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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

NATHALIA MARCELINO VIEIRA

A PRECARIZAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS E A TERCEIRIZAÇÃO


TRABALHISTA

FRANCA
2016
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS

NATHALIA MARCELINO VIEIRA

A PRECARIZAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS E A TERCEIRIZAÇÃO


TRABALHISTA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à


Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da
Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho”, como pré-requisito para obtenção do título
de bacharel em Direito.
Área de concentração: Direito do Trabalho
Orientador: Prof. Dr. Victor Hugo de Almeida

FRANCA
2016
(Ficha catalográfica no verso da folha anterior)
NATHALIA MARCELINO VIEIRA

A PRECARIZAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS E A TERCEIRIZAÇÃO


TRABALHISTA

Monografia apresentada à Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade


Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, como pré-requisito obtenção do título de
bacharel em Direito.

BANCA EXAMINADORA

Presidente:_________________________________________________________

Prof. Dr. Victor Hugo de Almeida

1º Examinador:______________________________________________________

2º Examinador:______________________________________________________

Franca, ______ de _______________ de 2016.


AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a Deus, por todas as oportunidades que pode me


proporcionar ao longo da vida.
Aos meus pais, minha fortaleza e base para tudo, por todo o incentivo e amor, sem os
quais não teria conseguido cursar essa Faculdade e chegar até aqui.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Victor Hugo, por estar sempre presente, disponível, pelas
brilhantes aulas que me fizeram escolher o Direito do Trabalho, pelas correções e incentivos.
E a todos que, direta ou indiretamente, estiverem presentes ao longo da minha
formação como bacharela em Direito, o meu muito obrigada.
“A menos que modifiquemos a nossa maneira
de pensar, não seremos capazes de resolver os
problemas causados pela forma com que nos
acostumamos a ver o mundo”.

Albert Einstein
VIEIRA, Nathalia Marcelino. A precarização dos direitos sociais e a terceirização
trabalhista. 2016. 89 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharel em Direito) – Faculdade
de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”,
Franca, 2016.

RESUMO

Os direitos sociais são garantidos pela Constituição Federal Brasileira, porém, a prática da
terceirização culmina, muitas vezes, na precarização das condições de trabalho. Sabe-se que,
no contexto da terceirização, o trabalhador tantas vezes não sabe nem quem é de fato seu
empregador, tampouco a quem deve recorrer. Em decorrência da precária fiscalização e do
aumento do desemprego, empresas se beneficiam dessas condições para diminuir os custos da
produção ou da prestação de serviço, impondo salários irrisórios e condições perversas de
trabalho. A dificuldade da manutenção dos direitos trabalhistas também se justifica através da
contemporânea ordem econômica globalizada, que tem intensificado a flexibilização do
Direito do Trabalho. O presente trabalho tem por objetivo abordar o Projeto de Lei n°
4330/2004, em trâmite no Congresso Nacional, que pretende ampliar as possibilidades da
prática da terceirização, analisando possíveis prejuízos aos direitos fundamentais sociais em
detrimento da dignidade dos trabalhadores terceirizados. Como método de procedimento,
adotou-se o levantamento através da técnica de pesquisa bibliográfica em materiais
publicados e, como método de abordagem, o dialético para a compreensão e a interpretação
aproximada da realidade.

Palavras-chave: Terceirização. Direitos sociais. Projeto de Lei n° 4330/04.


SUMÁRIO

INTRODUÇÃO8

OBJETIVO11

Objetivo geral11

Objetivos específicos11

MÉTODO12

1 FLEXIBILIZAÇÃO E DIREITO DO TRABALHO14

1.1 Aspectos históricos16

1.2 A globalização e o direito do trabalho17

1.3 Flexibilização no direito do trabalho e a terceirização20

1.3.1 O papel da terceirização na economia moderna23

1.3.2 A evolução da terceirização no Brasil26

2 A TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL30

2.1 Definição e regulamentação normativa31

2.2 Requisitos para a terceirização lícita34

2.2.1 A Súmula nº 331 do Tribunal Superior do Trabalho37

2.2.2 Responsabilidade do tomador de serviços41

2.2.2 As vantagens da terceirização para o tomador de serviços45

2.3 Os limites constitucionais da terceirização48

2.3.1 A necessidade de regulamentação do tema adequado à Constituição Federal52

2.4 O Projeto de Lei nº 4330/200456

3 PRECARIZAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS ATRAVÉS DA TERCEIRIZAÇÃO63

3.1 Breves elucidações sobre a origem dos direitos sociais65

3.1.1 Noção e aplicação dos direitos sociais67


3.1.2 Método interpretativo de Ronald Dworkin71

3.2 Precarização das relações de trabalho advindas da terceirização76

3.2.1 A precarização moral violando o direito de personalidade do trabalhador79

3.2.2 A terceirização e a falta de proteção aos trabalhadores82

CONCLUSÃO87

REFERÊNCIAS90
8

INTRODUÇÃO

O labor é o meio mais eficaz para a concretização da dignidade humana. A classe


trabalhadora, no entanto, sempre se viu submetida à ordem econômica vigente. A palavra de
ordem nos atuais sistemas de relações do trabalho é flexibilizar, ou seja, diminuir a proteção
para ampliar o espectro. Atualmente, é notório o caráter dinâmico do Direito do Trabalho,
adaptando as condições de trabalho ao contexto socioeconômico.
Diante da submissão do trabalhador a condições degradantes para garantirem a própria
subsistência, o Direito do Trabalho tem a função de proteger a classe economicamente mais
suscetível, os empregados, diante de sua vulnerabilidade cada vez mais acentuada através de
propostas flexibilizatórias.
Segundo Sérgio Pinto Martins:

[...] vários nomes são utilizados para denominar a contratação de terceiros


pela empresa para prestação de serviços ligados a sua atividade-meio. Fala-
se em terceirização, subcontratação, filialização, desverticalização,
exteriorização do empregado, focalização, parceira, etc. Consiste a
terceirização na possibilidade de contratar terceiro para a realização de
atividades que não constituem o objeto principal da empresa. Essa
contratação pode compreender tanto a produção de bens, como de serviços,
como ocorre na necessidade de contratação de empresa de limpeza, de
vigilância ou até para serviços temporários.1

Atualmente, a ideia principal é de que a terceirização deve abranger a atividade meio e


não a central ou atividade-fim, de acordo com o artigo 581, parágrafo 2º, da Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT). A Súmula nº 331 do Tribunal Superior do Trabalho (TST) também
trata do tema, abordando contratos de prestação de serviços, afirmando que o vínculo se forma
diretamente com o tomador de serviços, com exceção dos serviços dos ramos de vigilância,
conservação e limpeza; também o inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do
empregador, implica a responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços quanto àquelas
obrigações. A Súmula também trata da questão do vínculo de emprego com a Administração
Pública Direta ou Indireta, que não há, mas que esta responde subsidiariamente se não
obedecer às diretrizes da Lei nº 8.666/93.

1
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 176.
9

Por não gerar vínculo de emprego com o tomador, a terceirização do trabalho pode
comprometer a dignidade do trabalhador em relação aos terceirizados, afinal, o empregador
pode ter vários trabalhadores de diferentes categorias, cada um necessitando de mais ou
menos proteção, sobretudo no que tange a saúde. A fiscalização por parte dos órgãos
competentes também pode se tornar mais precária, visto que é difícil ligar uma ponta da linha
de produção a outra ponta (de venda e lucro). Fato é que a luta dos trabalhadores por
condições dignas de trabalho, melhoria na legislação é, muitas vezes, impedida pelo furor do
capitalismo.
O Projeto de Lei nº 4330 de 2004, já aprovado pela Câmara dos Deputados, autoriza a
terceirização da atividade-fim e estende as regras para as empresas públicas. Ou seja, uma
terceirização ampla, geral e irrestrita. Quatro polêmicas foram descortinadas por esse projeto
de lei: a abrangência das terceirizações tanto para as atividades-meio como atividades-fim;
responsabilidade das obrigações trabalhistas somente da empresa terceirizada – a contratante
terá apenas de fiscalizar; a representatividade sindical passará a ser do sindicato da empresa
contratada e não da contratante; e a possibilidade da Administração Pública contratar
prestação de serviços de terceiros, desde que não seja para executar atividades exclusivas de
Estado, como regulamentação e fiscalização. O presente trabalho pretende discutir o
mencionado projeto, apontando possíveis consequências práticas.
No primeiro Capítulo, procurou-se abordar historicamente a flexibilização dos direitos
trabalhistas ao longo do tempo, com um enfoque econômico, até o atual modelo de economia,
com o fenômeno da globalização e com as novas tecnologias. Buscou-se abordar a evolução
da terceirização, no mundo e, principalmente, no Brasil.
O Capítulo 2, por sua vez, trata especificamente da terceirização no Brasil, baseando-
se nas legislações e entendimentos existentes atualmente, principalmente na Súmula n° 331
do Tribunal Superior do Trabalho. Examinaram-se os requisitos da terceirização lícita, suas
vantagens e a responsabilidade da empresa tomadora de serviços, passando, posteriormente, a
abordagem do Projeto de Lei nº 4330/04 e a necessidade de regulação da terceirização por
meio de lei.
Por fim, no Capítulo 3, foram abordados os direitos sociais dos trabalhadores
terceirizados. Buscou-se conceituar tais direitos e como devem ser aplicados na prática
jurídica, principalmente no tocante à terceirização, à luz do entendimento do jus filósofo
Ronald Dworkin e do seu método interpretativo. Por conseguinte, abordou-se a precarização
das relações de trabalho decorrente da terceirização da mão-de-obra, bem como os prejuízos
10

impingidos ao trabalhador, visando à conclusão sobre quais proteções são necessárias aos
trabalhadores terceirizados e quais foram incluídas no Projeto de Lei nº 4330/04.
Cumpre ressaltar a relevância do tema diante da sua atualidade e da larga adoção da
terceirização, amplamente utilizada pelas empresas para competirem no mercado moderno
globalizado. Torna-se ainda mais relevante diante de um Projeto de Lei em trâmite perante o
Congresso Nacional, da controvérsia que ele suscita e da complexidade das posições
assumidas pela doutrina e pela jurisprudência. A atualidade da pesquisa não se restringe
apenas ao plano teórico do Direito, mas abrange a vivência no plano prático da reconstrução –
ou da manutenção – do ordenamento jurídico pátrio.
11

OBJETIVO

Objetivo geral

O objetivo do presente estudo é identificar as principais causas da terceirização


trabalhista, suas vantagens para os tomadores de serviços, suas desvantagens para os
trabalhadores, bem como as principais consequências decorrentes da eventual aprovação do
Projeto de Lei n º 4330/2004.

Objetivos específicos

a) Examinar o instituto da terceirização, suas principais vantagens para os


tomadores de serviços e desvantagens para os trabalhadores terceirizados;
b) Discutir a relação entre terceirização e efetivação dos direitos sociais no plano
laboral; e
c) Levantar possíveis impactos no universo do trabalho decorrentes da aprovação
do Projeto de Lei nº 4330/2004.
12

MÉTODO

Como método de procedimento, utilizou-se o método de levantamento por meio da


técnica de pesquisa bibliográfica, ideal quando se trata de pesquisas exploratórias. De acordo
com Marina Marconi e Eva Lakatos:

A pesquisa bibliográfica, ou de fontes secundárias, abrange toda bibliografia


já tornada pública em relação ao tema de estudo, desde publicações avulsas,
boletins, jornais, revistas, livros, pesquisas, monografias, teses, material
cartográfico etc., até meios de comunicação orais: rádio, gravações em fita
magnética e audiovisuais: filmes e televisão. Sua finalidade é colocar o
pesquisador em contato direto com tudo o que foi escrito, dito ou filmado
sobre determinado assunto, inclusive conferências, seguidas de debates que
tenham sido transcritos por alguma forma, quer publicadas quer gravadas.2

Como método de abordagem, utilizou-se o método dialético para a compreensão e a


interpretação aproximada da realidade, sempre sob uma perspectiva crítica e histórica que
reconhece como centro da análise a prática social oriunda de condições, mas também a práxis,
modificadora da realidade. As mesmas autoras citadas anteriormente caracterizam o método
dialético como sendo aquele:

[...] que penetra o mundo dos fenômenos através de sua ação recíproca, da
contradição inerente ao fenômeno e da mudança dialética que ocorre na
natureza e na sociedade.3

Para Cleber Prodanov e Cristiano Freitas:

Em síntese, o método dialético parte da premissa de que, na natureza, tudo se


relaciona, transforma-se e há sempre uma contradição inerente a cada
fenômeno. Nesse tipo de método, para conhecer determinado fenômeno ou
objeto, o pesquisador precisa estudá-lo em todos os seus aspectos, suas
relações e conexões, sem tratar o conhecimento como algo rígido, já que
tudo no mundo está em constante mudança.

2
MARCONI, Marina de Andrade; LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de Metodologia
Científica. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 182.
3
Ibidem, p. 105.
13

Tal entendimento passa pela noção de que o método científico é instrumento


para possibilidade teórica de interpretação da realidade. A visão dialética
deve ser compreendida pelo dinamismo do raciocínio por entre a
materialidade histórica, que trata da organização social ao longo da história
da humanidade.4

No que diz respeito aos materiais, foram utilizados apenas os já publicados, como, por
exemplo, doutrinas, legislação, artigos científicos, teses, dissertações, monografias,
jurisprudência, notícias e textos publicados em revistas e sítios eletrônicos, entre outros.

4
PRODANOV, Cleber Cristiano; FREITAS, Ernani Cesar de. Metodologia do Trabalho
Científico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2. ed. Novo Hamburgo: Feevale,
2013. p. 35.
14

1 FLEXIBILIZAÇÃO E DIREITO DO TRABALHO

O fenômeno da terceirização está incluído no contexto amplo da flexibilização dos


direitos trabalhistas. Tal flexibilização iniciou-se na década de 80 na Europa, por conta da
crise econômica e da inserção de novas tecnologias no mercado, buscando-se evitar o
desemprego crescente que se dava por conta do fechamento das empresas, que não
conseguiam subsistir.
Segundo Maurício Godinho 5 , a crise e a transição do Direito do Trabalho, que
despontaram na Europa a partir de meados ou fins da década de 1970, fizeram-se sentir
tardiamente no Brasil, ao longo da década de 1990 – em pleno processo de transição
democrática desse ramo jurídico instigado pela Constituição de 1988. Essa coincidência
temporal de processos – o de democratização, de um lado, e, de outro, o de desarticulação
radical do ramo justrabalhista – tornou dramática a fase brasileira de crise e transição do
Direito do Trabalho.
De acordo com Sérgio Pinto Martins:

[...] a flexibilização do Direito do Trabalho é o conjunto de regras que tem


por objetivo instituir mecanismos tendentes a compatibilizar as mudanças de
ordem econômica, tecnológica ou social existentes na relação entre capital e
o trabalho.6

O capitalismo, ao longo da história, impôs vários modelos produtivos, conforme as


exigências de cada tempo. A cada nova necessidade, principalmente, em casos de crises
econômicas, estabelece-se uma nova conjuntura de produção, que influencia diretamente no
modelo de Estado e nas normas jurídicas trabalhistas.
Flexibilizar direitos trabalhistas é uma forma para enfrentar crises econômicas,
competições de mercado e, o mais temível da atualidade, o desemprego. Flexibilizar não é,
portanto, sinônimo de desregulamentar, pois é possível flexibilizar através da própria

5
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr,
2015.
6
MARTINS, Sérgio Pinto. Flexibilização das condições de trabalho. São Paulo: Atlas, 2000.
p. 37.
15

legislação, como faz a Constituição no artigo 7º, incisos VI, XIII e XIV; trata-se de menor
rigidez da legislação, permitindo adaptações no trabalho em virtude de modificações sociais e
econômicas.
A Constituição Federal, em seu artigo 7º, VI, prevê a flexibilização dos salários,
permitindo a redução destes, mediante negociação coletiva. Outra forma prevista pela
Constituição, no mesmo atrigo, inciso XI, é a participação nos lucros ou resultados da
empresa, como forma de retribuição desvinculada da remuneração. Já no inciso XIII, faculta
a redução da jornada de trabalho e a compensação de horários. Outras formas de
flexibilização também são previstas, segundo José Ribeiro de Campos:

O procedimento de despedida ao longo do tempo passa a ser flexibilizado, a


estabilidade no emprego cede à necessidade econômica de renovação dos
empregados, mantendo-se, no entanto, a proteção contra o despedimento
arbitrário.
[...] Atualmente, a flexibilização da jornada de trabalho tem sido muito
utilizada, proporcionando ao empregador a distribuição das horas de trabalho
diante da necessidade de maior ou menor produção, evitando dispensa de
alguns empregados.7

Na contratação de mão-de-obra, a flexibilização se dá nas formas de prestação de


serviços, que não é feita por empregados, mas por terceiros, com a contratação de empresas
prestadoras de serviços. Nesse sentido, segundo o DIEESE:

[...] no que se refere especificamente à mão-de-obra, a terceirização se insere


como fator de flexibilização, ao eliminar para a firma contratante o problema
dos custos econômicos diretos com o trabalho, dentre os quais a admissão,
demissão, treinamento e benefícios sociais.8

É importante a adaptação das normas trabalhistas diante de novas realidades, mas sem
minorar os princípios constitucionais. Os direitos fundamentais devem ser resguardados em
um Estado Democrático.

7
CAMPOS, José Ribeiro de. A terceirização e a responsabilidade da empresa tomadora
dos serviços. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 19-20.
8
DIEESE. Os trabalhadores frente à terceirização. Pesquisa Dieese, v. 7, 1993. In: CAMPOS,
José Ribeiro de. A terceirização e a responsabilidade da empresa tomadora dos serviços. São
Paulo: IOB Thomson, 2006.
16

1.1 Aspectos históricos

As condições de trabalho foram se alterando e se adaptando ao longo da história. O


início foi com a industrialização, que trouxe para o âmbito das fábricas, além de novas formas
de produção, também novas formas de exploração. Com isso, surgiram os riscos de
infortúnios laborais, de acidentes de trabalho, quando se fez necessária uma primeira proteção
ao trabalhador, que foi crescendo na medida das necessidades das fábricas até se chegar ao
âmbito da prevenção, como se tem hoje e não mais da simples remediação, com o princípio
do não retrocesso.
Inicialmente, no Estado Liberal, caracterizado pela não intervenção do Estado na
economia, sendo seu papel, unicamente, o de criar condições benéficas ao crescimento da
indústria, mantendo apenas a ordem pública. Nesta época, não existiam normas trabalhistas
específicas e as relações de trabalho eram regidas pelo Direito Civil, como se as partes
(empregado e empregador) estabelecessem um simples contrato bilateral. O problema é que
neste contrato não havia uma relação igualitária entre as partes, sendo o empregado sempre
mais vulnerável, formando duas classes antagônicas: a burguesia e o proletariado, na qual a
primeira detinha os meios de produção e ditava o modo de vida e exploração do proletariado,
que não tinha outra escolha senão a submissão, a venda de sua força de trabalho.
É nesse contexto de opressão aos trabalhadores que surge o processo de surgimento de
um direito trabalhista, bem como de intervenção estatal nas relações entre empregador e
empregado. Os ideais de “igualdade, liberdade e fraternidade” da Revolução Francesa
refletiram também nas relações trabalhistas. A Declaração Francesa de 1848 ampliou o rol de
direitos fundamentais de primeira geração e previu alguns de segunda, como a liberdade ao
trabalho e a assistência aos desempregados.
Após, as duas guerras mundiais influenciaram a transição do Estado Liberal burguês
para o Estado de Bem-Estar Social. Neste novo tipo de Estado, o Direito do Trabalho vai se
institucionalizar como fruto das lutas sociais que implicaram em tal Estado e passa a ser
reconhecido como direito social constitucional, tornando-se um ramo jurídico autônomo.
Tais mudanças político-econômicas influenciaram os modelos de produção, surgindo o
taylorismo, o fordismo e o toyotismo, respectivamente. O Direito e o Estado imitavam o
modelo de fábrica proposto pelo modelo de produção vigente até a década de 70, que era o
fordismo: grande, verticalizada e responsável por todas as etapas da produção, um expoente
do modelo taylorista, com a implantação de esteiras rolantes, fazendo com que o trabalho em
17

único ponto da produção com metas rígidas a cumprir tivesse uma otimização do tempo de
produção.
No fim da década de 60, o modelo fordista entrou em declínio em decorrência da
“crise do lucro”, da globalização do mercado e da consequente crise do Estado de Bem-Estar
Social. E surgiu o neoliberalismo, com traços marcantes como a privatização do Estado,
desregulamentação dos direitos trabalhistas e desmontagem do setor produtivo estatal. Tal
bandeira logo refletiu sobre o Direito do Trabalho e a globalização, a abertura do mercado e o
novo método de produção, o toyotismo, trazem a lume a flexibilização trabalhista e a
terceirização.
Segundo Amorim 9 , o toyotismo se constitui em um modelo produtivo voltado ao
atendimento das exigências individuais e oscilantes do novo mercado consumidor
globalizado, em ambiente de rigorosa competitividade, destituído de protecionismos estatais,
o que desafia uma produção bastante variada e de baixo custo, fundado no princípio do just in
time. Para isso, os estoques são reduzidos e a matéria-prima é adquirida conforme a
necessidade do cliente. O trabalho humano também é limitado a apenas o necessário
conforme a demanda, o que gera formas flexíveis de contratação, como o trabalho temporário,
o teletrabalho, e outros, gerando uma flutuação da mão-de-obra.
Assim, a flexibilização do Direito do Trabalho começa a se dar após a Segunda Guerra
Mundial. No Brasil, as mudanças significativas nas relações de trabalho se deram também
após a primeira metade do século XX, principalmente nos aspectos político e econômico.

1.2 A globalização e o direito do trabalho

Apesar de ser um tema bastante em pauta, é difícil estabelecer um conceito para a


globalização. Segundo Rosane Abreu Gonzales Pinto, “entende-se por globalização o
processo de internacionalização ou criação do mercado mundial nos moldes do sistema
capitalista de produção” 10.

9
AMORIM, Helder Santos. A terceirização no serviço público: à luz da nova hermenêutica
constitucional. São Paulo: LTr, 2009. p. 31.
10
PINTO, Rosane Abreu Gonzalez. Globalização Econômica: seus efeitos jurídicos nas relações
de trabalho e na problemática epistemológica do direito do trabalho. Revista de Estudos Jurídicos
UNESP, Franca, ano 4, n. 8, jul./dez. 1999. p. 169.
18

Vários autores constituem pensamentos acerca deste complexo fenômeno. Wagner


Costa Ribeiro11 afirma que a globalização passou a ser sinônimo de aplicações financeiras e
de investimentos pelo mundo afora, além de ser definida como um sistema cultural que
homogeneíza, que afirma o mesmo a partir da introdução de identidades culturais diversas que
se sobrepõem aos indivíduos. Houve também os que afirmassem que se está diante de um
cidadão global, definido apenas como o que está inserido no universo do consumo, o que
destoa completamente da ideia de cidadania.
O sociólogo Renato Ortiz 12 afirma que existe uma cultura mundializada que se
expressa na emersão de uma identidade cultural popular, cujos signos estariam dispersos pelo
mundo, citando como exemplo redes de alimentos e marcas de produtos de consumo que
seriam facilmente identificáveis de um estilo de vida global.
Apesar da globalização ser afirmada por alguns autores como algo novo, resultante da
modernização e da terceira revolução tecnológica, as ideias sobre esse tema não são atuais.
Dorothee Rudiger afirma que:

Característica da globalização é a integração econômica internacional, a


expansão do comércio, do sistema financeiro, do transporte, de tecnologias e
de meios de comunicação para além das fronteiras locais e regionais,
presentes historicamente desde a colonização grega do mediterrâneo, o
império romano, o reino de Carlos V e o imperialismo do século XIX, para
citarmos alguns exemplos. Entretanto, seus efeitos nunca se mostraram tão
atuais, principalmente no que concerne ao Direito do Trabalho.13

Após a Segunda Guerra Mundial, o processo de globalização se intensificou e


apresenta grande influência sobre os aspectos econômicos, políticos e sociais. As primeiras
manifestações mais concretas de terceirização de atividades da empresa ocorreram durante a
Segunda Guerra Mundial, pois a demanda de armamento forçava as empresas a produzirem
cada vez mais para abastecer o mercado em ascensão.
Assim, era necessária uma maior dedicação das empresas às suas atividades principais,
para produzir de acordo com os altos pedidos, surgindo a ideia, então, de delegar suas
atividades de suporta para outras empresas especializadas e concentrar sua mão-de-obra, seu

11
RIBEIRO, Wagner Costa. A quem interessa a globalização. Revista ADUSP, São Paulo, p.
18-21, 1995.
12
ORTIZ, Renato. Mundialização e cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994. p. 142.
13
RUDIGER, Dorothee Susanne. O direito do trabalho brasileiro no contexto da globalização.
Revista do Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região, Campinas, n. 12, jul./set. 2000. p. 55.
19

tempo e seu investimento no produto final, naquilo que efetivamente tinham que fabricar.
Antes desse período, já existiam atividades prestadas por terceiros às empresas, mas foi a
partir dessa época que a terceirização se tornou expressiva o suficiente para interferir na
economia, na sociedade e merecer atenção dos estudiosos.
As transformações advindas desse processo têm consequência direta no mundo do
trabalho, nas relações comerciais entre as empresas, conforme observa José Márcio Camargo:

[...] quando as economias se globalizam todos os mercados são globalizados


menos o mercado de trabalho. Nos outros mercados produzem-se equilíbrios
através dos preços, mas todos os desequilíbrios aparecem no mercado de
trabalho, simplesmente porque não se pode fazer as movimentações que são
feitas no mercado de capitais, no mercado de moedas e no mercado de
produtos.14

O mercado de trabalho é o que mais sente as implicações da globalização, visto que as


medidas de redução de custos com produção para atender às imposições da concorrência
refletem diretamente na mão-de-obra. Na medida em que a globalização traz a abertura das
fronteiras para uma circulação mais rápida de mercadorias, a concorrência passa a ser também
de nível internacional, ou seja, mais acirrada e desigual, principalmente quando se dá entre
países desenvolvidos e países subdesenvolvidos.
Diante disso, o mundo do trabalho passa a ser dominado por uma onda de
inseguranças, causadas, conforme afirma Jorge Eduardo Levi Mattoso 15, por “uma intensa
desorganização do trabalho, com ampliação das desigualdades sociais no plano nacional,
regional e internacional”. Tal insegurança se traduz no crescimento do desemprego, que
abrange a todos, de forma indiscriminada, além de haver também a caracterização da
insegurança no emprego, pois, a cada dia, se reduz a quantidade de empregos estáveis nas
empresas, dando lugar a novas formas de trabalho, como o trabalho temporário, por tempo
determinado, eventual, e outros e, diante disso, também são usadas outras técnicas de
contratação, como a terceirização.

