Social. E surgiu o neoliberalismo, com traços marcantes como a privatização do Estado,
desregulamentação dos direitos trabalhistas e desmontagem do setor produtivo estatal. Tal
bandeira logo refletiu sobre o Direito do Trabalho e a globalização, a abertura do mercado e o
novo método de produção, o toyotismo, trazem a lume a flexibilização trabalhista e a
terceirização.
Segundo Amorim 9 , o toyotismo se constitui em um modelo produtivo voltado ao
atendimento das exigências individuais e oscilantes do novo mercado consumidor
globalizado, em ambiente de rigorosa competitividade, destituído de protecionismos estatais,
o que desafia uma produção bastante variada e de baixo custo, fundado no princípio do just in
time. Para isso, os estoques são reduzidos e a matéria-prima é adquirida conforme a
necessidade do cliente. O trabalho humano também é limitado a apenas o necessário
conforme a demanda, o que gera formas flexíveis de contratação, como o trabalho temporário,
o teletrabalho, e outros, gerando uma flutuação da mão-de-obra.
Assim, a flexibilização do Direito do Trabalho começa a se dar após a Segunda Guerra
Mundial. No Brasil, as mudanças significativas nas relações de trabalho se deram também
após a primeira metade do século XX, principalmente nos aspectos político e econômico.
9
AMORIM, Helder Santos. A terceirização no serviço público: à luz da nova hermenêutica
constitucional. São Paulo: LTr, 2009. p. 31.
10
PINTO, Rosane Abreu Gonzalez. Globalização Econômica: seus efeitos jurídicos nas relações
de trabalho e na problemática epistemológica do direito do trabalho. Revista de Estudos Jurídicos
UNESP, Franca, ano 4, n. 8, jul./dez. 1999. p. 169.
18
11
RIBEIRO, Wagner Costa. A quem interessa a globalização. Revista ADUSP, São Paulo, p.
18-21, 1995.
12
ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 142.
13
RUDIGER, Dorothee Susanne. O direito do trabalho brasileiro no contexto da globalização.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, Campinas, n. 12, jul./set. 2000. p. 55.
19
tempo e seu investimento no produto final, naquilo que efetivamente tinham que fabricar.
Antes desse período, já existiam atividades prestadas por terceiros às empresas, mas foi a
partir dessa época que a terceirização se tornou expressiva o suficiente para interferir na
economia, na sociedade e merecer atenção dos estudiosos.
As transformações advindas desse processo têm consequência direta no mundo do
trabalho, nas relações comerciais entre as empresas, conforme observa José Márcio Camargo:
14
SINGER, Paul; SALM, Cláudio; CAMARGO, José Márcio; POCHMANN, Márcio;
BATISTA JUNIOR, Paulo Nogueira. Globalização e emprego. Novos Estudos Cebrap, n. 45, jul.
1996. p. 141.
15
MATTOSO, Jorge Eduardo Levi. Globalização, Neoliberalimso e Flexibilização. In:
ARRUDA JUNIOR, Eduardo de Lima; RAMOS, Alexandre Luiz (Orgs.). Globalização,
Neoliberalismo e o Mundo do Trabalho. Curitiba: IBEJ, 1998. p. 41.
20
Ainda, há uma inclinação das empresas à redução progressiva dos salários, ao passo
que, na medida que se intensificam as outras formas de contratação, há uma acentuada
diminuição nos níveis de sindicalização e o consequente enfraquecimento do seu poder de
negociação.
Frente a tais inseguranças, observa-se que, como consequência da globalização, há
uma crescente precarização nas condições e nas relações de trabalho, consubstanciada no
aumento do desemprego, do trabalho informal e de formas paralelas de exploração de mão-
de-obra, como é o caso da terceirização. Esta constitui, pois, uma forma de fragilizar o
vínculo existente entre empregado e empregador, consistindo em uma das formas de
flexibilização dessas relações e será objeto de estudo mais aprofundado no próximo capítulo.
16
SUSSEKIND, Arnaldo. Instituições de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2003. p. 197.
21
relação de emprego, como o contrato de temporada, de estágio, dentre outros. Segundo Sérgio
Pinto Martins:
17
MARTINS, Sérgio Pinto. Flexibilização das condições de trabalho. São Paulo: Atlas, 2000.
p. 38.
18
CAMPOS, José Ribeiro de. A terceirização e a responsabilidade da empresa tomadora
dos serviços. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 21.
22
A terceirização gera para as empresas uma parceria na busca dos objetivos comerciais
e cada uma passa a aprimorar sua especialidade. Diante disso, o trabalhador também passa a
buscar o aprimoramento profissional, seja ele empregado da tomadora ou da prestadora de
serviços. Assim, a empresa tomadora de serviços deixa de ser responsável pelas fases do
processo produtivo em sua totalidade, o que repercute na seara laboral, que é baseado na
figura da empresa autossuficiente. Com a terceirização, ocorre uma desconcentração
produtiva e econômica, pois o fornecimento de serviços é bens é buscado no mercado.
Para Sérgio Pinto Martins 20 , só deveria haver transferência para terceiros de
atividades-meio da empresa, como manutenção, limpeza, conservação, vigilância e outros,
pois com a terceirização da atividade-fim do empreendimento a empresa não estaria prestando
serviços, mas fazendo um arrendamento do negócio.
A partir do momento em que o empregador não é mais responsável pelo empregado,
ou seja, da transferência da responsabilidade a um terceiro, a quem reclamar em casos de
mitigação dos direitos trabalhistas? Como se desenvolve a relação de trabalho? A tomadora de
serviços é responsável nos casos em que a empresa terceirizada se omite?
Essas questões serão abordadas ao longo dessa análise, procurando mostrar evidenciar
que, no mundo globalizado, diante de tantas inovações tecnológicas, é um desafio para as
empresas modernas competirem no mercado e, portanto, precisam se adaptar à situação
19
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr,
2015. p. 475.
20
MARTINS, Sérgio Pinto. Flexibilização das condições de trabalho. São Paulo: Atlas, 2000. p. 40.
23
21
PASTORE, José; PASTORE, José Eduardo G. Terceirização: necessidade para a economia,
desafio para o direito. São Paulo: LTr, 2015. p. 12.
24
consumidor22. Toda essa situação gera um grande impacto no Direito do Trabalho, que precisa
se adaptar a essa nova realidade.
Diante dessa economia moderna, existem autores que enxergam a terceirização como
extremamente necessária, pois sem ela muitos negócios seriam inviáveis. Segundo Pastore23,
se uma construtora de edifícios residenciais, ao invés de terceirizar a terraplanagem de
alicerces fosse obrigada a comprar todo o maquinário, extremamente caro, que usaria apenas
uma vez a cada dois ou três anos, um apartamento nesses edifícios custaria muito caro,
tornando o negócio inviável, pois os consumidores não o comprariam.
Outros autores, entretanto, entendem que a terceirização trouxe efeitos negativos,
conforme esclarece Gabriela Neves Delgado:
22
Ibidem, p. 13.
23
Idem.
24
DELGADO, Gabriela Neves. Terceirização – paradoxo do direito do trabalho. São Paulo:
LTr, 2003. p. 170.
25
PASTORE, José; PASTORE, José Eduardo G. Terceirização: necessidade para a economia,
desafio para o direito. São Paulo: LTr, 2015.
25
26
Ibidem.
27
ARMONK apud PASTORE, José; PASTORE, José Eduardo G. Terceirização: necessidade
para a economia, desafio para o direito. São Paulo: LTr, 2015. p. 14.
28
ALMEIDA, Amador Paes de. A terceirização no direito do trabalho: limites legais e
fraudes à lei. In: CARDONE, Marly A.; SILVA, Floriano Corrêa Vaz da (Org.). Terceirização no
direito do trabalho e na economia. São Paulo: LTr, 1993. p. 36.
26
29
MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do Trabalho. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. p. 75.
27
sentido, tem-se que a flexibilização do trabalho é algo relativamente novo, dada a dimensão
adquirida num quadro de globalização, de reestruturação produtiva e de implementação de
políticas neoliberais.
A terceirização é um processo largamente adotado no Brasil e em vias de ampliação, o
que será tratado adiante. Apesar de existir uma espécie de buraco legal quanto a esse tema, a
terceirização aumenta a cada dia nos serviços ligados à produção. Assim como no resto do
mundo, no Brasil as empresas usam a terceirização para produzir e vender mais e melhor,
elevando sua competitividade nos mercados globalizados.
A terceirização é uma das principais formas da flexibilização do trabalho, pois ela
sintetiza o grau de liberdade que o capitel tem para, desta forma, dominar a força de trabalho.
