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Para todos aqueles que sabem como é estar quebrado e para

todos que são mais fortes por causa disso.

Ernest Hemingway
Capítulo Um
Gabriel

Cabul, Afeganistão

É o cheiro de sangue que me diz que estou sonhando.


Ou acordado.
Neste ponto da minha vida, poderia ser qualquer um.
De qualquer maneira, o cheiro enche minhas narinas e penetra
dentro do meu nariz: enferrujado, metálico e doce. Sei por
experiência própria que se estou dormindo, ele ainda estará lá
quando eu acordar. Um lembrete pungente de uma noite da qual eu
nunca vou fugir.
É um inferno do qual nunca vou escapar.
Mesmo quando me contorço, quando tento acordar, um
barulho penetra minha consciência, um barulho que não pertence a
este sonho. Sei disso porque tenho revivido o mesmo pesadelo uma
centena de vezes. Este novo som e a sensação não encaixam.
É o inconfundível som dos ossos triturados da minha mão.
Meus olhos se abrem e olho em volta, registrando várias coisas
ao mesmo tempo.
Estou em um bordel em Cabul, o mesmo que sempre uso. O
cabelo preto da menina está agarrado firmemente em meus dedos,
em volta da minha mão esquerda. Com a minha direita, agarro a
mão flácida, os dedos quebrados espalhados em ângulos não
naturais.
Liberto imediatamente os dedos e ela olha para mim,
pressionando a outra mão à boca para conter um grito. Lágrimas
inundam seus olhos e derramam pelo seu rosto esmagado. O sangue
torna as lágrimas vermelhas e percebo alguma coisa. O cheiro de
sangue não estava vindo do meu sonho. Ele estava vindo dela.
Jesus.
Há sangue por toda parte, expelindo de seu nariz e seus olhos,
de todo o lado do rosto quebrado, pingando sobre sua pele morena
nua e manchando os lençóis amarelados da cama. Engasgo e
instintivamente me afasto dela com horror. Meu estômago aperta
em estado de choque.
"Que porra é essa?" Consigo sufocar.
Quando me movo, ela embala a mão quebrada.
A mão que eu quebrei.
Suor forma imediatamente em minha testa e meu coração bate
descontroladamente. Fiz isso com ela. Fiz isso com ela. Que porra é
essa que eu fiz? Estou em pânico e abalado. Mas, ao mesmo tempo,
meu treinamento entra em ação e me recomponho.
"Sinto muito", digo a ela rapidamente. Reunindo minha
inteligência e caminhando em direção a ela, estendo a mão para
avaliar seus ferimentos. Ela recua. O medo aparente em seus olhos
selvagens enquanto ela gira os ombros para longe de mim, como se
esperasse mais um golpe. Meu estômago afunda com a reação dela,
sabendo que ela está com medo de mim.
Com uma reação doentia, ela tem uma razão para estar assim.
Eu engulo em seco, o gosto espesso da auto repulsa espalhando
na minha boca.
"Por favor", digo a ela ofegante, com a mão erguida. "Deixe-me
ver. Não vou te machucar novamente."
A prostituta, uma moça esbelta chamada Niki treme, mas
obriga-se a permanecer imóvel enquanto sinto seus braços e pernas.
Ela suga a respiração quando chego muito perto de sua mão
quebrada, mas rigidamente me permite examinar todo o resto. É
quase estranho. Já comi essa garota de vinte maneiras diferentes de
domingo, mas agora ela está tão distante como um estranho. Porque
ela está com medo.
De mim.
"Sinto muito", digo a ela, olhando para longe de seus ombros
salpicados de sangue. "Não vou vir mais aqui. Estava dormindo. Não
sabia o que estava fazendo. Não vou te machucar novamente, Niki.
Sinto muito."
Um de seus olhos está inchado, mas o outro se amplia com as
minhas palavras e ela me agarra com a mão boa. Seus dedos estão
frios e tremem.
"Não", ela sussurra. "Se você ficar longe, eles vão me bater por
ser desagradável para você. Por favor. Não fique longe, soldado."
Fico olhando para ela, horrorizado. "Eu acabei de bater em
você", digo a ela lentamente. "Não queria, mas isso não é uma
desculpa. Apenas acabei de bater em você."
Niki sacode a cabeça, encolhendo-se quando o movimento
causa dor. A culpa inunda através de mim. Machuquei uma mulher
inocente. Jesus Cristo. Sou um monstro.
"Você estava dormindo", diz Niki inflexivelmente. "Você têm
pesadelos enquanto você dorme. Não foi você. Foi a coisa ruim."
"A coisa ruim?" Pergunto incerto, os meus olhos congelados no
rosto ensanguentado. Ela concorda.
"Isso persegue você", ela responde solenemente em seu forte
sotaque afegão. "É diferente para cada um, mas persegue a todos
nós. A coisa ruim te pegou".
A coisa ruim me pegou.
Engulo em seco, tentando desalojar a porra do caroço que se
formou na minha garganta.
"Sinto muito, Niki" digo a ela novamente. "Talvez a coisa ruim
me pegou. Juro que vou concertar isso."
Ela me olha com curiosidade, seu corpo tenso com a dor, mas
permanece imóvel enquanto enrolo o lençol em torno de seus
ombros e rapidamente me visto.
Estou fora da porta e atravessando o corredor dentro de um
minuto. Ignoro os ruídos de gemidos, gritos e batidas provenientes
dos outros pequenos quartos escuros, enquanto sigo o meu caminho
pelo corredor marchando para o escritório. Sei que o homem no
comando fica lá, porque o pago cada vez que visito Niki.
Ele olha para mim com surpresa quando entro, mas não
hesito. Lanço todo o dinheiro que tenho na minha carteira sobre a
mesa. Todo o dinheiro estrangeiro de aparência estranha que é
equivalente a centenas e centenas de dólares.
"A menina tem me satisfeito", digo-lhe baixinho. "Vou voltar
para os Estados Unidos, mas vou sentir falta dela. Ela deve ser
recompensada. Além disso, ela precisa de um médico. Ela está
ferida."
O homem olha para mim, seu olhar escuro brilhando ao ver a
grande pilha de dinheiro. Ele balança a cabeça bruscamente sem
falar, claramente despreocupado com a menina sangrando pelo
corredor. Ele se contorce como uma cobra raspando com os dedos
escuros as notas para ele.
"Ela precisa de um médico", digo-lhe com firmeza, apertando
as palavras por entre os dentes. "Agora".
Bato meu punho em sua mesa, forte, bem no meio do dinheiro.
Ele olha para mim e silenciosamente pega o telefone. Ele
murmura palavras que não consigo entender. Em seguida, desliga.
"Está feito", diz ele brevemente, voltando sua atenção para as
notas em sua mesa.
Sem mais palavras deslizo nas ruas escuras de Cabul, fazendo
meu caminho de volta para o meu acampamento fora da cidade.
Depois que estou de volta na minha tenda, mecanicamente enfio
minhas coisas dobrando ordenadamente em minha mochila.
Quando meus dedos escovam contra o meu telefone via satélite, o
pego e em seguida, digito números nele.
"Coronel?" digo quando ele responde. "Você vai precisar enviar
outro XO1 aqui. Estou chegando."
O coronel não pergunta por quê. Ele me conhece bem o
suficiente para confiar no meu julgamento. Se eu disser que estou
vindo do campo, ele confia que há um bom motivo. E é claro que
existe. Esta é a única vida que eu sempre quis. Apenas algo
monumental me forçaria a ir embora.
A coisa ruim me pegou.
Nunca recuei em minha vida. Nunca me afastei de uma luta e
nunca me encolhi de medo. Nunca. Isso não é quem sou. Mas eu
estive em combate tempo suficiente para saber que quando algo
imbatível te persegue: você faz a única coisa que pode fazer.
Você corre.

1
Soldado.
Capítulo Dois

Madison
Oito meses depois

Chicago

A música neste clube é tão alta que, literalmente, bate no meu


peito, sacudindo na minha caixa torácica. O que diabos as pessoas
veem em lugares como este? Tusso com a fumaça produzida pela
máquina de fumaça. Então, estico meu pescoço enquanto tento
encontrar minha amiga Jacey entre as centenas de pessoas suadas
amontoadas nesta sala.
A última vez que a vi, ela tinha desaparecido em um canto
escuro com o namorado perdedor.
"Você viu minha amiga? A loira de camisa vermelha
apertada?" Grito para um cara qualquer que vem me observando
atentamente de forma esquisita por dez minutos. Ele sorri um
sorriso cheio de dentes e cola em mim.
"Não", ele grita de volta. "Mas nós não precisamos dela para o
que tenho em mente."
Nojento.
"Nem agora, nem nunca", respondo friamente, virando-lhe as
costas para procurar pelo amontoado de pessoas na pista de dança.
Realmente só quero ir para casa.
Como deixei Jacey me convencer a vir até a cidade para
comemorar o aniversário dela está muito, muito além de mim agora.
Deveria finalmente conhecer seu irmão esta noite, mas Jacey
desapareceu com seu namorado mais de uma hora atrás e não os vi
desde então. Meus pés doem, estou exausta por trabalhar 60 horas
essa semana e preciso de algo para comer antes de arrancar o olho
de alguém fora.
Sabendo das minhas limitações, faço o meu caminho através
do bar e da calçada na frente. Tenho que sair daqui. Eu nos trouxe
aqui, mas tenho certeza que Jacey pode pegar uma carona para casa
com Peter se ela precisar. Seu namorado não pode manter um
emprego, mas pelo menos ele pode dirigir.
Pego meu telefone.
** “Estou indo embora. Você pode pegar uma carona para
casa com Peter?” **
Assim que envio o texto, percebo que ela não vai ser capaz de
ouvi-lo. Então, quem sabe quando ela vai vê-lo? Com um suspiro,
decido que tenho que ir atrás dela. Pelo menos por alguns minutos.
Não seria certo deixá-la aqui.
"Se eu quisesse ter sexo em público com meu namorado, onde
eu estaria?" Medito em voz alta, tentando pensar como Jacey
enquanto vago do lado de fora do clube. Jacey é pateticamente ruim
sobre DPA2. Ela não dá a mínima para o que as pessoas pensam
sobre ela. É uma coisa que admiro nela tanto quanto me irrita.
Enquanto me afasto cada vez mais da calçada e das sombras,
parece cada vez mais com um lugar onde Jacey e Peter poderiam
estar, contra o edifício. Mas, ao mesmo tempo, também parece ser o
lugar perfeito para ser assaltado. Fico instantaneamente nervosa e
olho em volta rapidamente.
Estou agora em um beco, uma rua estreita molhada que está
cheia de lixo e pichações. Meus saltos estalam no asfalto brilhante e
respiro fundo, apreciando o ar fresco enquanto a escuridão me
engole.
Graças a Deus estou fora do clube. Esse é o meu pensamento
principal enquanto ando na escuridão, mas mesmo assim, alcanço a
minha bolsa e pego a minha pequena lata de spray de pimenta. Não
faz mal estar preparada.
Não há ninguém aqui. Isso é muito evidente enquanto observo
o prédio sujo, o amontoado de latas de lixo e as sombras vazias.
Bem, estou esperando que as sombras estejam vazias, de qualquer
maneira. Elas parecem estar. E pareço estar sozinha. Enquanto isso
é reconfortante de um lado, e frustrante de outro.
"Jacey, onde diabos você está?" Murmuro.
Assim que estou me preparando para desistir e voltar para o
clube, percebo algo que chama minha atenção e paro.

2
Demonstração Pública de Afeto.
Um cara está encostado no prédio um pouco afastado de mim,
metade na escuridão, metade na luz. Normalmente isso não iria me
parar especialmente desde que estou em um beco sozinha. Mas algo
sobre sua postura me intriga algo que não posso colocar meus dedos
o bastante.
O espio mais de perto.
Suas longas pernas estão cruzadas graciosamente na frente
dele enquanto ele se inclina contra o edifício. E minha nossa, ele é
grande. Ele deve ser alguns centímetros a mais que 1,80 metros de
altura com um peito e ombros largos que estreitam em uma cintura
fina.
Está frio do lado de fora, mas ele não está vestindo uma
jaqueta, apenas uma camiseta preta confortável e um jeans
perfeitamente ajustado. Não há um traço de gordura nele. Ele é
magro e musculoso, com cabelo curto e escuro. De perfil, suas
características são esculpidas e do que posso dizer, ele tem apenas
uma simples sugestão de barba ao longo de sua mandíbula forte. Do
jeito que me excita. Parece tão rude.
E esse cara... Ele definitivamente parece rude. Tudo sobre ele
grita força e poder. Esse jeito me excita também. Decido que é isso
que me intriga. Ele é como poder personificado. Ele se mantém com
um propósito.
Enquanto olho, ele acende um cigarro e dá uma tragada,
soltando a fumaça lentamente para a noite. Seus lábios são cheios e
masculinos e ele tem uma fenda em seu queixo. Ele é inegavelmente
sexy. Normalmente eu ficaria longe de alguém como ele, alguém
pecaminosamente sexy, mas tão... Forte. Um cara como esse é
problema. Isso é certo.
Mas não vim para o clube hoje à noite para fugir.
Vim aqui para pegar alguém. Para esquecer minhas
responsabilidades e ser imprudente por uma noite. Para agir de
acordo com a minha idade. Para ser alguém que não sou.
Olho o cara novamente.
Normalmente eu iria correr para longe dele.
Mas talvez... Apenas hoje... Não vou.
Não tenho que ser eu esta noite. Posso ser quem eu quero ser,
porque ele nunca vai me ver de novo.
Só por essa noite.
Hesito, tentando decidir o que fazer.
Então, quase como se meus pés tivessem vontade própria, dou
um passo na direção dele. E depois outro.

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Gabriel

Meu cigarro queima no escuro enquanto dou uma boa e longa


tragada. Chupo o ar da cidade e da nicotina, depois expiro o lixo
tóxico. Sei que fumar é ruim para mim, que é uma merda para os
meus pulmões, mas particularmente não me importo agora.
De dentro do clube, posso sentir o som batendo contra a
parede, vibrando na minha espinha. No interior, as mulheres estão
entorpecidas mexendo-se na pista de dança no tempo da batida, à
espera de caras como eu levá-las para casa e as foderem.
Não me importo sobre isso também. Tinha que tomar um
pouco de ar fresco, para fugir da fumaça claustrofóbica e suor antes
de fodidamente explodir.
Se eu fosse uma pessoa normal, estaria nervoso em um beco
escuro de Chicago sozinho. Não sou uma pessoa normal, porém. As
merdas que vi no Afeganistão tornaram a minha capacidade de
sentir medo impotente.
Mas não o resto de mim.
Mudo meu peso, ajusto os meninos e o meu pau semiduro. Eu
teria que ser desumano para não sentir tesão depois de assistir as
meninas bêbadas seminuas esfregarem-se em qualquer um que
pudesse comprar-lhes uma bebida. Eu deveria me sentir mal por
isso, mas não sinto.
Antes da minha ida ao exterior, não teria sido pego com
nenhuma delas. Mas depois de estar no exterior por três anos, meu
pênis não está escutando mais a razão. Ele sabe o que eu preciso.
Suspiro e ajusto a virilha na minha calça jeans mais uma vez,
antes de tomar outra respiração profunda, e depois outra. Meu pau
começa a se acalmar e meus sentimentos claustrofóbicos começam a
desaparecer. Graças a Deus. Uma das muitas coisas que eu trouxe
para casa foi a claustrofobia, e não é nem mesmo o tipo previsível
como quando se tem medo de espaços pequenos. É o tipo aleatório
que pode atacar nos momentos mais estranhos, como no meio de
uma multidão.
Caralho.
Lanço o cigarro e esmago com o meu calcanhar. Em seguida,
puxo outro, acendendo-o. É um mau hábito que trouxe comigo,
juntamente com um par de tatuagens e a tendência para acordar
com um suor frio por pesadelos loucos.
"Você sabe que isto vai te matar, né?"
Desperto a atenção, a minha cabeça estalando ao redor para
encontrar a voz suave no escuro.
Uma mulher chega mais perto e não posso acreditar que não a
vi se aproximar.
Puta que pariu.
Nós somos as únicas duas pessoas em um beco isolado. Como
eu poderia ter perdido ela? Meus sentidos estão seriamente
entorpecidos desde que voltei aos EUA. Ela é uma mulher alta,
esbelta e deslumbrante. O tipo de mulher que se destaca no meio da
multidão, ainda mais em uma rua abandonada.
O cabelo loiro cai no meio de suas costas com olhos
arregalados. Ela olha para mim. Seus lábios estão franzidos, como se
ela estivesse tentando decidir se é seguro ficar aqui. E não é,
especialmente para uma mulher com a sua aparência.
"Você não sabe que andar sozinha em um beco escuro de
Chicago é mais perigoso do que fumar um cigarro?"
Olho para ela calmamente enquanto tomo outra tragada no
meu cigarro.
Ela não parece com medo nenhum quando ela dá de ombros.
"Qualquer uma dessas coisas tem que ser melhor do que ser
esmagada até a morte lá dentro."
Ela aponta para a porta fechada do clube com desdém.
Examino-a novamente. Ela está usando as roupas certas para estar
aqui... Apertadas calças de couro rosa, um top creme, igualmente
apertado, e um par de sapatos de salto extremamente altos e
brilhantes. Enquanto examino, percebo que ela não está usando um
sutiã sob a blusa de cor clara. De alguma forma, isso parece fora de
lugar para ela, como se ela não se encaixasse nas roupas de
prostituta.
O problema é que as roupas de prostituta definitivamente se
encaixam nela, em todos os lugares certos. Meu pau dá uma guinada
de volta à vida, enquanto o meu olhar desliza sobre seus quadris
curvados e sua bunda.
"Nesse caso, quer um?" Ofereço-lhe o maço.
Ela parece surpresa, depois ri, balançando a cabeça.
"Não, obrigada. Já estou no beco sozinha. Acho que isso é o
suficiente de risco numa noite."
Sorrio de volta enquanto guardo os cigarros no bolso. "Mas
você não está sozinha agora. Estou aqui."
Ela me olha e posso ver agora que seus olhos são azuis.
"De alguma forma", ela diz pensativa, "duvido que esteja mais
segura."
Sorrio. "De alguma forma, acho que você está certa."
O engraçado é que ela não parece preocupada. Na verdade, ela
chega mais perto e se inclina contra a parede de tijolos sujos ao meu
lado. Mesmo sob a rua amarelada e encardida, ela parece perfeita.
"Você vai ficar suja", indico. Ela olha para mim inocentemente,
os olhos azuis arregalados.
"Eu gosto de ficar suja, às vezes."
E então ela sorri um sorriso perverso.
Sinto-me como se tivesse sido sugado, com todo o ar extraído
fora do meu corpo. Um sorriso sugestivo como esse, nessa modelo
de passarela é demais para superar os meus processos de
pensamento lógico. Meu bom senso parece ter sido sequestrado
pelos meus hormônios.
Lançando o cigarro na calçada, esmago com o calcanhar da
minha bota. Não sei o que diabos estou fazendo, mas não me
importo muito neste momento. Estou com tesão e ela é linda. Isso é
um arranjo perfeito se alguma vez já vi um. O ar entre nós
praticamente estala com a atração sexual.
Olho para ela e enquanto eu olho me deixo inclinar para ela.
Ela é suave e cheira ainda mais suave.
"Eu sou Gabriel."
"Sou Madison", ela responde. Ela não olhou para longe de mim
nem mesmo uma vez. Ela está definitivamente na minha, embora só
Deus sabe o porquê. Sou tão diferente dela quanto posso ser.
"Por que você está aqui, Madison?" Pergunto. "Você parece um
pouco fora do lugar."
De repente, ela parece autoconsciente. "Uma amiga me
convenceu a vir. Ela achou que eu precisava de uma noite na cidade
grande. Mas realmente queria estar em casa em vez disso. Estou
cansada e esses saltos machucam."
Sorrio. Seus sapatos parecem dolorosos como o inferno. Nunca
entendi por que as mulheres usam essas merdas.
"Então você não mora aqui?"
Ela balança a cabeça e quando ela faz seu cheiro parece nos
envolver, bloqueando o cheiro da cidade pungente. Sua proximidade
é inebriante e me preparo contra isso, para não ser sugado ainda
mais.
"Não. Sou de uma pequena cidade do lago, a mais ou menos
uma hora daqui. Mas parece um mundo de distância. Não sou uma
garota da cidade grande. Não mais, de qualquer forma."
Na verdade, eu não teria imaginado isso. Ela tem aquele
perfeito olhar calculado que as meninas da cidade grande e tem essa
atitude perfeitamente confiante.
Ela me cutuca, o ombro delgado batendo no meu. "Por que
você está aqui? Você não parece que se encaixa aqui também. Não
aqui neste clube, de qualquer maneira."
Levanto uma sobrancelha. "Oh?"
O Underground é um point quente da moda de Chicago. E ela
está certa. Não me encaixo aqui. Me encaixo em um Humvee3 nas
montanhas do Afeganistão. Mas eu não me encaixo. Não mais.
Madison percebe minha expressão e cora.
"Sem ofensa. Mas você não está usando jeans skinny e óculos
modernos. Você parece mais como... O tipo de jogador de futebol.
Ou o tipo ao ar livre, talvez."
Sorrio para ela. "Desculpa aceita. E sou mais do tipo ao ar
livre."
O tipo de soldado de arma em punho, para ser exato, mas não
digo isso.
Madison parece aliviada. "Pensei que fosse. Então, o que você
está fazendo no meio da cidade?"
"O que faz você pensar que não moro aqui? Não posso
desfrutar do ar livre e ainda morar na cidade? Ou sou muito chato
para isso?" Levanto minha sobrancelha novamente.
Ela cora novamente. "Sinto muito. Acho que só presumi. Onde
você mora?"
Sorrio. "Aqui. Apenas me chame de um peixe fora d' água."
Ela balança a cabeça e me acerta, mas eu facilmente pego seu
pulso e puxo-a para mim. É um movimento corajoso, mas estou me
sentindo arrogante. Ela não resiste o que agrada e me surpreende.
Ela pressiona contra mim, olhando nos meus olhos. Ela parece
expectante e nervosa, confiante e ainda hesitante. Os seios dela estão
esmagados contra mim, o que torna difícil formar pensamentos
coerentes, difícil de examinar as nossas diferenças ou até mesmo
seus motivos. Sua doçura é o contraste perfeito para a minha dureza.
Isso é tudo que posso pensar.
"Respondendo à sua pergunta, estou aqui no clube porque
minha irmã achou que eu deveria sair e conhecer alguém. Para citá-
la, estou 'ficando malvado como o inferno e preciso de um pedaço
de bunda’."
Madison ri, um som baixo e rouco.
"E você está? Precisando de um pedaço de bunda?"
3
Veículo de guerra.
Ela parece ansiosa. E interessada.
Prendo o olhar dela.
"Mais do que você pode imaginar."
Deslizo minhas mãos pelas costas para a bunda dela,
apalpando e apertando.
"E gosto da sua", acrescento. Estou sendo arrogante
novamente, mas ela parece gostar.
Ela praticamente ronrona enquanto se inclina para mim ainda
mais, seu nariz quase tocando o meu. Seus lábios passam tão perto
que posso senti-los.
Ela desliza suas mãos até minha bunda, segurando em seus
dedos.
"A sua serve."
O ar paira pesado entre nós, carregado e elétrico. Nossos olhos
estão trancados e cada um de nós faz uma pausa, esperando o outro
para fazer um movimento.
A antecipação está me matando.
Respiro.
Então, ela também respira uma vez.
Seus lábios roçam nos meus e sua boca cheira a hortelã. E, em
seguida, antes que eu possa ter outro pensamento agonizante, ela
cobre minha boca com a sua.
Finalmente.
Sua língua desliza na minha boca e tem gosto de céu, como um
copo de água gelada no final de um dia quente no deserto. Nossas
línguas emaranhadas e seus lábios consumem os meus. Encontro-
me imediatamente duro como pedra e ela percebe.
Ela sorri contra os meus lábios.
"Acho que você gostou disso."
"O que me entregou?" Pergunto com um sorriso, firmando-me
ainda mais apertado contra ela.
Madison sorri de volta e me beija novamente. O segundo beijo
é tão demorado quanto o primeiro. Ela parece um pouco
desesperada, um pouco vulnerável. E muito sexy.
Ela desliza suas mãos de volta pela minha coluna, envolvendo
os braços em volta do meu pescoço. Enquanto ela faz isso, corro
minhas mãos ao longo de seus lados, sentindo a pele de suas costas
sob meus dedos.
"Lembra quando disse que meus pés doem? Gostaria de tirar
meus sapatos."
Olho para ela. "Então tire."
"Na sua casa", ela acrescenta.
Aspiro afiadamente e seguro seus quadris ainda mais
apertados.
"Você não tem que dizer isso duas vezes."
E ela não faz. Pego a mão dela e praticamente arrasto em
direção à rua, chamando um táxi.
Em menos de um minuto nós caímos no banco de trás de um
táxi e estamos acelerando em direção ao meu apartamento.
Madison beija meu pescoço, puxando a minha orelha com os
dentes enquanto suas mãos roçam meu peito. "Quão longe você
mora?"
“Não muito", consigo dizer. Estou realmente orgulhoso de mim
mesmo por ser capaz de falar neste momento, uma vez que a mão
dela faz o seu caminho até a minha virilha latejante. Arqueio os
quadris de modo que estou encaixado com mais firmeza na mão
dela.
Ela lambe meu pescoço.
"Você tem um gosto bom", sussurra.
Não posso suportar isso. Gostaria que ela estivesse vestindo
uma saia, mas ela não está. Então, ao invés disso encaixo minha mão
entre as pernas dela, movendo o polegar em círculos contra o lado de
fora da calça. Ela se move contra mim, gemendo.
Enfio minha mão na frente de sua calça, encontrando a
calcinha completamente encharcada.
Deslizo um dedo dentro.
E, em seguida, dois.
Então, retiro os dois e lentamente limpo eles em minha boca.
Seus olhos se arregalam, exalando um pequeno suspiro
quando seus dedos me agarram.
"Você está bêbada?" pergunto. Não sei por que, mas parece a
coisa certa a fazer, para ter certeza de que ela não está. Por favor,
diga não. Silenciosamente incito quando seus dedos traçam círculos
em volta do meu mamilo.
"Não."
Graças a Deus. Não pergunto de novo. Em vez disso, a levanto
para o meu colo e embalo contra o meu corpo. O atrito é ao mesmo
tempo gratificante e frustrante.
Seus olhos se arregalam quando empurro contra ela através de
suas roupas e ela procura com a sua mão para baixo para deslizar
sobre meu pau latejante.
"Você é enorme", ela respira, arregalando os olhos, tanto em
apreensão quanto em apreciação.
Sorrio.
"Quando chegar em casa, vou transar com você com isso", digo
a ela em seu ouvido." E você vai gostar."
Seus dentes prendem meu lábio, seus quadris firmemente
plantados contra o meu. "Você é muito seguro de si mesmo, não é?"
Sorrio contra sua garganta antes de morder ela.
"Muito seguro. Na verdade, vamos fazer um acordo. Se você
não acabar gritando o meu nome dentro de uma hora, vou comprar-
lhe o café da manhã."
Ela faz uma pausa, olhando nos meus olhos. "Soa como se eu
ganhasse de qualquer maneira."
"Você ganha", consegui dizer antes de mergulhar minha língua
em sua boca novamente.
Entre beijos ofegantes, Madison consegue fazer uma pergunta.
"Eu nunca fiz isso antes. Como sei que você não é uma pessoa
louca?" Ela pergunta em um sussurro.
"Você não sabe", respondo, enquanto puxo sua blusa e chupo o
mamilo nu, meus dedos abertos em torno de sua caixa torácica
delgada. Ela arqueia contra mim e suspira. "Mas não vou te
machucar." Faço uma pausa e olho para ela. "E de alguma forma,
fico com a sensação de que você precisa disso tanto quanto eu. Estou
certo?"
Madison recupera o fôlego e acena.
"Preciso."
Não respondo e não pergunto por quê. Envolvo meus braços ao
redor de seus ombros e beijo ela novamente.
Estou inalando seu perfume feminino, sugando-a, quando me
assusto com o chiado dos pneus. Antes que eu possa ver de onde está
vindo, o instinto levanta o cabelo na parte de trás do meu pescoço.
Enfio Madison no chão do táxi e abaixo em cima dela.
O impacto é incrivelmente violento.
Há ruídos altos de metais colidindo quando a porta ao meu
lado é atingida e nosso táxi é arremessado em uma curva do outro
lado da rua estreita, batendo a uma parada contra a parede de um
prédio próximo. O carro sacode para lá e para cá por um momento,
então para.
Estamos atordoados enquanto nos sentamos por um mero
segundo, tentando envolver nossas mentes no que aconteceu. Vapor
e fumaça começam a vazar para fora sob o capô do táxi e o motorista
tropeça para fora do seu assento, abrindo a porta ao lado de
Madison.
"Rápido, saiam", diz ele com um sotaque indiano pesado.
"Depressa".
Quase enfio Madison na minha frente e depois a puxo para
longe do carro amassado. Há um som de assobio vindo do motor.
Em seguida, um estalo estranho. Sei o que isso significa. Sei pelo
cheiro acre de gasolina que arde no meu nariz.
"Corra", atiro a Madison e seus calcanhares clicam alto sobre o
pavimento enquanto nos apressamos para a calçada do outro lado da
rua. Viramos quando chegamos à calçada, bem a tempo de ver o táxi
ser coberto quando a extremidade dianteira do taxi explode em
chamas.
"Oh meu Deus" Madison respira, apoiando-se no meu braço,
protegendo o rosto das ondas de calor que rolam sobre nós, mesmo a
esta distância.
Enquanto vejo as chamas alaranjadas lambendo na noite
negra, a brisa aquecida escova todo o meu rosto. Isso aciona uma
resposta em mim.
Sinto a ansiedade já familiar vindo e minha barriga aperta
mais do que um aperto de aço. Posso sentir minha garganta começar
a fechar, uma vez que me impede de obter uma respiração completa.
Porra.
"Tenho que sair daqui", murmuro enquanto meu peito aperta.
O suor escorre das minhas têmporas e eu seco, apertando os olhos
enquanto o sal arde meus olhos. Madison olha para mim, os olhos
cheios de preocupação.
"Você está bem?" Ela pergunta, seus dedos trêmulos enquanto
enrolam em volta do meu braço. "Nós não podemos sair. Tenho
certeza que a polícia vai querer falar com a gente."
Ela aponta para a plateia que se forma, onde carros de polícia
já começam a se reunir. Posso ver policiais uniformizados zanzando,
alguns deles vindo em nossa direção. O calor do fogo e a minha
própria ansiedade começam a me oprimir.
"Tenho que sair daqui", murmuro novamente. Seus dedos
estão muito apertados agora, juntamente com tudo o mais... A
minha camisa, meu cinto, meus sapatos. Tudo me sobrecarrega em
borrões, cheiros e sons. Não posso aguentar. Vou explodir. Ou
implodir. Arranco meu braço de sua mão e me afasto.
A última coisa que vejo antes de tudo ficar preto é o olhar
surpreso no rosto de Madison, iluminado pelo brilho vermelho
alaranjado do fogo táxi.
Capítulo Três

Madison

Por um breve momento me pergunto se o choque do acidente


de táxi me atingiu ou se de alguma forma eu caí no buraco do coelho.
O cara em pé na minha frente desabou completamente, indo
de ultra-arrogante e terrivelmente sexy para a bagunça em pânico
completo literalmente em trinta segundos.
Nem sei o que fazer com ele.
Coloquei minha mão em seu braço, apenas para tê-lo
removido. Há um olhar selvagem em seus olhos enquanto dá meia
volta, à procura de uma saída, o olhar correndo ao redor do
perímetro de arranha-céus que nos cercam.
"Tenho que sair daqui", ele resmunga, pela terceira vez. Seus
olhos têm um olhar vidrado que eu nunca vi antes. Ele começa a se
afastar e eu agarro seu braço novamente. Não há nenhuma maneira
que eu possa deixá-lo andar para longe neste estado. Não o conheço,
mas sinto a responsabilidade de não fazer isso.
"Espere", digo-lhe baixinho. "Nós temos de dar nossos nomes
para a polícia e então podemos ir. Você tem uma identificação com
você?"
Ele mexe no bolso de trás e me dá sua carteira antes de se
sentar no meio-fio, olhando para o espaço, para as chamas do táxi.
Depois de um minuto ele fecha os olhos com força e cai com a cabeça
em suas mãos, como se quisesse acabar com tudo aquilo.
Mas que diabos?
Assisto hesitante por apenas um segundo antes de trotar para
dar ao policial mais próximo nossas identidades. O policial me pede
minhas informações de contato e, em seguida olha para Gabriel.
"Ele está bem? Será que ele precisa de uma ambulância?"
Viro-me e olho. Gabriel está agora inclinado para frente, com a
cabeça descansando sobre os joelhos, com os olhos ainda fechados.
"Não acho que ele está machucado", respondo, embora
honestamente não tenha ideia. "Acho que ele bebeu demais.
Estávamos tomando o táxi para sua casa no Underground".
"Espertos", o policial me diz. “Há muitos bêbados dirigindo
por aí. Bom chamar um táxi."
"Exceto quando o táxi explode", murmuro enquanto coloco
minha carteira de motorista na minha bolsa. O policial sorri
ironicamente.
"É. Bom ponto. Pelo menos ninguém ficou ferido."
Olho insegura para Gabriel, não sei como voltar até ele. Não
estou muito certa sobre isso. Ele ainda tem os olhos fechados, mas
seu pé está batendo violentamente contra a calçada.
Quando o alcanço, me ajoelho na frente dele.
"Gabriel, você bateu a cabeça no acidente?"
Porque isso faria sentido. Talvez. Iria uma concussão fazer
alguém enlouquecer assim?
Gabriel olha para mim. "Não sei. Acho que não. Preciso ir para
casa." Ele nem sequer soa como ele mesmo agora. Ele está falando
no mesmo tom estranho, completamente diferente da voz rouca e
sexy que tinha antes.
Isso está me assustando.
Suspiro. Porque não posso deixá-lo aqui.
"Onde você mora?"
Ele só olha para mim.
Percebo que ainda estou segurando sua carteira, então abro e
olho sua carteira de motorista. Seu endereço não é tão longe.
Estamos, na verdade, a uma curta distância. Graças a Deus. Não
quero entrar em outro táxi tão cedo.
Alcanço e puxo o braço musculoso de Gabriel.
"Vamos lá", digo a ele. "Estou te levando para casa."
Ele vem comigo, sem protesto, puxando o colarinho.
"Não consigo respirar", ele resmunga para mim. Olho para ele.
O colarinho não está muito apertado.
"Você vai ficar bem", asseguro-lhe.
Embora eu não tenha certeza.
Seguro seu braço, embora não sei o porquê. Depois que
andamos um par de blocos, Gabriel começa a murmurar palavras
incoerentes sob sua respiração. Não posso compreendê-lo, mas
quando peço para repeti-las, ele só olha para mim.
Isto está seriamente me assustando. Duvido que eu deva estar
andando em qualquer lugar sozinha com esse cara. Por que diabos
eu apenas não disse ao policial para lidar com ele? Claramente eu
não estou preparada para lidar com esta situação.
"Há alguém que eu possa ligar para você?" Peço-lhe, na
esperança de que exista. Ele só olha para mim de novo, quase como
se ele não entendesse.
Quando olho em seus olhos, eles são vagos e vítreos.
Como se ele não estivesse lá.
Engulo seco.
Dentro de um minuto chegamos ao seu prédio e nunca estive
tão feliz. O porteiro reconhece Gabriel e o cumprimenta pelo nome.
"Ele não está no seu estado normal", digo para explicar,
porque não sei honestamente ao certo o que dizer. "Estou levando-o
ao seu apartamento. Pode me dizer o número?"
O porteiro é realmente gentil o suficiente para caminhar
conosco até o apartamento e, em seguida, abrir a porta para mim,
com as chaves mestras. Sorrio para ele.
"Obrigada," digo a ele simplesmente enquanto levo Gabriel
pela porta. Gabriel não está sequer falando neste ponto.
O porteiro olha para nós.
"Se você precisar de mais alguma coisa, me avise", ele me diz,
olhando para Gabriel, curiosamente, antes de se retirar.
É interessante. Ele, obviamente, não está acostumado a ver
Gabriel desse jeito. Então talvez, realmente foi uma lesão no
acidente. Talvez ele bateu com a cabeça. Por um segundo me
pergunto se devo chamar uma ambulância.
Mas Gabriel já está andando de volta para seu quarto,
resmungando. Posso ver sua cama arrumada através da porta
aberta. Acompanho seus passos e quase o atropelo quando ele para
abruptamente e bate com o punho na parede. Seu movimento é
forte, inesperado e emana um enorme poder. Tanto poder que ele
sacode todo o corredor e deixa um buraco na parede.
Engasgo e congelo quando ele se vira para mim. Medo inunda
cada parte de mim, cada último canto e recanto de mim. Porque,
quando Gabriel vira o rosto, uma pequena parte ilógica de mim
quase espera ver outra pessoa. Alguém aterrorizante.
Meu pai.
Meu coração bate em meus ouvidos e memórias de tempos
atrás invadem minha cabeça. Punhos, sangue, discussões e medo.
Mas é claro que Gabriel não é o meu pai. E assim forço minha
respiração a diminuir e meu coração a se acalmar, mesmo enquanto
balanço levemente nas pontas dos meus pés, pronta para correr se
for preciso. Engulo quando Gabriel olha para mim.
"Odeio isso", ele me diz. Suas bochechas estão coradas, seus
olhos estão ligeiramente vidrados e sua mão ainda está enrolada em
um punho ao seu lado, os dedos raspados. Olho para ele e dou um
passo atrás, porque sei o que pode acontecer com um punho.
"Você odeia o quê?"
Emoção enche seus olhos, algo escuro, algo que doeu. "Odeio a
maneira como isso me controla."
Definitivamente me sinto em pânico agora. "O que controla
você?"
Mas ele não responde. Ele só entra em seu quarto e cai sobre a
cama. Ele está calmo agora, tranquilo. Como se ele não tivesse
acabado de socar um buraco na parede.
Como se ele não tivesse acabado de me dizer que algo o
controla.
O que diabos está errado com ele?
Ignorando meu coração ainda disparado, me curvo diante dele.
Posso fazer isso.
"Sua cabeça dói?" pergunto. Quando ele balança a cabeça, olho
em seus olhos. Suas pupilas parecem do mesmo tamanho. Ouvi em
algum lugar que se você tem uma concussão, faz o tamanho de suas
pupilas desiguais.
Fisicamente, ele parece bem. Sem inchaços, sem arranhões,
sem contusões. Olho para ele com incerteza. Ele olha de volta, mas é
como se ele não estivesse sequer me vendo.
Suspiro alto e longamente.
"Vamos tirar sua camisa e jeans fora, pelo menos” finalmente
digo a ele. "Então estou indo."
Ele se levanta obedientemente e desabotoa a calça, deixando
cair no chão. Quando ele se senta novamente, tiro a camisa sobre a
cabeça, em seguida, dobro as cobertas em sua cama.
Ele cai imediatamente de volta nela, enrolando para o lado e
fechando os olhos.
Enquanto o cubro, não posso deixar de olhar para o seu corpo.
É esculpido, lapidado, e é evidente que ele malha. Muito. Ele tem o
corpo de um triatleta. Ou olímpico. Ou deus grego, talvez. Ele tem
uma tatuagem em seu bíceps, um crânio vestindo uma boina sobre
um par de espadas cruzadas. As palavras estão dispostas acima e
abaixo dele: "Morte antes da desonra."
Hmm. Onde ele conseguiu isso? Ele é um marinheiro, talvez?
Ele não tem um corte de cabelo de marinheiro, no entanto.
Suspiro novamente. Toda essa sucessão de eventos é tão
infeliz. Se eu ia ter um caso de uma noite, esse era claramente o cara
para fazê-lo. Ele é enlouquecedoramente quente.
Neste exato momento ele geme e se debate, jogando fora as
cobertas enquanto ele murmura em seu travesseiro.
Ele também é aparentemente louco porque algo o controla.
Deus. Que sorte a minha. Conheço um cara quente que ouve vozes
ou alguma merda. Ou ele bateu com a cabeça e está apenas
delirando.
Balanço minha cabeça, enquanto pego os cobertores e cubro-o
de novo.
Observo sua mandíbula travada e testa franzida. Uma parte de
mim quer chamar uma ambulância para estar segura. Mas outra
parte de mim acha que não é o meu papel fazer isso, especialmente
porque eu não sei se ele precisa. Nem sei se ele tem plano de saúde.
Honestamente não sei o que fazer.
Finalmente decido que vou ficar só um pouco mais, para ver se
ele piora.
É o mínimo que posso fazer. Não me sentiria bem do contrário.
Se ele acordar e agir perigosamente, posso sair daqui em meio
minuto.
Acho o banheiro para que eu possa fazer xixi e ele é
surpreendentemente limpo para o banheiro de um cara. É decorado
em vários tons de cinza, até um piso de azulejos cinza. Não há
nenhuma evidência de toque de uma mulher, então ele deve ser
solteiro. Ou, pelo menos, não é casado. Pelo menos ele não é um
babaca como os caras casados que vasculham clubes por um pedaço
de carne.
Por curiosidade abro o armário de remédios. Cotonetes,
lâminas de barbear, creme de barbear e uma garrafa de pílulas para
dormir com seu nome nela. Não há nada que sugira que ele é louco.
Não há pílulas psicotrópicas ou qualquer coisa.
Isso é bom, certo?
Ando até a sala de jantar, olhando em volta com interesse.
Tudo é limpo, moderno, masculino. Em uma das paredes há um
móvel de mogno da minha altura. É tão raso que não pode guardar
muita coisa, por isso desperta meu interesse. Abro e sugo minha
respiração quando me deparo com armas alinhadas ordenadamente.
Puta merda. Será que ele está esperando a Terceira Guerra
Mundial? Quem no mundo tem este número de armas? Ele é louco,
afinal. Enquanto estou me afastando, injustificadamente com medo
das armas, um certificado me chama a atenção. Ele está em uma
pequena pilha de papel no final do balcão da cozinha de granito
preto e branco.
Paro, olho para ele e descubro que é realmente um diploma,
emitido há alguns anos pela Escola das Forças Armadas dos Estados
Unidos, e tem o nome dele.
Gabriel é um soldado. Ou ele era um deles. Um ou outro. De
qualquer forma, isso explica o corpo surpreendentemente esculpido.
E a tatuagem. E as armas. Graças a Deus. Sinto uma quantidade
incrível de alívio agora... Aparentemente eu não estou na casa de um
psicopata.
A menos que ele foi expulso por ser louco, que parece ser uma
possibilidade real no momento.
Caramba. De repente, estou incrivelmente desconfortável por
estar aqui.
Ando rapidamente de volta para seu quarto, que é decorado
como o resto em seus tons de cinza, madeira escura, masculino.
Ele ainda está dormindo e não está mais resmungando. Fico
olhando para ele por um segundo, olhando ele respirar.
Ele parece bem agora.
Bem o suficiente para eu deixá-lo sozinho sem me sentir
culpada, de qualquer maneira.
Antes que eu possa repensar sobre isso, estou fora da porta,
descendo as escadas e na rua de novo, respirando o ar fresco da
noite. Quando o porteiro acena para mim, vou até ele.
"Gabriel não está se sentindo bem", digo a ele. "Acho que ele
vai ficar bem, mas talvez alguém devesse vê-lo mais tarde. Se você
sabe de alguém pra ligar, isso seria ótimo."
O porteiro acena e me garante que ele vai cuidar disso.
Sua afirmação me faz sentir um pouco melhor, mas ainda sinto
como se eu tivesse sendo uma puta por esta noite. Foi tudo tão
bizarro.
Mas tudo bem. Agora acabou. Só tenho que fazer o meu
caminho de volta para o clube, pegar meu carro e, em seguida,
deixar toda essa estranheza atrás de mim. Em poucos minutos o cara
quente e louco será uma lembrança distante.
****************************************************************

Gabriel

Acordei suando frio.


Não tenho certeza de onde estou.
Isso não é incomum, então forço a minha respiração lenta,
regular. Preciso recuperar a compostura.
Olho em volta, para as paredes cinzentas do meu quarto, o teto
branco, o ventilador de teto familiar com as lâminas que se
assemelham a folhas grandes de vime.
Estou no meu apartamento. Na minha cama. Uma olhada para
o relógio me diz que quatro horas se passaram desde a última vez
que eu estava consciente.
O problema é que não tenho nenhuma ideia de como diabos
cheguei aqui.
Minhas mãos estão trêmulas quando as estendo para o copo de
água na minha mesa de cabeceira, agitando a água dentro do vidro
enquanto me forço a acalmar, enquanto tento não lembrar do
pesadelo que me acordou. Tomo um gole e forço os borrões
vermelhos e negros fora da minha cabeça, mesmo sabendo por
experiência que eles não estão dispostos a ir.
Escuridão e sangue.
Estas são duas coisas que, aparentemente, sempre me
assombram. Duvido que algum dia vou ter uma noite inteira de
descanso, ou que alguma vez vou me sentir confortável no escuro
novamente.
Caio contra os travesseiros, e então me sobressalto quando me
lembro de Madison.
A menina bonita do clube.
Nós estávamos a caminho daqui quando sofremos um acidente
de carro. Ergo minhas mãos e olho para elas, mal capaz de vê-las sob
a luz fraca que entra pela janela. Pareço estar bem, nada no meu
corpo dói, por isso aparentemente não fomos feridos. Ou eu não
estou, pelo menos.
Honestamente não sei sobre Madison. Não há nenhuma
maneira possível de saber, porque nem sei como cheguei em casa.
Espero que ela esteja bem. Mas não sei, porra. Tudo é um vazio
negro. Tudo o que sei com certeza é que estou sozinho agora.
Deixei Madison lá, de pé ao lado do retorcido destroço
queimando de nosso táxi. Mesmo que não me lembre muito mais,
me lembro do olhar ferido no rosto quando ela percebeu que eu
estava indo embora.
Não tenho certeza se tenho vergonha de mim mesmo ou se
estou aliviado. Ela era muito fodidamente incrível. E muito gostosa.
Mas não havia nenhuma maneira que ela deveria se meter com
alguém como eu, mesmo que por apenas uma noite. Especialmente
por apenas uma noite. Posso parecer normal, mas estou muito longe
disso.
Penso novamente na pergunta de Madison no taxi.
Como eu sei que você não é uma pessoa louca?
Quase sorrio tristemente no escuro.
Não sou louco... Exatamente. Os médicos do exército dizem
que eu só preciso de tempo. Eles chamam isso de PTSD4. Eu chamo
de algo completamente diferente: fodido.

4
Posttraumatic stress disorder = Transtorno de Estresse Pós-Traumático.
Capítulo Quatro

Madison

Abro os olhos turvos, não sei exatamente o que me acordou do


meu sono profundo.
O lago colide contra a costa do lado de fora, mas não é isso.
Estou acostumada a esse som já que o ouço todas as noites. A chuva
bate contra as janelas do meu quarto, mas não é isso tampouco. Ao
olhar para o teto, meu telefone vibra, vibra da minha mesa de
cabeceira com uma mensagem de texto.
Ah, é isso. Mistério resolvido.
Esfrego os olhos, olho para o relógio (que certamente deve
estar errado, porque não tem como ser tão tarde). Em seguida, pego
o telefone estúpido.
** ‘Onde vc tá? Onde você foi ontem à noite?’ **
Olhando para as palavras, me encolho de culpa.
Droooooooga.
Jacey. A amiga que deixei no Underground na noite passada, a
amiga que por acaso trabalha para mim. Ela é a melhor garçonete
que tenho, principalmente porque ela é a mistura certa de charme e
flerte. Ela também é a melhor amiga que tenho, principalmente
porque não chego perto de muita gente.
Não consegui encontrá-la ontem à noite e, em seguida, esqueci
completamente dela... Porque eu estava distraída. Minha distração
pisca na minha cabeça, uma visão do rosto de Gabriel e seu corpo
musculoso. Meu rosto cora. Rapidamente coloco isso longe da minha
mente e volto para o meu telefone.
** ‘Sou uma amiga má’, respondo a ela simplesmente. ‘Sinto
muito.’ **
** ‘Aonde você foi????’ **
Aparentemente, não vou sair dessa tão facilmente. Suspiro.
** ‘Lembra qd vc disse que eu precisava transar? Bem, eu
quase transei. Mas não fiz. Então vim para casa sozinha em vez
disso. Você acabou indo para casa com Peter? Ligaria, mas sabia
que você não iria ouvir o telefone’. **
O rosto de Gabriel aparece espontaneamente na minha cabeça
novamente. O olhar em seu rosto enquanto observávamos o táxi
queimando era indescritível. Torturado, quase. Mas isso soa
estúpido em dizer.
Obviamente, eu estava em choque também. Não é todo dia que
você é pega em um cruzamento e, em seguida o táxi explode em
chamas. Então, é claro que eu estava perturbada.
Mas não na medida em que Gabriel estava. Por alguma razão o
meu coração pinica só de pensar nisso, mas ignoro. Não o conheço e
não adianta me perguntar o que diabos havia de errado com ele. Ele
é irrelevante agora. O forço para longe dos meus pensamentos e
espero Jacey responder.
Ela só leva um segundo.
** ‘Você deve definitivamente sentir muito. Estava quase
preocupada. E pq não vc não transou??? Qualquer homem daria
sua bola esquerda para levá-la para casa. Tenho certeza que te
odeio por isso’. **
Tenho que sorrir. Jacey não estava preocupada. Tenho certeza
disso. Ela provavelmente nem sequer percebeu que eu tinha ido até a
hora de ir para casa.
** É uma longa história’ ** respondo.
Uma batida passa, em seguida, ela responde.
** ‘Ok. Meu irmão nunca apareceu na noite passada, mas ele
está vindo ao Hill hoje à noite para me trazer o meu presente de
aniversário. Você pode conhecê-lo então’. **
Sorrio o que dói minha cabeça pulsante. Estou feliz que ela
mencionou. Tinha esquecido que era seu aniversário. Talvez eu
realmente seja uma amiga ruim.
** ‘Tudo bem, digo a ela. Você não vai descansar até que eu
conhecê-lo, eu sei. E estou levando um bolo de aniversário’.**
Uma pausa e então, uma resposta.
** ‘Minha dieta não agradece. Mas eu sim!’ **
Jogo meu telefone no pé da cama e resolvo voltar para o meu
travesseiro por um segundo. Minha cabeça não dói por causa da
bebida. Só consumi uma bebida na noite passada. Está doendo por
causa da falta de sono. Não adormeci até quatro e meia da manhã. E
isso é muito diferente de mim. Olho para o relógio novamente.
Nove da manhã.
Normalmente eu já estaria no meu restaurante, o Hill, por
agora. Mas estou morrendo por causa da privação de sono. Se eu não
consumir uma enorme quantidade de cafeína, poderia matar alguém
mais tarde.
Jogo as cobertas sobre minha pequena cama de casal, a mesma
que eu tinha durante o ensino médio. Mal olho para as paredes
cobertas de pôsteres antigos e artigos de notícias do ensino médio.
Herdei a minha casa de infância há uns dois anos atrás. Um dia
desses, preciso mexer meu traseiro e limpar o quarto.
Não vou me preocupar com isso hoje, entretanto.
Hoje só preciso de café.
Amorteço os passos pelo longo corredor até a cozinha, onde
começo o café e aqueço um burrito congelado. Sento e como com
minha roupa íntima, algo que posso fazer, já que vivo sozinha. Meus
hábitos alimentares são uma merda, o que é irônico, pois possuo um
restaurante, outra coisa que herdei.
Depois de duas xícaras de café carregados com açúcar e creme,
finalmente me sinto como um ser humano novamente. Tomo um
banho rápido, torço o cabelo em um coque desleixado e me jogo em
uma capri, uma polo e um suéter antes de pegar mais uma xícara de
café no caminho para fora da porta.
Abotoo meu suéter quando aperto o botão que abaixa a capota
do meu conversível, meu único luxo. Conduzir com o vento no meu
cabelo é a única liberdade que eu realmente experimento e, já que a
chuva da primavera parou por um minuto, posso andar com a capota
abaixada hoje.
Engato o carro e sigo meu caminho, começando a descer a
estrada estreita que serpenteia ao longo do Lago Michigan. É uma
pequena estrada agradável e que eu adorava conduzir antigamente,
antes dela matar meus pais.
Hoje o sol da manhã está brilhante e o chão está molhado de
chuva. Enquanto o reflexo da luz na superfície enevoado do lago bate
diretamente no vidro do meu para-brisa, aperto os olhos enquanto
alcanço o volume do som do carro. O botão ondulado desliza em
meus dedos enquanto aumento o volume.
Quase suspiro em voz alta. Assim é melhor. Não há nada como
café e música alta para sacudir a sonolência. Soco no botão para
mudar a estação de rádio via satélite enquanto olho para o sol.
A luz está em meus olhos, brilhante e cortante.
Pisco, mas antes que eu possa realmente refocar, percebo
exatamente onde estou. Estou chegando muito rápido em uma curva
acentuada.
Porra.
Engasgo e puxo o volante, derramando café quente entre
minhas pernas enquanto meu carro vira bruscamente na estrada.
Tudo parece acontecer em câmera lenta enquanto o carro cambaleia
para a vala, derrapando lateralmente em um ângulo não natural em
direção à praia.
Estou quase paralisada, cega pelo sol e completamente à mercê
das leis de movimento do Newton enquanto meu carro desliza
através da lama, na grama molhada batendo com um zumbido
agudo como a parte inferior do morro que se apressa em me atingir.
Estou em um ângulo tão antinatural e derrapando tão rápido
que estou com medo por um segundo que o carro vá capotar, mas
isso não acontece. Em vez disso, bate numa parada sem cerimônia,
as rodas meio enterradas na areia molhada da praia. Estou confusa
enquanto tento respirar fundo, mas de alguma forma permaneço
sem fôlego quando me sento paralisada em estado de choque.
Puta merda. O que diabos aconteceu? Estava seriamente no
meu segundo acidente de carro em menos de um dia?
Minhas mãos tremem quando olho ao redor. Não bati em
ninguém, nem nada.
Não estou ferida.
Não estou ferida.
Canto isso silenciosamente para mim mesma enquanto olho ao
redor. Estou no final da inclinação que leva à estrada, no meio de
pedras, grama e areia. Sou tão estúpida. Dirigi esta estrada mil
vezes. Eu conhecia bem.
Mesmo que minhas mãos estejam tremendo e que não posso
respirar, está tudo bem. Estou bem. Meu carro está bem. Não sou os
meus pais. Ao contrário deles, eu não morri. Não há cacos de vidro
ou sangue. Estou bem.
Eu acho.
Abro a porta e afundo diretamente em lama funda.
Inferno. Tremo enquanto puxo meu pé, olhando para os meus
sapatos Paisley5 Jimmy Choo6 cobertos de lama. Sapatos são a
minha fraqueza e estes, que estavam praticamente novos, agora
estão em ruínas.
Afffffff.
Como se isso não bastasse, estou cercada de lama, resultado da
última noite de tempestade. Não posso sair para verificar o meu
carro, mas de onde posso ver, a roda dianteira esquerda está
afundada. Não tenho nem ideia se é mesmo dirigível.
Com uma carranca pressiono o acelerador e tento dirigir de
volta até a inclinação, mas meu carro não vai ceder. O volante torto
não vai nem mesmo virar.
Estou presa. Não apenas presa, mas firmemente e
completamente presa.
"Cacete".
Minha cabeça cai para o meu volante enquanto meus dedos
alcançam meu telefone celular.