14
SINGER, Paul; SALM, Cláudio; CAMARGO, José Márcio; POCHMANN, Márcio;
BATISTA JUNIOR, Paulo Nogueira. Globalização e emprego. Novos Estudos Cebrap, n. 45, jul.
1996. p. 141.
15
MATTOSO, Jorge Eduardo Levi. Globalização, Neoliberalimso e Flexibilização. In:
ARRUDA JUNIOR, Eduardo de Lima; RAMOS, Alexandre Luiz (Orgs.). Globalização,
Neoliberalismo e o Mundo do Trabalho. Curitiba: IBEJ, 1998. p. 41.
20

Ainda, há uma inclinação das empresas à redução progressiva dos salários, ao passo
que, na medida que se intensificam as outras formas de contratação, há uma acentuada
diminuição nos níveis de sindicalização e o consequente enfraquecimento do seu poder de
negociação.
Frente a tais inseguranças, observa-se que, como consequência da globalização, há
uma crescente precarização nas condições e nas relações de trabalho, consubstanciada no
aumento do desemprego, do trabalho informal e de formas paralelas de exploração de mão-
de-obra, como é o caso da terceirização. Esta constitui, pois, uma forma de fragilizar o
vínculo existente entre empregado e empregador, consistindo em uma das formas de
flexibilização dessas relações e será objeto de estudo mais aprofundado no próximo capítulo.

1.3 Flexibilização no direito do trabalho e a terceirização

O Direito do Trabalho, em razão da sua dinâmica, acompanha as mudanças sociais e


econômicas, sempre se adaptando para resolver os problemas decorrentes dos entraves entre
capital e trabalho. Como visto, a partir de crises econômicas na década de 1970, surgiu a
teoria da flexibilização dos direitos trabalhistas.
Conforme afirma Sussekind:

[...] o objetivo principal da flexibilização nas relações de trabalho foi o de


propiciar a implementação de nova tecnologia ou de novos métodos de
trabalho e, bem assim, o de evitar a extinção de empresas, com evidentes
reflexos nas taxas de desemprego e agravamento das condições sócio-
econômicas. Mas, simultaneamente, a tese se universalizou para prestigiar
grupos sociais como fontes de direito (pluralismo jurídico). Com a
flexibilização, os sistemas legais preveem fórmulas opcionais ou flexíveis de
estipulação de condições de trabalho, seja pelos instrumentos da negociação
coletiva, ou pelos contratos individuais de trabalho, seja pelos próprios
empresários.16

A flexibilização decorre, pois, do surgimento de novas tecnologias, revelando uma


expansão do setor terciário da economia. Desse modo, deveria haver uma proteção ao
trabalhador em geral e, nesse momento, começam a surgir novos contratos, diferentes da

16
SUSSEKIND, Arnaldo. Instituições de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 2003. p. 197.
21

relação de emprego, como o contrato de temporada, de estágio, dentre outros. Segundo Sérgio
Pinto Martins:

A flexibilização das normas do Direito do Trabalho visa assegurar um


conjunto de regras mínimas ao trabalhador e, em contrapartida, a
sobrevivência da empresa, por meio da modificação de comandos legais,
procurando outorgar aos trabalhadores certos direitos mínimos e ao
empregador a possibilidade de adaptação do seu negócio, mormente em
épocas de crise econômica. Para a fiscalizar essa flexibilização, essa
maleabilidade, o sindicato passa a deter o papel principal, ou seja, a
participar das negociações coletivas que irão conduzir ao acordo ou à
convenção coletiva de trabalho, de modo a permitir também a continuidade
do emprego do trabalhador e a sobrevivência da empresa, assegurando um
lucro razoável à última e certas garantias mínimas ao trabalhador.17

Entretanto, face ao exposto, surge outra forma de flexibilização, que é a terceirização,


a contratação de terceiros para prestar serviços à empresa, que surge como uma forma de
compatibilizar a eficácia econômica com novos métodos de gestão de mão-de-obra e com as
inovações tecnológicas. O problema é que, na terceirização, muitos direitos trabalhistas são
precarizados, principalmente em relação à assinatura da carteira de trabalho e aos benefícios
decorrentes do contrato de trabalho, ou seja, há uma flexibilização desses direitos.
Segundo José Ribeiro de Campos:

O processo de terceirização está associado à focalização; a estratégia das


empresas de concentrar suas atividades naquilo que é o segredo do negócio,
facilitando a gestão empresarial, para diminuir a diversidade das formas de
organização da produção e do trabalho. Com a terceirização, as empresas
têm condições de reduzir custos, melhorar o desempenho e a qualidade, vez
que realizam menor número de processos, fator importante para enfrentar a
concorrência.18

A terceirização é fenômeno que decorre diretamente do modelo de produção toyotista,


que exige uma redução da estrutura empresarial. A “horizontalização” das empresas, que
passaram a buscar somente a produção do material final, faz com que diversas outras
surgissem ao redor da fábrica matriz, inserindo um novo sujeito na relação entre empregador e

17
MARTINS, Sérgio Pinto. Flexibilização das condições de trabalho. São Paulo: Atlas, 2000.
p. 38.
18
CAMPOS, José Ribeiro de. A terceirização e a responsabilidade da empresa tomadora
dos serviços. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 21.
22

empregado. Trata-se de um terceiro, que presta serviços não inseridos na atividade-fim


daquele que o contrata, ou seja, na atividade econômica preponderantemente explorada.
Segundo Maurício Godinho:

Por tal fenômeno insere-se o trabalhador no processo produtivo do tomador


de serviços sem que se estendam a este os laços justrabalhistas, que se
preservam fixados com uma entidade interveniente. A terceirização provoca
uma relação trilateral em face da contratação de força de trabalho no
mercado capitalista: o obreiro, prestador de serviços, que realiza suas
atividades materiais e intelectuais junto à empresa tomadora de serviços; a
empresa terceirizante, que contrata este obreiro, firmando com ele os
vínculos jurídicos trabalhistas pertinentes; a empresa tomadora de serviços,
que recebe a prestação de labor, mas não assume a posição clássica de
empregadora desse trabalhador envolvido.19

A terceirização gera para as empresas uma parceria na busca dos objetivos comerciais
e cada uma passa a aprimorar sua especialidade. Diante disso, o trabalhador também passa a
buscar o aprimoramento profissional, seja ele empregado da tomadora ou da prestadora de
serviços. Assim, a empresa tomadora de serviços deixa de ser responsável pelas fases do
processo produtivo em sua totalidade, o que repercute na seara laboral, que é baseado na
figura da empresa autossuficiente. Com a terceirização, ocorre uma desconcentração
produtiva e econômica, pois o fornecimento de serviços é bens é buscado no mercado.
Para Sérgio Pinto Martins 20 , só deveria haver transferência para terceiros de
atividades-meio da empresa, como manutenção, limpeza, conservação, vigilância e outros,
pois com a terceirização da atividade-fim do empreendimento a empresa não estaria prestando
serviços, mas fazendo um arrendamento do negócio.
A partir do momento em que o empregador não é mais responsável pelo empregado,
ou seja, da transferência da responsabilidade a um terceiro, a quem reclamar em casos de
mitigação dos direitos trabalhistas? Como se desenvolve a relação de trabalho? A tomadora de
serviços é responsável nos casos em que a empresa terceirizada se omite?
Essas questões serão abordadas ao longo dessa análise, procurando mostrar evidenciar
que, no mundo globalizado, diante de tantas inovações tecnológicas, é um desafio para as
empresas modernas competirem no mercado e, portanto, precisam se adaptar à situação

19
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr,
2015. p. 475.
20
MARTINS, Sérgio Pinto. Flexibilização das condições de trabalho. São Paulo: Atlas, 2000. p. 40.
23

jurídica existente no país, muitas vezes, valendo-se dos processos de flexibilização já


mencionados. Neste mundo flexível e submisso aos ditames capitalistas, o obreiro é quem
sofre os reflexos diretos dessas omissões.

1.3.1 O papel da terceirização na economia moderna

A terceirização é uma realidade no Brasil e no mundo. Adorada pelas empresas,


através da terceirização as empresas contratam serviços especializados, aumentando sua
eficiência, sua capacidade de competir e seus investimentos; simplifica suas estruturas
empresariais, diminui perdas e custos fixos e permite a concentração dos recursos das
empresas nas áreas em que cada empresa tem nítidas vantagens comparativas. Deste modo, a
terceirização também gera empregos, diretos e indiretos (que são os trabalhadores
terceirizados).
Segundo José Pastore e José Eduardo Pastore:

A contratação de serviços especializados com terceiros é uma prática


mundial. Poucas são as empresas que conseguem fazer tudo. A produção
moderna é realizada em redes ou cadeias produtivas que são verdadeiras
constelações de empresas e pessoas que se entrelaçam nas mais variadas
formas de trabalhar. Disso decorrem novas relações do trabalho, pois os
contratos de terceirização assumem diferentes formas e tipos jurídicos.21

O mundo moderno é marcado pela realidade de inúmeros modos de trabalho,


formados em redes/cadeias de trabalho, que são estratégias das empresas, do mercado, para
vencer a concorrência. Não se trata mais da concorrência entre empresas, mas entre redes,
várias empresas, cada uma especializada em um ramo, se juntam numa rede de produção, o
que, conforme já citado, reduz custos e gera mais eficiência.
A busca pela especialização no trabalho é uma forma de melhor atender aos
consumidores, que são como verdadeiros proprietários dos postos de trabalho, afinal, em caso
de insatisfação, as empresas fecham as portas e os trabalhadores perdem seus empregos.
Segundo o entendimento dos autores anteriormente citados, a figura do empregador,
representada antes pelo dono da empresa, está migrando para um ente coletivo, que é o

21
PASTORE, José; PASTORE, José Eduardo G. Terceirização: necessidade para a economia,
desafio para o direito. São Paulo: LTr, 2015. p. 12.
24

consumidor22. Toda essa situação gera um grande impacto no Direito do Trabalho, que precisa
se adaptar a essa nova realidade.
Diante dessa economia moderna, existem autores que enxergam a terceirização como
extremamente necessária, pois sem ela muitos negócios seriam inviáveis. Segundo Pastore23,
se uma construtora de edifícios residenciais, ao invés de terceirizar a terraplanagem de
alicerces fosse obrigada a comprar todo o maquinário, extremamente caro, que usaria apenas
uma vez a cada dois ou três anos, um apartamento nesses edifícios custaria muito caro,
tornando o negócio inviável, pois os consumidores não o comprariam.
Outros autores, entretanto, entendem que a terceirização trouxe efeitos negativos,
conforme esclarece Gabriela Neves Delgado:

A terceirização tende a ampliar o desemprego: a maioria dos empregados


que têm seus contratos de trabalho extintos com as empresas tomadoras não
consegue inserir-se, novamente, no mercado de trabalho formal.
[...] o mecanismo terceirizante também estimula processos de alta
rotatividade de mão-de-obra, sobretudo no que concerne às empresas
tomadoras de serviços causando insegurança e insuflando sentimentos de
individualização nas relações de trabalho.24

Com novas tecnologias e novos modos de trabalhar as empresas atualmente passam


por grandes transformações e a terceirização também enfrenta uma metamorfose baseada na
realidade da economia. José Pastore e José Eduardo Pastore25 dividem as transformações da
terceirização em três fases. Segundo os autores, primeiramente, na década de 1970, o processo
de terceirização envolvia apenas as atividades periféricas e era orientada basicamente pela
redução de custo, como, por exemplo, nos setores de segurança, alimentação, higiene.
Depois, na chamada segunda fase, ocorrida na década de 1980, as empresas
começaram a terceirizar as atividades próximas do seu core business, buscando, além da
redução de custos, a melhoria na qualidade dos serviços. Nessa fase, começaram a ser
contratadas pessoas fora da estrutura empresarial interna, para serviços de criação de novos

22
Ibidem, p. 13.
23
Idem.
24
DELGADO, Gabriela Neves. Terceirização – paradoxo do direito do trabalho. São Paulo:
LTr, 2003. p. 170.
25
PASTORE, José; PASTORE, José Eduardo G. Terceirização: necessidade para a economia,
desafio para o direito. São Paulo: LTr, 2015.
25

produtos, pesquisa e desenvolvimento, inclusive executados por empresas localizadas no


exterior26.
Por fim, abordam a terceira fase, que se deu na década de 1990, com a ideia de superar
a grande concorrência que se estabeleceu entre as empresas a nível global nas cadeias globais
de valor. Nessa fase, as empresas começaram a formar etapas em seu core business e a contar
com esse serviço, exigindo maior rigor técnico e qualidade. Dessa forma, empregadores e
empregados, contratantes e contratados passam a fazer parte das mesmas cadeias globais de
valor. É uma visão diferente da terceirização, que vêm de fora, segundo esclarece Armonk:

Atualmente, a decisão da terceirização mudou. Os executivos (CEOs) estão


sendo solicitados a adotar um papel estratégico a fim de estimular inovações
e vantagens comparativas. [...] eles estão conscientes do papel
desempenhado pela terceirização para alcançar os objetivos de
transformação. As apostas na terceirização nunca foram tão altas. Eles
reconhecem que a terceirização tem potencial para oferecer um valor de
negócios extraordinário e descobriram que terceirização é menos arbitragem
[de custos] e mais acesso à enorme quantidade de talento global disponível
nas empresas. [Com isso] eles vêm estabelecendo relacionamentos
estratégicos com parceiros comerciais, fornecedores e clientes a fim de
multiplicar o conhecimento especializado em todas as áreas de operação.27

Outra consequência da terceirização é o crescimento de pequenas e micro empresas


nos mais diversos setores da economia. Assim, segundo alguns autores, embora haja
diminuição de emprego nas grandes empresas, há abertura de empregos nas médias, pequenas
e micro. Por outro lado, há perda de vantagens oferecidas pelas grandes empresas que as
menores não têm condições de custear, como assistência médica, transporte, entre outras.
Nesse sentido, segundo Amador Paes de Almeida:

A contratação de empresas prestadoras de serviços, entre se constituir numa


forma de aperfeiçoamento das operações fundamentais indispensáveis à
própria atividade-fim, é meio de incremento de emprego, utilizando, no mais
das vezes, embora não necessariamente, de mão-de-obra ociosa e
desqualificada (faxineiros, vigias etc.).28

26
Ibidem.
27
ARMONK apud PASTORE, José; PASTORE, José Eduardo G. Terceirização: necessidade
para a economia, desafio para o direito. São Paulo: LTr, 2015. p. 14.
28
ALMEIDA, Amador Paes de. A terceirização no direito do trabalho: limites legais e
fraudes à lei. In: CARDONE, Marly A.; SILVA, Floriano Corrêa Vaz da (Org.). Terceirização no
direito do trabalho e na economia. São Paulo: LTr, 1993. p. 36.
26

Existem inúmeras empresas no mundo que se utilizam de trabalhos terceirizados. A


literatura sobre o tema também é vasta. Trata-se, pois, de um assunto a nível mundial. Os
efeitos desempregadores dos contratos de terceirização no exterior são compensados pelo
ganho de eficiência e pelo aumento de investimentos nos países de origem, o que gera postos
de trabalho de melhor qualidade. O que se busca, a nível mundial, é barrar a terceirização nos
lugares em que não haja respeito à legislação trabalhista. A ideia das empresas estrangeiras e
dos autores que defendem a terceirização é de que ela não é simplesmente uma operação de
compra e venda de serviços, mas um processo de parceria, que se converte em eficiência e
aumento de investimentos. Assim, segundo, Pedro Manus:

Atravessamos um período em que se busca criar e adaptar novas formas de


prestação de serviços às exigências de mercado, por meio do processo
denominado de terceirização, mas que exige cuidado para não perder de
vista a necessária proteção que o Direito do Trabalho deve dispensar aos
trabalhadores forma geral.29

No próximo capítulo será abordada a terceirização da forma como se dá no Brasil,


buscando-se analisar se os direitos dos trabalhadores são precarizados com ela ou não.

1.3.2 A evolução da terceirização no Brasil

Nos itens anteriores procurou-se situar o fenômeno da terceirização no contexto das


transformações no mundo do trabalho das últimas décadas, marcadas principalmente pela
flexibilização e novas estratégias de dominação do trabalho. A terceirização é um processo de
caráter mundial, mas que apresenta especificidades em cada país.
No âmbito das políticas de gestão do trabalho, com as mudanças influenciadas pelo
toyotismo, cujo objetivo principal é a racionalização do uso da força de trabalho, conforme já
explicado, no Brasil, a transição para um novo padrão de gestão do trabalho começa nos anos
1980. Já a generalização do toyotismo ocorre nos anos 1990, em virtude da implementação de
políticas neoliberais no Brasil e da inserção do país na globalização da economia. Nesse

29
MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do Trabalho. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. p. 75.
27

sentido, tem-se que a flexibilização do trabalho é algo relativamente novo, dada a dimensão
adquirida num quadro de globalização, de reestruturação produtiva e de implementação de
políticas neoliberais.
A terceirização é um processo largamente adotado no Brasil e em vias de ampliação, o
que será tratado adiante. Apesar de existir uma espécie de buraco legal quanto a esse tema, a
terceirização aumenta a cada dia nos serviços ligados à produção. Assim como no resto do
mundo, no Brasil as empresas usam a terceirização para produzir e vender mais e melhor,
elevando sua competitividade nos mercados globalizados.
A terceirização é uma das principais formas da flexibilização do trabalho, pois ela
sintetiza o grau de liberdade que o capitel tem para, desta forma, dominar a força de trabalho.
No Brasil, os principais tipos de contratação envolvem as formas mais típicas, advinda desde
a década de 1980, como: empresa prestadora de serviços especializados não industriais; outra
empresa industrial; locadora de mão-de-obra; e até alguns tipos emergentes, como:
cooperativas; prestador de serviços/firma individual; e entidades sem fins lucrativos30.
Nos estudos sobre a terceirização no Brasil, a precarização é presente invariavelmente.
Segundo Druck31, em pesquisa na década de 1990, a precarização do trabalho advinda da
terceirização se dá em quatro aspectos: no emprego, nas condições de trabalho, na saúde do
trabalhador e nos sindicatos. Nos últimos 15 anos, o aumento da terceirização e suas novas
formas evidenciam essas implicações.
O processo de terceirização, hoje, no Brasil, é usado na maioria dos setores da
economia: na construção civil, no setor automobilístico, no comércio, no setor elétrico, no
setor de logística e, inclusive, no setor público.
O modelo de produção toyotista visa encurtar a estrutura com os serviços não
essenciais e concentrar naquele que é sua atividade fim, foi instituído com o intuito de
aumentar a competitividade e baratear os preços dos produtos, porém, as empresas não
alcançaram os resultados esperados e os direitos dos trabalhadores foram dizimados. Diante

30
FRANCO, Tânia Maria de Almeida; DRUCK, Graça. A Precarização do Trabalho no Brasil:
um estudo da evolução da terceirização no Brasil e na indústria da Bahia na última década. Revista
Latinoamericana de Estudios del Trabajo, 2008. p. 15.
31
DRUCK, M. da G. Terceirização: (des)fordizando a fábrica – um estudo complexo
petroquímico da Bahia. São Paulo; Salvador: Boitempo; Edufba, 1999.
28

dessa situação, o Brasil adotou o sistema da terceirização, mesmo durante a década de 1990,
quando era um dos países com maior número de desemprego no mundo32.
A terceirização no Brasil, por não dispor de uma norma regulamentadora, acabou por
ter um crescimento desorganizado, gerando assim inúmeras fraudes, como exemplo, o de
eximir o empregador dos encargos trabalhistas.
As primeiras legislações sobre a terceirização foram os Decretos-Lei nº 1.212 e nº
1.216, de 1966, que regulamentavam os serviços bancários. Posteriormente, foi editado o
Decreto-Lei nº 756, que dispunha sobre as empresas de intermediação de mão de obra. E em
1969, houve o Decreto-Lei nº 1.034, que estabeleceu as medidas de segurança para o
funcionamento de empresa de segurança bancária. O problema é que tais decretos versavam
apenas sobre o setor bancário.
Em 1967, houve a publicação do Decreto-Lei n° 200, dispondo sobre a terceirização
na Administração Pública e, em 1970, foi criada a Lei nº 5.645, que regula a execução neste
aspecto. No direito privado, em 1974, foi regulamentado o contrato de trabalho temporário
com a Lei n° 6.019 e apenas em 1983, por meio da Lei n° 7.102, foi normatizada a vigilância
bancária e o transporte de valores33.
Primeiramente, no Brasil, a terceirização somente era autorizada nos casos do setor
financeiro, mas, conforme o crescimento da economia privada, vieram, em 1994 e 1995, as
Leis nº 8.863/94 e nº 9.017/95, que permitiram a prestação de serviços de vigilância.
Paralelamente as estas leis, o TST editou algumas: a primeira foi a Súmula nº 239, de 1985,
que tinha como objetivo prevenir a fraude bancária; depois veio a Súmula nº 256, que tinha
um rol taxativo sobre quais áreas poderiam ser terceirizadas; e em 1993, o TST reexaminou a
Súmula nº 256 e editou a Súmula nº 331, que preenche, de certo modo, a lacuna existente
sobre esse tema34.
A Súmula nº 239 surgiu por força da prática comum de contratação de empregados por
empresas de processamento de dados, mas com a verdadeira função de realizar serviços
bancários, sem, no entanto, gozar dos benefícios e direitos de um bancário na sua real função.