No Brasil, os principais tipos de contratação envolvem as formas mais típicas, advinda desde
a década de 1980, como: empresa prestadora de serviços especializados não industriais; outra
empresa industrial; locadora de mão-de-obra; e até alguns tipos emergentes, como:
cooperativas; prestador de serviços/firma individual; e entidades sem fins lucrativos30.
Nos estudos sobre a terceirização no Brasil, a precarização é presente invariavelmente.
Segundo Druck31, em pesquisa na década de 1990, a precarização do trabalho advinda da
terceirização se dá em quatro aspectos: no emprego, nas condições de trabalho, na saúde do
trabalhador e nos sindicatos. Nos últimos 15 anos, o aumento da terceirização e suas novas
formas evidenciam essas implicações.
O processo de terceirização, hoje, no Brasil, é usado na maioria dos setores da
economia: na construção civil, no setor automobilístico, no comércio, no setor elétrico, no
setor de logística e, inclusive, no setor público.
O modelo de produção toyotista visa encurtar a estrutura com os serviços não
essenciais e concentrar naquele que é sua atividade fim, foi instituído com o intuito de
aumentar a competitividade e baratear os preços dos produtos, porém, as empresas não
alcançaram os resultados esperados e os direitos dos trabalhadores foram dizimados. Diante
30
FRANCO, Tânia Maria de Almeida; DRUCK, Graça. A Precarização do Trabalho no Brasil:
um estudo da evolução da terceirização no Brasil e na indústria da Bahia na última década. Revista
Latinoamericana de Estudios del Trabajo, 2008. p. 15.
31
DRUCK, M. da G. Terceirização: (des)fordizando a fábrica – um estudo complexo
petroquímico da Bahia. São Paulo; Salvador: Boitempo; Edufba, 1999.
28
dessa situação, o Brasil adotou o sistema da terceirização, mesmo durante a década de 1990,
quando era um dos países com maior número de desemprego no mundo32.
A terceirização no Brasil, por não dispor de uma norma regulamentadora, acabou por
ter um crescimento desorganizado, gerando assim inúmeras fraudes, como exemplo, o de
eximir o empregador dos encargos trabalhistas.
As primeiras legislações sobre a terceirização foram os Decretos-Lei nº 1.212 e nº
1.216, de 1966, que regulamentavam os serviços bancários. Posteriormente, foi editado o
Decreto-Lei nº 756, que dispunha sobre as empresas de intermediação de mão de obra. E em
1969, houve o Decreto-Lei nº 1.034, que estabeleceu as medidas de segurança para o
funcionamento de empresa de segurança bancária. O problema é que tais decretos versavam
apenas sobre o setor bancário.
Em 1967, houve a publicação do Decreto-Lei n° 200, dispondo sobre a terceirização
na Administração Pública e, em 1970, foi criada a Lei nº 5.645, que regula a execução neste
aspecto. No direito privado, em 1974, foi regulamentado o contrato de trabalho temporário
com a Lei n° 6.019 e apenas em 1983, por meio da Lei n° 7.102, foi normatizada a vigilância
bancária e o transporte de valores33.
Primeiramente, no Brasil, a terceirização somente era autorizada nos casos do setor
financeiro, mas, conforme o crescimento da economia privada, vieram, em 1994 e 1995, as
Leis nº 8.863/94 e nº 9.017/95, que permitiram a prestação de serviços de vigilância.
Paralelamente as estas leis, o TST editou algumas: a primeira foi a Súmula nº 239, de 1985,
que tinha como objetivo prevenir a fraude bancária; depois veio a Súmula nº 256, que tinha
um rol taxativo sobre quais áreas poderiam ser terceirizadas; e em 1993, o TST reexaminou a
Súmula nº 256 e editou a Súmula nº 331, que preenche, de certo modo, a lacuna existente
sobre esse tema34.
A Súmula nº 239 surgiu por força da prática comum de contratação de empregados por
empresas de processamento de dados, mas com a verdadeira função de realizar serviços
bancários, sem, no entanto, gozar dos benefícios e direitos de um bancário na sua real função.
32
SILVA, Eliane Lopes da; COSTA, Lucia Cortes da. O desemprego no Brasil na década de
1990. Revista Emancipação, Ponta Grossa, v. 5, n. 1, 2005. Disponível em:
<http://www.revistas2.uepg.br/index.php/emancipacao/article/view/58/56>. Acesso em: 15 jun. 2016.
33
MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira. A terceirização trabalhista no Brasil. São Paulo:
Quartier Latin, 2008, p. 143.
34
Ibidem.
29
Tentava-se, com tal prática, fraudar a jornada de trabalho especial dos bancários, de seis
horas. Assim, com a equiparação realizada pela Súmula 239, coibiu-se essa fraude.
A Súmula nº 256, de 1986, por sua vez, declarou ilegal qualquer tipo de contratação de
trabalhadores por empresa interposta, ressalvando apenas os casos de trabalho temporário
(disciplinados na Lei 6.019/74) e de serviços de vigilância (Lei 7.012/83). A Súmula nº 257,
também de 1986, reforçou a ilicitude dos contratos de terceirização para veículos de
vigilância, não igualando a bancário o vigilante contratado diretamente por banco ou por meio
de empresas especializadas.
Por fim, veio a Súmula nº 331 revisar a Súmula nº 256, admitindo a contratação de
serviços por empresa interposta, sem que haja a possibilidade de configuração de vínculo de
emprego com a empresa tomadora dos serviços nos casos de vigilância, como já era previsto,
de conservação e de limpeza, e de serviços especializados ligados as atividades-meio da
empresa, desde que cumpridos os requisitos exigidos por ele.
O problema é que este método de exploração de trabalho vem sendo usado de forma
desgovernada, a fim de desrespeitar/burlar as leis e os encargos trabalhistas. Ao se observar a
Súmula nº 331 de forma geral, vê-se que a terceirização se dá de forma lícita em quatro
situações: no trabalho temporário, na atividade de vigilância, nas atividades de conservação e
limpeza e nos serviços ligados à atividade-meio da empresa.
Assim, a Súmula nº 331 visou evitar fraudes, deixando claro, que, dentre os requisitos
da relação de emprego, a terceirização comporta apenas três, que são a onerosidade, a pessoa
física e a não eventualidade. Caso se configure pessoalidade ou subordinação, estar-se-ia
diante de uma situação de terceirização ilícita. Ocorre que, muitas vezes esses elementos são
desrespeitados, pois o empregado terceirizado muitas vezes é subordinado ao tomador de
serviços.
30
2 A TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL
35
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr, 2015.
36
Ibidem, p. 474.
31
37
POCHMANN, Márcio. Sindeepres 15 anos: a superterceirização dos contratos de trabalho.
Campinas, abr. 2007. Disponível em: <http://www.sindeepres.org.br>. Acesso em: 25 jun. 2016.
38
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr, 2015.
32
Assim, não há conceito legal do tema, afinal, até a Súmula nº 331 do TST, que se
utiliza do termo terceirização e admite as hipóteses em que ela é licita, não apresenta uma
definição certa. Desse modo, o conceito provém da doutrina, conforme entendimento e
interpretação de cada doutrinador. Mesmo o próprio termo terceirização, que é o mais
utilizado, inclusive na própria Súmula nº 331, há autores que criticam essa denominação e
apresentam outros termos, como focalização, horizontalização, externalização de atividades,
parceria, contrato de fornecimento, outsorcing e sub-contratação. É o caso, por exemplo, de
Cássio Mesquita Barros Júnior, segundo ele, a terceirização
39
BARROS JÚNIOR, Cássio Mesquita. Flexibilização do direito do trabalho e terceirização.
Cadernos de Direito Tributário e Finanças Públicas, São Paulo, Revista dos Tribunais, n. 21, 1997.
40
CAMPOS, José Ribeiro de. A terceirização e a responsabilidade da empresa tomadora
dos serviços. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 15.
33
Pode-se, portanto, dizer que todas as tarefas que contribuam para a obtenção
do lucro e a consecução do negócio do empregador, em menor ou maior grau
e independentemente da participação do tomador de serviços, porquanto
distribuídas na dinâmica do empreendimento, contribuem inexoravelmente
para o resultado produtivo esperado, tornando-se essenciais e justificando a
aplicação do conceito de subordinação estrutural, em prejuízo ao clássico
41
SILVA, Eliane Lopes da; COSTA, Lucia Cortes da. O desemprego no Brasil na década de
1990. Revista Emancipação, Ponta Grossa, v. 5, n. 1, 2005. Disponível em:
<http://www.revistas2.uepg.br/index.php/emancipacao/article/view/58/56>. Acesso em: 15 jun. 2016.