****************************************************************

5
Tipo de estampa.
6
Designer de sapato.
Quando minha irmã vem ao meu socorro vinte minutos mais
tarde, ela se apressa para chegar até mim, escolhendo o seu caminho
descendo a colina molhada. Sua descida não é graciosa.
"Estou bem, Mila. Volte para cima!" inclino-me pela minha
janela e falo. "Você vai cair e quebrar alguma coisa, grávida!"
Ela fecha a cara para mim enquanto caminha em direção ao
carro, parando onde as piscinas de lama começam.
"Oh, Deus. Você também não. Pax mal me deixa levantar um
dedo para fazer qualquer coisa. Você é uma mulher. Você deve saber
melhor. Estou grávida e não inválida."
Balanço minha cabeça enquanto tiro os sapatos e pego minha
bolsa. Tão cuidadosamente quanto posso, desço do carro, afundando
imediatamente os tornozelos na lama. Bato a porta do carro com
força.
"Seu marido só quer cuidar de você", lembro-a irritada,
enquanto me esforço arduamente pela lama em sua direção.
Aos sete meses de gravidez, Mila tem esse brilho mítico sobre
ela que algumas mulheres grávidas realmente têm. Na verdade, a
gravidez realmente combina com ela. Ela sempre foi linda, mas
agora ela literalmente brilha. Seu cabelo longo e escuro é exuberante
e brilhante, suas bochechas cor de rosa estão coradas e sua pele está
impecável.
"Não posso acreditar que você parece tão bem", resmungo
enquanto olho a sua pequena barriga com o bebê. "É revoltante.
Você mal ganhou algum peso."
Ela estende a mão para me ajudar sobre uma rocha e ri.
"O quê? Você quer que eu pareça horrível?"
"Talvez", respondo com uma falsa carranca enquanto nós
cuidadosamente fazemos nosso caminho para o topo da colina para
onde o carro de Mila está. "Não é justo que você é mais bonita que
eu, mesmo quando está grávida. Irmãs mais velhas sempre deveriam
ser mais quentes. É uma lei da natureza. Não faço as regras Mila,
mas devemos segui-las definitivamente. Tente ganhar alguns
quilos."
Ela ri novamente e revira os olhos enquanto nós afivelamos o
cinto de segurança dentro do carro.
"Você está louca, Mad. Você é a modelo em nossa família. As
únicas coisas que tenho que você não tem são peitos maiores. E você
não pode ter isso."
"Seja como for," murmuro enquanto viro o visor para baixo e
olho para mim. "Não sou uma modelo mais."
Tenho respingos de lama na minha testa. E lama endurecida
quase até os joelhos. Ela escorre para o chão e eu suspiro.
"Sinto muito. Você vai ter que tirar bem essa coisa agora", digo
a ela me desculpando. "Vou pagar por isso."
"Está tudo bem", ela me garante, séria agora. "Estou feliz por
você estar bem. Como diabos isso ainda aconteceu, Maddy? Você
sabe o quão perigoso este caminho é."
Claro que eu sei.
Sinto-me culpada pela tensão preocupada em sua voz. Sinto-
me culpada que ela tivesse que vir para cá, para esta curva em
particular entre todos os lugares.
"Estou bem", respondo. "Sinto muito, Mi. Não queria
preocupá-la."
Ela olha para mim. "Eu sei. Basta ser mais cuidadosa. Eu quase
tive um ataque cardíaco."
Ela e eu.
Inclino a cabeça para trás contra o meu assento, ainda trêmula
por deslizar para baixo do morro. Os efeitos colaterais da adrenalina
não estão sendo bons para mim. Meu coração ainda está disparado,
minhas mãos e pernas ainda tremendo. Fico olhando para o chão da
minha janela e o veículo está tão alto. É uma longa descida.
"Ainda não consigo acreditar que Pax fez você pegar essa
coisa." Dou risada, tentando aliviar o clima. "É tão... Não você." Mila
revira os olhos.
"Eu sei. No momento em que descobri que estava grávida, ele
saiu e comprou o veículo mais seguro que pôde encontrar. Essa coisa
é praticamente à prova de balas. Pode realmente ser um tanque
disfarçado."
"Você lida com tudo muito melhor do que eu", digo a ela. "Eu
odiaria ser controlada assim."
Mila ri novamente, sacudindo a cabeça.
"Não estou sendo controlada. Quando você está casada, às
vezes tem que se comprometer. E isso não é grande coisa. Sim, meu
pequeno carro gastava menos combustível, mas Pax fica feliz
pensando que estou mais segura. E, além disso, posso encaixar mais
de meus materiais de arte aqui de qualquer maneira. Portanto, há
um lado positivo."
"Você sabe que não tem que carregar material de arte por aí
mais", digo a ela, com uma sobrancelha levantada. "Você não tem
que manter sua loja de arte. Desde que Pax estará assumindo a
companhia de seu avô em breve, você nunca terá que trabalhar
novamente, se você não quiser."
Mila revira os olhos quando ela se vira em uma rua da cidade.
O SUV grande mal estremece quando ela corre sobre um pedaço de
sobra de gelo de inverno.
"E você sabe que tenho que criar arte. Se eu não tiver uma
vazão para isso, vou enlouquecer."
"Você já é louca", respondo. "Por aceitar se mudar para
Connecticut."
Ela olha para mim. "Eu sei. Não quero ir também. Mas é lá que
a sede da Alexander Holdings está. Pax não pode assumir por seu
avô estando aqui. E seu avô realmente quer se aposentar. Então é
algo que Pax tem que fazer. Tenho que apoiar isso."
Suspiro. "Outro dos compromissos do casamento?"
Ela acena.
Suspiro novamente. "Decidi que seu casamento não está
realmente me favorecendo. Você vai ter que se divorciar."
Mila começa a rir. "Não é possível. Temos um acordo pré-
nupcial. Não posso ficar rica desse jeito."
Isto me faz rir. Mila é a coisa mais distante de uma golpista
que já vi. E eu, pessoalmente, sei que não há nenhum acordo pré-
nupcial.
Sinto o início de uma dor de cabeça de tensão, decorrente do
meu acidente de carro idiota e minha falta de sono. Esfrego na
minha testa antes das rugas de tensão estúpidas tornarem-se
permanentes. Franzo o rosto, porque tudo está começando a se
sentir estúpido esta manhã.
Mila percebe.
"Por que você está em um humor tão ruim assim?" Ela
pergunta curiosa. "Você não estava ferida. Tenho certeza que você
chamou um reboque. Você vai ter seu carro de volta daqui a pouco.
Sem dano, sem perdas."
Ajusto o rádio e, em seguida, resolvo voltar para o meu lugar,
observando a paisagem enquanto Mila vira para a propriedade à
beira do lago que abriga o restaurante.
"Não sei", admito. "Acho que acabei de acordar do lado errado
da cama. Não dormi bem na noite passada." Não me incomodo
dizendo-lhe por que, já que ela iria ficar loucamente interessada
imediatamente. Ela está querendo que eu saia há meses e eu não
quero dizer a ela a porcaria que foi.
"Bem, anime-se" Mila me disse quando parou no
estacionamento do Hill. "Está um dia lindo. A vida é boa."
"É", respondo irritada. "A vida é boa."
"E você tem sorte", ela afirma para mim. "Você poderia estar
ferida e você não está. Você sabe tão bem quanto eu que esse
caminho é perigoso." Ela é séria agora e sei por quê. Posso
praticamente ver as memórias em seus olhos... Do carro retorcido de
nossos pais, o funeral deles, a dor horrível e esmagadora.
Engulo, então assinto.
"Sim, tive sorte. Você vai entrar?"
Ela balança a cabeça . "Não posso. Tenho uma consulta médica
e, em seguida, tenho que voltar para a minha loja. Falo com você
mais tarde. Acho que nós estamos vindo para o jantar."
"OK. Vou guardar uma mesa para você."
"Perfeito. Valeu! Falo com você a noite."
Mila acena enquanto dirige o gigante SUV preto para longe.
Acena de volta molemente. Deus, vou sentir falta dela quando ela se
mudar. É só eu e ela agora. Não temos quaisquer outros parentes.
Bem, nós temos Pax. Então somos só nós três.
Suspiro, mas tiro isso da minha mente. Eles não vão se mudar
até o verão. Vou me preocupar com isso quando chegar a hora.
Por agora, dirijo-me para o pequeno bistrô italiano de estuque7
no litoral, onde passei todas as horas dos últimos dois anos. O Hill
era o sonho dos meus pais, não meu. Eles trabalharam dia e noite
durante anos para torná-lo um sucesso e quando eles morreram,
Mila e eu não podíamos suportar a ideia de fechá-lo.
Mas juro por Deus, em alguns dias, fico tão chateada por
desistir da minha vida para isso... Estou confinada a uma pequena
cidade à beira do lago, vivendo o sonho de alguém. Há dias em que
isso suga o sangue de dentro de mim e me sinto muito mais velha do
que sou.
E alguns dias me sinto muito mais jovem... Porque nem
sempre tenho as respostas para todos os problemas que enfrento.
Não tenho a mínima ideia de como gerir um negócio. Meu
diploma em administração é um pedaço de papel. Ele não me
preparou para um empréstimo, gerenciar uma equipe, ou
encomendar grandes quantidades de alimentos. Mas nunca posso
dizer isso em voz alta, porque como proprietária de uma empresa e
uma irmã mais velha, é sempre esperado que eu tenha respostas.
As mais acertadas.
Ninguém precisa saber que eu realmente não sei de merda
nenhuma - que derivo ao longo da vida sem respostas reais.
Ninguém precisa saber que há momentos em que seriamente odeio
como as coisas aconteceram e que sou impotente para mudá-las.
Suspiro e entro.
O Hill pode parecer uma prisão às vezes, mas é uma prisão que
paga as contas.

****************************************************************

7
Estuque é uma argamassa resultante da adição de gesso, água e cal, usada como um aditivo
retardador de uma secagem demasiadamente rápida.
Uma das piores coisas sobre a gestão de uma empresa é toda a
papelada maldita e burocrática. Às vezes eu realmente tenho
pesadelos de que estou me afogando em um mar de papel.
Hoje me perco atrás de uma parede deles, mal levantando
minha cabeça até que Tony, o barman que foi como a nossa família
desde que meus pais deixaram o posto, põe a cabeça rebelde em meu
escritório.
"Madison, você cuidou de tudo com seu carro?"
Mal olho para cima dos canhotos de ontem, que estou
conferindo. "Sim. Eles estão rebocando-o e trazendo-me um de
reposição para o próximo par de dias."
Tony concorda. "Bom. Eles vão arranjar isso. Por enquanto,
porém, você tem que vir comer. Tô falando sério. A correria do
jantar vai começar em breve. Você vai se reduzir a nada e seu pai vai
me assombrar até o fim dos tempos, se eu não cuidar de você."
Balanço minha cabeça enquanto desvio o olhar da agenda para
a próxima semana para o rosto preocupado de Tony. Aos quarenta,
ele realmente não parece ter mais de trinta anos. Mas eu nunca vou
lhe dizer isso. Como um ardente italiano, ele tem um ego que já é
grande o suficiente.
"Meu pai não seria aquele a te assombrar sobre meus hábitos
alimentares", digo a ele. "Seria minha mãe. E acho que você não quer
mexer com ela."
Ele ri e concorda.
"Com certeza. Sua mãe era uma força com a qual você podia
contar. O único que realmente poderia controlara era o seu pai."
Faço uma pausa por um momento, meus dedos congelados na
minha mesa. Os olhos de Tony estão brilhando com diversão e sei
que é porque ele não tem ideia exatamente de como meu pai
controlava minha mãe. Ninguém sabia.
Ninguém, exceto eu e Mila. Engulo em seco e sorrio para Tony,
tirando os pensamentos horríveis da minha cabeça. Meus pais estão
mortos. Não há nenhuma razão para pensar sobre o passado.
"Estarei lá em um minuto", digo a ele. "Prometo."
Ele levanta a sobrancelha preta espessa. "É melhor você estar.
Jacey está cronometrando e fiz a torta de cereja favorita dela para
seu aniversário. Até onde ela sabe a ideia sua. Você pelo menos tem
que vir comer um pedaço com ela."
"Merda" murmuro. Olho para cima e encontro o olhar
acusador de Tony. "Em minha defesa, eu ia trazer para ela um bolo
no caminho para o trabalho, mas depois eu quase joguei meu carro
dentro do lago. Então, acho que tenho uma razão. Não julgue."
Viro meu nariz e ele quase sorri, mas não faz porque ele tem
uma imagem de mal-humorado para manter.
Ele se vira e vai embora, murmurando alguma coisa sobre as
mulheres motoristas e me castigar uma vez na minha vida se não
faço o que mandam. Não posso fazer nada, além de segui-lo, rindo.
Ele nunca tocaria num fio de cabelo na minha cabeça e ai de quem
fizesse, porque ele iria quebrar seus joelhos (principalmente porque
ele acha que isso é o que um italiano deve fazer).
Ele me leva para o pátio exterior, que está situado na praia
diretamente atrás do Hill. Luzes penduradas por fios e lanternas
cruzam sobre nossas cabeças. Logo as madressilvas8 nas treliças vão
começar a florescer. À noite é magicamente romântica aqui,
especialmente com a majestosa vista para o Lago Michigan e o
cheiro doce da madressilva. Os turistas adoram e eu também.
Agora uma bandeja de tortas famosas de Tony e um cartão de
aniversário com o nome de Jacey estão dispostos em uma mesa,
junto com três saladas.
Viro para ele em agradecimento. "Obrigada, Tony. Você sabe
que eu te amo."
Ele sorri e envolve um braço carnudo em volta do meu ombro,
apertando-o.
"Sei que você está ocupada", ele me diz rispidamente. "Não é
grande coisa."
Mas é. Ele foi contratado há anos como barman, mas desde
que meus pais morreram, ele me ajudou de muitas maneiras
diferentes. Ele ainda é barman, mas me ajuda a manter tudo na
linha. Ele ainda supervisiona os cozinheiros e faz sobremesas
especiais de vez em quando. Estaria perdida sem ele e nós dois
sabemos disso.

8
Gênero de trepadeiras de flores.
A brisa da noite sopra o cabelo do meu rosto quando Jacey
vem voando através das portas, os olhos castanhos brilhando em
antecipação.
"É um dia perfeito para se ter um aniversário", ela anuncia, e
como sempre, tenho que admirá-la.
Jacey encara a vida com admiração infantil, algo que sempre
amei nela. Ela pode fazer até mesmo a coisa mais chata divertida.
Nós somos amigas desde que éramos adolescentes. Ela
costumava passar os verões aqui com os avós. Um dia ela foi ao Hill
com eles para o almoço e foi embora com um emprego de verão. Ela
está com a gente em todos os verãos desde então. Ela é divertida,
despreocupada, mesmo sendo chegada a ter problemas de vez em
quando. Ela é uma refrescante mudança na rotina.
E estimo ainda mais agora que sou a rainha da rotina.
"Feliz aniversário", digo a ela enquanto Tony entrega o cartão.
Ela sorri e abre, encontrando um certificado de presente de cem
dólares meu e de Tony para uma massagem na cidade. Gesticulo
obrigada a Tony quando Jacey joga seus braços ao redor do meu
pescoço.
"Obrigada", ela grita. "Você não tem ideia de como estive
estressada. Preciso disso."
Ela me solta e abraça Tony, então mergulha em suas tortas,
inalando três delas antes de olhar para o relógio.
"Temos que nos apressar", ela diz. "Estamos lotados esta noite.
Você provavelmente vai ter que ajudar no salão Maddy. Vai ser
tranquilo porque você definitivamente parece confortável o
suficiente. Você está levando o executivo casual para um nível
totalmente novo." Jacey olha para minhas roupas curiosamente e eu
suspiro.
"Quando não ajudo no salão?" Pergunto. "Estou lá todos os
dias. Tenho as bolhas para provar isso. E estou vestida assim porque
fiquei todo enlameada no caminho para o trabalho e tive que mudar
para minhas roupas de ginástica."
Jacey sorri seus olhos brilhando. "Bem, com short de ciclista e
uma blusa pequena como essa, tenho certeza que os caras vão te
deixar grandes gorjetas. Portanto, há um plus9."
Gemo e golpeio-a antes de virar a segui-la para dentro, mas
Tony segura meu cotovelo e aponta para minha salada.
"Coma."
Olho para ele, e pelo olhar em seu rosto sei que é inútil
discutir. Me curvo e enfio cinco mordidas em minha boca.
"Tá bom?" Peço com a boca cheia que limpo com um
guardanapo.
Ele me dá um olhar duvidoso e tomo mais duas mordidas
antes de recolher meu prato.
"Vou comer o resto mais tarde" prometo a ele. Ele balança a
cabeça.
"Não, você não vai", ele suspira. "Você vai voltar para casa e
comer um burrito congelado."
Ele não pode me ver sorrindo enquanto me segue para dentro,
o que provavelmente é uma coisa boa. Eu absolutamente odeio que
me digam o que fazer o que é provavelmente um resultado de assistir
meu pai mandar na minha mãe por aí com seu punho firme durante
anos, mas não me importo com a intromissão de Tony.
Com toda a intromissão de Tony, ele tem um coração de ouro,
e ele tenta seu melhor para cuidar de Mila e eu. Ele é a coisa mais
próxima de família que temos agora.
Quando voltamos para a sala de jantar, estamos exatamente a
tempo de encontrar Mila e Pax entrando nas portas dianteiras. Pax
segura o cotovelo de Mila quando ela tropeça no capacho.
Tenho que rir da expressão aflita no rosto dele. Acho que Pax
iria pegar Mila e carregá-la pelos próximos quatro meses, se ele
achasse que poderia se safar disso. Ele tem sido mais do que um
pouco superprotetor recentemente. E quando olho para seu exterior
durão, é tão difícil de acreditar que isso é verdade, mas é.
Meu cunhado é como um roqueiro, deus do sexo tatuado ou
algo assim. Sério, o cara exala sex appeal10. Meu primeiro
9
Gíria que significa mais um pouco
10
Poder de sedução ou encanto sensual que alguém apresenta ou transmite.
pensamento quando eu o conheci foi: Puta merda, ele é problema. E
ele realmente era.
Pax sorri para mim agora, seus olhos castanhos brilhando.
"Vê algo que gosta Mad?", ele brinca. E percebo que estava o
encarando. Sorrio de volta, nem um pouco envergonhada.
"Sim, surpreendentemente. Gosto de você, irmãozinho. Quem
teria imaginado?" Sendo a irmã mais velha superprotetora, disse à
Mila para ficar longe de Pax. Claro que isso a fez ficar ainda mais
atraída por ele. Ele tinha aquela coisa de bad boy acontecendo, a
atitude arrogante e comportamento perigoso que Mila não pôde
resistir. Pax tinha problemas. Ele e Mila passaram pelo inferno e
águas profundas juntos, mas superaram.
Pax balança a cabeça. "Sim, é difícil acreditar que você já
menosprezou esta maravilha."
Reviro os olhos e os levo a uma mesa, conversando com eles,
enquanto eles se acomodam. Pax puxa a cadeira de Mila e coloca o
guardanapo no colo para ela.
"Você vai mastigar a comida para ela também, ou...?" Levanto
minha sobrancelha, mas Pax apenas sorri.
"Esposa feliz, vida feliz" ele recita enquanto se senta. "É algo
que sigo na vida."
"E você é muito bom no que faz", Mila o elogia, mas seus olhos
estão congelados e interessados em alguma coisa atrás de mim.
"Maddy, esse não é Ethan Eldridge?"
Viro-me e vejo a minha anfitriã, Julie, acomodando o nosso
velho amigo de infância em uma pequena mesa perto da janela.
"Puta merda", respondo. "Acho que é. Não o vejo desde que foi
para a faculdade de medicina. Ele nunca voltou para casa para o
verão. Sua mãe costumava vir aqui e reclamar sobre isso."
"Ele parece bem", diz Mila, dizendo o óbvio. Fico olhando para
ele, absorvendo seu cabelo loiro e olhos azuis, sua forma magra e
esbelta. "Você deveria ir falar com ele. Esse é o seu trabalho, de
qualquer maneira. Você precisa fazer ele se sentir bem-vindo."
Olho feio para ela. "Não estou indo lá e flertando com ele. Isso
não vai acontecer."
"Não disse flertar", Mila responde inocentemente. "Disse falar.
Ele sempre teve uma coisa por você, no entanto. E você precisa de
uma vida social."
Estou apenas considerando se a esfaqueio no olho com um
garfo quando Ethan olha para cima e me observa. Ele acena para
mim animado.
"Inferno" murmuro, enquanto Mila fica triunfante. "Estarei de
volta para lidar com você em um minuto."
Posso ouvi-la rir enquanto faço o meu caminho para Ethan.
"Madison". Ele sorri, lembrando-me exatamente como o seu
sorriso é lindo. "Estava esperando que você estivesse aqui."
"Estou sempre aqui", digo-lhe com ironia. "Acho que
praticamente moro aqui. Você está de volta de vez? Ouvi dizer que
você estava voltando para o departamento de obstetrícia e
ginecologia na clínica."
Ele sorri de novo e rapidamente me pergunto por que não
sinto uma reação. Será que é porque eu o conheço há tanto tempo?
"Sim, é lá que estou. Se você quiser mudar do Dr. Hall para
mim, eu tenho certeza que posso fazer seus exames anuais muito
mais agradáveis para você." Ele balança as sobrancelhas da forma
ridícula que me lembro, e por um minuto, ele parece exatamente
com o garoto que conheci na escola.
Reviro os olhos.
"Oh, sim, isso é exatamente o que quero. O cara que vomitou o
leite com chocolate em mim no jardim de infância fazendo o meu
papanicolau. Além disso, você não é nem um médico de verdade
ainda, não é? E vou no Dr. Hall por anos. Então... Isso não vai
acontecer. Suas mãos não estão chegando nem perto disso."
Gesticulo em direção a minha região lá embaixo e ele balança a
cabeça. "É bom vê-lo, no entanto. Sempre é."
"Eu sou um médico de verdade. Sou um médico residente. Que
conta, sua pirralha. Posso até prescrever medicamentos e essas
merdas. Mas tanto faz. É bom ver você também. Você parece
fantástica, exatamente igual como no dia em que terminei o ensino
médio."
Sorrio em seu elogio. "Obrigada, Ethan. Estou me sentindo
velha, ultimamente, de modo que é bom ouvir isso. Você parece
muito bem também."
Ele joga seu sorriso mais encantador para mim. "Precisamos
sentar e conversar em breve, Mad. Sinto sua falta."
Olho para ele, tentando vê-lo do jeito que qualquer outra
mulher faria.
Ele é alto, pelo menos um metro e noventa, loiro e de olhos
azuis. Ele se parece com um descendente de Vikings ou algo assim.
Bem, sem os músculos de um Viking. Faríamos bebês lindos juntos,
se eu fosse honesta. Mas o conheço desde a pré-escola, o que
significa que sei de todas as coisas idiotas que ele fez entre lá e agora.
Ainda me lembro vividamente dele comer um gafanhoto em um
desafio na quarta série. Sua língua não vai ficar em qualquer lugar
perto da minha, médico ou não.
Ele pisca e eu balanço minha cabeça. Estou me preparando
para lhe dizer como é terrível o fato das pessoas estarem colocando
sua saúde em suas mãos quando a porta do restaurante se abre,
deixando uma fatia de luz solar entrar e brilhar no chão. Sigo a luz
para o homem que acabou de entrar. Ele está deslizando o celular no
bolso de sua jaqueta.
Ele olha para cima, seus olhos encontram os meus e não há
nenhuma maneira no inferno.
De jeito nenhum mesmo.
Meu coração está batendo um milhão de milhas por hora no
meu peito.
Porque é Gabriel.
Capítulo Cinco

Gabriel

Você tem que estar brincando comigo. O universo tem,


obviamente, um estranho senso de humor. Depois de cobiçar essa
menina na noite passada e me perguntar o que aconteceu com ela
durante todo o dia de hoje, agora estou de pé cara a cara com ela?
Quais são as chances disso?
Muito fodidamente pequena.
No entanto, lá está ela.
Madison olha para mim em estado de choque, enquanto ela
está ao lado de um cara vestido de jeans de luxo e uma camisa de
botão. O cara é claramente um mauricinho, mas não é da minha
conta.
Estou totalmente fixado em Madison: os olhos arregalados,
sua boca ligeiramente aberta.
Esse é exatamente o jeito como me sinto. Mas, ao contrário
dela, consigo disfarçar a surpresa no meu rosto.
Estou tentando processar a coincidência louca de nós nos
encontrarmos assim, o segundo encontro em dois dias, quando vejo
minha irmã sair de um corredor, carregando uma grande bandeja de
bebidas. Quando Jacey olha para mim, de repente, tudo se encaixa
perfeitamente e faz todo o sentido.
Jacey mencionou que ela ia levar uma amiga com ela ao clube
na noite passada. E Jacey me contou sobre sua chefe antes, uma
menina supostamente legal que teve que crescer muito cedo, por
razões que não me lembro agora. O que me lembro é que ela se
chamava Maddy.
Maddy é Madison.
Jacey é o fio em comum, a raiz dessa coincidência profana.
Claro.
Balanço minha cabeça e assisto enquanto Jacey coloca a
bandeja para baixo e percorre todo o espaço para me dar um abraço
de urso.
"Gabriel", ela grita. "Estava na hora de você chegar aqui. Senti
falta da sua cara feia."
Não posso deixar de abraçá-la de volta, mesmo estando
aborrecido com toda essa coisa com Madison. Quase sinto como se
Jacey tivesse feito tudo isso de propósito, mas sei que isso não pode
ter sido assim. Não tem como ela ter arranjado o encontro atrás do
clube.
Posso sentir o olhar frio de Madison, mas recuso-me a olhar
para cima e enfrentá-lo, porque não posso dizer se ela está
aborrecida ou intrigada que eu me intrometi em sua vida.
Pela minha vida, não me lembro muito depois da porra do
acidente de táxi na noite passada. Foi um apagão total, o primeiro
que tive em meses.
Não me lembro o que eu disse à ela. Não me lembro como agi
perto dela. Não consigo lembrar de nada. Tenho estranhos pequenos
flashes de Madison me aconchegar na cama, mas não sei se essas são
memórias reais ou se minha mente estava pregando peças em mim.
Você nunca sabe, não quando estou nesse estado fodido.
Mas se foi real, odeio que ela me viu assim. É humilhante, o
que é uma razão tão boa quanto qualquer outra para ignorá-la.
"Ei, Mana", murmuro no cabelo loiro de Jacey. "Feliz
aniversário! Você cheira a espaguete."
Ela revira os olhos e me solta, voltando-se para Madison.
"Maddy, você tem que vir finalmente conhecer o meu irmão."
Madison parece aflita, mas ela consegue colocar um pé na
frente do outro, deixando de lado o mauricinho para ficar
relutantemente na minha frente.
Mesmo que eu esteja desconfortável com isso, luto contra a
vontade de rir da expressão distinta de desconforto em seu lindo
rosto. Não importa o que mais ela pode estar sentindo, é claro que
ela não tem certeza de como lidar com esta situação. Assim como é
claro que ela não está acostumada a não estar no controle. Ela não
tem ideia do que dizer para mim. Nenhuma.
É engraçado pra caralho.
"Este é meu irmão, Gabriel." Jacey olha para mim com
orgulho. "Ele acabou de voltar do Afeganistão há alguns meses e ele
dificilmente teve tempo de vir ver sua pobre irmã. Gabriel, esta é
minha amiga e patroa Madison. Você já ouviu tudo sobre ela."
Os olhos azuis de Madison estão congelados em mim,
interrogações brilhando neles.
Que porra é essa?
Posso ouvir tão claramente como se ela tivesse dito as
palavras. E isso me faz pensar mais uma vez o quanto ela viu na
noite passada. Isso me coloca na defensiva e sorrio, só para provar
que nada disso importa.
Quando Madison percebe, seus olhos endurecem ainda mais.
Jacey olha de Madison para mim.
"Hum. Vocês não vão dizer nada? ‘Prazer em conhecê-lo’,
talvez? O que há de errado com vocês? Perdi alguma coisa?"
Madison finalmente pisca e quebra o nosso olhar, olhando
para Jacey.
"É, uh, prazer em conhecê-lo." Ela parece incerta sobre o que
dizer em seguida, então limpo minha garganta.
Não vejo razão em mencionar o que aconteceu ontem à noite.
Ou o que quase aconteceu. Mencionar qualquer parte disso iria abrir
uma lata de vermes que eu não quero discutir.
Madison parece grata por um momento antes de seu rosto se
fechar e ela fica na dela, mais uma vez. Por alguma razão, estou
supondo que é a sua personalidade normal, na dela... E recolhida.
Parece muito com ela.
Ou talvez ela esteja sendo fria, porque está brava que eu a
tenha deixado no acidente? Encolho-me internamente. Odeio que eu
fiz isso. Foi uma coisa idiota a fazer. Mas eu não era eu mesmo. Se
ela está me julgando por isso, dane-se ela. Ela não sabe de nada.
Sorrio amplamente para mostrar que ela não está sempre no
controle.
Porque isso é muito eu.
"É um prazer conhecê-la formalmente, Madison. Eu já ouvi
muito sobre você. Algumas partes eram até boas."
Jacey suspiro e me soca, mas ignoro seu rápido protesto sobre
como tudo era bom e como ela nunca disse nada de ruim sobre
Madison. Até mesmo ignoro o choramingo dela sobre como meu
braço machucou sua mão.
Em vez disso, olho para baixo e percebo a forma como o peito
de Madison preenche sua camiseta confortável, e rapidamente volto
para a forma como seus mamilos pareciam na minha boca, rosa e
doce. Minha virilha aperta e eu rapidamente volto minha atenção
para o presente quando Madison desliza a mão esbelta na minha.
"É um prazer", ela responde com frieza. "E Jacey, não se
preocupe. Eu sei que você só diz coisas boas sobre mim. Seu irmão
estava apenas brincando, tenho certeza."
Eu engulo um ronco, mas Jacey parece mais calma.
"Desculpe Maddy", murmura. "Meu irmão não costumava ser
tão rude. Ele ainda está se ajustando por estar no exterior."
Raiva percorre através de mim, rápida e quente, mas sufoco
isso. Queria ser um pouco rude. Não posso ficar bravo por ter sido
chamado disso.
"Tenho certeza que estarei de volta ao normal em breve",
concordo com ela bem antes de mudar de assunto. "Você tem uma
mesa para mim? Vamos precisar de uma mesa para três. Brand está
vindo também."
O rosto de Jacey se ilumina com a menção de nosso amigo de
infância.
"Graças a Deus! Não vejo ele há pelo menos um mês. Vocês
dois são péssimos em vir me ver. Vocês deveriam se envergonhar de
si mesmos." Ela se vira para Madison. "Posso dar-lhes a mesa da
janela no canto?"
Madison concorda.
"Claro. Foi bom conhecer você, Gabriel. Espero que você
aproveite a sua refeição."
Ela de repente se vira e se junta a um casal em uma mesa
diferente. Não que eu vá mostrar isso, mas estou um pouco
espantado com a mudança nela. Esta mulher imperturbável, fria não
é nada como a garota de sangue quente que conheci na noite
passada. Encontro-me a olhar para a bunda firme por um minuto,
me perguntando como uma bunda pequena como essa se ajusta a
um pau grande. Estou rindo com o pensamento enquanto Jacey me
leva à minha mesa.
"Vou lhe trazer uma cerveja”, Jacey me diz enquanto ela me
entrega um cardápio e olhando o presente embrulhado que pus
sobre a mesa ao meu lado. "O que Brand vai querer?"
"Cerveja está bom" digo a ela enquanto olho sobre as opções de
refeições. "Obrigado, Mana."
Ela acena com a cabeça, enquanto sai e eu olho em volta.
O restaurante é legal, apesar de Madison não parecer ser o tipo
de pessoa que seria dona de um restaurante. Pelo menos ela não
parecia na noite passada. Hoje, porém, quem sabe? Penso nisso por
um segundo e me lembro vagamente de Jacey me dizer que Maddy
herdou de seus pais. Isso faria mais sentido.
Virando um pouco, encontro ela na minha periferia. Seu cabelo
loiro claro é fácil de encontrar. Considerando que, ontem à noite ela
estava vestida como uma modelo de passarela, hoje ela está vestindo
roupas de ginástica, minúsculos shorts apertados, uma pequena
camisa que não deixa nada para a imaginação e tênis. É estranho pra
caralho. É como se ela sofresse uma completa reviravolta.
Então, quem é a Madison de verdade? A garota sexy que queria
ir para casa comigo ontem à noite ou esta empresária enrolada?
Talvez ela esteja enrolada durante o dia, e quente e sexy depois
do expediente?
Parece algo que eu deveria ter como missão.
Ela está sentada com seu pequeno grupo agora: a mulher de
cabelos escuros lindos e um cara tatuado musculoso. Ela também
está propositalmente sem olhar para mim, posso dizer. Seus ombros
estão virados para longe de mim e ela está rindo de tudo o que seus
companheiros dizem como se quisesse me mostrar o divertimento
que ela está tendo.
E não, eu não sou egoísta por pensar que o comportamento
dela gira em torno de mim. Neste momento, o comportamento dela
está girando em torno de mim. Ela é tão consciente de onde estou
nesta sala como eu sou dela. De vez em quando posso ver seus
olhares de soslaio para mim. Ela provavelmente está se perguntando
sobre o meu verdadeiro eu, assim como eu estou querendo saber
sobre o verdadeiro dela. Se ela viu muito do meu episódio na noite
passada, se foi ruim, então ela provavelmente está tentando me
entender neste minuto.
Como não me lembro do que aconteceu ontem à noite, só há
uma coisa que posso fazer.
Foder com ela.
Provar para ela que não sou um covarde. Encará-la até que ela
se contorça em sua cadeira, enquanto se lembra exatamente o que
quase fizemos ontem à noite, o que ela me pediu para fazer. Mostrar-
lhe que ela não tem vantagem comigo só porque eu não me lembro
do que eu fiz.
Sorrindo para mim mesmo, troco de lugar, para que eu esteja
diretamente de frente para ela. E então, eu incisivamente olho para
ela.
Isso deve ser divertido.

****************************************************************

Madison

Mas que diabos?


Minhas bochechas ficam quentes enquanto sinto o olhar de
Gabriel queimando em mim do outro lado da sala. Como, em nome
de tudo que é sagrado que eu não notei que seu sobrenome era o
mesmo de Jacey quando olhei a sua carteira de motorista na noite
passada? O acidente deve ter me abalado ainda mais do que eu
imaginava. E por que diabos ele está me encarando? Ele está agindo
como se nada tivesse acontecido na noite passada, como se ele não
tivesse perdido totalmente o controle. O que é que vou fazer com
isso?
Mesmo que ele esteja muito, obviamente, tentando chamar a
minha atenção, não há nenhuma maneira no inferno que eu vá
retribuir. Prefiro morrer antes de dar-lhe a satisfação de olhar para
ele. Em vez disso, concentro-me ainda mais em parecer como se
estivesse tendo um inferno de um divertimento.
Pego o meu copo de vinho e tomo outro gole, antes de sorrir
largamente para o meu cunhado.
"Então, você gosta de trabalhar para o seu avô? Quantas vezes
você vai ter que ir para Hartford neste verão?"
Pax para no meio de uma mordida e pensa sobre a minha
pergunta. Enquanto ele pensa, distraidamente esfrega as costas de
minha irmã com a mão livre.
"No começo me perguntava em que diabos eu tinha me
metido. Não tinha jeito de eu querer ser cercado por terno e gravata
todos os dias. Mas, então, me ajustei e encontrei o meu lugar. Não
tenho que vestir terno e gravata, porque sou dono da porra da
empresa. Ainda estou provando para o meu avô que sou capaz, mas
acho que vou gostar".
"Bom", respondo. "Mas não vou gostar disso quando vocês se
mudarem."
Mila revira os olhos. "Mad, nós já passamos por isso uma
centena de vezes. É uma viagem de avião de duas horas. Você pode
vir me ver e venho te ver. Não é como se nós nunca vamos nos ver
outra vez. E espero que você esteja namorando alguém em breve,
assim isso vai distraí-la. Temos que descobrir algo para nós fazermos
com sua vida pessoal."
Levanto uma sobrancelha. "Oh, nós fazermos, não é? Você vai
ter uma opinião sobre isso?"
Mila ri e dá tapinhas na perna Pax. "Sou boa em
relacionamentos, aparentemente. Posso te ajudar com o seu."
"Não tenho um relacionamento," a lembro. "Esse foi o seu
ponto."
Ela revira os olhos novamente.
"Tudo bem. Vamos começar com um fácil. Ethan Eldridge. Eu
sei que é fato que ele é solteiro. Topei com sua mãe na biblioteca no
outro dia. Ela disse que ele está solitário, porque muitos dos seus
velhos amigos se mudaram. Então lá vai. Você pode começar
namorando Ethan. Ele vai ser uma boa prática."
Seguro uma colher no ar. "E não importa para você que esta
colher tem mais personalidade do que ele?"
Pax começa a rir, olhando para Ethan antes de olhar para sua
esposa.
"Ela tem um ponto. Madison precisa de alguém que possa
fazer girar o seu dinheiro. Esse cara... Er, ele não parece que pode
fazer isso."
Mila dá ao marido um olhar cético. "Talvez. Mas Maddy
sempre pegou caras muito arrogantes, muito controladores. E então
isso acaba em desastre e Maddy está chateada com o mundo e com a
espécie do sexo masculino em geral. Talvez ela precise experimentar
um cara como Ethan."
Todos nós olhamos discretamente na direção de Ethan, para
encontrá-lo rolando calmamente seu telefone celular. Ele está
usando um relógio formal, uma camisa formal e calças cáqui
perfeitamente adequadas. Ele é tão limpo e arrumado que até
mesmo suas unhas muito limpas estão lixadas e cortadas. Muito
neutro, muito brando e baunilha.
Brando e baunilha não são para mim.
Pax se vira, sacudindo a cabeça. "Não acho que ele tem o que
precisa para lidar com Maddy".
Levanto minhas sobrancelhas. "Ele não pode lidar comigo?"
Pax recua rapidamente. "Isso não é exatamente o que eu quis
dizer. Você é... Digamos... Um pouco feroz. Você precisa de um cara
com bolas. Você não precisa de um cara cujas bolas estão em sua
bolsa. Só estou comentando."
"Ha, falô o cara cujas bolas estão na bolsa de Mila enquanto
falamos."
Mila ri quando dou a Pax um olhar gelado. Ele ignora e meu
comentário, enquanto mastiga um pedaço de pão, totalmente
afetado pelo meu olhar. Ou pela minha acusação de que minha irmã
possui os testículos dele. Acho que ele é seguro o bastante em sua
masculinidade para não se importar.
Virando a cabeça ligeiramente, posso ver o vulto escuro de
Gabriel com o canto do meu olho e quase coro novamente. Durante
toda a conversa, seu olhar ardente queimou um buraco em mim. É
tão potente que quase sinto como se ele estivesse realmente me
tocando. Finalmente, sou incapaz de resistir e olho para ele.
Ele olha para mim, seus olhos tempestuosos e escuros.
Que diabos ele está pensando? Ele está lembrando-se do
acidente? Ou está se lembrando de como ardentemente quente foi
ontem à noite antes do acidente? Fico olhando para a sua boca e não
posso deixar de lembrar como era o gosto dela ontem à noite antes
de seu colapso.
Cigarro, menta... Como um homem. Engulo.
E depois eu morro. Porque com o olhar ainda ligado ao meu,
ele muito propositadamente desliza o dedo em sua boca. Em
seguida, puxa-o lentamente, sugando-o.
Exatamente como ele chupou o meu gosto dos seus dedos na
noite passada.
Oh. Meu. Deus.
Minhas bochechas explodem em chamas e seus olhos muito
escuros lampejam de diversão. Fico olhando para ele quando
percebo que ele está brincando comigo. Ele está propositalmente
tentando me lembrar de ontem à noite.
O canto de seu lábio treme e eu sei.
Sei que ele acha que ganhou qualquer joguinho que ele está
jogando.
Dane-se ele. Desejando que a vermelhidão deixe o meu rosto,
dou o meu olhar mais gelado para Gabriel, levanto o nariz para o ar e
volto para encontrar Mila observando a interação.
"Quem é esse?" Ela pergunta com extremo interesse. Dou de
ombros.
"O irmão de Jacey. Acabei de conhecer."
Mila levanta a sobrancelha. "Você acabou de conhecê-lo?" Ela
olha para mim. "Isso parece duvidoso. Vocês mantém o olhar um
para o outro. Você o conhece. Desembucha."
Olho feio para a minha irmã. "Por que você tem que me
conhecer tão bem? Eu o conheci ontem à noite em um clube em
Chicago."
Mila engasga com seu copo de água. "Sério? Você o conheceu
em um clube?"
E sem qualquer vergonha mesmo, ela gira em torno de seu
assento para olhar para ele.
Gabriel olha para ela com interesse. Então, levanta uma
sobrancelha para mim. Ele está esparramado na cadeira, as pernas
compridas casualmente relaxadas. Nada disto está afetando ele, da
mesma forma que está me afetando. É como se ele não se importasse
com que o que aconteceu ontem à noite. É desconcertante como o
inferno. Isso me irrita.
“Vire-se", assobio para Mila, arrancando seu braço. "Deus.
Você tem que ser tão óbvia?"
"Não posso evitar", diz ela, sem se virar. "Como posso não
olhar para o cara que tem você na palma da mão?"
"Não estou na palma da mão", respondo entre meus dentes,
puxando-lhe o braço com mais força. "Não me faça maltratar uma
mulher grávida porque depois Pax vai me matar. Apenas vire-se.
Deus."
Ela finalmente faz o que peço, mas ela olha para mim de forma
estranha. "Que diabos, Maddy? Por que você está tão chateada? É
apenas o irmão de Jacey, certo?"
Há um tom de sabedoria quando ela fala que me faz querer
bater na minha irmã, mesmo ela estando grávida.
"Sim", respondo com firmeza, ignorando seu tom de voz e
resistindo a minha vontade de infligir danos físicos. "Ele é apenas
irmão de Jacey."
"Bem, nesse caso, eu deveria ir me apresentar. Quero dizer,
Jacey é nossa empregada. É apenas educado."
E com isso, Mila está fora de seu assento e do outro lado da
sala antes que eu possa pará-la. Ela se move surpreendentemente
rápido para uma menina grávida. Fico olhando com a boca aberta.
Pax me alcança e fecha minha boca.
"Ela te pegou, Mad."
Olho para ele. "Pax, juro por Deus. Um dia desses, vou matá-
la. Isso vai acontecer."
Pax apenas ri, totalmente despreocupado.
"Tanto faz. Se você fosse matá-la, você teria feito isso há muito
tempo. Mas você não fez. Em vez disso, a protegia como uma mãe
urso. Então, tenho dificuldade em acreditar que você iria prejudicar
um fio de cabelo da cabeça dela. E agora tenho que ir dar uma
mijada. Você pode se comportar aqui sozinha? E por isso, quero
dizer que você pode ficar aqui sem matar ninguém?"
Balanço minha cabeça e sigo-o.
"Não vou ficar aqui", murmuro quando ele olha para mim com
surpresa.
"Bem, você não vai vir comigo", ele sorri. "É grande, mas posso
segurá-lo eu mesmo."
Leva meio segundo para perceber o que ele quis dizer. Sinto-
me corar, apesar de estar sozinha.
"Deus, estou cercada por imbecis."
Reviro os olhos mais uma vez para uma boa representação. Em
seguida, volto ao meu escritório. Posso ouvir o meu cunhado rir
enquanto me afasto, assim como posso sentir o olhar escuro de
Gabriel seguindo cada movimento que eu faço. Isso é
enlouquecedoramente enervante e estou chateada comigo mesma
por deixá-lo me afetar assim.
Estou no meu escritório por apenas dez minutos antes de
Jacey me encontrar. Ela invade sem bater, como ela sempre faz,
ajustando seu rabo de cavalo loiro antes dela cair em uma cadeira
em frente à minha mesa.
"Maddy, que inferno? Você e meu irmão estão olhando um
para o outro como se fosse comida em um buffet tudo-que-você-
puder-comer. O que diabos está acontecendo?"
Seus grandes olhos castanhos estão curiosos enquanto ela
espera eu responder.
Começo a falar, fecho minha boca. Em seguida, tento
novamente.
"Na noite passada... Gabriel...”.
Mas isso não quer sair. Não quero dizer a ela que eu quase
fiquei com seu irmão. Isso não parece certo. Isto parece um
território perigoso. Não é contra o código em algum lugar namorar
o irmão de sua amiga? Especialmente quando algo estranho parece
estar acontecendo com ele? Se ela já não sabe sobre isso, eu
certamente não quero ser a pessoa a dar-lhe a má notícia.
Jacey me conhece bem, no entanto. Seus olhos brilham e
então, estreitam enquanto ela olha para mim.
"Vá em frente. O que tem a noite passada?" Breve pausa, e
então seus olhos se iluminam. "Oh. Meu. Deus. Você conheceu o
Gabe ontem à noite em Chicago? Ele deveria encontrar-nos, mas não
foi porque houve algum problema com o seu táxi. Mas você
desapareceu também. Você conheceu meu irmão ontem à noite,
Madison? Não é possível... Certo?"
Engulo em seco e desvio o olhar.
"Oh meu Deus!" Jacey grita, saltando da cadeira e dançando
em torno de um círculo estranho, como um pássaro um pouco
estranho. "Você ficou com meu irmão!"
Olho para ela com cautela. "Quase. Isso é estranho?"
Ela olha para mim como se eu tivesse duas cabeças.
"Você está louca? Queria que vocês namorassem por anos. Mas
quando éramos adolescentes, ele nunca quis vir para a cidade no
verão. Ele estava passando por uma fase em que estava tímido ou
algo assim. E então, ele foi para o exterior. Vocês são perfeitos um
para o outro. Você só não sabe disso ainda. A verdadeira questão é
por que vocês não transaram ontem à noite? Você nunca explicou."
Reviro os olhos e olho para o relógio. É por volta das sete
horas, o horário mais corrido do jantar.
"Não fique muito animada. Estava tarde da noite, era um
clube... E nós só nos deixamos levar um pouco. Então, nós
estávamos em um acidente no táxi e acabou o clima. Desde que você
foi a única que me convenceu a tentar pegar alguém, a coisa toda é
culpa sua, se você pensar sobre isso."
Jacey ignora essa última parte, com a testa enrugada.
"Um acidente? Gabe me disse esta manhã que houve um
problema com o seu táxi. Ele não disse nada sobre um acidente.
Alguém foi ferido?"
Balancei minha cabeça. "Não. Um cara passou num sinal
vermelho e nos atingiu em cheio no cruzamento. O táxi ficou
acabado, mas ninguém ficou ferido. Totalmente acabou com o clima,
no final das contas."
E assim levei um homem estranhamente incoerente para seu
apartamento e sai antes que ele pudesse me matar e pendurar minha
pele em seu armário de cozinha ou algo assim.
Quero tanto perguntar a Jacey sobre o comportamento
estranho de Gabriel, mas hesito. Seu rosto está completamente
congelado agora, enquanto ela está totalmente preocupada com seu
irmão. Não quero dar a ela ainda mais preocupação.
"Puta merda", ela respira. "Devo a Gabe um pedido de
desculpas. Pensei que ele estava apenas inventando uma desculpa
por me dar um bolo. Vocês poderiam estar feridos."
Não digo a ela que ele realmente estava dando um bolo nela
quando sofremos o acidente.
"Sim, acho que sim. Mas não estamos. Apenas abalados."
Ele mais do que eu. Mas, novamente, não menciono essa parte.
Jacey balança a cabeça e suspira. "Juro por Deus, que o
homem atrai situações perigosas. Uma pessoa normal foge do perigo
e Gabe corre direto para ele. Sempre correu. Ninguém se
surpreendeu quando ele se juntou ao Exército, mas eu
definitivamente estou surpresa que ele viveu tanto tempo."
Esta é a oportunidade perfeita para obter mais informações
sobre Gabe. Fico olhando para minha amiga, tentando decidir a
melhor forma de fazê-lo.
"Não me lembro de você me dizer que ele era um soldado
antes", digo a ela com cuidado. Jacey olha para mim.
"Você me escuta alguma vez?" Ela exige. Eu coro.
Sinceramente, eu me desligo dela algumas vezes. Ela tende a
conversar sem rumo. Bastante.
"Gabe esteve no exterior, com o Exército pelos últimos três
anos", ela continua. "É tudo o que ele sempre quis fazer. É por isso
que fiquei tão preocupada com ele. Ele estava em combate e o
exército fez algumas coisas assustadoras. Mas então algo aconteceu e
ele renunciou a sua comissão. E ele voltou para casa. Assim como
seu melhor amigo, Brand. Agora eles estão começando um negócio
juntos, mas não entendo nada disso. Não é o estilo deles. São
soldados até os ossos."
Ela está quieta agora, conformada. Hesito em perguntar, mas
não posso evitar.
"O que aconteceu?"
Ela encolhe os ombros e olha nos meus olhos. "Seu palpite é
tão bom quanto o meu. Ele não vai falar comigo sobre isso. Mas isso
fodeu com ele. Sei que ele tem problemas para dormir e ele não é
mais como ele era. Tipo, ele fica com raiva facilmente e essas
merdas."
Devo parecer horrorizada ou algo assim porque Jacey se
apressa em continuar.
"Não como super agressivo ou algo assim. Ele só se irrita
facilmente agora. Isso não é como ele era. Mas sei que ele vai voltar
ao normal, eventualmente. Provavelmente, em breve. Tenho feito
algumas leituras sobre caras que chegam em casa após o combate.
Aparentemente, essas coisas são normais. Isso vai passar."
Essas coisas não são definitivamente normais. Não o que vi
ontem à noite, pelo menos. Mas não digo isso. Pelo que Jacey está
dizendo, está claro que ela não tem ideia do que está acontecendo
com ele.
Isso fodeu com ele. Ela entendeu essa parte direito.
Alguma coisa aperta meu peito, algo suave, algo que costumo
manter escondido. Deve ser o meu coração, mas é difícil dizer. Tem
sido assim por muito tempo desde que o reconheci como uma parte
de mim. Mas a ideia de um soldado ferido que voltou para casa
danificado, me atinge.
Por um segundo imagino Gabriel usando uniforme, suado e
perigoso no deserto. Cai-lhe bem, na verdade. Mas então, o imagino
ferido e talvez até mesmo sozinho e por qualquer razão, odeio esse
pensamento. Engulo em seco. Em seguida, mudo de assunto para
aliviar o clima.
"Sinto muito, Jace. Isso é terrível. Mas se isso é verdade e ele é
um cara alfa foda, então não há nenhum jeito dele ser certo para
mim. Não gosto de caras que são viciados em adrenalina ou coisas
do tipo. E definitivamente, não gosto de caras que perdem a
paciência facilmente."
Ela faz uma cara feia. "Não foi isso que eu disse. Ele não perde
a paciência facilmente. Ele fica apenas... Mais facilmente irritado.
Acho que ele está apenas se ajustando à vida civil. Não é grande
coisa, Mad. Você deve dar uma chance a ele."
Eu já dei.
Afasto o pensamento da mão de Gabriel entre as minhas
pernas na noite passada no táxi, enquanto o taxista estava bem no
banco da frente. Eu meio que gostei desse lado viciado em
adrenalina dele ontem à noite. Não posso mentir. Não para mim
mesma.
Quando deixo de responder, Jacey revira os olhos. "O que
diabos aconteceu com a minha velha amiga? Aquela que gostava de
se arriscar, roubar gin do armário de bebidas dos pais e esgueirar-se
para fora de sua janela do quarto para ir a festas na praia? Você
sabe, a Madison que não deixa sua BFF11 no clube? Espero que ela
volte logo porque preciso de uma parceira no crime novamente.
Quero a antiga Madison de volta. E quando ela voltar, ela pode
namorar o meu irmão."
Suas palavras praticamente me esfaqueiam no coração, porque
me sinto velha. Sinto-me aborrecida. Sinto-me como alguém que
não sou. E ela está totalmente me dizendo isso. Então, faço o que