32
SILVA, Eliane Lopes da; COSTA, Lucia Cortes da. O desemprego no Brasil na década de
1990. Revista Emancipação, Ponta Grossa, v. 5, n. 1, 2005. Disponível em:
<http://www.revistas2.uepg.br/index.php/emancipacao/article/view/58/56>. Acesso em: 15 jun. 2016.
33
MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira. A terceirização trabalhista no Brasil. São Paulo:
Quartier Latin, 2008, p. 143.
34
Ibidem.
29

Tentava-se, com tal prática, fraudar a jornada de trabalho especial dos bancários, de seis
horas. Assim, com a equiparação realizada pela Súmula 239, coibiu-se essa fraude.
A Súmula nº 256, de 1986, por sua vez, declarou ilegal qualquer tipo de contratação de
trabalhadores por empresa interposta, ressalvando apenas os casos de trabalho temporário
(disciplinados na Lei 6.019/74) e de serviços de vigilância (Lei 7.012/83). A Súmula nº 257,
também de 1986, reforçou a ilicitude dos contratos de terceirização para veículos de
vigilância, não igualando a bancário o vigilante contratado diretamente por banco ou por meio
de empresas especializadas.
Por fim, veio a Súmula nº 331 revisar a Súmula nº 256, admitindo a contratação de
serviços por empresa interposta, sem que haja a possibilidade de configuração de vínculo de
emprego com a empresa tomadora dos serviços nos casos de vigilância, como já era previsto,
de conservação e de limpeza, e de serviços especializados ligados as atividades-meio da
empresa, desde que cumpridos os requisitos exigidos por ele.
O problema é que este método de exploração de trabalho vem sendo usado de forma
desgovernada, a fim de desrespeitar/burlar as leis e os encargos trabalhistas. Ao se observar a
Súmula nº 331 de forma geral, vê-se que a terceirização se dá de forma lícita em quatro
situações: no trabalho temporário, na atividade de vigilância, nas atividades de conservação e
limpeza e nos serviços ligados à atividade-meio da empresa.
Assim, a Súmula nº 331 visou evitar fraudes, deixando claro, que, dentre os requisitos
da relação de emprego, a terceirização comporta apenas três, que são a onerosidade, a pessoa
física e a não eventualidade. Caso se configure pessoalidade ou subordinação, estar-se-ia
diante de uma situação de terceirização ilícita. Ocorre que, muitas vezes esses elementos são
desrespeitados, pois o empregado terceirizado muitas vezes é subordinado ao tomador de
serviços.
30

2 A TERCEIRIZAÇÃO NO BRASIL

A globalização, o neoliberalismo e o modelo toyotista de produção foram, ao longo da


segunda metade do século XX, se disseminando pelo mundo. Juntos, esses fenômenos
possibilitaram um novo modo de relação trabalhista: a terceirização. No entanto, cada país
apresentava uma conjuntura econômica, política e social diferente e, assim, em cada país o
fenômeno da terceirização se revelou de maneira particular.
No Brasil, segundo Maurício Godinho Delgado, a terceirização é um fenômeno
relativamente novo, mais visível no país a partir da década de 197035. Na elaboração da CLT,
na década de 1940, a terceirização não era abrangente e nem relevante no país. Tal
visibilidade ocorreu, primeiramente, com o Decreto-Lei nº 200/67 e com a Lei nº 5.645/70,
que regulavam o segmento estatal do mercado de trabalho, a administração direta e indireta
dos entes federativos. De acordo com o autor:

A partir da década de 1970 a legislação heterônoma incorporou um diploma


normativo que tratava especificamente da terceirização, estendendo-a ao
campo privado da economia: a Lei do Trabalho Temporário (Lei n.
6.019/74). Tempos depois, pela Lei n. 7.102/83, autorizava-se também a
terceirização do trabalho de vigilância bancaria, a ser efetuada em caráter
permanente (ao contrário da terceirização autorizada pela Lei n. 6.019/74,
que era temporária).36

A proposta inicial do modelo toyotista não se faz presente no modelo de terceirização


que se deu no Brasil. A terceirização que aqui se disseminou foi uma forma de reduzir custos
de contratação de mão-de-obra, principalmente no setor de serviços. Segundo Pochmann:

[...] ao contrário da experiência dos países desenvolvidos, a terceirização no


Brasil contém especificidades significativas. Na maior parte das vezes, a
terceirização encontra-se associada ao ambiente persistente de semi-
estagnação da economia nacional, de baixos investimentos, de diminuta
incorporação de novas tecnologias, de abertura comercial e financeira e de
desregulamentação da competição intercapitalista. Por conta disso, o sentido
de terceirização vem se revelando um processo de reestruturação produtiva

35
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr, 2015.
36
Ibidem, p. 474.
31

defensiva, mas caracterizada pela minimização de custos e adoção de


estratégias empresariais de resistência (sobrevivência).37

Acontece que, além da evolução legislativa, o setor privado da economia brasileira


passou a incorporar práticas de terceirização ao longo dos anos, independentemente se existia
ou não legislação autorizativa a respeito do tema.
Assim, a terceirização ocorrida no Brasil pode ter a mesma definição da iniciada pelo
toyotismo, com uma técnica administrativa que provoca a diminuição da estrutura da
empresa, transferindo parte de seus serviços para outras empresas, especializadas, mas há
peculiaridades que se encaixam no contexto brasileiro, que fazem com que sejam necessárias
regulamentações próprias a respeito do tema. Segundo Godinho Delgado, como acontece com
todos os fenômenos novos, é fato que a terceirização tem produzido inúmeras mudanças no
mercado de trabalho, na ordem econômica e jurídica do país e falta, portanto, clareza quanto a
compreensão da exata dimensão e extensão dessas mudanças38.
Apesar de possuir um histórico de leis que mencionam o assunto de maneira esparsa,
nunca houve uma lei específica de terceirização, o que fez com que os Tribunais se
posicionassem em relação ao tema, com a edição de Súmulas. Não obstante, sabe-se que o
direito possui interpretações variadas e, diante disso, há, atualmente, discussões ferrenhas
sobre o tema, que ora protegem os direitos mínimos dos trabalhadores, ora colocam os
princípios da Ordem Econômica a frente dos direitos fundamentais.

2.1 Definição e regulamentação normativa

A terceirização não é abordada, no sistema jurídico brasileiro, por legislação


específica. Conforme fora aduzido anteriormente, há algumas leis e decretos que regulam
formas de terceirização, como a Lei nº 7.102/83 (serviços de vigilância) e a Lei nº 6.019/74
(trabalho temporário).
Não houve previsão da terceirização na CLT, porque nesta época o fenômeno ainda
não havia se expandido no Brasil. Todavia, a CLT prevê modos de subcontratação,
empreitada e subempreitada em seu artigo 455.

37
POCHMANN, Márcio. Sindeepres 15 anos: a superterceirização dos contratos de trabalho.
Campinas, abr. 2007. Disponível em: <http://www.sindeepres.org.br>. Acesso em: 25 jun. 2016.
38
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr, 2015.
32

Assim, não há conceito legal do tema, afinal, até a Súmula nº 331 do TST, que se
utiliza do termo terceirização e admite as hipóteses em que ela é licita, não apresenta uma
definição certa. Desse modo, o conceito provém da doutrina, conforme entendimento e
interpretação de cada doutrinador. Mesmo o próprio termo terceirização, que é o mais
utilizado, inclusive na própria Súmula nº 331, há autores que criticam essa denominação e
apresentam outros termos, como focalização, horizontalização, externalização de atividades,
parceria, contrato de fornecimento, outsorcing e sub-contratação. É o caso, por exemplo, de
Cássio Mesquita Barros Júnior, segundo ele, a terceirização

é uma estratégia econômica através da qual um terceiro, em condições de


parceria, presta serviços ou produz bens para uma empresa que o contrata.
Ao transferir a esse terceiro a produção das atividades acessórias e de apoio,
pode a empresa contratante concentrar-se na sua atividade principal, o que
levou a ciência da administração a chamar esse processo de focalização.39

Para que se configure o processo de terceirização é necessário que sejam identificadas


três partes envolvidas: a empresa tomadora, denominada terceirizante; a empresa prestadora
de serviços, denominada terceirizada; e o empregado.
A primeira é a empresa que necessita delegar suas atividades-meio e, para isso,
contrata outra especializada na execução dessas atividades, visando à concentração de sua
atenção nos seus principais objetivos. Essa empresa especializada ocupa o lugar de empresa
prestadora de serviços, que oferecerá a mão-de-obra de que a tomadora necessita.
A terceira parte nessa relação é o empregado, que possui vínculo empregatício com a
empresa prestadora de serviços. É por ela contratado e empresta sua força de trabalho para a
empresa tomadora, sem possuir qualquer subordinação para com ela. Trata-se de uma relação
triangular. Como bem conceitua José Ribeiro de Campos, a terceirização é

a transferência para uma empresa de prestação de serviços especializados,


dos serviços não ligados ao objetivo econômico da empresa contratante,
vindo os serviços a se realizar através dos empregados da empresa
contratada, dentro ou fora da empresa contratante.40

39
BARROS JÚNIOR, Cássio Mesquita. Flexibilização do direito do trabalho e terceirização.
Cadernos de Direito Tributário e Finanças Públicas, São Paulo, Revista dos Tribunais, n. 21, 1997.
40
CAMPOS, José Ribeiro de. A terceirização e a responsabilidade da empresa tomadora
dos serviços. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 15.
33

Face à insuficiência legislativa e ao crescimento desmedido dos métodos de se


terceirizar, despontaram-se no cenário jurídico brasileiro controvérsias em relação à
legalidade e limites desse fenômeno no Direito do Trabalho. Nesse contexto, surgem as
disposições jurisprudenciais sobre o assunto, por volta das décadas de 1980 e 1990, tendo
como primeiro entendimento a Súmula nº 239 de 1985 e, posteriormente, Súmula nº 256,
transformada na Súmula nº 331, todas do TST.
Ainda assim, a linha que separa o entendimento do que é atividade-meio e o que é
atividade-fim é tênue. Ainda mais delicada e complexa é a discussão se a terceirização deveria
ser estendida a fim de se terceirizar toda e qualquer atividade da empresa. A Súmula nº 331,
por sua vez, permite a terceirização de atividade-fim apenas em um caso, que é o de trabalho
temporário.
A terceirização passou a ser efetivamente implantada no governo do Presidente da
República Fernando Collor, avançando no governo de Fernando Henrique Cardoso e se
consolidando na gestão de Lula. Atualmente, o que alguns buscam é a generalização da
terceirização, frente à crise política, econômica, social e moral que o Brasil atravessa. Para
aqueles que defendem a ideia de se ampliar as formas lícitas de terceirização, justificam se
tratar de medida benéfica para o mercado e para a economia brasileira, permitindo maiores
investimentos e ganhos das empresas41.
Laércio Lopes da Silva, contrário à ampliação da terceirização, defende que pouco
importa diferenciar atividade-fim de atividade-meio, visto que as relações de trabalho atuais
são complexas. O autor defende que o empreendimento deve ser analisado como um todo
complexo, composto por tarefas organizadas com o objetivo de auferir lucro e que, toda e
qualquer atividade que tenha essa intenção não pode ser terceirizada, por ser parte integrante e
indissociável do próprio negócio. Nesse sentido, esclarece:

Pode-se, portanto, dizer que todas as tarefas que contribuam para a obtenção
do lucro e a consecução do negócio do empregador, em menor ou maior grau
e independentemente da participação do tomador de serviços, porquanto
distribuídas na dinâmica do empreendimento, contribuem inexoravelmente
para o resultado produtivo esperado, tornando-se essenciais e justificando a
aplicação do conceito de subordinação estrutural, em prejuízo ao clássico

41
SILVA, Eliane Lopes da; COSTA, Lucia Cortes da. O desemprego no Brasil na década de
1990. Revista Emancipação, Ponta Grossa, v. 5, n. 1, 2005. Disponível em:
<http://www.revistas2.uepg.br/index.php/emancipacao/article/view/58/56>. Acesso em: 15 jun. 2016.
34

conceito de subordinação focada na busca, a nosso ver, ultrapassada, da


diferença entre atividade-meio e fim.42

O autor propõe a avaliação da essencialidade da atividade desemprenhada pelo


trabalhador dentro da cadeia produtiva tendente ao lucro. Assim, sempre que a atividade
desempenhada pelo trabalhador se mostrar essencial à obtenção do resultado produtivo pelo
beneficiário dos serviços, ainda que este não seja o empregador, estaria diante de uma mão-
de-obra necessariamente subordinada e, portanto, destinatária das disposições celetistas e a
todas as proteções dela advindas43. Ou seja, a complexidade das relações de trabalho atuais
não pode justificar o desmerecimento da proteção celetista básica ao trabalhador, pois isso
significaria um grande retrocesso jurídico e social.

2.2 Requisitos para a terceirização lícita

A Súmula nº 331 do TST aborda os requisitos caracterizadores da terceirização lícita,


afirmando, em seu inciso III, não formar vínculo de emprego com o tomador a contratação de
serviços de vigilância, de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados
ligados à atividade-meio do tomador desde que inexistente a pessoalidade e subordinação
direta. Disso, pode-se depreender três pontos-base para o contrato de terceirização: a
transferência da atividade-meio; a inexistência de pessoalidade; e a inexistência de
subordinação direta do empregado para com o tomador dos serviços.
De acordo com Sérgio Pinto Martins:

Para se iniciar a terceirização, não basta a vontade de modificar as estruturas


e os processos existentes na empresa. É mister que o empresário faça um
planejamento do que pretende terceirizar. Para tanto, deve ter visão
estratégica daquilo que pretende fazer dentro de sua empresa, verificar quais
os processos que serão utilizados, além dos programas e das ações que serão
desenvolvidos.

42
SILVA, Laércio Lopes da. A terceirização e a precarização das relações de trabalho: a
atuação do juiz na garantia da efetivação dos direitos fundamentais nas relações assimétricas de poder:
uma interpretação crítica ao PL n. 4330/2004. São Paulo: LTr, 2015. p. 98.
43
Ibidem.
35

[...] A terceirização de serviços começa até mesmo em nossa própria


residência, na contratação de empregada doméstica, de jardineiro, no envio
de roupas ao tintureiro, no conserto de sapatos etc.44

Esse planejamento se dá através dos pontos anteriormente citados. O primeiro ponto é


a delegação de apenas a atividade-meio da empresa. O difícil é estabelecer quais são essas
atividades-meio, pois trata-se de conteúdo subjetivo, o que dá margem a diferentes
interpretações, resultando, em algumas vezes, em fraudes. O já citado inciso III da Súmula nº
331 aborda o que seria atividade-meio e adota os critérios da ausência de subordinação e
pessoalidade.
Sobre esses limites, o Ministro Ives Gandra explica:

O que o Direito do Trabalho quer proteger quando anatematiza a


terceirização sob a forma de mão-de-obra? O que eu quero proteger é a
possibilidade do empregado receber o tratamento daquele que é empregado
direto da empresa tomadora de serviços. Ou seja, se eu trabalho na empresa
X, fisicamente estou na empresa X, trabalho, opero o equipamento da
empresa X, porque eu sou empregado Y? Se a empresa X paga um tanto para
a empresa Y pelo trabalho que eu realizei e ela só passa um terço ou dois
terços disso que ela recebe, será que eu não podia receber direto? Este tipo
de terceirização sob a forma de mão-de-obra é o que o TST anatematiza.
Agora, o que é possível? A terceirização sob a forma de prestação de
serviço. Essa empresa terceiriza, recebe o serviço daqui, paga pelo serviço.
O pessoal da empresa terceirizada trabalha na empresa terceirizada, com
equipamento da empresa terceirizada, a única coisa que ela passa é o
produto. Ai eu não estou explorando trabalhador nenhum, a empresa que
contrata está dispondo de equipamento para o seu pessoal, faz investimentos.
O TST não admite são aquelas empresas que são uma salinha, um telefone.
Ela contrata um monte de gente e diz “Olha, estou mandando o pessoal
trabalhar aí (...)”. Não tem investimento de capital nenhum, é mera
intermediadora de mão-de-obra.45

Entretanto, há autores que admitem a terceirização na atividade-fim, como Luiz Carlos


Amorim: “[...] a proibição da sub-contratação na atividade-fim, admitindo-a só na atividade-

44
MARTINS, Sérgio Pinto. Direito do Trabalho. 25. ed. São Paulo: Atlas, 2009. p. 47.
45
CASTRO, Rubens Ferreira de. A terceirização no direito do trabalho. São Paulo:
Malheiros, 2000, p. 137.
36

meio, não se configura aceitável porque, em primeiro lugar, muitas vezes torna-se difícil ou
mesmo impossível fazer essa distinção[...]”46.
Não obstante, é necessário que se repare com a devida atenção a finalidade econômica
da empresa, encontrando assim, sua atividade-fim. Conforme bem afirma Rubens Ferreira
Castro, de acordo com o pensamento de Sérgio Pinto Martins citado acima sobre o
planejamento da empresa e suas atividades:

Admitir a terceirização da atividade-fim é o mesmo que reconhecer a


existência da empresa sem que lhe concorra empreendimento, sem que exista
organização de recursos materiais e pessoas para exercício de atividade
econômica com assunção de riscos [...] No momento em que uma empresa
transferir a execução de sua atividade final para outras, estará se
descaracterizando como tal, transformando-se em mera intermediadora de
mão-de-obra, o que é vedado pelo Direito do Trabalho.47

Assim, o que se extrai do entendimento jurisprudencial e doutrinário é que, para que a


terceirização seja lícita, é necessário que ela seja aplicada à atividade-meio da empresa.
O segundo ponto-base para a licitude da terceirização de acordo com a Súmula nº 331
é a inexistência de pessoalidade na relação de trabalho. Esse requisito é muito importante
porque, se for constatada a pessoalidade entre o empregado da empresa prestadora e a
empresa tomadora para a qual presta serviços, estará caracterizado o vínculo de emprego,
conforme prevê o artigo 3º da CLT e, consequentemente, estará desconfigurada a
terceirização.
Ou seja, o serviço a ser executado pela empresa prestadora deve ficar a cargo dela,
sendo ela responsável pela escolha dos empregados que irão trabalhar para a empresa
tomadora. Logo, não deve existir obrigatoriedade do serviço a ser executado por um único
empregado, pessoalmente designado para tal, como nos contratos típicos de trabalho. A
pessoalidade pode e deve existir entre o empregado e a empresa prestadora de serviços, pois
entre eles haverá relação de emprego. Já entre a empresa tomadora e o empregado não haverá
esse vínculo, podendo o serviço ser prestado por qualquer pessoa designada pela firma
prestadora, ou seja, o empregado é substituível.

46
BORBOTELLA, Luiz Carlos Amorim. O moderno direito do trabalho. São Paulo: LTr,
1994, p. 259.
47
CASTRO, Rubens Ferreira de. A terceirização no direito do trabalho. São Paulo:
Malheiros, 2000.
37

O terceiro ponto, por fim, é a ausência de subordinação direta do empregado para com
a empresa tomadora dos serviços e este se constitui também elemento caracterizador de
vínculo de emprego, contido no artigo 3º da CLT. Desse modo, não é permitido ao tomador
dos serviços dirigir diretamente a prestação laboral do trabalhador terceirizado, bem como é
vedada a aplicação de sanções disciplinares48.
Cumpre ressaltar, quanto aos dois últimos pontos, conforme destaca Rubens Ferreira
de Castro, que para a descaracterização da licitude da terceirização é necessária a
coexistência, na relação de trabalho, da pessoalidade e da subordinação direta entre o
empregado e a empresa tomadora. Não sendo, pois, suficiente a constatação de somente um
dos requisitos para que o vínculo empregatício esteja presente entre eles e a terceirização seja
constatada como ilícita49.
A atual demanda legislativa e econômica é pela ampliação da terceirização para
atividades-fim. Todavia, faz-se ressaltar, neste momento, que tal ampliação descaracterizaria
totalmente a ideia triangular de terceirização hoje existente, formando vínculo empregatício
entre empresa tomadora de serviços e empregados terceirizados.

2.2.1 A Súmula nº 331 do Tribunal Superior do Trabalho

Muitas foram as discussões em torno da Súmula nº 256, as quais perduraram até 1993,
quando da elaboração da Súmula nº 331, aprovada pela Resolução nº 23, com a seguinte
redação:

I – A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal,


formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no
caso de trabalho temporário (Lei n. 6.019, de 3.1.74). II – A contratação
irregular de um trabalhador, através de empresa interposta, não gera vínculo
de emprego com os órgãos da Administração Pública Direta, Indireta ou
Fundacional (art. 37, II, da Constituição da República. III – Não forma
vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância
(Lei n. 7.102, de 20.6.83), de conservação e limpeza, bem como a de
serviços especializados ligados a atividade-meio do tomador, desde que
inexistente a pessoalidade e subordinação direta. IV – O inadimplemento das
obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica na
responsabilidade subsidiária do tomador dos serviços, quanto àquelas

48
CASTRO, Rubens Ferreira de. A terceirização no direito do trabalho. São Paulo:
Malheiros, 2000.
49
Ibidem.
38

obrigações, desde que este tenha participado da relação processual e conste


também do título executivo judicial.50

A leitura da Súmula nº 331 do TST, acima transcrita, permite extrair várias orientações
que possibilitam o entendimento da amplitude de seu valor para a aplicação da terceirização.
José Ribeiro de Campos, em sua obra, traz um panorama dos precedentes
jurisprudenciais que o TST utilizou como base para editar a Súmula:

Para editar a Súmula 331, o Tribunal Superior do Trabalho teve como base
os seguintes precedentes jurisprudenciais: 1º) Embargos à SDI nº 211/90,
Relatora Ministra Cnéa Moreira, publicado no Diário da Justiça de
03.09.1993; 2º) Recurso de Revista nº 62835/92, 1ª Turma, Relator Ministro
Ursulino Santos, publicado no Diário da Justiça de 01.10.1993; 3º) Recurso
de Revista nº 44058/92, 1ª Turma, Relator Ministro Afonso Celso, publicado
no Diário da Justiça de 04.12.1993; 4º) Recurso de Revista nº 43279/82, 2ª
Turma, Relator Ministro João Tezza, publicado no Diário da Justiça de
18.06.1993; 5º) Recurso de Revista nº 24086/91, 2ª Turma, Relator Ministro
Vantuil Abdala, publicado no Diário da Justiça de 08.05.1992; 6º) Recurso
de Revista nº 41486/91, 3ª Turma, Relator Ministro Roberto Della Manna,
publicado no Diário da Justiça de 08.06.1993; 8º) Recurso de Revista nº
41974/91, 4ª Turma, Relator Ministro Marcelo Pimentel, publicado no
Diário da Justiça de 18.06.1993; 9º) Recurso de Revista nº 42286/91, 4ª
Turma, Relator Ministro Leonardo Silva, publicado no Diário da Justiça de
12.02.1993; e 10º) Recurso de Revista nº 35.607/91, 5ª Turma, Relator
Ministro José Ajuricaba da Costa e Silva, publicado no Diário da Justiça de
25.06.1993.51

Primeiramente, o Tribunal Superior do Trabalho conseguiu o que havia tentado na


Súmula 256 sem êxito: proibir a marchandage (locação de mão-de-obra) sem sacrificar outros
tipos de prestação de serviços terceirizados. Fato é que o TST optou por dar nova redação à
Súmula nº 256, hoje cancelada. Gabriela Delgado e Helder Amorim afirmam que o Direito
Constitucional e o Direito do Trabalho sempre combateram tal prática:

O Direito Constitucional brasileiro, desde o Texto Máximo de 1934, jamais


acolheu, como prática genérica, a locação de mão de obra. Toda a construção
normativa das Constituições brasileiras dos últimos 80 anos fez-se em torno

50
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula nº 331. Contrato de prestação de serviços.
Brasília, 2011. Disponível em:
<http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/Sumulas_com_indice/Sumulas_Ind_301_350.html>. Acesso
em: 20 out. 2016.
51
CAMPOS, José Ribeiro de. A terceirização e a responsabilidade da empresa tomadora
dos serviços. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 46.
39

da relação de emprego estabelecida diretamente com o tomador de serviços,


ao invés de fórmulas mercantilizadoras de utilização do trabalho humano no
sistema econômico.
Por tais razões é que a jurisprudência trabalhista resistiu a qualquer
mecanismo voltado a interceptar a relação bilateral de emprego, negando
validade a qualquer espécie de contratação de trabalho por empresa
interposta, prática reputada como comercialização de mão de obra,
fortemente condenada pelo Direito do Trabalho.52

No segundo inciso, reforça o artigo 37, II, da Constituição Federal, segundo o qual só
possui vínculo de emprego com a Administração Pública, Direta e Indireta, as pessoas
aprovadas em concurso público, na forma prevista em lei, exceto as nomeações para cargo em
comissão, declarado em lei de livre nomeação e exoneração.
Já no terceiro inciso, a Súmula admite a terceirização de quaisquer serviços ligados à
atividade-meio da empresa tomadora, desde que obedecidos os requisitos estabelecidos, já
abordados. Nesse sentido, Sérgio Pinto Martins:

Pode-se dizer que os serviços ligados à atividade-meio da empresa poderão


ser terceirizados, segundo o inciso III do Enunciado 331 do TST. A
atividade-meio diz respeito à atividade secundária da empresa (não se
referindo a sua própria atividade normal), como serviços de limpeza, de
alimentação de funcionários, de vigilância etc. Entende-se que, se os
serviços referem-se à atividade-fim da empresa, não haverá especialização,
mas a delegação da prestação de serviços da própria atividade principal da
empresa.
O Enunciado 331 do TST acabou condenando a terceirização na atividade-
fim da empresa. Entretanto, não há como negar que ampliou a possibilidade
do leque de terceirizações.
Não se pode afirmar, entretanto, que a terceirização deva restringir-se à
atividade-meio da empresa, ficando a cargo do administrador decidir tal
questão, desde que a terceirização seja lícita, sob pena de ser desvirtuado o
princípio da livre iniciativa contido no art. 170 da Constituição [...].