34
42
SILVA, Laércio Lopes da. A terceirização e a precarização das relações de trabalho: a
atuação do juiz na garantia da efetivação dos direitos fundamentais nas relações assimétricas de poder:
uma interpretação crítica ao PL n. 4330/2004. São Paulo: LTr, 2015. p. 98.
43
Ibidem.
35
44
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 47.
45
CASTRO, Rubens Ferreira de. A terceirização no direito do trabalho. São Paulo:
Malheiros, 2000, p. 137.
36
meio, não se configura aceitável porque, em primeiro lugar, muitas vezes torna-se difícil ou
mesmo impossível fazer essa distinção[...]”46.
Não obstante, é necessário que se repare com a devida atenção a finalidade econômica
da empresa, encontrando assim, sua atividade-fim. Conforme bem afirma Rubens Ferreira
Castro, de acordo com o pensamento de Sérgio Pinto Martins citado acima sobre o
planejamento da empresa e suas atividades:
46
BORBOTELLA, Luiz Carlos Amorim. O moderno direito do trabalho. São Paulo: LTr,
1994, p. 259.
47
CASTRO, Rubens Ferreira de. A terceirização no direito do trabalho. São Paulo:
Malheiros, 2000.
37
O terceiro ponto, por fim, é a ausência de subordinação direta do empregado para com
a empresa tomadora dos serviços e este se constitui também elemento caracterizador de
vínculo de emprego, contido no artigo 3º da CLT. Desse modo, não é permitido ao tomador
dos serviços dirigir diretamente a prestação laboral do trabalhador terceirizado, bem como é
vedada a aplicação de sanções disciplinares48.
Cumpre ressaltar, quanto aos dois últimos pontos, conforme destaca Rubens Ferreira
de Castro, que para a descaracterização da licitude da terceirização é necessária a
coexistência, na relação de trabalho, da pessoalidade e da subordinação direta entre o
empregado e a empresa tomadora. Não sendo, pois, suficiente a constatação de somente um
dos requisitos para que o vínculo empregatício esteja presente entre eles e a terceirização seja
constatada como ilícita49.
A atual demanda legislativa e econômica é pela ampliação da terceirização para
atividades-fim. Todavia, faz-se ressaltar, neste momento, que tal ampliação descaracterizaria
totalmente a ideia triangular de terceirização hoje existente, formando vínculo empregatício
entre empresa tomadora de serviços e empregados terceirizados.
Muitas foram as discussões em torno da Súmula nº 256, as quais perduraram até 1993,
quando da elaboração da Súmula nº 331, aprovada pela Resolução nº 23, com a seguinte
redação:
48
CASTRO, Rubens Ferreira de. A terceirização no direito do trabalho. São Paulo:
Malheiros, 2000.
49
Ibidem.
38
A leitura da Súmula nº 331 do TST, acima transcrita, permite extrair várias orientações
que possibilitam o entendimento da amplitude de seu valor para a aplicação da terceirização.
José Ribeiro de Campos, em sua obra, traz um panorama dos precedentes
jurisprudenciais que o TST utilizou como base para editar a Súmula:
Para editar a Súmula 331, o Tribunal Superior do Trabalho teve como base
os seguintes precedentes jurisprudenciais: 1º) Embargos à SDI nº 211/90,
Relatora Ministra Cnéa Moreira, publicado no Diário da Justiça de
03.09.1993; 2º) Recurso de Revista nº 62835/92, 1ª Turma, Relator Ministro
Ursulino Santos, publicado no Diário da Justiça de 01.10.1993; 3º) Recurso
de Revista nº 44058/92, 1ª Turma, Relator Ministro Afonso Celso, publicado
no Diário da Justiça de 04.12.1993; 4º) Recurso de Revista nº 43279/82, 2ª
Turma, Relator Ministro João Tezza, publicado no Diário da Justiça de
18.06.1993; 5º) Recurso de Revista nº 24086/91, 2ª Turma, Relator Ministro
Vantuil Abdala, publicado no Diário da Justiça de 08.05.1992; 6º) Recurso
de Revista nº 41486/91, 3ª Turma, Relator Ministro Roberto Della Manna,
publicado no Diário da Justiça de 08.06.1993; 8º) Recurso de Revista nº
41974/91, 4ª Turma, Relator Ministro Marcelo Pimentel, publicado no
Diário da Justiça de 18.06.1993; 9º) Recurso de Revista nº 42286/91, 4ª
Turma, Relator Ministro Leonardo Silva, publicado no Diário da Justiça de
12.02.1993; e 10º) Recurso de Revista nº 35.607/91, 5ª Turma, Relator
Ministro José Ajuricaba da Costa e Silva, publicado no Diário da Justiça de
25.06.1993.51
50
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 331. Contrato de prestação de serviços.
Brasília, 2011. Disponível em:
<http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_301_350.html>. Acesso
em: 20 out. 2016.
51
CAMPOS, José Ribeiro de. A terceirização e a responsabilidade da empresa tomadora
dos serviços. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 46.
39
No segundo inciso, reforça o artigo 37, II, da Constituição Federal, segundo o qual só
possui vínculo de emprego com a Administração Pública, Direta e Indireta, as pessoas
aprovadas em concurso público, na forma prevista em lei, exceto as nomeações para cargo em
comissão, declarado em lei de livre nomeação e exoneração.
Já no terceiro inciso, a Súmula admite a terceirização de quaisquer serviços ligados à
atividade-meio da empresa tomadora, desde que obedecidos os requisitos estabelecidos, já
abordados. Nesse sentido, Sérgio Pinto Martins:
52
DELGADO, Gabriela Neves; AMORIM, Helder Santos. Os limites constitucionais da
terceirização. 2. ed. São Paulo: LTr, 2015. p. 38.
40
deve haver a inclusão da empresa tomadora no polo passivo da ação, pois, em um processo,
quem não foi parte na fase de conhecimento não o pode ser na execução53.
Todavia, a interpretação da Súmula nº 331 ainda era omissa quanto ao último inciso,
pois não tratava da responsabilidade da Administração Pública, apenas fazia referência ao
setor privado. Desse modo, o inciso IV foi alterado posteriormente pela Resolução nº 96 do
TST, passando a ser redigido da seguinte forma:
53
Ibidem, p. 123.
54
VIANA, Márcio Túlio. DELGADO, Gabriela Neves. AMORIM, Helder Santos.
Terceirização: Aspectos Gerais. A última decisão do STF e a Súmula 331 do TST. Novos Enfoques.
Revista TST, Brasília, v. 77, n. 1, jan. 2011. p. 61.
41
que, no seu artigo 160, parágrafo único, prevê a edição de Súmula revestida de relevante
interesse público. Além disso, obteve-se maior proteção dos trabalhadores terceirizados.
injusto que numa contratação de duas pessoas jurídicas, em que uma delas
recebe os serviços, e a outra os presta, e vindo esta a inadimplir o contrato
(que lhe impõe obrigação de cumprimento da legislação trabalhista e social),
praticando assim infração contratual e também legal, o reparo pelo
descumprimento dessas obrigações se transfira para a empresa tomadora dos
serviços, inobstante ter esta cumprido corretamente o contrato que celebrara,
por uma colocação jurisprudencial de responsabilidade subsidiária, e sem a
existência de lei que a tanto autorize55.
55
PIRES, Aurélio. Terceirização: responsabilidades – um tema para reflexão, 2000. In:
CAMPOS, José Ribeiro de. A terceirização e a responsabilidade da empresa tomadora dos
serviços. São Paulo: IOB Thomson, 2006; p. 59.
56
ABDALA, Vantuil. Terceirização: atividade-fim e atividade-meio – responsabilidade
subsidiária do tomador de serviço. Revista LTr, São Paulo, v. 60, n. 5, maio 1996. p. 589.
42
iii) não se pode impor ao trabalhador ônus de fato do contrato do qual não
pôde opinar;
57
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. Precedente Normativo n° 38.
Disponível em: <http://www.trtsp.jus.br/geral/tribunal2/SUM_TRT2/precedentes_trt02.html>. Acesso
em: 31 jul. 2016.
58
SILVA, Laercio Lopes da. A terceirização e a precarização nas relações de trabalho: a
atuação do juiz na garantia da efetivação dos direitos fundamentais nas relações assimétricas de poder:
uma interpretação crítica ao PL n. 4330/2004. São Paulo: LTr, 2015.
43
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.
59
Ibidem, p. 53.