11
BFF – Best Friend Forever = melhor amiga para sempre.
sempre faço quando estou encurralada. Escondo-me atrás de uma
parede.
Reviro os olhos. "Tanto faz. Aquela Madison não está voltando.
Isso se chama crescer. Você deveria experimentar. E você não
deveria estar atendendo suas mesas? Julie está provavelmente
enlouquecendo sem você."
Jacey olha por baixo do seu nariz para mim. "Tudo bem. Você
pode se livrar de mim agora, mas confie em mim, vou voltar a esta
conversa. Você vai me contar todos os detalhes sobre o 'quase' ficar
com meu irmão por uma noite e nós vamos discutir como você deve
sair com ele."
Com isso, Jacey sai abruptamente do meu escritório. Tento
voltar meu foco para minha papelada sem fim, mas não posso deixar
de voltar a suas palavras.
Um soldado do Exército aposentado. Isso faz perfeito sentido.
Disciplinado. Rígido. Perigoso. Tudo isso se encaixa na
descrição de um soldado, pelo menos na minha experiência limitada.
E mesmo que eu não tenha visto evidências disso em suas ações,
posso ver tudo isso em seus olhos.
Ele não parece muito velho, no entanto. Ele não pode ser
muito mais velho que eu. Então, deve ter sido algo muito ruim que o
fez se aposentar tão jovem.
Decido que Gabriel Vincent é um enigma.
Um enigma descaradamente arrogante.
Um ardentemente sexy, perigoso-como-o-inferno enigma.
Um enigma com um tanquinho e olhos ardentes.
Contra o meu melhor julgamento, rastejo de volta pelo
corredor e espreito na curva para o salão, para ele. Jacey tem os
braços em volta dos ombros dele, rindo de algo que ele disse.
Enquanto ele ri com ela, ele está descontraído e quente, tanto quanto
ele estava comigo ontem à noite antes do incidente com o táxi.
Do outro lado da mesa dele, seu amigo ri dos dois. Brand, acho
que Jacey o chamou assim. Ele é constituído como uma parede de
tijolos e para lá de sexy como o inferno. Loiro, olhos azuis, sorriso
torto. Ele parece um Thor da vida real. Puta merda, assim que
soldados aparentam? Se for assim, eles são definitivamente os
melhores do nosso país.
Mas quando olho para Brand, mesmo tão lindo como ele é, o
sangue em minhas veias não pega fogo como quando olho para
Gabriel.
Gabriel me fascina como o inferno. Quando ele está em um
ambiente, ele é o dono dele, completo e totalmente. A memória dele
enfiando o dedo na boca do outro lado da sala faz com que meus
olhos fechem.
As coisas que Jacey me falou sobre ele saindo do Exército mais
cedo só fez a minha curiosidade piorar. Quero saber mais sobre ele,
mas ao mesmo tempo sei que deveria correr para longe dele.
Porque há uma coisa que sei sobre mim mesma. Por mais que
tente ao máximo ficar longe de caras fortes e poderosos, caras que
comandam um ambiente, caras que poderiam me machucar... Estou
total e completamente atraída por esses caras. Sinto-me atraída
pelas coisas que poderiam me machucar mais.
É muito óbvio que Gabriel é todas essas coisas.
E muito mais.
Capítulo Seis

Gabriel

Madison desapareceu em um corredor há uma hora e não


voltou desde então. Ela nem mesmo voltou a sentar-se com sua
irmã, Mila, a garota que se apresentou para mim. Isso me faz pensar
que Maddy pode estar se escondendo de mim, o que é um
pensamento que me faz sorrir. Não sei por que... Sádico, eu acho.
Mas se ela é tão friamente composta, do jeito que ela está agindo
hoje à noite, então o pensamento de que a sacudi é engraçado como
o inferno.
Olho para trás, para a direção de Mila. Ela está rindo e
tentando forçadamente alimentar o marido com um morango. Pax
acho que ela me contou. Que raio de nome é esse?
Ele é um cara grande e de aparência rude, mas acho que ele
teria que ter um nome como esse. Parece que ele foi domesticado,
mas é tão evidente que nem sempre foi assim. Ele tem aquele olhar
em seus olhos. Aquele olhar carente e malvado que não vai embora
assim.
Mila ri novamente e quando ela olha para cima, seus olhos
encontram os meus por um segundo e penso sobre o que ela disse
para mim.
Maddy pode parecer uma vadia, mas prometo a você que ela
não é.
Por que diabos ela disse isso? Maddy não parece ser uma vadia
para mim, mas, novamente, acho que sei por que ela está agindo de
forma tão fria. Sei, mais ou menos, o que aconteceu ontem à noite.
Ninguém mais aqui sabe. Todos eles devem pensar que ela está me
esnobando sem motivo.
O som persuasivo de Jacey traz minha atenção de volta para o
presente, no qual minha irmã está praticamente sentada no colo de
Brand enquanto ela tenta forçá-lo a contar suas histórias de
combate.
Brand atira-me outro olhar desesperado sobre a cabeça dela,
para que eu tenha piedade e o resgate. Brand pode ser um incrível
Hulk musculoso, mas Jacey sempre fez dele o que quis. Ele apenas
acha que ninguém sabe disso.
"Jace, você sabe que ele não pode falar sobre isso. Essa merda
é toda confidencial. E você não tem o nível de habilitação de
segurança para ouvir."
Jacey olha pra mim. "Não tenho nenhuma habilitação de
segurança."
Sorrio para ela. "Esse é o meu ponto. Dê um tempo pro cara.
Além disso, tenho certeza de que nós, provavelmente, devemos ir
embora. Nós estamos ocupando uma mesa."
"Não vá ainda", Jace lamenta, pegando outro pedaço de seu
bolo. "Senti falta de vocês. Muito. E quase nunca consigo te ver,
mesmo agora que você esteve em casa durante meses. Você não acha
isso estranho?" Ela faz uma pausa, dá outra mordida, então se vira
para mim. "Só tomem mais uma xícara de café", ela me diz
mandona. "Vou até fazê-lo descafeinado."
Ela foge do colo de Brand e dispara para a cozinha antes que
eu possa sequer responder.
Brand sorri para mim. "Algumas coisas nunca mudam. Jacey
ainda tem você enrolado em seu dedo mindinho."
Balanço minha cabeça. "Tanto faz. Ela estava sentada no seu
colo. Sério, apesar de tudo. Você sabe que me sinto mal por ela. Ela
sempre acha que o nosso pai vai mudar, que ele milagrosamente vai
se interessar por ela e, em seguida, quando ele não muda, ela fica
devastada. Ela nunca vai aprender."
"Então, você sempre vai estar lá para tomar o seu lugar",
acrescenta Brand. "E fazer a merda que ele não faz. Conheço você,
cara. E respeito como o inferno. Eu respeito. Tenho certeza de que
Jacey respeita também, mesmo que ela não demonstre."
"Minha irmã é mais durona do que parece" respondo
pensativo, vendo quando ela para falar com um cara que acabou de
entrar no restaurante. "Ela tenta não ficar toda sentimental e essas
merdas, mas sei que ela gosta de você também."
Brand segue o meu olhar para Jacey, congelando no cara que
está de pé com ela. Algo sobre o cara parece errado. Ele está vestindo
roupas de trabalho sujas, e é musculoso e forte. É evidente que ele
faz algum tipo de trabalho braçal. Ele também está claramente
chateado.
"Quem é esse?" Brand pergunta com interesse acentuado.
Balanço minha cabeça.
"Nenhuma pista."
Não posso ouvir o que estão dizendo, mas eles parecem estar
em uma discussão acalorada e o rosto do cara fica vermelho. Jacey
balança a cabeça, revira os olhos e se vira para ir embora.
E então, o cara agarra o braço dela.
No segundo que ele a toca, raiva me atravessa, vermelha e
quente. Como um raio, Brand e eu empurramos para fora da mesa,
nos lançando para os nossos pés. Chego a minha irmã em poucos
passos, com Brand do meu lado.
"Se você quiser manter a sua mão, sugiro que você deixe a
minha irmã ir", digo calmamente. Não há nenhuma necessidade de
levantar a minha voz. Sei como sou intimidante. E de pé juntos,
Brand e eu somos como uma parede. Nós nos elevamos sobre este
pequeno bundão.
Ele olha para nós e posso ver o medo em seus olhos, mesmo
que ele não queira mostrá-lo. Ele leva um tempo, mas ele faz um
show de forma lenta e exageradamente liberando o braço de Jacey.
Em seguida, segurando sua mão vazia no ar.
"Assim é melhor" Brand diz a ele. "Sugiro que você não faça
isso de novo."
"Foda-se", o cara cospe raivosamente. "Isso não é da sua
conta."
"Jared, basta ir embora", Jacey interrompe. "Sério. Você
precisa ir."
Jared sorri. "Este é um lugar público. Preciso jantar. E quero
que você me sirva."
"De jeito nenhum", Jacey diz a ele. "Saia. Agora. Estou cansada
das suas merdas."
"O que diabos está acontecendo?" Eu exijo. "Quem é esse cara
e porque ele está te incomodando?"
Mas antes que ela possa responder, Madison emerge da sala
dos fundos. Quando ela vê Jared, seus olhos se arregalam e ela
parece assustada, depois ela disfarça. Ela calmamente se aproxima
de nós.
"O que está acontecendo?", ela pergunta a Jacey calmamente.
"Jared não vai embora", Jacey responde.
"Estou me preparando para ajudá-lo", digo a Madison. O cara
sorri.
"Experimente", ele me desafia. "Só experimente."
Ele se vira para mim, com os olhos semicerrados me
desafiando, mesmo que eu possa ver o medo neles. Ele é mais
convencido do que ele é inteligente e, se não me engano, um pouco
bêbado também. Eu zombo dele.
"Você não vale o meu tempo. Basta ir embora antes de se
envergonhar. Ou antes, que eu te envergonhe."
Jared olha para mim.
"Eu sei quem você é", ele faz cara feia. "Jacey me contou tudo
sobre seu irmão mais velho, herói de guerra. Bem, idiota, você não
está no exterior agora. E você não é um herói aqui. Então, dê o fora,
porra."
Ignoro a raiva que corre através de mim rápida e quente. Com
o canto do meu olho, vejo Pax levantar da sua mesa. Mila coloca a
mão em seu braço, como se pedisse para ficar. Sorrio. Ela deve
perceber o que eu já sei. Posso resolver isso. Não preciso de ajuda.
"Não preciso ser um herói para lidar com um pequeno covarde
como você", respondo a ele, mantendo a calma. "Sai fora daqui."
Jared não se move. Então eu o movo.
Agarrando seu cotovelo, arrasto-o em direção à porta. Ele luta
contra mim, mas mesmo que ele seja forte, ele é muito menor do que
eu.
"Vou chamar a polícia", Madison diz a ele enquanto ela
acompanha meus calcanhares. "Apenas vá embora, Jared."
"Vocês são duas prostitutas", ele cospe, lutando em meu aperto
para virar e olhar para ela. "Não fiz nada com você. Você precisa
cuidar da sua vida de merda."
"Jacey é da minha conta", Madison responde friamente,
caminhando em torno de nós para abrir a porta para mim. "Pare de
assediá-la. Nós vamos chamar a polícia da próxima vez."
Da próxima vez? Olho por cima do meu ombro para Jacey, que
tem a graça de parecer envergonhada. Esta é a primeira vez que ouço
falar de alguém a assediando.
Girando, bato o bundão contra o batente da porta. Atrás de
mim, ouço Madison sugar o fôlego, mas a ignoro. As costas deste
imbecil colidem com satisfação contra a madeira e cravo meus dedos
em sua clavícula.
"Chame minha irmã de prostituta de novo e você não terá
nenhum dente sobrando" advirto. “Entendido?" Ele se contorce e o
liberto, empurrando-o com força em direção ao estacionamento. "Sai
fora daqui."
Ele cospe no chão, em seguida começa a se afastar. "Que bom
que você teve seus chapas para ajudá-la", ele diz de volta para mim.
"Da próxima vez você não vai ter tanta sorte."
Ele entra em seu carro e olho por cima do meu ombro. Ambos,
Brand e o cunhado de Madison estão de pé atrás de mim, como se eu
precisasse de apoio para este pedaço patético de merda. Balanço
minha cabeça.
"Oh, confie em mim. Não vou precisar de ajuda. E é melhor
não haver uma próxima vez."
O cara vira as costas para mim e dá o fora, gritando seus pneus
quando rasga para fora do estacionamento. Eu me viro para
encontrar Madison de frente para mim, com as mãos nos quadris.
"Isso foi realmente necessário?" Ela pergunta. "Eu ia chamar a
polícia. Violência realmente não era apropriada. Tenho clientes
aqui."
Encaro-a em estado de choque. "Pensei que você estaria feliz
por ter retirado-o de sua sala de jantar."
"Você pensou errado. Tinha a situação sob controle."
Estou surpreso agora. "Oh, verdade? E como exatamente você
estava controlando isso? Ameaçando chamar a polícia? Idiotas como
esse não ouvem a razão, Madison. Você tem que falar a linguagem
que eles entendem."
"Bem, tenho certeza que você é fluente em idiotês." Madison
me olha friamente por mais um momento. Em seguida, dá meia
volta e dispara para dentro do restaurante.
Não dou a mim mesmo tempo suficiente para refletir sobre o
fato de que a gatinha tem garras antes de girar ao redor, prendendo
Jacey com o meu olhar.
"Que diabos foi isso?"
Jacey encolhe os ombros. Por cima do ombro vejo Madison
andando com seu cunhado de volta para sua mesa. Em seguida,
virando a cabeça para falar com sua irmã. Mas, em vez de pensar
sobre o que eles podem estar dizendo, volto minha atenção para o
meu problema atual.
Jacey.
"Ele é um ex-namorado que não aceita um não como resposta"
ela responde. "Ele é só um idiota que toma a rejeição muito
pessoalmente. Não é tão grande coisa."
"Ele meio que é", diz Madison atrás de mim. Olho para ela,
surpreso que ela voltou depois de seu pequeno show de teatro. Ela
olha para mim, seu lindo rosto desenhado. "O comportamento dele
pode ser uma grande coisa, quero dizer. Ele praticamente atacou
minha irmã no ano passado. E ele está incomodando Jacey por um
tempo. Pelo menos um mês. Continuo dizendo a ela para chamar a
polícia, mas ela não vai fazer isso. Percebi que devia dizer isso.
Talvez você possa fazê-la ver a razão."
Ela arruinou sua saída dramática para voltar e me dizer algo
para ajudar Jacey? Interessante.
"Madison, Deus". Jacey estala. "Não preciso da polícia
envolvida nisso. É constrangedor. Jared é um idiota e ele está
perturbando, mas ele não vai realmente fazer nada. Na maioria das
vezes ele só me manda mensagens... Envia-me fotos de suas partes
nuas e essas merdas."
Madison olha para ela. "Jacey, ele já está fazendo alguma
coisa. Não só está te assediando, como ainda está aqui no meu
restaurante fazendo uma cena." Ela abaixa a voz e agora mergulha a
cabeça mais perto de Jacey, como se o que ela está se preparando
para dizer é apenas para Jacey ouvir. Mas eu ainda posso ouvir.
"Jace, o meu pai tinha esse tipo de temperamento. Não tem
como ficar melhor. Esse tipo de cara são valentões que vão intimidá-
la até que você os afaste, até você fazê-lo ver que ele não pode tratá-
la assim. Que você não vai deixá-lo tratá-la assim. Você tem que
despertar e fazer alguma coisa."
Estou parado agora enquanto a vejo. Ela não sabe, mas ela
acabou de me mostrar algo sobre si mesma, algo que a faz
vulnerável. Alguém.
Mas não posso pensar nisso agora. Agora tenho que lidar com
a minha irmã.
"Nós vamos conversar", digo a Jacey, tomando-a pelo braço e
guiando-a de volta para a mesa. "O que exatamente aconteceu
quando você terminou com esse cara?"
Jacey balança a cabeça. "Nada fora do comum. Eu disse a ele
que não estava funcionando e ele não gostou. Ele me envia
mensagens sem parar, dirige em volta da minha casa, liga e desliga...
É frustrante, mas ele vai superar isso."
Brand olha para ela. "Pequenas cabeças quentes como ele, às
vezes, apenas não ‘superam’ alguma coisa. Ele claramente tem
problema. Vou precisar do nome e endereço dele."
Olho para o meu amigo. Após servir no exército com ele, sei
exatamente do que ele é capaz.
"Acalme-se, soldado", murmuro com ele. "Esta é a vida civil.
Nós não vamos pagar a uma visita idiota. Ainda não, de qualquer
maneira." Dirijo-me a minha irmã. "Não vou deixar você aqui
sozinha. Quando vovó volta da Flórida?"
Nossos avós já eram donos de uma casa de campo aqui em
Angel Bay desde antes de eu nascer. Ficamos aqui com eles em todos
os verãos quando éramos crianças. Mas, em seguida, nosso avô
morreu e nossa avó não foi mais a mesma. Jacey ainda passa os
verões aqui para fazer companhia à vovó, mas, pelo menos desde o
ano passado, vovó ficou na Flórida a maior parte do tempo de
qualquer maneira.
Jacey se encolhe. "Você não vai acreditar, mas eu não sei
quando ela vai voltar. Acho que ela encontrou alguém em sua
pousada para retiro de idosos." Ela vê minha cara e acena. "Eu sei.
Não gosto de pensar nisso também. Mas você sabe, o vovô se foi há
anos. Acho que ela está solitária."
"Oh, Deus", murmura Brand, virando sua cerveja. "Sexo
geriátrico. Estou fora. Onde é o banheiro?"
Jacey aponta a direção certa e, em seguida, ela cai em seu
assento vago. Fico olhando para ela, esperando ela me dá uma
explicação. Depois de alguns minutos de silêncio, simplesmente
pergunto. "Por que você não me falou desse cara?" pergunto a ela,
sério agora. "Você deveria ter dito."
Ela deixa cair os olhos e olha para a garrafa de cerveja vazia
que Brand deixou para trás.
"Porque posso lidar com isso sozinha", ela me diz com um
suspiro. "Não preciso ter o meu irmão mais velho se intrometendo e
me salvando."
Suspiro também. "Sei que você não precisa", respondo. "Mas
talvez seu irmão mais velho queira se intrometer e salvá-la. É mais
ou menos o que eu faço." Ela ri com isso.
“Oh, ótimo. Então você se aposenta do exército e vou ter que te
deixar me salvar o tempo todo para que você tenha seu status de
herói de volta?"
"Algo parecido com isso", respondo distraidamente. Na minha
cabeça, estou pensando na minha agenda. "Acho que posso ficar por
aqui por um tempo", digo a ela. "Brand e eu temos que entregar
nossa nova armadura para o Pentágono em uns dois meses, mas até
lá estou livre."
"A não ser que eu encontre outro investidor nesse meio
tempo", Brand interrompe quando ele pega uma cadeira e volta para
a mesa. "Mas, mesmo assim, você pode chegar à reunião com a
mesma facilidade daqui do que do seu condomínio."
Concordo com a cabeça e Jacey olha para nós.
"Não entendo o seu novo negócio", ela admite. "Você está
vendendo armadura ao governo, certo? Por que eles não fazem a sua
própria armadura?"
"Eles fazem", Brand explica. "Mas não é boa o suficiente,
porque as coisas boas sempre são muito caras. Gabe e eu queremos
projetar melhor a armadura que o governo pode comprar para cada
soldado. Se pudermos fazer isso, e se conseguirmos que o exército
compre, então ninguém vai ter que passar pelo que passamos."
Jacey resmunga: "E eu não tenho nenhuma ideia do que você
passou, porque você não me conta.”
Ambos, Brand e eu, ficamos quietos e Jacey suspira. "Eu sei, eu
sei. Você vai falar comigo sobre isso quando estiver pronto."
"Não é você, Jacey. Não é apenas algo que gosto de falar para
ninguém", oferece Brand. "Pense na coisa mais horrível que você
poderia pensar. A mais sangrenta, mais assustadora... Seu pior
pesadelo. Então imagine que isso acontece com você... Imagine isso
se tornar a sua realidade, um pesadelo do qual você não pode
acordar. Confie em mim, você não gostaria de falar sobre isso
também."
Jacey parece aflita e ela coloca a mão no meu braço enquanto
olha para nós dois.
"Tudo bem. Entendo. Mas, falando sério, se qualquer um de
vocês quiser falar sobre isso, estou aqui. E eu tenho dois ouvidos
para ouvir".
Acaricio sua mão. "Obrigado, Jace. Mas voltando ao assunto
em questão. Vou ficar com você por um tempo. Não há discussão".
Jacey geme, mas finalmente concorda. "Tudo bem. Acho que
seria bom ter você por perto de qualquer maneira. Estou com
saudades. E você sabe, vovó estava atrás de você para vir e aplicar
pesticida no seu porão por causa das aranhas desde que você chegou
em casa. Isso vai lhe dar oportunidade para isso."
Ela sorri e é a minha vez de gemer. "Merda. Esqueci. Não sei
muito sobre pesticida, mas Brand e eu, nós vamos descobrir isso."
Brand gruni. "Como diabos me meti nisso? A única coisa que
eu sei sobre aranhas é que devo ficar longe delas."
"Vou te pagar em cerveja", ofereço.
"Feito", ele rapidamente concorda.
Volto para Jacey. "Agora, sobre esse cara Jared. Como ele é?
Quero saber algo sobre ele."
Jacey pensa sobre isso. "Bem, ele não é a pessoa mais estável.
Deveria ter escutado Maddy. Ela tentou me dizer o que ele fez com a
Mila. Mas quando perguntei a ele sobre isso, ele disse que tinha
bebido e não era ele mesmo e acreditei nele. O problema é que ele
está bêbado o tempo todo e por isso a coisa fica feia. Mas se você
estiver em casa, aposto que ele vai me deixar em paz. Ninguém no
seu perfeito juízo, bêbado ou não, iria mexer com você. Seus bíceps
são tão grandes quanto a minha coxa."
Imagino Mila, a irmã que se apresentou para mim antes. A
doce, encantadora irmã, que claramente não faria mal a uma mosca.
Se aquele idiota iria foder com uma garota assim, ele não hesitaria
em foder com minha irmã mal-humorada.
"Você tem que levar esses pequenos imbecis desequilibrados a
sério, Jace. E de alguma forma, duvido que o seu menino de
brinquedo seja intimidante o suficiente para ficar alerta. Mas vou
estar aqui agora. Espero que Jared fique longe e que o problema vai
ser resolvido."
"OK", Jacey suspira. "Mas você não pode implicar com Peter.
Ele está em uma banda. Ele não precisa ser intimidado. Ele é
criativo."
Reviro os olhos e ela sorri.
"É melhor voltar a fazer o meu trabalho para Maddy não
surtar. Ela fica praticamente até que a última pessoa esteja pronta
para ir. Quando você vai estar em casa?"
"Vou para casa, arrumar a mala e depois voltar à noite. Pode
ser tarde, mas vou estar aqui."
"OK." Ela dá um beijo na minha testa enquanto ela passa.
"Você é o melhor irmão mais velho que tenho. Obrigada por meu
relógio de aniversário. É lindo." Ela olha para o pulso, o relógio
brilhante de ouro que eu trouxe para ela.
"Sou o único irmão mais velho que você tem", respondo. "E de
nada."
Ela começa a se afastar, depois para, olhando para mim. "E,
Ethan Eldridge está chamando Maddy para sair. É melhor você ir lá
e cuidar disso."
Minha cabeça sobe, apenas para encontrar Madison
conversando com o mauricinho com quem ela falava antes. Não
posso ouvir o que estão dizendo, mas Jacey pode.
"Você perdeu." Ela balança a cabeça. "Ela disse sim."
Por que isso me irrita tanto? Maddy olha para cima e encontra
o meu olhar, as bochechas corando. Por que incomodo tanto ela? O
que diabos eu fiz ontem à noite?
"Não possuo ela, Jace" finalmente respondo. "Ela pode
namorar com quem ela quiser."
"Mas quero que ela namore você", diz Jacey. "Você não sabe
quão perfeitos vocês são um para o outro." Só reviro os olhos e volto
para Brand.
Assistimos Jacey ir embora e em seguida Brand olha para
mim.
"Você vai foder com ele, certo?"
Sei que ele não está falando sobre o mauricinho que acabou de
chamar Madison para sair. Ele está falando sobre o pequeno idiota
dando a minha irmã um momento difícil. Encaro Brand calmamente
sobre a borda da minha garrafa de cerveja.
"Vou. Se ele chegar perto dela."
Brand acena com satisfação. "Idiota fodido. Jacey tem que
parar de namorar esses perdedores."
"Eu sei", concordo. "Ela tem que parar de namorar tantos
caras, periodicamente. Ela precisa ser mais exigente. Jesus."
Brand olha para mim, sua expressão repentinamente séria.
"Você sabe, isso pode ajudá-lo a estar aqui. É um bom lugar
para você tentar ficar de volta aos seus pés, para ficar saudável
novamente, sabe?"
Um nó se forma em minha garganta e o ignoro. Concordo com
a cabeça sem dizer nada, enquanto olho para fora da janela. Não
gosto de falar sobre essa merda, nem mesmo com Brand.
"Sei como é", ele me lembra. "Todo mundo tem demônios. Só
coincidiu de você e eu compartilharmos o mesmo. E cara, não é sua
culpa. E não é minha culpa. Fomos envolvidos em um monte de
merda naquela noite. Você tem que parar de se culpar por isso. Mad
Dog não iria querer isso."
"Mad Dog não pode querer nada", digo a ele severamente. "Ele
está morto. E se eu não tivesse me distraído..."
"Não", interrompe Brand. "Não. Basta parar aí. Não tinha jeito
de nós sabermos o que estava acontecendo. Você não tinha como e
eu também não. Você tem que lidar com isso e seguir em frente,
Gabe. Confie em mim, eu sei."
Fico olhando para ele por um minuto antes de finalmente
concordar. Ele tem um ponto. Estar aqui realmente pode me ajudar.
E ele sabe o que está falando. Quando chegamos do exterior, Brand
se inscreveu para a terapia de PTSD12 extensa, enquanto eu optei por
não fazer. Por um lado, acho que a terapia é um monte de besteira.
Por outro lado, eles não podem concertar-me como eles concertaram
Brand. O que aconteceu não foi culpa dele. Foi minha.
"Tudo bem", concordo. "Vou tentar lidar com isso. Como está o
seu pé?"
Naquela noite... A noite que nós dois gostaríamos de esquecer,
deixou cicatrizes duradouras em nós dois, de diferentes maneiras. A
explosão que espatifou nosso Humvee13 quebrou todos os ossos da
perna esquerda de Brand e pé. Basicamente esmagou. Os médicos
tiveram que reconstruir a coisa toda, e agora é mais aço e parafusos
do que ossos. Brand ainda anda mancando quase
imperceptivelmente.
"Está ficando cada vez melhor", ele responde. "Ainda dói como
uma cadela, mas você sabe o que eles dizem. A dor é apenas a
fraqueza saindo do corpo."

12
Transtorno de estresse pós-traumático.
13
Veículo Automóvel Multifunção de Alta Mobilidade. É um veículo utilitário militar desenvolvido pela
AM General que oferece um grande tempo de vida, muito utilizado nos Estados Unidos e outros países e
organizações.
"Você é um filho da puta louco", digo a ele. "Você sabe disso,
né?"
"Uh-uh", ele responde, balançando a cabeça. "Passei no teste
psicológico de cores de voo, quando fomos exonerados. Estou
comprovadamente saudável. História verídica."
Reviro os olhos. "Não. Você só sabe como agir dessa forma.
História verídica."
Brand ri e joga uma nota de vinte sobre a mesa como gorjeta
para Jacey.
"Isso não é um pouco demais?" Levanto uma sobrancelha. Ele
encolhe os ombros.
"É seu aniversário. E ela está sempre quebrada. Essa menina
realmente não pode gerir o seu dinheiro. Ela precisa colocar o seu
rabo de volta pra escola, para que ela possa conseguir um emprego
onde ganhe mais."
Balanço minha cabeça para o simples pensamento dos planos
de carreira inconstantes da minha irmã.
"Se ela ganhasse mais dinheiro, provavelmente gastaria tudo
também. Ela mudou de ideia milhares de vezes. Mas seria melhor se
ela decidir isso logo. Ela não pode servir mesas para sempre."
Independentemente das minhas palavras duras, atiro uma
gorjeta também. Ela realmente precisa do dinheiro.
Brand hesita antes de se afastar. "Falei sério. Tire um tempo
para você."
Jacey não está em lugar nenhum para ser vista, então mando-
lhe uma mensagem, dizendo a ela que vou vê-la hoje à noite. Dou um
passo para a porta. Em seguida, tenho uma ideia.
Pegando o meu recibo em cima da mesa, rabisco uma nota. Em
seguida, o número do meu celular antes de dobrá-lo e caminhar para
o barman corpulento.
"Você poderia dar isso a Madison?" pergunto. Ele olha para
mim com curiosidade, mas mantém a mão na nota.
"Claro", ele responde, me questionando com os olhos.
"Valeu", respondo, entregando a ele, não lhe oferecendo uma
resposta.
Saio sem olhar para trás e subo no meu Camaro.
Não é um carro prático, mas eu sempre quis ter um, então
quando fui exonerado do exército comprei um novo... Mais ou
menos como um prêmio de consolação por desistir do meu emprego
dos sonhos. É um carro foda, mas não chega a ser bom o suficiente
para compensar a vida que perdi.
Uma única noite mudou minha vida para sempre.
Uma maldita noite.
E o pior é que mesmo a culpa sendo minha, se estivéssemos
mais bem protegidos, Mad Dog ainda estaria vivo e a perna de Brand
não teria sido destruída.
Nada disso pode ser mudado agora. Mas pode mudar para
futuros soldados. Vamos tentar como o inferno para fazer isso
acontecer. Tudo o que temos que fazer agora é terminar a concepção
do produto, conseguir outro investidor, para que possamos ter
protótipos prontos. Em seguida, lançá-los com sucesso para o
Pentágono.
Fácil.
Acendo um cigarro, enquanto ando pela estrada tranquila.
Tudo aqui em Angel Bay é tranquilo e rotineiro; quase nada
acontece. Isso realmente pode ser o que eu preciso para botar minha
vida nos trilhos.
E não dói nada que este seja o lugar onde Madison está.
Sorrio da porra da coincidência de tudo isso.
E então, sorrio novamente do bilhete que deixei para ela.
** Precisamos terminar o que começamos. **
Capítulo Sete

Madison

Cerro os dentes, enquanto penso sobre essas palavras. Rubor


inunda minhas bochechas, enquanto eu deixava Gabriel chegar a
mim, mais uma vez.
** Precisamos terminar o que começamos. **
Quem diabos ele pensa que é? Oh meu Deus. Ele é tão
fodidamente arrogante. Ele acha que pode ignorar completamente o
fato de que se transformou em uma pessoa louca, na outra noite, não
me ofereceu qualquer explicação, invade meu restaurante e me
encontra esperando apenas para fodê-lo?
Ele é mais louco do que eu pensava.
Olho para o espelho, enquanto coloco meus brincos, o
diamante que uso quando quero me vestir bem. Eles foram o último
presente que os meus pais me deram antes de morrer, um presente
de formatura da faculdade.
Estudo a mim mesma agora. Meu cabelo está puxado em um
coque solto na minha nuca. Estou usando batom, um vestidinho
preto e um salto fabuloso preto de tiras. Sou a imagem perfeita de
uma paquera.
Inferno, não! Não vou sair com Gabriel!
Ele acha que pode entrar, se enfiar em meu restaurante e vou
apenas cair a seus pés em sinal de gratidão? Ele é louco. O Hill já
teve um valentão e ele está morto há quatro anos. Nós não
precisamos de outro.
A memória do rosto de Gabriel quando ele bateu Jared contra
a porta faz com que meu estômago se aperte. Ele quase parecia
gostar. Ele gostava de ter Jared à sua mercê. Aperto meus olhos
fechados, em seguida, abro novamente, voltando ao foco.
Não pense mais em Gabriel.
Ethan vai fazer o jantar para mim hoje à noite e, caramba, eu
vou gostar. Ou pelo menos vou fingir muito que estarei gostando.
Suspiro e pego a minha bolsa preta, apagando as luzes e saindo em
direção ao meu carro.
Dane-se.
Percepções de outras pessoas não costumam me incomodar
em nada, mas por alguma razão, realmente, odeio a ideia de que
todo mundo acha que eu não tenho uma vida social. Não tenho uma
vida social, por que não conheço ninguém que me faz querer uma.
Leva apenas 10 minutos para dirigir por toda a nossa pequena
cidade e Ethan me encontra, enquanto subo para a sua porta. Ele
está usando uma camiseta luz azul com decote em V que
complementa seus olhos e calças Slim pretas que complementam a
sua bunda. Deveria estar atraída por ele.
Então, por que não estou?
"Pensei que você estaria no lago", digo quando ele me
cumprimentou. "Estou surpresa que esteja morando em um desses
novos condomínios.”
Ele sorri e pega o meu casaco.
"Eu sei. Mas minha agenda é muito louca para cuidar de uma
casa de campo. Sou praticamente um escravo do hospital.”
Fico olhando para ele, admirando mais uma vez que as pessoas
colocam sua saúde (e seus muito frágeis bebês) em suas mãos
grandes e desajeitadas.
Não posso deixar de falar isso para ele.
Ele ri com bom humor. "Oh, Maddy. Você tem que me
conhecer novamente. Acho que você vai ser agradavelmente
surpreendida.”
À medida que caminhamos para o seu condomínio, tenho que
admitir que estou agradavelmente surpreendida por ele. Tudo é tão
elegante e moderno. Tudo é limpo e arrumado. Não é o que eu
estava esperando, com base no cara que Ethan era. Por mais difícil
que seja para eu imaginar, talvez ele realmente houvesse crescido.
"Isso é lindo", digo a ele, enquanto viro ao redor, levando tudo
para dentro. "Um condomínio muito crescido.”
Ele ri. "Combina com o homem adulto que vive nele."
Fico olhando para ele. "Touché. Tudo bem. Admito. Vou ter
que tentar ver você de uma forma diferente, não como o menino que
comeu um gafanhoto."
Ele revira os olhos. "Sério. Nunca vou superar isso? Eu tinha
dez anos! Muita coisa mudou em 15 anos, Madison."
Nós rimos e ele me senta em um elegante sofá, enquanto ele
enche uma taça de vinho para mim. "Espero que você goste de vinho
tinto", ele diz enquanto me entrega a taça. "Nós vamos comer vitela.
Fiz para acompanhar com um bom Merlot14".
"Isso é perfeito", digo-lhe enquanto os nossos dedos se tocam.
"E muito adulto. Eu amo Merlot."
Ele sorri, e depois se desculpa para ir ver a comida. O cheiro
delicioso da cozinha faz dar água na boca.
"É uma surpresa descobrir que você pode cozinhar também”,
digo através da sala. O condomínio é um projeto aberto. Dá para ver
tudo que ele está fazendo. Ele ri quando fecha o forno e, em seguida,
vem para o bar da cozinha superior com a garrafa de vinho.
"Sou bom com as minhas mãos", ele me diz sugestivamente,
enquanto se senta ao meu lado. "Confie em mim." Eu tenho que
sorrir.
"OK. Você realmente mudou. Você não dava essas cantadas no
Ensino Médio.”
Ethan olha para mim, surpreso. "Dava também! Só que não
com você. Você me matou de susto. Queria pedir-lhe para sair por
quatro anos diretos, mas eu estava com medo que você me desse um
fora e eu, então, jamais fiz o pedido. Você estava fora da minha liga.”
Eu é que estou surpresa agora. "Fora da sua liga? Você sabe
que todos te chamavam de Ken, certo? Como o boneco Ken... Porque
você era tão perfeito?”
Ele está interessado agora, me olhando atentamente.
"Conte-me mais sobre isso", ele sorri.
Ri e nós batemos papo e de repente tudo parecia como nos
velhos tempos novamente, assim como quando ele costumava vir à

14
Tipo de vinho.
minha casa com grupos de nossos amigos e sair para fogueiras na
praia.
O problema é que ele se sente como nos velhos tempos. Eu não
sinto nenhuma química com ele agora, apenas como não sentia
naquela época. "Então, o que você faz para se divertir, Ethan?"
Pergunto educadamente, sorvendo o meu vinho. Ele imita o
movimento, tomando o dele.
"Realmente não tenho tempo para muito mais", ele admite.
"Meu tempo é praticamente todo tomado pelo hospital. Se estou em
casa, então estou dormindo ou assistindo TV durante um minuto.
Tenho muito pouco tempo livre.”
"No entanto, você está passando uma noite comigo", aponto.
Ethan sorri.
"Está vendo? Você deve se sentir lisonjeada.”
Praticamente suspiro em voz alta, enquanto ignoro a maneira
como ele vem chegando perto de mim. É evidente que ele não está
tendo problema com a falta de química que estou tendo.
Para piorar a situação, ele provavelmente está acostumado às
mulheres na clínica se jogando para ele pela simples razão de que ele
é um médico boa pinta.
Ele não está acostumado à rejeição porque as enfermeiras,
auxiliares de enfermagem e pacientes... Elas não se importam que
ele seja chato como o inferno e só vive para o trabalho. Tudo o que
elas veem é o "MD" em seu crachá.
Elas não se importam que ele não tenha uma faísca. Elas não
se importam que ele nunca deslize sua mão entre as pernas delas em
um táxi. Elas não se importam que ele nunca fosse foder a boca delas
com sua língua, enquanto o taxista dava uma olhada no espelho
retrovisor. Minhas bochechas explodiram em chamas.
Foda-se. Por que estou pensando no Gabriel de novo?
E pior, por que os pensamentos dele me transformam
estupidamente?
Estou quase aliviada quando o jantar está finalmente pronto.
Quando posso me afastar do Ethan. Quando posso parar de fingir
estar interessada no que ele está dizendo. Quando posso parar de
fingir que não estou pensando em outra pessoa.
Em vez disso posso me distrair comendo. Nunca estive tão feliz
em ver um prato quente de vitela Marsala na minha vida.
"Isso é muito bom", digo-lhe, enquanto dou outra mordida.
"Estou impressionada".
Ele sorri. "Bom. Esse era o meu objetivo. Eu realmente não
consigo fazer outra coisa."
Comecei a rir. "Sério?"
Ele balança a cabeça. "Não. Posso. Só queria que você risse.
Você é muito séria, Mad. Você pode parecer com ela, mas você não é
a garota que me lembro da escola.”
Sinto meu rosto corar, enquanto pego o meu copo de vinho.
Quantas vezes ouvi esta mesma coisa desde que meus pais
morreram? O que diabos as pessoas esperam? Mila e eu fomos
abandonadas, pelo amor de Deus. Tivemos que crescer com pressa e
isso significava ficar séria. Tive que cuidar da minha irmã, assumir o
restaurante, tomar conta do negócio, do empréstimo... Nada dessas
coisas foram fáceis.
Não digo nada disso, porque nada disso é culpa de Ethan... Ou
é da sua conta.
"Bem, as coisas mudaram depois que meus pais morreram”,
simplesmente digo.
Ele balança a cabeça, pensativo. "Percebi que isto era motivo
suficiente. Minha mãe disse que você praticamente enfrentou tudo
sozinha. Você deixou Mila fazer suas próprias coisas, enquanto você
chegou em casa e assumiu o restaurante. Isso foi bom de sua parte."
Balancei minha cabeça. "Não foi grande coisa”, protesto.
"Formei-me em administração para quando ficasse velha demais
para modelar, eu tivesse um plano extra. Por isso, faz sentido
assumir o Hill. Nenhuma de nós queria vendê-lo e Mila teria tomado
conta dele se eu tivesse pedido.”
“Mas você não pediu a ela”, Ethan apontou. “Você voltou para
casa para administrá-lo.”
"Sim", respondo. "Eu Fiz. Mila nunca quis ter nada a ver com
os negócios. Ela sempre foi muito artística. Esse sempre foi o seu
sonho. E seus sonhos não devem ser frustrados só por que nossos
pais morreram.”
Ethan me observa atentamente e depois coloca outro copo de
vinho para mim. "Estava na faculdade quando fiquei sabendo sobre
seus pais, Maddy. Eu não sabia exatamente o que fazer. Mas sinto
muito sobre o que aconteceu com eles. E sobre o que aconteceu com
você por causa disso. Entendo que você não queira que Mila desista
dos sonhos dela... E respeito isso. Mas e os seus? Tomar conta do
Hill não era seu sonho. Era o sonho deles."
"Não, não foi," admito a contragosto. "Qual é o negócio,
Ethan? Você está tentando me fazer achar que deveria estar
insatisfeita?" Sorrio, para tentar amenizar o tom, mas eu ainda faço
a pergunta. Porque sério, que inferno!
Ethan imediatamente balança a cabeça.
"Claro que não. Você simplesmente não parece tão feliz como
você costumava ser. E estou apenas tentando descobrir o porquê. Eu
não tive a intenção de ofendê-la."
"Bem, as coisas mudam e não sou a garota que você se
lembra,” indico. "E você não me ofendeu."
Mas ele meio que fez.
Tomei o resto do meu vinho e nós conversamos um pouco mais
sobre a sobremesa, sobre os velhos tempos. Sobre o ensino médio e a
faculdade, e velhos amigos que temos em comum. E, em seguida, do
nada, Ethan olha para mim sério.
"Eu sei que esta é provavelmente uma pergunta estúpida desde
que você está aqui esta noite, mas você está namorando alguém?
Quero dizer, vendo a sério alguém?”
Estou surpresa com a pergunta e olho para ele estupidamente
por um segundo.
"Claro que não", finalmente consegui dizer. "Se tivesse, tenho
certeza que ele não estaria muito feliz com o fato de que eu estou
aqui em um encontro com você.”
Ethan sorri e parece aliviado. "OK. Bom. Só não tinha certeza
se você estava pensando nisso como um encontro ou não, ou se você
apenas pensou que nós estávamos colocando o papo em dia. Eu só
queria saber.”
Tenho que rir. "Na verdade, pensei que nós estávamos apenas
recuperando o tempo perdido, colocando o papo em dia, mas Mila
insistiu que era um encontro. Então, estou feliz que esteja
esclarecido.”
"Bem, você está linda e eu não estou pronto para dizer boa
noite”, Ethan anuncia. "Quer ir fazer um passeio na praia? Não está
chovendo pela primeira vez em vários dias. Devemos aproveitar.
Posso dirigir até lá e você pode deixar os saltos no carro.”
"Bom plano", digo a ele. "Porque não há maneira, no inferno,
que estes saltos cheguem a lugar algum perto da areia. Tive que
comer burritos congelados por um mês para comprá-los.”
Ele ri, não sabendo que eu como burritos congelados de
qualquer maneira. Enquanto ele me ajuda a entrar no meu casaco,
ele mergulha a cabeça e inala. "Você tem um cheiro fantástico."
"Obrigada", murmuro. O elogio foi bom, mas estou repensando
a minha decisão de estender o nosso encontro.
Não consigo cooperar, me pergunto se há algo de errado
comigo, porque eu ainda não estou atraída por ele, mesmo que ele
seja o Sr. Perfeito agora. Subo em sua BMW e ele fecha a porta, um
perfeito cavalheiro. Estamos na praia em apenas alguns minutos.
Enquanto Ethan puxa para um espaço, olho para fora através
da água.
"Parece tão majestoso, não é?" Pergunto a Ethan suavemente.
"Tão grande. Isso me faz sentir tão pequena."
"Não sei nada sobre isso", ele responde, enquanto abre minha
porta. "Mas está, definitivamente, ventando muito."
Rolo os olhos para a sua falta de apreço, pela beleza que nos
rodeia e sigo-o para baixo no caminho estreito para a costa. Gramas
selvagens golpeiam de ambos os lados da trilha difícil. À nossa
esquerda a água cai na costa. À nossa direita as dunas de areia
rolam, robustas e bonitas.
"Amo isso aqui", suspiro e pego o braço do Ethan.
Quero dizer, estamos num “suposto” um encontro. Posso tocar
no cara, certo? O vento está frio e seu braço está quente. Não é um
crime absorver um pouco do seu calor.
Nem deixei minha mente vagar para o cara que eu realmente
gostaria de estar tocando. E, certamente, não estaria apenas o
tocando para me manter aquecida, tentaria algo mais.
O simples pensamento de como eu gostaria de tocá-lo, faz com
que meu rosto core novamente. Em minha mente, Gabriel pisca para
mim.
Por que diabos ele está preso na minha cabeça?
"Gosto de estar aqui também", Ethan respondeu, me trazendo
de volta para minha companhia presente. "Pensei em permanecer na
cidade para fazer a minha residência, mas eu realmente só queria
voltar para casa. Foi uma agradável surpresa encontrar você ainda
aqui. Você sempre parecia destinada a algo maior do que aqui,
sabe?”
Ele sorri para mim com dentes brancos, que uma supermodelo
invejaria. Realmente, realmente, realmente desejo que meu coração
vibre ou meus hormônios reajam. Mas eles não o fazem. Nada.
Nada.
Inferno. Sou um fracasso.
"Bem, foi definitivamente difícil me acostumar estar de volta
aqui. É tão pequeno.”
Ethan ri disso, mas felizmente permite que a conversa siga seu
curso. Sou grata porque sua conversa é irritantemente branda.
Continuamos caminhando e conversando, eu continuo
segurando em seu braço.
Ele parece estar genuinamente interessado em todas as coisas
que lhe conto sobre o Hill, embora não posso dizer o mesmo de mim
mesma sobre seus contos da clínica. Como pode alguém tão lindo ser
estupidamente chato?
"Então, sim, eu estava apavorado quando dei a alguém um
cateter pela primeira vez. Quero dizer, sério. Quem realmente quer
pegar o pênis de outro homem e inserir um tubo nele? Graças a Deus
que é, geralmente, trabalho das enfermeiras." Ethan continua a me
contar seus contos médicos e continuo a ajustá-los para fora. Porque
sério. Não quero ouvir sobre ele brincando com o pau de outro
homem.
Enquanto me concentro em não para escutar, uma figura toma
forma na distância próxima, correndo em direção a nós. Fora de
curiosidade, eu mantenho um olho no corredor quando ele se
aproxima mais e mais, e, em seguida, quase suspiro quando
finalmente percebo quem é.
Gabriel.
Não pode ser. É como se o universo estivesse determinado a
me manter em seu caminho.
Minha boca fica seca instantaneamente, enquanto seus olhos
tempestuosos fixam no meu rosto.
** “Precisamos terminar o que começamos.” **
Sinto meu rosto corar e como sempre acontece, ele sorri... É
como se ele soubesse exatamente o que estou pensando.
Ele está sem camisa e os músculos em seu peito e abdômen
flexionam com cada movimento. Seus cabelos escuros estão
despenteados e úmidos, por isso é óbvio que ele estava correndo por
um tempo.
Doce Maria. Por que é que uma noite inteira com Ethan me
deixa fria, mas um maldito relance deste cara faz o meu sangue
ferver? O homem é definido. Seus braços são cortados, seu abdômen
é uma tábua de lavar roupa e ele tem aquele perfeito V escorrendo
no cós de sua bermuda. Tento fingir que não percebo, mas posso
dizer a partir de seu sorriso, que ele sabe o que eu percebi.
Ignoro. Em vez disso, reflito sobre a maneira como ele parece
tão magro e eficiente. Cada movimento é suave e deliberado. E
poderoso. Tenho sempre ouvido dizer que as Forças Especiais
transformam seus soldados em assassinos treinados. Não sei sobre
isso, mas caramba, ele parece letal.
Não consigo desviar o olhar e enquanto ele passa. Ele olha para
mim de lado.
Ele também pisa numa pequena poça de água e pequenas
gotículas de lama respingaram nas calças de Ethan.
"Ei, cara", protesta Ethan, virando-se para encarar Gabriel.
"Cuidado com o que você está fazendo." Estou surpresa que Ethan
diria qualquer coisa, porque foi claramente um acidente, mas estou
igualmente surpresa quando Gabriel para, se vira e retorna para nós,
o suor brilhando em sua testa. Inferno.
"O que você disse?", pergunta ele, incrédulo. Aparentemente,
ele está surpreso também. Ethan parece hesitante, agora, que ele
está face a face com Gabe.
"Eu disse para ter cuidado", disse ele, mais calmo agora. "Você
jogou lama em minhas calças.”
"Eu fiz agora?" Gabe revira os olhos. "Peço desculpas. Peço
desculpas a você que é um cú doce que não gosta de ficar sujo.”
Ethan praticamente explode, enquanto avança na direção de
Gabriel e eu não tenho ideia do que fazer.
"O que vai fazer cú doce?" Gabriel zomba dele, inclinando-se
ironicamente. "Alguma coisa?"
Gabriel levanta uma sobrancelha, esperando, e eu sacudo a
cabeça, desapontada que ele reagiu assim. Decepcionada, mas não
surpresa. Ele fez um buraco em sua parede, pelo amor de Deus.
Então, virou Jared e jogou-o em uma parede. É claro o tipo de cara
que ele é... Alguém que tem um temperamento problemático. Antes
que eu parasse, falei por Ethan.
"Que diabos, Gabriel? Você espirrou lama nele. Isso é culpa
sua, não dele. Por que você está sendo um babaca sobre isso?”
A maneira como ele olha para mim, com uma expressão quase
ofendida, me faz pensar... Minha reação é exagerada? Ele está
irritado que Ethan está aqui comigo? Seu rosto se fecha, porém,
decido que isso não pode estar certo.
"Venha me encontrar se você ficar cansado de ter uma menina
para lutar suas batalhas,” Gabriel fala para Ethan. "E vou ficar feliz
em comprar outro par de calças de merda."
Ele começou a se afastar, então se virou seus olhos travando no
meu. Seu olhar escuro é intenso enquanto ele olha nos meus olhos,
em seguida, a minha boca.
O que ele está pensando? Por que diabos ele está agindo como
o que aconteceu na outra noite foi normal? Como nada disso é
normal?
Não é normal.
Será que ele não se importa que eu o ajudei? Tomei uma
possibilidade, um risco, andando com um homem estranho em casa,
porque eu simplesmente não podia deixá-lo lá sozinho. E agora ele
só quer fingir que nada disso aconteceu.
Ele apenas continua olhando para os meus lábios com um
olhar que diz: Não importa. Nada disto importa Maddy.
E por um minuto realmente não faz, porque ele está olhando
para a minha boca como se quisesse devorá-la e isso é tudo que
posso pensar.
Conscientemente, arrasto os dentes por toda a extensão do
meu lábio inferior. Em reação, o canto inclina e eu obtenho um
vislumbre de seus dentes brancos, a sua língua rosa.
A mesma língua que lambeu e chupou meus mamilos.
Meu coração bate no meu peito e ele sorri, apenas
ligeiramente.
Ele sabe o que estou pensando.
Respiro. Ele dá um passo.
Ele toma outro, mergulhando a cabeça na direção da minha
orelha, perto o suficiente para que Ethan não possa ouvir perto o
suficiente para que seus lábios encostem em minha bochecha.
"Pense em mim, Maddy."
Meu coração para. Antes que eu pudesse responder, ele sorri e
dá a volta, passando correndo por nós, sem olhar para trás.
"Que pau", resmunga o Ethan. "Quem é este cara? O que ele
disse para você?”
"O irmão de Jace", respondo, lutando contra uma incrível
vontade de olhar por cima do ombro, para vê-lo correr para longe.
"Não sei por que ele ainda está aqui. Acho que ele vive em Chicago."
Sei que ele vive em Chicago. Mas, obviamente, não menciono como
sei disso. E definitivamente não digo a ele o que Gabriel disse.
"Bem, nós esperamos que ele vá para casa, em breve" Ethan
resmunga. "Nós não precisamos de idiotas como ele aqui. Esta
cidade é pequena demais para isso. É ruim o suficiente que temos
Pax Tate."
Sua cabeça parece ter se encaixado, quando ele se lembra de
que Pax é meu cunhado, pois ele percebe que só enfiou o pé na boca.
"Deus. Sinto muito. Não quis dizer isso. É apenas que, desde
que se mudou para cá há alguns anos atrás, todos nós sabíamos que
era para ficar longe dele. Sabíamos que, se esbarrasse nele em um
dia ruim, ele seria um idiota total.”
"O que te importa?" Exijo. "Você quase veio pra casa para
encontrá-lo. E ele não é um idiota mais.”
"Isso é o que eles dizem", diz Ethan, aparentemente
convencido. Seu tom de voz, as suas palavras... Tudo sobre ele agora
era irritante. Ele não tem o direito de julgar Pax.
E sim, Gabriel exagerou. Ele poderia ter se mantido em
movimento e fingido que ele não ouviu Ethan. Mas Ethan não
precisa dizer qualquer coisa, em primeiro lugar. Então, qual o
problema se um pouco de água respingasse em suas calças?
Ele realmente é um cú doce.
E Gabe com certeza não é.
Meu humor para Ethan foi definitivamente rompido, ainda
mais do que já era, e permaneci em silêncio enquanto voltamos para
seu carro.
Depois que ele me levou de volta ao meu lugar, digo para ele
que estou cansada e que eu deveria, realmente, ir em direção a
minha casa ao invés de entrar para uma bebida. Posso dizer que ele
está desapontado, mas ele manipula sem problemas.
"Está tudo bem, Maddy. Estou acordado desde as quatro
horas, por essa razão, estou quebrado também. Mas foi divertido.
Devemos fazê-lo novamente em breve.”
Há uma pausa constrangedora enquanto eu fico ao lado do
meu carro.
Posso dizer que ele está me beijando em pensamento e eu
afastando o pensamento.
Não, eu silenciosamente o instruí. Mas, em vez de esperar que
ele lesse minha mente, eu resolvi o problema, levantando-me para
cima na ponta dos pés e beijando sua bochecha.
"Claro" murmuro.
Ethan olha para mim, enquanto a parte superior do meu carro
diminui.
"Eu vou ligar para você esta semana, OK?"
Concordo com a cabeça e entro no meu carro e, enquanto
dirijo mentalmente me examino.
Odeio cara doce-burro, mas eu também odeio os bullies15. Meu
pai era um tirano. Não gostei naquela época e não gosto agora.
Mesmo os valentões que são sexys como o inferno, porque eles
só me chamam em direção a algo que preciso ficar longe. Pois Mila
estava certa na outra noite, tendo a escolher os caras errados.
Honestamente, estou começando a pensar que não há
ninguém lá fora para mim. Não gosto dos caras que deveria e os
caras que eu gosto são ruins para mim. Talvez esteja destinada a
ficar sozinha.
Quando entro em minha casa, vazia, este fato só se enfatiza.
Estou sozinha.
Chuto meus sapatos, solto minha bolsa sobre uma mesa na
sala de espera e caio em uma cadeira na sala de estar com uma
garrafa de vinho.
Só a garrafa, sem copo.
Balanço as pernas para o lado da cadeira, enquanto penso
sobre a noite.
Pensamentos sobre Ethan me fazem estremecer. Além de me
irritar com o seu juízo sobre Pax. Falta alguma coisa em Ethan. Uma
faísca, uma paixão.
Não posso colocar o dedo sobre ele, mas o fato é que ele nunca
me fará sentir do jeito que quero que alguém me faça sentir.
Mas Gabriel faz.
Seu olhar ardente faz meu pulso acelerar, intimidação ou não.
** Precisamos terminar o que começamos. **
Foda-se. O que há de errado comigo? Por que estou tão presa a
alguém que eu não deveria querer... Mas quero?
Tudo o que sei é que Gabriel tem este certo tipo de confiança.
O tipo que vira o meu estômago de dentro para fora. E há algo mais
sobre ele também... Algo intrigante. Nem sequer o conheço, mas há
algo em seus olhos, algo escuro e mal-assombrado que me atrai a ele.