No quarto e último inciso, estabelece-se a responsabilidade subsidiária da empresa


tomadora de serviços pelos direitos trabalhistas dos empregados da empresa tomadora, no
caso de estes não estarem satisfeitos por ela. Com esse dispositivo, vê-se a preocupação em
introduzir uma ferramenta de defesa dos direitos dos trabalhadores de empresas prestadoras
de serviços terceirizados, não os deixando desamparados quando estas não cumprirem suas
obrigações trabalhistas. Contudo, para que isso se dê, de acordo com Sérgio Pinto Martins,

52
DELGADO, Gabriela Neves; AMORIM, Helder Santos. Os limites constitucionais da
terceirização. 2. ed. São Paulo: LTr, 2015. p. 38.
40

deve haver a inclusão da empresa tomadora no polo passivo da ação, pois, em um processo,
quem não foi parte na fase de conhecimento não o pode ser na execução53.
Todavia, a interpretação da Súmula nº 331 ainda era omissa quanto ao último inciso,
pois não tratava da responsabilidade da Administração Pública, apenas fazia referência ao
setor privado. Desse modo, o inciso IV foi alterado posteriormente pela Resolução nº 96 do
TST, passando a ser redigido da seguinte forma:

IV – O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do


empregador, implica na responsabilidade subsidiária do tomador dos
serviços, quanto àquelas obrigações, inclusive quanto aos órgãos da
administração direta, das autarquias, das fundações públicas, das empresas
públicas e das sociedades de economia mista, desde que hajam participado
da relação processual e constem também do título executivo judicial.
(Alterado pela Resolução nº 96, de 11.09.00, DJ 19.09.00).

Adotou-se, então, a responsabilidade subsidiária em casos de terceirização lícita em


que há inadimplemento de obrigações trabalhistas, tanto na esfera privada quanto na pública.
Porém, há autores que afirmam que melhor opção teria sido a adoção da responsabilidade
solidária, no que se refere aos interesses da dignidade da parte hipossuficiente da relação
trabalhista, uma vez que a empresa tomadora observaria a avaliaria melhor a empresa
terceirizante:

A nosso ver, a opção por uma responsabilidade solidária, e não apenas


subsidiária, teria dois aspectos positivos. De um lado, inibiria a terceirização,
ou pelo menos levaria a empresa-cliente a escolher com mais cuidado o
fornecedor. De outro, como pondera Souto Maior, poderia simplificar e
agilizar as execuções.
Na hipótese do servidor público, seria interessante rever o entendimento que
vinha marcando as decisões da jurisprudência trabalhista, de modo a
garantir-lhe – seja ou não terceirizado – todos os créditos que teria se a
relação fosse regular. É que do contrário continuará havendo não apenas um
incentivo à violação da lei, como a prática de enriquecimento sem causa,
ainda que em parte.54

A terceirização é assunto de evidente relevância e, por isso, as teses adotadas pelo


Tribunal Superior do Trabalho na Súmula nº 331 estão de acordo com seu Regimento Interno

53
Ibidem, p. 123.
54
VIANA, Márcio Túlio. DELGADO, Gabriela Neves. AMORIM, Helder Santos.
Terceirização: Aspectos Gerais. A última decisão do STF e a Súmula 331 do TST. Novos Enfoques.
Revista TST, Brasília, v. 77, n. 1, jan. 2011. p. 61.
41

que, no seu artigo 160, parágrafo único, prevê a edição de Súmula revestida de relevante
interesse público. Além disso, obteve-se maior proteção dos trabalhadores terceirizados.

2.2.2 Responsabilidade do tomador de serviços

Relevante discussão existe em relação à responsabilidade do tomador de serviços


pelos débitos trabalhistas dos empregados terceirizados, que não foi superada com o advento
da Súmula nº 331. A doutrina e a jurisprudência se dividem quanto à responsabilidade
subsidiária ou solidária da empresa tomadora.
Dentre os autores que entendem que o tomador não tem responsabilidade na
terceirização, está Aurélio Pires, que entende ser

injusto que numa contratação de duas pessoas jurídicas, em que uma delas
recebe os serviços, e a outra os presta, e vindo esta a inadimplir o contrato
(que lhe impõe obrigação de cumprimento da legislação trabalhista e social),
praticando assim infração contratual e também legal, o reparo pelo
descumprimento dessas obrigações se transfira para a empresa tomadora dos
serviços, inobstante ter esta cumprido corretamente o contrato que celebrara,
por uma colocação jurisprudencial de responsabilidade subsidiária, e sem a
existência de lei que a tanto autorize55.

Maior aderência da doutrina e jurisprudência, entretanto, é pela responsabilidade


subsidiária da empresa tomadora. Esse tipo de responsabilidade é, inclusive. o assegurado
pela Súmula nº 331. Segundo Abdala, a responsabilidade subsidiária é aquela em que “[...] a
responsabilidade direta é do devedor originário, e só se transfere a responsabilidade para o
devedor subsidiário quando o primeiro for inadimplente, não tendo condições de solver o
débito[...]”56.
Não obstante, há autores favoráveis a que a responsabilidade do tomador de serviços
seja ainda maior, seja solidária. Neste sentido também o é o Precedente Normativo nº 38 do
Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região, ao preceituar que “o tomador da mão de obra,

55
PIRES, Aurélio. Terceirização: responsabilidades – um tema para reflexão, 2000. In:
CAMPOS, José Ribeiro de. A terceirização e a responsabilidade da empresa tomadora dos
serviços. São Paulo: IOB Thomson, 2006; p. 59.
56
ABDALA, Vantuil. Terceirização: atividade-fim e atividade-meio – responsabilidade
subsidiária do tomador de serviço. Revista LTr, São Paulo, v. 60, n. 5, maio 1996. p. 589.
42

ainda que em atividade-meio, é responsável solidário pelos créditos trabalhistas do


trabalhador assim alocado, correspondente ao tempo que durar a terceirização”57.
Na responsabilidade solidária, todos os devedores ou credores respondem pelo crédito
ou débito na mesma medida, podendo a parte beneficiada recorrer a qualquer um dos sócios
quando quiser satisfazer o que haviam avençado. Assim, na terceirização, o trabalhador
poderia recorrer tanto ao tomador quanto ao prestador de serviços, independentemente de ser
este o inadimplente.
Diante dessas posições, primeiramente deve-se questionar a respeito da natureza do
contrato de trabalho de terceirização. Se este contrato for de natureza civil entre partes
empresariais (empresa tomadora com a prestadora), pode ter efeito no contrato de trabalho de
uma pessoa que não participou, em nenhum momento, do contrato firmado entre tais partes
empresariais? De acordo com Laercio Lopes da Silva58, responder a esse questionamento de
forma positiva seria aceitar que as partes de um contrato de natureza civil podem decidir
livremente sobre ônus para um terceiro em um contrato de trabalho sem a participação deste
ou ciência das condições contratadas. Para o autor, esse ônus diz respeito aos efeitos da
responsabilidade subsidiária da tomadora, que remeteria o pagamento das verbas do
trabalhador a um futuro incerto. Para ele, ao impor ao empregado a responsabilidade
subsidiária da tomadora dos serviços, impor-se-ia a ele a renúncia de ter os seus direitos
igualmente de ambos que o exploraram.
Laercio da Silva é, pois, defensor de que a responsabilidade do prestador e do tomador
seja sempre solidária, com base em sete suportes:

i) não se pode transportar a responsabilidade advinda de um contrato para


um terceiro que dele não participou;

ii) o contrato entre o tomador e o prestador tem natureza civil, portanto o


benefício de ordem nele estabelecido não pode ser transportado para um
terceiro que não participou dessa relação;

iii) não se pode impor ao trabalhador ônus de fato do contrato do qual não
pôde opinar;

57
BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. Precedente Normativo n° 38.
Disponível em: <http://www.trtsp.jus.br/geral/tribunal2/SUM_TRT2/precedentes_trt02.html>. Acesso
em: 31 jul. 2016.
58
SILVA, Laercio Lopes da. A terceirização e a precarização nas relações de trabalho: a
atuação do juiz na garantia da efetivação dos direitos fundamentais nas relações assimétricas de poder:
uma interpretação crítica ao PL n. 4330/2004. São Paulo: LTr, 2015.
43

iv) o benefício de ordem milita em favor do credor no juízo cível, portanto


não pode ser transportado para o Direito do Trabalho em prejuízo ao
empregado (princípio da norma mais favorável);

v) o benefício de ordem é incompatível com o Direito do Trabalho, pois


trata-se de um instrumento para postergar o pagamento das verbas
rescisórias que têm natureza alimentícia;

vi) a firmação da responsabilidade do tomador não passou pelo crivo do


contraditório trabalhista, portanto não teve oportunidade o empregado de
questionar a natureza da responsabilidade, vez que na audiência trabalhista o
empregado apenas tem a oportunidade de comprovar o período em que
trabalhou para a tomadora para limitar a responsabilidade subsidiária desta,
violando o devido processo legal. Vale dizer, não existe um verdadeiro
contraditório, visto que ao empregado não é dado o direito de questionar a
natureza da responsabilidade e transformá-la em solidária, vale dizer que o
contraditório é limitado e condicionado;

vii) viola o princípio constitucional da duração razoável do processo.59

Quando se fala em responsabilidade civil, inevitavelmente chega-se a questão da


reparação de danos. E se há dano, há o dever de indenizar. Nesse sentido, se a norma
infringida é de direito privado, surge a responsabilidade civil e, se de direito público, surge a
responsabilidade penal. Para José Augusto Rodrigues Pinto60, a responsabilidade estabelecida
na relação de emprego típica, ou seja, a responsabilidade trabalhista, surge da execução do
contrato firmado entre empregado e empregador, que implica no adimplemento das prestações
de cada contratante, ou seja, a oferta da mão de obra e a retribuição dada por ela. O problema
se dá quando essas obrigações não são adimplidas e, maior ainda, se torna quando há um
terceiro envolvido.
O Código Civil aborda duas formas clássicas de responsabilidade civil: a objetiva e a
subjetiva. Em seu artigo 927, parágrafo único, afirma os casos de responsabilidade objetiva:

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,
fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de
culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.

59
Ibidem, p. 53.
60
PINTO, José Augusto Rodrigues. Breves cogitações sobre a responsabilidade no direito do
trabalho. Revista de Direito do Trabalho, São Paulo, ano 31, n. 117, p. 116-118, jan./mar. 2005.
44

Dessa forma, segundo Dallegrave 61 , é objetiva a responsabilidade do empregador


quando da execução do contrato de trabalho, conquanto, ressalva que o fundamento jurídico
para adoção da responsabilidade objetiva na esfera contratual trabalhista não se encontra
restrito à teoria do risco proveito, nem no conceito legal de empregador, previsto no caput do
artigo 2º da CLT, mas decorre do chamado solidarismo constitucional, traduzido por ele
como valorização da dignidade humana e com base nos fundamentos da ordem econômica:
função social da propriedade, primado do trabalho, proteção ao meio ambiente e busca de
pleno emprego (arts. 1º, III; 3º, I; 170 e 193 da Constituição Federal).
Ainda mais complexa é a situação quando a tomadora dos serviços é a Administração
Pública. Quando editada, a Súmula nº 331 não mencionava tal assunto.
A discussão gira em torno do artigo 71, parágrafo 1º, da Lei n° 8.666/93, que dispõe
expressamente que não há responsabilidade do ente público; que o contratado, ou seja, o
prestador de serviços, é responsável pelos encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e
comerciais resultantes da execução do contrato e que a inadimplência não é transferida à
Administração Pública. Nesse sentido, entende Marçal Justen Filho:

Fica expressamente ressalvada a inexistência de responsabilidade da


Administração Pública por encargos e dívidas pessoais do contratado. A
Administração Pública não se transforma em devedora solidária ou
subsidiária perante os credores do contratado. Mesmo quando as dívidas se
originarem de operação necessária à execução do contrato, o contratado
permanecerá como único devedor perante terceiros.62

Há, porém, outra corrente que entende que a Administração Pública deve sim ter
responsabilidade pelo inadimplemento dos créditos trabalhistas não quitados pela empresa
prestadora de serviços. Nesse sentido, Mauro César Martins de Souza afirma que

o trabalho foi considerado pela Carta Magna um valor social, um dos


fundamentos do Estado Democrático de Direito. Deste modo, não restaria
espaço para a aplicação do art. 71 da Lei n° 8.666/93, porque privilegia a
Administração Pública em detrimento do Direito Social do Trabalho,
tornando as entidades estatais irresponsáveis por seus atos”. E enfatiza que
“o processo licitativo para a contratação de serviços por empresas
integrantes da Administração Pública Indireta não as isenta de responderem
pelos encargos trabalhistas como tomadoras dos serviços, dada a regra do

61
DALLEGRAVE, José Afonso Neto. Responsabilidade civil no direito do trabalho. 3. ed.
São Paulo: LTr, 2008. p. 78.
62
JUSTEN FILHO, Marçal. Comentários à lei de licitações e contratos administrativos. São
Paulo: Dialética, 2000. p. 566.
45

art. 173, § 1º, da Constituição que equipara o ente público ao empregador


comum para efeito de obrigações trabalhistas e tributárias.63

Toda essa divergência levou ao Tribunal Superior do Trabalho um conflito de


jurisprudência em razão da matéria e houve a revisão do inciso IV da Súmula nº 331, ficando
decidido pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST) que a Administração Pública somente
será isenta de responsabilidade se o contratado agiu dentro das regras e procedimentos
normais de desenvolvimento de suas atividades e se o próprio órgão administrativo que o
contratou pautou-se nos estritos limites e padrões de normatividade pertinentes.

2.2.2 As vantagens da terceirização para o tomador de serviços

A terceirização foi a saída encontrada pelos empresários para reformular suas relações
de produção, de maneira menos dispendiosa, a fim de superar os efeitos da globalização.
As empresas que, primeiramente, passaram pelas fases de centralização e
verticalização, adotaram também o processo de terceirização, tornando-se mais ágeis,
eficientes, ganhando qualidade, especialização e competitividade dos seus produtos no
mercado globalizado64.
Como já abordado, a terceirização está associada à focalização, uma estratégia das
empresas de concentrar suas atividades naquilo que é primordial aos seus negócios,
facilitando a gestão empresarial. Com a terceirização, as empresas reduzem custos, melhoram
o desempenho e a qualidade da produção, pois realizam um menor número de processos
produtivos, ponto importante para enfrentar a concorrência.
Pastore, em sua obra, afirma que até pouco tempo atrás as empresas terceirizavam
exclusivamente para reduzir custos. Hoje, as empresas consideram vários fatores para
terceirizar, como: especialização superior; transferência de conhecimentos; melhoria na

63
SOUZA, Mauro César Martins de. Responsabilização do tomador de serviços na
terceirização. In: CAMPOS, José Ribeiro de. A terceirização e a responsabilidade da empresa
tomadora dos serviços. São Paulo: IOB Thomson, 2006. p. 63.
64
QUEIROZ, Carlos Alberto Ramos Soares de. Manual de terceirização. São Paulo: STS,
1992. p. 14.
46

utilização dos próprios recursos; economias de escala; redução de riscos do negócio; e


redução de custos de produção65.
O mesmo autor analisa os dados de uma pesquisa feita pela Confederação Nacional da
Indústria (CNI) em 2014:

Com base em dados coletados pela Confederação Nacional da Indústria em


2014, para 88% das empresas brasileiras do setor industrial a maior
vantagem da terceirização é a economia de tempo. Para 85% delas é a
redução de custos. Para 84%, é a melhoria da qualidade dos serviços. Para
74%, é o acesso às novas tecnologias usadas pelos prestadores de serviços

[...] indagados sobre o que aconteceria sem terceirização, mais da metade


dos informantes na referida pesquisa indicaram que as empresas seriam
gravemente afetadas na capacidade de competir, sobreviver e crescer, o que
provocaria sérios impactos sobre os empregos. Como se sabe, empresas com
dificuldade de competir, de sobreviver no mercado, quando falecem,
enterram sua capacidade econômica e seus empregos.66

Carlos Alberto Queiroz também afirma que as consequências positivas para as


empresas são: geração de desburocratização; alívio da estrutura organizacional, oferta de
melhor qualidade na prestação de serviços, contribuindo para a melhoria do produto final;
mais eficácia empresarial; aumento da flexibilidade nas empresas; maior agilidade decisória e
administrativa; simplificação da organização; incremento da produtividade; como uma das
consequências, a economia de recursos humanos, materiais, instrumental, de equipamentos,
econômicos e financeiros67.
São claras as vantagens para a empresa tomadora de serviços com a utilização da
terceirização. Porém, conforme discutido no tópico anterior, como a tomadora carrega várias
vantagens com a mão-de-obra terceirizada, seria justo e necessário que ela também carregasse
responsabilidade sobre os trabalhadores que tanto facilitam sua vida produtiva.
Nesse sentido, faz-se necessária a criação de uma legislação específica para regular o
assunto, conforme será tratado a seguir. Pedro Manus lembra que

65
PASTORE, José; PASTORE, José Eduardo G. Terceirização: necessidade para a economia,
desafio para o direito. São Paulo: LTr, 2015. p. 32.
66
Ibidem.
67
QUEIRÓZ, Carlos Alberto Ramos Soares. Manual de terceirização. São Paulo: STS, 1992.
p. 255.
47

atravessamos um período em que se busca criar e adaptar novas formas de


prestação de serviço às exigências de mercado, por meio do processo
denominado de terceirização, mas que exige cuidado para não perder de
vista a necessária proteção que o Direito do Trabalho deve dispensar aos
trabalhadores de forma geral68.

As empresas prestadoras de serviços também têm vantagens com a terceirização.


Principalmente, porque com o advento desse fenômeno, aumentou-se o número de micro e
pequenas empresas em todos os setores da economia; e houve um crescimento do chamado
terceiro setor. De acordo com Lívia Miraglia:

Instituem-se pequenas empresas, que gravitam em torno de uma grande


empresa para prestar-lhe mão-de-obra. Ou seja, as empresas delegam
funções não-essenciais à sua finalidade para outras, com o propósito de
diminuir gastos, concentrando-se na sua atividade-fim e criando novas
tecnologias e melhores produtos.69

Sérgio Pinto Martins vê a terceirização como estratégia adotada pela empresa para
bem administrar seus interesses econômicos; porém, alerta para o fato de que a terceirização
não está definida em lei, nem há norma jurídica tratando, até o momento do tema. Por isso, a
utilização da terceirização pelas empresas traz problemas jurídicos que precisam ser
analisados, mormente no campo trabalhista70.
Resta verificar, como será feito adiante, como a situação dos trabalhadores fica em
relação à prática da terceirização, se seus direitos fundamentais, sociais e trabalhistas são
respeitados, além de analisar o PL nº 4330/2004, se seria um bom começo para uma
legislação acerca do tema.

68
MANUS, Pedro Paulo Teixeira. Direito do trabalho. 5. ed. São Paulo: Atlas, 1999. p. 75.
69
MIRAGLIA, Livia Mendes Moreira. Terceirização trabalhista no Brasil. São Paulo:
Quartier Latin, 2008. p. 119.
70
MARTINS, Sérgio Pinto. A terceirização e o direito do trabalho. São Paulo: Atlas, 2001.
48

2.3 Os limites constitucionais da terceirização

A Constituição Federal de 1988 não regula e nem trata especificamente do fenômeno


da terceirização, entretanto, aduz limites claros a esse processo. Segundo Maurício Godinho
Delgado:

Os limites da Constituição ao processo terceirizante situam-se no sentido de


seu conjunto normativo, quer nos princípios, quer nas regras assecuratórias
da dignidade da pessoa humana (art. 1º, III), da valorização do trabalho e
especialmente do emprego (art. 1º, III, combinado com art. 170, caput), da
busca de construção de uma sociedade livre, justa e solidária (art. 3º, I), do
objetivo de erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades
sociais (art. 3º, III), da busca da promoção do bem de todos, sem
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de
discriminação (art. 3º, IV).71

Logo após esses primeiros fundamentos, a Constituição Federal estabelece os


princípios gerais da atividade econômica, fundado na valorização do trabalho e na livre
iniciativa e, depois, a disposição geral da ordem social, com o objetivo de estabelecer o bem-
estar e a justiça social.
A Súmula nº 331 do Tribunal Superior do Trabalho encontra também respaldo na
Constituição Federal, em respeito ao princípio constitucional da legalidade, disposto no artigo
5º, inciso II, da Norma Constitucional, que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer
alguma coisa senão em virtude de lei.
Segundo Delgado e Amorim72, o princípio da legalidade, hoje, não mais se reduz à
estrita sujeição à lei em sentido formal, mas evoluiu para também compreender um sentido
material da lei, como um princípio de juridicidade que, considerando o conteúdo do sistema
constitucional vigente, submete a vontade do particular aos atos normativos primários e
secundários emanados de autoridade competente, formalmente legitimados pelo processo
legislativo, mas ainda materialmente conformados à Constituição.