60
PINTO, José Augusto Rodrigues. Breves cogitações sobre a responsabilidade no direito do
trabalho. Revista de Direito do Trabalho, São Paulo, ano 31, n. 117, p. 116-118, jan./mar. 2005.
44
Há, porém, outra corrente que entende que a Administração Pública deve sim ter
responsabilidade pelo inadimplemento dos créditos trabalhistas não quitados pela empresa
prestadora de serviços. Nesse sentido, Mauro César Martins de Souza afirma que
61
DALLEGRAVE, José Afonso Neto. Responsabilidade civil no direito do trabalho. 3. ed.
São Paulo: LTr, 2008. p. 78.
62
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. São
Paulo: Dialética, 2000. p. 566.
45
A terceirização foi a saída encontrada pelos empresários para reformular suas relações
de produção, de maneira menos dispendiosa, a fim de superar os efeitos da globalização.
As empresas que, primeiramente, passaram pelas fases de centralização e
verticalização, adotaram também o processo de terceirização, tornando-se mais ágeis,
eficientes, ganhando qualidade, especialização e competitividade dos seus produtos no
mercado globalizado64.
Como já abordado, a terceirização está associada à focalização, uma estratégia das
empresas de concentrar suas atividades naquilo que é primordial aos seus negócios,
facilitando a gestão empresarial. Com a terceirização, as empresas reduzem custos, melhoram
o desempenho e a qualidade da produção, pois realizam um menor número de processos
produtivos, ponto importante para enfrentar a concorrência.
Pastore, em sua obra, afirma que até pouco tempo atrás as empresas terceirizavam
exclusivamente para reduzir custos. Hoje, as empresas consideram vários fatores para
terceirizar, como: especialização superior; transferência de conhecimentos; melhoria na
63
SOUZA, Mauro César Martins de. Responsabilização do tomador de serviços na
terceirização. In: CAMPOS, José Ribeiro de. A terceirização e a responsabilidade da empresa
tomadora dos serviços. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 63.
64
QUEIROZ, Carlos Alberto Ramos Soares de. Manual de terceirização. São Paulo: STS,
1992. p. 14.
46
65
PASTORE, José; PASTORE, José Eduardo G. Terceirização: necessidade para a economia,
desafio para o direito. São Paulo: LTr, 2015. p. 32.
66
Ibidem.
67
QUEIRÓZ, Carlos Alberto Ramos Soares. Manual de terceirização. São Paulo: STS, 1992.
p. 255.
47
Sérgio Pinto Martins vê a terceirização como estratégia adotada pela empresa para
bem administrar seus interesses econômicos; porém, alerta para o fato de que a terceirização
não está definida em lei, nem há norma jurídica tratando, até o momento do tema. Por isso, a
utilização da terceirização pelas empresas traz problemas jurídicos que precisam ser
analisados, mormente no campo trabalhista70.
Resta verificar, como será feito adiante, como a situação dos trabalhadores fica em
relação à prática da terceirização, se seus direitos fundamentais, sociais e trabalhistas são
respeitados, além de analisar o PL nº 4330/2004, se seria um bom começo para uma
legislação acerca do tema.
68
MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do trabalho. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. p. 75.
69
MIRAGLIA, Livia Mendes Moreira. Terceirização trabalhista no Brasil. São Paulo:
Quartier Latin, 2008. p. 119.
70
MARTINS, Sérgio Pinto. A terceirização e o direito do trabalho. São Paulo: Atlas, 2001.
48
71
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr, 2015.
p. 484.
72
DELGADO, Gabriela Neves; AMORIM, Helder Santos. Os limites constitucionais da
terceirização. 2. ed. São Paulo: LTr, 2015.
49
73
Ibidem, p. 81.
74
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 18. ed. São Paulo:
Malheiros, 2000. p. 109.
75
DELGADO, Maurício Godinho; DELGADO, Gabriela Neves. Tratado jurisprudencial de
direito constitucional do trabalho. São Paulo: Revista dos Tribunais, 201. v. I. p. 144.
50
o Tribunal Superior do Trabalho editou a Súmula n° 331 que, em seu item III, admite a
terceirização como lícita nas atividades especializadas ligadas à atividade-meio do tomador de
serviços. A Constituição Federal de 1988, mesmo antes da edição de tal Súmula, limitava a
terceirização às atividades-meio.
No que tange à terceirização por parte da Administração Pública, o limite é imposto,
primeiramente, pelo princípio da impessoalidade, que exige concurso público para a
contratação de pessoas para provimento de cargos e empregos públicos nas atividades
finalísticas dos órgãos e entres públicos (artigo 37, II, da Constituição Federal). A
terceirização no setor público somente é admitida para serviços de apoio (artigo 37, XXI, da
Constituição Federal).
Já no setor privado, as regras constitucionais não barram a terceirização em norma de
impessoalidade, pois o empreendedor é livre na escolha de seus empregados. Cumpre
ressaltar que o trabalhador terceirizado é, assim como qualquer outro trabalhador, titular de
todos os direitos fundamentais previstos nos artigos 7º a 11 da Constituição Federal e a prática
da terceirização de serviços, mesmo que somente na atividade-meio, já impõe sérias restrições
à proteção dos direitos fundamentais dos trabalhadores, expressa nesses dispositivos.
No setor privado, diante da liberdade conferida aos empregadores pela Constituição
não há um limite claro à terceirização, como no caso do setor público e é por isso, que se faz
necessária a criação de uma legislação para a terceirização que seja abrangente e de acordo
com as medidas protetivas estabelecidas na Constituição aos trabalhadores em geral. Nesse
sentido, Delgado e Amorim esclarecem:
76
DELGADO, Gabriela Neves; AMORIM, Helder Santos. Os limites constitucionais da
terceirização. 2. ed. São Paulo: LTr, 2015. p. 133.
77
MAIOR, Jorge Luiz Souto. Juridicamente, a terceirização já era: acabou! Disponível em:
<http://www.jorgesoutomaior.com/blog/-juridicamente-a-terceirizacao-ja-era-acabou>. Acesso em: 2
ago. 2016.
52
78
MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira. Terceirização trabalhista no Brasil. São Paulo:
Quartier Latin, 2008. p. 110.
53
Pastore traz como grande empecilho aos operadores do direito o fato de não se
conseguir definir, a contento, o que constitui uma atividade-fim de uma atividade-meio; entre
os próprios magistrado há mais divergência do que convergência em relação à essas
definições79. O autor questiona:
79
PASTORE, José; PASTORE, José Eduardo G. Terceirização: necessidade para a economia,
desafio para o direito. São Paulo: LTr, 2015.
80
Ibidem, p. 57.
54
81
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Agravo de Instrumento em Recurso de Revista nº
1014-91.2012.5.05.0015. Agravante: Contax Mobitel. Agravados: Banco Itaucard S.A. e Lucas Abreu
Freitas. Relator: Emmanoel Pereira. Brasília, 24 de junho de 2015. Disponível em:
<http://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/204184092/agravo-de-instrumento-em-recurso-de-revista-
ag-airr-10149120125050015>. Acesso em: 8 ago. 2016.
55
82
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho (6ª Turma). Recurso de Revista nº 243-
95.2012.5.01.0057. Recorrente: Telemar Norte Leste S.A. Recorridos: Wagner Aranha da Silva e
Logictel S.A. Relator: Augusto César Leite de Carvalho. Brasília, 16 set. 2015. Disponível em:
<http://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/234223642/recurso-de-revista-rr-2439520125010057>.
Acesso em: 8 ago. 2016.
83
PASTORE, José; PASTORE, José Eduardo G. Terceirização: necessidade para a economia,
desafio para o direito. São Paulo: LTr, 2015. p. 60.
56
Conforme visto até então, a terceirização vem sendo regulada somente pela Súmula n°
331 do Tribunal Superior do Trabalho. Todavia, recentemente a discussão acerca do tema tem
sido acalorada, com o Projeto de Lei nº 4330, apresentado em 26 de outubro de 2004, pelo
Deputado Sandro Mabel (PL-GO), que foi aprovado pela Câmara dos Deputados, sob
relatório do Deputado Arthur Oliveira Maia (PMDB-BA), em 8 de abril de 2015, em Sessão
Extraordinária da casa.
Para que seja possível uma melhor compreensão acerca do tema, far-se-á uma
comparação entre o fenômeno da terceirização antes e depois do Projeto de Lei em questão,
com base nos entendimentos de Fernando Borges Vieira84 e Fabíola Marques85.