15
Uma pessoa que é cruel ou autoritário, especialmente com pessoas menores ou mais fracas.
Penso por um minuto e acho que isto tem relação com o que
ele viu no Afeganistão. É tão terrível que parece ter cicatrizado por
dentro. O que o transformou em uma confusão, em pânico, na noite
do acidente de táxi? Porque ele não parece o tipo de cara que entra
em pânico.
Na minha cabeça, o vejo correr na praia mais uma vez, todo
enorme, forte e disciplinado. A julgar pela forma como ele estava
suado, aposto que ele estava correndo por milhas e ele ainda estava
indo além, assim como uma máquina. Ele é claramente uma força a
ser contada. No entanto, alguma coisa tem o poder de levá-lo aos
joelhos. É um quebra-cabeça.
Meus olhos se fecham com imagem de Gabriel ondulando
músculos, brilhando com a luz do brilho de suor. Imagino-o subindo
mais e esfregando-se contra mim, seus dedos me acariciando.
Oh, meu Deus. Meus olhos se abrem e minhas bochechas
coram, enquanto percebo que tudo não passou de uma fantasia
sobre Gabriel. Ele é um cara feito de tudo o que me assusta.
Ele vai me machucar.
Sei disso.
Mas, ao mesmo tempo, sei que ele é um cara que pode me ligar
em um segundo plano.
O que há de errado comigo?

****************************************************************

"Madison, há algo de errado com você”, Jacey suspira,


sacudindo a cabeça enquanto ela desliza em sua blusa de primavera.
"Sério. Sei que algumas meninas dariam seu ovário esquerdo para
sair com o Ethan Eldridge e você está parada aqui reclamando que
ele não faz isso para você? Vamos recapitular, vamos? Ele é lindo, ele
é um médico e eu mencionei que ele é um maldito médico lindo?”
Reviro os olhos, enquanto tiro uma túnica cor de rosa e
examino. Ficaria perfeito com a minha calça jeans skinny cinza.
Então, eu a amarro sobre meu braço.
"Ele é um médico residente e é bom para o futuro. Mas eu só o
conheço por muito tempo. Quero as borboletas... Aquele sentimento
oscilante que começa quando você encontra alguém incrível. E, além
disso, por que você está na equipe de Ethan com tanta ênfase agora?
Achei que você queria que eu saísse com seu irmão.”
Fico olhando incisivamente para ela e ela nem sequer tem a
graça de me olhar envergonhada.
Ela simplesmente olhou para mim. "Porque ele foi meio rude
ontem, não é exatamente uma grande primeira impressão. Só achei
que você não gostaria de dar a ele uma chance.”
Na verdade, Gabe fez um inferno de uma primeira impressão.
Sorrio quando penso nele fora do clube naquela noite. Ele estava tão
arrogante e sexy no beco atrás do clube, agarrando o meu pulso e me
puxando para ele. Meu coração acelera só de pensar nisso. Eu não
deveria gostar desta merda... Aquele alfa, ultraconfiante e bad boy de
merda. Mas eu gosto. Não consigo.
"Ele não fez uma má primeira impressão," eu digo para Jacey.
"A segunda impressão que foi um saco."
Jacey canta quando ela vê a expressão em meu rosto.
"Eu sabia! Eu sabia que você gostava dele. Maddy, eu prometo
a você: ele é perfeito para você. Basta dar-lhe outra chance. Por
faaavoooorrr! Será fácil para você também. Ele vai ficar aqui comigo
por um tempo por causa de Jared. Meu irmão mais velho. Gabriel
vai lutar minhas batalhas por mim." Jacey me passa uma blusa
camponês azul para experimentar. "Ele vai ficar comigo por pelo
menos um par de semanas. Tenho certeza que ele irá muito ao Hill
para comer. Ele realmente não sabe cozinhar.”
Olho para ela. "Você sabe que nós temos um serviço de
entrega. Ele não vai nem mesmo ter de vir aqui dentro. Podemos
entregar as refeições direito à sua porta.”
Jacey ri. "Problema. Você sabe que você quer vê-lo. Eu posso
dizer.”
Deus me ajude, eu quero. Mas nunca admitirei para ela.
Admitir a minha paixão, para ela, seria torná-la real. E não posso
torná-la real ou agir sobre ela, porque não é bom para mim. Em
tudo.
Então, ao invés disso apenas balancei minha cabeça.
"Não preciso vê-lo. E ele não está a fim de mim, de qualquer
maneira, por isso é tudo um ponto discutível.”
Isso é uma mentira, mas acho que poderia aquietar a Jacey.
Mas não.
Jacey olha para mim, ainda mais interessada agora.
"Você não acha que ele está na sua?" Seus olhos brilharam.
"Porque posso descobrir para você."
"Oh meu Deus," eu gemo. "Nós não estamos na quarta série.
Deixa isto para lá, Jace.”
"Tanto faz", murmura Jacey. "Mas se você mudar de ideia vou
dar-lhe o número dele e você pode ligar para ele você mesma."
Posso dizer que ela não tem certeza se eu estou dizendo a
verdade, ou não, sobre não querer ver seu irmão. E para ser honesta,
não estou certa também. Porque mesmo que saiba que não deveria,
me pego pensando nele o tempo todo. Penso sobre sua voz rouca no
meu ouvido e sua mão entre minhas pernas naquele táxi. Penso em
olhos escuros e como ele coloca a minha pele em chamas, mesmo
estando do outro lado da sala.
Mas, ainda dizendo que os meus pensamentos fugitivos é uma
coisa interessante.
Eu jamais recusaria o seu número. Está perfeitamente dobrado
e escondido dentro da minha bolsa, junto com a mensagem que o
acompanha.
** Precisamos terminar o que começamos. **
Capítulo Oito

Gabriel

À noite está tão escura que não posso nem mesmo ver minha
mão na frente do meu rosto. Eu gemo, tento me mover, então
desisto. Tento ouvir, tento ver, tento mover o resto do meu corpo...
Mas falho em todos os aspectos. As sombras se movem ao meu redor
e estou fraco demais para me importar. Não sinto nada e eu acho
que é estranho. Deveria estar com muita dor e por um segundo estou
em pânico por estar paralisado.
Acalmo quando percebo que estou provavelmente apenas em
estado de choque. Eu gemo novamente, tentando me levantar, mas
percebo que não está acontecendo.
E então sinto o cheiro.
Sangue.
Brand e Mad Dog estão lá fora e preciso ver se eles estão vivos.
O cheiro de sangue está forte na brisa, bem como o metal queimado,
assobios de gás e poeira. Foda-se. Leva-me um pouco, mas
finalmente consigo virar minha barriga e me arrasto pelos meus
cotovelos.
Definitivamente não estou paralisado. Foda, a dor chegou.
Minha cabeça está gritando, mas eu tenho que encontrar meus
amigos.
Cada centímetro doía. Me puxo pela poeira carnificina crivada.
Um pedaço torcido da nossa Humvee é apresentado no chão à minha
esquerda. Posso sentir o cheiro de borracha queimada quando vejo
um pneu queimando à minha direita.
E então, em meio à fumaça, eu vejo um rosto do lado da
estrada, sangrenta e lamacenta.
Meu coração martela enquanto tento como inferno para chegar
até ele, para ver se é Brand ou Mad Dog... Até eu chegar e descobrir
que não é nenhum dos dois.
Os olhos da moça estão amplamente abertos e sem vida.
Ela olha para mim, me culpando.
Lembro-me de tudo e as memórias batem em mim como um
trem de carga.
É tudo culpa minha.
A dor na minha cabeça se intensifica, como um milhão de
cacos de vidros e tudo escurece.
Acordei em um suor frio. Meus lençóis encharcados com meu
terror. Minha garganta seca.
Minto ainda por um minuto, sugando grossos sopros de ar
enquanto tento me esforçar para acalmar. O sonho é tão
fodidamente real. Porém, como se todas as lembranças daquela
noite estivessem permanentemente impressas em minha mente.
Que é claro que está. Nunca vou estar livre dela.
Pego um copo de água para acalmar minha garganta seca,
apenas para descobrir que eu não tenho um criado-mudo aqui.
Tinha esquecido.
Eu me puxo em uma posição sentada, correndo a mão pelo
meu cabelo, antes de sair da cama e fazer o meu caminho para a
cozinha no escuro. Ainda estou nervoso com a porra do meu sonho,
e até mesmo as sombras nesta cozinha escura, que me é familiar são
desconfortáveis. O relógio luminescente do micro-ondas me diz que
são cinco e meia da manhã. O sol deve estar chegando em breve.
Pego uma garrafa de água e sento em uma cadeira na mesa da
cozinha, olhando distraidamente para fora. O carro de Jacey não
está na garagem, o que significa que ela não voltou para casa na
noite passada. Isso é um fato que me irrita.
Sim, ela é adulta. Sim, normalmente ela podia ficar na casa do
namorado, sem problema. Mas merda. Estou aqui para que ela se
sinta segura. Se ela não se preocupa em voltar para casa, não há
sentido a minha presença aqui.
Bebo a água e depois bebo mais uma garrafa. Minha boca
ainda está seca quando termino. Os terrores noturnos sempre me
afetam de forma muito física... Dores de cabeça, suor e falta de ar. É
como se eu estivesse realmente de volta ao Afeganistão, realmente
revivendo aquela noite.
Atiro as garrafas para a reciclagem e vou ao banheiro. Eu sei
que não há nenhuma maneira de voltar a dormir agora. Abro a água
e estou esperando ela aquecer quando ouço a porta dos fundos abrir
silenciosamente.
Jacey.
Abro a porta do banheiro que dá para o corredor e encontro-a
rastejando tranquilamente através da cozinha. "Bem-vinda ao lar",
digo tristemente enquanto viro na luz. Ela pisca no brilho, então
sorri para mim.
"Hey, irmão mais velho", ela diz, enquanto tropeça em um
tapete. "Não queria te acordar."
Ela está obviamente bêbada.
"Você percebe que deverá estar no trabalho em poucas horas",
eu indico. Ela não parece preocupada.
"Vou ficar bem," ela insulta. "Não se preocupe com isso. Eu
sou uma menina grande. Qual é o seu problema?"
"Meu problema estaria perdido em você neste exato
momento", digo a ela. "Mas, acredite em mim, vamos falar sobre isso
mais tarde. Se você jamais dirigir bêbada para casa de novo, você
não vai precisar de Jared para maltratar você. Eu mesmo vou te dar
umas boas palmadas na bunda. Vá dormir. Falaremos quando você
estiver coerente."
"Tanto faz," ela murmura enquanto oscila no corredor.
"Mostra o quanto você sabe. Jared ainda está brincando comigo. Ele
está enviando mensagens de texto para mim a noite toda. Disse que
vai te ensinar uma lição." Ela arranca um de seus saltos, em seguida,
joga o outro no corredor em frustração.
"Não tropece no meu sapato", ela chama prestativamente por
cima do ombro.
Balancei minha cabeça enquanto a seguia, inclinando-se para
pegar o sapato descartado. Eu o lanço em seu quarto enquanto me
dirijo para o chuveiro, bufando o tempo todo sobre o idiota do ex-
namorado da minha irmã e sua irresponsabilidade. Se ele está
mandando mensagens de texto para ela a noite toda, por que diabos
ela não me ligou?
Mas não adianta tentar falar sobre isso com ela agora. Não vai
adiantar nada, por que ela não vai se lembrar da conversa de manhã.
Cerro os dentes e tento encontrar alguma coisa para me distrair.
Limpo as minhas botas, limpo o equipamento das bombas de insetos
para as aranhas no porão e limpo o meu carro.
Infelizmente, porém, quatro horas mais tarde eu me acho
incrivelmente inquieto. Jacey ainda está roncando em seu quarto,
embora eu saiba que ela vai ter que se levantar em breve, se ela
quiser chegar a tempo para trabalhar às onze.
Respondi alguns e-mails de trabalho, toquei base com Brand
no telefone e fui para uma corrida de trinta minutos na praia.
Felizmente, desta vez não esbarrei com aquele idiota que
estava com Madison à noite passada. Pela minha vida, eu não
consigo descobrir o que ela vê em alguém assim. Ela realmente
esteve ao lado dele quando ele reclamou comigo por ter deixado a
porra das calças molhadas.
Não há nenhuma razão lógica para que eu possa pensar que ela
prefere aquele cara a mim. Eu intencionalmente ignoro a única coisa
que pode ser... A única coisa que estou esperando como o inferno
que não seja. Ela pode ser totalmente desligada de mim por causa do
que ela viu aquela noite em Chicago. Ela pode ter visto muito e agora
acha que sou louco. Ou um animal.
Nenhuma dessas coisas é boa, mas o problema é que não faço
nenhuma ideia do que ela está pensando. Ela me quer. Posso dizer.
Mas ela está fria como o inferno também.
Balanço minha cabeça.
Vou ter que parar de tentar entender as mulheres, porque elas
não fazem porra de sentido nenhum. Definitivamente não vou
sentar-me aqui estufando sobre ele, mas não tenho nada a fazer.
Então faço a única coisa que faz sentido para mim.
Saio para encontrar uma academia. Levantar pesos sempre
queima energias inquietas. Além disso, não posso parar de malhar só
porque não sou mais do exército.
Não me leva muito tempo para encontrar o ginásio já que
Angel Bay só tem um. Isto, na verdade, não me surpreende em uma
cidade tão pequena. Na verdade, fico surpreso que ela tenha um no
geral.
Estou inscrito como membro e estou dirigido de volta para a
sala de peso dentro de poucos minutos. Este ginásio é uma escola
velha, nada extravagante. As paredes são brancas e cobertas com
cartazes inspiradores.

SEM LUTA, NÃO HÁ GANHO.


VOCÊ PERDE 100% DOS TIROS SE VOCÊ NÃO
ATIRA.
LIMPE SUA MENTE DE “NÃO PODE”.
A ÚNICA MANEIRA DE TERMINAR É COMEÇANDO.

Tudo verdade, tudo clichê.


Mas dane-se. Clichê ou não, este é o tipo de lugar que gosto.
Não há cafeteria, área de sala de estar ou meninas vestidas com
esmero. Este é um ginásio destinado a pessoas que realmente
querem treinar. Aqueles lugares elegantes da cidade me faz querer
perfurar um buraco na parede. Não vou para o ginásio para pegar
mulheres. Vou para treinar.
Faço cinquenta voltas com o peso de vinte quilos antes de
mudar para o outro braço. Enquanto eu expiro pela boca, de forma
lenta e uniformemente, noto o cunhado de Madison do outro lado da
sala no quadril do trenó. Ver alguém familiar não deveria me
surpreender uma vez que esta cidade é tão fodidamente pequena.
Não posso ir a lugar algum sem esbarrar em alguém.
Ele pega o meu olhar e depois de alguns minutos faz o seu
caminho até a mim, com uma mão suada.
"Sou Pax Tate. Minha esposa Mila se apresentou para você na
outra noite. Não sou tão social como ela é. Então, eu não interrompi
o seu jantar." A maneira como ele está sorrindo, esta claro que a
irmã de Madison tem esse cara comendo em sua mão.
Eu ri da memória. "Não foi um problema. Tenho a sensação de
que Angel Bay não recebe muitas pessoas novas. Ela estava curiosa.
E obrigado por me defender de Jared. Não tive a chance de dizer
qualquer coisa para você naquela noite."
Pax revira os olhos. "Mila pensou que você poderia precisar de
algum substituto. Eu tinha certeza que você tinha tudo sob controle.
E sim, ela é curiosa, mais sobre você e sua irmã, mas foda-se.
Mulheres." Ele revira os olhos novamente. "Poderia usar um
observador para o banco. Você tem um segundo?"
"Claro." Levanto-me e sigo-o até o banco, esperando até que
ele esteja situado nas suas costas antes de levantar a barra Laden de
trezentas libras fora dos degraus e entregar para ele. "Porque é que
Mila está fascinada com Madison e eu?" Pergunto enquanto conto
seus representantes. Ele é forte e em forma. Ele faz quinze sem
nenhum problema, antes de colocar a barra de volta no lugar.
"Porque Maddy não namora. Você é a primeira pessoa que ela
demonstrou qualquer interesse em um bom tempo. E confiem em
mim, Mila está fascinada com isso."
"Por mostrar interesse! Quer dizer que ela absolutamente se
recusou a sequer olhar para mim outro dia no restaurante? Até que
ela reclamou por eu ter sido muito duro com Jared, é isto."
Pax olha para mim enquanto nós trocamos de lugar e ele me
dá a barra. Enquanto equilibro o peso do banco, explico como nos
conhecemos e como ela definitivamente não queria que ninguém
ouvisse sobre isso no Hill, especialmente sua irmã. Ele irrompe
rindo. "Isso soa como Madison. Ela não iria gostar de dar a Mila
qualquer munição. Ela estava com raiva que você se atreveu a
aparecer em seu restaurante ou o quê?”
Aceno, ligando a barra aos degraus de novo. Em seguida, faço
uma pausa para recuperar o fôlego.
"Aparentemente."
"Madison típica," Pax ri. "Mas no fundo, ela é doce, uma vez
que você passa pelo seu lado bruxa de ser. Ouvi dizer que ela brigou
com você por causa da coisa com Jared. Provavelmente não deveria
dizer nada, mas ela tem andado com essa merda. Por isso, não tome
isso para o lado pessoal. O pai de Mila e Madison costumava bater
na sua mãe de modo que ela tem uma coisa sobre qualquer tipo de
violência."
Fico olhando para ele por um minuto, pensando de volta na
outra noite no Hill quando ela disse para Jacey que seu pai tinha um
temperamento como o de Jared.
"Merda," murmuro em voz alta. "Sério?"
Pax concorda. "Sério".
Penso em Madison, em como ela está tão confiante e forte. Eu
não posso imaginá-la envolvida em um relacionamento abusivo de
qualquer espécie.
"Será que o pai delas batia nelas, ou apenas em sua mãe?"
Pax balança a cabeça enquanto nós trocamos de lugar para que
ele pudesse fazer o seu segundo set. "Ele nunca colocou uma mão na
Mila. Mas não posso dizer com certeza sobre Maddy. Não é
exatamente algo que ela se sente a vontade para falar".
Pax para de falar enquanto ele está sem ar nas bancadas. Eu
deixei essa conversa ir. Não é da minha conta e posso ver que ele não
fica tão confortável falando sobre isso de qualquer maneira.
Quando trocamos de lugar para o meu segundo set, Pax muda
de assunto.
"Então, você ficará nos arredores por um tempo? O que você
faz?"
Explico a minha situação, por que estou aqui e a nova empresa
que sou sócio-proprietário. Pax parece particularmente interessado
na DefenseTech.
"Armadura avançada? Isso é foda... Faz-me pensar no Batman.
Você sabe, a empresa da minha família está procurando diversificar
e investir em algo novo. Isto honestamente soa como algo que
poderia estar interessado. Tenho uma agenda apertada esta semana,
mas vamos nos ligar e falar na próxima semana."
Estou surpreso que uma oportunidade como esta iria cair no
meu colo, mas eu tentei não agir como tal. Quando eu contar para
Brand, ele vai pirar. Mantenho o meu rosto calmo. "Claro , isso
parece ótimo. Vou te dar uma ligada no final de semana para
combinar."
Pax concorda. "Lembre-me de dar-lhe o meu cartão antes de
ir."
Nós trocamos de lugar e faço o meu segundo set.
"O que exatamente estava acontecendo na outra noite com
Jared? Me esqueci de perguntar. Ele é um idiota na verdade."
"Concordo", digo a ele. "Aparentemente, ele tem dado a minha
irmã um momento difícil, porque ela terminou com ele. Depois da
outra noite, percebi que eu o assustei para deixá-la sozinha. Mas
Jacey me disse esta manhã que ele estava assediando ela toda a noite
passada.”
Pax pensa sobre isso por um minuto, quase hesitante.
“Ele é provavelmente muito estúpido para ter medo, para ser
honesto. Ele tem mais atitude do que cérebro. Eu sei disto por um
fato. Pisei-o no chão quando ele foi atrás de Mila, mas ele não ficou
por baixo. Acho que é o seu orgulho, para ser honesto. Se alguém
ataca seu orgulho, ele fica louco. E em seus olhos, sua irmã atacou o
seu orgulho por terminar com ele. E então, você o envergonha no
Hill."
Concordo com a cabeça. Tenho certeza de que ele está certo.
Pax continua. "Então, com toda honestidade, você pode querer
vigiá-lo. Ele é um idiota desequilibrado. Mas ele é um idiota
desequilibrado previsível. Ele vai para o Bear’s Den no centro da
cidade todos os dias para almoço e, em seguida, ele fica lá fora,
praticamente todas as noites. Não suponho que você está com
temperamento para um hambúrguer, está?"
Eu fico olhando para ele com surpresa no abrupto mudar de
assunto. "Uh, acho que poderia sempre comer um hambúrguer."
Pax sorri. "Bom. Porque o Bear’s Den faz os melhores
hambúrgueres da cidade."
Sorrio de volta, entregando a barra para ele. "Oh. Nesse caso,
estou morrendo de fome."
Nós tomamos uma ducha e enquanto estamos nos vestindo, eu
digo: "Então, ouvi dizer que você quebrou a mão de Jared naquela
noite."
Pax sorri. "Deveria ter quebrado as duas", ele diz, puxando
uma camiseta cinza para baixo sobre seu dorso musculoso. "Aquele
maricas precisa seriamente aprender uma lição."
"Concordo," digo a ele, enquanto pego minha bolsa. Eu o sigo
até seu carro, um Dodge Charger 1968 preto como novo. "Carro
fofo," digo para ele em apreciação. "Tenho um Camaro novo, mas eu
te digo, sempre amei esses clássicos."
Pax olha para cima e sorri com orgulho. "Obrigado. Eu o tenho
por anos. Ele precisa de um monte de manutenção e quebra mais
frequentemente do que ele roda, mas eu amo essa porra desses
tubos. Entre. Eu vou dirigir."
O Bear’s Den está quase perto o suficiente para ir a pé, mas é
um inferno muito mais divertido no Charger. Pax faz o motor entrar
em rotação enquanto dirigimos para o centro da cidade, virando as
cabeças das pessoas na calçada. Ele nem sequer olha para eles
enquanto puxa para um estacionamento no local e nos dirigimos na
barra escurecida. Olho em volta, mas não detecto alguém vagamente
familiar.
"Ele não está aqui ainda", confirma Pax. "Mas vamos pedir a
nossa comida e esperar. Confie em mim, ele estará aqui. Aquele
perdedor praticamente vive aqui." Nós pedimos hambúrguer,
cerveja e sentamos em um banco na cabine. Assisto a porta
enquanto nós conversamos. Pax me faz perguntas sobre como é ser
um soldado e respondo da melhor forma possível.
"Era algo que eu sempre soube que queria fazer", digo para ele.
"Do tempo que eu era criança".
"Então, por que você se aposentou tão jovem?" Pax pergunta
curiosamente.
É uma questão que eu deveria me acostumar por que todo
mundo pergunta isso. Deveria ter uma resposta pronta, mas eu não
tenho. Então, cada vez que alguém pergunta, bate no meu estômago
e eu penso por um segundo, tentando decidir o que dizer.
"As pessoas não percebem como realmente é lá", digo para ele.
"É muito brutal. Posso lidar com o brutal, mas uma noite, a merda
ficou muito real e um bom amigo morreu no processo. Brand e eu
saímos vivo, mas totalmente fodidos."
"Cara". Pax me olha sério e um pouco desconfortável. "Sinto
muito. Não sabia. Respeito o inferno do que você fez como um
soldado. Sei que você provavelmente não quer falar sobre isso e
Deus sabe que eu odeio falar sobre a merda, mas eu estou sempre
pronto para uma cerveja se você quiser uma."
Sorrio e dou um gole na minha cerveja. "Obrigado. Odeio falar
merda também. Quero dizer, o que diabos é o ponto? As pessoas não
podem entender quando elas não viveram algo parecido."
Pax olha para mim de novo, então olha para sua mão. Ele tem
uma cicatriz irregular em seu polegar na forma de um X e eu olho
para ela também, perguntando sobre o seu significado.
"Você ficaria surpreso com o que as pessoas entendem."
Ele toma outro gole de sua cerveja. Em seguida, olha para a
porta com satisfação.
"Olha quem acabou de entrar."
Olho para cima para encontrar Jared arrogante no bar. Suas
roupas estão suadas e sujas. É óbvio que ele está em seu horário de
almoço.
Ele ordena, em seguida, faz o seu caminho para o banheiro,
presumivelmente para se lavar. Pax gira sua cabeça nessa direção
quando ele se levanta.
"Vou assistir da porta", disse ele calmamente. "A menos que
você precise de mim?"
Rio. "Não, está tudo sob controle."
Sigo Pax para o banheiro. Quando chegamos lá, ele fica de lado
e me deixa passar.
O barman encontra o meu olhar por apenas um momento,
mas, em seguida, olha para o lado. Ele não vai interferir.
Um sentimento quase de euforia toma conta de mim enquanto
entro no banheiro e olho ao redor. A descarga de adrenalina
pulsante através de mim agora é bem-vinda. Não sentia assim desde
que deixei o Exército.
Espero pacientemente atrás dele, enquanto o idiota usa o
mictório e depois lava as mãos. Quando ele se vira na pia, enterro
meus dedos em seu pescoço e bato com força contra a cabine do
banheiro.
"Que porra é essa?" Ele consegue dizer, com o rosto
registrando surpresa. E medo. Bom, porque ele deveria ter medo de
mim.
Às suas palavras, aperto minha mão com mais força em sua
traqueia o suficiente para que ele não pudesse mais falar. Duro o
suficiente para que eu possa sentir os anéis de cartilagem em sua
traqueia. Ele luta para engolir contra as almofadas dos dedos e eu
sorrio.
"Pare de falar," digo a ele. "E ouve. Pensei que eu tinha falado
para deixar minha irmã em paz. Se você continuar assediando ela, eu
vou te foder. Se eu ver você rondando sua casa, estacionando na
nossa rua ou em qualquer lugar dentro de um raio de milhas dela, eu
vou rasgar sua coluna fora e alimentar você com ela, osso por osso.
Você deve ser muito estúpido para entender Inglês, porque eu já
disse uma vez. Esta é a segunda. Não vou dizer-lhe uma terceira vez.
Não gosto de idiotas. E especialmente não gosto de idiotas que
transam com a minha irmã."
Elevo meu joelho em seu estômago e ele grunhe seus olhos
atirando punhais em mim.
"Não estou brincando. Deixe-a em paz. Entendeu?”
Ele balança a cabeça e eu o deixo ir. Ele imediatamente esfrega
o seu pescoço e me olha de novo.
"Sua irmã é uma vagabunda mentirosa", ele rosna. "Não a vejo
desde a outra noite."
Sem perder o ritmo, bato seu rosto da pia. Enquanto eu o puxo
de volta pelo cabelo, sua boca jorra saliva vermelha e pegajosa.
"Você é um maldito idiota", ele grita, cuspindo um dente
sangrento.
Concordo com a cabeça. "Eu sei. Mas avisei o que aconteceria
se você chamasse minha irmã de vagabunda novamente. Deixe-a em
paz. Esta é a última vez que eu falo."
Eu me viro para sair e Jared investe em mim por trás.
Facilmente agarro o braço dele e o jogo sobre a minha cabeça e na
parede. Ele desliza para o chão, levantando enquanto me encara.
"Não brinque comigo de novo", digo a ele. "E não brinque com
Jacey."
"Vai se foder", ele resmunga, mas ignoro.
Saio e deixo-o no chão do banheiro.
Pax olha para mim. "Atendido?"
Concordo com a cabeça. "Por enquanto. Se ele tentar qualquer
outra coisa, vou foder ele de verdade. Ele pode ser um aluno de
aprendizado lento, mas ele tem que aprender algum dia."
Pax balança a cabeça. "Que idiota. Ele veio para cima de você?
Eu ouvi o estrondo."
"Sim. Por trás."
Pax balança a cabeça novamente.
"Caralho de buceta" resmunga. "Ele é um desperdício de
oxigênio." Ele se concentra em seu telefone, em seguida, olha para
mim. "Mila me mandou uma mensagem. Sua loja de arte é no final
da rua. Ela trancou as chaves em seu carro. Você se importa se nós
pararmos lá no caminho volta para o seu carro?"
"Claro que não", digo a ele. Nós lançamos algumas notas para
cobrir nossos almoços e caminhamos de volta para fora, para o sol. A
loja de Mila é literalmente cinquenta passos do Bear’s Den e seu
rosto se ilumina quando andamos e ela vê seu marido.
Ela está de pé sobre uma escada usando uma blusa pintada,
pendurando um quadro em um cabo de aço fino. Pax imediatamente
resmunga e vai em sua direção, segurando suas pernas para ampará-
la.
"Mila, pelo amor de Deus. Saia dessa escada. Você vai quebrar
seu pescoço.”
Ela apenas sorri e balança a cabeça enquanto desce, ignorando
a mão dele estendida. "Pax. Sério. Estou grávida, não estou doente
ou aleijada. Está tudo bem." Ela se vira para mim, rolando seus
olhos, bem-humorada. "Bem, bem. Gabriel. É tão bom vê-lo
novamente." Ela olha de Pax para mim com curiosidade. "Isso é
estranho. Por que vocês dois estão juntos?"
Pax sorri. "O quê? Sou tão desagradável que não posso ter
amigos?"
Mila ri. "Você não é desagradável. Você é superprotetor. E é
claro que você pode fazer amigos. Você é encantador. Você
simplesmente não percebe isto".
Ele balança as sobrancelhas. "Oh, eu percebo isto, baby."
Mila dá uma risadinha e vira para mim. "Obrigada rapazes, por
terem vindo destrancar o meu carro. Tenho cérebro de grávida. Sou
tão esquecida. Ninguém me disse que isso afetaria minha memória
também."
É a vez de Pax revirar os olhos.
"Baby, vamos encarar... Sua memória nunca foi boa. Você pode
culpar a azia, os gás, ganho de peso no bebê... Mas você realmente
não pode culpar a sua falta de memória no pobrezinho."
Mila cora e dá tapas em seu braço. "Pax, sério. Não tenho
gases. Sou uma flor delicada."
Ele revira os olhos novamente. "Tudo o que você disser
docinho. Você peida com o melhor no seu sono. Só estou dizendo."
"Oh meu Deus". Mila cora mais escuro. "Vou fingir que você
não disse isso na frente de alguém." Ela se vira para mim
novamente. "Basta ter em mente que estou grávida, Gabe. Faz coisas
horríveis para o corpo." Ela sorri encantadoramente. "O que o traz
de volta à Angel Bay? Pensei que você morava em Chicago." Decido
que as pessoas de cidades pequenas não têm vergonha alguma sobre
fazer perguntas intrometidas e que eu não deveria ficar incomodado.
Seria impossível ficar irritado com Mila Tate de qualquer maneira.
Ela é tão verdadeira quanto qualquer pessoa que eu já conheci.
"Não, estou aqui para ficar por um tempo. Jacey está tendo um
problema com um ex-namorado e estou aqui como seu segurança."
"Sim, querida. Jared Markson ainda está mexendo com eles,
mesmo depois daquela cena no Hill na outra noite. Contei para o
Gabriel como você não é fã do cara também", Pax diz enquanto
envolve um braço em torno de sua esposa. "E eu disse-lhe por que."
Mila levanta uma sobrancelha. "Então, você disse a ele que
você quebrou a mão de Jared?"
Pax sorri presunçosamente. "Sim. E como eu gostaria de ter
quebrado as duas."
"Isso poderia ter feito as coisas mais fáceis", respondo
ironicamente. "Mas foda-se. Vou cuidar disso. Ele vai desejar nunca
ter mexido com Jacey. Posso prometer isso a você."
"Bem, só tenha cuidado", Mila me adverte seu rosto
preocupado. "Ele costumava ser um cara bastante decente no ensino
médio. Mas ele tem um problema com álcool que faz com que ele
fique mau. Não vale a pena você se machucar ou ter problemas.
Confie em mim."
Sorrio para ela. "Não se preocupe. Não vou me machucar. E
não vou ser pego.”
Pax sorri para mim. "Isso é o que estou falando. Se precisar de
ajuda, me avise. Ainda estou guardando rancor."
Enquanto Mila nos pede para não se envolver pessoalmente
com Jared, para chamar a polícia em vez disso, os sinos sobre a
porta da loja soam e todos nós viramos para encontrar Madison
entrando. Ela está linda de morrer em uma saia fina que abraça seus
quadris e na altura do joelho botas Tan16.
Ela está quente e sexy. E surpresa como o inferno por ter me
encontrado aqui. Ela tem aquele olhar de cervo capturado nos faróis
e eu tenho que rir disto.
"Hey, Madison," não posso deixar de dizer. "É um grande
prazer em vê-la."
Estou insultando-a e ela sabe disso. Posso ver seu rosto
congelar e depois relaxar enquanto ela conscientemente faz um
esforço para esconder sua surpresa. É um esforço que me diverte.
"É tão bom vê-lo também", ela me diz enquanto passeia pela
loja para nós. "Você é um colecionador de artes? Ou um artista?
Minha irmã vende artes e materiais de arte. Então, de qualquer
forma, você está no lugar certo."
"Oh, estou apenas almoçando com Pax," digo para ela. "E Mila
travou as chaves em seu carro, por isso Pax veio para salvar o dia."
Madison olha para Mila. "Cérebro de grávida?"
Pax revira os olhos para mim. "É uma conspiração. Não há tal
coisa."
Rio com os protestos de Mila, mas ela abruptamente para e
cheira o ar.
"Algo cheira bem." Ela continua na direção da Madison.
Madison balança a cabeça e as mãos para Mila, uma sacola.
"Você seriamente tem um nariz de um Bloodhound17 agora. É sopa.
Tony disse para comer tudo isso ou ele vai vir aqui e vai tratar de
você. Ele disse que não importa se seu enjoo da manhã está de volta
ou não, você ainda tem que comer. E ele está certo.” Mila pega e olha
para mim. "Tony é o bartender no Hill. Ele está com a gente desde
sempre e ele é um pouco protetor comigo e com minha irmã."
"Você poderia dizer isso", diz Pax sob sua respiração. Para
mim, ele diz, "Ele ameaçou quebrar meus joelhos se eu maltratasse
Mila."

16
Bota de cano baixo.
17
É uma antiga raça de cão, popular devido ao seu apurado olfato e olhar meigo.
Sorrio porque Tony parece ser o meu tipo de cara "Sinto
muito", eu digo para Mila. "Tenho que respeitá-lo, apesar de tudo."
Mila revira os olhos. "Homens". Mas ela obedientemente pega
o recipiente de isopor com a sopa e cheira. "Comer isso vai ser uma
dificuldade tão grande." Ela sorri e pega algumas colheradas e põe
em sua boca. "Muito difícil".
Mila continua comendo enquanto Pax vai para fora para
destravar seu SUV. Enquanto ele faz, não posso deixar de olhar para
Madison discretamente.
Nunca vi uma mulher tão bonita pessoalmente antes. Ela
parece que saiu direito das páginas de uma revista. Não posso dizer
se ela sabe o quanto ela é linda. As maiorias das mulheres sabem e
usam para tirar vantagens. Mas Madison não parece jogar esta carta.
Ela parece confiar em sua personalidade espinhosa ao invés disso.
Infelizmente, ela percebe o meu olhar encoberto e o canto de
sua boca vira para cima.
"Vê algo que você gosta?", Ela pergunta em voz baixa. Sorrio
de volta.
"Estava apenas observando a diferença entre você e sua irmã.
Vocês não se parecem muito. Mila é pequena e escura, e você é alta e
pálida." Quando as bochechas de Madison coram, eu percebo que
poderia ter usado mais tato. Ela pode ser autoconsciente sobre o fato
de que ela é maior do que sua irmã. Mulheres são estranhas sobre
essas merdas. Mas, honestamente, ela é mais alta. Ela é graciosa,
como uma modelo. "Sem querer ofender", digo a ela. "Foi apenas
uma observação."
"Não me ofendi", ela mente. Sei que é uma mentira pela forma
como suas bochechas ainda estão manchadas de rosa. Na verdade, o
rubor se espalhou até o peito.
Sou salvo pelos sinos na porta, embora, Pax volta, jogando as
chaves de Mila para ela.
"Tudo concertado", ela diz. "Que bom que tenho uma chave
extra. Você está pronta para ir, cérebro de grávida."
Ela balança a cabeça, mas agradece a ele. "Há mais uma coisa
antes de ir", ela menciona. "Você pode mover algumas caixas para
mim dos fundos? Esse material chegou esta manhã."
Pax olha para ela com surpresa. "Bom Deus. Tem todas as
minhas palestras finalmente valido a pena? Obrigado por não ter
tentado movê-los você mesma, pela primeira vez."
Mila sorri suavemente. Mas, enquanto eles estão andando para
longe ela volta e faz bocas superprotetoras enquanto aponta de volta
para Pax. Madison sorri.
"Ele é superprotetor", ela me diz assim que os outros dois
desaparecem em um cômodo dos fundos. "Mas é doce. Nunca pensei
que gostaria do Pax quando eu o conheci. Ele parece ser uma pessoa
diferente. Ele teve uma espécie de infância de merda, mas vai ser um
ótimo pai. Falando nele, porém, não sabia que vocês eram amigos."
"Nos esbarramos no ginásio esta manhã. E então, tivemos uma
corridinha com Jared durante o almoço. Pax tinha a minhas costas
novamente, o que aprecio. Ele é um cara que me levanta", eu
respondo. "Deveria ter lhe perguntado se ele havia servido. Ele
parece ser esse tipo de cara."
Madison quase engasga. "Servido? Como um militar? Hum,
não. Pax costumava ser uma espécie de confuso. O militar não seria
algo que teria apelado para ele."
Eu olho para ela. "Confuso?"
Madison olha para mim, os olhos azuis muito escuros e
instantaneamente conturbados.
"Sim. Quando tinha sete anos, sua mãe foi morta em sua
frente. Bagunçou bastante a vida dele. Durante anos, ele não
conseguia sequer lembrar exatamente o que aconteceu. Assim dá
para imaginar o quanto foi ruim. Pensei que ele estava além der ser
salvo, mas Mila não desistiu. Ela vê o lado bom das pessoas melhor
do que eu. E ela estava certa. Pax passou por isso muito bem.
Eventualmente".
Olho para ela com horror. Sua própria mãe foi morta na frente
dele? Pensei que já tinha visto alguma merda.
"Droga", respondo. "Isso é terrível. Aquela cicatriz na mão...
Era parte disto?"
Madison concorda. "Sim." De repente, ela parece estar
desconfortável. "Sinto muito. Esta é uma história que ele tem para
contar. Não sinto que eu deveria falar sobre isso."
Concordo com a cabeça lentamente. "Isso é bom. Ele pode
compartilhá-la por ele mesmo em algum momento tomando uma
cerveja."
Madison realmente parece culpada enquanto enrola em uma
cadeira vermelha. "Ele pode. Se ele fizer, será bom para ele. Ele ficou
em aconselhamento ano passado quando todas as suas lembranças
vieram à tona. Mas creio que você pode falar coisas por fora. Quanto
mais, melhor." Tremo por causa disto, enquanto levo a cadeira para
o lado dela, porque discordo. Não vejo o ponto em falar merda. As
pessoas não podem consertar o que aconteceu com você.
"Vamos mudar de assunto", sugiro. "Como está o seu
namorado? Ele conseguiu limpar suas calças de merda?"
Ela olha para mim solenemente, mas o canto de seu lábio está
se contorcendo de novo, fazendo-me pensar o porquê. Ela está feliz
porque perguntei sobre esse cara? Este é um jogo de gato e rato?
"O que faz você pensar que Ethan é o meu namorado?" Ela
rebate uma pergunta com uma pergunta. Deflexão clássica.
Agora é o meu lábio que está se contraindo, mas não de
diversões. Eu odeio jogos.
"Bem, vocês dois pareciam bastante acolhedores na outra
noite. Eu me senti mal por correr direto no meio do seu encontro",
finalmente respondi.
Ela olha nos meus olhos e vejo a pergunta flagrante lá.
Você quer jogar?
Olho para trás com uma resposta.
Sim.
Madison se inclina para trás em sua cadeira, com os olhos
incisivamente no meu rosto, o ar carregado em torno de nós. A
atração entre nós é potente, mas estamos aqui falando sobre seu
encontro com outro cara.
Nós definitivamente estamos jogando agora. Só que agora não
tenho certeza de quem é o gato e quem é o rato.
"Oh, não me sinto mal", ela diz sem problemas. "Ethan e eu
somos velhos amigos. Não foi um incômodo. Até que você parou e
empurrou-o, não é?”
Ronco. "O bundão do seu namorado começou. E não encostei
um dedo nele. Se quisesse empurrá-lo, você ficaria sabendo."
Madison não reage a isso, seu rosto é uma máscara
inexpressiva perfeita.
"Você estava namorando Ethan quando nos encontramos no
clube?" Pergunto por curiosidade. Madison não parece ser o tipo que
engana, mas então que inferno eu sei? A minha formação é em
táticas militares. Sinceramente, não sei nada sobre o funcionamento
da mente feminina.
Ela cora novamente, provavelmente pensando naquela noite e
como ela estava tão disposta a ir para casa comigo. Pensando nisso
realmente faz com que o meu pau dê sinal de vida. Eu me mexo no
meu lugar, imaginando o gosto do seu mamilo que provei na minha
boca e como os lábios macios dela roçavam contra os meus. O
simples pensamento me faz ficar duro e eu mudo a minha mão de
modo que ela está cobrindo a minha virilha reveladora.
"Claro que não", responde rapidamente Madison. A mão
esguia vibra até empurrar o cabelo para trás da orelha. "Não faria
isso."
"Não penso assim", digo a ela. "Apenas pensei que deveria
perguntar."
"Por quê? Olhando melhor para os interesses de Ethan?" Ela
me pergunta bruscamente. Olho para baixo, para ela, meus olhos
congelados nos dela... Inabalável.
"Não... Nos meus... Você não está realmente na do Ethan. Você
está na minha."
Solto a minha mão agora, enquanto repousa suavemente sobre
a ponta de seu joelho, meus dedos mal pastoreiam sua coxa.
Tenho certeza de que ela me quer, embora eu não saiba
exatamente o porquê.
Estava lá na outra noite, mesmo quando ela estava com Ethan.
Está em seus olhos, na maneira como ela me encontra onde quer que
eu esteja. Está crepitando no ar, entre nós.
Ela me quer. E eu a quero.
Transar com ela seria como aproveitar a fúria de uma
tempestade de verão. E alguma parte estranha de mim quer fazê-la
se sentir como naquela primeira noite, para provar que não sou um
fracassado.
Há uma longa pausa antes de Madison explodir em muitos
risos. Não é exatamente a resposta que eu estava esperando. "Você
está muito seguro de si mesmo, não está?" ela responde.
"Sempre." Descarto suas palavras. "Mas você sabe que é
verdade. Você está na minha. Aliás, desde que me conheceu.
Seríamos capazes de chegar a algum lugar, se você tivesse apenas
admitido isso.”
"E que lugar, exatamente, que estamos tentando chegar?” Ela
ri novamente, mas há algo em seus olhos que me diz que estou certo.
Algo sobre o modo como ela vira seu corpo em direção a mim, na
forma como as mãos não podem ficar quieta quando ela está falando
comigo. Ela está ao redor de mim.
No entanto, ela ainda deixa a minha mão sobre sua coxa. O
calor dela irradia em minha mão e eu coço para movê-la para cima.
Mas não faço. Eu a deixo parada enquanto olho para seus
olhos. Quero que ela me peça por isso. Eventualmente, ela diria o
meu nome e me pediria para transar com ela.
Tudo isso faz parte do jogo.
Ela fica séria agora, voltando-se para me encarar em seu
assento.
"O que vou admitir é que, desde a primeira noite, tenho
curiosidade sobre alguma coisa."
"Oh", levanto uma sobrancelha, ignorando a minha ansiedade,
ignorando a forma como o meu coração começa a bater. É isso. Vou
ver o que ela sabe. O que ela viu. E a partir do instável olhar em seu
rosto, não foi bom.
Madison realmente parece nervosa, mas ela levanta o queixo e
me olha nos olhos de qualquer maneira.
"Estou louca tentando descobrir isso, porque tudo o que eu vi
de você desde então não corresponde. Você perdeu totalmente seu
equilíbrio de merda, Gabriel. O que aconteceu?”
Foda-se. Você perdeu totalmente a merda do seu equilíbrio,
Gabriel.
Arranco a minha mão e tento fingir que sou normal. Que não
era grande coisa. Suga uma merda do ar para fora de mim, porque
odeio que ela tenha visto. Faz-me sentir fraco. Isso é algo que não
sou. E é uma grande coisa.
Ela está esperando por uma resposta, seu olhar inabalável.
Você quer jogar? Sim ou não?
Balancei minha cabeça. Só gosto de jogar quando eu tenho a
outra mão.
Então, tento desviar, ser vago.
“É uma longa história. Vamos dizer que todo mundo tem seus
demônios, e eu ainda não mostrei quem é que manda aqui.”
Madison olha para mim por um momento e diz. Seu tom é suave
agora, quase simpático. Isso me faz estremecer. Não quero a porra
da simpatia dela.
Jesus.
"Bem, isso não é realmente a explicação que eu estava
esperando, mas tudo bem. Talvez um dia você vá me dizer. E se há
uma coisa que eu aprendi com Pax, é que todos têm demônios. Não
tenho nenhuma dúvida de que você pode chicotear os seus demônios
bundões."
Ela me dá um sorriso simpático e não aguento mais. Odeio que
ela pense que eu preciso da piedade dela. Então, eu faço o que faço
melhor. Eu desvio para ser um idiota.
"Estou contente que você está tão compreensiva". Digo a ela.
"Talvez você vá me dar uma segunda chance.” Ela levanta uma
sobrancelha fina.
"Uma segunda chance? Por quê?"
Sorrio. "Para mostrar o meu quarto."
Minhas palavras arrogantes não têm o efeito que eu pensava
que teria. Uma tensão sexual entre nós cresce como um fio vivo e
Madison ri novamente, uma risada verdadeira e sexy.
Inclinando-se para mim, ela coloca a mão na minha coxa,
movendo os dedos sempre assim ligeiramente para cima, enquanto
ela murmura em meu ouvido.
"Já vi o seu quarto. Como você acha que chegou em casa
naquela noite? "
Foda-se. Não posso respirar, eu olho para seus olhos azuis.
"Eu machuquei você?" Pergunto rapidamente, antes que eu
possa pensar sobre o que estou dizendo. Tudo o que posso pensar é
sobre o buraco que encontrei no meu corredor naquela manhã.
A cabeça de Maddy se encaixa, seus olhos azuis aumentando.
"Não, claro que não", ela responde surpresa. "Você estava
apenas fora de si. Você parecia ter um pouco de problema com sua
parede. Ela te ofendeu de alguma forma e você deu um soco nela.
Mas você não encostou um dedo em mim. Por quê?"
Relaxo, meus ombros voltam para onde eles deveriam estar.
Graças a Deus.
"Não quis dizer que o que pareceu". Tento cobrir. "Eu quis
dizer no táxi, quando eu caí em cima de você..." Minhas tentativas
desajeitadas são interrompidas pelo retorno de Mila e Pax.
Obrigado, Deus.
Madison sorri para sua irmã e quase imperceptivelmente se
afasta de mim.
O momento entre nós acabou, mas tenho mais perguntas do
que eu saiba o que fazer com elas. Será que ela me colocou pra
dormir? O que eu disse para ela? Esse tempo todo eu tentei fingir
que não importava. Tentei dizer a mim mesmo que não importa.
Mas importa.
O que eu fiz?
Não sei porra.
Ela olha para mim, a diversão em seus olhos. Ela gosta que eu
esteja intrigado. Ela gosta de pensar que tem tudo sob controle. Ela
gosta de jogar este jogo.
O que quer que seja que ela testemunhou naquela noite, ela
acha que dá a ela uma vantagem. Ela pensa que é o gato nesta
conversa.
Foda-se isso.
Dirijo-me a Pax. "Ei, cara. Você está quase pronto? Tenho um
encontro esta noite. Tenho que ir.”
Dirijo-me e sorrio para Madison, mas o olhar no seu rosto me
esvazia. Por apenas um segundo, antes dela se fechar novamente, ela
parece esmagada e odeio que eu tenha feito isso. Só queria voltar a
ter o controle novamente. Não tinha a intenção de realmente
machucá-la.
Antes que eu possa acrescentar que o meu encontro é com o
meu amigo Brand, Madison se levanta e vira as costas para mim em
demissão. Ela faz o esforço de perguntar Mila sobre uma obra de
arte na parede.
Suspiro enquanto sigo Pax para a porta.
Às vezes, ser o gato não é tão divertido quanto deveria ser.
Capítulo Nove

Madison

Oh, meu Deus. Que caralho.