71
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de direito do trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr, 2015.
p. 484.
72
DELGADO, Gabriela Neves; AMORIM, Helder Santos. Os limites constitucionais da
terceirização. 2. ed. São Paulo: LTr, 2015.
49

O princípio da legalidade tem um grande valor democrático, pois acompanha e


permite as interpretações e fundamentações jurídicas acerca de um tema, sempre dentro do
limite da lei. Quanto ao tema da terceirização, os mesmos autores afirmam:

Percebe-se, assim, que ao negar validade à terceirização na atividade-fim,


por reconhecer nessa prática um ato de fraude objetiva contra a relação de
emprego, a Súmula n. 331 observa rigorosamente o princípio constitucional
da legalidade, seja porque está ancorada na legislação trabalhista, seja
porque está democraticamente legitimada em fundamentação jurídica que
considera os impactos negativos da terceirização sobre a relação de emprego.
Essa jurisprudência da Corte Trabalhista, consolidada há mais de duas
décadas, é fruto de uma evolução argumentativa coerente com a ordem de
princípios constitucionais protetivos do trabalho, às quais a Justiça do
Trabalho deve obediência, conferindo segurança jurídica ao jurisdicionado.73

Além do princípio da legalidade, existem alguns conceitos constitucionais, por vezes


elevados também à condição de princípios, que fazem parte (ou ao menos deveriam) da
relação de emprego. Assim, tem-se a dignidade da pessoa humana, traduzida por José Afonso
da Silva como “[...] um valor supremo que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais
do homem”74.
A dignidade se centra na figura humana, ser de direitos e obrigações. No seu artigo
170, a Constituição Federal determina que a ordem econômica garanta a todos uma existência
digna e, no artigo 193, exige que a ordem social tenha como objetivos o bem-estar e a justiça
social. Segundo Maurício e Gabriela Delgado, o princípio da justiça social “modula os valores
econômicos no tocante à criação e, principalmente, à distribuição de riquezas no país, em
favor da existência de eficientes mecanismos de natureza legal ou administrativa voltados a
assegurar a realização concreta da justiça social”75.
Em tópicos anteriores já foi mencionado que a terceirização é um mecanismo de
flexibilização do Direito do Trabalho que, diante de transformações políticas e econômicas,
surgiu no mundo e acompanha o sistema toyotista de produção. Com esse fenômeno, a
empresa fica livre de realizar atividades que não fazem parte de seu foco produtivo. Em 1993,

73
Ibidem, p. 81.
74
SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 18. ed. São Paulo:
Malheiros, 2000. p. 109.
75
DELGADO, Maurício Godinho; DELGADO, Gabriela Neves. Tratado jurisprudencial de
direito constitucional do trabalho. São Paulo: Revista dos Tribunais, 201. v. I. p. 144.
50

o Tribunal Superior do Trabalho editou a Súmula n° 331 que, em seu item III, admite a
terceirização como lícita nas atividades especializadas ligadas à atividade-meio do tomador de
serviços. A Constituição Federal de 1988, mesmo antes da edição de tal Súmula, limitava a
terceirização às atividades-meio.
No que tange à terceirização por parte da Administração Pública, o limite é imposto,
primeiramente, pelo princípio da impessoalidade, que exige concurso público para a
contratação de pessoas para provimento de cargos e empregos públicos nas atividades
finalísticas dos órgãos e entres públicos (artigo 37, II, da Constituição Federal). A
terceirização no setor público somente é admitida para serviços de apoio (artigo 37, XXI, da
Constituição Federal).
Já no setor privado, as regras constitucionais não barram a terceirização em norma de
impessoalidade, pois o empreendedor é livre na escolha de seus empregados. Cumpre
ressaltar que o trabalhador terceirizado é, assim como qualquer outro trabalhador, titular de
todos os direitos fundamentais previstos nos artigos 7º a 11 da Constituição Federal e a prática
da terceirização de serviços, mesmo que somente na atividade-meio, já impõe sérias restrições
à proteção dos direitos fundamentais dos trabalhadores, expressa nesses dispositivos.
No setor privado, diante da liberdade conferida aos empregadores pela Constituição
não há um limite claro à terceirização, como no caso do setor público e é por isso, que se faz
necessária a criação de uma legislação para a terceirização que seja abrangente e de acordo
com as medidas protetivas estabelecidas na Constituição aos trabalhadores em geral. Nesse
sentido, Delgado e Amorim esclarecem:

Por sua vez, define-se no âmbito de proteção do direito fundamental dos


trabalhadores, agora em dois planos distintos: aos trabalhadores que operam
na atividade finalística da empresa, a Constituição reserva o regime de
emprego direto e bilateral com o empreendedor beneficiário final de sua mão
de obra, no padrão máximo de proteção previsto em seus arts. 7º a 11; e aos
trabalhadores terceirizados, que operam na atividade-meio da empresa
tomadora, intermediados pela empresa prestadora e vulneráveis ao modelo
de emprego rarefeito, a Constituição reserva uma relação de emprego com a
máxima proteção social possível no contexto da terceirização, o que remete à
necessidade permanente de uma legislação que confira a máxima densidade
protetiva possível a esse trabalhador, com vistas à máxima superação
possível do modelo de emprego rarefeito.
[...] uma legislação trabalhista especial, protetiva do trabalhador terceirizado,
ainda que atenue ao máximo os efeitos deletérios sobre o sistema
justrabalhista de proteção à relação de emprego, não conseguirá conferir à
51

relação triangulada de trabalho o mesmo patamar protetivo decorrente da


integração do empregado direito à vida institucional da empresa principal.76

Assim, os autores afirmam que se faz necessário invocar o princípio da efetividade da


Constituição Federal, segundo o qual, é dever do intérprete e do legislador conferir a máxima
realização possível à norma constitucional, fazendo prevalecer no mundo dos fatos os valores
por ela tutelados.
Diante dos dispositivos protetivos citados da Constituição é possível afirmar que ela
admite excepcionalmente a terceirização de serviços em atividades-meio, em âmbito privado,
desde que haja o máximo de respeito aos direitos fundamentais dos trabalhadores
terceirizados. Além disso, é possível inferir que a terceirização em atividades-finais das
empresas é prática, de certo modo, inconstitucional, pois viola o direito fundamental do
trabalhador à relação de emprego com o empreendedor beneficiário final de sua mão de obra,
no espaço central da atividade empresarial.
Como já abordado, a ampliação da prática da terceirização para as atividades-fim
geraria uma descaracterização da própria terceirização, conforme afirma Souto Maior:

De um ponto de vista metodológico, só se poderia entender juridicamente


válida a terceirização como uma forma excepcional de contratação, para não
quebrar a regra geral e o projeto constitucional baseado na relação de
emprego e na fixação de responsabilidades sociais diretamente ao capital. A
generalização da terceirização, portanto, gera, como efeito, reverso, o fim da
terceirização, já que não se pode chegar ao fim da relação de emprego ela
própria e do projeto constitucional que carrega consigo, simplesmente, para
atender a um postulado setorial integrado a uma lei.77

A terceirização de atividade-fim da empresa, consequentemente, pode trazer para a


relação de trabalho os elementos caracterizadores do vínculo empregatício, que faltam na
prestação de serviços terceirizados em atividades-meio. Além disso, a contratação de serviços
na atividade-fim das empresas tem sua validade negada, por configuração de fraude ao regime
de emprego, nos termos do artigo 9º da CLT, podendo-se entender que não está inserida no
âmbito da liberdade de contratação do empreendedor.

76
DELGADO, Gabriela Neves; AMORIM, Helder Santos. Os limites constitucionais da
terceirização. 2. ed. São Paulo: LTr, 2015. p. 133.
77
MAIOR, Jorge Luiz Souto. Juridicamente, a terceirização já era: acabou! Disponível em:
<http://www.jorgesoutomaior.com/blog/-juridicamente-a-terceirizacao-ja-era-acabou>. Acesso em: 2
ago. 2016.
52

2.3.1 A necessidade de regulamentação do tema adequado à Constituição Federal

A terceirização só foi possível através da implementação de mecanismos de


flexibilização trabalhista. A Constituição Federal de 1988, com a intenção de satisfazer
algumas necessidades modernas do capital, também implementou certos mecanismos deste
tipo.
A Norma Constitucional, por exemplo, instituiu a flexibilização de direitos
indisponíveis mediante negociação coletiva. O inciso VI, do artigo 7º, da Constituição Federal
afirma que é direito dos trabalhadores urbanos e rurais a irredutibilidade de salário, salvo o
disposto em convenção ou acordo coletivo. No mesmo artigo, inciso XIII, é disposto que a
duração do trabalho normal não será superior a oito horas diárias e quarenta e quatro
semanais, porém, facultada a compensação de horários e a redução da jornada mediante
acordo ou convenção coletiva de trabalho. Ainda, no inciso XIV, dispõe que a jornada será de
seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo também
casos de negociação coletiva.
Fato é que, após a promulgação da Constituição de 1988, foi adotada de modo intenso
a flexibilização das normas trabalhistas no Brasil, tudo com o argumento falacioso de que ao
se proteger a empresa, o capital, se está protegendo o trabalhador (do desemprego e da
miséria)78. Nesta linha temporal, surge também o Projeto de Lei objeto deste estudo, n° 4330,
em 2004, a fim de regulamentar a prática da terceirização no Brasil, o qual será analisado
mais profundamente no próximo tópico.
Certo é que, no Brasil, a falta de segurança jurídica para as empresas contratantes e a
precária proteção trabalhista aos empregados das contratadas decorre, principalmente, da não
existência de uma legislação moderna sobre terceirização. Mesmo que a Constituição permita
certas flexibilizações, conforme demonstrado, uma legislação moderna acerca do tema,
poderia, partindo dos princípios protetivos que a Constituição Federal também carrega, dos
direitos fundamentais e sociais, superar os limites e trazer maior proteção aos trabalhadores e
maior responsabilidade às empresas que terceirizam.

78
MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira. Terceirização trabalhista no Brasil. São Paulo:
Quartier Latin, 2008. p. 110.
53

Pastore traz como grande empecilho aos operadores do direito o fato de não se
conseguir definir, a contento, o que constitui uma atividade-fim de uma atividade-meio; entre
os próprios magistrado há mais divergência do que convergência em relação à essas
definições79. O autor questiona:

Apesar de todo o esforço empreendido, a definição ainda traz dúvida: o que


é normal? O que é permanente? A manutenção permanente do respirador
artificial de uma UTI, que é feita por pessoal especializado, não pode ser
terceirizada? Será que o permanente de hoje é o mesmo permanente de
amanhã? Hoje, a empresa pode querer comprar de fora uma tarefa que faz
parte de suas atividades de rotina. Amanhã, pode querer internalizá-las
novamente. Mais tarde pode passar para fora. Enfim, o zigue-zague é próprio
da produção e do trabalho moderno. Nos sistemas de produção atuais que
são operados no meio de muitas redes – em geral em cascata – é impossível
determinar com precisão o que é meio e o que é fim, o que é permanente e o
que é temporário, o que é normal e o que é “anormal”.80

A Súmula nº 331, já analisada, restringe a terceirização às atividades-meio,


mas não as define precisamente. Tal Súmula foi uma tentativa de regulação do tema, porém,
por não ser lei, pouco impacto exerce nas empresas quando da contratação de serviços ligados
à sua atividade-fim. Desse modo, as decisões judiciais são tomadas com base numa
jurisprudência bastante confusa, com entendimentos diferentes acerca do tema, o que causa
insegurança para as empresas e precariedade aos trabalhadores.
Como demonstra as ementas a seguir, as decisões judiciais, inclusive nas instâncias
superiores, tribunais, são baseadas, quase que exclusivamente, em outras jurisprudências,
decorrente do vácuo legal que há acerca do tema:

AGRAVO. DECISÃO MONOCRÁTICA. INSTITUIÇÃO BANCÁRIA


PRIVADA. TERCEIRIZAÇÃO. ATIVIDADE-FIM. CALL CENTER.
ILICITUDE. VÍNCULO DIRETO COM O TOMADOR. O entendimento
desta Corte é o de que a existência de terceirização de atividade fim do
banco, por intermédio da execução de serviços de call center, os quais são
indispensáveis para a venda dos produtos bancários e atendimento aos
clientes, demonstram a ilicitude da terceirização. No caso dos autos,
demonstrado que o reclamante exercia atividades ligadas à atividade-fim da
empresa tomadora de serviços - banco - , o vínculo de emprego deve ser

79
PASTORE, José; PASTORE, José Eduardo G. Terceirização: necessidade para a economia,
desafio para o direito. São Paulo: LTr, 2015.
80
Ibidem, p. 57.
54

reconhecido diretamente com este, por força do item I da Súmula nº 331 do


TST. Precedentes. Agravo a que se nega provimento.81 (Grifos nossos).

RECURSO DE REVISTA. TERCEIRIZAÇÃO. ATIVIDADE FIM DA


EMPRESA TOMADORA DE SERVIÇOS. EMPRESA DE
TELECOMUNICAÇÕES. VÍNCULO EMPREGATÍCIO. Trata-se de
contratação de empregado por empresa interposta para prestação de serviços
na Telemar Norte Leste S.A. em atividades de instalação e reparação de
cabos telefônicos. Sob o fundamento de existência de intermediação de mão
de obra, a Turma manteve a condenação solidária, ante a constatação do
exercício de tarefas relacionadas à atividade fim da tomadora de serviços.
Não se viabiliza a pretensão de reforma do julgado, para reconhecer válido
contrato de terceirização e a consequente aplicação da Súmula 331, IV, do
TST. A questão da terceirização de serviços evidencia-se de forma
incontestável no cenário social da atualidade, gerando inúmeros debates a
respeito de sua conveniência e de seus resultados, sociais e econômicos. O
tema foi objeto de intensa reflexão nesta Corte trabalhista, nos dias 4 e 5
de outubro de 2011, na primeira audiência pública de sua história. Sob a
perspectiva jurídica, emergiu a discussão acerca da licitude da terceirização
da atividade inerente aos serviços de telefonia. Houve, a propósito, a
necessária interpretação dos termos da Lei 9.472/97, a qual, em rigor, é
omissa quanto à matéria trabalhista, pois importou ao legislador
regulamentar os serviços de telefonia no tocante à relação entre as empresas
que os executariam e dois de seus interlocutores: a agência reguladora e os
consumidores. Havendo conflito de ordem puramente consumerista ou
econômica, os usuários (ou consumidores) e a Agência estariam protegidos,
pois poderiam atribuir responsabilidade à concessionária, sem demandar
necessariamente contra a prestadora dos serviços. Havendo, porém, conflito
de ordem laboral, a lei seria omissa quanto à obrigação de a concessionária
honrar igualmente os haveres trabalhistas e assim se poderia intuir que os
trabalhadores poderiam cobrar seus créditos de natureza alimentar somente
das empresas interpostas. Em decisão emblemática (E-RR-
586.341/1999.4), a SBDI-1 do TST repeliu a adoção por reflexo da citada
lei para que se imunizasse a empresa concessionária das obrigações
trabalhistas que derivariam, segundo a jurisprudência antes consolidada, de
seu vínculo direto com os empregados envolvidos em sua atividade fim.
Embora não se pretenda que o direito do trabalho engesse ou paralise a
atividade econômica, cabe-lhe por certo estabelecer os parâmetros que
viabilizam a progressão da economia - inclusive na perspectiva da geração
de emprego e renda - sem aviltamento da dignidade humana. Os sistemas
econômico e jurídico-trabalhista não se excluem, antes devendo interagir. E
se há um princípio regente do direito do trabalho, resultante da ponderação
levada a efeito pelos agentes da jurisdição trabalhista, a exegese do art. 94,
II, da Lei 9.472/97 a ele deve moldar-se, interpretando-se a autorização de
"contratar com terceiros o desenvolvimento de atividades inerentes" sem
apego em demasia ao léxico, que conduziria à imunização do setor de

81
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Agravo de Instrumento em Recurso de Revista nº
1014-91.2012.5.05.0015. Agravante: Contax Mobitel. Agravados: Banco Itaucard S.A. e Lucas Abreu
Freitas. Relator: Emmanoel Pereira. Brasília, 24 de junho de 2015. Disponível em:
<http://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/204184092/agravo-de-instrumento-em-recurso-de-revista-
ag-airr-10149120125050015>. Acesso em: 8 ago. 2016.
55

telecomunicações quanto à norma a que estariam sujeitos todos os outros


setores de produção. Os depoimentos e dados colhidos durante a audiência
pública retratam ainda a precarização do setor terceirizado mediante
incidência desproporcional de acidentes de trabalho, desigualdade salarial e
descolamento da categoria profissional representada pelo sindicato que
congrega os trabalhadores afetos à atividade fim, como se as leis de
organização sindical cuidassem da terceirização como uma atividade
econômica per si. Assim, proscreve-se a terceirização da atividade fim, vale
dizer, ao titular da empresa tomadora dos serviços deve ser imputada a
qualidade de empregador, para efeitos trabalhistas. São essas as razões pelas
quais subsiste a Súmula 331, I, do TST, atribuindo-se à concessionária dos
serviços de telefonia a condição de empregadora. Incidência da Súmula 333
do TST e do § 4º do art. 896 da CLT. Recurso de revista conhecido e não
provido.82 (Grifos nossos).

Pastore entende que uma boa terceirização se dá quando as empresas contratantes


conseguem manter do seu lado, como aliadas, as contratadas e, nessa aliança, é essencial o
respeito aos direitos trabalhistas:

A terceirização implica parceria entre contratantes e contratados. Uma lei


inteligente terá de usar essa parceria para dividir responsabilidades entre as
empresas. As contratadas precisam aprender e respeitar a lei e as
contratantes precisam monitorar a execução dos contratos do começo ao
fim.83

Conclui-se que, mais importante do que as discussões acerca de atividade-meio e


atividade-fim e no tocante aos diversos entendimentos jurisprudenciais, é que seja criado um
regramento legal (quiçá constitucional) acerca da terceirização, pois tal prática cresce em um
contexto econômico que busca cada vez mais rapidez e eficácia na produção; ou seja, uma
legislação que dê segurança jurídica às empresas e proteção trabalhista aos empregados.
Vários projetos tramitam no Congresso Nacional há mais de dez anos, mas nenhum
contempla os objetivos abordados aqui. No momento, tramita o Projeto de Lei nº 4330/04, já
aprovado pela Câmara dos Deputados. Resta analisar se a aprovação desse projeto consistiria
em um avanço ou em um retrocesso.

82
BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho (6ª Turma). Recurso de Revista nº 243-
95.2012.5.01.0057. Recorrente: Telemar Norte Leste S.A. Recorridos: Wagner Aranha da Silva e
Logictel S.A. Relator: Augusto César Leite de Carvalho. Brasília, 16 set. 2015. Disponível em:
<http://tst.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/234223642/recurso-de-revista-rr-2439520125010057>.
Acesso em: 8 ago. 2016.
83
PASTORE, José; PASTORE, José Eduardo G. Terceirização: necessidade para a economia,
desafio para o direito. São Paulo: LTr, 2015. p. 60.
56

2.4 O Projeto de Lei nº 4330/2004

Conforme visto até então, a terceirização vem sendo regulada somente pela Súmula n°
331 do Tribunal Superior do Trabalho. Todavia, recentemente a discussão acerca do tema tem
sido acalorada, com o Projeto de Lei nº 4330, apresentado em 26 de outubro de 2004, pelo
Deputado Sandro Mabel (PL-GO), que foi aprovado pela Câmara dos Deputados, sob
relatório do Deputado Arthur Oliveira Maia (PMDB-BA), em 8 de abril de 2015, em Sessão
Extraordinária da casa.
Para que seja possível uma melhor compreensão acerca do tema, far-se-á uma
comparação entre o fenômeno da terceirização antes e depois do Projeto de Lei em questão,
com base nos entendimentos de Fernando Borges Vieira84 e Fabíola Marques85.
Antes do Projeto de Lei nº 4330/04 não havia regramento jurídico sobre a
terceirização, cabendo à citada Súmula nº 331 estabelecer a impossibilidade de terceirização
das atividades-fim e a permissão apenas em relação às atividades-meio (atividades
consideradas não essenciais ou secundárias). Era permitida a terceirização em quatro
hipóteses delimitadas pela Súmula: contratação de trabalhadores por empresa de trabalho
temporário, contratação de serviços de vigilância, de serviços de conservação e limpeza, e de
atividades-meio em geral, desde que não houvesse subordinação direta.
Com o Projeto de Lei nº 4330/04, qualquer atividade pode ser terceirizada, seja ela
inerente, acessória ou complementar à atividade da empresa tomadora. Os que criticam a
proposta afirmam que os direitos trabalhistas podem ser violados com a aprovação do Projeto,
pois o contratado não estaria coberto pela CLT. Para os críticos, a ampliação da possibilidade
de terceirização dos serviços foge do principal objetivo para o qual a terceirização foi criada86.

84
VIEIRA, Fernando Borges. Vantagens e desvantagens do projeto de lei sobre
terceirização. 2015. Disponível em: <http://www.conjur.com.br/2015-abr-14/fernando-vieira-
vantagens-desvantagens-pl-terceirizacao>. Acesso em: 9 ago. 2016.
85
MARQUES, Fabíola. In: TEIXEIRA, Maíra. Veja como a lei da terceirização vai mudar a
vida do trabalhador. iG, São Paulo, 9 abr. 2015. Disponível em: <http://economia.ig.com.br/2015-04-
09/veja-como-a-lei-da-terceirizacao-vai-mudar-a-vida-do-trabalhador.html>. Acesso em: 9 ago. 2016.
86
SPAGNOL, Débora. A terceirização, o projeto de lei 4.330/2004 e seus impactos –
vantagens, desvantagens e modificações. 2015. Disponível em: <http://emporiododireito.com.br/a-
terceirizacao-o-projeto-de-lei-4-3302004-e-seus-impactos-vantagens-desvantagens-e-modificacoes-
por-debora-spagnol/>. Acesso em: 9 ago. 2016.
57

Quanto à responsabilidade das empresas, hoje, a tomadora dos serviços pode ser
responsabilizada judicialmente pelo pagamento de verbas trabalhistas e previdenciárias não
quitadas pela empresa prestadora.
Após a aprovação do Projeto de Lei, a empresa tomadora dos serviços deverá
fiscalizar se o pagamento das verbas salariais e previdenciárias está sendo feito de modo
correto ao empregado e, havendo prova da fiscalização sobre o pagamento feito pela empresa
prestadora de serviços, a responsabilidade da tomadora passa a ser apenas secundária. Já se
não houver prova da fiscalização sobre a empresa prestadora, a tomadora terá
responsabilidade solidária, ou seja, o trabalhador terceirizado poderá cobrar as verbas
trabalhistas e previdenciárias de qualquer uma das empresas.
Com relação ao vínculo empregatício, hoje, se o empregado comprovar judicialmente
que há pessoalidade na prestação de serviços ou subordinação (um dos requisitos do artigo 3º
da CLT para a caracterização do vínculo de emprego) da empresa tomadora, a terceirização é
considerada irregular e o vínculo empregatício se forma diretamente com a empresa
tomadora. Já o Projeto de Lei nº 4330 não traz nenhuma regulamentação nesse sentido.
Quanto à representação sindical, atualmente, os empregados terceirizados são
representados pelo sindicato da categoria que prepondera na empresa prestadora de serviços,
mas, caso a terceirização seja considerada irregular, o empregado terceirizado terá os mesmos
direitos dos empregados da empresa tomadora.
Já com o advento do Projeto de Lei em análise, os empregados terceirizados serão
representados pelo sindicato da categoria da empresa prestadora de serviços e somente poderá
ser o mesmo da empresa tomadora se a atividade terceirizada pertencer à mesma categoria
econômica.
Atualmente não há uma exigência legal a respeito de um capital social mínimo das
empresas para se terceirizar. Já com o Projeto de Lei, haverá a exigência de um capital social
mínimo, conforme a quantidade de empregados que a empresa tomadora possuir. Do mesmo
modo, atualmente, não há regulamentação acerca da imobilização do capital social, enquanto
que, com a aprovação do Projeto de Lei nº 4330/04, negociações coletivas poderão exigir a
imobilização do capital social em até cinquenta por cento.
Hoje não é prevista a troca da empresa prestadora de serviços e, na prática, essa troca
tem sido considerada pela Justiça do Trabalho como indicativo da existência de fraude na
contratação de trabalhadores terceirizados. Já o Projeto de Lei em questão prevê a
possibilidade de troca da empresa prestadora de serviços com a admissão de empregados da
antiga contratada e garantia dos salários e direitos do contrato anterior.
58

Em relação ao fornecimento de refeição, transporte e serviço médico aos empregados


terceirizados, não é tratativa nesse sentido atualmente e, ainda, pode ser considerado como
indicativo da existência de fraude na contratação. Já o Projeto de Lei nº 4330 prevê o
fornecimento desses serviços aos terceirizados por parte da empresa tomadora.
Quanto à proibição de sócios da empresa prestadora de serviços, hoje, não há
regulamentação. O Projeto de Lei nº 4330 dispõe que o sócio da empresa prestadora de
serviços não poderá ser sócio, administrador ou ter mantido vínculo empregatício nos últimos
dois anos com a empresa tomadora.
Quanto ao recolhimento de tributos, hoje, não há regulamentação acerca do tema. Já o
Projeto de Lei dispõe que a empresa tomadora deverá fazer o recolhimento antecipado dos
tributos devidos pela empresa prestadora. É uma garantia ao fisco.
Outro ponto diz respeito à quarteirização. Pelo Projeto de Lei, a empresa prestadora
dos serviços que subcontratar outra empresa para a execução do serviço será solidariamente
responsável pelas obrigações trabalhistas assumidas pela empresa subcontratada.
Por fim, nessa comparação, hoje, a terceirização irregular pela Administração Pública
não gera vínculo de emprego entre o trabalhador terceirizado e os órgãos da Administração
Pública direta, indireta, autárquica ou fundacional. Porém, a Administração tem
responsabilidade subsidiária pela contratação. Nesse aspecto, o Projeto de Lei nº 4330/04 não
traz nenhuma alteração.
Os autores divergem em relação ao Projeto de nº Lei 4330/04, se ele prejudicaria ou
não os direitos dos trabalhadores terceirizados.
Há uma corrente empresarial que afirma que a regulamentação do trabalho
terceirizado alinhará o Brasil às modernas práticas trabalhistas do mundo, além de que trará
também avanços à atividade empresarial, com a descentralização dos riscos de produção e de
distribuição de bens e serviços.
Todavia, do lado dos trabalhadores, vários prejuízos são elencados, conforme
evidencia Débora Spagnol: a possibilidade de redução salarial, visto que com a mudança de
empregador, a empresa terceirizada não tem obrigação de pagar o mesmo valor que
anteriormente o funcionário recebia na empresa em que trabalhava, mesmo exercendo as
mesmas funções na nova empregadora; abolição da equiparação salarial, trabalhos idênticos
poderão ser remunerados de forma diferente, em razão da distinção de empregadores;
benefícios concedidos através de acordos e convenções coletivas de trabalho, a nova
empregadora não será obrigada a cumprir normas que ela não pactuou e de cujas negociações
sindicais não participou; enfraquecimento dos sindicatos, com a pulverização dos
59

trabalhadores em diversas empresas, fragmentando as negociações coletivas e frustrando


reivindicações legítimas das categorias; aumento das possibilidades de fraudes, pois
empregadores “laranjas” poderão ser usados para constituir pessoas jurídicas e empregar os
trabalhadores sem que possuam idoneidade técnica ou econômica para cumprir
adequadamente os direitos trabalhistas, visto que, de forma indireta, há uma blindagem da
empresa contratante, já que em caso de frustração do pagamento das verbas trabalhistas,
inicialmente deverá ser esgotada a via judicial em desfavor da contratada; e prejuízo à saúde e
segurança do trabalhador, por conta da alta rotatividade de mão-de-obra em relação às
terceirizadas, restando prejudicados a capacidade e os treinamentos, criando um ambiente
mais propício a acidentes de trabalho87.
Como já abordado, faz-se necessária a criação de uma nova legislação acerca da
terceirização, que dê segurança jurídica às empresas e proteja o direito dos trabalhadores, ao
mesmo tempo. Laércio Lopes da Silva se posiciona contra o Projeto de Lei nº 4330 e acredita
que invocar a segurança jurídica não pode perpassar o princípio da não reciprocidade:

O contrato de trabalho, regido por normas trabalhistas que são em sua


maioria direitos fundamentais, está protegido, em regra, pela cláusula de
impossibilidade de retrocesso, por isso que não se pode, como em outros
ramos do direito, invocar aleatoriamente o princípio da segurança jurídica ou
da estabilidade nas relações, sobretudo aquele princípio com características
do Estado liberal, mesmo porque a característica de normas mais benéficas
dessas já é um elemento estabilizador, para mediar a diferença de poderio
entre as partes empregado e empregador, portanto, a segurança que se
postula em tema de direito do trabalhador é mais do que qualquer outra a
segurança do hipossuficiente na relação. Tanto assim o é que o princípio da
segurança jurídica nasceu como ferramenta para salvaguarda da propriedade
burguesa.88

Pastore e Pastore, por sua vez, discordam:

O atual PL n. 4330/04 tramita há mais de 10 anos. Foi suficientemente


debatido. Não é o projeto dos meus sonhos, mas ele garante as proteções que
os trabalhadores necessitam e dá a segurança jurídica para quem contrata

87
SPAGNOL, Débora. A terceirização, o projeto de lei 4.330/2004 e seus impactos –
vantagens, desvantagens e modificações. 2015. Disponível em: <http://emporiododireito.com.br/a-
terceirizacao-o-projeto-de-lei-4-3302004-e-seus-impactos-vantagens-desvantagens-e-modificacoes-
por-debora-spagnol/>. Acesso em: 9 ago. 2016.
88
SILVA, Laércio Lopes da. A terceirização e a precarização das relações de trabalho: a
atuação do juiz na garantia da efetivação dos direitos fundamentais nas relações assimétricas de poder:
uma interpretação crítica ao PL n. 4330/2004. São Paulo: LTr, 2015. p. 85.
60

seus serviços. O deputado Sandro Mabel, autor da propositura, costuma dizer


que o projeto é o estatuto da proteção do trabalhador terceirizado. Ele tem
razão, pois a proposta garante proteções – todas necessárias – que nem a
CLT nem a Súmula n. 331 do TST asseguram. Se aprovada, a nova lei
exigirá que as empresas contratantes fiscalizem as empresas contratadas no
que tange ao cumprimento das responsabilidades trabalhistas e
previdenciárias em relação aos empregados, podendo reter os pagamentos da
contratada no caso de inadimplência.89

O desafio, já abordado em tópicos anteriores, é a falta de legislação acerca do tema


terceirização, prática recorrente na economia de mercado moderna. Mesmo com a edição da
Súmula nº 331 do Tribunal Superior do Trabalho o tema ainda é motivo de intenso debate e os
magistrados têm de decidir sem a devida base legal, baseados numa jurisprudência
inconstante. Nesse sentido, elucidam Pastore e Pastore:

A terceirização proposta pelo PL n. 4330/04 tem como objetivo a garantia


direta de direitos trabalhistas. Essa garantia decorre daquilo que está escrito
na lei, não do que é interpretado pela Justiça. Não é uma ação trabalhista que
deve garantir os direitos do trabalhador terceirizado, mas sim a lei, que
atualmente não existe.
Leis servem não somente para o Poder Judiciário julgar, mas para as
empresas e os cidadãos em geral obedecerem, o que é uma obviedade.
Quando houver uma lei clara regulamentando a terceirização, o Judiciário
não precisará criar expedientes discutíveis para garantir algo que já está
garantido. É esta a lógica que pretende impor também o PL n. 4330/04. O
trabalho terceirizado deve estar inserido no contexto do trabalho legal e
decente.90

Souto Maior, contrariamente a Pastore, vê negativamente a ampliação da terceirização


com o Projeto de Lei nº 4330/04, trazendo inúmeros prejuízos aos trabalhadores terceirizados.
Para o autor, o único benefício do Projeto de Lei é que a terceirização ganhou espaço
midiático e passou de invisível para ser debatida amplamente. Segundo Souto Maior, a culpa
de toda a precariedade de direitos aos trabalhadores não é do Projeto de Lei, mas da
terceirização em si, pois o Projeto seria apenas um futuro piorado: “Se o PL 4.330 é nefasto

89
PASTORE, José; PASTORE, José Eduardo G. Terceirização: necessidade para a economia,
desafio para o direito. São Paulo: LTr, 2015. p. 92.
90
Ibidem, p. 121.
61

para os trabalhadores porque amplia a terceirização, a Súmula 331, do TST, também é porque
é a culpada dos males sofridos atualmente pelos 12 milhões de terceirizados”91.
Nesse sentido, Souto Maior afirma que a terceirização, do jeito que está disciplinada
na Súmula nº 331, acabou:

Primeiro, porque se, contrariando a lógica do PL 4.330, que generaliza a


terceirização, estabelece-se o raciocínio de que a terceirização só pode ser
vislumbrada como forma excepcional de contratação, a Súmula 331, do TST,
não é parâmetro adequado para tanto, pois, como bem destacam até mesmo
os defensores da ampliação da terceirização, neste ponto, críticos da Súmula,
a diferenciação baseada em atividade-meio e atividade-fim é insustentável.
De fato, não se pode dizer, criteriosamente, o que é atividade-meio e o que é
atividade-fim e é exatamente por conta disso que a experiência da
terceirização acabou se situando nas atividades de limpeza e de vigilância,
não por atenderem ao postulado fixado na Súmula, mas por expressarem um
fator cultural de discriminação e de preconceito no que tange à posição
social da mulher e do trabalho doméstico, refletidos em tais modalidades de
serviço.
Além disso, se a rejeição à ampliação da terceirização se dá por meio da
defesa da eficácia de direitos fundamentais, esses mesmos argumentos
servem para afastar a possibilidade de terceirização em “atividades-meio”,
onde a dignidade, como todos agora sabem, encontra-se perdida.
Segundo, porque após todo esse debate chegou-se a um consenso em torno
das perversidades da terceirização, tanto que até mesmo o projeto de lei em
discussão, que é nefasto aos trabalhadores, procura eliminar algumas das
fragilidades jurídicas nas quais as perversidades se sustentam. Então, diante
do padrão jurídico estabelecido no projeto de lei, que é, inclusive,
considerado prejudicial aos trabalhadores, não se pode mais ficar dizendo
que há uma diversidade de direitos trabalhistas entre terceirizados e efetivos
e que há uma responsabilidade subsidiária, e não solidária, da empresa
tomadora de serviços pelas obrigações assumidas pela prestadora, até
porque, convenhamos de uma vez, essa criação da jurisprudência trabalhista
é uma autêntica aberração jurídica, vez que estabelece uma ordem
obrigacional em favor do devedor, ou, inversamente falando, em prejuízo do
credor, contrariando até mesmo o padrão jurídico do direito das obrigações
do Direito Civil.
Terceiro, porque se a terceirização pudesse ter alguma razão de ordem
econômica que a sustentasse, não poderia, jamais, gerar o efeito perverso de
conduzir à total ineficácia os direitos fundamentais dos terceirizados. Assim,
estão fora de qualquer parâmetro jurídico, mesmo se pudessem ser
preservados os dispositivos da Súmula 331 do TST, as práticas de utilização
dos trabalhadores terceirizados como verdadeiras coisas, onde se efetivam
variações constantes de horários e de locais de trabalho dos terceirizados,
assim como trocas promíscuas de tomadores, chegando ao ápice das
estratégias perversas de supressão do pagamento de verbas rescisórias, com

91
MAIOR, Jorge Luiz Souto. Juridicamente, a terceirização já era: acabou! Disponível em:
<http://www.jorgesoutomaior.com/blog/-juridicamente-a-terceirizacao-ja-era-acabou>. Acesso em: 2
ago. 2016.
62

transferências abusivas para imputação de justas causas por abandono de


emprego.92

De fato, o autor entende que não se trata de aumentar ou diminuir a proteção dos
trabalhadores terceirizados com o Projeto de Lei nº 4330/04, mas que haja o fim da prática da
terceirização em si, visto que o advento do Projeto somente fez acender um debate, no qual
muitos, inclusive as Centrais Sindicais, foram contra tal ampliação, devido aos males que a
terceirização causa. Para ele não há o que regulamentar; deve ser extinta, visto que todos já
sabem dos problemas sociais, jurídicos e trabalhistas que esta prática causa.
Conclui-se, portanto, que é necessário evitar o desvirtuamento das leis e dos princípios
trabalhistas somente em favor dos anseios econômicos, o que causa prejuízo aos
trabalhadores. O Direito do Trabalho e a Economia devem caminhar juntos para alcançar a
verdadeira democracia e realizar a justiça social através de debates ou mesmo com projetos de
leis que reflitam, de forma harmônica, os anseios sociais e econômicos.

92
Ibidem.
63

3 PRECARIZAÇÃO DOS DIREITOS SOCIAIS ATRAVÉS DA


TERCEIRIZAÇÃO

A conteúdo anteriormente abordado visou possibilitar uma melhor visualização do


fenômeno da terceirização, iniciando pela base histórica da flexibilização dos direitos
trabalhistas, das realidades econômicas, e culminando na elucidação do fenômeno em si, bem
como do Projeto de Lei nº 4330/04.
Tal abordagem se justifica pela necessidade de se compreender como a globalização
influenciou e continua influenciando o mercado e como essa influência produz efeitos diretos
sobre o mundo do trabalho, à medida que impõe a reestruturação empresarial visando ao
enfrentamento da acirrada concorrência decorrente do sistema capitalista.
Desse modo, ao lado da globalização e, como consequência desta, encontram-se os
ideais de flexibilização do Direito e das relações de trabalho, advindas da transição do sistema
de produção fordista para o toyotista, demandando transformações nos modos de organização
de trabalho (com a verticalização da empresa) e na legislação referente a ele, requerendo
maior maleabilidade e adaptabilidade das regras às novas necessidades econômicas.
Fato é que essa flexibilização se encontra cada vez mais presente e se reflete tanto nos
dispositivos da Constituição Federal e em Leis, como a Lei de Trabalho Temporário, quanto
no surgimento de novas formas de contrato de trabalho, como o contrato por tempo
determinado, trabalho em domicílio e, na terceirização.
A terceirização mostra-se, então, como um dos modos de flexibilização, visando à
redução de custos com mão-de-obra, de modo a direcionar recursos para a realização das
principais atividades empresariais, conforme já analisado anteriormente. Visa, ainda, o
aumento do lucro empresarial.
Contudo, essa forma de flexibilização constante da transferência de atividades para
terceiros não traz para os trabalhadores os mesmos benefícios aproveitados pelas empresas.
Ao contrário, os trabalhadores terceirizados sofrem com a precarização de suas relações de
trabalho, através da diminuição dos salários, fragilização das relações sindicais, desrespeito
aos direitos e garantias conferidos aos trabalhadores pela Constituição Federal, entre outros.
Jorge Luiz Souto Maior entende que: “Ainda que a terceirização representasse – que
não se acredita, sinceramente – uma evolução em termos de técnica produtiva, sua
64

implantação não pode resultar na impossibilidade de os trabalhadores receberem os direitos


pelos serviços que já prestaram”93.
Luiz Felipe Lampreia afirma que:

Cria-se, então, no âmbito da dinâmica da flexibilização do mercado de


trabalho, um mecanismo perverso: do ponto de vista do trabalhador,
contratos de curto prazo apresentam vantagens monetárias imediatas; do
ponto de vista do empregador, a melhor estratégia consiste em extrair o
máximo do trabalhador neste breve espaço de tempo, em detrimento da
opção de investir nele a médio e longo prazo dado o alto risco de a empresa
perder o investimento realizado.94

Ou seja, em vista da baixa duração dos contratos, há grande rotatividade da mão-de-


obra, de modo que não interessa à empresa investir na educação e na qualificação dos seus
empregados, uma vez que esse investimento demanda custos e a mão-de-obra utilizada é por
pouco tempo. Os empregados, por sua vez, se veem desmotivados diante da incerteza de
manutenção dos seus empregos, não se preocupando também em investir na própria
qualificação, restando-lhes somente se submeterem aos desmandos do mercado e gozar dos
poucos direitos que ainda lhes assistem.
O Projeto de Lei nº 4330/04, analisado anteriormente, prevê maior flexibilização e
negociação em relação aos direitos trabalhistas, podendo culminar em precarização dos
direitos dos trabalhadores.
Os direitos sociais pertencem à segunda dimensão de direitos fundamentais e estão
ligados ao valor da igualdade material. Esses direitos serão explanados adiante e observados
separadamente, a fim de se esclarecer a precarização decorrente da prática da terceirização.
Importa, pois, observar como o mercado de trabalho, a sociedade brasileira, o Poder
Judiciário e os legisladores respondem à maciça utilização da terceirização e quais as sequelas
ocasionadas por esse tipo de flexibilização na vida, nos direitos e na personalidade dos
trabalhadores.

93
MAIOR, Jorge Luiz Souto. O direito do trabalho como instrumento de justiça social. São
Paulo: LTr, 2000. p. 319.
94
LAMPREIA, Luiz Felipe. Relatório brasileiro sobre desenvolvimento social. Estudos
Avançados. São Paulo, v. 9, n. 24, maio/ago. 1995. p. 36.
65

3.1 Breves elucidações sobre a origem dos direitos sociais

A Revolução Francesa, de 1789, foi umas das mais expressivas revoluções sociais que
ocorreram durante a história humana. Tendo como lema “liberdade, igualdade e fraternidade”,
serviu, basicamente, para transferir o poder da nobreza para a classe burguesa que crescia. O
povo ajudou a burguesia neste embate contra a nobreza e a monarquia absolutista, mas
permaneceu nas condições precárias que sempre esteve – passou da submissão à monarquia
para se submeter à exploração da burguesia, do capital.
Segundo Rafael Bertramello:

As declarações de direitos norte-americanas, bem como a francesa de 1789,


representam a emancipação histórica do indivíduo perante os grupos sociais
aos quais ele sempre se submeteu: a família, o clã, o estamento, as
organizações religiosas.
Em contrapartida, a ascensão do indivíduo na história trouxe-lhe a perda da
proteção por parte desses grupos. Isso o deixou à deriva, às vicissitudes da
vida. Em troca da ruptura, a sociedade liberal ofereceu-lhe a suposta
segurança da legalidade, com a garantia de igualdade de todos perante a lei.95

A igualdade, no ponto de vista liberal, era uma igualdade apenas formal, perante a lei.
Aos poucos, porém, foi-se percebendo que era necessária uma igualdade material, efetiva,
pois, sem ela, a liberdade seria apenas mera retórica, demandando condições materiais para
ser exercida em toda sua plenitude96.
Assim, diante da desigualdade material que existia entre os homens, provocada pela
má distribuição das riquezas produzidas pelo individualismo liberal, começam a surgir
algumas doutrinas sociais, através de ações afirmativas com a realização de prestações sociais
em saúde, educação, previdência, etc., também mostravam uma postura intervencionista na
sociedade e na economia.
Os direitos fundamentais de segunda dimensão, hoje chamados de direitos sociais,
apesar de terem se iniciado no século XIX, com o Manifesto Comunista, ganharam força

95
BERTRAMELO, Rafael. Os direitos sociais: conceito, finalidade e teorias. Disponível em:
<http://rafaelbertramello.jusbrasil.com.br/artigos/121943093/os-direitos-sociais-conceito-finalidade-e-
teorias>. Acesso em: 16 ago. 2016.
96
DUARTE, Leonardo de Farias. Obstáculos econômicos à efetivação dos direitos
fundamentais sociais. Rio de Janeiro: Renovar, 2011.
66

apenas no século XX, com a queda da bolsa de valores de Nova York, em 1929, e com a
depressão econômica que a seguiu. De acordo com Duarte:

Nascidos “abraçados ao princípio da igualdade”, compreendida numa


acepção material, tais direitos influenciaram fortemente o modelo de Estado
social ou providência, caracterizando-se por prestações estatais na área
social, como a educação, a saúde, o trabalho e a assistência social. Donde a
sua dimensão positiva.
Conquanto a dimensão positiva seja seu traço característico, estão
igualmente compreendidas na segunda dimensão as denominadas liberdades
sociais, a exemplo da liberdade de sindicalização, de fazer greve e outras
conferidas aos trabalhadores.97

A classe operária, que produzia as riquezas, era excluída de seus benefícios e,


portanto, passou a se organizar na forma marxista de luta de classes, ameaçando as
instituições liberais e a consequente estabilidade do desenvolvimento econômico.
Nesse âmbito foram, pois, surgindo argumentos a favor da criação do Direito do
Trabalho ou ao Trabalho, à subsistência, à educação, dentre outros – direitos sociais por
excelência. Afinal, conforme afirma Dalmo de Abreu Dallari, não basta “afirmar que todos
são iguais perante a lei; é indispensável que sejam assegurados a todos, na prática, um mínimo
de dignidade e igualdade de oportunidades”98.
Assim, surgem os direitos sociais (direitos fundamentais de segunda dimensão) que,
segundo Fábio Comparato, se realizam pela execução de políticas públicas, destinadas a
garantir amparo e proteção social aos mais fracos e mais pobres, ou seja, àqueles que não
dispõem de recursos próprios para ter uma vida digna99.
A primeira Constituição a trazer esses direitos foi a Francesa de 1791. No Brasil, a
primeira a abordar os direitos sociais foi a Constituição de 1934, no período de Getúlio
Vargas, influenciada pela Constituição de Weimar, de 1919. Depois, a Constituição de 1988,
vigente hoje, trouxe mais eficácia aos direitos fundamentais de segunda dimensão,
principalmente nos seus artigos 6º e 7º.

97
Ibidem, p. 29.
98
DALLARI, Dalmo de Abreu. Direitos humanos e cidadania. 2. ed. reform. São Paulo:
Moderna, 2004. p. 46.
99
COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 7. ed. ver. e
atual. São Paulo: Saraiva, 2010.
67

Para Duarte, mesmo com a crescente normatização e importância acadêmica, os


direitos sociais encontram grande dificuldade no tocante à eficácia e à efetividade, por virem
normalmente proclamados em preceitos constitucionais de insuficiente densidade normativa e
importarem, em sua maioria, prestações materiais do Estado100.
A prática da terceirização e, principalmente, se aprovado o Projeto de Lei nº 4330/04
no Brasil, culmina na precarização dos direitos fundamentais de segunda dimensão, pois
interfere na sindicalização dos trabalhadores, no não conhecimento correto de seu empregador
ou a quem está subordinado, dentre tantas outras questões, o que será analisado a seguir.

3.1.1 Noção e aplicação dos direitos sociais

Os direitos sociais foram conquistados por meio dos movimentos sociais ao longo da
história e, hoje, são reconhecidos em diversos documentos, como a Declaração Universal dos
Direitos do Homem, de 1948, o Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e
Culturais, de 1966, e também pela Constituição brasileira de 1988. Tais direitos pertencem à
segunda dimensão de direitos fundamentais.
Segundo Alfredo Palermo, se os direitos individuais foram denominados como
obrigações negativas do Estado, os direitos sociais são as obrigações positivas, ou seja, o rol
de disposições que a Justiça impôs ao Estado no sentido de amparar a pessoa do trabalhador
ante o poderio das empresas101.
No Brasil, houve uma primeira tentativa de conceituação dos direitos sociais com o 1º
Congresso de Direito Social, em 1941, na qual surgiu um conceito lato sensu: “Direito Social
é o conjunto de princípios e normas imperativas que têm por sujeito os grupos e os membros
dos grupos, têm por objeto (fim) a adaptação da forma jurídica (leis e códigos) à realidade
social e visa (atuação), nesta adaptação, à colaboração de todos ao bem comum” 102 .
Entretanto, tal conceituação ficou muito complexa e generalizada, não os definindo
exatamente.

100
DUARTE, Leonardo de Farias. Obstáculos econômicos à efetivação dos direitos
fundamentais sociais. Rio de Janeiro: Renovar, 2011.
101
PALERMO, Alfredo. Os direitos sociais no Brasil: síntese de uma política social. Franca:
Ed. do Departamento do Serviço Social, 1984.
102
SARAIVA, Paulo Lopo. Garantia constitucional dos direitos sociais no Brasil. Rio de
Janeiro: Ed. Forense, 1983. p. 24.
68

Palermo, com base nos artigos da Declaração Universal dos Direitos do Homem, de
1948, da ONU, conceitua direitos sociais da seguinte forma:

Direitos sociais são os direitos que o Estado deve assegurar a todas as


pessoas, em geral e aos trabalhadores, em particular, a fim de lhes
proporcionar, e a sua família, um padrão de vida adequado à sua saúde e
bem-estar, através de legislação trabalhista e previdenciária, bem como de
outras normas legais que lhes garantam participação no desenvolvimento,
através da educação, da cultura, da habitação e do lazer.103

Paulo Saraiva afirma que se costuma dizer que todo direito é social, mas nos séculos
XVIII e XIX dizia-se que todo direito era individual, enquanto que a doutrina mais ponderada
consegue visualizar que todo direito é, ao mesmo tempo, social e individual104.
O Estado Social de Direito foi elaborado pelas revoltas populares, na tentativa de
estabelecer uma igualdade política, social e jurídica. Nesse sentido, Saraiva cita Gurvitch, que
conceitua o direito social como sendo um direito integrativo, um direito que torna partícipes
aqueles a quem ele se destina, complementando a declaração dos direitos individuais,
proclamando também um direito grupal, que deve se dar numa sociedade pluralista105. Do
mesmo modo, Gordillo propõe que o direito social seja compreendido como um direito
complementar, que complementa a Declaração de Direitos do Homem, acrescentando-lhe o
elemento econômico106.
Na Constituição Federal brasileira de 1988, os direitos sociais são tratados no Capítulo
II do Título II, destinado aos Direitos e Garantia Fundamentais. O artigo 6º da Constituição
elenca como direitos sociais o direito à educação, saúde, trabalho, moradia, lazer, segurança,
previdência social, proteção à maternidade e infância, e assistência aos desamparados.
Os direitos sociais não abrangem somente os direitos das searas trabalhista e
previdenciário, que foram as primeiras áreas a reivindicá-los, mas abrangem, também, todos
os demais direitos que asseguram uma vida digna a todos os considerados hipossuficientes, no

103
PALERMO, Alfredo. Os direitos sociais no Brasil: síntese de uma política social. Franca:
Ed. do Departamento do Serviço Social, 1984. p. 14.
104
SARAIVA, Paulo Lopo. Garantia constitucional dos direitos sociais no Brasil. Rio de
Janeiro: Forense, 1983. p. 26.
105
Ibidem.
106
GORDILLO, Augustin. Princípios gerais do direito público. São Paulo: Revista dos
Tribunais, 1977. p. 77.
69

âmbito, econômico, da saúde, da educação, da habitação, da integridade física, para terem


uma vida de paz e liberdade.
Os direitos sociais exigem, pois, a intermediação do Estado para sua concretização.
Segundo André Ramos Tavares, os direitos sociais são direitos “que exigem do Poder Público
uma atuação positiva, uma forma atuante de Estado na implementação da igualdade social dos
hipossuficientes. São, por esse exato motivo, conhecidos também como direitos a prestação
ou direitos prestacionais” 107 . E, por serem direitos fundamentais, sua aplicabilidade é
imediata, conforme o artigo 5º, parágrafo 1º, da Constituição Federal, ou seja, se o Estado se
omitir na implementação dos direitos sociais fundamentais poderá ser condenado à obrigação
de fazer.
Os direitos fundamentais são parte essencial da estrutura da vida humana, sem eles não
pode haver participação popular ou justificação para a existência do Estado.
De acordo com Rafael Bertramello, se, de um lado, os direitos individuais servem para
proporcionar liberdade ao indivíduo, limitando a atividade coercitiva do Estado, os direitos
sociais, de outro lado, visam assegurar uma compensação das desigualdades fáticas entre as
pessoas, que apesar de pertencerem a sociedades complexas, possuem prerrogativa que os
façam reconhecer-se como membros igualitários de uma mesma organização política108.
Vale ressaltar que não há uma vinculação necessária entre direito social e Estado
socialista e entre direito individual e estado liberal, afinal em ambos os tipos de organização
política existem as duas dimensões de direitos e também, em ambas organizações, há pessoas
vulneráveis e hipossuficientes, que necessitam dos direitos sociais como tutela.
Não obstante, a eficácia dos direitos sociais é limitada, conforme salienta Leonardo
Duarte:

[...] as normas constitucionais que exprimem direitos e prestações sociais


necessitam, em regra, não só da atuação conformadora ou concretizadora do
legislador ordinário, como também de transformações de natureza
econômica, social e administrativa, para ficar em apenas três esferas. A
dependência dos direitos sociais de tais transformações acaba por repercutir
na sua efetivação. Não é por outra razão que a Declaração Universal dos

107
TAVARES, André Ramos. Curso de direito constitucional. 10. ed. rev. e atual. São Paulo:
Malheiros Editores, 2012.
108
BERTRAMELO, Rafael. Os direitos sociais: conceito, finalidade e teorias. Disponível em:
<http://rafaelbertramello.jusbrasil.com.br/artigos/121943093/os-direitos-sociais-conceito-finalidade-e-
teorias>. Acessado em: 16 ago. 2016.
70

Direitos do Homem associa a realização dos direitos econômicos, sociais e


culturais, dentre outros fatores, aos recursos de cada estado.
Um olhar realista evidencia que os direitos sociais em geral (como o direito à
educação, o direito à saúde e o direito à assistência social) estão sujeitos a
certas condições de fato. A realização das prestações que constituem o
objeto dos direitos fundamentais sociais depende da existência de recursos
materiais não apenas suficientes como também disponíveis juridicamente,
dado que o Estado não pode, por exemplo, numa economia de mercado,
simplesmente intervir no domínio privado e lançar mão de todos os
empregos necessários à plena satisfação do direito ao trabalho.109

Ou seja, a realização dos direitos a prestações sociais está condicionada aos recursos
que o Estado dispõe, está sujeita a uma reserva do possível, pois a efetivação desses direitos
exige recursos materiais que, muitos Estados, não dispõem. Assim, segundo Duarte, de
acordo com a Corte Constitucional alemã, a reserva do possível prende-se, ainda, à questão da
razoabilidade, naquilo que diz respeito ao que o indivíduo pode razoavelmente exigir da
sociedade110. O Estado, portanto, tem discricionariedade para elaborar seu orçamento estatal e
deve escolher a melhor destinação para seus recursos, sempre em prol de seus cidadãos.
Segundo Paulo Saraiva, o Estado contemporâneo deve adaptar-se às novas exigências
sociais, atendendo, pelo menos, e em princípio, dois direitos sociais: o de trabalho e o de
moradia111.
O fenômeno da terceirização, como já visto, culmina em redução de salários, aumento
da taxa de desemprego, redução da proteção sindical, maior possibilidade de negociações
coletivas para diminuir os direitos dos trabalhadores em prol de uma melhor economia, além
de todas as ampliações que podem ser postas em prática com uma possível aprovação do
Projeto de Lei nº 4330/04. Ou seja, a terceirização vai, completa e obviamente, na contramão
dos direitos sociais fundamentais dos trabalhadores, pois os distancia de uma dignidade na
vida laboral. Todavia, é necessário que o Estado se adeque às condições da sociedade em que
está inserido e a sua realidade constitucional; que estabeleça uma relação de equilíbrio entre o
ser e o dever ser, sendo esse o desafio que se impõe.