Antes do Projeto de Lei nº 4330/04 não havia regramento jurídico sobre a
terceirização, cabendo à citada Súmula nº 331 estabelecer a impossibilidade de terceirização
das atividades-fim e a permissão apenas em relação às atividades-meio (atividades
consideradas não essenciais ou secundárias). Era permitida a terceirização em quatro
hipóteses delimitadas pela Súmula: contratação de trabalhadores por empresa de trabalho
temporário, contratação de serviços de vigilância, de serviços de conservação e limpeza, e de
atividades-meio em geral, desde que não houvesse subordinação direta.
Com o Projeto de Lei nº 4330/04, qualquer atividade pode ser terceirizada, seja ela
inerente, acessória ou complementar à atividade da empresa tomadora. Os que criticam a
proposta afirmam que os direitos trabalhistas podem ser violados com a aprovação do Projeto,
pois o contratado não estaria coberto pela CLT. Para os críticos, a ampliação da possibilidade
de terceirização dos serviços foge do principal objetivo para o qual a terceirização foi criada86.
84
VIEIRA, Fernando Borges. Vantagens e desvantagens do projeto de lei sobre
terceirização. 2015. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2015-abr-14/fernando-vieira-
vantagens-desvantagens-pl-terceirizacao>. Acesso em: 9 ago. 2016.
85
MARQUES, Fabíola. In: TEIXEIRA, Maíra. Veja como a lei da terceirização vai mudar a
vida do trabalhador. iG, São Paulo, 9 abr. 2015. Disponível em: <http://economia.ig.com.br/2015-04-
09/veja-como-a-lei-da-terceirizacao-vai-mudar-a-vida-do-trabalhador.html>. Acesso em: 9 ago. 2016.
86
SPAGNOL, Débora. A terceirização, o projeto de lei 4.330/2004 e seus impactos –
vantagens, desvantagens e modificações. 2015. Disponível em: <http://emporiododireito.com.br/a-
terceirizacao-o-projeto-de-lei-4-3302004-e-seus-impactos-vantagens-desvantagens-e-modificacoes-
por-debora-spagnol/>. Acesso em: 9 ago. 2016.
57
Quanto à responsabilidade das empresas, hoje, a tomadora dos serviços pode ser
responsabilizada judicialmente pelo pagamento de verbas trabalhistas e previdenciárias não
quitadas pela empresa prestadora.
Após a aprovação do Projeto de Lei, a empresa tomadora dos serviços deverá
fiscalizar se o pagamento das verbas salariais e previdenciárias está sendo feito de modo
correto ao empregado e, havendo prova da fiscalização sobre o pagamento feito pela empresa
prestadora de serviços, a responsabilidade da tomadora passa a ser apenas secundária. Já se
não houver prova da fiscalização sobre a empresa prestadora, a tomadora terá
responsabilidade solidária, ou seja, o trabalhador terceirizado poderá cobrar as verbas
trabalhistas e previdenciárias de qualquer uma das empresas.
Com relação ao vínculo empregatício, hoje, se o empregado comprovar judicialmente
que há pessoalidade na prestação de serviços ou subordinação (um dos requisitos do artigo 3º
da CLT para a caracterização do vínculo de emprego) da empresa tomadora, a terceirização é
considerada irregular e o vínculo empregatício se forma diretamente com a empresa
tomadora. Já o Projeto de Lei nº 4330 não traz nenhuma regulamentação nesse sentido.
Quanto à representação sindical, atualmente, os empregados terceirizados são
representados pelo sindicato da categoria que prepondera na empresa prestadora de serviços,
mas, caso a terceirização seja considerada irregular, o empregado terceirizado terá os mesmos
direitos dos empregados da empresa tomadora.
Já com o advento do Projeto de Lei em análise, os empregados terceirizados serão
representados pelo sindicato da categoria da empresa prestadora de serviços e somente poderá
ser o mesmo da empresa tomadora se a atividade terceirizada pertencer à mesma categoria
econômica.
Atualmente não há uma exigência legal a respeito de um capital social mínimo das
empresas para se terceirizar. Já com o Projeto de Lei, haverá a exigência de um capital social
mínimo, conforme a quantidade de empregados que a empresa tomadora possuir. Do mesmo
modo, atualmente, não há regulamentação acerca da imobilização do capital social, enquanto
que, com a aprovação do Projeto de Lei nº 4330/04, negociações coletivas poderão exigir a
imobilização do capital social em até cinquenta por cento.
Hoje não é prevista a troca da empresa prestadora de serviços e, na prática, essa troca
tem sido considerada pela Justiça do Trabalho como indicativo da existência de fraude na
contratação de trabalhadores terceirizados. Já o Projeto de Lei em questão prevê a
possibilidade de troca da empresa prestadora de serviços com a admissão de empregados da
antiga contratada e garantia dos salários e direitos do contrato anterior.
58
87
SPAGNOL, Débora. A terceirização, o projeto de lei 4.330/2004 e seus impactos –
vantagens, desvantagens e modificações. 2015. Disponível em: <http://emporiododireito.com.br/a-
terceirizacao-o-projeto-de-lei-4-3302004-e-seus-impactos-vantagens-desvantagens-e-modificacoes-
por-debora-spagnol/>. Acesso em: 9 ago. 2016.
88
SILVA, Laércio Lopes da. A terceirização e a precarização das relações de trabalho: a
atuação do juiz na garantia da efetivação dos direitos fundamentais nas relações assimétricas de poder:
uma interpretação crítica ao PL n. 4330/2004. São Paulo: LTr, 2015. p. 85.
60
89
PASTORE, José; PASTORE, José Eduardo G. Terceirização: necessidade para a economia,
desafio para o direito. São Paulo: LTr, 2015. p. 92.
90
Ibidem, p. 121.
61
para os trabalhadores porque amplia a terceirização, a Súmula 331, do TST, também é porque
é a culpada dos males sofridos atualmente pelos 12 milhões de terceirizados”91.
Nesse sentido, Souto Maior afirma que a terceirização, do jeito que está disciplinada
na Súmula nº 331, acabou:
91
MAIOR, Jorge Luiz Souto. Juridicamente, a terceirização já era: acabou! Disponível em:
<http://www.jorgesoutomaior.com/blog/-juridicamente-a-terceirizacao-ja-era-acabou>. Acesso em: 2
ago. 2016.
62
De fato, o autor entende que não se trata de aumentar ou diminuir a proteção dos
trabalhadores terceirizados com o Projeto de Lei nº 4330/04, mas que haja o fim da prática da
terceirização em si, visto que o advento do Projeto somente fez acender um debate, no qual
muitos, inclusive as Centrais Sindicais, foram contra tal ampliação, devido aos males que a
terceirização causa. Para ele não há o que regulamentar; deve ser extinta, visto que todos já
sabem dos problemas sociais, jurídicos e trabalhistas que esta prática causa.
Conclui-se, portanto, que é necessário evitar o desvirtuamento das leis e dos princípios
trabalhistas somente em favor dos anseios econômicos, o que causa prejuízo aos
trabalhadores. O Direito do Trabalho e a Economia devem caminhar juntos para alcançar a
verdadeira democracia e realizar a justiça social através de debates ou mesmo com projetos de
leis que reflitam, de forma harmônica, os anseios sociais e econômicos.
92
Ibidem.
63
93
MAIOR, Jorge Luiz Souto. O direito do trabalho como instrumento de justiça social. São
Paulo: LTr, 2000. p. 319.
94
LAMPREIA, Luiz Felipe. Relatório brasileiro sobre desenvolvimento social. Estudos
Avançados. São Paulo, v. 9, n. 24, maio/ago. 1995. p. 36.
65
A Revolução Francesa, de 1789, foi umas das mais expressivas revoluções sociais que
ocorreram durante a história humana. Tendo como lema “liberdade, igualdade e fraternidade”,
serviu, basicamente, para transferir o poder da nobreza para a classe burguesa que crescia. O
povo ajudou a burguesia neste embate contra a nobreza e a monarquia absolutista, mas
permaneceu nas condições precárias que sempre esteve – passou da submissão à monarquia
para se submeter à exploração da burguesia, do capital.
Segundo Rafael Bertramello:
A igualdade, no ponto de vista liberal, era uma igualdade apenas formal, perante a lei.
Aos poucos, porém, foi-se percebendo que era necessária uma igualdade material, efetiva,
pois, sem ela, a liberdade seria apenas mera retórica, demandando condições materiais para
ser exercida em toda sua plenitude96.
Assim, diante da desigualdade material que existia entre os homens, provocada pela
má distribuição das riquezas produzidas pelo individualismo liberal, começam a surgir
algumas doutrinas sociais, através de ações afirmativas com a realização de prestações sociais
em saúde, educação, previdência, etc., também mostravam uma postura intervencionista na
sociedade e na economia.