Meus pensamentos se formaram em sincronia com meus pés,
enquanto ando na areia da praia. Rolei e virei a noite toda, por causa
desse babaca egoísta e aqui estou eu às sete horas da manhã. Isso é
tão diferente para mim. Não corro. Não sinto a necessidade de
queimar energia nervosa ou a frustração.
Eu não.
No entanto, aqui estou eu. Porque eu não posso tirar aquele
sorriso arrogante da minha cabeça ou a maneira como ele tão
casualmente me disse que eu estava com ele. Em seguida, virou-se e
disse que tinha um encontro. Como se me importasse com quem ele
namora ou quem ele fode.
E ele ficou tão surpreso que eu o acompanhei até a sua casa.
Como diabos ele pensa que chegou em casa? Será que ele realmente
não se lembrou de nada mesmo? Será por isso que ele não
mencionou antes? Se for esse o caso, o que diabos está havendo de
errado com ele?
Eu te machuquei?
Que coisa estranha de perguntar. Sua explicação apressada não
reteve a água, porque nós não tínhamos falado sobre o acidente do
táxi. Nós estávamos falando sobre eu estar em seu quarto.
Eu te machuquei?
Eu te machuquei?
Não consigo tirar a sua pergunta súbita e ansiosa da minha
cabeça.
Piso firme, enquanto ando. O ar crespo da primavera arranha
minha garganta enquanto forço meus pulmões, tentando respirar.
Mas, ao mesmo tempo apreciando o desconforto. Isso me distrai dos
sentimentos chateados correndo por mim. Odeio me sentir afetada
assim. Odeio que ele tenha me afetado assim.
Porque eu me importo com quem ele namora. E quem ele fode.
Eu não sei por que, tudo que eu sei é que eu me importo.
Effffff.
O sol está bonito nesta hora do dia e independentemente de eu
estar chateada, não posso deixar de apreciar. O lago está calmo esta
manhã, tranquilo e silencioso. Não há sequer uma brisa para agitar
as dunas acima de mim. É como se Deus estivesse me dando uma
pausa, deixando colocar meus pensamentos no lugar.
O problema é que meus pensamentos não fazem sentindo. Não
faz sentindo ser atraída por um cara que tem um ego maior do que o
estado de Michigan e que tem claramente duas toneladas de
bagagem pessoal. Minha voz interior me diz todo mundo tem
bagagem. Até você.
Que se dane isso. Minha bagagem não chega perto da dele.
Meus pais morreram. Fim da história. Bem, talvez eu tenha alguns
problemas de confiança por causa do relacionamento deles. Mas
quem não teria em meu lugar? Bem, talvez Mila. Mas isso é apenas
porque ela não viu o tanto eu vi. Eu a protegi disso.
Sério. Não é de admirar que eu seja uma negação em
relacionamentos.
Mas meus problemas não estão nem perto do nível dos de
Gabriel. Não sei exatamente com o que ele está lidando, mas é muito
pior do que qualquer coisa que conheço. Posso ver isso em seus
olhos. E claro que tem aquela pergunta. Machuquei você?
O meu telefone vibra, interrompendo meus pensamentos, e
alcanço o bolso do meu casaco, inclinando-me para respirar
enquanto eu leio.
** Tenho uma manhã livre. Quer tomar café da manhã?
Ethan.**
Sinto uma pontada de culpa. Eu ignorei alguns de seus textos
esta semana ou apenas mal respondi. Não posso continuar
ignorando-os, é rude e ele não merece isso. Pelo menos eu deveria
dizer a ele pessoalmente que não podemos nos encontrar. Ou talvez
eu esteja errada sobre a coisa toda. Talvez eu devesse tentar sair com
ele mais uma vez.
** Claro. Eu estou correndo, deixe-me trocar de roupa e
tomar um banho rápido. **
Respondo. Leva dois segundos para ele responder.
** Perfeito. Vou buscá-la em 30 min.**
Corro para casa e rapidamente tomo banho e me visto. Ethan
me pega em trinta minutos em ponto. Ele parece um modelo da
revista GQ esta manhã, vestindo shorts cáqui, uma camiseta e um
sorriso de cem watts.
"Bom dia linda", ele me cumprimenta quando abro a porta.
"Estava pensando que poderíamos ir para aquele pequeno café na
praia de Oval Cove. Parece bom?”
"Parece ótimo", admito ao pegar a minha bolsa. "Não vou lá há
muito tempo."
"Vou ter que parar e abastecer em primeiro lugar," diz Ethan
enquanto nós caminhamos para o carro. "Mas, depois, nós estamos
fora daqui.”
Tenho que sorrir. Sim, ele é baunilha. Ele é brando. Ele é até
mesmo chato. Mas eu o conheço. E ele me conhece. Há
definitivamente conforto em familiaridade.
E ele nunca utilizaria jogos idiotas que me machucaria de
propósito. Sei disso.
Talvez eu não devesse dispensá-lo tão rapidamente.
Conversamos enquanto Ethan dirige no caminho para um
posto de gasolina. Conversa mista, mas segura. Quantos bebês você
entregou esta semana? Quatro? É incrível. Ainda não posso
superar o fato de que você é um médico. Ele ri, eu rio e não há
absolutamente nenhuma química.
Mas não estou desistindo ainda.
Talvez pudéssemos ser um daqueles casais que passam a se
amar. E quem se preocupa com a química? Há pessoas lá fora em
casamentos arranjados. Eles têm isso muito pior do eu.
Enquanto Ethan puxa para o posto de gasolina, estou distraída
para saber se casamentos arranjados ainda são realmente uma coisa
que acontece.
E então sou traída pela minha bexiga, que é aparentemente tão
pequena como um amendoim. Usar um banheiro de posto de
gasolina é nojento, mas uma menina tem que fazer o que todas
fazem. Eu o acho surpreendentemente limpo, no entanto. Graças a
Deus. Ainda deixo minha bunda acima do vaso sanitário, recusando-
me a tocar o assento, apenas no caso.
Enquanto faço o meu caminho de volta para o carro, paro nas
portas, olhando através do vidro.
Jared Markson está na bomba ao lado do Ethan, enchendo seu
caminhão de trabalho. Ugh. Depois da outra noite, ele é a última
pessoa que quero ver.
Fico olhando para o conjunto de sua mandíbula de buldogue,
na maneira como ele parece sujo, mesmo antes da sua jornada de
trabalho começar. Balanço minha cabeça. Não posso imaginar o que
Jacey já viu naquele cara. Ele era um idiota mesmo antes do ensino
médio. Algumas coisas nunca mudam.
Com um suspiro eu olho para Ethan. Ignorando Jared, ele está
enchendo o BMW, falando ao telefone e olhando para o relógio.
Algumas coisas definitivamente não mudam.
Ethan é superficial e eficiente. Perfeito para um médico, mas
provavelmente não tem as melhores qualidades na cama.
Lembro-me de Gabriel deslizando os dedos em mim e em
seguida, lambendo-os. Puta merda. Minhas bochechas inflamam.
Onde é que isso veio?
Sacudo os pensamentos da minha cabeça e empurro para abrir
a porta, andando na direção do carro de Ethan. Mas, é claro que
Jared me ver e se vira. Seu lábio superior está dividido e ferido, mas
isso não impede seu olhar malicioso e sua exposição de seus dentes
manchados, mostrando um dos que estão faltando.
Bruto.
"Madison", ele me chama. "Você pode dizer a sua amiga puta
para parar de mentir sobre mim."
Mas que diabos? Não posso imaginar o que ele está falando,
mas eu preferiria morrer a perguntar. Continuo andando, tentando
ignorá-lo.
"Mad-dddyyy", ele chama ironicamente.
Ele dá um passo ao redor da ilha de concreto e me aborda.
Ethan olha agora, distraindo-o de seu telefonema pela voz alta de
Jared. Surpreendentemente, porém, ele permanece estável,
inclinando-se contra o seu carro e vê com curiosidade ao invés de
desligar o telefone.
Nossa. Obrigado pelo apoio, Ethan.
Com um suspiro me volto para Jared. "O quê?" Exijo. "Não
estou com disposição para você, Jared.”
"Eu disse que informe a sua amiga puta para parar de mentir
sobre mim". Jared enuncia cada palavra lentamente e em voz alta,
como se eu fosse burra. Eu o encaro enquanto começo a andar
novamente.
"Não sei o que você está falando e não me importo.”
O assobio de Jared interrompe os meus passos. "Jacey estava
certa sobre você, sabe. Você é uma cadela mimada. Você não tem
ideia de que o mundo real é assim. Você teve tudo entregue a você a
vida toda.”
Congelo raiva inundando através de mim até que minha visão
quase borra nos cantos dos meus olhos.
"Jacey nunca diria isso", agarro. "Porque ela sabe muito bem."
Jared da à volta em torno de mim e ficamos cara a cara,
invadindo meu espaço pessoal como um irritante cão mordedor de
tornozelo. "Mas ela fez. E ela estava certa."
"Você sabe melhor do que isso", digo-lhe friamente, sabendo
muito bem que ele está mentindo apenas para chegar sobre a minha
pele. "Se você considera ter os meus pais mortos em um acidente de
frente com um caminhão de dezoito rodas 'ter tudo entregue para
mim'? Ou será que eu tive algo a mão para mim quando tive que
voltar para casa de Nova Iorque e viver a minha vida ao lado de
fodidos inúteis como você?”
"Ninguém está fazendo você ficar aqui", Jared rosna. "E, na
verdade, gostaria mais que você saísse. Mas antes de ir, informe à
sua amiga vagabunda para redimir a besteira que fez. Se quisesse
transar com ela, eu faria. Até então, eu agradeceria se ela não
mentisse.”
"Não sou a sua mensageira", eu atiro. "E nenhuma de nós
estamos interessadas em qualquer coisa que você tem a dizer.”
Ele agarra meu braço e eu giro ao redor.
"Tire o caralho da sua mão de cima de mim."
Com o canto do meu olho, eu vejo Ethan dar um passo e depois
parar. Ele não está em seu telefone mais, mas ainda não vem me
ajudar. Jared sorri para mim, perto o suficiente para que eu possa
cheirar seu hálito matinal rançoso.
"Você vai me fazer o que, princesa?"
Abro a boca para responder, mas outra pessoa responde em
primeiro lugar, uma voz rouca e familiar.
"Ela não sei, mas eu ficaria feliz em fazer".
Sem sequer me virar, reconheço aquela voz profunda, o timbre
rico, o tom constante.
Gabriel.
Inconscientemente meu corpo relaxa com um pouco de alívio,
como se eu estivesse esperando que ele chegasse e nem sequer sabia
disso.
Expirei lentamente, voltando-me para encontrar Gabriel em pé
na calçada com dois pequenos cafés da manhã e burritos em sua
mão. A outra mão está flexionando enquanto ele oscila por sua coxa.
Ele está olhando para Jared com precisão inabalável.
Seu olhar é inegavelmente letal.
É assustador em sua intensidade.
"Pelo amor de Deus," Jared murmura sob sua respiração.
Olhando para Gabriel, ele diz, "Não há nenhum problema aqui, cara.
Estava apenas explicando isto para Madison.”
"Não, você não estava", respondo com firmeza, dando um
passo fora de seu alcance. "Você queria que eu levasse uma
mensagem para Jacey.”
"E qual é?" Gabriel levanta uma sobrancelha.
Jared não responde, então eu faço.
"Ele queria que eu dissesse a ela para parar de mentir. E ele a
chamou de vagabunda.”
Não poderia deixar de acrescentar esta última parte. Jared
merece e ele está obviamente com medo de Gabriel.
Gabriel calmamente deixa seu café da manhã em cima do teto
de seu carro e se aproxima de nós. Seu olhar não passou de Jared. É
como assistir a um leão e sua presa. É fascinante para testemunhar.
Dou um passo para trás.
Gabriel da um passo à frente.
Jared se vira.
"Foda-se", ele resmunga. "Aquela vadia não vale a pena.”
Ele vai em direção de seu caminhão e descasca para fora do
estacionamento.
Gabriel fica parado, observando-o ir. Depois ele se vira para
mim.
"Você está bem?", ele pergunta em voz baixa, seus olhos
escuros voando por cima de mim, verificando se há danos. Nego,
notando a maneira que Gabriel está vestindo roupas de ginástica, a
maneira como sua camiseta se apega a seu peito largo, a clonagem
de tecido sobre seu abdominal cinzelado. Engulo.
De repente, isto não parece ser mais um jogo. Gabriel está
sério e preocupado, forte e letal.
E eu o quero.
Eu o quero.
Eu o quero.
Engulo, deixando cair meu olhar antes que ele possa ver a
verdade.
"Estou bem. Jared é apenas um asno. Ele sempre teve um
problema de temperamento.”
"Maddy" Ethan chama, vindo para frente agora que ele está
seguro. "Você está bem?"
Não graças a você, penso totalmente decepcionada em tudo
sobre ele. Suas roupas ridículas, sua personalidade branda, sua
capacidade de ficar de lado e assistir Jared me assediar.
Odeio violência e eu odeio valentões, mas de pé para alguém
menor ou mais fraco é algo completamente diferente.
E Ethan não o fez.
Ressentimento brota em mim. Sério. Ele estava a dez metros
de distância. Ele poderia ter intensificado para ajudar, mas ele não o
fez. Que tipo de homem faz isso?
"Estou bem", suspiro, lutando contra o desejo de ser uma
cadela, lutando contra a vontade de dizer a ele o quanto ele é uma
buceta. "Gabriel ajudou.”
Dirijo-me abruptamente, bloqueando Ethan da minha vista.
Pode ser rude, mas estou chateada.
Tudo o que quero olhar agora é Gabriel. Quero deleitar-me
com o fato de que ele me defendeu. Ele entrou em cena quando ele
não precisava.
Ninguém nunca fez isso por mim antes.
"Obrigada", simplesmente digo a Gabe. "Você não precisava
fazer isso.”
"Não precisava?" Ele pergunta, em dúvida. "Não vou assistir a
algo assim sem interferir. Você estava se segurando como uma
campeã. Mas, uma vez que ele colocou as mãos em você foi game
over."
Concordo com a cabeça, de repente sentindo-me um pouco
engasgada.
Gabriel é noite e Ethan é dia. E, de repente vejo a beleza nisso.
Sim, Ethan é um médico, foi treinado para salvar vidas. Mas
ele não tem como característica se impor e ajudar. E mesmo que,
provavelmente, eu deva respeitar isso nele, desde que odeio a
violência, simplesmente não consigo. Preciso de alguém que ande
em uma linha reta, que não seja um valentão, violento, mas que
tenha a habilidade de invocar toda fúria para proteger quem precise.
Alguém como Gabriel.
Gabriel foi treinado para proteger as pessoas a todo o custo,
mesmo se o custo for sua própria vida. Ele não é um tirano violento.
Ele é um protetor.
Por alguma razão, mesmo que eu não tenha ter visto antes,
este conhecimento bate no meu peito e me fico pasma. A ideia de
precisar de um protetor me faz sentir fraca.
Mas a ideia de que eu só tinha um protetor me faz sentir forte.
Invencível.
Só saboreio o sentimento por um minuto antes de agitá-lo para
longe. Precisar de alguém assim te faz fraco. Você não pode contar
com outras pessoas para estar lá. Você só pode contar com si
mesmo.
Eu mesma.
Ethan entra na minha periferia de novo e eu mando meu
aborrecimento embora. Agora não é hora. Não sei por que nunca
pensei, nem por um minuto, que ele e eu poderíamos funcionar.
"Maddy, eu sinto muito", ele diz hesitante, olhando de Gabriel
para mim. Posso ver que ele está muito desconfortável ao lado de
Gabriel, mas ele não o enfrenta. "Tenho que ir. A paciente está
totalmente dilatada e pronta para dar a luz. Podemos ter uma
conversa rápida no café da manhã?”
Concordo com a cabeça rapidamente, quase aliviada. Quase
me sinto culpada por estar chateada que ele não me defendeu, mas
não estou. Ele ficou lá olhando, mesmo depois que desligou o
telefone. Ele poderia definitivamente ter feito alguma coisa.
Mas ele não fez.
Porque ele é um cú doce.
"Claro," digo a ele. "Não é um problema."
Fico parada, esperando ele para sair e ele olha para mim com
incerteza novamente.
"Maddy, sou sua carona."
Oh.
No calor do momento, eu tinha esquecido. E a proximidade
inebriante de Gabe não está ajudando também. Inalo o seu poder e a
sua força em cada respiração. É perturbador.
Coro e dou um passo para longe dele. Meu pé não parece
querer cumprir, mas eu forço.
"Certo", disse timidamente. "Eu vim com você."
Gabe sorri como se soubesse exatamente a razão da minha
distração. Como se pudesse ver a comparação que estou desenhando
entre ele e Ethan. Como se pode ver o quanto ele ganha esta
comparação.
"Posso levá-la", ele oferece. "Quero dizer, se o médico tem uma
emergência."
Ethan parece incerto por uma fração de segundo. Em seguida,
acena com a cabeça. "Isso seria ótimo. Realmente deveria ir.
Maddy?”
Ethan olha para mim, esperando que eu concorde. E não há
nada mais que eu possa fazer, a não ser parecer uma vadia total.
Mas a ideia de Gabe e eu... Sentados dentro do pequeno limite
de um carro. De novo. O simples pensamento quase me faz tremer,
porque tudo que posso fazer é pensar na última vez.
Quando Gabe lambeu os dedos.
O calor se espalha em minha calcinha.
Não posso me segurar.
O olhar escuro de Gabriel está sobre mim, potente e poderoso.
Juro por Deus que ele está lembrando também. Seu lábio realmente
contrai, tentando lutar contra um sorriso.
O homem pode me afetar, sem dizer uma palavra,
especialmente agora que eu decidi que estava errada sobre ele. Eu
estava tão, tão errada.
Ele é um protetor.
Isso torna ainda mais difícil de combater esta atração.
Você não precisa ser protegida mais, me lembro. Você está
crescida, forte e independente. Ninguém pode te machucar agora.
Mas isso não importa. Nada disso importa. Tudo o que importa é a
forma como Gabriel está me fazendo sentir agora.
Segura.
Meus dedos tremem. Assim eu aperto-os em punhos. Ele me
faz consciente de mim mesma, como se ele pudesse ver os meus
pensamentos.
Engulo em seco e tento agir indiferente, embora ele não me
afeta em tudo.
"Isso seria bom", finalmente consigo dizer. "Obrigada,
Gabriel."
"Eu te daria um passeio a qualquer hora", ele responde e olho
para ele bruscamente. Seu duplo sentido não passou despercebido.
Pelo menos não por mim. Ethan é alheio.
"Obrigado," Ethan diz para Gabriel de má vontade. Ele começa
a se afastar. Em seguida, me chama sobre seus ombros, "Te ligo em
breve, Maddy."
Nem sequer respondo.
Gabe olha para mim, há diversão em seus olhos escuros. "Que
diabos você vê nesse cara?"
"Eu... Er..." e não posso ajudar, mas me dissolvo em uma
risadinha.
A memória de Ethan observando enquanto Jared estufou o
peito como um galo, de repente me faz rir. Não estou mais com raiva
disso. É tão ridículo.
"Eu não sei", finalmente consigo dizer. "Ele tem sido um amigo
por um longo tempo. Ele provavelmente apenas estava com medo.
Lutar não é realmente sua praia.”
"Ele é um cú doce", Gabriel responde simplesmente. "O medo
é uma escolha."
Que coisa interessante para dizer. Tenho certeza de que para
ele, o medo é uma escolha. É como ele foi treinado. Ele é duro e
forte. Ele não tem medo de nada.
Exceto de uma coisa. A única coisa que o trouxe de joelhos,
naquela noite em Chicago.
Seu segredo.
Caminhamos até o carro dele e deslizo para o banco do
passageiro, clicando o cinto de segurança. Não sei o que há sobre
caras e vias quentes, e eu provavelmente nunca vou entender isso.
Enquanto Gabe puxa para fora do estacionamento, ele olha
para mim.
"Sinto muito sobre seus pais."
Merda.
"Você ouviu isso?" Pergunto, não olhando ele no olho. Odeio
falar sobre isso. Odeio a simpatia nos olhos das pessoas, enquanto
tento descobrir o que fazer com ela.
Ele balança a cabeça.
"Sim. Estava bem atrás de você." Mas então, ele abandona.
Não sei se ele não está apenas interessado o suficiente para
fazer perguntas ou se ele está desconfortável falando de coisas como
essa, mas de qualquer forma sou grata. Se eu nunca falar sobre meus
pais mortos de novo, isso seria bom para mim.
"O que Jared estava dizendo sobre minha irmã?" Gabe
pergunta enquanto ele se vira para a estrada principal. Balanço a
cabeça.
"Ele disse que ela estava mentindo sobre ele e queria que eu
dissesse para ela parar. Não tenho ideia do que ele estava falando.”
Gabriel parece pensativo. "Não sei também. Mas ele correu
como o bichano que ele é. Você sabe, ele pegou em você. Tenho
certeza de que o posto de gasolina provavelmente tem uma câmera
de vigilância. Você poderia prestar queixa, se você quiser. Ensine ao
merdinha uma lição."
"Posso", respondo. "Fico pensando que ele vai se cansar de
brincar com Jacey. Que ele simplesmente vai embora, mas ele não
foi até agora. Talvez realmente devêssemos chamar a polícia. Por
outro lado, eu realmente poderia irritá-lo e ele nunca vai parar.
Cresci com ele. Ele sempre vai ser um idiota.”
"Você não precisa ser intimidada por ele", Gabriel diz com
firmeza. "É por isso que estou aqui. Então, ele não pode empurrar
vocês por aí. Ele é um valentão da escola que precisa crescer. Mas
não o subestime."
Concordo com a cabeça lentamente. "Vamos mudar de
assunto. Estou farta de Jared por hoje."
Gabe finalmente sorri, um sorriso lento, que se espalha ao
longo de seus lábios.
"OK. Primeiro você pode me dizer que caminho tomar. Então,
você pode me dizer o motivo real por você brincar com o menino
médico.” Reviro os olhos.
"Pare. E eu lhe disse a real razão. Ele tem sido um amigo por
um longo tempo.”
Gabriel é o único revirando os olhos agora.
"Ele não acha que é apenas seu amigo", Gabe aponta enquanto
desce estrada. "Você deve colocá-lo fora de sua miséria.”
"E por que eu faria isso?" exijo. "Você não sabe o que vou
fazer.”
"Não", admite Gabriel. "Mas eu sei o que você quer. Você me
quer.”
"Oh, caramba. Será que estamos de volta a isso?” Balanço
minha cabeça, mas suas palavras causam uma onda de calor através
de mim. Eu o quero, idiota, arrogante e tudo.
"Jacey acha que você deveria sair comigo", Gabriel anuncia
virando para mim.
Eu coloquei minha mão na maçaneta do carro. "Você não quer
namorar comigo”, digo a ele. "Você quer me foder. Há uma grande
diferença."
Ele encolhe os ombros. "Tomate, tomate18".
A emoção dispara através de mim e eu não posso ajudar além
de sorrir quando abro a porta.
"Para ser honesta, eu raramente faço o que sua irmã sugere.
Ela é louca.”
"Sim, ela é", Gabriel concorda. "Sobre a maioria das coisas. O
veredito ainda está fora desta coisa particular.”
"Oh, sério?" Pergunto minha sobrancelha arqueada.
"Sim. Talvez devêssemos fazer uma pequena pesquisa. Você
sabe, só para ver. Vamos jantar no sábado à noite.”
E com isso, assim mesmo, o jogo está de volta.
Ele olha para mim, esperando eu aceitar.
Você quer jogar? Sim ou não?

18
É um termo usado para descrever alguém que é a negação da homossexualidade.
Ele, aparentemente, pensa que não há nenhuma maneira que
me faria declinar. Tenho que evitar olhar para seu corpo totalmente
definido. Tenho que colocar a imagem dele me protegendo para fora
da minha mente.
Porque há algo sobre ele que eu não sei.
Algo secreto.
Algo que o fez pirar, transformando esse protetor forte em um
cara violento, incoerente, que tem ataques de pânico e soca paredes.
E eu não tenho ideia do que possa ser essa coisa.
Balancei minha cabeça.
"Você é tão arrogante," eu digo a ele. "Tão arrogante. Eu teria
pensado que você estaria muito ocupado com suas outras aventuras.
Mas isso não vem ao caso. Não posso no sábado. Sinto muito.”
Não tenho plano, mas ele não precisa saber disso. Se ele pode
jogar seus encontros na minha cara, eu posso jogar os meus na dele.
Mesmo os meus sendo imaginários.
Gabriel parece realizado e atordoado. Em seguida, obscurece
seu rosto quando ele se lembra que me disse que teve um encontro
ontem à noite. Ele começa a dizer alguma coisa, mas eu o
interrompo enquanto giro e vou rumo a minha casa. A cada passo
que dou sinto seu olhar escuro me atingindo.
Eu ignoro.
Mas uma coisa eu não posso ignorar: tudo sobre aquele
homem faz meus joelhos ficarem fracos. Não posso ignorar o olhar
em seus olhos. Um olhar sombrio, escuro, que diz: não se preocupe.
Não, ninguém vai te machucar enquanto eu estiver à vista. Não
posso ignorar a forma como seu olhar coloca meu sangue em
chamas.
E eu não posso ignorar a coisa mais importante de tudo, a
pergunta que fica pesada no meu peito a todo tempo, mesmo que eu
já saiba.
Eu sei que ele tem um segredo que tem a capacidade de
transformá-lo em tudo o que tenho medo.
A questão é, são todas as coisas boas que sei sobre ele o
suficiente para me fazer ignorar isso?
Capítulo Dez

Madison

O trabalho parece particularmente monótono hoje. Fiz o


pedido da comida do mês que vem. Bebi quatro xícaras de café e
estou tão ligada na cafeína. Confirmo com Jacey e tenho certeza que
ela acordará no horário certo para vir trabalhar.
Ela criou um hábito recentemente de voltar da balada nas
primeiras horas da manhã e, em seguida, chegar atrasada no
trabalho. Isso foi uma coisa quando éramos adolescentes, mas não
somos mais crianças. É hora de crescer.
“Sim,” Jacey suspira pelo telefone. “Estou acordada. Tomei
banho. Estarei aí em breve. Você não precisa me verificar. E o que
você fez com o meu irmão essa manhã? Ele disse que te deu carona,
mas estava malvado pra caramba quando voltou para casa.”
“Nada. Só disse a ele que não poderia sair com ele no sábado.”
“Deus,” Jacey resmunga. “Por que vocês não podem
simplesmente ficarem logo? Você sabe que vocês querem e você será
mais feliz quando fizer isso.”
Estou começando a pensar que ela está certa, mas não digo
isso.
“Tanto faz. Terei o seu pagamento pronto quando você chegar
aqui.”
“OK. Estarei aí logo.”
Nós desligamos e eu fico olhando tristemente para os papéis
equilibrados precariamente em pilhas na minha mesa. Decido dar
uma pequena pausa e ando até a sala de jantar para esticar as
pernas. Quando entro, Tony chama por mim do bar.
“Ei Maddy. A sua irmã acabou de me ligar e queria saber se
você levaria para ela um pouco de sopa quando for para casa. Pax
está em Hartford essa semana e ela não está se sentindo tão bem
hoje. Ela não soou realmente bem. Talvez você deva levar para ela
agora.”
Estou instantaneamente preocupada. Mila não é daquelas que
se queixar nunca. Ela poderia estar no seu leito de morte e não iria
reclamar.
“É sério?” Pergunto a Tony enquanto me inclino sobre o bar.
“O que há de errado com ela, ela disse algo? É o enjoo matinal ou
algo mais?”
Ele balança a sua cabeça gigante. “Ela não disse. Ela apenas
disse que se sente mais doente do que o habitual e que vai ficar na
cama hoje.”
“Bem, inferno,” murmuro. “Isso não soa como ela. Espero que
ela não tenha pegado uma gripe. Se você preparar algo, irei levar
para ela agora.”
“Já está preparado,” Tony sorri me entregando uma enorme
sacola de entrega. “Há bolachas de água e sal aí dentro também. Elas
podem acalmar o estômago dela.”
Não é um problema levar comida para a minha irmã. A casa
dela fica apenas alguns minutos de distância, empoleirada na beira
dos penhascos, à beira do lago. Era de Pax antes deles se casarem e é
uma linda casa.
Bato na porta e, quando Milla finalmente atende a porta, estou
ainda mais preocupada. Seu rosto está com uma palidez
acinzentada, seus olhos normalmente brilhando estão sem graça e
ela ainda está usando a sua camisola.
“Mas que merda?” exclamo enquanto a acompanho para
dentro de casa. “O que há de errado com você? O seu enjoo matinal
piorou? Isso não é normal, não é? Já não deveria ter acabado?”
“Eu não sei,” ela geme. “Tive a pior dor de estômago ontem a
noite, então estive acordada a noite inteira. Eu mal dormi.”
Gentilmente a empurro para uma baqueta do bar e começo a
descarregar o seu almoço. “Quando que Pax saiu?”
Mila derruba a cabeça em cima dos seus braços cruzados.
“Ontem. Não diga a ele que estou doente ou ele virá direito para
casa. Ele tem reuniões com o avô dele essa semana.”
Olho para ela com incerteza. “Não sei Mi. Você parece bem
mal.”
“É exatamente por isso que não quero que ele venha para casa
Madison. Tenha um coração. É apenas um problema estomacal. Ele
não precisa estar aqui, escutando-me toda vez que estou no
banheiro. Sério. É vergonhoso.”
Suspiro. “Tudo bem. Não irei ligar para ele ainda. Mas você
tem que prometer que irá descansar. Há alguma outra coisa que eu
possa trazer para você?”
Ela balança a cabeça. “Não. Irei terminar de comer isso. Então,
me enrolar e dormir.”
“Irei sentar com você por um pouco.”
Mila força um sorriso. “Você é tão superprotetora quanto Pax.”
Nem me preocupo em responder, porque sei que ela está certa.
“Então, como está à vida?” ela pergunta baixinho entre as
mordidas. “Como foi o seu encontro com Ethan?”
Reviro os olhos. “Essa é provavelmente a última vez que
ouvirei o seu conselho sobre a minha vida amorosa. Foi seco,
tedioso, baunilha... Todas as coisas que Ethan é.”
“Awww. Pobre Ethan,” Mila responde com simpatia. “Não é
culpa dele.”
“Eu sei,” respondo com tristeza. E sei disso.
“Essa sopa é boa,” Mila diz, assoprando outra colherada
enquanto muda de assunto. “Você pode agradecer Tony por mim?”
Mila enfia outra colherada na boca e, enquanto faz isso, escuto
um zumbido silencioso do meu celular na minha bolsa. O puxo para
fora e fico assustada ao ver a mensagem de texto que ele exibe.
** É o Gabriel. Tenho que te contar uma coisa. **
A mera visão do seu nome no meu telefone faz minha pulsação
aumentar e fico encarando. Isso puxa a atenção de Mila e ela pausa,
me assistindo, interessada agora.
Eu respondo.
** Como conseguiu o meu número?
Vamos começar com isso. **
Sorrio e Mila levanta uma sobrancelha.
“Quem é?” ela pergunta curiosa.
“Ninguém,” digo a ela. Ela revira os olhos, mas retorna a sua
sopa, sua testa apoiada na mão.
Meu telefone vibra.
** De Jacey, obviamente. **
Respondo.
** Jacey fala demais. **
Demora um segundo para ele responder.
** Pra caralho, ela fala mesmo. **
Sinto-me um pouco sem ar enquanto digito
** O que você precisa me contar? **
Há um momento, e então uma nova mensagem chega.
** Meu encontro da noite passada foi com Brand. **
Uma quantidade de alívio inunda o meu corpo, enquanto leio
essas palavras a sensação é incrível. Sinto-me mais leve do que eu
tenho me sentido em dias. Mas não posso dizer isso a ele. Ao invés
disso, eu digo.
** Isso deveria me importar? **
A petulância de Gabriel não tem limites, porque ele responde
sem hesitar.
** Isso importa a você. **
Sorrio um pouco, porque importa mesmo. Mas antes que possa
responder, ele manda uma segunda mensagem.
** E é importante para mim que eu tenha te enganado sobre
isso. Sinto muito por isso. **
Pauso surpresa com as desculpas dele. Ele não parece o tipo de
pessoa que iria prontamente se desculpar. Ele é tão seguro de si, tão
dominante como o meu pai. E uma coisa que aprendi com o meu pai
é que pessoas como ele não se desculpam muitas vezes.
Mesmo assim, Gabriel fez isso.
Se eu me concentrar o suficiente, posso quase escutar a voz
rouca de Gabe dizendo as palavras. Isso envia calor através de mim e
vejo flashes dele na minha cabeça... Escoltando Jared para fora do
Hill, aparecendo quando Jared me agarrou no posto de gasolina.
Na verdade, meu pai era mais como Jared. E Gabriel não é
nada disso. É possível que eu tenha o julgado mal em todos os
níveis?
Talvez ele não seja nada como o meu pai em tudo.
Esse pensamento manda um nó pela minha garganta enquanto
respondo a mensagem dele.
** Está tudo bem. **
Não sei por que está tudo bem, só que, de repente, tudo está. E
então ele diz algo que manda meu coração até a minha garganta.
** Apenas para você saber, o próximo encontro que terei será
com você. **
Encaro as palavras, incapaz de deixar de sorrir, mesmo quando
meus dedos tremem. Mila me encara novamente, sua curiosidade é
aparente.
** Então você está me ameaçando agora? **
Respondo e tenho que rir um pouco.
Esse jogo com ele é o mais divertido que tive há um tempo.
Mila fica mais irritada com a minha falta de explicação e revira os
olhos, murmurando alguma coisa sobre quão teimosa eu sou. E
então a mensagem de resposta de Gabriel chega.
** Não, é uma promessa. **
Eu sei que estamos apenas zombando um do outro, mas essas
quatro palavras fazem as minhas pernas tremerem. Gabriel é tão
forte, tão assegurado. Tão seguro. Ele me faz sentir como se eu
pudesse depender dele. É um pensamento que eu sei que irá me
assustar depois, quando eu puder realmente pensar sobre isso.
** Bem, nós TEMOS algo que precisamos terminar. **
Digito rapidamente antes que eu possa me convencer do
contrário.
Uma excitação corre através de mim enquanto eu coloco meu
celular de volta a minha bolsa e viro para o olhar de espera de Mila.
“E isso foi?” Ela levanta uma sobrancelha.
“Gabriel,” suspiro. “O irmão de Jacey.”
“Ah, eu sei quem é o Gabriel,” Mila ri. “O que está
acontecendo?”
Então digo a ela só um pouco, como um encontro inteiro com
Ethan conseguia me deixar fria, mas um olhar apenas de Gabriel
conseguia deixar o meu sangue em chamas. Uma mensagem
estúpida conseguiu me deixar de joelhos moles.
Tão doente como Mila aparenta, ela ri novamente.
“Ai meu Deus. Você não tem ideia de quão feliz isso me deixa.
Não pareça tão miserável, Mad. Isso é maravilhoso!”
“Então porque isso parece tão assustador?” resmungo.
Mila concorda sabiamente. “Porque é assustador. Quando
estava com Pax eu estava aterrorizada. Quero dizer, ele estava tão
bagunçado, mas eu ainda o amava. Ele é quem estou destinada a
estar. E veja como tudo terminou. Veja quão felizes estamos agora.
Tudo valeu a pena. E sei que Gabriel tem alguma bagagem. Posso ver
isso nele. E tenho certeza que você pode ver isso nele. Mas qualquer
que sejam os problemas de Gabriel, tenho certeza que você pode
lidar com isso. E isso irá valer a pena.”
“Você acha?” Levanto uma sobrancelha e minha irmã concorda
novamente.
“Eu sei.”
“Nós iremos ver,” respondo firmemente. “Não quero acabar
enrolada na minha cama chorando quando ele perder a paciência
comigo muitas vezes. Eu nunca vou ser como mamãe, Mila.”
Mila olha para o lado, para a parede, para o chão. Sei que ela
não lembra tanto quanto eu sobre os problemas dos nossos pais. Se
mamãe estava chorando, eu levava Mila para brincar. Se mamãe e
papai estavam gritando, eu levava Mila para a praia. Ela não via o
tanto que eu, mesmo que ela soubesse o que acontecia.
“Eu sei,” ela finalmente responde numa pequena voz. “Papai
tinha alguns problemas com a raiva. Mas Gabriel não é papai. E você
não é mamãe. Confie em mim, você deveria dar uma chance ao
Gabriel. Minha intuição está me dizendo que ele será bom para
você.”
Olho para a minha irmã, para o seu rosto cansado, para os seus
braços magrelos.
“Sinto muito, mana. Fiquei sentada aqui te entediando com o
meu drama e você precisa descansar. Você realmente parece
horrível. Venha, vamos levá-la para a cama.”
Chego para ajudá-la a sair do seu banquinho, mas ela pausa
com um olhar estranho no seu rosto.
“Ow,” ela resmunga, sua mão caindo no seu abdômen,
pressionando firmemente. Fico assustada enquanto encaro o seu
rosto ferido.
“O que foi?” pergunto ansiosa.
“Eu não sei,” ela responde baixinho. “Estou com cólica.”
Ela está com cólica? Eu sento dura, congelada, enquanto ela
esfrega a sua barriga. Então, quando ela escorrega do banquinho, ela
permanece congelada, seus olhos arregalados.
“O que?” pergunto nervosa.
E então eu vejo. Gotas de sangue em um fluxo por uma das
suas pernas para o chão. Engasgo e seguro-a, puxando-a para a
cadeira, fazendo-a sentar.
“Você está bem?” Está com dor?”
Agito ao redor como uma louca, sem saber o que fazer. Mila
está mais calma do que eu, enquanto está sentada curvada na
cadeira.
“Vou colocar algumas roupas, então você pode me levar à
médica?”
Concordo com a cabeça, então corro pelas escadas, tomando
dois degraus por vez.
“Irei pegar as suas roupas,” falo por cima do meu ombro. “Você
fica aqui. Talvez devesse ligar para a sua médica.”
Posso ouvi-la falando no telefone enquanto vasculho pelas suas
gavetas e acho um par de calças de ioga e uma camiseta. Quando eu
volto correndo pelas escadas, ela está desligando o telefone. Seu
rosto está sombrio e pálido.
“O que eles disseram?” Pergunto ansiosa enquanto entrego a
ela as roupas.
“Eles disseram para eu ir diretamente lá.”
Mila inspira bruscamente e seguro ela. “Você está bem?”
“Não sei,” ela murmura enquanto coloca as roupas. “As cólicas
acabaram de piorar. De repente.”
Até mesmo eu sei que isso não devia estar acontecendo.
Mulheres grávidas não devem ter cólicas. E definitivamente não
deve ter sangue envolvido.
Estou além de apavorada agora e eu não sei o que fazer. Agora
eu sei como Pax se sente, porque se eu pudesse carregar Mila para o
carro, eu faria.
Pax.
“Deveria ligar para o Pax,” digo a ela rapidamente, aliviada.
Pax irá saber o que fazer.
Mas Mila imediatamente balança a cabeça.
“Pode não ser nada,” ela diz rapidamente. “Vamos esperar até
sabermos. Não quero preocupá-lo.”
Mas o seu rosto a entrega.
Ela está apavorada e acha que algo está realmente errado.
Engulo enquanto acomodo-a no banco do passageiro do meu carro.
Então, praticamente quebro os limites de velocidade para levá-la ao
médico. Engulo novamente enquanto a ajudo sair do carro e vejo o
sangue manchado no banco.
Merda.
Para crédito da médica, ela recebe Mila na hora sem ter que
esperar. Ajudo Mila a trocar as roupas por uma camisola de papel
horrível. Então, seguro a sua mão enquanto a médica faz o
ultrassom.
“Mmmmhmmm,” Dra. Hall medita enquanto corre a bola do
bastão de ultrassom sobre a barriga da minha irmã, pra frente e para
trás. “Mmmhmm.”
“O que é?” Mila pergunta ansiosa. Seus olhos verdes
arregalados e assustados. “Você vê alguma coisa? Há um batimento
cardíaco?”
A médica fala para ela. “Sim, há um batimento,” ela assegura.
“E é forte. O que estou vendo, apesar, é causa para preocupação.”
“Ah Deus,” Mila respira. “O que é?” Seus dedos agarram aos
meus, um pouco mais apertado.
A médica olha para a tela do computador e então aponta para
uma redonda, massa escura ao lado do feto. “Vê essa área bem aqui?
Essa área preta?” Mila e eu concordamos.
“Isso é chamado de hemorragia subcoriônica. Num português
básico, é uma piscina de sangue que está se formando entre a
placenta e a sua parede uterina. Às vezes é resultado de uma lesão
grave, mas não é frequentemente que isso acontece. Nós não
sabemos a causa.”
“O que isso significa?” Mila sussurra. “O bebê vai ficar bem?”
O rosto da médica está sério. “Isso significa que, se a piscina de
sangue continuar a crescer, poderá causar a sua placenta a deslocar
do útero. Algo que chamamos de descolamento prematuro da
placenta. Isso pode ser fatal para o seu bebê e arriscar a sua vida.”
“Ai meu Deus,” não pode impedir de engasgar. Ele sai antes
que eu posso pensar. Mila engole com dificuldade.
“O que podemos fazer sobre isso?”
“Bem, se fosse uma piscina pequena de sangue, eu não iria me
preocupar, mas já está bastante substancial. Nós precisamos mantê-
la estabilizada e prevenir de crescer. A melhor forma de fazer isso é
manter você deitada. Você exigirá repouso absoluto. Você só pode
levantar para ir ao banheiro. Sem sexo, sem caminhar, movimentos
limitados.”
A médica pausa, deixando isso ser absorvido.
“Qual é o prognóstico?” Consigo dizer.
“Boa pergunta. Eu diria que, pelo tamanho do sangramento de
Mila, ela tem 50-60% de chance de ter um parto prematuro. O real
risco com essa situação, apesar, é a hemorragia. Aconteceu tão de
repente que é difícil de controlar, o que torna mais perigoso. Então
Mila, irei interná-la no hospital pela noite, para que eu possa ter dar
alguns fluídos. Você está desidratada. E, depois disso, repouso
absoluto em casa e vamos torcer pelo melhor.”
Mila concorda, o choque aparente no seu rosto pálido.
Sinto sua mão ficar mais gelada enquanto ela aperta a minha.
“Não se preocupe,” digo a ela. “Vai dar tudo certo, Mila. Tudo
vai ficar bem.”
Olho para a médica, desafiando-a à dizer o contrário. É
irracional, eu sei. Não é culpa da Dra. Hall, no todo. Na verdade,
estou incomodada com ela. É da minha irmã que estamos falando e
ela precisa de reafirmação.
Depois que a médica sai, com as instruções para irmos direito
para o hospital, ajudo Mila a levantar e colocar as roupas. Olho para
o seu rosto.
“Quero dizer, Mila. Tudo vai ficar bem. Irei ligar para Pax logo
que tivermos acomodado você no hospital e sei que ele estará aqui
logo.”
Ela concorda agora, não discutindo. A sua aceitação a essa
situação rasga o meu coração. A minha irmãzinha tem sido a minha
responsabilidade por anos agora e sabe que eu não posso protegê-la
disso. É tão terrível de suportar.
“Tudo ficará bem,” insisto novamente enquanto a coloco no
meu carro. Ela apoia o seu rosto na janela do carro e não responde.
Engulo o nó na minha garganta enquanto ligo o carro e me dirijo ao
hospital. Isso não pode estar acontecendo. Mila e Pax quase
perderam um ao outro no ano passado. Eles não podem perder o seu
bebê também.
Quando chegamos ao hospital, uma enfermeira traz uma
cadeira de rodas e eles levam Mila para o quarto. Então, preencho a
sua papelada e ligo para Pax. Ele atende no segundo toque,
provavelmente preocupado quando vê o meu número. Nunca ligo
para ele quando ele está viajando.
“Madison?”
“Oi, Pax. Há um problema. Você precisa vir para casa.”
Rapidamente conto tudo e ele praticamente desliga na minha
cara, na pressa para fazer arranjos e voar para casa. Ele me manda
uma mensagem dez minutos depois.
** Eu vou pegar o jato da empresa. Estarei aí em três horas.
Diga a Mila que estou indo. **
O caroço na minha garganta se forma novamente, mas eu o
engulo enquanto subo as escadas para quarto de Mila. Quando
chego, encontro-a conectada a todos os tipos de fios e monitores e
ela tem um acesso enfiado no seu braço. Ela parece tão pequena em
meio a todos os tubos.
“Ei,” digo a ela baixinho enquanto entro. Seus grandes olhos
verdes me encaram.
“Ei. Obrigada por ligar para Pax,” ela me diz baixinho. “Ele me
mandou uma mensagem dizendo que está a caminho.”
“É claro que ele está,” digo a ela. “Ele não iria estar em
nenhum outro lugar do que aqui, posso dizer-lhe isso.”
“Eu sei,” Mila responde, fechando os olhos. “Estou tão
sonolenta. Vou tirar uma soneca enquanto espero, ok?”
Concordo com a cabeça. “Ok. Irei ficar sentada aqui até que
Pax chegue.”
Mila concorda com a cabeça sem abrir os olhos e eu seguro a
sua mão. Está bem fria. Então, empurro mais apertado as suas
cobertas e me acomodo na cadeira ao lado dela.
Observo ela dormir por um tempo, segurando a sua mão
firmemente. Sua respiração é rítmica, seu peito movendo lentamente
para cima e para baixo enquanto ela toma pequenas respirações
pacíficas. Ela parece calma durante o sono e fico feliz com isso. Ela
merece uma pausa da realidade agora.
Depois de um tempo, quando me sinto bastante segura de que
ela não vai acordar tão cedo, corro até a loja e pego algumas revistas.
No meu caminho de volta, enquanto espero o elevador, olho para o
lado e noto uma pequena família encolhidos juntos na sala de espera
do Pronto-Socorro. Um pai, uma mãe e um filho.
Eles estão sentados encolhidos juntos como se estivessem
enfrentando o mundo juntos, cada rosto coberto com lágrimas. Eu
os encaro por um minuto, incapaz de olhar para outro lugar, até que
a mãe olha para mim e encontra o meu olhar. Há tanta dor em seus
olhos que faz o meu coração doer. Algo horrível aconteceu com eles e
eu conheço essa sensação.
Espontaneamente, memórias do dia que meus pais morreram
voltam a mim, inundando-me, enquanto estou inerte na frente das
portas de aço do elevador.
A ligação de Mila, sua voz soluçante.
Eu, parada na cidade de Nova York enquanto meu mundo caía.
Voando para casa.
Escolhendo caixões.
Escolhendo as flores.
Hinos.
Versos.
A dor avassaladora se tornou tão difícil, tão difícil até mesmo
para engolir ou respirar.
A culpa.
A culpa.
A culpa.
Sabendo que eu odiava o meu pai por machucar a minha mãe,
mas ainda amá-lo mesmo assim.
Sentindo como se eu estivesse abandonando a minha mãe por
amá-lo, mas então, lembrar que ela também o amava.
Passionalmente e completamente.
É por isso que ela ficou.
Aquele dia, aquele único dia me mudou para sempre. Ensinou-
me que tudo que você ama, todo mundo que você ama, mesmo se
você amá-los e odiá-los ao mesmo tempo podem ser levados embora
em um momento e não há nada que você pode fazer para mudar
isso.
Isso me fez incapaz. Impotente. E eu odeio esse sentimento
com toda grama do meu ser.
“Senhorita?”
Uma voz hesitante invadi os meus pensamentos e olho para
cima, assustada, encontrando uma mulher segurando a porta do
elevador para mim.
“Você precisa subir?” ela pergunta com seus olhos gentis
voando para o meu rosto. Concordo com a cabeça, incapaz de falar
porque, de alguma maneira, o maldito caroço está de volta na minha
garganta. O mesmo caroço que estava lá quando enterramos os meus
pais.
Entro rapidamente no elevador, inclinando com a parede de
trás enquanto tento respirar fundo, para engolir.
Mila não irá morrer. Estou completamente exagerando. No
entanto, não posso parar os meus pés de praticamente voarem pelo
corredor para chegar até ela. Para me certificar de que ela está bem,
para ter certeza de que algo catastrófico não aconteceu com ela
enquanto eu estava fora.
Por que eu a abandonei. Eu a deixei quanto me mudei para
Nova York e eu a deixei agora.
Mas quando eu abro a porta, ela ainda está dormindo
pacificamente, enrolada no seu lado, sua mão em concha no seu
rosto.
Meu estômago se aperta. Não posso perder Mila. Ela passou
por tanta coisa para não ter um final feliz. E, se eu perder ela agora,
não sei o que será de mim.
Sei que isso tudo é verdade.
Caio na cadeira ao lado dela e derrubo as revistas no chão.
Estou contente em sentar aqui e cozinhar na minha preocupação.
Minutos viram horas e, antes que eu perceba, Pax irrompe no
quarto.
Olho para o relógio. É quase oito horas da noite. Ele está trinta
minutos adiantado. Não tenho nenhuma ideia de como ele
conseguiu chegar tão rápido, considerando que ele tinha dirigir do
aeroporto de Chicado até Angel Bay. Ele deve ter quebrado vários
limites de velocidade por conta própria.
“Como ela está?” ele pergunta preocupado enquanto puxa
uma cadeira do outro lado da cama. “Vim o mais rápido que eu
podia.” O seu rosto bonito está pálido enquanto ele observa sua
mulher por completo, pequena e pálida na cama. “Ai meu Deus. Não
posso acreditar nisso. O que a médica disse? O que causou isso?”
Explico o que a médica disse, e com cada palavra o rosto de
Pax fica mais pálido e pálido.
“Isso realmente pode ameaçar a vida dela?” ele finalmente
sussurra.
Concordo com a cabeça. “Se a placenta descolar da parede do
útero dela, sim. É por isso que ela deve ficar na cama. Quanto mais
ela ficar em pé, mais a força da gravidade vai afetar o peso do útero
dela e pode causar o deslocamento. Ela tem que ter repouso
absoluto.”
“Não se preocupe,” Pax diz firmemente. “Ela não irá se mover.
Não até o bebê nascer.”
“Vai ser um longo par de meses,” digo a ele. “Mas, entre nós,
nós temos que mantê-la parada.”
“Se nós tivermos que amarrá-la, nós iremos fazer isso,” ele diz.
Com as palavras dele, Mila abre os seus olhos.
“Isso não será necessário,” ela diz baixinho, sorrindo para o
seu marido. “Eu irei ficar na cama. E tudo vai ficar OK. Madison já
prometeu isso.”
“Oh, porque Madison tem controle nisso?” Pax sorri de volta a
mulher, se curvando para beijar a sua testa.
Meu estômago aperta novamente com a ternura óbvia de um
com o outro. É praticamente palpável. Nunca vi ninguém amar um
ao outro o tanto que eles se amam. Enquanto estou feliz por Mila,
isso faz com que eu me sinta muito sozinha.
“Você sabe que ela nunca deixa nada me machucar.” Ela
concorda com a cabeça, sorrindo. “Sério, eu tenho fé. Tudo vai ficar
bem.”
“Você está certa,” Pax concorda. “Você vai ficar bem. E o bebê
também irá.”
Eles se enrolam juntos com Pax metade na cama e metade na
cadeira, seus braços circulando Mila como se a protegesse do
mundo.
Pax é um protetor. Protetor da Mila.
É uma visão que causa o maldito caroço que imediatamente
volta na minha garganta. Por ambos serem emotivos e porque eu
gostaria de ter o que eles têm... Um puro e perfeito amor um pelo
outro.
E alguém que me proteja de tudo que possa me machucar.
Alguém como Gabe.
Ai meu Deus. Tenho que sair daqui antes que eu me
envergonhe.
Fico de pé e os dois olham para mim, suas bochechas rosadas e
quentes por estarem enrolados juntos.
“Estou indo para casa e tomar banho, já que Pax está aqui
agora. Quero lavar esse cheiro de hospital. Se vocês precisarem de
qualquer coisa, apenas me liguem. Irei para a sua casa amanhã para
te checar, Mi.” Eu me curvo e beijo a sua bochecha. “Eu te amo. Você
vai ficar bem.”
“Eu sei,” ela me diz confiante. “Eu te amo também.”
Ando pelo hospital rigidamente enquanto todas as minhas
emoções vêm pra cima de mim. O medo de que Mila possa perder o
seu bebê, a preocupação com a vida de Mila... E a solidão
avassaladora que me envolve agora.
Eu nem sequer percebi, até que cheguei ao meu carro, que as
lágrimas estão escorrendo pelo meu rosto.
Capítulo Onze

Madison

Minha casa nunca pareceu tão vazia ou quieta.