109
DUARTE, Leonardo de Farias. Obstáculos econômicos à efetivação dos direitos
fundamentais sociais. Rio de Janeiro: Renovar, 2011. p. 140.
110
Ibidem.
111
SARAIVA, Paulo Lopo. Garantia constitucional dos direitos sociais no Brasil. Rio de
Janeiro: Forense, 1983.
71

3.1.2 Método interpretativo de Ronald Dworkin

Conforme demonstrado anteriormente, o instituto da terceirização, na perspectiva dos


tribunais, comporta divergências.
Ronald Dworkin, nas suas obras “Levando os Direitos a Sério” e “Império do Direito”,
propõe a discussão acerca do que é o Direito e os métodos interpretativos para buscar a
melhor aplicação das normas jurídicas aos casos concretos, evitando-se a tomada de decisão
fundamentada, primordialmente, na preferência pessoal do julgador, em detrimento da
racionalidade que deve pautar a prestação jurisdicional. O entendimento do filósofo aplica-se,
perfeitamente, para analisar as vertentes que se apresentam no Brasil sobre terceirização, haja
vista que o autor reconhece as divergências existentes na doutrina e na jurisprudência e
destaca que os juízes divergem, em boa parte dos casos, não somente sobre questões fáticas,
mas também sobre o sentido das normas112.
Assim, Dworkin pretende que, ao se aplicar o método interpretativo proposto por ele,
possa-se conferir à norma jurídica um sentido mais consistente com a prática jurídica.
Com o advento da Súmula nº 331 do Tribunal Superior do Trabalho as hipóteses de
utilização das terceirizações no Brasil foram ampliadas, em razão das expressões “atividade-
meio” e “atividade-fim”, que levaram os intérpretes a adotarem diferentes métodos
interpretativos, conforme sua formação, principalmente em relação ao inciso III da Súmula
em exame, que traça a legalidade das terceirizações nas atividades-meio, pois, conforme
afirma Dworkin, “os processos judiciais sempre suscitam, pelo menos em princípio, três
diferentes tipos de questões: questões de fato, questões de direito e as questões interligadas de
moralidade, política e fidelidade”113.
A Súmula nº 331 cita duas Leis, a de n° 6.019/74 (que versa sobre trabalho
temporário) e a de n° 7.102/83 (que versa sobre serviços de vigilância, traçando limites sobre
as atividades-terceirizadas). No entanto, há diversas fraudes em relação à terceirização, o que
gera ainda mais divergência e conflitos, conforme afirma Benizete Ramos de Medeiros:

Se o mercado respeitasse os limites das normas, em especial a Lei n.


6.019/74, quanto à temporariedade dos serviços, mas, sobretudo quanto ao

112
DWORKIN, Ronald M. O império do direito. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São
Paulo: Martins Fontes, 1999.
113
Ibidem, p. 5-6.
72

entendimento do que consiste “atividade-meio”, constante da Súmula 331 do


TST e subordinação direta, pouca celeuma haveria, já que reduziriam as
postulações de tutelas jurisdicionais, desafiando as variáveis interpretativas.
Mas, não é o que ocorre na prática e no sistema brasileiro, tanto assim é que
há uma proposta que força a regularização da prática como está – o PL n.
4330/04, que tem sido objeto de manifestações contrárias, apesar do lobi do
capital.
A grande questão que encerra a discussão sobre as terceirizações é além da
subjetividade da expressão “atividade-meio” também os entendimentos
conflitantes, e na mesma casa, muitos deles interpretados com visível
violação aos princípios basilares do Direito do Trabalho.114

A prática da terceirização, como já analisado extensamente, tem como objetivo para o


capital a diminuição dos custos, a melhora na qualidade dos produtos ou dos serviços,
tornando as empresas mais dinâmicas e mais hábeis para concorrer no mercado globalizado.
Diante disso, os julgadores e intérpretes têm se esforçado para estabelecer o significado de
“atividade-meio” a aplicar a terceirização (vide tópico 2.2).
O Projeto de Lei nº 4330/04 surgiu com a intenção de regulamentar a ampliação da
terceirização, porém, concentra-se na visão do capital, no avanço econômico e nos modos de
produção adquiridos nos últimos 20 anos, buscando regular e estimular a adoção de novas
formas de contratação para atender à nova empresa, que surge para concorrer no mercado
globalizado. Nesse sentido, Benizete Medeiros:

A revelação mais importante que se extrai do projeto é a de que o negócio


principal de uma empresa é a extração de lucro por intermédio da exploração
do trabalho alheio e quanto mais as formas de exploração favorecerem ao
aumento do lucro melhor, sendo que este aumento se concretiza, mais
facilmente, com redução de salários, precariedade das condições de trabalho,
fragilização do trabalhador, destruição das possibilidades de resistência e
criação de obstáculos para a organização coletiva dos trabalhadores,
buscando, ainda, evitar qualquer tipo de consciência em torno da exploração
que pudesse conduzir a práticas ligadas ao antagonismo de classe.115

Ronald Dworkin, em suas obras, busca analisar as teorias do direito e as aplicações aos
casos difíceis, nos quais os juízes podem divergir, e propõe uma teoria da interpretação para
isso. Fato é que, em qualquer decisão, haverá a utilização do poder discricionário, agregando

114
MEDEIROS, Benizete Ramos de. As terceirizações no Brasil e o método interpretativo de
Ronald Dworkin. Publicação mensal de legislação, doutrina e jurisprudência, LTr, São Paulo, ano
78, n. 1, jan./2014.
115
Ibidem.
73

os valores do julgador e, para Dworkin, nos casos difíceis não pode mesmo haver um apego a
uma visão estritamente positivista do direito, exatamente porque os casos difíceis são aqueles
em que, geralmente, não há norma clara que regulamente o assunto, como é o caso da
terceirização116.
Dworkin afasta a ideia de que a validade das normas advenha somente do fato de
terem sido concebidas por outra norma. E é nesse aspecto que ele rompe com o positivismo,
pois afirma que existem outros mecanismos de conferir validade a uma norma e que os
princípios devem ser cotejados com as regras, entretanto, ele não afasta a ideia de que direito
é norma e de que as decisões devem ocorrer dentro dos limites dela. Assim, ao tratar o poder
discricionário, Dworkin não contraria os positivistas, afirmando apenas a necessidade de
compreensão desse poder como a possibilidade de se interpretar regras e sopesar princípios.
Ele parte do pressuposto de que o direito é interpretativo, de maneira que os juízes devem
decidir o que é o direito, interpretando-o. Assim, teorias gerais do direito são, na realidade,
interpretações gerais de nossa própria prática judicial117.
Em sua obra “Levando os direitos a sério”, Ronald Dworkin procura desenvolver uma
teoria do direito que opera com base na seleção argumentos jurídicos adequados, ou seja,
argumentos assentados na melhor interpretação moral possível das práticas em vigor em uma
determinada comunidade. Juntamente com essa teoria, o autor propõe uma teoria de justiça,
segundo a qual todos os juízos a respeito de direitos e políticas públicas devem se basear na
ideia de que todos os membros de uma comunidade são iguais enquanto seres humanos,
independentemente das suas condições sociais e econômicas, ou de suas crenças e estilos de
vida118.
Dworkin considera as seguintes concepções interpretativas: pragmatismo jurídico,
convencionalismo e direito como integridade. O pragmatismo nega que as decisões políticas
do passado, por si só, ofereçam qualquer justificativa para o uso ou não do poder coercitivo
do Estado, ou seja, contesta o argumento de que as pessoas tenham direitos com base em

116
DWORKIN, Ronald M. Levando os direitos a sério. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2010.
117
PRADO, Esther Regina Corrêa Leite. Os métodos interpretativos de Ronald Dworkin e o
direito como integridade. Disponível em: <http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12446>. Acesso em: 22 ago. 2016.
118
LEITE, Taylisi de Souza Corrêa. O modelo de regras de Ronald Dworkin. Disponível em:
<http://seer.franca.unesp.br/index.php/estudosjuridicosunesp/article/viewFile/347/367>. Acesso em:
22 ago. 2016.
74

decisões políticas do passado119. No convencionalismo, por sua vez, o pensador do direito vê


como aquilo que realmente é, e não como deveria ser, ou seja, a tarefa do juiz é de um
aplicador desse direito já declarado em decisão política anterior, mas, numa versão próxima
do positivismo, que garante a segurança e a previsibilidade do direito120.
Destaca-se o direito como integridade, pois é a integridade que, para Dworkin, explica
melhor o que é o direito, apesar dela não se impor por si mesma. Tanto as convicções a
respeito da adequação quantos aquelas sobre a equidade, a justiça e o devido processo legal
adjetivo, são conflitantes entre si. Assim, o intérprete deve considerar esses conflitos e tentar
tornar o histórico legal da comunidade o melhor possível do ponto de vista da moral
política121. Nesse sentido, o direito como integridade teria o objetivo de oferecer uma melhor
adequação e uma melhor justificação de nossa prática jurídica como um todo. Assim, para
Dworkin, o conceito de direito é definido pela atitude:

É uma atitude interpretativa e auto-reflexiva, dirigida à política no mais


amplo sentido. É uma atitude contestadora que torna todo cidadão
responsável por imaginar quais são os compromissos públicos de sua
sociedade com os princípios, e o que tais compromissos exigem em cada
nova circunstância. (...) A atitude do direito é construtiva: sua finalidade, no
espírito interpretativo, é colocar o princípio acima da prática para mostrar o
melhor caminho para um futuro melhor, mantendo a boa-fé com relação ao
passado. É, por último, uma atitude fraterna, uma expressão de como somos
unidos pela comunidade apesar de divididos por nossos projetos, interesses e
convicções. Isto é, de qualquer forma, o que o direito representa para nós:
para pessoas que queremos ser e para a comunidade que pretendemos ter.122

Para Dworkin, a teoria geral do direito é interpretativa e justificadora e, além disso, é


parte do próprio direito, como parte geral de qualquer decisão: “o voto de qualquer juiz é, em
si, uma peça de filosofia de direito, mesmo quando a filosofia está oculta e o argumento
visível é dominado por citações e listas de fatos. A doutrina é a parte geral da jurisdição, o

119
DWORKIN, Ronald M. O império do direito. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São
Paulo: Martins Fontes, 1999.
120
Ibidem.
121
PRADO, Esther Regina Corrêa Leiter. Os métodos interpretativos de Ronald Dworkin e o
direito como integridade. Disponível em: < http://www.ambito-
juridico.com.br/site/?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=12446>. Acesso em: 22 ago. 2016.
122
DWORKIN, Ronald M. O império do direito. Tradução de Jefferson Luiz Camargo. São
Paulo: Martins Fontes, 1999. p. 492.
75

prólogo silencioso de qualquer veredito”123. Para ele, o direito não pode ser descrito, mas
apenas interpretado, pois essa é a melhor explicação do que é o direito.
A preocupação de Dworkin em delinear uma teoria do direito como integridade,
levando-o à firme tentativa de adequá-la e justificá-la como a teoria que mostra nossa prática
jurídica sob sua melhor luz, reflete sua concepção de que o direito apenas pode ser
interpretado e não descrito.
Na concepção de integridade, Dworkin identifica três virtudes que devem, pois, ser
levadas em conta: a equidade, a justiça e o devido processo legal. É nesse sentido que se deve
buscar entender os diversos tratamentos dados pelos Tribunais brasileiros às terceirizações, no
tocante à legitimidade ou não da sua utilização de forma ampla, comparada aos “casos
difíceis” propostos pelo autor em destaque.
Cumpre destacar, pois, que na ausência de norma específica ou nas diferentes
interpretações possíveis aos casos difíceis, deve-se usar a concepção positiva do direito, que
consiste apenas em um modelo de regras, que ignora políticas e princípios, não se valendo,
portanto, a fundamentação de decisões mais complexas.
Assim, Benizete conclui:

Inegável, pois, que a utilização do poder discricionário existirá no ato de


decidir, agregando os valores éticos, históricos e políticos do julgador. Não
devendo, nos chamados “casos difíceis” haver apego a uma visão
estritamente positivista do direito, então por ele criticada, repita-se. Aqui,
então, o enquadramento das divergências do tema em estudo – terceirizações
– que embora haja norma específica para sua não utilização ampla, o
Tribunal Superior, ao criar uma súmula que amplia, em parte, a utilização,
através da expressão “atividade-meio”, vem contribuindo para o alargamento
da utilização desse instituto nas relações entre capital e trabalho.
E, por isso, tomando como respaldo a concepção do direito como
integridade, os juízes tentam encontrar, em algum conjunto coerente de
princípios, a melhor interpretação construtiva da estrutura política e da
doutrina jurídica de sua comunidade. Em seguida, verificam quais
interpretações são adequadas a esse conjunto de princípios, e, apenas então,
se houver mais de uma interpretação adequada, deverão buscar aquela que
melhor se ajuste a esse conjunto coerente de princípios. Portanto, essa
concepção será determinante tanto na adequação, quanto na justificação do
melhor significado, que qualifica a teoria eleita pelo autor paradigma.124

123
Ibidem, p. 113.
124
MEDEIROS, Benizete Ramos de. As terceirizações no Brasil e o método interpretativo de
Ronald Dworkin. Publicação mensal de legislação, doutrina e jurisprudência, LTr, São Paulo, ano
78, n. 1, jan./2014.
76

Entende-se, pois, que Ronald Dworkin pretende que, diante de tantas divergências
jurisprudenciais e falta de normas específicas, o julgador/intérprete utilize-se de sua lógica
para adequar e fundamentar sua decisão socialmente (interpretação social), sem, entretanto,
abandonar as normas positivadas.

3.2 Precarização das relações de trabalho advindas da terceirização

Conforme visto, em um contrato de terceirização não estão presentes todos os


requisitos da relação de emprego, elencados no artigo 3º da Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT), faltam a subordinação e a pessoalidade, pois o trabalhador terceirizado não é
subordinado diretamente ao tomador de serviços e pode ser substituído.
Para Livia Miraglia, numa empresa de pequeno porte, o empregado teria um
tratamento mais humano, mas num processo de terceirização isso não ocorre, porque os
obreiros estão inseridos na estrutura empresarial da tomadora como meros instrumentos no
encalço de um fim, ou seja, não interessa ao tomador quem seja o obreiro, mas somente que o
produto final seja elaborado125.
Diante dessa situação, têm-se dois problemas: a grande rotatividade de mão-de-obra e
a perda de identidade do trabalhador. O primeiro porque a empresa tomadora escolhe o
trabalhador, que será responsável por desempenhar a função contratada pela empresa
prestadora, sujeitando o trabalhador terceirizado ao seu poder diretivo. Os trabalhadores
terceirizados acabam, indiretamente, se subordinando ao poder empresarial da empresa
tomadora dos serviços, que estabelece a forma de realização das tarefas, do trabalho e, ainda,
pode requerer da empresa prestadora de serviços, a qualquer momento, a substituição daquele
trabalhador que não a agradar. O grande problema é que, mesmo trabalhando dentro da
empresa tomadora, o trabalhador não se insere de forma permanente em sua estrutura, não faz
parte dos planos de carreira, não é um empregado efetivo, não têm oportunidade de participar
dos treinamentos e programas de incentivos que os trabalhadores diretos daquela empresa
têm, dentre outros. Lívia Miraglia exemplifica:

Tome-se, como exemplo, uma grande sociedade de economia mista


brasileira que possui crachás para identificar seus empregados. No caso dos

125
MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira. A terceirização trabalhista no Brasil. São Paulo:
Quartier Latin, 2008.
77

empregados efetivos, a coloração do crachá é verde e possui a inscrição do


nome do obreiro. Já os terceirizados, que respondem por 82 mil dos 130 mil
empregados da sociedade, carregam crachás de identificação de cor marrom
e, até pouco tempo atrás, sequer possuíam o nome do terceirizado.
Além da humilhação de transitar com crachás diferentes e sem identificação
(os crachás dos terceirizados são da mesma cor que os dos visitantes), ainda
sofrem restrições quanto às áreas em que lhes é permitido o acesso.
Enquanto isso, aos trabalhadores efetivos, é garantido o livre acesso a toda a
empresa.126

Esse tipo de situação gera uma discriminação entre os trabalhadores. Faz-se claro que
o terceirizado serve apenas aos propósitos finais da empresa, não importa quem ele é e como
trabalha, mas o que ele produz. Toda essa situação só pode gerar insatisfação e descrédito nos
obreiros submetidos a essas condições. Além disso, afetam-se também as condições de saúde,
segurança do trabalhador, há uma diminuição dos benefícios sociais, a remuneração torna-se
incerta e o recebimento de vantagens e benefícios decorrentes de um contrato de trabalho
“comum”, binário, ou de normas coletivas não é aferido pelo trabalhador terceirizado.
O artigo 7º, XXXII, da Constituição Federal, por sua vez, traz a proibição de distinção
entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos. Tal
disposição constitucional encontra-se no Capítulo dos Direitos Sociais, já abordados aqui. Vê-
se, pois, que não há essa isonomia de tratamento entre os trabalhadores diretos e os
terceirizados, há uma precarização nessa relação laborativa, uma afronta a um direito social
básico do trabalhador. A Lei do Trabalho Temporário (Lei n° 6.019/74) determina, por sua
vez, fica garantida ao trabalhador terceirizado remuneração equivalente à percebida pelos
empregados da mesma categoria da empresa tomadora ou cliente calculados à base horária.
Busca-se também um salário equitativo. Maurício Godinho questiona:

A questão decisiva que se coloca, hoje, porém, é a seguinte: tal


procedimento analógico isonômico aplica-se às demais hipóteses de
terceirização?
A jurisprudência não se decidiu, pacificamente, nessa linha, reconheça-se.
Mantém-se ainda importante a interpretação de que, desde que seja
considerada lícita a terceirização – e não se tratando de trabalho temporário
– não seria aplicável o salário equitativo. Ou seja, em casos de terceirização
lícita o padrão remuneratório da empresa tomadora não se comunicaria com
o padrão remuneratório dos trabalhadores terceirizados postos a serviço
dessa mesma tomadora.127

126
Ibidem, p. 130.
127
DELGADO, Maurício Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 14. ed. São Paulo: LTr,
2015. p. 492.
78

O mesmo autor, portanto, critica essa diferenciação salarial. Para ele, primeiramente,
ordens jurídicas de sociais mais avançadas e igualitárias que a brasileira já rejeitaram
expressamente essa incomunicabilidade, em face da injustificável discriminação
socioeconômica que ela traz. Depois, que a fórmula terceirizante, se não acompanhada do
remédio jurídico da comunicação remuneratória, transforma-se, segundo o autor, em mero
veículo de discriminação e aviltamento do valor da força de trabalho, rebaixando
drasticamente o já modesto padrão civilizatório alcançado no mercado de trabalho do país.
Em terceiro lugar, porque há claros preceitos constitucionais e justrabalhistas brasileiros que,
lidos conjuntamente, indicam na direção da comunicação remuneratória entre o contrato
padrão de trabalho e o contrato do trabalhador terceirizado numa mesma empresa tomadora de
serviços ou de mesma categoria128.
A prática da terceirização afeta diretamente o princípio da proteção do trabalhador,
basilar do Direito do Trabalho. Tal princípio busca, pois, igualar juridicamente partes que
encontram em situações de desigualdade econômica, através da proteção jurídica da parte
hipossuficiente na relação de trabalho, que é o empregado. É a partir desse princípio que
surgem todos os demais princípios trabalhistas, como o princípio da norma mais favorável, o
princípio da condição mais benéfica ao trabalhador, dentre outros. A terceirização vai contra
esses princípios basilares do Direito do Trabalho. Ela retira do trabalhador terceirizado a
proteção jurídica conferida aos trabalhadores contratados diretamente, porque não há uma
legislação trabalhista precisa acerca do tema, acabando que se faça um contrato de trabalho
não regulado pela legislação ou, com pouca regulação, mas fora dos moldes padrões.
Apesar das críticas, não se pode olvidar que a terceirização é uma realidade e,
portanto, faz-se necessário discutir e encontrar meios de como assegurar ao trabalhador
terceirizado os direitos trabalhistas garantidos aos demais trabalhadores. Nesse sentido, o
seguinte trecho:

[...] se houver uma fiscalização para inibir terceirizações fraudulentas (que


são as principais ensejadoras do aspecto negativo do fenômeno), pode-se
concluir que nem sempre a redução de custos se dará pela perda de direitos
trabalhistas. [...] o capitalista pode estar tendo lucro com a terceirização pelo
fato de estar relegando determinada atividade a um terceiro e o que ele paga
a esse terceiro é menos do que ele pagaria para que, com seus empregados
regulares, ele próprio realizasse o serviço. [...] nem sempre a economia se

128
Ibidem.
79

dará à custa do empregado. Pode ser diferente. E sendo diferente, a


terceirização, um mal a priori, poderá ser usada para o bem, seja do
trabalhador, das empresas ou da economia como um todo.129

Fato é que, mesmo que hajam motivos de ordem econômica para se buscar a redução
do custo do trabalho, não se pode buscá-lo passando por cima da ordem jurídica vigente, dos
conceitos e dispositivos constitucionais. O Direito e a Economia precisam encontrar um
caminho para seguirem juntos, harmonicamente.