Os direitos fundamentais de segunda dimensão, hoje chamados de direitos sociais,
apesar de terem se iniciado no século XIX, com o Manifesto Comunista, ganharam força
95
BERTRAMELO, Rafael. Os direitos sociais: conceito, finalidade e teorias. Disponível em:
<http://rafaelbertramello.jusbrasil.com.br/artigos/121943093/os-direitos-sociais-conceito-finalidade-e-
teorias>. Acesso em: 16 ago. 2016.
96
DUARTE, Leonardo de Farias. Obstáculos econômicos à efetivação dos direitos
fundamentais sociais. Rio de Janeiro: Renovar, 2011.
66
apenas no século XX, com a queda da bolsa de valores de Nova York, em 1929, e com a
depressão econômica que a seguiu. De acordo com Duarte:
97
Ibidem, p. 29.
98
DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos humanos e cidadania. 2. ed. reform. São Paulo:
Moderna, 2004. p. 46.
99
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 7. ed. ver. e
atual. São Paulo: Saraiva, 2010.
67
Os direitos sociais foram conquistados por meio dos movimentos sociais ao longo da
história e, hoje, são reconhecidos em diversos documentos, como a Declaração Universal dos
Direitos do Homem, de 1948, o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais, de 1966, e também pela Constituição brasileira de 1988. Tais direitos pertencem à
segunda dimensão de direitos fundamentais.
Segundo Alfredo Palermo, se os direitos individuais foram denominados como
obrigações negativas do Estado, os direitos sociais são as obrigações positivas, ou seja, o rol
de disposições que a Justiça impôs ao Estado no sentido de amparar a pessoa do trabalhador
ante o poderio das empresas101.
No Brasil, houve uma primeira tentativa de conceituação dos direitos sociais com o 1º
Congresso de Direito Social, em 1941, na qual surgiu um conceito lato sensu: “Direito Social
é o conjunto de princípios e normas imperativas que têm por sujeito os grupos e os membros
dos grupos, têm por objeto (fim) a adaptação da forma jurídica (leis e códigos) à realidade
social e visa (atuação), nesta adaptação, à colaboração de todos ao bem comum” 102 .
Entretanto, tal conceituação ficou muito complexa e generalizada, não os definindo
exatamente.
100
DUARTE, Leonardo de Farias. Obstáculos econômicos à efetivação dos direitos
fundamentais sociais. Rio de Janeiro: Renovar, 2011.
101
PALERMO, Alfredo. Os direitos sociais no Brasil: síntese de uma política social. Franca:
Ed. do Departamento do Serviço Social, 1984.
102
SARAIVA, Paulo Lopo. Garantia constitucional dos direitos sociais no Brasil. Rio de
Janeiro: Ed. Forense, 1983. p. 24.
68
Palermo, com base nos artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem, de
1948, da ONU, conceitua direitos sociais da seguinte forma:
Paulo Saraiva afirma que se costuma dizer que todo direito é social, mas nos séculos
XVIII e XIX dizia-se que todo direito era individual, enquanto que a doutrina mais ponderada
consegue visualizar que todo direito é, ao mesmo tempo, social e individual104.
O Estado Social de Direito foi elaborado pelas revoltas populares, na tentativa de
estabelecer uma igualdade política, social e jurídica. Nesse sentido, Saraiva cita Gurvitch, que
conceitua o direito social como sendo um direito integrativo, um direito que torna partícipes
aqueles a quem ele se destina, complementando a declaração dos direitos individuais,
proclamando também um direito grupal, que deve se dar numa sociedade pluralista105. Do
mesmo modo, Gordillo propõe que o direito social seja compreendido como um direito
complementar, que complementa a Declaração de Direitos do Homem, acrescentando-lhe o
elemento econômico106.
Na Constituição Federal brasileira de 1988, os direitos sociais são tratados no Capítulo
II do Título II, destinado aos Direitos e Garantia Fundamentais. O artigo 6º da Constituição
elenca como direitos sociais o direito à educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança,
previdência social, proteção à maternidade e infância, e assistência aos desamparados.
Os direitos sociais não abrangem somente os direitos das searas trabalhista e
previdenciário, que foram as primeiras áreas a reivindicá-los, mas abrangem, também, todos
os demais direitos que asseguram uma vida digna a todos os considerados hipossuficientes, no
103
PALERMO, Alfredo. Os direitos sociais no Brasil: síntese de uma política social. Franca:
Ed. do Departamento do Serviço Social, 1984. p. 14.
104
SARAIVA, Paulo Lopo. Garantia constitucional dos direitos sociais no Brasil. Rio de
Janeiro: Forense, 1983. p. 26.
105
Ibidem.
106
GORDILLO, Augustin. Princípios gerais do direito público. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1977. p. 77.
69
107
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 10. ed. rev. e atual. São Paulo:
Malheiros Editores, 2012.
108
BERTRAMELO, Rafael. Os direitos sociais: conceito, finalidade e teorias. Disponível em:
<http://rafaelbertramello.jusbrasil.com.br/artigos/121943093/os-direitos-sociais-conceito-finalidade-e-
teorias>. Acessado em: 16 ago. 2016.
70
Ou seja, a realização dos direitos a prestações sociais está condicionada aos recursos
que o Estado dispõe, está sujeita a uma reserva do possível, pois a efetivação desses direitos
exige recursos materiais que, muitos Estados, não dispõem. Assim, segundo Duarte, de
acordo com a Corte Constitucional alemã, a reserva do possível prende-se, ainda, à questão da
razoabilidade, naquilo que diz respeito ao que o indivíduo pode razoavelmente exigir da
sociedade110. O Estado, portanto, tem discricionariedade para elaborar seu orçamento estatal e
deve escolher a melhor destinação para seus recursos, sempre em prol de seus cidadãos.
Segundo Paulo Saraiva, o Estado contemporâneo deve adaptar-se às novas exigências
sociais, atendendo, pelo menos, e em princípio, dois direitos sociais: o de trabalho e o de
moradia111.
O fenômeno da terceirização, como já visto, culmina em redução de salários, aumento
da taxa de desemprego, redução da proteção sindical, maior possibilidade de negociações
coletivas para diminuir os direitos dos trabalhadores em prol de uma melhor economia, além
de todas as ampliações que podem ser postas em prática com uma possível aprovação do
Projeto de Lei nº 4330/04. Ou seja, a terceirização vai, completa e obviamente, na contramão
dos direitos sociais fundamentais dos trabalhadores, pois os distancia de uma dignidade na
vida laboral. Todavia, é necessário que o Estado se adeque às condições da sociedade em que
está inserido e a sua realidade constitucional; que estabeleça uma relação de equilíbrio entre o
ser e o dever ser, sendo esse o desafio que se impõe.
109
DUARTE, Leonardo de Farias. Obstáculos econômicos à efetivação dos direitos
fundamentais sociais. Rio de Janeiro: Renovar, 2011. p. 140.
110
Ibidem.
111
SARAIVA, Paulo Lopo. Garantia constitucional dos direitos sociais no Brasil. Rio de
Janeiro: Forense, 1983.
71
112
DWORKIN, Ronald M. O império do direito. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São
Paulo: Martins Fontes, 1999.
113
Ibidem, p. 5-6.
72
Ronald Dworkin, em suas obras, busca analisar as teorias do direito e as aplicações aos
casos difíceis, nos quais os juízes podem divergir, e propõe uma teoria da interpretação para
isso. Fato é que, em qualquer decisão, haverá a utilização do poder discricionário, agregando
114
MEDEIROS, Benizete Ramos de. As terceirizações no Brasil e o método interpretativo de
Ronald Dworkin. Publicação mensal de legislação, doutrina e jurisprudência, LTr, São Paulo, ano
78, n. 1, jan./2014.
115
Ibidem.
73
os valores do julgador e, para Dworkin, nos casos difíceis não pode mesmo haver um apego a
uma visão estritamente positivista do direito, exatamente porque os casos difíceis são aqueles
em que, geralmente, não há norma clara que regulamente o assunto, como é o caso da
terceirização116.
Dworkin afasta a ideia de que a validade das normas advenha somente do fato de
terem sido concebidas por outra norma. E é nesse aspecto que ele rompe com o positivismo,
pois afirma que existem outros mecanismos de conferir validade a uma norma e que os
princípios devem ser cotejados com as regras, entretanto, ele não afasta a ideia de que direito
é norma e de que as decisões devem ocorrer dentro dos limites dela. Assim, ao tratar o poder
discricionário, Dworkin não contraria os positivistas, afirmando apenas a necessidade de
compreensão desse poder como a possibilidade de se interpretar regras e sopesar princípios.