E eu nunca estive tão sozinha.
Jacey está me cobrindo no Hill, porque não havia jeito que eu
deixasse Mila ir trabalhar. Mas agora, enquanto me sento
completamente sozinha no meu pátio com uma garrafa de vinho,
queria que Jacey estivesse aqui comigo. Estou presa aqui sozinha,
com apenas meus medos como companhia. E eles são uma
companhia medonha.
Tomo um gole de vinho e olho para o céu, vendo as nuvens de
tempestade se aproximando, carregadas e escuras.
Olho para o meu copo de vinho e lembro-me de quando minha
mãe o comprou e eu decidi que precisava comprar meu próprio copo
de vidro.
Olhei para a areia atrás da casa, notando o caminho íngreme,
difícil e úmido. Olho de volta para o meu relógio e noto que apenas
se passou um minuto desde que olhei pela última vez.
Eu sou patética. Estou sentada aqui chafurdando os meus
medos, preocupações e infelicidade. Isso é ridículo. Não posso
continuar fazendo isso essa noite.
Assim que me levantei para encontrar alguma coisa para
manter a minha mente ocupada, a campainha tocou. Por uma fração
de segundo, pirei pensando que seriam más notícias de Mila. E
então, percebi que isso era uma estupidez. Se alguma coisa tivesse
acontecido, Pax teria ligado. Não mandado alguém.
Eu abri a porta e me assustei em encontrar Gabriel de pé na
minha frente.
Ele estava incrivelmente sexy com a sua inseparável camisa
confortável e eu de alguma forma, senti um alívio apenas olhando
para ele. Ele sorriu para mim, segurando a embalagem prateada do
meu batom.
“Você deixou isso no meu carro. Eu achei que tinha caído da
sua bolsa. Desde que essa não é a minha cor, pensei que eu deveria
devolvê-lo.”
Eu o alcancei e ele o colocou na minha mão. Quando ele fez
isso, o calor de sua mão transferiu para a minha. Esse era o toque
que eu estava pensando há dias: sua força, seu poder.
Ele sorriu para mim e eu tentei sorrir de volta, mas de repente
não podia.
Meu estômago se apertou e uma lágrima correu pela minha
bochecha.
Depois outra.
O rosto de Gabe ficou sério e seus olhos estavam velados
enquanto ele olhava para mim, me avaliando.
“Você está bem?” Gabe perguntou, preocupado enquanto
olhava para mim, como se seus olhos procurassem pelo que estava
errado. Ele deu um passo em minha direção, depois parou. “Você
está?” ele repetiu hesitantemente.
Eu fiquei mole na frente dele, uma carcaça vazia, mas eu
assenti.
“Sim. Talvez. Eu não sei. Você quer um copo de vinho? Eu
realmente não quero ficar sozinha.” Meus olhos queimavam, mas eu
consegui colocar as palavras para fora.
Gabe olhou para mim, seus olhos tempestuosos focados no
meu rosto.
“Claro,” ele finalmente respondeu. Ele nem ao menos disse que
preferia cerveja e eu sabia que ele preferia.
Ele pegou meu braço enquanto nós seguíamos da casa para a
varanda. Sua mão era gentil, forte e quente no meu cotovelo. Eu me
deleitei na sensação, no calor de seus dedos e odiei o frio quando ele
se afastou. Mas nós estávamos na varanda agora. Então, ele se
afastou, me olhando, hesitante.
Ele estava esperando.
Ele não sabia o que eu queria.
Estava chovendo agora, mas nenhum de nós notou isso. Eu
servi um copo de vinho e entreguei para ele com meus dedos
tremendo. Eu vi o líquido vermelho dançando pelas laterais do
vidro, deslizando como se estivesse em uma piscina. Na minha
cabeça eu vi o sangue vermelho correndo pelas pernas de Mila e eu
me encolhi, fechando meus olhos, tentando bloquear isso.
“Maddy,” ele disse incerto, sua voz profunda e rouca. “O que
houve? O que está errado?”
Eu abri meus olhos e me distraí com a forma da sua boca, com
a censura, com a forma de seus lábios firmes. Os lábios nos quais eu
pensei por dias. Os lábios que me lamberam de seus dedos.
Eu engoli. Então, levantei meus dedos e tracei seus lábios,
passando meus dedos pela maciez. Ele ficou parado, completamente
parado, enquanto esperava para ver o que eu iria fazer. Quando seus
olhos escuros encontraram os meus, eu decidi que nesse momento,
eu não me importava com quais eram os seus problemas.
Isso não era mais um jogo, se alguma vez já tivesse sido.
“Maddy,” ele murmurou baixinho, mas firme dessa vez, seus
olhos congelaram nos meus ainda que ele permanecesse parado.
“Me diz o que está errado com você.”
“Eu apenas tive um dia ruim. E preciso que você o torne bom
de novo.”
Ele olhou para mim chocado. Eu não poderia culpá-lo.
Os olhos de Gabriel se encheram de confusão enquanto ele
ficava me encarando, incerto sobre o que fazer. Então eu mostrei a
ele.
Elevando-me, pressionei meus lábios suavemente nos dele,
experimentando em um primeiro momento, aproveitando o sabor de
sal que tinha ali. Amando o jeito que seu peito era duro como pedra
sob meus dedos.
O beijo foi tão suave, tão gentil; mal estava ali.
Mas a intensidade por ter desejado isso por dias o fez mais
poderoso. Seus lábios acenderam um fogo que queimava pela minha
boca, pelo meu peito e incendiava entre as minhas pernas. Ele
tomou vida, queimando as chamas e lambendo o resto de mim.
Os braços fortes de Gabriel se fecharam automaticamente em
minha volta, enquanto eu aprofundava o beijo, sugando minha
língua desesperadamente, atando-a com a dele. Eu olhei para cima e
seus olhos escuros estavam abertos, olhando para os meus.
“Você tem certeza de que está bem?” ele perguntou contra os
meus lábios, quase desesperado. Eu assenti.
“Estou agora.”
Minha voz era um sussurro e ele gemeu, me beijando, me
colocando mais perto. Minhas mãos estavam em todos os lugares,
correndo pelo seu peito firme, sua cintura esculpida, seu traseiro
tonificado. Nossas bocas estavam quentes, molhadas e abertas.
Nossa respiração entrecortada. A fricção de sua pele quente contra
meus dedos era deliciosa e por um minuto eu me lembrei daquela
noite no táxi. Como seus olhos escuros queimaram por mim, como
ele lambeu seus dedos. Aquela simples lembrança fez meus joelhos
enfraquecerem novamente, da mesma forma que sempre acontecia
quando eu pensava nisso.
Segurei sua mão e a coloquei entre as minhas pernas, mas
minha calcinha estava no meio do caminho. Eu as tirei enquanto
tirava meu cabelo molhado do rosto e ele seguia para baixo,
arrancando minha calcinha do meu corpo... Nos livramos da
barreira que havia entre nós.
Ele ficou ali, com a minha calcinha pendendo de seus dedos.
Então, ele a jogou para o lado e ela caiu no chão molhado aos nossos
pés.
Estou latejando agora, enquanto o encaro, esperando que ele
me toque. O calor entre as minhas pernas é tão grande que mal
posso aguentar.
Cada terminação nervosa esperava por ele.
Eu segurei minha respiração.
A chuva caia.
E então ele me tocou. Seus dedos, tão grandes, deslizando
dentro de mim. De repente, eu me encontro balançando na palma de
sua mão, como se tudo em mim estivesse atado a ele. Esperando por
ele.
Era como se eu estivesse sempre esperando por ele.
Ele deslizou ainda mais fundo, tudo dentro de mim e ele
gemeu. Meus olhos tremularam e eu agarrei os deles; seus olhos
estavam vidrados e escuros enquanto seus cílios baixavam.
Corri meus dedos pelo seu cinto.
“Está tudo ok?” sussurrei. Minha pálpebra subiu para
encontrar o seu olhar, observando a chuva correr do seu rosto.
“Inferno, sim,” ele murmurou, guiando minha mão para suas
partes duras. Ele ficou tenso contra minha mão, pulsante e quente. A
necessidade dele correu por mim em todos os lugares, quente,
agitada e impaciente.
Sei que eu preciso dele para apagar o fogo.
Puxo seu short e o descarto para o lado. Não me importa que
estejamos do lado de fora. Nada importa agora além disso. Esse
calor, essa necessidade; esse borrão de cores e sentimentos. Essa
explosão de coisas que não posso controlar, nem ao menos nominar.
Segurando-o em minha mão, eu o deslizo facilmente pelos
meus dedos, molhados pela chuva. Ele é tão grande quanto eu me
lembrava, lustroso, quente e pulsante.
E ele está duro por mim.
Ele me quer.
Ele geme de novo, segurando meu rosto e me puxando para
ele, colando seus lábios nos meus. Duro e ao mesmo tempo suave.
Mordo o seu pescoço, deslizando meus dentes pela curva de
seu ombro. Estou doendo para ter ele dentro de mim agora mesmo,
mas sabendo que deveríamos esperar. Quero arrancar isso, para
prolongar a maravilhosa agonia de esperar por isso.
De esperar por ele.
Ele está nu na minha frente agora, alto e orgulhoso. Ele é
bonito pra caralho.
À nossa volta o céu está desabando e os trovões estrondando. A
eletricidade do céu colidindo com a nossa energia. É uma
combinação inebriante e eu caio de joelhos, o levando na minha
boca. Ele é enorme e duro. Eu movo meus lábios pelo seu
comprimento, o deixando deslizar pelos meus dentes e garganta.
“Porra Madison,” Gabriel gemeu, seus dedos enterrados nos
meus cabelos, ditando a velocidade. “Deus, isso é tão bom.”
Deslizo dentro e fora por mais alguns minutos, até que ele me
afasta, segurando a minha camisa, quase a rasgando. O calor furioso
de nossos corpos juntos está encharcado entre as minhas pernas.
“Eu quero você,” sussurro para ele. “Agora mesmo.”
“Eu quero saber por que você mudou de ideia,” Gabriel diz
asperamente, baixando sua cabeça para trilhar seus lábios pelo meu
pescoço. “Mas isso não importa agora. Quero estar dentro de você,
Madison. Finalmente vou foder você e você vai gostar.”
Ele puxa minha mão, acelerando em direção da casa, mas eu o
paro.
“Aqui,” eu digo simplesmente. “Bem aqui, na chuva. Quero
você agora mesmo.”
Gabriel olhou bruscamente para mim, mas ele não discutiu.
Ele simplesmente me levantou na larga mesa de pedra atrás de nós.
Estava fria e molhada, mas isso não importava.
Nada importava, além disso.
Seu corpo cobriu o meu, friccionando contra cada polegada
minha, fazendo cada terminação nervosa cantar para a vida. Ele está
em cima de mim agora, exatamente como eu o imaginei me
cobrindo, esperando para entrar em mim.
A realidade é ainda melhor que a minha imaginação.
Eu me agarro as suas costas enquanto ele desliza seus dedos
dentro de mim novamente, meus músculos flexionam enquanto ele
se move. Tudo a nossa volta deixa de importar; o vento, a chuva...
Isso tudo cai a nossa volta e tudo o que posso ver é ele.
“Deus, você está tão molhada,” ele sussurra na minha orelha.
“E apertada pra caralho.”
Ele me dedilhava tão suavemente e depois mais forte. Então,
ele retira seus dedos. Antes que eu possa reclamar da sua ausência,
eu ouço uma embalagem se rasgando e então, ele entra em mim,
duro e fundo.
Eu arfo e seguro firme enquanto ele investe em mim.
Preciso muito disso.
Preciso dele e eu nem ao menos tinha percebido isso.
Minhas pernas o envolvem, puxando-o para mim, o mais
próximo possível.
Sentimentos íntimos, estranhos e distantes, tentam me
sobrecarregar enquanto eu o aperto em mim. Enquanto eu absorvo
seu calor, sua vitalidade, sua essência.
Tudo sobre esse momento é exatamente o que preciso, mesmo
que não possa definir o que estou sentindo ou porque estou sentindo
isso. Toda a minha tristeza, todo o meu medo, todos os meus
sentimentos culminaram e explodiram nesse momento. Isso fez tudo
virar um borrão, fez tudo acontecer tão rápido. Só quero pegar,
pegar e pegar… Tudo o que ele quiser me dar.
Gabriel baixou a mão entre nós e, usando seu dedão, me levou
ao clímax um segundo depois.
“Deus, você é linda,” ele me disse irregularmente, ainda
investindo em mim, me preenchendo. Sua força crescia, enquanto
ele se movia contra mim, cada músculo se flexionando a cada
movimento. Ele puxou a minha perna para cima sobre o seu ombro,
aprofundando a penetração. Eu gritei, arranhando-o, segurando
firme; e então ele estremeceu com seu próprio orgasmo um minuto
depois.
Ele colapsou em cima de mim, me segurando perto enquanto
ele me cobria.
“Puta merda,” ele finalmente disse, depois de alguns minutos.
“Isso foi incrível.”
Meu peito quase doeu com o sentimento de realização que isso
causou. Me aproximei e resvalei meus dedos na mandíbula de Gabe,
pela barba por fazer que sempre está ali e que me deixa ligada.
“Foi,” eu concordei. “Exceto pela chuva. Não me importei com
isso uns minutos atrás. Mas, agora...” Minha voz foi falhando
enquanto meus dentes começaram a bater.
Gabriel se sentou e levantou, me colocando de pé. Ele me
entregou minhas roupas, depois se vestiu.
“Vamos,” ele me disse, segurando minha mão e me puxando
para a casa.
“O que estamos fazendo?” perguntei curiosamente.
“Tomar um banho quente. Aquela chuva estava fria pra
caralho.”
Nós cambaleamos até a porta e eu o guiei para o banheiro,
parando apenas para deixar a água ficar quente. Gabriel se virou
para mim e me colocou no chuveiro, e ensaboou suas mãos,
correndo-as pelas minhas costas.
“Você é tão linda,” ele sussurrou no meu ouvido. “Você não faz
ideia do quanto penso em você.”
Ele pensava? Aquele pensamento fez meu coração correr.
Gabriel caiu de joelhos e ensaboou suas mãos novamente, prestando
muita atenção às minhas coxas, depois à fenda atrás dos meus
joelhos. Quando suas mãos ensaboadas escorregaram para o cume
das minhas coxas, respirei com dificuldade e o vi sorrir.
“Você gosta disso?” ele perguntou com conhecimento. Ele
enxaguou suas mãos, depois deslizou um dedo dentro de mim. Eu
assenti e outro dedo entrou. Fechei meus olhos.
“Abra seus olhos, Maddy,” ele me disse. “Quero ver você
enquanto eu faço isso.”
A ideia de ficar tão vulnerável bem agora enquanto estou tão
exposta me deixava nervosa, mas Gabe não me deu tempo de pensar
nisso. Ele me empurrou para a saliência do chuveiro. Então,
enquanto eu assistia, ele desmontou o chuveirinho. Ele esvaziou o
cano, depois segurou o chuveirinho entre as minhas pernas.
“Mas... Que... Diabos...” murmurei maravilhada enquanto
ondas de prazer batiam em mim, me fazendo flutuar, me
empurrando para outro orgasmo.
Fechei meus olhos novamente, permitindo me entregar ao
prazer, para as boas sensações pecaminosas da água batendo no
ângulo certo. Estava autoconsciente e nervosa que Gabe estava me
observando, mas isso era tão bom que não pude fazer nada, a não ser
deixá-lo fazer isso. Se eu reclamasse, ele talvez parasse. E não tem
jeito de que eu quisesse isso.
“É isso, meu amor,” ele murmurou no meu pescoço. “Se deixe
ir. Relaxa.”
Então eu relaxei. Apenas me foquei nas ondas crescentes do
orgasmo. E justamente quando eu me agarrei às paredes do
banheiro, quase pronta para ir, Gabriel puxou o chuveirinho e o
substituiu pela língua.
“Caralho,” eu praticamente gritei, enquanto tremia contra ele.
Minhas pernas tão fracas com a força do meu orgasmo. Eu me
segurei firme em Gabriel para meus joelhos não falharam.
Seu rosto estava turvado, seus olhos levemente sem foco
enquanto ele me puxava e me virava. Eu o vi procurar sua carteira e
lá estava outro farfalhar. Então, sem outra palavra ele me penetrou
por trás, investindo cada vez mais forte.
Mesmo que eu já tivesse tido um orgasmo, as sensações
começaram a se formar novamente. Ele envolveu suas mãos e moveu
seus dedos também. Gemi. Minhas mãos escorregando na parede
molhada na minha frente, minha bochecha descansando contra a
parede.
“Sua bunda é incrível,” Gabriel sussurrou, seus lábios
descansando nos meus ombros. “Me diz o que você quer, Madison.
Me diz.”
Eu inspirei, depois expirei, prolongando o momento.
“Eu quero que você goze,” finalmente disse a ele, amando o
jeito que ele me preenchia. “Quero saber que você gosta disso.”
Ele gemeu enquanto ele investia de novo. “Oh, acredite em
mim. Estou amando isso pra caralho.”
“Então goza.” eu disse a ele. “Mostre-me o quanto você está
amando. Quero sentir.”
Ele moveu as mãos para o meu quadril, apertando firme ali,
seus dedos afundando na minha pele enquanto ele se movia.
Ritmicamente, ele se moveu comigo até que finalmente puxou uma
respiração e pulsou dentro de mim. Posso sentir o calor se
espalhando na camisinha e fecho meus olhos, aproveitando.
Nós ficamos daquele jeito com a água descendo em nós por
vários minutos, antes de Gabriel se levantar e nos ajeitar. Gabriel
olhou para mim.
“Queria um pouco de café. Posso ir fazer?”
Eu assenti. “Claro. A cozinha é… Bem, você sabe onde. Nós
entramos pela porta da cozinha.”
Gabriel seguiu para lá e eu me juntei a ele na cozinha, depois
que me vesti. Ele ainda estava sem camisa, manuseando a cozinha
com facilidade. O aroma de café coado já estava preenchendo o ar e
eu assisti enquanto Gabriel pegava duas xícaras, enchendo-as. Ele
tomou um gole de uma, depois adicionou açúcar e creme na outra,
simplesmente assumindo que eu preferia assim. E ele estava certo.
Aquele era exatamente o jeito que eu gostava. Ele posicionou a
xícara na minha frente e depois sentou à mesa.
O clima entre nós tinha clareado. A frenética tensão sexual já
tinha ido. A necessidade, entretanto, continua... Apenas está mais
tranquila agora, dissimulada. Esperando.
Gabe olhou para mim. “Você vai me dizer o que significa tudo
isso?”
Pensei na minha irmã, encolhida na sua cama de hospital.
Pensei sobre a possibilidade que eu poderia tê-la perdido. Pensei no
fato que sempre estou com medo e o único momento que não estava
com medo, que me lembrava, foi há uns minutos atrás quando eu
estava atada aos seus braços. Pensei em tudo isso. Como sempre,
meus olhos subiram de novo, contra a minha vontade. Eu odiava
chorar. E nunca fui uma chorona. Até hoje, aparentemente.
“Eu apenas tive um dia ruim,” tentei ficar sem chorar. Mas
minha garganta estava quente e apertada. Eu sabia que se eu
continuasse falando, ia perder.
“Aparentemente,” Gabriel respondeu seco, pensativo. “E eu
consegui deixá-lo melhor?”
Dei a ele um sorriso fraco e depois dei um gole no meu café.
Não respondi por que eu achei que ele já sabia.
“É descafeinado?” perguntei em vez disso.
Ele assentiu. “Sim. Não sabia se seria difícil para você dormir
com o outro.”
Isso era surpreendentemente atencioso, uma coisa dessas
apenas fazia minha garganta se fechar ainda mais.
“Obrigada,” proferi, antes de uma lágrima escapar.
Gabriel olhou para mim alarmado. “Madison, juro por Deus.
Apenas me diz o que está errado. Sério.”
Suspirei, olhei para as minhas mãos e depois lentamente olhei
para ele. Por onde eu começaria? Decidi começar com a única coisa
que eu poderia explicar com facilidade.
“Minha irmã pode perder o bebê.” As simples palavras eram
aterrorizantes e elas ficaram presas na minha garganta. “E se ela não
for cuidadosa, ela pode morrer também.”
“Jesus,” Gabriel murmurou.
Assenti tremendo. “Ela e Pax já têm passado por tanta coisa e
agora eles têm isso para lidar. Não é justo.”
Gabriel olhou para mim sério, seus olhos se suavizando.
“Sinto muito,” ele disse baixinho. “Não vou dizer a você toda
aquela besteira sobre a vida não ser justa. Tenho certeza que você já
sabe disso. O que vou dizer é que eu tenho certeza que a sua irmã vai
ficar bem. Ela é forte e eu sei que ela vai fazer qualquer coisa que o
médico mandar.”
Eu assenti. “Ela vai. É só que… Você não entende. Nossos pais
morreram quando eu estava na faculdade. Apenas me formei. De
repente, éramos só nós duas e foi tão difícil. Tive que crescer
depressa. Tive que ser a base da nossa pequena família. Tudo
sempre esteve bem porque eu fiz ficar... Mas eu não posso consertar
isso por ela. Não está nas minhas mãos e eu odeio isso.”
Minha visão turvou quando meus olhos se encheram com
lágrimas quentes e uma pingou no meu dedão. Gabriel avançou e
secou meu dedão antes de envolver minha mão com a sua. Ele é
grande e forte. Imaginei que isso se devia ao fato de ele ser um
soldado.
“Não tem problema chorar,” ele me disse. “Até mesmo os mais
fortes fazem isso.”
Eu vim a baixo com as suas palavras, com a suave expressão no
seu rosto endurecido. Abaixei minha cabeça na mesa e solucei
incontrolavelmente. Em algum momento Gabriel deu a volta na
mesa e se ajoelhou na minha frente, me colocando contra o seu
peito. Suas mãos fortes afagaram minhas costas e acariciaram os
meus braços. Chorei até não deixar mais nada.
Podia ouvi-lo falar comigo, dizendo que eu não podia consertar
tudo o tempo todo, que sou apenas uma pessoa como todo mundo.
Mas suas palavras nem sequer importaram.
Era a sua voz que me dava conforto. Sua voz calma, rouca e
suave. Gostaria de me enrolar nele e ficar daquele jeito para sempre.
Mas nem mesmo a sua voz pôde parar minha enxurrada de lágrimas
sem fim.
Não tenho certeza se eu estou chorando apenas pelo estado de
Mila ou se eu estou chorando por tudo o que aconteceu nos últimos
anos. Por tudo que eu nunca me permiti chorar. Até mesmo no
funeral dos nossos pais eu chorei apenas uma vez. Queria ser a forte,
aquela que Mila poderia se apoiar. Isso era tão bom para deixar
passar agora.
Eu me senti profundamente drenada quando finalmente olhei
para Gabe.
“Obrigada por me deixar chorar em você,” eu disse a ele
baixinho. Estava envergonhada, mas ele sorriu.
“Jacey me disse que às vezes uma mulher apenas precisa de
uma boa chorada.” Ele deu de ombros. “Agora, eu deveria também
admitir que ela chorava num piscar de olhos, dizendo se o café não
estava quente o bastante. Mas ainda assim, isso fazia sentido. Chorar
limpa. Você deveria tentar isso com mais frequência.”
Revirei os olhos, mas realmente me sentia muito mais limpa,
não que alguma vez fosse admitir isso. Sou uma pessoa forte. Eu
sempre fui orgulhosa dessa força. Não vou simplesmente ficar fraca
agora. Descansei meu rosto contra o peito de Gabriel de novo.
Encarei a parede, para as sombras que se moviam ali e soube
que eu não queria ficar sozinha essa noite. Não queria que Gabriel
fosse embora. Ele é tão forte e eu só quero absorver toda essa força,
para reabastecer a minha própria. O pensamento de ele me deixar
depois dessa bagunça emocional pela qual eu passei essa noite... Fez-
me ficar em pânico interiormente, lá no fundo em um lugar para o
qual eu nunca olhei.
“Sei que isso parece repentino e pegajoso,” murmurei contra a
sua pele quente, “mas você poderia ficar? Quero dormir ao seu lado
essa noite. Não quero ficar sozinha.”
Gabriel ficou tenso, seus músculos bombearam contra mim.
Ficar comigo é obviamente alguma coisa que ele não quer fazer.
Minha respiração ficou presa na minha garganta e calor subiu para
as minhas bochechas.
“Esquece,” eu disse rapidamente, me afastando dele. “Isso foi
besteira. Você não precisa ficar.”
Ele olhou para mim e afastou uma mecha de cabelo do meu
rosto. “Não é que eu não queira. É que... Tem umas merdas que você
não sabe sobre mim. Eu não posso ficar. Mas ficarei até você dormir.
O que você acha disso?”
Eu me encontrei assentindo quando meu orgulho na verdade
queria dizer a ele para apenas ir se ele não queria estar aqui. Mas
alguma coisa no seu rosto, alguma coisa vulnerável em seus olhos,
me fez realmente sentir o que ele estava falando. Ele não estava me
rejeitando. Era alguma coisa mais profunda que isso.
Tem umas merdas que você não sabe sobre mim.
Depois de desligarmos as luzes na cozinha e entrar nos
cobertores da minha cama, eu me virei e me aconcheguei no peito de
Gabriel, aproveitando o jeito que os seus braços me seguravam
perto. Eu podia ouvir as batidas do seu coração contra a minha
orelha e o som me acalmou.
“Me diz sobre as merdas que eu não sei,” disse baixinho.
“Porque eu gostaria de saber.”
Gabriel ficou quieto por um momento e quando eu pensei que
ele deveria estar tentando decidir como iria me contar, ele declinou.
“Maddy, eu não posso.”
Pude dizer que pelo seu tom firme que ele quis dizer isso. Ele
não vai falar sobre isso. Nem ao menos poderia ficar chateada sobre
isso porque eu também pude ouvir mais alguma coisa na sua voz...
Alguma coisa dolorida, alguma coisa cansada, alguma coisa
resignada. Alguma coisa que não tinha nada a ver comigo.
Alguma coisa secreta.
Isso me fez envolver meu braço mais forte ao seu lado,
puxando-o para perto.
“Se algum dia você quiser me dizer, você pode,” eu disse
baixinho. “Não vou julgar. Prometo que eu vou tentar nem ao menos
fazer perguntas de sondagem. Vou apenas ouvir.”
Sempre soube que ele tinha um segredo. Às vezes, isso tinha o
poder de fazê-lo cair de joelhos. Ele achava que isso era um segredo,
de qualquer forma. Mas eu vi. Eu sei como isso o afeta.
É a causa do segredo que me dá medo. Tenho medo de
qualquer coisa que pode dizimar uma pessoa como Gabriel.
Sinto seus lábios se movendo contra o meu cabelo.
“Obrigado, Maddy. Talvez algum dia.”
Mas não conte com isso.
Ele não disse isso, mas eu tenho certeza que ele estava
pensando isso. Poderia apostar qualquer quantia de dinheiro que ele
nunca planejou falar sobre isso, que ele vai manter tudo queimando
dentro dele por tanto tempo quanto ele puder. Sei que é perigoso.
Você não pode fazer isso com uma coisa tão grande. Se você fizer, vai
explodir. E depois o que vai acontecer? Se isso o afeta tão
violentamente quanto agora, o que vai acontecer quando explodir?
Fecho os meus olhos novamente. Eu não posso responder essa
pergunta. É tão importante e tão assustador, mas não tenho forças
para pensar sobre isso essa noite. Em vez disso eu o cheiro,
aproveitando sua essência masculina. Sei que nunca vou esquecer
seu cheiro; cheira como ar livre, como almíscar e cedro. Como tudo
forte e bom no mundo. É delicioso.
Mas eu não consigo dormir. Apesar de estar quente e protegida
com Gabriel, estou inquieta e sei por que. Porque sei que no instante
que eu pegar no sono, ele vai embora.
“Se você for embora, não vou conseguir dormir,” digo a ele.
“Então, acho que nós vamos apenas ficar deitados junto, ambos
acordados até de manhã.”
Ele riu de novo, me apertando mais. “De alguma forma,
Maddy, eu acho que você não é uma pessoa agradável para ficar
perto se você não dormir ao menos um pouco.”
Comecei a reclamar, mas eu não podia sequer negar.
“Ok, você tá certo,” eu resmunguei. “Eu sou uma vaca quando
não durmo.”
“Eu acho que sim,” Gabriel respondeu presunçosamente. “Mas
está tudo bem. Eu gosto da sua vaquice.”
Eu o soquei nas costelas e ele riu, enquanto me aconchegava de
volta na curva de seu braço. Fiquei quieta por um minuto, apenas
saboreando sua proximidade antes de sentir a necessidade de
compartilhar alguma coisa.
“Você não é a pessoa que eu pensei que você era.”
Gabriel se assustou e suas palavras foram baixinhas.
“E que tipo de pessoa eu sou?”
Minha resposta foi imediata. “Você é alguém que não vai me
machucar.”
Eu espero.
Gabriel ficou quieto por um momento, depois deixou escapar
uma respiração irregular. “Nunca vou te machucar de propósito,
Maddy. Você pensou que eu iria?”
Hesitei. “Eu, um, eu pensei que você fosse um tipo diferente de
pessoa. Pensei que você fosse um valentão e eu odeio muito os
valentões.”
Gabe não deixou isso passar. “Pax me contou um pouquinho
sobre seu pai. É por isso que você odeia tanto os valentões?”
Congelei, minha mão ficou parada no peito de Gabriel. Eu não
podia acreditar que Pax iria contar para alguém. Não estou com
raiva, apenas surpresa. Não é alguma coisa que algum de nós falava
sobre.
Tive uma breve visão do punho do meu pai atingindo o rosto
da minha mãe, gotas de sangue em seu vestido e eu forcei o gosto do
medo para fora da minha boca.
Até mesmo a memória do medo tem um gosto ruim.
“Eu acho,” finalmente respondi. “Eu amava meu pai. Mas ele
tinha um problema com a raiva.”
A pergunta de Gabe foi hesitante, mas de alguma forma suas
palavras foram fortes. Ele parecia puto, mas como se ele controlasse
isso. “Ele alguma vez bateu em você?”
Meu coração apertou em meu peito e não queria responder. Eu
não queria admitir em alto e bom som, mas ao mesmo tempo eu não
queria mentir. Não para Gabe.
“Apenas uma vez. Mas uma vez foi o bastante.”
Foi o bastante. Fechei meus olhos, segurei minhas palavras e
foi bem óbvio que eu não queria falar sobre isso. Gabe entendeu a
deixa e me segurou perto, seus braços fortes extremamente gentis.
“Tudo bem. Você não precisa me contar sobre isso. Não sou
assim, Maddy. Nunca iria bater em você. Esse não sou eu.”
Relaxei agora, deixando meu corpo se suavizar contra ele.
“Eu sei,” disse a ele honestamente. “Não estou com medo
disso. Estava mais com medo de você ser controlador como ele,
violento quando fica com raiva. Não posso suportar esse tipo de
homem. Mas esse não é você. Eu sei disso agora.”
Ele não perguntou por que eu pensaria isso e eu estou grata.
Porque até então, eu não tive que explicar que eu procurava os
defeitos do meu pai em cada homem.
Não tive que explicar por que isso me deixava fraca. Como
sempre, estar com medo desses defeitos me deixava vulnerável. Uma
vulnerabilidade que eu não queria.
Fechei meus olhos de novo, me deleitando no conforto que
Gabriel me proporcionou, surpresa com isso, na verdade. Nunca
esperei encontrar alguém que me afetasse do jeito que Gabriel fazia.
É como um presente inesperado.
Gabe parecia tenso apesar disso, seu corpo estava duro, e eu
acho que é porque eu o assustei por falar sobre os meus
sentimentos... Por compartilhar um pouco do meu passado com ele.
Gentilmente o sacudi.
“Está tudo bem,” eu disse a ele suavemente, provocativamente.
“Estou cheia de falar de coisas profundas. Apenas gostaria que você
soubesse que eu te julguei mal e eu sinto muito por isso.”
Ele relaxou. Seu corpo duro afundando-se em mim. “Você não
precisa se desculpar. Todo mundo julga as pessoas quando eles as
conhecem. É normal.”
Só me levou um par de segundos para responder isso.
“O que você pensou sobre mim?”
Gabe pensou sobre isso um minuto. “Achei que você era linda
de morrer e eu não conseguia entender porque você queria ir para
casa comigo. Você não parecia o tipo de garota para uma noite só.
Mas eu agradeci a Deus pela minha boa sorte de qualquer forma.”
Estava bem com aquela resposta. Não era profunda, mas era
uma resposta típica de homem. Ao menos ele foi honesto.
“Eu não sou o tipo de garota para uma noite só,” eu admiti.
“Esse foi o pensamento da sua irmã. Ela achou que eu precisava sair
e descarregar um pouco de estresse. Mas eu conheci você. E isso
talvez tenha sido uma coisa muito boa. Não estou tentando que fique
sério ou qualquer coisa. Então, não fique preocupado, mas o que
estamos fazendo aqui, Gabe? O que é isso? Você e eu temos brincado
de gato e rato desde que nos vimos pela primeira vez. Mas estou
cansada de jogos.”
Ele ficou quieto por um segundo. Então, pressionou um beijo
no topo da minha cabeça.
“Isso é eu e você, Madison. Isso é apenas eu e você. Nós
podemos ser meio bagunçados de alguma forma, mas como Jacey
diz, nós somos pessoas boas. Nós vamos descobrir. Tudo vai ficar
bem.”
Assenti e contei suas respirações, depois escutei as batidas do
seu coração por um tempo. Contei as batidas estáveis e enquanto eu
fazia isso, não pude me impedir, mas apenas ponderar o quanto todo
mundo tinha problemas. Alguns são mais horríveis que os outros, e
ainda assim, as pessoas apenas andam por aí com seus segredos
dolorosos queimando profundamente porque eles têm muita
vergonha deles.
Apenas quando eu quase adormeci, eu fiz uma última
pergunta.
“Todo mundo no mundo é quebrado, Gabriel?”
Até mesmo para as minhas orelhas, meu sussurro pareceu
quebrado na noite profunda. Pude sentir o peso do olhar de Gabriel
enquanto ele olhava para mim na escuridão.
“Eu acho que sim,” ele finalmente respondeu. “Do seu próprio
jeito.”
Ele me puxou para perto, me beijou suavemente na boca,
depois de voltar para o seu abraço. Em pouco tempo a sonolência me
levou e escorreguei para o esquecimento que só o sono pode
oferecer.
Quando acordei, a luz do sol estava brilhando através da
minha janela e Gabriel tinha ido.
Capítulo Doze
Madison

Eu me sentei, me estiquei, me aqueci como um gato saciado


com o sol derramando em minha cama. Estou quente e
perfeitamente confortável. Exceto pelo fato de que Gabriel não está
aqui. Mas isso não é surpresa. Ele me disse que não podia ficar.
Há umas merdas que você não sabe sobre mim.
Isso pode ser verdade, mas não vou me preocupar com isso
agora. Coloquei isso de lado porque hoje não importa. Gabriel se foi
e ontem à noite foi incrível.
Estico e jogo as cobertas para trás, pegando o travesseiro de
Gabe e segurando-o no meu nariz. Isso cheira a homem, almiscarado
e aventureiro. Como ele. Cheirei o travesseiro, em seguida, o atirei
de volta no lugar.
Enquanto me movo, percebo que estou um pouco dolorida lá
em baixo. Mas isso não é uma surpresa. Não fiz sexo há um bom
tempo e ontem a noite foi... Er... Vigoroso. Minhas bochechas coram
ao lembrar-me do Gabriel me curvando sobre a mesa lá fora. É
melhor eu me lembrar de limpar essa coisa antes de usá-la de novo.
Caminhei até o banheiro e escovei os dentes enquanto
esperava o chuveiro aquecer. Olhando para a água, não consegui
evitar e me lembrei de Gabriel me curvando no chuveiro também. Eu
coro mais ainda.
Muito em breve eu não vou ser capaz de ir a qualquer lugar em
minha casa sem corar. Se eu tiver sorte. Tenho que sorrir para isso,
imaginando Gabe e eu batizando todos os cômodos da casa. É um
pensamento interessante e enquanto sonho acordada sobre isso, eu
danço em torno do meu banheiro cantando "I Love Rock and Roll" o
mais alto que posso.
Não consigo evitar. Eu me sinto tão feliz hoje que dançar como
uma lunática parece ser a coisa lógica a se fazer. Com a virilha
dolorida ou não. Sinto-me mais leve e mais feliz do que já me senti
há um bom tempo.
Ele fez isso.
Assim que giro em torno do chuveiro até a porta, pego um
vislumbre de alguém grande e escuro na porta do banheiro. Uma
sombra.
Assustada, congelo quando percebo de quem é essa sombra.
Gabe se inclina casualmente contra o batente da porta, seus
olhos brilhando com diversão.
"Bom dia", ele diz levianamente. "Vejo que alguém está de bom
humor."
Ele está aqui.
Meu coração praticamente canta, mas com a mesma rapidez
quase morre de vergonha quando percebo que ele acabara de
testemunhar a minha cantoria/dançinha particular.
Meu rosto explode em mil tons de vermelho e me viro para que
eu possa cuspir minha pasta de dentes na pia.
"O que você está fazendo aqui?" Eu gaguejo. "Pensei que você
não ia ficar.”
Ele sorri novamente. "Eu não ia. Sabia que você fica linda
quando dança no banheiro só de calcinha? Você não pode manter
uma melodia, no entanto."
Balancei minha cabeça e sorri de volta. Eu poderia muito bem
rir de mim mesma, certo?
"Não se preocupe. Não vou sair do meu trabalho, só estou de
bom humor".
Gabe olha para mim com ironia. "Bem, talvez você não fique
com um bom humor por muito tempo", ele me diz. "As ruas estão
inundadas. É por isso que eu ainda estou aqui. Não podemos sair
daqui".
Fico olhando para ele fixamente. "O quê? Você só pode estar
brincando. A última vez que a estrada inundou foi anos atrás."
Gabe dá de ombros. "Não sei nada sobre isso, mas está
inundada hoje. Tem chovido por duas semanas seguidas. Não é um
grande choque. Mas tudo se resume ao fato de que nós não vamos a
lugar nenhum."
Nós estamos presos aqui.
Gabe e eu.
Juntos.
Enquanto penso nas possibilidades, dou um sorriso enorme.
"Há coisas piores", anuncio, pensando no meu sonho de
batizar todos os quartos. Sorrio maliciosamente para ele. "Posso
pensar em algumas coisas para fazer."
Gabe revira os olhos. "A julgar por aquele sorriso, tenho até
medo de perguntar."
Estou prestes a responder quando, de repente, me ocorre um
pensamento perturbador que me faz entrar em pânico.
"Mila. Tenho que ligar e ver como ela está. Não vou ser capaz
de chegar ao hospital."
Corro para o meu celular e caio na minha cama enquanto ligo
para o hospital, meu pé balançando nervosamente enquanto espero.
Eu a tinha tirado da minha mente ontem à noite quando Gabe
e eu estávamos... Juntos. Estava tão focada na minha própria dor,
meu próprio medo, que eu me perdi nele.
Como eu poderia ter feito isso? Que tipo de pessoa eu sou?
Depois que eu fui transferida para o quarto de Mila, Pax
atende ao telefone no segundo toque.
"Como está Mila?" Pergunto ao invés de cumprimentar.
"Bom dia para você também," Pax responde. "Ela está bem.
Acalme-se, Maddy. Posso dizer pela sua voz que você está pirando.
Mila dormiu a noite toda. Eles a colocaram no soro e irão liberá-la
hoje. Ela vai direto para casa, para a cama. E se você vê-la a qualquer
momento, você tem a minha permissão para bater nela."
"Não preciso de sua permissão", eu resmungo. "Eu a conheci
primeiro. Mas não sei se vocês serão capazes de chegar em casa.
Minha rua está inundada. Não sei se a sua está. Não posso nem sair."
"A nossa está bem" responde Pax. "Mas sinto muito que você
está presa. Não fique sentada aí matutando sobre isso. Não há nada
que você possa fazer sobre isso de qualquer maneira."
"Vou tentar," prometo, enquanto olho para Gabe. Ele está na
minha frente, seu torso musculoso ao nível dos olhos. Para ser
honesta, é difícil pensar em alguma coisa além de seu corpo
requintado no momento. É um pouco de distração. "Mila está
acordada?"
"Sim, mas a enfermeira está dando um banho de esponja. Vou
pedir para ela ligar para você quando chegarmos em casa."
Desligamos e eu me volto para Gabe. "Só tenho que fazer mais
algumas ligações e, então, podemos descobrir o que vamos fazer.
Gostaria de saber quanto tempo à estrada ficará fechada?"
Gabe dá de ombros. "É difícil dizer. Você tem alguma coisa
para comer?"
"Tenho um estoque para um ano de burritos congelados”, digo
a ele. "E talvez um pouco de arroz."
"Então não vamos morrer de fome", Gabe ressalta. "Vamos
ficar bem. Estou indo ligar para Jacey enquanto você faz suas
ligações. Vou precisar que Brand fique com ela enquanto estou preso
aqui."
Ele sai do quarto e ligo para Tony. Sua parte da cidade não está
nem um pouco inundada. Então, ele vai ser capaz de chegar ao Hill.
"E u vi no noticiário que é apenas no seu lado", Tony me diz.
"Então o Hill vai ficar bem. Ligo para você, se precisar de alguma
coisa, não que você vai ser capaz de fazer alguma coisa sobre isso.”
"Haha," resmungo. Ele ri e depois desliga.
Visto umas roupas: uma camisa e short, e encontro Gabriel na
cozinha, olhando dentro da geladeira.
"Você não estava brincando", ele diz. "Você praticamente têm
fornecimento de burritos congelados para um ano."
"Eu te disse." Dou de ombros. "Já sei a ironia de ter um
restaurante e não ser capaz de cozinhar. Você não tem que me
dizer."
"Tudo bem, não vou", ele ri enquanto se vira. "Estou fazendo
um pouco de café. Acho que você pode precisar. Demorou uma
eternidade para cair no sono na noite passada."
Farejo o cheiro de café fresco e olho para Gabe, agradecida.
"Se eu não te amava antes, eu amo agora", digo-lhe em tom de
brincadeira. Se eu o conhecesse melhor, acharia que os nós dos
dedos dele acabaram de ficar brancos quando ele agarrou sua xícara
de café mais forte. Mas isso não pode estar certo. Eu só estava
brincando. Certamente ele sabe disso. Agarro uma xícara de café da
prateleira e me sirvo um copo.
"O que devemos fazer?" Pergunto hesitante. "Nós vamos ficar
muito tediosos se ficarmos presos aqui por muito tempo."
Gabriel levanta uma sobrancelha. "Sério? Estamos em uma
bela casa à beira do Lago Michigan. Vamos encontrar algo para
fazer."
Olho em volta, em dúvida. "Você acha que esta casa é legal?"
Na minha cabeça eu imagino a mansão/palácio à beira-mar de Pax e
Mila. Este lugar é um barraco em comparação com a deles.
"É claro", responde Gabriel. "Você não?"
Dou de ombros. "Não sei. Eram dos meus pais. Acho que não
dei muita atenção. Quando eles morreram, Mila e eu a herdamos.
Mila não queria, porque ela tinha um pequeno apartamento sobre
sua loja. Então, ela me deixou ficar com a casa. Fico pensando que
preciso renovar ou algo assim, para torná-la minha, mas eu ainda
não cheguei a fazer isso."
"Você vai chegar lá", Gabriel me diz conscientemente. "Quando
você estiver pronta."
Se isso chegar a acontecer. Já se passaram quatro anos. Mas
eu não quero pensar sobre isso.
"Quero ir lá para fora e olhar para o alagamento", digo a ele
enquanto me afasto para longe da mesa. "Quão perto isso está da
casa?"
"Não está muito, pelo menos não agora. Você já viu isso chegar
perto?" Gabe pergunta enquanto saímos pela porta da frente.
Concordo com a cabeça.
"Uma vez. Anos atrás. Acho que ainda tem aqueles sacos de
areia empilhados no porão."
Seguro minha respiração enquanto saio na varanda e olho para
a cena na minha frente. Há água em todos os lugares.
Água em um movimento rápido cobriu completamente a
minha rua, do tipo que você não consegue nem dirigir ou vai levar o
seu carro. A água escura também está batendo na borda frontal do
meu gramado, jatos de água estão agora mesmo tentando chegar
mais no terreno, movendo-se rapidamente para frente absorvendo
tudo entre a rua e a minha casa.
"Puta merda", respiro.
"Onde foi que você disse que aquelas sacos de areia estão?",
Gabe olha para mim. "Nós vamos precisar deles. A água ultrapassou
pelo menos um metro para o seu quintal desde que eu olhei para ela
há 15 minutos."
"No porão", digo a ele enquanto giro sobre os calcanhares e
vou em direção à porta do porão. Corro para baixo nos degraus e
encontro tudo apenas como os meus pais deixaram na oficina
subterrânea e escura do meu pai. Os sacos de areia estão alinhados
na parede de trás, pelo menos vinte fileiras deles.
"Houve uma enchente violenta, há dez anos ou mais", eu digo a
Gabe enquanto pego um e o transporto de volta para as escadas. É
pesado, provavelmente uns vinte e dois quilos, mas Gabe pega
quatro deles facilmente. "Meu pai manteve os sacos de areia para no
caso de que alguma vez eles fossem necessários novamente. Foi um
saco enchê-los pela primeira vez. Ele percebeu que nós não
precisaríamos encher duas vezes."
"Esperto". Gabe concorda. Ele age como se arrastar noventa
quilos subindo as escadas não fosse nenhum problema. À medida
que chegamos à porta da frente outra vez, Gabe consegue ver mais
longe do que eu teria esperado.
Olhando por cima do ombro, ele me diz.
"Nós temos que empilhá-los na saída. Se não fizermos e a água
entrar, pode realmente causar mais danos à sua casa, deixando a
água presa."
"Isso faz sentido. Como é que você sabe disso?" pergunto com
curiosidade enquanto o sigo, deixando cair o saco de areia no solo,
começando a alinhá-los. Ele balança a cabeça.
"Eu sei das coisas", ele responde com ironia, enquanto alinha
seus sacos de areia com os meus. "Sou muito inteligente."
Não comento sobre isso. Em vez disso, me pergunto sobre que
tipos de coisas que ele já deve ter feito quando ele era um soldado
enquanto nos dirigíamos de volta para o porão para pegar mais
sacos.
Acabamos fazendo mais viagens que eu consiga contar. A cada
viagem as escadas parecem um pouco mais íngremes e o quintal
parece um pouco mais longe.
No momento em que levamos os últimos sacos para fora e os
empilhamos em torno do perímetro, a parede de sacos está com um
metro e meio de altura. A água avançou mais um metro, e meus
braços e pernas estão tremendo como folhas.
Mesmo estando coberta de uma camada de areia e sujeira, me
deixo cair sobre o sofá, me jogando de costas.
"Meu santo Deus. Não podia carregar mais um saco de areia
nem se eu tentasse," reclamo. “Não sei como você carregou tantos.
Você carregou quatro vezes mais do que eu e não está nem um pouco
incomodado."
"Isso é porque eu sou foda", diz Gabriel levemente, pegando
um dos meus braços e o esfregando. "Você realmente está
tremendo."
"Eu seeeeiiiiiii." Reclamo. "Carregar um saco de areia é fácil.
Carregar uma centena começa a acabar com uma pessoa."
Gabriel balança a cabeça um pouco, mas não para de esfregar
meu braço. O calor de sua mão é bom minha pele. Eu me viro de
lado, olhando-o nos olhos.
"Você acha que isso vai manter a água do lado de fora?"
Mesmo quando pergunto, não tenho certeza se me importo. Se esta
casa for destruída por danos causados pela água, vou pegar uma
novinha com o dinheiro do seguro. Uma que não carregue memórias
ruins nela.
Gabriel concorda. "Deveria. Temporariamente, quero dizer.
Não acho que a água vai ficar alta por muito tempo."
"Tudo bem", murmuro. Contanto que nós não tenhamos que
nos preocupar com a casa sendo inundada enquanto estivermos
nela, está tudo bem. E com as mãos de Gabe sobre mim, eu estou
realmente bem.
"Obrigado por me ajudar", digo a ele em voz baixa. "Você não
tinha que fazer isso."
Ele levanta uma sobrancelha escura. "E como você teria
carregado todos esses sacos sozinha? Você tem braços de espaguete."
Engasgo e ele ri.
"De nada", ele continua, ignorando a minha indignação. "Não
foi um problema."
"Meu próprio herói particular," declaro, sorrindo para os seus
olhos. Sua expressão muda para um pouco nublada, mas ele não diz
nada.
Ele simplesmente diz.
"É o que eu faço."
Mais uma vez eu me pego pensando sobre Gabe com
equipamentos de combate, empoeirado e quente, correndo com um
rifle para salvar alguém. Mas isso é onde o meu sonho acaba, porque
eu não sei exatamente o que ele fez quando era um soldado.
Então eu pergunto.
Gabe fica tenso. Então relaxa, quase como se ele estivesse se
forçando a isso.
"Um pouco de tudo", ele me diz. "Fizemos algumas buscas e
salvamento, um reconhecimento, alguma vigilância. Nossa equipe
era uma unidade especializada. Mas, infelizmente, a maioria do que
fizemos é confidencial. Não posso falar sobre isso. Isso deixa a Jacey
louca."
"Aposto que sim," sorrio, pensando na natureza inquisitiva da
Jacey. "Tenho certeza de que a mata. Falando nela, está tudo bem
por lá? A água chegou perto da casa dos seus avós? Estávamos tão
ocupados com a minha casa que me esqueci de perguntar sobre a
sua."
Ele balança a cabeça. "Não. Sem água. Eles estão bem. Brand
vai ficar com a Jacey até eu chegar lá, só para me certificar de que
Jared não vai tentar nada. Acho que ele provavelmente não vai
assediá-la agora, mas nunca se sabe."
Lembro-me da expressão aterrorizada de Jared no posto de
gasolina há alguns dias atrás. "Acho que ele provavelmente está
intimidado agora", concordo. "Mas como você disse, nunca se sabe.
Ele é um idiota. E se Brand não se importa de estar lá,
provavelmente é uma boa ideia."
"Brand não se importa."
"Que bom." Saio do sofá e olho fixamente para Gabe. "Estou
coberta de areia. Vou tomar um banho rápido. Sirva-se de qualquer
coisa que você precisar, apenas sinta-se em casa."
"Se você jogar suas cartas direito, vou dar-lhe uma massagem
quando você sair", Gabriel oferece. "Você fez um grande esforço
transportando os sacos de areia. Nós provavelmente devemos
esfregar o ácido láctico para fora dos seus músculos para que você
não fique dolorida."
"Uau, isso soa tão... Clínico", eu ri. "Mas, ei, é uma massagem.
Então eu vou querer."
Ando pelo corredor e posso sentir seu olhar tempestuoso me
observando enquanto vou. Eu não sei o que ele está pensando, mas
parece tão escuro quanto ele é.

****************************************************************

Gabriel

O que diabos estou fazendo?