3.2.1 A precarização moral violando o direito de personalidade do trabalhador

Diante do exposto no tópico anterior, vê-se que as modificações impostas ao mercado


de trabalho pela globalização e a utilização crescente de técnicas de flexibilização das
relações de trabalho criaram uma série de inseguranças para o trabalhador. Além das
inseguranças impostas aos trabalhadores e da crescente rotatividade da mão-de-obra, já
citados, a desintegração dos sindicatos também é um efeito da terceirização.
Além disso, outro efeito causado pela terceirização é a criação de empregos informais,
que, segundo Luiz Felipe Lampreia se dá quando:

[...] o contrato de trabalho se dá à margem da legislação trabalhista,


podendo, portanto, ser rompido mais facilmente; ao mesmo tempo, o
trabalhador não tem assegurado os direitos previstos naquela legislação nem
os benefícios vinculados a previdência social – mesmo após a Constituição
de 1988, que universaliza o direito à seguridade social[...].130

Ou seja, a terceirização não pressupõe somente empregados efetivos de uma empresa


prestadora que são oferecidos a uma empresa tomadora, mas que estão vinculados à primeira,
com carteira assinada e seus direitos trabalhistas e sociais respeitados e garantidos, ela
pressupõe também o fato de a empresa prestadora não contratar efetivamente os empregados
que empresta, se utilizando de trabalhadores autônomos para servirem como mão-de-obra
especializada de que necessitam.

129
FELÍCIO, Alessandra Metzger; HENRIQUE, Virgínia Leite. Terceirização: caracterização,
origem e evolução jurídica. In: MIRAGLIA, Lívia Mendes Moreira. A terceirização trabalhista no
Brasil. São Paulo: Quartier Latin, 2008. p. 135.
130
LAMPREIA, Luiz Felipe. Relatório brasileiro sobre desenvolvimento social. Estudos
Avançados, São Paulo, v. 9, n. 24, maio/ago. 1995. p. 29.
80

Com toda essa discriminação, o não pagamento de salários equitativos, e outros


problemas citados, o trabalhador terceirizado acaba sofrendo uma precarização moral.
Segundo Laércio Lopes da Silva:

O trabalhador terceirizado, com frequência, situa-se à margem do contexto


produtivo. São a ele direcionadas as mesmas atividades dos demais
trabalhadores, mas, obviamente, sem que lhe sejam reconhecidos e,
consequentemente, destinados os mesmos direitos, as mesmas prerrogativas
e a proteção típica do empregado celetista.131

Qualquer pessoa, ao perceber que é tratada de maneira tão desigual, à margem dos
direitos trabalhistas, teria sua moral, sua autoestima abalada. A flexibilização das relações
trabalhista traz, além da precarização do trabalho, a do próprio trabalhador enquanto pessoa,
pois atinge sua personalidade e sua dignidade, na medida em que o priva, cada vez mais, de
valores essenciais ao desenvolvimento humano no âmbito profissional. Priva-o de
reconhecimento profissional e pessoal, da inserção no meio corporativo, da valoração da sua
força de trabalho e consequente aumento de autoestima.
Segundo Jorge Luiz Souto Maior:

É nas relações humanas, demais, que os homens, segundo ressalta Richard


Sennet, adquirem a capacidade cultural de incorporar certos valores
essenciais para a vida em sociedade: caráter, confiança, respeito, ética.
E, como dito, também no aspecto econômico, a durabilidade das relações de
trabalho gera benefícios, o que, aliás, é muito fácil de ser percebido. Como
se sabe, não basta pegar um diploma para que se torne um trabalhador
competente para o exercício de determinada profissão. Nesse sentido, aliás, é
fácil verificar a falácia da proposição de que a precarização é consequência
natural dos tempos modernos. Isto é apenas uma figura retórica, até porque
muitos daqueles que dizem isto, para serem ouvidos, tiveram que durante
longo tempo formar a sua base de argumentação teórica (com estudos,
experiência, etc.), possuem vínculos permanentes e duradouros e quando
necessitam da utilização da força do trabalho alheio, logicamente, procuram
profissionais que atendam esses requisitos [...]. O ataque ideológico à
relação de emprego, portanto, só tem dupla motivação: mascarar a existência
de relações de emprego, em relações de trabalho que se desenvolvem com
todas as características de uma relação de emprego e evitar a discussão do
modelo de produção, tornando-nos impotentes para apontar os desajustes
econômicos.132

131
SILVA, Laércio Lopes da. A terceirização e a precarização das relações de trabalho: a
atuação do juiz na garantia da efetivação dos direitos fundamentais nas relações assimétricas de poder:
uma interpretação crítica ao PL n. 4330/2004. São Paulo: LTr, 2015. p. 111.
132
MAIOR, Jorge Luiz Souto. Relação de emprego e direito do trabalho. São Paulo: LTr,
2007; p. 81-85.
81

Todos esses problemas afetam os direitos sociais e fundamentais dos trabalhadores.


Não há uma relação digna no ambiente de trabalho. Laércio Lopes da Silva afirma que todos
esses aspectos fáticos permitem concluir que a terceirização e a flexibilização das condições
de trabalho tendem a afastar a incidência da proteção mínima conferida pela CLT aos
trabalhadores, autorizando o reconhecimento da chamada “precarização moral”, que é a
precarização da pessoa do trabalhador, consubstanciada na reunião de diversos aspectos
presentes nas relações entre empresas e terceirizados, fruto da prevalência do valor
meramente econômico do trabalho em desprestígio da dignidade da pessoa do trabalhador, o
que não encontra respaldo legal mínimo e tampouco se compatibiliza com os alicerces do
Direito do Trabalho133.
Nesse sentido, Oliveira Ascensão funda a categoria dos direitos de personalidade na
dignidade humana, que afirma como o ponto de partida do ordenamento jurídico e como uma
imposição ontológica: a pessoa, com sua dignidade, não é criatura do sistema jurídico. A
dignidade da pessoa humana implica que a cada homem sejam atribuídos direitos, por ele
justificados e impostos, que assegurem esta dignidade na vida social e que devem representar
um mínimo que crie o espaço no qual cada homem poderá desenvolver a sua personalidade,
mas devem representar também o máximo pela intensidade da tutela que recebem. O direito
atual marca-se pela necessidade de tutela dos valores essenciais para o ser humano134.
Um trabalhador não pode ser relegado ao sofrimento de perceber que o fruto do seu
trabalho, da sua dedicação beneficia outros e não ele mesmo, tudo pelo fato de ele estar
inserido em um processo de terceirização. Para Pietro Perlingieri, há uma necessidade dessa
tutela da integridade física e psicológica do trabalhador, seja ele terceirizado ou não:

A integridade da pessoa tem uma unidade problemática, dado que único é o


bem ou interesse protegido. Seja o perfil físico, seja aquele psíquico, ambos
constituem componentes indivisíveis da estrutura humana. A tutela de um
desses perfis traduz-se naquela da pessoa no seu todo, e a disciplina na qual

133
SILVA, Laércio Lopes da. A terceirização e a precarização das relações de trabalho: a
atuação do juiz na garantia da efetivação dos direitos fundamentais nas relações assimétricas de poder:
uma interpretação crítica ao PL n. 4330/2004. São Paulo: LTr, 2015.
134
ASCENSÃO, José de Oliveira. Direito civil – teoria geral I, introdução, pessoas, bens,
2000. In: LACERDA, Dennis Otte. Direito da personalidade e integridade psicofísica. Disponível
em: <http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/sao_paulo/1932.pdf>. Acesso
em: 25 ago. 2016.
82

consiste esta tutela é, de regra, utilizável também para cada um de seus


aspectos. Deve ser utilizada não somente a normativa específica da
integridade psíquica, mas também, aquela prevista para a defesa da
integridade física que é sempre inspirada pela garantia da pessoa. A tutela da
integridade psíquica é atuável também onde a norma ordinária se limitou a
tutelar a integridade física. A norma que estabelece a obrigação do
empresário de adotar as medidas necessárias para tutelar a integridade física
e a personalidade moral dos trabalhadores é extensível também à integridade
psíquica. Isso nem tanto porque a norma faz referência à personalidade
moral, mas pela observação de que ela, em um ordenamento fundado nos
valores da pessoa e do trabalho, deve ser interpretada como garantia da
personalidade do trabalhador. As normas constitucionais permitem, na
unidade do ordenamento, considerar a norma ordinária, colocada a favor da
pessoa, não mais excepcional e suscetível de sofrer limitações aplicativas,
mas como expressão de um princípio geral aplicável por analogia.135

O Brasil é um Estado Democrático de Direito, mas para se viver em uma sociedade


realmente democrática não basta ter leis democráticas, é preciso que elas sejam aplicadas
democraticamente, igualmente para todos, inclusive para os trabalhadores terceirizados.
Em geral, a terceirização no Brasil não passa de uma interposição de mão-de-obra
entre a empresa prestadora e a tomadora, na qual a prestadora contrata o empregado e o
repassa para trabalhar imediatamente na tomadora, evidenciando que quem efetivamente
explora a atividade do empregado é a tomadora e não a prestadora136.
Todavia, o que ocasiona a precarização da relação de trabalho não é o modo como a
subordinação se dá, mas o fato de ser fazer uma interpretação reducionista da posição do
trabalhador (hipossuficiente), esquecendo-se de que, pela Constituição Federal, os direitos
trabalhistas são direitos fundamentais/sociais.

3.2.2 A terceirização e a falta de proteção aos trabalhadores

A proteção ao trabalhador terceirizado ainda é singela e enfrenta divergências


doutrinárias e jurisprudenciais.
Com relação aos equipamentos de proteção individual (EPIs), por exemplo, segundo o
coordenador da Comissão de Estudos de Capacetes de Segurança para profissionais da

135
PERLINGIERI, Pietro. Perfis do direito civil. São Paulo: Renovar, 2007; p. 159/160.
136
SILVA, Laércio Lopes da. A terceirização e a precarização das relações de trabalho: a
atuação do juiz na garantia da efetivação dos direitos fundamentais nas relações assimétricas de poder:
uma interpretação crítica ao PL n. 4330/2004. São Paulo: LTr, 2015.
83

Indústria João Adalberto Corder, a empresa tomadora de serviços terceirizados pode ou não
fornecer os EPIs aos terceirizados, a depender do contrato acertado entre as partes 137. Caso a
empresa tomadora não forneça, ela deve exigir o fornecimento pela empresa prestadora, além
de dever também exigir ou fornecer programas de treinamentos e uso adequado dos EPIs.
Assim sendo, torna-se difícil verificar com precisão quem falhou em caso de acidente do
trabalho.
Com o Projeto de Lei nº 4330/04, tal questão ainda permanece. O artigo 3º dispõe: “A
contratada é responsável pelo planejamento e pela execução dos serviços, nos termos
previstos no contrato com a contratante”. Nesse ponto, não se vê evoluções, afinal, a
responsabilidade depende do que estará disposto no contrato. O artigo 5º, inciso IV, por sua
vez, traz a obrigatoriedade da fiscalização pela contratante do cumprimento das obrigações
trabalhistas decorrentes do contrato. Novamente, essa legislação deixaria a responsabilidade a
cargo da vontade das partes e do disposto no contrato, sem proteger efetivamente o
trabalhador.
Fernando Schnell discorre sobre quem é o trabalhador terceirizado, visando entender
como protegê-lo:

Considerando a realidade da terceirização em nosso país, entendemos que o


terceiro é o trabalhador. O que tem merecido maior atenção nessas relações
triangulares é o contrato interempresarial, de natureza civil, sendo a força de
trabalho tratada como simples mercadoria. Na prática, a terceirização tem
promovido a precarização do trabalho humano. Todos nós conhecemos as
condições degradantes a que são submetidos os empregados terceirizados,
que acabam, na prática, obedecendo a duplo poder de comando e ficam
sujeitos a uma instabilidade de emprego ainda maior – como se fosse
possível – do que aquela enfrentada pelos empregados com relação de
emprego bilateral clássica.
Na terceirização o trabalhador é colocado em segundo plano, um terceiro
sem importância, mero instrumento ou modo pelo qual a empresa prestadora
de serviços se desincumbe de sua prestação obrigacional para com a empresa
tomadora de serviços. Contudo, se a terceirização é uma forma inexorável de
organização dos meios de produção, deve-se ter presente que, na omissão do
legislador, o julgador deve interpretar as relações triangulares de trabalho
conforme aos direitos fundamentais sociais e ao valor social do trabalho
humano, considerado pela Constituição Federal como um dos pilares de
sustentação do Estado Democrático de Direito. Nesse caminho, parece ser

137
SERVIÇO terceirizado. Revista Proteção, n. 10, 2016. Disponível em:
<http://www.protecao.com.br/materias/p_r_o_t_e_c_a_o_responde/servico_terceirizado/J9jgAc>.
Acesso em: 26 ago. 2016.
84

possível assegurar uma proteção jurídica mínima à pessoa humana do


trabalhador, cuja dignidade constitui o fundamento do direito do trabalho.138

A Constituição Federal traz, em seu artigo 7º, os direitos dos trabalhadores urbanos e
rurais, os quais também se estendem aos trabalhadores terceirizados, quais sejam: relação de
emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa; seguro-desemprego; fundo
de garantia do tempo de serviço; salário mínimo; piso salarial compatível com a extensão e à
complexidade do trabalho; irredutibilidade do salário, salvo o disposto em acordo e
convenção coletiva; décimo terceiro salário; participação nos lucros; salário família; repouso
semanal remunerado; férias; licença à gestante; licença paternidade; aviso prévio proporcional
ao tempo de serviço; redução dos riscos inerentes ao trabalho; adicional de remuneração às
atividades penosas, insalubres ou perigosas; aposentadoria; assistência gratuita aos filhos e
dependentes até os cinco anos em creches e pré-escolas; reconhecimento das convenções e
acordos coletivos de trabalho (aqui, se espera que o trabalhador terceirizado possa se inserir
em um sindicato); proteção em face da automação; seguro contra acidentes de trabalho;
proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critérios de admissão por
motivo de sexo, idade, cor ou estado civil; proibição de qualquer distinção com relação ao
trabalhador com deficiência; proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e
intelectual ou entre os profissionais respectivos; proibição de trabalho noturno, penoso ou
insalubre a menores de 18 anos e de qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na
condição de aprendiz, a partir dos 14 anos; igualdade de direitos entre o trabalhador com
vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso.
Todas essas proteções constitucionais também devem ser efetivadas em favor dos
trabalhadores terceirizados. O Projeto de Lei nº 4330/04, por sua vez, prevê alguns avanços
nesse sentido.
O artigo 8º do Projeto de Lei em questão prevê que quando o contrato de prestação de
serviços especializados a terceiros se der entre empresas que pertençam à mesma categoria
econômica, os empregados da contratada envolvidos no contrato serão representados pelo
mesmo sindicato que representa os empregados da contratante. No entanto, tal proteção ainda

138
SCHNELL, Fernando. A terceirização e a proteção jurídica do trabalhador: a necessidade de
um critério para definição da licitude das relações triangulares: a responsabilidade solidária da
tomadora e da prestadora de serviços. Revista eletrônica: acórdãos, sentenças, ementas, artigos e
informações, Porto Alegre, v. 3, n. 46, p. 35-42, jun. 2007.
85

é vacilante, restando a seguinte dúvida: e no caso das empresas não pertencerem a mesma
categoria, qual sindicato representará o trabalhador terceirizado?
Segundo Sérgio Pinto Martins:

Os sindicatos de trabalhadores não simpatizam com a terceirização.


Argumentam que há a perda da carteira de trabalho assinada, dos benefícios
previstos para a categoria, do próprio emprego, e outros reflexos, como a
perda de receitas sindicais (contribuição sindical, assistencial etc.), o
enfraquecimento da agremiação ou da categoria em termos de negociação.
Ponderam que existe a inibição do sindicalismo, com a desagregação dos
filiados da categoria, podendo afetar as bases sindicais, reduzindo a
dimensão daquela e a representatividade do sindicato. Asseveram que há
também a perda de receitas sindicais, tanto em relação à mensalidade dos
associados, que deixam de sê-lo, quanto no tocante às contribuições
confederativa, sindical e assistencial.139

O artigo 12 poderia resolver essa questão, pois assim dispõe:

Art. 12. São asseguradas aos empregados da contratada quando e enquanto


os serviços forem executados nas dependências da contratante ou em local
por ela designado as mesmas condições:
I- relativas a:
a) alimentação garantida aos empregados da contratante, quando oferecidas
em refeitório;
b) direito de utilizar os serviços de transporte;
c) atendimento médico ou ambulatorial existente nas dependências da
contratante ou local por ela designado;
d) treinamento adequado, fornecido pela contratada, quando a atividade o
exigir;
II- sanitárias, de medidas de proteção à saúde e de segurança no trabalho e
de instalações adequadas à prestação do serviço.
Parágrafo único. Nos contratos que impliquem mobilização de empregados
da contratada em número igual ou superior a 20% (vinte por cento) dos
empregados da contratante, está poderá disponibilizar aos empregados da
contratada os serviços de alimentação e atendimento ambulatorial em outros
locais apropriados e com igual padrão de atendimento, com vistas a manter
o pleno funcionamento dos serviços existentes. (grifos nossos)

Todavia, ao final do parágrafo único, deixa-se clara a intenção do Projeto de Lei de


manter o pleno funcionamento dos serviços. Não há preocupação efetiva com o trabalhador,
mas sim com o giro econômico, ou seja, com o crescimento empresarial.
Outro dispositivo importante do Projeto é o artigo 16, in verbis:

139
MARTINS, Sérgio Pinto. A terceirização e o direito do trabalho. São Paulo: Malheiros,
1995. p. 44.
86

Art. 16. A contratante deve exigir mensalmente da contratada a


comprovação do cumprimento das seguintes obrigações relacionadas aos
empregados desta, que efetivamente participem da execução dos serviços
terceirizados, durante o período e nos limites da execução dos serviços
contratados:
I- pagamento de salários, adicionais, horas extras, repouso semanal
remunerado e décimo terceiro salário;
II- concessão de férias remuneradas e pagamento do respectivo adicional;
III- concessão do vale-transporte, quando for devido;
IV- depósitos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço – FGTS;
V- pagamento de obrigações trabalhistas e previdenciárias dos empregados
dispensados até a data da extinção do contrato de terceirização;
VI- recolhimento de obrigações previdenciárias.
§ 1º Caso não seja comprovado o cumprimento das obrigações trabalhistas e
previdenciárias a que se refere o caput deste artigo, a contratante comunicará
o fato à contratada e reterá o pagamento da fatura mensal, em valor
proporcional ao inadimplemento, até que a situação seja regularizada.
§ 2º Na hipótese prevista no § 1º deste artigo, a contratante deve efetuar
diretamente o pagamento dos salários, os recolhimentos fiscais e
previdenciários e o depósito do FGTS.
§ 3º Os valores depositados na conta de que trata o art. 9º desta Lei poderão
ser utilizados pela contratante para o pagamento direto das verbas de
natureza trabalhista e previdenciária.
§ 4º O sindicato representante da categoria do trabalhador deve ser
notificado pela contratante para acompanhar o pagamento das verbas
referidas nos §§ 2º e 3º deste artigo.
§ 5º Os pagamentos previstos nos §§ 2º e 3º deste artigo não configuram
vínculo empregatício entre a contratante e os empregados da contratada.

Observa-se, portanto, que, caso haja a violação deste artigo, a penalidade prevista no
artigo 22 é a de multa administrativa à empresa, correspondente ao valor mínimo para
inscrição na dívida ativa da União por trabalhador prejudicado. A autuação e o processo de
imposição de multas reger-se-ão pela Consolidação das Leis do Trabalho.
Considera-se que o problema do Projeto de Lei nº 4330/04 é o enfoque e a autonomia
direcionados aos contratos entre a tomadora e a prestadora de serviços, deixando à margem do
contexto a vontade e os direitos do trabalhador (também parte da relação e do contrato
celebrado).
87

CONCLUSÃO

O fenômeno da globalização econômica, que se intensificou após a Segunda Guerra


Mundial, caracteriza-se pela internacionalização da economia através da crescente
intercomunicação entre os diferentes países, que comercializam entre si. Junto com a
globalização também surgiram novas tecnologias e, consequentemente, um mercado mais
competitivo, impondo às empresas a necessidade de readaptação.
O intento das empresas de acompanhar as inovações reflete diretamente nas relações
de trabalho, culminando na redução dos custos da produção com vistas à concorrência de
mercado. Essa redução de custos se reflete diretamente na mão-de-obra, afinal, na visão
empresarial, uma das formas de reduzir os custos da produção é suprimir encargos trabalhistas
e previdenciários, ou seja, da flexibilização dos direitos trabalhistas.
Diante disso, surgiu o Projeto de Lei n° 4330/04, em trâmite perante o Congresso
Nacional, que visa ampliar a prática da terceirização para a atividade-fim da empresa,
considerando que a Súmula nº 331 do Tribunal Superior do Trabalho, única regulação sobre o
tema, apenas a admite no caso de atividade-meio.
Observou-se, no presente estudo, que a prática da terceirização causa danos
irreversíveis aos trabalhadores, principalmente no que diz respeito aos direitos fundamentais
sociais, previstos no artigo 6º da Constituição Federal.
Certo é que permeia o assunto o dilema entre a sobrevivência da empresa no mercado
globalizado e a garantia dos direitos básicos do trabalhador. Por isso, uma legislação sobre o
tema deve ser clara, precisa e capaz de evitar fraudes aos direitos previstos na Constituição
Federal e na Consolidação das Leis do Trabalho, sobretudo porque a temática apenas é
retratada por Súmula e ainda comporta divergências jurisprudenciais. Isso porque as
consequências da adoção irresponsável da terceirização são devastadoras: diminuição dos
salários; redução da qualidade dos empregos; aumento da insegurança dos trabalhadores e da
rotatividade da mão-de-obra; enfraquecimento dos sindicatos; entre outras.
Dentre as soluções propostas na literatura, há quem proponha a criação de um
sindicato mais atuante que defenda os direitos não só dos trabalhadores empregados, mas
88

também daqueles que se encontram fora do mercado de trabalho ou no mercado informal140;


ou exija respostas do próprio Direito do Trabalho, através da elaboração de tutelas que
ofereçam os parâmetros necessários para as novas formas de trabalho que estão surgindo, de
forma a evitar os excessos que estão sendo cometidos, em conjunto com uma reformulação do
processo do trabalho, vindo a funcionar de forma mais dinâmica e mais ética possível141; ou
que cobre a adoção de políticas econômicas e sociais por parte do Poder Público que visem
não a estabelecer paliativos para a pobreza somente, mas tenham como objetivo principal
supera-la142.
Acredita-se que o ideal seria a união dessas três propostas, as quais deveriam ter sido
refletidas no Projeto de Lei nº 4330/2004. Todavia, espera-se que os Tribunais trabalhistas e o
Supremo Tribunal Federal possam lapidar tal Projeto de Lei, caso seja aprovado, por meio da
interpretação e aplicação dos seus dispositivos, visando à proteção dos trabalhadores.
Significa dizer que é preciso encontrar um caminho intermediário, harmônico, assegurando os
direitos fundamentais sociais aos trabalhadores e possibilitando que empresas sobrevivam na
selva da concorrência de mercado.
Cabe também aos trabalhadores que sofrem com essa prática, unirem-se para lutar em
benefício próprio; ao Direito do Trabalho, apresentar tutelas mais adequadas e efetivas às
atuais necessidades desses trabalhadores; e ao Estado, implantar políticas econômicas e
sociais no sentido de melhorar as condições de vida dos trabalhadores terceirizados e,
consequentemente, da população em geral.
Não obstante, enquanto não surgem respostas para esses desafios produzidos pela
terceirização, deve o Poder Público (Executivo, Legislativo e Judiciário) ser sensível às
transformações decorrentes da evolução da tecnologia, dos mercados, adaptando a estrutura
jurídica existente a essas inovações, analisando as situações de terceirização, tutelando os

140
SILVA, Reinaldo Pereira e. O neoliberalismo e o discurso da flexibilidade dos direitos sociais
relativos ao trabalho. In: ARRUDA JUNIOR, Eduardo Lima de; RAMOS, Alexandre Luiz (Orgs).
Globalização, neoliberalismo e o mundo do trabalho. Curitiba: IBEJ, 1998.
141
RIEGEL, Estevão. Globalização, neoliberalismo e flexibilização: direitos e garantias. In:
ARRUDA JUNIOR, Eduardo Lima de; RAMOS, Alexandre Luiz (Orgs). Globalização,
neoliberalismo e o mundo do trabalho. Curitiba: IBEJ, 1998.
142
LAMPREIA, Luiz Felipe. Relatório brasileiro sobre desenvolvimento social. Estudos
Avançados, São Paulo, v. 9, n. 24, maio/ago. 1995.
89

trabalhadores e efetivamente responsabilizando empregadores que incorrerem in infrações


trabalhistas e previdenciárias.
90

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