Ele parte do pressuposto de que o direito é interpretativo, de maneira que os juízes devem
decidir o que é o direito, interpretando-o. Assim, teorias gerais do direito são, na realidade,
interpretações gerais de nossa própria prática judicial117.
Em sua obra “Levando os direitos a sério”, Ronald Dworkin procura desenvolver uma
teoria do direito que opera com base na seleção argumentos jurídicos adequados, ou seja,
argumentos assentados na melhor interpretação moral possível das práticas em vigor em uma
determinada comunidade. Juntamente com essa teoria, o autor propõe uma teoria de justiça,
segundo a qual todos os juízos a respeito de direitos e políticas públicas devem se basear na
ideia de que todos os membros de uma comunidade são iguais enquanto seres humanos,
independentemente das suas condições sociais e econômicas, ou de suas crenças e estilos de
vida118.
Dworkin considera as seguintes concepções interpretativas: pragmatismo jurídico,
convencionalismo e direito como integridade. O pragmatismo nega que as decisões políticas
do passado, por si só, ofereçam qualquer justificativa para o uso ou não do poder coercitivo
do Estado, ou seja, contesta o argumento de que as pessoas tenham direitos com base em
116
DWORKIN, Ronald M. Levando os direitos a sério. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
117
PRADO, Esther Regina Corrêa Leite. Os métodos interpretativos de Ronald Dworkin e o
direito como integridade. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12446>. Acesso em: 22 ago. 2016.
118
LEITE, Taylisi de Souza Corrêa. O modelo de regras de Ronald Dworkin. Disponível em:
<http://seer.franca.unesp.br/index.php/estudosjuridicosunesp/article/viewFile/347/367>. Acesso em:
22 ago. 2016.
74
119
DWORKIN, Ronald M. O império do direito. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São
Paulo: Martins Fontes, 1999.
120
Ibidem.
121
PRADO, Esther Regina Corrêa Leiter. Os métodos interpretativos de Ronald Dworkin e o
direito como integridade. Disponível em: < http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12446>. Acesso em: 22 ago. 2016.
122
DWORKIN, Ronald M. O império do direito. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São
Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 492.
75
prólogo silencioso de qualquer veredito”123. Para ele, o direito não pode ser descrito, mas
apenas interpretado, pois essa é a melhor explicação do que é o direito.
A preocupação de Dworkin em delinear uma teoria do direito como integridade,
levando-o à firme tentativa de adequá-la e justificá-la como a teoria que mostra nossa prática
jurídica sob sua melhor luz, reflete sua concepção de que o direito apenas pode ser
interpretado e não descrito.
Na concepção de integridade, Dworkin identifica três virtudes que devem, pois, ser
levadas em conta: a equidade, a justiça e o devido processo legal. É nesse sentido que se deve
buscar entender os diversos tratamentos dados pelos Tribunais brasileiros às terceirizações, no
tocante à legitimidade ou não da sua utilização de forma ampla, comparada aos “casos
difíceis” propostos pelo autor em destaque.
Cumpre destacar, pois, que na ausência de norma específica ou nas diferentes
interpretações possíveis aos casos difíceis, deve-se usar a concepção positiva do direito, que
consiste apenas em um modelo de regras, que ignora políticas e princípios, não se valendo,
portanto, a fundamentação de decisões mais complexas.
Assim, Benizete conclui:
123
Ibidem, p. 113.
124
MEDEIROS, Benizete Ramos de. As terceirizações no Brasil e o método interpretativo de
Ronald Dworkin. Publicação mensal de legislação, doutrina e jurisprudência, LTr, São Paulo, ano
78, n. 1, jan./2014.
76
Entende-se, pois, que Ronald Dworkin pretende que, diante de tantas divergências
jurisprudenciais e falta de normas específicas, o julgador/intérprete utilize-se de sua lógica
para adequar e fundamentar sua decisão socialmente (interpretação social), sem, entretanto,
abandonar as normas positivadas.
125
MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira. A terceirização trabalhista no Brasil. São Paulo:
Quartier Latin, 2008.
77
Esse tipo de situação gera uma discriminação entre os trabalhadores. Faz-se claro que
o terceirizado serve apenas aos propósitos finais da empresa, não importa quem ele é e como
trabalha, mas o que ele produz. Toda essa situação só pode gerar insatisfação e descrédito nos
obreiros submetidos a essas condições. Além disso, afetam-se também as condições de saúde,
segurança do trabalhador, há uma diminuição dos benefícios sociais, a remuneração torna-se
incerta e o recebimento de vantagens e benefícios decorrentes de um contrato de trabalho
“comum”, binário, ou de normas coletivas não é aferido pelo trabalhador terceirizado.
O artigo 7º, XXXII, da Constituição Federal, por sua vez, traz a proibição de distinção
entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos. Tal
disposição constitucional encontra-se no Capítulo dos Direitos Sociais, já abordados aqui. Vê-
se, pois, que não há essa isonomia de tratamento entre os trabalhadores diretos e os
terceirizados, há uma precarização nessa relação laborativa, uma afronta a um direito social
básico do trabalhador. A Lei do Trabalho Temporário (Lei n° 6.019/74) determina, por sua
vez, fica garantida ao trabalhador terceirizado remuneração equivalente à percebida pelos
empregados da mesma categoria da empresa tomadora ou cliente calculados à base horária.
Busca-se também um salário equitativo. Maurício Godinho questiona:
126
Ibidem, p. 130.
127
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr,
2015. p. 492.
78
O mesmo autor, portanto, critica essa diferenciação salarial. Para ele, primeiramente,
ordens jurídicas de sociais mais avançadas e igualitárias que a brasileira já rejeitaram
expressamente essa incomunicabilidade, em face da injustificável discriminação
socioeconômica que ela traz. Depois, que a fórmula terceirizante, se não acompanhada do
remédio jurídico da comunicação remuneratória, transforma-se, segundo o autor, em mero
veículo de discriminação e aviltamento do valor da força de trabalho, rebaixando
drasticamente o já modesto padrão civilizatório alcançado no mercado de trabalho do país.
Em terceiro lugar, porque há claros preceitos constitucionais e justrabalhistas brasileiros que,
lidos conjuntamente, indicam na direção da comunicação remuneratória entre o contrato
padrão de trabalho e o contrato do trabalhador terceirizado numa mesma empresa tomadora de
serviços ou de mesma categoria128.
A prática da terceirização afeta diretamente o princípio da proteção do trabalhador,
basilar do Direito do Trabalho. Tal princípio busca, pois, igualar juridicamente partes que
encontram em situações de desigualdade econômica, através da proteção jurídica da parte
hipossuficiente na relação de trabalho, que é o empregado. É a partir desse princípio que
surgem todos os demais princípios trabalhistas, como o princípio da norma mais favorável, o
princípio da condição mais benéfica ao trabalhador, dentre outros. A terceirização vai contra
esses princípios basilares do Direito do Trabalho. Ela retira do trabalhador terceirizado a
proteção jurídica conferida aos trabalhadores contratados diretamente, porque não há uma
legislação trabalhista precisa acerca do tema, acabando que se faça um contrato de trabalho
não regulado pela legislação ou, com pouca regulação, mas fora dos moldes padrões.
Apesar das críticas, não se pode olvidar que a terceirização é uma realidade e,
portanto, faz-se necessário discutir e encontrar meios de como assegurar ao trabalhador
terceirizado os direitos trabalhistas garantidos aos demais trabalhadores. Nesse sentido, o
seguinte trecho:
128
Ibidem.
79
Fato é que, mesmo que hajam motivos de ordem econômica para se buscar a redução
do custo do trabalho, não se pode buscá-lo passando por cima da ordem jurídica vigente, dos
conceitos e dispositivos constitucionais. O Direito e a Economia precisam encontrar um
caminho para seguirem juntos, harmonicamente.
129
FELÍCIO, Alessandra Metzger; HENRIQUE, Virgínia Leite. Terceirização: caracterização,
origem e evolução jurídica. In: MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira. A terceirização trabalhista no
Brasil. São Paulo: Quartier Latin, 2008. p. 135.
130
LAMPREIA, Luiz Felipe. Relatório brasileiro sobre desenvolvimento social. Estudos
Avançados, São Paulo, v. 9, n. 24, maio/ago. 1995. p. 29.
80
Qualquer pessoa, ao perceber que é tratada de maneira tão desigual, à margem dos
direitos trabalhistas, teria sua moral, sua autoestima abalada. A flexibilização das relações
trabalhista traz, além da precarização do trabalho, a do próprio trabalhador enquanto pessoa,
pois atinge sua personalidade e sua dignidade, na medida em que o priva, cada vez mais, de
valores essenciais ao desenvolvimento humano no âmbito profissional. Priva-o de
reconhecimento profissional e pessoal, da inserção no meio corporativo, da valoração da sua
força de trabalho e consequente aumento de autoestima.