Obviamente, não posso deixar de estar aqui, mas por que
diabos estou agindo como um domesticado pau-mandado e idiota?
Jesus. Não sou um pau-mandado.
Madison é uma mulher. Pura e simples.
Ela não significa nada para mim.
Não me importo quantas vezes seus olhos ficam agradáveis
quando ela olha para mim, quando eles são normalmente cansados e
mundanos. Não me importo com quantas vezes ela me chama de seu
herói particular. Não me importa que ela esteja danificada por
dentro, de uma maneira que me faz lembrar Jacey - e dos danos que
o meu pai fez a ela. Mas os estragos da Madison são muito, muito
piores do que os da Jacey.
E não é meu trabalho consertá-la.
Não posso nem me consertar.
Bebo duas xícaras de café enquanto espero por ela no sofá, ao
passo que seu banho “rápido” se transforma em meia hora. Mas
quando ela sai vestida apenas com uma camiseta e calcinha, eu fico
bem acordado, sem o auxílio de cafeína. Posso ver o contorno de
seus mamilos rosados através de sua camisa e todos os meus
argumentos anteriores sobre o quão pouco ela significa para mim
são jogados para fora da janela.
Especialmente quando ela olha para mim com aqueles olhos
suaves. Olhos que não são macios para muitas pessoas. Faz meu
estômago se apertar em um maldito nó.
Você não pode confiar em mim. Mas, obviamente, eu não
posso dizer isso.
"Ei," eu digo em vez disso. "Sente-se melhor?"
Ela acena com a cabeça. "Sim. Fiquei sob a água quente por
um tempo. Sinto muito por mantê-lo esperando."
"Está tudo bem", digo a ela. "Vendo o bico dos seus peitos
valeu a pena a espera."
Ela sorri, as bochechas corando. "Onde você me quer?"
"De baixo de mim na cama."
Madison se assusta, mas depois eu dou risada. "De baixo das
minhas mãos. Só quis dizer em minhas mãos."
Ela sorri para mim, mas me puxa para ficar de pé.
"Tudo bem. Vou deitar na minha cama. Então vamos ambos
estar confortáveis. Tenho que te contar uma coisa, no entanto." Ela
faz uma pausa e cora, o que desperta imediatamente o meu
interesse. Isso deve ser bom. "Estou bastante dolorida. Lá em baixo,
quero dizer. Então..."
Eu interrompo. "Não se preocupe. Posso massagear isso
também." Com seu olhar de completo desgosto, eu explodo no riso.
"Vai ficar tudo bem, Maddy. Não vou tentar nada. Nós vamos ficar
bem na cama. Quer dizer, se você conseguir se controlar."
Ela se vira e caminha pelo corredor. "Não sou eu que preciso
ouvir essa conversa. O homenzinho aí é que precisa dessa conversa.”
Assim que eu percebo que ela está falando do meu pau, eu
arrepio.
"Ei, nunca, em qualquer situação, você deve chamá-lo de
‘homenzinho’. Uma palavra diminutiva nunca deve ser usada em
conjunto com o meu pênis."
Ela ri quando entra em seu quarto e se senta em sua cama.
"Tanto faz. Não acho que você realmente precisa se assegurar
em relação ao seu tamanho grande, homem do exército. É a razão de
eu estar da forma que estou e você sabe." Ela está sorrindo e eu
posso dizer que ela está suficientemente impressionada.
"Assim é melhor", resmungo enquanto me ajeito em sua cama.
"Você pode usar essa palavra o tanto que quiser."
Um brilho malicioso aparece em seus olhos e ela fica de
quatro, se arrastando em cima de mim.
"Grande homem do exército. Eu amo seus grandes músculos."
Ela trilha seus dedos ao longo dos meus bíceps, para cima e sobre os
contornos, seguindo a linha do meu pescoço. Ela vira meu rosto para
ela e toca seus lábios nos meus. Ela tem gosto de mel. "E eu amo seu
grande... Ego."
Reviro os olhos, mas a mantenho firme em mim, a minha
língua enroscando com o dela de novo.
"O que mais você gosta em mim?" Pergunto baixinho,
mergulhando a cabeça para beijá-la no pescoço.
"Eu amo seu grande senso de humor", ela sussurra, com as
mãos arrastando sobre meus ombros. "E o seu grande sorriso,
quando você escolhe usá-lo."
"E?", sussurro de volta.
Seus olhos encontram os meus e os dela são tão azuis. Ela me
beija de novo e depois se senta em mim, firmando seus quadris
apertados contra minha virilha. Meu pau fica rígido contra ela, duro
igual pedra lutando contra a minha cueca.
"Eu amo..." ela sussurra, seus lábios tocando o meus. "Seu pau
grande”.
Eu quase sufoco quando ela diz essa palavra. Ela não só diz
isso como coloca ênfase extrema nele. Parece tão estranho vindo de
seus lábios. Mas ela é durona. Eu sabia disso. E Cristo, eu amo isso
nela.
Mas ela não significa nada, certo? Meus próprios pensamentos
me afrontam e eu engulo quando sua mão desce para o meu colo e os
dedos esfregam meu comprimento.
Eu gemo.
"Você tem que parar", eu consigo dizer. "Sério. Antes de você
me matar. Se você não quer transar comigo, você tem que parar."
Ela ri levemente e pula fora.
"Foi um jogo divertido", ela diz com os olhos brilhando. "O que
você quer jogar agora?"
Largo um travesseiro sobre minha cabeça e respiro fundo.
"Você é um demônio feminino", digo a ela. "Realmente má."
Ela só ri mais. "Foi você que me deixou dolorida", ela me
lembra. “Então lembre-se disso."
Um pensamento me ocorre.
"A vingança é um jogo limpo, seu pequeno demônio. De
barriga para baixo. Agora."
Bem-humorada, ela vira de barriga para baixo e eu monto em
sua forma esbelta. Eu me curvo e sussurro em seu ouvido.
"Oh, querida. Não vai ser assim tão fácil. Irei te dar uma
massagem. Você vai ter que tirar a camisa."
Sem dizer nada, nem sequer olhar para mim, ela tira a camisa
e a joga para o lado. Ela não está usando sutiã. De repente, não
consigo decidir se o meu castigo vai ser mais difícil para ela ou para
mim.
Ela não significa nada.
Ela não significa nada.
Lembro-me disso enquanto minhas mãos abrangem a largura
de suas costas e eu esfrego suavemente seus músculos, sua pele
macia sob meus dedos.
Será que o meu pau não recebeu aquele memorando sobre o
quão pouco ela significa para mim e quão pouco ela me afeta?
Porque cada toque me faz ficar um pouco mais duro e cada vez que a
afago meu pau pressiona mais e mais em sua bunda. ‘Acessório’
traidor da porra.
Sei que Madison está bem consciente disso, mas ela não dá
bandeira. Ela simplesmente permanece relaxada, de bruços na cama.
Eu me movo para baixo até seus pés e pego um, esfregando
cada centímetro dele antes de continuar até a perna, para cima e
sobre o joelho e para frente até a sua coxa. Eu amasso, puxo e
esfrego cada centímetro dela. Do pescoço até o final de suas costas.
Sua respiração está vindo um pouco diferente agora e eu sorrio. Ela
não está tão inalterada quanto ela tenta me fazer acreditar.
E por que o corpo dela tem que ser tão perfeito, porra?
Deslizo minhas mãos em torno de seus quadris e a puxo um
pouco, enquanto meus dedos deslizam para o meio de suas coxas.
Ela inspira fortemente e eu sorrio de novo.
Inclinando-me para frente, sussurro em seu ouvido. "Não se
preocupe. Vou ser delicado.”
E então eu enterro meus dedos lentamente dentro dela,
movendo-me em círculos enquanto deslizo meus dedos dentro e
fora. Beijo entre seus ombros enquanto meus dedos a fodem. Em
poucos minutos, seu corpo endurece e ela geme. Quando ela cai
mole de volta contra a cama, ela se vira para mim com o rosto
corado.
"O que foi isso?", Ela pergunta, seus olhos ligeiramente
vidrados. "Você sabe que não posso transar com você agora."
Ela chega perto de mim, me puxando para ela antes de
enterrar o rosto no meu peito.
"Eu sei," digo. "Mas já que eu massageei essa parte para você,
talvez hoje à noite?"
Ela ri e se aninha em mim ficando ainda mais próxima.
"Talvez. Se você jogar suas cartas direito. Por enquanto, porém, Meu
Deus, estou cansada por causa daqueles estúpidos sacos de areia.
Vamos tirar um cochilo." Ela fecha os olhos, mas depois de um
minuto abre novamente com uma pergunta aleatória.
"Você sente falta de ser soldado? Que posição você estava?"
"Todos os dias". Minha resposta é imediata. "É tudo que eu
sempre quis ser. E eu era bom nisso. Eu era o Primeiro Tenente
quando fui exonerado."
"Não havia algum jeito de você ter continuado?", ela pergunta,
abrindo os olhos e olhando para mim. "De alguma forma?"
Faço uma pausa, aflito, mas tentando não mostrá-lo. É uma
pergunta que eu me fiz uma centena de vezes antes de tomar a
decisão de renunciar.
"Não", finalmente respondo. "Não havia jeito. Se houvesse eu
teria tentado."
"Você está feliz fazendo o que você está fazendo agora?" Ela
pergunta curiosa.
Concordo. "Sim. Estou feliz fazendo o que estamos fazendo,
porque nós vamos ajudar outros soldados. Brand e eu passamos por
muita merda. E se outros soldados não tiverem que passar por isso
por causa do nosso armamento, isso vai me fazer feliz de verdade,
pra caralho."
Ela acena. "Essa coisa pelo qual você passou... É parte da
merda da qual você não quer falar?" Aceno.
"Sim".
Surpreendentemente, ela deixa para lá. Olho para ela.
"E quanto a você? Jacey me disse uma vez que você iria ser
uma modelo ou algo assim. Você está feliz aqui em Angel Bay?"
Ela fica quieta e sei que atingi um nervo.
Por fim, ela dá de ombros.
"Isso não era para ser", diz ela com cuidado. "Às vezes a merda
acontece e tudo o que podemos fazer é o nosso melhor. Este é o meu
melhor."
Fico olhando para a mulher linda enrolada ao meu lado. Eu
poderia ser um estúpido em relação às mulheres, mas ainda podia
ouvir a resignação em sua voz.
"Você não tem que ficar aqui, sabe", indico. "Você não tem que
viver esta vida, se não é o que você quer. Está claro que você não
quer estar aqui.”
Madison pisca, olhando para longe. Eu não tenho certeza, mas
parece que ela pode estar tentando não chorar. "É o que eu quero",
ela finalmente responde. "Queria estar perto da Mila. E mesmo que
ela esteja indo embora em breve, Angel Bay é o meu lar. O
restaurante está aqui e administrá-lo é minha responsabilidade. E,
além disso, você está aqui agora."
Você está aqui.
Meu peito aperta e meu estômago fica tenso. Porque eu queria
transar com ela, sem compromisso, sem me preocupar se iria
machucá-la. Porque eu sei que eu vou. Ela parece forte, mas é óbvio
que por dentro ela é frágil. É só uma questão de tempo até eu ferrar
com tudo e ela precisa saber disso.
"Maddy, eu estar aqui pode não ser uma coisa boa”, digo a ela.
"Essa merda que você não sabe? É muito feia."
Ela balança a cabeça, os cabelos roçando meu peito.
"Achei que era", ela concorda. "Ou então você não odiaria falar
sobre isso. Mas não importa. Tudo o que importa é que você é uma
boa pessoa por dentro, Gabe. É por isso que eu estou tão feliz que
descobri como você realmente é. Por fora, você é esse durão
arrogante com um segredo. Mas, por dentro, você é bom. Eu não
tenho que me preocupar com você me machucando mais."
Ela fica em silêncio e eu esfrego seu braço quando ela cai no
sono. Depois de mais ou menos meia hora, sua respiração se
equilibra e sei que ela está definitivamente dormindo. Foi quando eu
finalmente a respondi.
"Sim, você tem", sussurro antes de cuidadosamente separar
.
Capítulo Treze

Madison

Acordo da minha soneca, encontrando-me sozinha. Suspiro e


então me alongo. Um olhar para o meu relógio me diz que estive
dormindo por uma hora e meia. Eu raramente cochilo, então devo
estar bem cansada.
Enquanto a minha mente clareia, eu me lembro do
inundamento. Pulo da cama e corro até a janela da sala de estar,
encarando o lado de fora.
A água fez o seu caminho para cima da parede de sacos de
areia e está batendo contra ela. Por enquanto, os sacos de areia estão
fazendo o seu trabalho.
“Vai ficar tudo bem,” Gabriel diz atrás de mim. “Está
segurando bem e forte. Enquanto a água diminuir no próximo par de
dias, deverá ser bom.”
Eu me viro. Como sempre, eu acho que posso encará-lo para
sempre. Ele não é perfeito no tipo de estilo modelo masculino. Ele é
perfeito em um tipo áspero, sexy-pra-caramba. Masculino.
Poderoso. Forte.
“O que?” ele pergunta curioso enquanto eu o encaro. Eu
balanço a cabeça.
“Nada. Você encontrou coisas para fazer enquanto eu tirava
uma soneca?”
Gabe assenti enquanto nos dirigíamos à cozinha.
“Sim. Eu me virei algumas vezes. Alguns minutos atrás, eu
acho que encontrei o meu caminho para o quarto dos seus pais.”
O meu intestino se aperta imediatamente, uma estúpida e
extrema reação para algo tão simples. Mantenho a porta deles
fechada por um motivo, mas, obviamente, Gabe não quis intrometer.
“Nem é grande coisa,” digo a ele alegremente, fingindo ser
casual. “Nenhum mal foi feito. Você fechou a porta quando você
saiu?”
Por favor, tenha fechado a porta. Eu não quero ver lá dentro.
Gabriel me encara, curiosidade nos seus olhos escuros, como
se ele pudesse ver atrás de mim.
“Sim, eu fechei. Maddy, o quarto deles parece que não foi
visitado desde o dia que eles morreram. As botas do seu pai ainda
estão ao lado da porta, cheias de lama.”
Ele pausou, me encarando. Encaro de volta. “E?”
Ele encolhe os ombros. “Não é do meu interesse. Só estava
curioso. Não estou julgando.”
Eu sei que ele não está. Assim como eu sei que é estranho que
eu tenha deixado o quarto deles intacto. Porém, o luto faz coisas
estranhas com uma pessoa. O mesmo acontece com a culpa. Eu,
honestamente, queria apenas fechar a porta deles e não pensar sobre
isso. Ou neles.
“Eu sei que é estranho,” digo a ele. “Não posso explicar. Até
mesmo para mim, realmente.”
Mesmo que faz quatro anos.
Gabe me encara novamente, seus olhos escuros amolecendo.
Eu vejo compaixão neles. “Quer ir dar um passeio na praia?” ele
pergunta.
Concordo com a cabeça. Coloco um par de shorts e nós
fazemos nosso caminho para a porta dos fundos e nos espalhamos
na praia. O ar está frio e posso sentir a umidade – ambos do lago e
da inundação ao nosso redor.
Lá em cima, as gaivotas circulam e choram.
Na nossa frente, o Lago Michigan bate forte contra a costa,
perturbado pelas recentes tempestades. Eu sei que, se nós
andássemos até a praia pública mais próxima, as bandeiras
vermelhas estariam balançando... Um símbolo de que a corrente é
perigosa.
“Por que eu nunca te vi nos verões?” eu pergunto a Gabe.
“Jacey disse que você não vinha à cidade porque você é tímido. Mas
isso não parece certo.”
Ele encolhe os ombros, olhando para a água. “Eu não sei. Eu
passei muito tempo com o nosso avó, pescando e coisas assim. Jacey
e vovô eram os únicos que viam a cidade.”
“Isso faz sentido,” eu respondo. “Mas eu gostaria de ter te
conhecido naquela época.”
Gabriel ri. “Acho que você ia ficar desapontada. Eu estava tão
decidido em aderir à vida militar que era tudo o que eu conseguia
pensar.”
E você desistiu disso por algum razão que você não fala
sobre.
Essa ideia, essa noção, me fez ficar loucamente triste.
“Bom, é para o melhor. Eu era uma criança meio malcriada.
Você provavelmente não iria ter gostado de mim, de qualquer
forma.”
“Duvido disso,” ele respondeu e, enquanto fazia isso, pegou a
minha mão e a segurou. Essa simples e pequena ação manda o meu
coração ricochetear contra a minha caixa torácica. Parece tão íntimo.
Para evitar dizer algo estúpido sobre isso, eu comecei a
tagarelar sobre as minhas escapadas. O jeito que eu era, as confusões
que costumava me meter com os meus pais, em especial, com o meu
pai.
Quando Gabe me olha sério, eu rapidamente me arrependo de
mencionar a última parte.
“Não posso suportar isso, quando um homem desconta a sua
raiva em uma mulher.” Gabe diz para mim. “Então, sinto muito por
realmente não ter uma mente aberta quando ouvi sobre o seu pai.
Sinto muito.”
Fico tensa, enquanto lembro que Pax contou a ele sobre o meu
pai. Eu não sei o quanto, mas provavelmente o suficiente. Eu encaro
a areia molhada enquanto caminhamos incapaz de encontrar o olhar
de Gabe.
“Eu sei. Mas o mundo não é sempre preto e branco. Há um
milhão de diferentes tons de cinza. Duvido que seja algo que você
teve que lidar com os soldados. Tenho certeza de que tudo está certo
ou errado para você. Mas para as pessoas normais, há um monte de
espaço entre os dois.”
“Você está defendendo o seu pai?” Gabe levanta uma
sobrancelha. “Sério mesmo?”
O sangue sobe a minha cabeça e engulo duro. “Não. É só que...
Você não entende.”
“Então me ajude,” Gabe me implora. “Sério. Gostaria de
enrolar a minha cabeça ao redor da sua análise racional. É claro que
algo te ferrou, mesmo ainda. Ainda assim você o defende. Você ainda
mantém as botas dele intocadas ao lado da porta do quarto dele,
quase como se estivesse esperando que ele fosse voltar. Não quero
ser um idiota e não quero me intrometer. Mas Jacey faz essa mesma
merda com o nosso pai. Ele não bate nela, mas ele a desaponta a
toda hora e ela sempre espera por mais. Eu não entendo isso. Se
alguém mostrou a sua verdade, a chance é que eles não irão mudar.
Por que você espera por mais? Por que você mantém a memória do
seu pai num lugar sagrado quando ele ferrou tudo?”
Minha respiração está congelada enquanto eu paro no meu
caminho e olho para Gabriel.
“Não guardo a memória do meu pai num lugar sagrado. É
complicado. Eu amava os meus pais. E eu os odiava. E eu sinto a
falta deles. E eu não quero pensar neles. Isso tudo se combina em
algo que eu não quero ter que lidar.”
Gabe me encara inabalável. “Como você pode amar alguém que
te machucou desse jeito?”
Suspiro irregularmente. Essa é a pergunta que tenho me
perguntado um milhão de vezes.
“Isso é complicado também. Mas o meu pai era uma pessoa
boa... Até que ele ficasse bravo. E quando ele ficava bravo, ele perdia
totalmente a cabeça. Como o Médico e o Monstro. Honestamente, é
uma das razões pela qual me enervou tanto naquela primeira noite
com você em Chicago. Você era como a noite e o dia também. Calmo
e metido. Então, você perdeu a cabeça. Eu pensei que você poderia
ser que nem o meu pai.”
Gabe olha horrorizado. “Puta merda, Madison. Eu não
conhecia o seu pai, mas eu te garanto que não sou como ele.”
Concordo com a cabeça. “Eu sei. Mas você era tão diferente,
como se você apenas apertasse um interruptor naquela noite. Em
seguida, você deu um soco numa parede do nada. Depois de crescer
com o meu pai, foi aterrorizante.”
Gabe parece desconfortável, quase embaraçado.
“Sinto muito,” ele finalmente disse. “Eu gostaria de poder é
explicar. Mas complicado.”
“Então, você deveria entender que as coisas não são sempre
preto e branco,” respondo. Sinto um pouco de satisfação com o olhar
conflitado no seu rosto. Ele também está tão inseguro agora. Incerto.
“Conte-me mais sobre os seus pais,” ele responde, me
redirecionando, evitando a minha declaração. “Pax me contou um
pouco, mas não muito.”
“Quanto você cresce com alguém como o meu pai, alguém que
é maravilhoso na maior parte do tempo, mas um completo idiota em
um quarto do tempo, ele mexe com a sua cabeça. Você começa a
pensar que isso é normal, ou que você merece isso, ou no nosso caso,
algumas vezes, me perguntei se a minha mãe merecia isso. Mas, no
fundo, eu sempre soube que não ela merecia. E então, eu ficava
brava com ela por ficar... Mesmo que eu o amava, ao mesmo tempo.”
“Parece que isso realmente mexeu com a sua cabeça,” Gabe diz
calmamente. “Mas você sempre soube que não era a sua culpa,
certo?”
Passo por um pedaço de madeira e então encarei a água,
pensando naquela vez que eu não sabia. “Geralmente,” respondo.
“Exceto por uma vez. A única vez que ele me bateu.”
“Vamos nos sentar,” Gabe sugeriu, me guiando pelo ombro
para um pedaço enorme de madeira. “Gostaria de escutar isso. O que
fez um homem adulto bater numa criança?”
Meus olhos começaram a queimar enquanto penso sobre isso e
engulo com dificuldade. Memórias embaçadas começam a retornar
para mim, memórias que eu propositalmente não pensei sobre em
anos.
“Eu não era criança,” o corrijo. “Eu tinha dezessete anos. Meu
pai chegou em casa, do Hill, irritado com alguma coisa do trabalho e
minha mãe não estava em casa. Não tinha ideia de onde ela estava,
mas meu pai pensou que eu estava mentindo por ela. Quando ele
ficava bravo daquele jeito, não havia raciocínio com ele.”
“Ele me perguntou várias e várias vezes onde ela estava e eu
disse a ele várias e várias vezes que eu não sabia. E então, ele me deu
um tapa na cara. Com força. Voei para trás caindo no sofá. Senti
como se a minha cara inteira tivesse explodido, doía tanto. Mas isso
realmente não foi o pior de tudo.”
Pausei, limpei uma lágrima que escapou e escorregou pela
minha bochecha.
A mão de Gabe tem um aperto firme em torno da minha, com
força suficiente para que os seus nós ficassem brancos.
“O que foi pior que aquilo?”
A sua voz é grave e eu não consigo olhá-lo nos olhos. Temo que
a expressão que eu encontrar neles irá me levar ao limite e eu irei
enlouquecer novamente.
“Ele ficou em cima de mim, gritando que eu era uma vadia
inútil igual a minha mãe. Que eu estava mentindo por ela porque eu
era que nem ela. Que eu nunca serei nada além de uma vadia.”
Gabe puxa o seu fôlego e o segura. “E você pensou que isso foi
culpa sua?”
Finalmente consegui olhá-lo. “Não exatamente. Mas é por isso
eu fui embora para Nova York na primeira oportunidade. Para fugir.
E isso é minha culpa. Sinto-me culpada por isso desde então. Eu
abandonei a Mila e abandonei a minha mãe... Eu abandonei as duas
para lidar com a merda dele.”
“A Mila estava na faculdade, certo?” Gabe perguntou baixinho.
“E a sua mãe escolheu ficar. Isso foi decisão dela, não sua. Você
tinha que cuidar de si mesma.”
“Mila foi para uma faculdade a apenas uma hora de distância.
Ela dirigia para lá e depois voltava. Ela ainda vivia na casa.”
Fico silenciosa agora, encarando os meus pés, encarando a
água, encarando o céu. Finalmente Gabe pega os seus dedos e vira o
meu rosto na sua direção.
“Não há nada para se sentir culpada Maddy. Você não fez nada
errado. Ele fez.”
“Sinto-me culpada por tudo,” explodo. “Sinto-me culpada por
odiá-lo, sinto-me culpada por amá-lo. Sinto-me culpada por odiar a
minha mãe por ficar. Sinto-me culpada por deixá-la. Sinto-me como
se nada que eu fizer irá consertar tudo isso.”
Puxo uma respiração tremida e Gabe me encara.
“É por isso que você está aqui agora,” ele diz baixinho, seu
dedão acariciando o meu. “Você desistiu da sua vida em Nova York
para consertar isso, não é?”
É algo que eu nunca conscientemente admiti, mas eu sei que
ele está certo. É um pensamento que me irrita. Tudo sobre isso me
irrita. E me irrita que ele tenha notado isso.
“O que tudo mundo quer de mim?” exijo de repente, raiva
nublando a minha visão. “Você, Ethan, Mila, Jacey... Todo mundo
está sempre me dizendo o quão infeliz eu devo ser. Como eu ajo
como uma velha, como sou entediante, como não sou eu mesma. É
claro que não sou eu mesma. Eu tive que abrir mão de tudo para
voltar para cá e viver a vida dos meus pais! Você acha que eu quis
isso?”
Posso sentir o meu batimento cardíaco pulsando nas minhas
têmporas, enquanto as ondas furiosas passam por mim de novo e de
novo.
Gabe me encara, mas não surpreso. É como se ele esperasse
que eu ficasse irritada.
“Por que você está me olhando desse jeito?” pergunto
novamente, minha voz estridente. “O que você quer de mim?”
Gabriel balança a cabeça, ainda calmo. “Não quero nada de
você. Eu só percebi que você abriu mão de tudo. E posso me
relacionar com isso. É só isso. Sei como você se sente.”
Puxo uma respiração, pensando sobre isso. Ele abriu mesmo
mão de tudo, mas a situação dele é diferente.
“Você não sabe como me sinto,” digo a ele. “Você não sabe.”
Ele me encara silenciosamente, absorvendo isso. “Talvez eu
não saiba exatamente como se sente. Porém, eu sei como é viver
uma vida que você não quer. Você confia em mim?”
Eu olho para ele, assustada. De onde veio isso?
“Sim,” respondo incerta.
Ele sorri, um gentil e belo sorriso. “Bom. Porque eu quero que
você me escute sem ficar irritada ou na defensiva.”
O jeito que ele fala me deixa no limite, porque tenho certeza de
que não irei gostar. Posso apenas dizer isso pelo seu tom de voz.
Porém, antes que eu possa dizer isso, ele continua.
“Nós fizemos merdas assustadoras no Exército. Por causa
disso, sei como o medo se parece. Você tem medo, Maddy. Você tem
medo de enfrentar os seus demônios. E, até que você faça isso, você
sempre estará presa ao passado.”
“A boa notícia é que o medo é uma escolha. Você pode ficar na
frente dele, dar um soco na cara dele e seguir em frente com a sua
vida.”
Eu o encaro drasticamente. “Quer dizer como você fez? Sem
ofensas, Gabe. Mas você não devia estar me dando um sermão sobre
lidar com as minhas merdas. Não quando você não lidou com as
suas próprias.”
Ele me encara, seus olhos endurecendo, depois suavizam.
Como se ele tivesse sido flagrado, depois ficasse puto e impedido de
falar na sequência.
“Você e eu somos duas pessoas com dois problemas diferentes.
E nós estamos falando de você agora. Estou tentando te ajudar. Você
quer a minha ajuda ou não?”
Eu não sei.
Eu o encaro hesitante, meus pensamentos vacilando. Ele me
encara de volta, sem medo de falar a verdade, sem medo de me
irritar, sem medo de nada.
“Eu não sei,” finalmente respondo honestamente. “Eu apenas
não sei.”
Gabe sorri pacientemente enquanto escorrega da madeira e me
puxa.
“Confie em mim, você sabe.”
Enquanto eu o encaro, as suas mãos fortes, seu queixo
definido, seus ombros largos, eu sei que ele sabe o que está falando.
Ele sabe o que é estar aterrorizado com algo, mas não da mesma
forma. Só porque ele tem uma coisa que ele não consegue lidar não
significa que ele não enfrentou o medo milhões de outras vezes com
os soldados. E eu confio mesmo nele.
“Ok,” murmuro. “O que você tem em mente?”
Nós andamos de volta para casa e pelo corredor até os quartos,
a mão de Gabriel no meu braço, ambos para me guiar e para me
manter no lugar quando permanecemos encarando a porta fechada
do quarto dos meus pais.
“Eu mudei de ideia,” anuncio enquanto a porta de madeira
geme na minha frente. Tento virar. “Não quero fazer isso.”
Gabe me segura no lugar.
“Sim, você quer. E você pode fazer isso. Medo é uma escolha,
Maddy. Escolha não ter medo. Você pode começar hoje. Você não
gosta da sua vida agora? Mude-a. Comece encarando esse quarto.”
Puxo uma respiração irregular de volta e viro.
Na minha cabeça, eu imagino meu pai quando ele estava bravo
com a cara vermelha, veia saltando das suas têmporas, enquanto ele
invadia essa porta para procurar a minha mãe. Então, eu o imagino
quando não estava bravo. Calmo, amável, paciente.
O Médico e o Monstro. Sempre tive que analisar com cuidado o
que me lembro, para que eu não ficasse chateada. E estou realmente
cansada de ser mantida uma prisioneira emocional das memórias.
Giro a maçaneta e abro a porta.
Ainda está parado e silencioso ali, quase como um mausoléu.
Cheiro o ar viciado, olhando as paredes cobertas de papel de parede
rosa claro florido. O quarto é claramente um domínio feminino,
assim como deveria ser, como muitas vezes a minha mãe se isolou
sozinha aqui.
Mila esteve aqui dentro algumas vezes desde que eles
morreram. Mas, além disso, esse quarto está intocável. Dou um
passo para dentro, olhando para as botas do meu pai ao lado da
porta. Suas roupas sujas no seu cesto. A maquiagem da minha mãe
espalhada pela sua penteadeira. Dou outro passo, depois outro, até
que me encontro sentada de pernas cruzadas na cama deles. Meus
dedos tremem enquanto tento não pensar onde estou.
Em vez disso eu encaro o espaço, voltando ao dia que eles
morreram.
“Eu estava na Times Square quando eles morreram,” digo a
Gabe suavemente. “Eu morava em Nova York. Não estava lá há
muito tempo. Mas continuando, eu estava com um grupo de
meninas da agência de modelos, quando Mila me ligou. Ela estava
tão histérica que eu não conseguia entender o que ela estava dizendo
por um minuto. Mas eu nunca irei esquecer o sentimento de estar no
meio de um lugar lotado e, de repente, se sentir tão sozinha.”
Eles foram embora, Mad, Mila tinha soluçado. Eles apenas
foram embora.
“E por um segundo, apenas um segundo, tudo que senti foi
alívio. Nunca teria que lidar com os dramas distorcidos deles. Mas
eu empurrei aquele sentimento terrível de lado e fiz o que precisava
ser feito. Estava num avião em algumas horas e eu nunca voltei para
Nova York. Minha colega de quarto encaixotou as minhas coisas,
mandou para mim e eu nunca olhei para trás.”
Até agora.
“Sinto muito,” Gabriel sussurra, esfregando as minhas costas
com uma mão e puxando-me para ele com a outra. “Mas na sua
situação é normal. Sentir todo tipo de coisa, não apenas luto.”
Concordo com a cabeça. “A minha cabeça sabe disso. Mas o
meu coração acha que há algo errado comigo.”
Escorrego da cama e começo a mexer na caixa de bugigangas
da minha mãe. Uma gaveta enorme no topo do seu gaveteiro guarda
qualquer coisa que era sentimental para ela. Fotos velhas, pedaços
aleatórios de joias, bilhetes de amor do meu pai.
Eu pego um, a escrita em negrito e rabiscadas mesmo que
estivesse desbotada e antiga.

** Meu amor,
Eu odeio estar longe de você. Cada minuto parece
como uma hora, cada hora como um dia. Em apenas três
dias, nós estaremos casados e nossas vidas poderão
realmente começar.

Espero que você goste das flores.


Todo o meu amor,
Kent **
Meus olhos lacrimejam com o pensamento de que eles foram
felizes um dia, sem problemas ou dramas, sem abusos ou brigas. Eu
mal posso lembrar-me de uma época em que o temperamento do
meu pai não estava pairando sobre as nossas cabeças.
“Minha mãe costumava andar nas pontas dos pés ao redor do
temperamento do meu pai. Ela tentava o máximo para ter certeza
que ele nunca ficasse bravo, porque ela não queria lidar com as
repercussões. Nós aprendemos a fazer a mesma coisa.”
Eu entrego a carta para Gabe e pego outra.

** Nan,
Sinto muito sobre ontem à noite. Desculpe-me, por
ter perdido o meu temperamento. É que, só o pensamento
de você me abandonar, me deixa louco.
Se você me deixar, eu serei nada.
Por favor, me perdoe.
Todo o meu amor,
Para sempre,
Kent **

Uma lágrima cai calorosamente sobre a minha bochecha e eu a


limpo furiosamente, antes de jogar a gaveta inteira pelo quarto, o
mais forte que consigo. Ela bate contra a parede e tudo dentro
explode como uma nuvem de porcaria sobre o chão.
“Vai se foder Pai,” digo a ele como se ele estivesse parado ao
meu lado. “Foda-se, foda-se, foda-se.”
Gabe pega a carta e olha para ela. Então, me encara. “Sua mãe
quase o abandonou?”
Concordo com a cabeça, nem mesmo me importando que as
lágrimas estejam caindo livremente agora.
“Uma centena de vezes. Mas ela nunca fez isso. Ela nos dizia
para arrumar uma mala e ir para o carro, nós fazíamos. Mas nós
esperávamos lá fora por horas, porque eles gritavam e lutavam. Em
seguida, faziam as pazes. E todo tempo, ela se esquecia de que nós
estávamos no carro esperando. À espera que ela fosse forte e
mudasse as nossas vidas. Mas ela nunca o fez. E eu a odiava por
isso.”
Estou praticamente gritando agora. Enquanto Gabe observa
espantado, eu abro a porta do closet deles e começo a arrancar as
roupas dos cabides e das gavetas, jogando cada peça numa pilha
gigante no chão do quarto. Jogo os sapatos dela, as camisas de
trabalho dele, os bonés deles, a roupa intima dela.
Tudo vai para lá.
Tudo.
Depois de um tempo, eu olho para a pilha. É enorme.
“Você esqueceu essas,” Gabe diz baixinho, segurando um bolo
de cartões de visita velhos, segurados juntos por um elástico de
dinheiro. Eu gesticulo em direção à pilha.
“Jogue-os ali.”
Ele joga ali e nós dois assistimos como escorrega para baixa da
pilha montanhosa.
Gabe olha para mim. “Não achava que você jogaria tudo isso
em uma só braçada. Você é corajosa, Maddy.”
“Mas que merda eu irei fazer com todas essas coisas?” eu
murmuro. A resposta surge para mim imediatamente e é a única
coisa que faz sentido. Eu olho para Gabe.
“Fogueira.”
Uma luz estranha brilha nos olhos de Gabe e ele concorda com
a cabeça entusiasmadamente.
“É perfeito. Vamos carregar essas coisas até a praia e queimar
tudo.”
Nós carregamos até a última peça da pilha até a praia úmida.
Enquanto fazemos isso, eu lembro todas as fogueiras que Mila e eu
tivemos aqui, através dos anos, com os nossos amigos. De fato,
Ethan veio a muitas delas conosco. Nós sentávamos aqui no escuro,
fazendo marshmallow e indo. Aconchegávamos-nos ao redor do fogo
com qualquer namorado que tínhamos na época.
Essa fogueira é muito diferente.
Primeiro, é plena luz do dia.
Segundo, está queimando em efígie.
Eu viro para Gabe, jogando para ele uma caixa de fósforos e
uma garrafa de fluído de isqueiro.
“Irei queimar tudo sobre os meus pais que me machuca, tudo
que me causa problemas. A minha mãe pode não ter sido forte o
suficiente para lidar com isso,” digo a ele. “Mas eu sou. Foda-se
isso.”
Gabe concorda com a cabeça, satisfeito e contente com a
minha atitude. “Isso é exatamente o que eu quis dizer, Maddy. Medo
é uma escolha.”
Ele joga um par dos sapatos do meu pai na pilha.
“Esse é o seu pai indo embora após cada briga, depois de cada
vez que ele batia na sua mãe,” Gabe anuncia. Mesmo que ele não
estivesse lá, é como se ele pudesse vê-lo direto na minha vida e saber
o que aconteceu. Porque isso é exatamente o que meu pai fazia. Ele
ia embora todas às vezes, deixando a minha mãe em casa chorando.
Deixando-me em casa para consolá-la.
Olho para Gabe em apreciação. Então, jogo um punhado de
roupas e cintos da minha mãe na pilha. “Isso é por cada vezes que vi
o nariz sangrando da minha mãe pingar no seu vestido... Depois que
meu pai bateu nela.”
Gabe concorda com a cabeça e nós tomamos turnos para
adicionar coisas na montanha de memórias.
Palavras gritadas entre meus pais, uma memória turva da
minha mãe enrolada chorando, uma imagem do meu pai batendo
nela... Tudo isso vai para a pilha, empilhados como o lixo que é.
Flores secas do closet dela – mandadas como um pedido de
desculpas por bater nela – vai para a pilha também. Seus pedidos de
desculpas não eram bons o suficiente.
Então, eu irei queimá-los agora.
Promessas quebradas que ele nunca iria machucá-la de novo,
promessas quebradas de que ela iria abandoná-lo se ele fizesse...
Tudo isso vai para a pilha. Há um monte delas.
Quando não há nada mais a acrescentar, eu assisto enquanto
Gabe joga o fluido de isqueiro sobre toda a pilha. Então, vira para
mim, segurando um fósforo.
“Você faça isso,” ele me diz solenemente. “Você merece fazer
isso.”
Encaro a montanha gigante e farejo o cheiro acre de fluido de
isqueiro enquanto eu percebo que isso simboliza um monstro. Um
monstro que eu permiti que controlasse a minha vida por muito
tempo.
É por causa dos meus pais que tenho medo de me envolver
com qualquer um. É por causa deles que qualquer relacionamento
que me envolva irá me machucar, como meu pai machucou a minha
mãe. Mesmo que meu pai me amasse, ele me danificou muito mais
do que ele imaginava.
Eu não merecia isso.
Jogo o fósforo e assisto, enquanto a pilha inteira explode em
chamas. O calor chamusca o meu cabelo, lavando sobre mim e eu
dou um passo para trás. Gabe me puxa para o seu peito e juntos
assistimos as minhas memórias ruins queimar.
É surpreendentemente catártico.
Assisto a fumaça escura ondular e subir para o céu branco,
carregando as lembranças ruins junto com ela. Tento imaginar que
tudo o que tem permanecido fortemente em meu coração há anos,
está flutuando para longe... Longe, muito longe de mim. Não é meu
fardo para carregar. Ele era deles e eles não estão mais aqui.
Eles não estão mais aqui.
Mas eu estou. Tenho meus próprios erros para cometer... Mas
eu tenho certeza pra caralho que não irei fazer os mesmos que os
deles.
Nós sentamos ao lado da fogueira furiosa por pelos menos uma
hora. Quando o fogo diminui, esguicho mais fluido de isqueiro sobre
ele, fazendo com que ficasse raivoso de novo. Quero ter certeza que
toda memória ruim foi queimada completamente.
“Você se sente melhor?” Gabe pergunta baixinho enquanto
andamos de volta para a casa.
Eu percebo que sim. Sinto-me surpreendentemente mais leve.
Não sou uma terapeuta, mas o que acabei de fazer é terapêutico pra
caralho.
“Estou,” digo a ele. “Isso foi uma ótima ideia. Obrigada.
Desculpe-me por ter me visto daquele jeito. Você teve que ver toda
aquela... Merda. Mas eu te agradeço por me fazer enfrentá-la. Sinto
muito por ter ficado brava com você.”
Gabe esfrega a sua mão no meu ombro. “Você não estava
realmente brava comigo e eu sei disso. Estou apenar feliz que
ajudou,” ele me diz.
Nós esquentamos alguns burritos congelados e arroz. Então,
sentamos enrolados no sofá até a hora de dormir. Depois de
subirmos na cama, Gabe me segura até que eu pegue no sono. Mas,
ele me deixa depois disso.
Sei disso porque ele me acorda a noite, pulando, virando e
resmungando no sofá. Ele chama por Brand. Ele murmura
incoerentemente. Esse é o Gabe que eu vi na primeira noite. Esse é o
Gabe de quem ele queria me esconder. Esse é o Gabe que ele não
quer enfrentar.
Eu o assisto por algum tempo antes de cobri-lo e voltar para a
cama. Não há nada mais que eu possa fazer. Ele me deu o empurrão
que eu precisava para enfrentar os meus demônios... Porque eu
estava pronta para isso. Essa é a diferença entre ele e eu.
Ele claramente não está preparado para enfrentar o seu
próprio. Eu só me pergunto se ele nunca vai estar. E se ele não
estiver o que isso significa para mim? Ou para nós?
Não é algo que eu tenha respostas. Então, eventualmente, eu
desisti de pensar e cai em sono profundo.
Quando acordamos de manhã, a água diminuiu de nível. Eu
não estou muito feliz com isso. Por outro lado, serei capaz de ir
visitar Mila.
Porém, por outro lado, essa pequena bolha em que eu estive
com Gabe irá explodir e nós teremos que voltar a realidade. O
problema é: não tenho certeza se estamos prontos para isso.
Capítulo Catorze

Gabriel

Que diabos está acontecendo?


Meus pensamentos estão uma confusão enquanto malho na
academia. Não posso acreditar que isso está acontecendo comigo. Eu
não me apego a mulheres. Nunca. Eu fodo elas e eu gosto delas,
porra. Mas me apegar?
De jeito nenhum.
Por que, então, estou totalmente encantado por Madison? É
um exercício de futilidade, porque eu não posso ficar com ela. Estou
muito fodido e ela ainda não sabe da missa a metade. Não está certo.
Mas puta merda, isso parece tão certo.
Todas as pessoas neste mundo estão quebradas, Gabriel?
Engulo seco enquanto acerto o saco de pancada ainda mais
forte. Sim, todo mundo está quebrado, mas eu estou mais quebrado
que todos.
Bile sobe na minha garganta e engulo de volta. Ela não tem
ideia do monstro que eu sou. Se ela soubesse, provavelmente iria
chutar minhas bolas e correria muito em outra direção.
Isso é o que ela deveria fazer.
Você é alguém que não vai me machucar.
Cristo. A memória de suas palavras tem um efeito visceral
sobre mim, apertando minha barriga. Que diabos estou fazendo
aqui? Porra, por que estou com ela? Não está certo.
Não está certo.
Mas quando a segurei ontem à noite, tudo fazia sentido no
mundo. E quando eu penso em deixá-la tudo parece uma merda. Eu
realmente sou egoísta a ponto de querer mantê-la comigo, mesmo
sabendo que eu não estou apto para ficar com ela?
A coisa ruim te pegou.
Esmurro o saco, duro bastante para tirar a tensão dos meus
ombros.
A coisa ruim te pegou.
Esmurro o saco até que não conseguir mais, até meus ombros
estarem fracos e meus braços moles como borracha.
A coisa ruim te pegou.
Caio no chão, encostando-me à parede enquanto recupero meu
fôlego.
A coisa ruim te pegou.
Eu sou a coisa ruim.
Vou para o chuveiro. Em seguida, pego meu telefone e ligo
para Jacey.
"Ei, irmã. Quer ir atirar?"
"Claro. Encontre-me lá em uma hora?"
"Sim."
Eu a ensinei a atirar quando ambos ainda estávamos no
colégio, quando tinha a experiência de um bebê. Quando pensava
que ser oficial das forças armadas seria o auge da minha vida. Faria
de mim um homem. Não fazia ideia que isso iria acabar comigo.
Entro em casa para pegar um Colt AR-1519 e várias caixas de
munição em meu baú antes de ir em direção ao clube de tiro.
Ao longo dos anos Jacey e eu passamos centenas de horas
fazendo buracos em alvos, apenas para colocar nossos pensamentos
em ordem. A repetição de tiros é reconfortante e familiar. É uma
coisa que podemos fazer juntos, uma coisa que ambos gostamos.
Quando eu chego ao campo, Jacey já está lá, junto com a porra
da sua arma, uma nove milímetros cor-de-rosa que eu sempre
implico. Ela se vira quando me aproximo, tirando seu cabelo loiro do
rosto para que ela possa me ver.
"Então, o que há de errado?"
Olho para ela enquanto coloco minha sacola no chão.

19
Rifle.
"Que porra é essa? Você acha que tenho ovários agora? Que eu
vou falar sobre os meus sentimentos e toda essa merda?"
Jacey sorriu. "Não... Vamos explodir alguma merda em
pedaços. E então, nós podemos falar sobre seus sentimentos e toda
essa merda.”
Balancei minha cabeça e coloquei meus tampões no ouvido.
Pelas próximas horas eu atiro nos alvos transformando-os em
pedacinhos. É extremamente gratificante fundir furos através do
centro do alvo, hora após hora. Quando Jacey finalmente está sem
munição e estou bem perto, ela se vira para mim, tirando um de seus
tampões de ouvido.
"Você quer jantar?"
Concordo com a cabeça. "Sim."
Nós fomos para uma pequena lanchonete de hambúrgueres
um pouco mais para baixo na estrada, onde Jace pediu um
hambúrguer triplo junto com uma marguerita. Fico olhando para
ela, incrédulo. Enquanto eu peço: um hambúrguer duplo com anéis
de cebola e uma cerveja.
"Faz um mês que você não come?" Pergunto à medida que
sentamos numa mesa de vinil rachada.
"É aquela época do mês, Gabe", ela me diz com um sorriso. "Eu
poderia comer duas vacas e um bezerro também."
Ugh. "Muita informação, Jace. Sério."
Ela apenas ri.
"Por que estamos aqui, Gabe? Sério. Eu sei que algo está
errado. Você pode muito bem me contar, ou você pode me deixar
arrancar a verdade de você. De qualquer forma eu vou ficar
sabendo."
Reviro os olhos. Ela, na verdade, adora a parte de me torturar.
"Estraguei tudo, Jace." Finalmente admito. "Faz tempo.”
Ela levanta a sobrancelha loira. "O que aconteceu?"
Suspiro e tomo um gole da minha cerveja, curtindo o frio da
cerveja deslizando na minha garganta.
"Madison."
Jacey instantaneamente me olha. "O que você fez? Juro que
vou castrá-lo se machucá-la. Eu falo sério."
Balancei minha cabeça, olhando para a mesa, mexendo a
cerveja no copo.
"Eu não a machuquei ainda. Mas eu vou."
Jacey está intrigada agora. É evidente que ela me olha em
confusão. "Eu não entendi. Se você não a machucou ainda, então
porque você tem que machucá-la?"
A nossa comida chega e Jacey mergulha nela, mais feliz do que
pinto no lixo.
"Você não entende", finalmente digo-lhe com um suspiro. “Eu
estou fodido. Quando você olha para mim, você vê o seu irmão mais
velho, o mesmo Gabe. Mas não sou mais aquele cara. O que
aconteceu com Brand e eu... Seriamente me quebrou. Maddy não
merece alguém como eu."
Jacey para de mastigar e olha para mim. "Por que você não
deixa Maddy decidir isso?", ela sugere. "Você disse a ela o que
aconteceu com você?"
Balancei minha cabeça. "Não."
Jacey inclina sua cabeça, me examinando. "É muito ruim?
Sério, quão ruim pode ser? Eu te conheço, Gabe. Você é uma boa
pessoa, inteiramente boa. Nunca teria te apresentado a Maddy, se
você não fosse.”
"Mas é por isso que você não entende Jacey", respondo. "Eu
não sou mais inteiramente bom. Eu só não sou."
"Você matou alguém enquanto estava nas forças armadas?"
Ela pergunta curiosa. "É só isso? Porque isso é idiota, Gabe.
Obviamente você iria matar alguém quando entrou para o Exército e
foi para Afeganistão."
Balancei minha cabeça. "Não é isso. E sim, eu matei algumas
pessoas."
"É pior do que isso?" Jacey está incrédula. "Então, talvez eu
não queira saber."
Eu a encaro. "Confie em mim, você não vai querer. Mas eu
tenho um problema e agora eu não sei o que fazer. Eu não queria
ficar tão perto de Madison. Eu realmente não queria. Pensei em ligar
algumas vezes e então voltar para casa. Mas..."
"Mas você realmente gosta dela, não é?" Jacey pergunta
conscientemente. "Eu disse há muito tempo que vocês eram
perfeitos um para o outro."
Suspiro. "Gosto dela. E ela já passou por tanta coisa. Ela não
merece a minha merda. Mas fui egoísta o suficiente para não querer
deixá-la ir embora ainda."
Jacey empurra o prato para longe e me encara sobre ele, com
os braços cruzados e uma expressão séria colada no seu rosto.
"Gabriel Joseph Vicent. Você acha que não merece alguma
coisa boa na sua vida? Você acha que o que aconteceu é tão ruim que
você não pode ser feliz novamente? Porque mais uma vez, isso é
idiota. Você merece a felicidade mais do que ninguém que conheço.
Na verdade, você merece muito mais. Escute-me. Você precisa dizer
a verdade para Maddy. Coloque tudo para fora, conte tudo. Deixe-a
escolher por si mesma se você vale a pena. Você deve isso a si
mesmo e a ela."
Concordo com a cabeça, limpando a boca e jogando o
guardanapo no prato.
"OK", eu exalo. "Talvez você esteja certa."
"Eu definitivamente estou certa", ela responde. "Pelo menos
uma vez é bom dar um conselho ao invés de receber um."
Reviro os olhos. Nós pagamos a conta e, em seguida, saímos
para nossos carros.
"Sério, mano. Ela vale a pena. Ela realmente vale. Ela é dura e
espinhosa do lado de fora, mas ela tem um maldito coração de ouro."
Lembro-me de ontem: ela em pé na frente da fogueira falando
sobre suas memórias ruins e o olhar vulnerável no seu rosto.
Ela é dura e espinhosa por fora. Mas, por dentro é frágil como
o inferno.
E essa é a parte dela que eu tenho medo.
"Obrigado pelo conselho, mana." Eu a beijo na testa. "Estarei
em casa mais tarde."
"E se você não for não se preocupe com isso", ela responde. "Já
faz um tempinho que não vejo Jared. Acho que ele não vai mais
mexer comigo."
"Espero", respondo enquanto entro no meu carro. Antes de
ligá-lo, eu envio uma mensagem de texto para Maddy.
** Quer me encontrar no cais perto da sua casa depois que
sair do trabalho? **
Leva apenas alguns minutos para chegar sua resposta.
** Claro. Por quê?**
Respondo de volta.
** Eu preciso falar com você. **
Uma fração de segundos depois ela responde.
** Hmmm. Ok. Te vejo por volta das 21:30. **
Vou para casa, tomo um banho e enrolo um pouco até a hora
de ir. Vou um pouco mais cedo e sento-me no final do cais com as
minhas pernas penduradas, jogando pedras até que Maddy aparece.
Mesmo se eu não tivesse ouvido a porta do carro batendo no
estacionamento, eu sentiria sua presença. Ela me olha enquanto
anda ao longo do cais para me encontrar. Ela se senta perto de mim,
pega uma pedra da minha mão e joga. Ela pula na superfície da
água, em seguida, afunda.
"Então, o que está acontecendo?" Maddy pergunta em voz
baixa. Pelo olhar no seu rosto, ela provavelmente acha que vou
terminar com ela.
"Lembra quando eu te disse que aconteceram algumas coisas
que não te contei?" Vagarosamente pergunto, jogando outra pedra
na água.
Ela finge pensar sobre isso. "Sim, eu me lembro de algo sobre
isso."
"Bem, eu decidi que você deve saber."
Maddy inspira profundamente e olha para mim.
"Tem certeza?"
Balancei minha cabeça. "Não. Mas você foi tremendamente
valente ontem. Não sou tão covarde que não possa fazê-lo também.
Mas você pode pensar que sou um merda depois que eu terminar de
falar.”
Maddy levanta seu queixo e me olha no olho. "Duvido, mas só
há uma maneira de descobrir."
Tomo uma respiração profunda, e depois outra. O ar da noite é
frio e vagalumes voam ao nosso redor. Por apenas um segundo, eu
contemplo e mudo o foco da minha mente. Mas isso não é uma
opção.
Apenas fale a verdade, seu covarde.
"OK", eu começo. "Você sabe que eu estive no Afeganistão com
as forças especiais. Você sabe que tive que fazer algumas coisas de
merda. Mas teve uma coisa... Uma coisa que aconteceu que fodeu
comigo e com Brand. É por isso que estamos aqui, no conforto de
nossas casas com ar condicionado e comendo comida decente
enquanto os nossos rapazes ainda estão no deserto quente-como-
inferno comendo marmita."
Madison olha para mim, esperando.
"OK", ela diz. “Essa parte eu entendo. Eu sei que se não fosse
algo terrível, você não estaria aqui. Estou pronta para ouvi-lo. Eu
não vou julgá-lo."
Fiquei olhando para ela no escuro. "Eu preciso que você saiba
que aquele foi o pior dia da minha vida. Não posso dizer-lhe tudo,
mas quero que você saiba com o que você está lidando, tudo bem?"
Ela olha para mim solenemente, assentindo.
Aspiro, depois expiro. Minha respiração parece irregular no
silêncio da noite, mas ignoro. Em vez disso, me concentro nas
palavras que estou dizendo, focando em cada uma separadamente
para que possa passar todos os detalhes.
"É difícil saber por onde começar. O Afeganistão foi
brutalmente foda. Acho que posso começar com isso. Quente, suado,
fedorento. Em todos os lugares que fomos tivemos que ficar de
guarda. As pessoas nos odiavam, mas fingiam que não. A
responsabilidade era muito grande. Mas isso eu podia aguentar.
Para sempre, se fosse necessário, porque essa era a vida que eu
escolhi. Era o que eu queria. Mas uma noite aconteceu algo que me
quebrou. Me quebrou completamente Madison."
Faço uma pausa, colocando meus pensamentos em ordem,
organizando-os antes de continuar. Não posso nem olhar para o
rosto de Madison. Eu não quero ver o que ela está pensando.
"Uma noite estava malditamente quente e escura, e Brand e eu
estávamos fazendo patrulha fora de Cabul com o nosso amigo Mad
Dog. Nós estávamos liderando um comboio de quatro Humvees.
Dirigindo-nos a um ponto que iríamos nos separar em quatro
direções. Logo depois que nos separamos, uma bomba explodiu.
Nossa Humvee explodiu em milhões de pedaços e explodiu Mad Dog
também."
Madison prendeu a respiração, esperando silenciosamente por
mais. Engulo o ar.
"Ele era um bom rapaz, Maddy. Um cara bom de verdade. Ele
tinha uma esposa e um bebê o esperando em casa. Ele tinha esse
apelido por beber demais Mad Dog 20 e ele nunca perdia no poker.
Nunca. Ele era um bom amigo. Fui o responsável por tomar a
decisão que lhe explodiu em um milhão de pedaços de merda."
Fico olhando para a água agora, enquanto faço uma pausa para
me recompor. Porque tudo que passa na minha cabeça agora é a
lembrança de seus intestinos empilhados do lado de fora do seu
corpo em uma poça de sangue que parecia preto no meio da noite.
Tudo que passa na minha cabeça agora é demais, todo o resto.
Tudo que não posso contar para Madison. O resto da história.
Maddy inspira, então expira. Posso ver que o que eu contei a
ela foi suficiente.
"Eu sinto muito, Gabriel. Oh, meu Deus. É tão horrível. Eu não
sei o que dizer. Eu sinto muito. No entanto, você não pode se culpar
por isso. De nenhuma maneira isso foi culpa sua."
Olho para ela, seu lindo rosto está marcado, impregnado de
horror.
"É isso mesmo. Cometi um erro. Foi isso que aconteceu
naquela noite. E quando voltei para casa, fui ao funeral de Mad Dog.
Quando tentei entregar a bandeira que cobria seu caixão à esposa

20
Tipo de bebida alcoólica.
dele, ela me olhou nos olhos e disse: ‘Deveria ter sido você.’ Porque
deveria ter sido eu. Ela sabia a verdade."
Ela sabia de todas as coisas que eu não posso dizer a Maddy.
Ela sabia o que realmente aconteceu. Ela leu o relatório do
exército, o preto-no-branco. As palavras que provavelmente
poderiam explicar o incidente.
Um calor passa pela minha garganta, ameaçando fechá-la. Eu
engulo. Então, engulo de novo enquanto tento relaxar e respirar.
Apenas respire, filho da puta.
Maddy envolve seus braços em volta dos meus ombros e me
abraça apertado, sua respiração suave no meu pescoço.
"Você não pode acreditar nisso" ela me diz baixinho com os
lábios roçando meu ouvido. "Você não pode acreditar nisso. Você é
forte e bom, Gabriel. Foi um acidente horrível. Você não foi o
culpado."
Olho para ela de novo, um nó na garganta.
"Eu causei o acidente", digo a ela. "Você não precisa saber
como. O que você precisa saber, no entanto, é que eu voltei para casa
todo fodido. O passado não ficou no passado, Maddy. Voltei para
casa com estresse pós-traumático e ainda não consegui me
recuperar. Não sou mais normal. E não acho que você deva ficar com
alguém como eu."
Maddy olhou para mim com os olhos brilhando de lágrimas
não derramadas, cheia de compaixão por mim. Deveria odiar isso,
mas eu estou tão feliz por não ver julgamento nos seus olhos que não
faço. Estou feliz pra caralho por ver que ela não pensa que eu sou
fraco. Ou patético. Ou todas as outras coisas que passam na minha
própria mente.
"Não, você não é normal", ela me diz com firmeza. "Você é
bom, forte e corajoso. Você coloca sua vida em risco todos os dias
por pessoas como eu, para que possamos dormir com segurança à
noite. Você fez coisas inimagináveis, Gabe. Por pessoas como eu.
Confie em mim, eu quero estar com alguém como você", ela me diz.
"Portanto, nem sequer tente terminar comigo."
Então, seus olhos se arregalam.
"Naquela noite em Chicago. Você estava tendo flashbacks, não
é?"
Concordei com a cabeça, sem olhar para ela. "Isso acontece em
momentos aleatórios. Não tenho como controlar isso. Essa é a parte
mais fodida. Essa é a minha fraqueza."
Maddy olhou para mim. "E você não pode ter uma fraqueza?
Até mesmo Aquiles teve uma fraqueza que era seu calcanhar."
Reviro os olhos. "Eu me lembro. Aquiles morreu por causa de
seu calcanhar."
"É verdade", ela reconhece. "Gabe, você não é fraco. Eu sinto
muito que isso tenha acontecido com você. Você não merecia isso. E
eu odeio que você pense que tem que esconder isso. Não há nada do
que se envergonhar. Ouvi dizer que muitos soldados voltam para
casa com estresse pós-traumático. Mesmo os melhores e os mais
fortes como você."
Só balancei minha cabeça. Não há nada que eu posso dizer
para fazê-la entender como me sinto castrado. Que é uma merda ter
uma fraqueza como esta.
"Como você está fazendo isso?" Ela pergunta hesitante. "Qual
tratamento?"
Balancei minha cabeça novamente. "Eu recusei tratamento
quando voltei para casa. Quer dizer, vi um psiquiatra algumas vezes,
mas não fiz o extenso programa que Brand se inscreveu. É chamado
CPT. Que significa terapia de processo cognitivo ou algo parecido.
Brand me falou que é muito intenso, mas que ainda deveria repensar
sobre fazê-lo. Eu disse de jeito nenhum. Vou lidar com isso sozinho."
"E como você vai fazer isso?" Maddy pergunta de forma
duvidosa.
"Ainda não sei" eu admito. "Mas qualquer coisa é melhor que
CPT."
"Quanto tempo demora o CPT?" Maddy pergunta com
curiosidade. "Você ainda pode fazê-lo?"
"Eu poderia", respondo com cuidado. "Mas eu não quero.
Supostamente é uma semana de puro inferno. Já estive por tempo
suficiente no inferno."
"OK", responde Maddy incerta. "Mas você se lembra do que me
disse ontem? Você disse que enquanto eu tivesse medo de lidar com
meus demônios, enquanto não os encarasse, não me desligaria do
meu passado. Aquelas foram sábias palavras, Gabe. E acho que elas
podem aplicar-se à você também."
Eu balancei minha cabeça. "Seu passado é diferente do meu,
Maddy. Pessoas morreram por minha causa. Não é a mesma coisa."
Ela olha para mim com ar de dúvida, mas não fala nada.
"Tenho certeza que você sabe o que está fazendo."
Eu não.
Mas eu não disse isso.
Em vez disso, olho para ela novamente. "Você acha que eu sou
um idiota louco agora?"
Ela olha para mim como se eu realmente estivesse louco.
"Gabe, eu vi você ficar louco em Chicago. Confie em mim, a
minha imaginação não é muito pior que a realidade. Como você não
disse nada sobre isso, eu pensei que você fosse realmente louco. Mas
você não é."
Eu me levantei e segurei sua mão para ajudá-la. "Você me
odeia agora?"
"Por quê?" Ela está incrédula. "Por fazer seu trabalho? Por
voltar para casa arrasado? Por perder seu amigo? Hum, não. Eu
respeito você ainda mais por tudo que você está passando."
"Talvez a única louca aqui seja você", murmuro enquanto
caminhamos pelo cais.
"Não podemos descartar essa possibilidade", ela concorda. Eu
rio, um som baixo durante a noite, antes de acompanhá-la ao seu
carro. "Vamos para casa", ela sugere. "Fique comigo hoje à noite."
Tenso respondo, por puro hábito. "Acho que não", digo a ela.
"Eu não acho que deveria."
"Mas eu sei o que esperar, certo?" Ela responde. "Pesadelos?
Confie em mim, eu já vi isso. Isso eu vi na primeira noite e vi ontem
à noite também. Você me acordou no sofá. Não é nada tão grande
que não possa lidar."
Imagino aquela menina em Cabul. O sangue escorrendo no seu
rosto. Ela não pensaria dessa forma, tenho certeza. Mas isso foi há
quase um ano.
Certamente eu percorri um longo caminho desde então.
Certamente.
Finalmente concordo. "Tudo bem. Eu te encontro na sua casa."
Maddy sorri maravilhosamente. "Perfeito. Vejo você lá."
Entro no meu carro e fico lá por um segundo. Não posso
acreditar que fiz isso. Posso não ter lhe contado tudo, mas disse a ela
algumas coisas e ela não correu.
Lentamente inspiro, depois expiro.
É realmente possível que tudo fique ok?
Será possível que, como Maddy, eu possa enfrentar o que
aconteceu e seguir em frente com minha vida?
Parece demais para se esperar.
No entanto, isso é exatamente o que estou fazendo.
Ter esperança.
Ligo meu carro e sigo as luzes traseiras do carro de Madison
até a casa dela. No escuro eles até parecem brilhantes olhos
vermelhos me observando.
A coisa ruim te pegou.
Foda-se a coisa ruim.
Capítulo Quinze

Madison

Dirigindo para a minha casa, penso sobre o que Gabriel disse.