Segundo Jorge Luiz Souto Maior:
131
SILVA, Laércio Lopes da. A terceirização e a precarização das relações de trabalho: a
atuação do juiz na garantia da efetivação dos direitos fundamentais nas relações assimétricas de poder:
uma interpretação crítica ao PL n. 4330/2004. São Paulo: LTr, 2015. p. 111.
132
MAIOR, Jorge Luiz Souto. Relação de emprego e direito do trabalho. São Paulo: LTr,
2007; p. 81-85.
81
133
SILVA, Laércio Lopes da. A terceirização e a precarização das relações de trabalho: a
atuação do juiz na garantia da efetivação dos direitos fundamentais nas relações assimétricas de poder:
uma interpretação crítica ao PL n. 4330/2004. São Paulo: LTr, 2015.
134
ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito civil – teoria geral I, introdução, pessoas, bens,
2000. In: LACERDA, Dennis Otte. Direito da personalidade e integridade psicofísica. Disponível
em: <http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/sao_paulo/1932.pdf>. Acesso
em: 25 ago. 2016.
82
135
PERLINGIERI, Pietro. Perfis do direito civil. São Paulo: Renovar, 2007; p. 159/160.
136
SILVA, Laércio Lopes da. A terceirização e a precarização das relações de trabalho: a
atuação do juiz na garantia da efetivação dos direitos fundamentais nas relações assimétricas de poder:
uma interpretação crítica ao PL n. 4330/2004. São Paulo: LTr, 2015.
83
Indústria João Adalberto Corder, a empresa tomadora de serviços terceirizados pode ou não
fornecer os EPIs aos terceirizados, a depender do contrato acertado entre as partes 137. Caso a
empresa tomadora não forneça, ela deve exigir o fornecimento pela empresa prestadora, além
de dever também exigir ou fornecer programas de treinamentos e uso adequado dos EPIs.
Assim sendo, torna-se difícil verificar com precisão quem falhou em caso de acidente do
trabalho.
Com o Projeto de Lei nº 4330/04, tal questão ainda permanece. O artigo 3º dispõe: “A
contratada é responsável pelo planejamento e pela execução dos serviços, nos termos
previstos no contrato com a contratante”. Nesse ponto, não se vê evoluções, afinal, a
responsabilidade depende do que estará disposto no contrato. O artigo 5º, inciso IV, por sua
vez, traz a obrigatoriedade da fiscalização pela contratante do cumprimento das obrigações
trabalhistas decorrentes do contrato. Novamente, essa legislação deixaria a responsabilidade a
cargo da vontade das partes e do disposto no contrato, sem proteger efetivamente o
trabalhador.
Fernando Schnell discorre sobre quem é o trabalhador terceirizado, visando entender
como protegê-lo:
137
SERVIÇO terceirizado. Revista Proteção, n. 10, 2016. Disponível em:
<http://www.protecao.com.br/materias/p_r_o_t_e_c_a_o_responde/servico_terceirizado/J9jgAc>.
Acesso em: 26 ago. 2016.
84
A Constituição Federal traz, em seu artigo 7º, os direitos dos trabalhadores urbanos e
rurais, os quais também se estendem aos trabalhadores terceirizados, quais sejam: relação de
emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa; seguro-desemprego; fundo
de garantia do tempo de serviço; salário mínimo; piso salarial compatível com a extensão e à
complexidade do trabalho; irredutibilidade do salário, salvo o disposto em acordo e
convenção coletiva; décimo terceiro salário; participação nos lucros; salário família; repouso
semanal remunerado; férias; licença à gestante; licença paternidade; aviso prévio proporcional
ao tempo de serviço; redução dos riscos inerentes ao trabalho; adicional de remuneração às
atividades penosas, insalubres ou perigosas; aposentadoria; assistência gratuita aos filhos e
dependentes até os cinco anos em creches e pré-escolas; reconhecimento das convenções e
acordos coletivos de trabalho (aqui, se espera que o trabalhador terceirizado possa se inserir
em um sindicato); proteção em face da automação; seguro contra acidentes de trabalho;
proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critérios de admissão por
motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; proibição de qualquer distinção com relação ao
trabalhador com deficiência; proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e
intelectual ou entre os profissionais respectivos; proibição de trabalho noturno, penoso ou
insalubre a menores de 18 anos e de qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na
condição de aprendiz, a partir dos 14 anos; igualdade de direitos entre o trabalhador com
vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso.
Todas essas proteções constitucionais também devem ser efetivadas em favor dos
trabalhadores terceirizados. O Projeto de Lei nº 4330/04, por sua vez, prevê alguns avanços
nesse sentido.
O artigo 8º do Projeto de Lei em questão prevê que quando o contrato de prestação de
serviços especializados a terceiros se der entre empresas que pertençam à mesma categoria
econômica, os empregados da contratada envolvidos no contrato serão representados pelo
mesmo sindicato que representa os empregados da contratante. No entanto, tal proteção ainda
138
SCHNELL, Fernando. A terceirização e a proteção jurídica do trabalhador: a necessidade de
um critério para definição da licitude das relações triangulares: a responsabilidade solidária da
tomadora e da prestadora de serviços. Revista eletrônica: acórdãos, sentenças, ementas, artigos e
informações, Porto Alegre, v. 3, n. 46, p. 35-42, jun. 2007.
85
é vacilante, restando a seguinte dúvida: e no caso das empresas não pertencerem a mesma
categoria, qual sindicato representará o trabalhador terceirizado?
Segundo Sérgio Pinto Martins:
139
MARTINS, Sérgio Pinto. A terceirização e o direito do trabalho. São Paulo: Malheiros,
1995. p. 44.
86
Observa-se, portanto, que, caso haja a violação deste artigo, a penalidade prevista no
artigo 22 é a de multa administrativa à empresa, correspondente ao valor mínimo para
inscrição na dívida ativa da União por trabalhador prejudicado. A autuação e o processo de
imposição de multas reger-se-ão pela Consolidação das Leis do Trabalho.
Considera-se que o problema do Projeto de Lei nº 4330/04 é o enfoque e a autonomia
direcionados aos contratos entre a tomadora e a prestadora de serviços, deixando à margem do
contexto a vontade e os direitos do trabalhador (também parte da relação e do contrato
celebrado).
87
CONCLUSÃO
140
SILVA, Reinaldo Pereira e. O neoliberalismo e o discurso da flexibilidade dos direitos sociais
relativos ao trabalho. In: ARRUDA JUNIOR, Eduardo Lima de; RAMOS, Alexandre Luiz (Orgs).
Globalização, neoliberalismo e o mundo do trabalho. Curitiba: IBEJ, 1998.
141
RIEGEL, Estevão. Globalização, neoliberalismo e flexibilização: direitos e garantias. In:
ARRUDA JUNIOR, Eduardo Lima de; RAMOS, Alexandre Luiz (Orgs). Globalização,
neoliberalismo e o mundo do trabalho. Curitiba: IBEJ, 1998.
142
LAMPREIA, Luiz Felipe. Relatório brasileiro sobre desenvolvimento social. Estudos
Avançados, São Paulo, v. 9, n. 24, maio/ago. 1995.
89
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lei. In: CARDONE, Marly A.; SILVA, Floriano Corrêa Vaz da (Org.). Terceirização no
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1994.
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atual. São Paulo: Saraiva, 2010.
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MAIOR, Jorge Luiz Souto. Juridicamente, a terceirização já era: acabou! Disponível em:
<http://www.jorgesoutomaior.com/blog/-juridicamente-a-terceirizacao-ja-era-acabou>.
Acesso em: 2 ago. 2016.
________. O direito do trabalho como instrumento de justiça social. São Paulo: LTr,
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MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do Trabalho. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999.
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vida do trabalhador. iG, São Paulo, 9 abr. 2015. Disponível em:
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do-trabalhador.html>. Acesso em: 9 ago. 2016.
93
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PINTO, Rosane Abreu Gonzalez. Globalização Econômica: seus efeitos jurídicos nas relações
de trabalho e na problemática epistemológica do direito do trabalho. Revista de Estudos
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RIBEIRO, Wagner Costa. A quem interessa a globalização. Revista ADUSP, São Paulo, p.
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1990. Revista Emancipação, Ponta Grossa, v. 5, n. 1, 2005. Disponível em:
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TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 10. ed. rev. e atual. São Paulo:
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