E tudo isso, fez todo o sentido.
Não me admira que ele se apavorasse em Chicago quando
nosso táxi explodiu. Foi uma explosão pelo amor de Deus. Deve ter
parecido exatamente como a bomba em Cabul.
Engulo em seco. Ao ouvi-lo falar assim, tão vulnerável e ferido,
me toca em um lugar que eu nunca fui tocada. Um lugar lá no fundo,
onde esposas e mães mantêm seus instintos protetores.
Faz querer-me envolvê-lo em meus braços e abraçá-lo onde eu
possa protegê-lo. Como se eu pudesse. Sei que eu não posso, assim
como eu sei que ele nunca permitiria isso. Ele é tão macho-alfa.
Entro na minha garagem, saio do meu carro e reconheço Gabe
quando ele está saindo do seu Camaro. Puxo o rosto dele para baixo
junto ao meu e beijo-o com força. Ele está surpreso, mas envolve
seus braços em volta da minha cintura, me puxando para mais perto,
devolvendo meu beijo.
Finalmente, ele se afasta. "O que foi isso?"
Balanço minha cabeça. "Pra você.”
Ele me olha com ceticismo, mas não o afastei. Ele
simplesmente me segue para dentro da casa.
Saber o que aconteceu com ele me coloca em um estado
melancólico e tudo que eu quero fazer é sentar-se ao redor dele e
olhar para ele, maravilhada com sua bravura. Mantê-lo apertado. Ou
me amarrar em seus braços. Todas essas coisas me fariam parecer
louca. Então, não faço nenhuma delas.
Em vez disso, sugiro que nós nos fossemos para a banheira de
hidromassagem.
"Você tem uma banheira de hidromassagem com água
quente?" Ele levanta uma sobrancelha.
"Como é que eu não sabia disso?"
"Você nunca veio aqui antes." Dou de ombros.
"Eu não tenho um short", ele me avisa com sua sobrancelha
levantada. Eu sorrio.
"Você não precisa de um."
Puxo-o pela mão até chegar a minha varanda, onde está a
banheira. Fito os olhos surpresos de Gabe.
"Eu nem percebi que foi aqui a primeira noite que nós... Bem,
eu não vi."
Eu rio quando eu saio do meu short. Em seguida, tiro meu top.
"Estávamos um pouco distraídos àquela noite."
Tiro meu sutiã e, em seguida saio da minha calcinha. Fico em
pé na frente dele completamente nua. Ele me olha com admiração.
Seu olhar faz uma varredura lenta para cima e para baixo do meu
corpo.
"Eu estou um pouco distraído agora", ele admite, tirando suas
próprias calças e jogando-a.
Ele me puxa para ele, minha pele fica contra a dele, suas mãos
subindo e descendo nas minhas costas.
"Eu já lhe disse que você tem a bunda mais sexy do mundo?",
ele pergunta em voz baixa.
"Não, você não disse", eu rio. "Mas sinta-se livre para senti-la."
"Você tem", ele anuncia contra meus lábios.
"Eu poderia mantê-la em minhas mãos o dia todo."
"Por que você não a mantém em suas mãos lá dentro onde está
quente?" Sugiro, quando eu me movo longe dele indo em direção à
banheira.
Gabe tira o resto de suas roupas e me segue, e fiel à forma, ele
agarra minha bunda quando eu entro na água fumegante. Uma vez
que eu me afundo na água, eu subo no colo de Gabe.
A sensação de sua pele contra a minha instantaneamente me
desperta e o beijo duro. Por uma razão que não posso explicar,
preciso sentir-me perto dele esta noite. Quero absorver sua dor, toda
a dor que ele está escondendo. Quero levá-la para longe, para que ele
não a sinta mais.
Quero me afogar nele. Quero que ele se afogue em mim. Meu
corpo no seu corpo e nada mais entre nós.
E só há uma maneira que conheço que eu posso fazer isso. Eu
deslizo a minha mão ao longo de seu pau duro. Ouço a maneira
como Gabe puxa a respiração quando eu o toco. Eu amo o jeito que
sua voz soa no escuro. Eu adoro a forma como ele se sente com o
toque da minha mão. Eu amo o jeito que ele me responde.
Eu amo o jeito que ele se abriu para mim. A maneira como ele
confiou em mim.
Eu amo o jeito que ele se senta abaixo de mim, suas coxas sob
as minhas.
Eu o beijo novamente, abafando seu gemido com meus lábios e
é como se ele soubesse os meus pensamentos. Ele sabe todas essas
coisas que eu amo nele.
E não precisa nem dizer.
Sem qualquer palavra, eu me abaixo na água, enterrando seu
pênis profundamente dentro mim. Ele joga a cabeça para trás,
agarrando minhas costas com suas enormes mãos.
"Você não quer uma camisinha?" Ele consegue dizer,
levantando a cabeça e olhando para mim com olhos ansiosos. Eu
balanço minha cabeça.
"Estou tomando pílula. E eu confio em você."
"Foda-se", ele gemeu quando eu me levantei por todo seu
comprimento.
A água faz com que seja fácil de tirar ele de mim e afundar-se
completamente para baixo em cima dele. Posso dizer que ele está
enlouquecendo. Mas isso está me deixando louca também. A forma
como sua pele desliza contra a minha me dá vontade de chorar.
Meus nervos estão tão febril, minhas emoções tão cruas. Eu quero
que ele venha, no entanto. Quero absorver ele dentro de mim. Eu
quero tirar tudo o que ele pode me dar. Quero tomar tudo isso.
"Venha para mim, Gabe”, sussurro contra sua garganta, já que
sua cabeça está inclinada para trás. Eu beijo-a lentamente,
lambendo a umidade de sua pele, provando-o. "Venha para mim."
Ele geme. "Você está me matando."
Eu rio, um som baixo e rouco porque eu estou tão focada.
"Esse é o ponto", digo a ele. "Quero que você venha. Quero sentir
isso."
Eu me movo mais rápido, deslizando para cima e para baixo
em seu comprimento, até ele gemer e agarrar-me. Eu sei que ele está
vindo. Eu sinto-o palpitar e pulsar. Eu sinto o calor dentro de mim e
eu sorrio.
"Agora é tão difícil?" Peço com um sorriso.
Deito em seu colo. Ele sorri.
"Não. Esse é o problema”, ele responde. "É... Não foi nada
difícil. Mas você não veio. Nós precisamos cuidar disso. Dar-lhe um
orgasmo é o justo."
Mesmo quando eu protesto e digo-lhe que ele não precisa, ele
me vira de costas e mantém-me contra ele, enquanto desliza os
dedos em mim. Movendo-se perfeitamente, ele habilmente e
rapidamente me leva ao meu próprio clímax e eu venho e eu venho,
torcendo e retorcendo-se debaixo de sua mão.
"Você é bom nisso", finalmente digo a ele quando eu posso
respirar novamente. Ele sorri.
"Graças a Deus. Você é insaciável."
"O que? Nunca", rio. Ficamos na banheira até que nossos
dedos começaram a se enrugar.
"Acho que nós vamos ter que esvaziá-la, higienizá-la e enchê-la
novamente," digo quando nós saímos e nos enrolamos nas toalhas.
Gabe ri.
"Por quê? Alguém mais além de nós vai usá-la?" Ele tem um
ponto.
Pedimos comida chinesa e nos enrolamos no sofá para comê-
la. Em seguida, nós assistimos a um filme, até que estamos com sono
suficiente para irmos para cama, finalmente... A minha hora favorita
do dia.
Eu amo a noite, porque eu amo se aconchegar contra o peito
firme de Gabe. Adoro quando seus braços estão ao meu redor e ele
me segura perto. Sinto-me segura e protegida, como se nada no
mundo real pudesse me tocar.
E hoje ele não vai me deixar. Ele vai ficar comigo a noite toda.
É um pensamento que me faz sorrir.
Enquanto eu estou deitada nos seus braços, eu escuto os grilos
cantando na minha janela e a queda do lago contra a costa,
embalando-me para dormir. Escuto o ritmo da pulsação de Gabe e
os sons de sua respiração enquanto ele desliza ainda mais em seu
sono.
Não sei quanto tempo se passa antes de eu segui-lo. Eu não sei
quanto tempo se passou até que eu sou despertada. Mas isso só me
dá um breve segundo para perceber que eu não consigo respirar. As
mãos de Gabe estavam em volta do meu pescoço e seus dedos
apertando minha garganta. Acordei completamente assustada, me
debatendo contra ele enquanto eu tento respirar, mas seus braços
são como se fossem feito de aço e eu não posso com eles.
“Gabe" Eu grunhi. “Gabe! Sou só eu. Acorde."
Mas o olhar em seus olhos escuros é vidrado, ele não está
acordado. E ele acha que eu sou claramente alguém diferente.
"Foda-se", ele grita para mim, o rosto contorcido com raiva.
"Por que você fez isso? Ela era apenas uma garota. Você é a porra de
um assassino!" Ele força ainda mais o seu aperto e eu não posso
mais respirar. Empurro-o tão forte quanto posso, até que minha
visão começa a turvar e escurecer.
"Gabe" Suspiro desesperada.
Meu peito sente-se quente pela falta de oxigênio e meus dedos
e pernas ficam dormentes. Não posso sentir as minhas mãos
suficientes para empurrá-lo. Minhas pálpebras estão muito pesadas
para mantê-las abertas, e eu sei sem sombra de dúvida que se eu
fechá-los, eu não poderei nunca mais abri-los novamente.
"Gabriel, por favor..."
Não posso falar mais. O aperto de Gabe na minha garganta é
muito forte. Não posso me mover. Ele é cinquenta vezes mais forte
do que eu sou.
E eu não posso respirar. Quando eu fecho meus olhos e tudo
fica preto, sei que morrer é o que ele gostaria.
Capítulo Dezesseis

Gabriel

Em volta de mim há uma fumaça espessa, o que torna


impossível ver e mais impossível respirar. Jogo minha cabeça mais
perto do chão enquanto me arrasto com meus cotovelos. Quanto
mais baixo eu fico, mais limpo é o ar. O cheiro de gasolina e de
borracha queimada é quase sufocante e tento puxar pequenas
respirações.
“Brand!" Chamo tão baixo quanto posso. Não sei quem mais
está se escondendo nas sombras, quem mais está nos observando,
esperando para atacar.
"Brand!"
Ainda não posso ver, mas eu ouvi um gemido, baixo e
irregular e eu continuo engatinhando para encontrá-lo.
A escuridão torna impossível ver e o fogo que queima
crepitante faz com que seja quase impossível de ouvir.
"Foda-se", murmuro quando uma peça metálica corta e
perfura com profundidade a minha coxa. Eu me abaixo para
retirá-la e minha mão volta sangrenta. Eu sei que estou em estado
de choque, porque eu não sinto nada, coisa nenhuma, apesar de eu
estar coberto de sangue. Eu o provo, o gosto metálico enferrujado,
escorrendo pela minha garganta. Não sei quanto tempo mais eu
vou ficar consciente porque minha visão continua indefinida dentro
e fora. Isso me deixa nervoso que eu só posso ouvir uma pessoa. O
ruim foi à explosão. E se alguma coisa aconteceu com Brand, eu
nunca vou me perdoar. Deveria ter visto isso chegando. Deveria ter
agido mais rápido. Se apenas aquela pequena menina não tivesse
me olhando tão malditamente assustada.
"Não" Digo a Deus. “Ele não. Por favor."
Fico rastejando pela terra e finalmente, uma pausa para a
fumaça. A lua brilha clareando o suficiente para que eu possa ver a
situação um pouco melhor. Vejo a forma de Mad Dog, deitado a
alguns passos de distância. Suas pernas não estão mais presas ao
seu corpo, seus intestinos estão saindo de seu torso, e como uma
piscina em sua volta, seu sangue parece tão escuro como a noite.
Foda-se.
Ele está morto e é a porra da minha culpa. Mas não posso
ajudá-lo agora. Preciso encontrar.
Brand.
Viro para a direita à procura dele. Não vejo nada. Eu olho a
distância, tanto quanto eu posso ver. Estou aliviado ao ver um
movimento lento lá na frente. A perna, a bota de combate,
colocando o exército em movimento. Ele se move novamente.
Brand.
Obrigado Deus.
Estou tentando chegar nele, mas quando chego do outro lado
da garota, seus olhos estão abertos e vidrados e sua cabeça está
separada de seu corpo.
Eu sei que eu desmaiei, porque a próxima vez que abro meus
olhos, um homem está de pé em cima de mim, vestido com traje
tradicional afegão. Ele olha para mim sem dizer nada e eu sei
instintivamente quem ele é. Ele mandou a menina para nos atacar.
No entanto, ele não é real. Ele não é real, porque ele não estava lá
naquela noite. Minha mente está criando-o.
Mas real ou não, eu quero matá-lo pelo que ele fez.
Empurro com os meus pés, independente da minha dor,
independentemente de qualquer coisa, exceto pela raiva que está
correndo dentro de mim. Envolvo minhas mãos em torno de sua
garganta.
"Seu filho da puta," assobio. "Ela era uma garota. Você é um
maldito assassino. Ela não tinha que morrer por suas crenças
equivocadas porra. Você é louco."
Aperto mais forte quando ele tenta falar.
"Foda-se!" Grito para ele. Posso ver que minha mão está
coberta de sangue.
"Ela era apenas uma garota. Você é a porra de um
assassino!"
Quero esmagar seu pescoço. E eu vou fazê-lo. Mas primeiro
eu quero que ele sofra. Ele precisa sofrer pelo que fez. Aperto mais
forte apreciando a forma como a vida está sendo retirada de seus
olhos, a forma como a respiração sai de seus pulmões indefesos. Ele
merece dor. Ele merece tudo isso.
"Gabriel, por favor," ele implora em um forçado sussurro.
Aperto mais forte e o homem finalmente vai amolecendo em
minhas mãos. É só então eu percebo uma coisa.
Ele não deveria saber o meu nome. Abro os olhos para
encontrar o pequeno pescoço de Madison em minhas mãos, os olhos
fechados, seu corpo mole. Um choque me atinge rápido e forte e eu
mal posso respirar com a constatação do que eu fiz.
Jesus Cristo, eu matei Madison.
Capítulo Dezessete

Madison

Estou no escuro, flutuando em uma lagoa ou estou no final de


um túnel escuro? Ou, talvez, no início de um. Para ser honesta, eu
realmente não sei onde estou. Mas tudo está nublado, quente e
macio. Nunca quero ir embora. Nada pode me ferir aqui. Eu sei
disso. Posso sentir isso.
Mas então, alguém me sacode, agarrando os meus ombros,
com seus dedos cavando em meus braços. Há uma respiração
irregular no meu ouvido e um resmungo.
"Santo Deus! Foda-se! Foda-se! Santo Deus!" As palavras
correm juntas rápidas e em pânico. E eu conheço essa voz.
Estou equilibrada em um precipício.
Porque é Gabe? Ele tentou me matar. Ele é louco, afinal.
Se eu abrir meus olhos, eu estarei de volta com ele. Vou ter que
lutar pela minha vida. E é o que eu realmente quero? É tão
confortável aqui. Não doeu. Está tudo feito.
Mas se eu ficar aqui, tudo está acabado. Eu nunca vou ser
nada.
Meus braços estão moles e meu corpo entorpecido quando eu
faço a única coisa que posso fazer.
Abrir os olhos.
Capítulo Dezoito

Gabriel

"Santo Deus! Foda-se! Foda-se! Santo Deus!"


Madison está mole em meus braços, sem se mover.
"Maddy acorda." Imploro a ela, meus dedos cavando em seu
ombro. "Acorde. Deus, por favor... Acorda."
Por favor.
Deus.
Ela está mole, pálida e frágil. Seus olhos estão fechados, seus
cílios pressionados contra o seu rosto.
Ela está muito quieta, muito quieta. Porque Deus não escuta
minhas preces?
Curvo a minha cabeça, ouvindo a respiração, sentindo-a por
um instante.
Nada.
Mas espere.
Sim, ela está lá, mas por pouco.
"Maddy", imploro, uma última vez antes de perder
completamente a minha merda. Não posso respirar. Não posso
pensar. Pressiono meus lábios em sua testa, dizendo o nome dela
contra sua pele. "Deus, por favor." Peço mais uma vez por ela.
E assim, ela abre os olhos e olha nos meus.
"Gabe", ela pede grogue, suas mãos pressionando sua garganta
como se o esforço para falar fosse muito.
Puxo-a para o meu peito, segurando-a firmemente. Meu
coração dispara enquanto tento fazer-me acreditar que eu não queria
matá-la.
Isso é real? Porque eu não sei mais.
Não à noite. Não enquanto eu estou dormindo.
"Sinto muito," digo a ela bruscamente, respirando em seu
cabelo. "Jesus, sinto muito."
Leva-me um minuto para perceber que ela está se esforçando
para fugir, suas mãos empurrando contra meu peito. Assustado, eu
solto-a e ela foge para longe de mim, como um animal encurralado.
"Que porra é essa, Gabe?" Ela pergunta loucamente, as mãos
dela ainda segurando sua garganta. “O que foi isso?"
Quando eu olho em seus olhos selvagens, percebo a pior coisa
possível que eu posso ver. Não raiva, não o ódio, não a culpa, mas o
medo. De mim.
E com isso, eu sei que tudo é real. Tudo isso é real. Tudo.
Meu instinto contrai com um vício21, aperto e eu engulo duro,
o queixo tremendo. Então, a verdade me atingiu. Não posso nem
responder.
Ela olha para mim, ainda em pânico. "Saia daqui!", ela grita.
"Basta sair."
Estou atordoado, congelado no lugar, de modo que ela se move
em vez disso, lutando para ficar de pé, correndo para a porta do
quarto. Vejo-a fugir e eu faço a única coisa que eu posso fazer,
porque eu não posso deixá-la sair assim.
Não quando ela não entende. Ela precisa entender. Disparo
através do quarto e agarro-a, segurando-a contra mim, impedindo-a
de sair. É a única coisa que posso pensar em fazer.
Ela se esforça, girando em meus braços, bate no meu peito,
chutando e arranhando.
"Vamos!", ela grita, as unhas arranhando meu rosto. "Vamos!"
"Maddy pare", imploro rapidamente, ignorando meu rosto
queimando. "Basta parar.”
Não vou te machucar. Eu só quero explicar. “Eu juro por Deus
que não vou te machucar."
Ela para e olha para mim com incerteza.

21
Ele tem o vicio de apertar a barriga.
"Vamos. Vamos", ela exige novamente. "Se você me soltar, eu
vou ouvir".
Imediatamente a solto, ela ainda está imóvel na minha frente.
"Viu?", pergunto. "Prometo a você. Não vou machucá-la. Eu só
quero explicar. Deus, por favor, Maddy."
Seus olhos estão firmes, mas eles suavizaram um pouco
enquanto eu falo.
"Que diabos foi isso?" Ela exige. "Diga-me agora."
"Maddy". Mas minha voz falha e eu tenho que tentar
novamente. "Maddy, isso foi... É a parte que eu não te contei. Essa
foi a coisa ruim. Ela me pegou e não importa o quanto eu tento ficar
longe dela, eu não posso. Nunca vou conseguir fugir longe, porque
eu sou a única coisa ruim agora."
Estou tagarelando, sem sentido. Mas eu não sei como corrigir
isso, porque tudo que eu quero é que ela ouça-me. Para saber o que
eu sou. O rosto de Maddy estremece. Ela fecha os olhos e em
seguida, os abrem. "A única coisa ruim?"
Incrédulo, duvidoso. Eu tento respirar quando eu aceno.
"No Afeganistão, uma mulher...” Depois, ela me disse que a
coisa ruim é que me pegou. Mas ela estava errada. “Sou a coisa ruim,
Maddy. E eu não deveria estar em qualquer lugar perto de você”. Eu
tento dizer. “E agora você sabe. Eu te machuquei. Jesus Cristo, eu
não quis te machucar. É por isso que eu não queria dormir com você.
Isso acontece quando eu durmo... Os terrores noturnos. Eles são tão
reais e eu não sou eu mesmo. Não sou eu mesmo."
Fecho meus olhos, odiando o vermelho ardente por trás de
minhas pálpebras, odiando a pressão da minha garganta, do meu
coração. Odiando que eu não posso respirar. Odiando essa porra de
fraqueza. Odiando-me.
Mas as mãos frias de Maddy estão em mim agora. Ela as aperta
quando seus dedos roçam meu rosto, acariciando minha testa. Ela
abaixa a cabeça e sussurra no meu cabelo.
“Está tudo bem, Gabe. Entendo. Você não quis me machucar.
Eu vejo isso agora." Eu sei, ela está com medo. Eu posso vê-lo na
forma de como seu corpo está tremendo. O modo como seus olhos
estão encobertos, defendendo-se, do jeito que ela sempre tão
ligeiramente esquiva-se para longe de mim, como se estivesse pronta
para fugir a qualquer momento, se necessário.
Mas mesmo assim, apesar de seu medo, ela está aqui.
Confortando-me.
"Você está bem", ela diz de novo, e eu não estou
completamente certo se ela está tranquilizando a mim ou si mesma.
"Mas você não está", digo a ela em angústia, olhando as marcas
roxas em seu pescoço.
Elas estão na forma perfeita de minhas mãos.
"Jesus Cristo."
Minha cabeça cai em minhas mãos.
"Agora você vê?" Pergunto-lhe. Minha garganta está tão seca
que é difícil falar. "Você vê? É por isso que você não pode dormir
comigo. É por isso que você não deve estar comigo."
Ela levanta minha cabeça e puxa-me, segurando. Agora estou
praticamente deitado em seu colo. Sua respiração é rápida, a minha
está irregular. Tentamos nos acalmar enquanto nós dois tentamos
processar.
"Diga-me o que aconteceu", ela diz sem rodeios. "Diga-me o
resto. Por favor. Estou tentando ficar calma aqui, mas eu estou em
uma espécie de pânico. Preciso entender."
Um flash do rosto da garotinha aparece na minha mente, os
olhos escuros e aterrorizados. Todos os corpos, todo o sangue, o
cheiro da carne queimada. A fumaça.
Cristo.
Fecho meus olhos e aperto-os, mas tudo ainda está lá. Ela
ainda está me assombrando e eu sei que sempre vai.
Abro os olhos e olho para Maddy. Ela aguarda com
expectativa, uma mão contra a garganta. Respiro. "Na noite em que
o nosso Hummer explodiu", começo bruscamente, "estava tão
empoeirado, empoeirado pra caralho. Nós mal podíamos ver com as
mãos a frente dos nossos rostos e a escuridão não ajudava em nada.
Estava conversando com Brand, de olho no horizonte, quando um
movimento chamou minha atenção. Algo fez o cabelo na parte de
trás do meu pescoço se levantar. Eu sabia que era algo ruim. E foi.”
Faço uma pausa por um segundo e há um silêncio profundo
entre nós.
"O que foi?" Maddy sussurra seu rosto pálido, hesitante. Ela
não quer saber, mas ainda que ela não queira, ela precisa saber e eu
tenho que dizer a ela. Ela merece mais.
Gostaria de fechar e apertar meus olhos, querendo nada mais
do que bloquear minha memória e colocá-la pra fora, mas é claro
que eu não consigo.
"Era uma menina. Ela estava saindo das sombras. Eu tinha que
me concentrar para ver seu rosto e quando eu fiz, eu vi como ela
estava apavorada. E então eu vi o porquê. Ela tinha uma bomba
amarrada ao seu peito."
Maddy suspira. Então, congela as mãos fixadas em sua
garganta enquanto ela espera eu continuar.
"Se ela detonasse a bomba Maddy, eu sabia que tudo iria nos
separar. Eu sabia disso, mas de qualquer maneira eu hesitei. Eu não
queria matar a criança.”
Faço uma pausa e engulo em seco.
Posso ouvir a minha língua movendo-se contra o lado dos
meus dentes porque minha boca está tão seca.
“Eu a vi por um segundo. Apenas um segundo, esperando para
ver o que ela faria. Fiquei paralisado, Maddy. Cada parte do meu
treinamento foi interrompido em minha mente, porque ela era
apenas uma criança do caralho. Vi seus dedinhos segurando o
detonador. Eu os vi tremer. E eu sabia que ela não queria apertar o
botão.”
"O que você fez?" Maddy pergunta hesitante, embora eu possa
ver nos olhos dela que ela já sabe.
Engulo. As lembranças me queimando.
"Eu assisti através da visão no meu rifle. Eu gritei para ela
parar. E ela olhou para mim. Seus olhos estavam me pedindo.
Implorando. Negro como a noite e cheia de medo. Terror. E eu sabia,
naquele segundo, que ela tinha mais medo de quem armou a bomba
ao seu peito do que o medo de morrer. Eu sabia que ela estava indo
para detoná-la. Seu dedo se contraiu e eu puxei o gatilho."
Fecho meus olhos, tentando não visualizar minhas memórias,
tentando não lembrar do cheiro horrível no ar naquela noite. O
sangue.
"Tudo explodiu. Tudo. Não podia ver. Não podia sentir. Não
conseguia pensar. Eu rastejei através da fumaça e da poeira. Quando
encontrei Mad Dog, ele estava morto. Suas pernas estavam
espalhadas e suas vísceras estavam todas depositadas no chão ao
lado dele. Havia muito sangue lá. Eu podia sentir isso na minha
boca. Ainda posso sentir o gosto na minha boca. Cada noite, mais e
mais."
"A garota?" Sussurra Maddy.
"A menina... Ela estava em pedaços. Encontrei a cabeça. O
olhar em seus olhos não sai da minha mente. Seus olhos ainda
estavam me implorando para ajudá-la e eu não podia. Eu nunca vou
conseguir ficar longe dela."
Madison para de respirar enquanto ela olha para mim com
horror. "Oh meu Deus. Gabe. Por que você não me contou sobre
isso? Isso é... Eu... É horrível. Deus."
Fecho meus olhos novamente. Quando eu vejo o rosto da
menina de novo, congelado nesse momento. Pele escura, olhos
negros e grandes, com medo de eu atirar nela. Certamente, antes de
tudo explodir. Pouco antes, tudo se congelou, mantendo-me lá pra
sempre com ela.
Foda-se.
Maddy ainda olha horrorizada, mas seus dedos estão se
movendo novamente, acariciando-me, me acalmando, apesar de seu
horror.
"Você não a matou, Gabe. Quem amarrou a bomba ao seu peito
sim. Não você. Você fez a única coisa que podia."
"Você não viu o rosto dela," eu digo asperamente. "Mas eu vi.
Um pouco antes de ela explodir, ela olhou para mim e tudo
congelou. Havia apenas ela e eu. Estávamos ligados através da lente
do meu rifle. Ela precisava da minha ajuda, mas em vez disso, eu
atirei. Eu vou vê-la todas as noites até eu morrer. Eu não posso
esquecer o seu rosto."
Minha voz se quebra e os dedos de Maddy vagueiam pelo meu
rosto, no meu pescoço, nas minhas costas. Sua voz espalha sussurros
partidos, palavras vazias, porque ela não pode me reparar e ela sabe
disso. Não há nada que ela possa dizer e reparar. Eu sou a coisa
ruim. E agora ela sabe disso.
"Gabe, isso não foi culpa sua. Não foi sua falha." Ela diz mais e
mais e mais. "Gabe... Deus".
"Deus não tem nada a ver com isso", eu digo a ela, cansado.
"Confie em mim. Ele virou as costas para essa merda há muito
tempo. E eu não lhe disse tudo ainda."
Madison congela, aflita, parando seus dedos, o movimento nas
minhas costas. Sua respiração persistente em seus lábios,
horrorizada. "Você não terminou?"
Balancei minha cabeça. "Não. Eu não disse a você a pior
parte."
Maddy fecha os olhos. "A menina era uma distração. Eles
bombardearam nosso Hummer para nos distrair e não ver o que eles
realmente queriam. Eles queriam que a víssemos, mas não
chegássemos lá em tempo suficiente para pará-la."
Fecho meus olhos, tentando não ver tudo de novo. Todos os
pequenos corpos, todos os corpos de mães sobre seus filhos jogados,
todo o sangue. Tanta morte. Engulo. Então, engulo novamente,
provando mais uma vez todo aquele horror.
"Os rebeldes talibãs queriam intimidar uma aldeia próxima
para que apoiassem a sua rebelião. Quando nada mais funcionava,
reuniam as mulheres e crianças e os matavam na frente dos homens
da aldeia. Eles poupavam os meninos... Então, poderiam
transformá-los em rebeldes. Todo o resto foi queimado."
O quarto está tão silencioso como um túmulo. O único ruído
são as respirações duras de Maddy. Seus olhos estão arregalados, as
mãos segurando tão forte as pernas, que os nós dos dedos estão
brancos.
"Gabe", diz ela sem força, mas o que ela ia dizer morre em seus
lábios. Olho em seus olhos.
"Eu deveria ter feito o meu trabalho e atirar na pequena
menina, Maddy. Eu não deveria ter hesitado. Mas, porque eu fiz,
centenas de meninas e mulheres morreram naquela noite. Quando a
bomba explodiu, ele sinalizou para os rebeldes que estavam perto de
que era hora de abater aquelas pessoas. Deixar a bomba explodir
deu-lhes tempo para fazê-lo antes de chegarmos a elas. Se eu tivesse
dado um tiro na menina, ela teria parado a bomba... Parado o
abate... Parado tudo".
Minha voz pausa e a minha cabeça cai em minhas mãos. Meus
olhos estão queimando tanto que eu não posso mantê-los mais
aberto.
"Eles queimaram elas, Maddy. Eles queimaram os corpos. Eles
queimaram os que não estavam mortos ainda. Eu provei seus corpos
no ar. Eu nunca vou esquecer esse gosto. Ou o cheiro, ou os sons das
lamentações dos pais. Nunca ouvi homens gritando daquele jeito.
Foi brutal... Sádico e desumano. E foi minha culpa."
Mantenho meus olhos bem fechados contra as memórias
terríveis. Os pontos turísticos, os cheiros, a paisagem. As pequenas
mãos manchadas de sangue. A carne queimada. Os olhos sem vida.
Os horríveis gritos.
"Nunca ouvi os homens gritando daquele jeito". Eu repito
fracamente. Mesmo agora, eu luto contra a vontade de vomitar, meu
estômago agitado rebelando-se contra mim.
Maddy enterra o rosto no meu ombro, acariciando minhas
costas.
"Não foi culpa sua", ela diz finalmente, suavemente. "Você não
tinha como saber o que estava acontecendo, Gabe."
Eu olho dolorosamente para ela. "Quando você me perguntou
se havia alguma maneira de ter ficado no Exército... É por isso que
eu não podia. Você pode ver agora, certo? Estou seriamente fodido.
Não posso confiar em mim mesmo."
Os olhos de Maddy estão cheios de dor, quando ela olha para
mim impotente. "É claro que você pode, Gabe. Eu confio em você."
Ela está tão focada sobre tudo o que eu disse a ela, que ela
sente-se arrependida por mim. Então, se esquece do que eu acabei
de fazer com ela. Aproximo e toco o hematoma se formando através
de sua garganta. Ela se afasta. Em seguida, se força a permanecer
imóvel.
"Eu sou um monstro, Maddy," simplesmente digo a ela. "E não
importa o que eu quero ser. Eu sou e isso é o suficiente."
"Não diga isso", ela me agarra. "Você não é. Você não é."
Então, por que você não pode me olhar nos olhos?
Suspiro. "Tudo o que eu sou, eu sou um soldado Maddy. Estou
treinado para matar. E no meu sono, quando eu revivo aquela noite
mais e mais, eu sou como um maldito trem desgovernado. Parece
tão real para mim, real pra caralho. Não podemos saber o que eu vou
fazer quando eu acho que estou em uma situação de vida ou morte."
É por isso que você não deve estar comigo. Ela balança a
cabeça, ainda sem olhar para mim.
"Você pode ter sido treinado para matar, mas você também foi
treinado para proteger. Você é um protetor, Gabe. Você estava
protegendo Mad Dog e Brand e os outros três jipes. Você estava
protegendo aquela menina quando você não queria matá-la. Você
não vai me machucar."
"Eu já fiz", insisto, olhando para o hematoma em seu pescoço.
"E nós não temos nenhuma maneira de saber se eu vou fazer isso de
novo, Madison."
Minha voz está angustiada, áspera e cheia de dor.
"Você não vai", ela diz com firmeza, finalmente olhando em
meus olhos. O medo ainda está lá, embora ela esteja tentando
ignorá-lo. Porque eu lhe ensinei que o medo é uma escolha.
Foda-se.
"Nós não podemos saber isso", digo a ela lentamente. Isso é o
que eu digo. Você precisa ficar longe de mim. Isso é o que eu penso.
"Eu sei", ela insiste. A voz inflexível, mas suave e com medo.
Eu tenho que admirar sua lealdade, mesmo se foi atirada em mim.
De repente, estou tão cansado, muito cansado. Cansado do
carregando desse peso. Cansado de se preocupar com o que sou ou o
que eu poderia ter feito. Eu já feri Maddy e essa é a pior coisa
possível. A única coisa que posso fazer agora é ter a certeza que eu
nunca vou fazê-lo novamente.
A determinação me faz me sentir bem. Dá-me algo para se
concentrar.
"Vamos conversar sobre isso na parte da manhã", sugiro,
odiando o modo como essas palavras saíram da minha boca. Eu
odeio mentiras.
"Quero que você descanse. Isso é uma responsabilidade muito
grande e eu sei que a sua obrigação faz sua garganta doer."
Eu a puxo para perto, levantando-a em meus braços e
segurando-a no meu colo. Ela é macia, bonita e confiante, mesmo
quando ela está com medo.
"Você não vai ficar, não é?" Ela murmura. "Você vai sair muito
cedo quando estiver dormindo. Você nunca vai ficar toda a noite de
novo."
Ela parece triste com isso, mesmo que eu poderia
simplesmente tê-la matado.
"Maddy, não se preocupe com isso agora. Apenas durma, dê a
sua garganta um descanso. Não se preocupe. Eu não vou te
machucar novamente."
A culpa por algo que eu não estou dizendo pesa tão fortemente
no meu peito, que eu mal posso respirar. Não vou te machucar,
porque eu estou saindo meu anjo loiro e não vou voltar.
"Não estou preocupada" Madison responde calmamente com a
mão no meu peito. "Não estou preocupada que você vai me
machucar, Gabe."
Mas ela está. Eu sei que ela está. O medo pode ser uma
escolha, mas ela deve me temer. Sou a coisa mais perigosa do mundo
para ela. Se ela não vai reconhecer, então eu vou ter que fazer isso
por ela.
Você é um protetor, Gabe.
Ela está certa. Eu sou. E mesmo que ela não vai compreender-
me, mesmo que ela provavelmente nunca me perdoe, eu vou
protegê-la agora.
Madison leva uma eternidade para cair no sono esta noite, mas
eu não me importo. Eu a abraço e seguro ela em meu colo por horas,
muito tempo depois que ela adormeceu. Eu observo-a, a maneira
como ela se vira para mim instintivamente, o modo como seu corpo
molda-se com o meu, a maneira suave que ela respira durante a
noite.
Minha garganta está quente e apertada quando eu finalmente a
coloco em cima da cama e acomodo-a nos frios lençóis. Em seu sono
Madison está aberta e confiante, sem medo. É a maneira que ela
deve sempre estar. Mas é o jeito que ela nunca será capaz ficar
comigo. Porque eu sou a coisa mais assustadora de todas, a coisa
ruim. E ela sempre terá razão para me temer.
Mas não, se eu não estiver aqui. Eu fico em cima dela, olhando
para baixo, incapaz de engolir o nó que se formou na minha
garganta. Inclinando-se, eu beijo sua testa.
"Eu te amo", eu sussurro.
Com passos largos e determinados, eu caminho do seu quarto.
Não olho para trás.
Capítulo Dezenove

Madison

Oh. Meu. Deus.


Eu ainda estou em estado de choque quando entro no
estacionamento do Hill, completamente alheia à bela manhã em
torno de mim.
O sol espreita por cima do prédio de estuque, fazendo parecer
como se estivesse brilhando. A beleza cênica em torno de mim
parece algo saído de uma pintura, com colinas ao longo da praia e a
água batendo na areia. É a natureza no seu melhor.
Mas isso não importa. Nada importa fora o que aconteceu
ontem à noite.
Enquanto desligo meu carro, olho para o espelho, ajustando o
lenço de seda amarrado ao redor do meu pescoço para esconder a
minha contusão. Toda vez que engulo dói. Quando falo, minha voz é
rouca. É um lembrete desagradável do que aconteceu.
Estou quase feliz que Gabe não estava lá quando eu acordei.
Ele vai pirar mais ainda quando ver o hematoma.
Gabe.
Fecho os olhos, lembrando-me da expressão em seu rosto na
noite passada. O olhar aterrador de um assassino letal. Seus olhos
eram quase negros e preenchidos com o único propósito de me
matar.
Meu coração dispara, enquanto me lembro.
Ele pensou que eu era outra pessoa.
Ele pensou que eu era uma radical Talibã.
Mas isso não faz meu coração desacelerar. Ou a minha
preocupação desaparecer. Ou o meu medo ir embora.
O medo é uma escolha, digo a mim mesma em silêncio.
E ontem à noite eu estava com medo de Gabriel.
Assim como sempre tive medo do meu pai.
Mas Gabe não é meu pai.
Gabe nunca me machucaria de propósito. Sei disso. Teremos
que consertar o que está quebrado. Vamos descobrir isso. Gabe pode
pensar que há jeito, mas eu sei que o TEPT é superável. Ele é um
bom homem.
Quando imagino o olhar letal torcido em seu rosto na noite
passada, engulo dolorosamente e me lembro mais uma vez: Gabriel
é um bom homem.
Rapidamente puxo meu telefone e envio uma mensagem para
dele.
** Bom dia! Perdi você esta manhã. Você está bem?**

Um simples bom dia estaria bom. Não vou dar uma palestra
para ele por mensagem de texto. Nós podemos falar sobre como
obter ajuda mais tarde. Hoje à noite, depois do trabalho.
Ajeito meu cachecol mais uma vez. Em seguida, dirijo-me ao
Hill.
Tony já está aqui e paro para falar com ele antes de voltar para
o meu escritório. Ele cobriu um monte das minhas folgas esta
semana e devo-lhe um enorme agradecimento. E talvez um cartão de
presente ou algo assim.
"Que seja Madison." Ele acena enquanto tento agradecer-lhe.
"Só estou fazendo o meu trabalho. Vou te ajudar em tudo o que você
precisar."
Ele volta para estocar o bar e eu volto para o meu escritório.
Parece que há uma papelada interminável neste negócio.
Verifico meu telefone só para não encontrar nenhuma resposta
do Gabe. Ele ainda deve estar dormindo, o que não me surpreende.
Ele ficou acordado, provavelmente, a noite toda.
Deixo o meu telefone de lado e me enterro no trabalho. Eu não
saio por uma hora, quando a minha pequena bexiga reclama que
preciso ir ao banheiro. Antes de sair do meu escritório verifico meu
telefone de novo, mas ainda não há mensagem de Gabe.
Inferno. Realmente preciso saber que ele está bem hoje. A
noite passada foi tão intensa. Preciso ouvir dele. E realmente quero
vê-lo.
Decido ir ao banheiro e, em seguida, até sua casa. Isso é algo
que merece uma conversa calma na luz do dia. Precisamos decidir o
que fazer e a melhor forma de obter ajuda.
Temos que fazer isso para que possamos seguir em frente.
Estou surpresa de encontrar com Jacey no banheiro, porque
não tinha percebido que ela já estava aqui. Nós olhamos uma para a
outra sem jeito por um minuto.
Sei que sou a que está tornando isso estranho. Realmente não
vim a público e não contei a ela que Gabe e eu estamos juntos. E é
estúpido. Preciso abordá-la, então depois de lavar as minhas mãos,
me dirijo a ela.
"Então, seu irmão e eu temos nos visto," digo a ela, hesitante.
Ela olha para mim.
"Eu sei", ela responde com cuidado. "Eu realmente sinto
muito, Maddy. Você está bem?"
Estou completamente confusa enquanto olho para o seu rosto
solene e simpático. Gabe disse a ela sobre a noite passada? Eu mal
posso acreditar.
"Hum, sim," finalmente respondo, meus dedos vibrando
inconscientemente até minha garganta. "Estou bem. Foi um
acidente. Ele estava dormindo. Ele não tinha a intenção de fazê-lo.
Ele se sente terrível, por isso não vamos falar sobre isso, certo? E
definitivamente não quero que Tony fique sabendo."
Jacey me olha fixamente. "Você não quer que o Tony saiba? Do
que diabos você está falando, Madison? Gabe não quis fazer o quê?"
Seus olhos congelam no meu pescoço, o que me permite ver
que o meu cachecol caiu. Seus olhos se arregalaram e ela agarra meu
braço.
"Puta merda. O meu irmão fez isso?"
Encaro-a entorpecida, completamente confusa.
"Se você não sabia, então do que você estava falando? Em
relação ao que você sente muito, Jacey?"
Ela congela e olhamos uma para a outra, o ar entre nós é
preenchido com eletricidade.
"Parece que temos um mal entendido aqui", indico lentamente,
enquanto apreensão se constrói em meu peito. "Pelo que você sente
muito, Jacey?"
"Bem... Agora eu sinto muito por duas coisas", ela gagueja.
"Sinto muito que meu irmão tenha te machucado. Puta merda, sinto
muito. Não posso... Ele nunca... Não entendo."
Olho para ela calmamente, ansiedade fazendo com que meus
dedos comecem a tremer.
"A segunda coisa, Jacey." A retiro de seu torpor, morrendo de
medo de ouvir a sua resposta. "Qual é a segunda coisa?"
Jacey me olha e pisca, como se ela estivesse tentando piscar
para longe desta situação. É mau. É muito ruim. Posso ver isso em
seus olhos e não quero saber.
Não quero saber.
Mas ela me diz de qualquer maneira.
"Gabriel partiu", Jacey simplesmente diz, hesitante. "Ele partiu
esta manhã."
Fico olhando para Jacey, balançando a cabeça em descrença.
"Não, ele não fez isso", argumento entorpecida. "Ele não faria
isso. Ele estava comigo na noite passada. E ele me contou tudo o que
aconteceu com ele. Ele não iria partir agora."
Coloco os dedos sobre o meu hematoma.
Não se preocupe. Não vou te machucar novamente.
Suas palavras de ontem à noite ecoam na minha cabeça. Esta é
a maneira que ele não vai me machucar de novo... Deixando-me.
"Foda-se", digo molemente. Quero me desmontar no chão,
para fazer com que meus joelhos parem de tremer, mas não faço. Em
vez disso, caminho de volta para o meu escritório e fecho a porta,
ignorando as perguntas de Jacey e seus apelos para conversar.
"Preciso ficar sozinha", digo a ela através da porta, antes de
entrar em colapso em minha cadeira e colocar minha cabeça em
meus braços.
Sinto-me completamente vazia, completamente em choque.
Não vi isso chegando. Realmente não vi.
Minhas entranhas estão vazias, cavernosas e pretas. Um vazio.
Meu coração é um vazio. Tenho um coração, afinal? Isto foi mesmo
real? Nada disso foi real? Tenho uma ideia de que talvez atordoada
eu tenha caído no buraco do coelho naquela primeira noite no clube
depois de tudo. Talvez... Talvez... Talvez... Eu deveria me recompor.
Abro os olhos e olho para a parede, minha bochecha
pressionada com firmeza na madeira fria da minha mesa.
Tudo isso é real.
Gabriel se foi.
Estou aqui.
E de repente, percebo que estava com medo das coisas erradas
o tempo todo.
Em vez de me preocupar que Gabriel era um valentão, violento
ou tinha um temperamento ruim como o meu pai, eu deveria ter
ficado com medo da única coisa que ele poderia fazer para me
machucar ainda mais.
Para a única coisa que me machucaria mais.
Deveria ter ficado com medo de perdê-lo.
Levanto minha cabeça e enxugo as lágrimas que desceram pelo
meu rosto e para os meus braços. Pego meu celular e tento ligar para
ele. Vai direto para o correio de voz. Desligo.
Fico olhando para a parede, lutando contra a vontade de jogar
meu telefone contra ela.
Em vez disso, olho para a tela pouco antes de começar a
escrever uma mensagem para ele.
** Você não pode me fazer amar você e então partir. **
Envio a mensagem, enquanto percebo que é exatamente o que
ele fez. Ele me fez amá-lo e, em seguida, ele me deixou.
Ele. Apenas. Partiu.
Como se nada disso tivesse acontecido. Como se nada disso
importasse.
Como se eu fosse nada.
Adicionei uma segunda mensagem.

** Vai se foder, Gabe. **

****************************************************************

"Oh, Meu Deus", Mila murmura, observando-me verificar meu


telefone pela milionésima vez em dois dias. "Eu mesma vou matar
esse cara. O maldito está me enlouquecendo. Vou sair desta cama,
viajar para onde quer que ele esteja e matá-lo."
Encaro-a miseravelmente. Sinto-me como uma adolescente
apaixonada, mas ao mesmo tempo sinto-me muito mais do que isso.
Sinto-me completamente esmagada, completamente vazia,
completamente abandonada. Gabe nem sequer se incomodou em
responder as minhas mensagens. Ele não ligou.
Ele me contou tudo, as partes mais profundas e negras. Ele me
fez entender. Ele fez o meu coração se abrir para ele, me fez sentir a
sua dor... E então, ele apenas partiu.
Como se eu não tivesse importância, como se eu não fosse
sequer importante o suficiente para ele pensar duas vezes.
Foda-se ele.
É isso que continuo dizendo ao meu coração. Mas meu maldito
coração é tão teimoso. Ele insiste em estar machucado.
"Diga-me o que aconteceu", Mila insiste firmemente quando
uma lágrima desce pelo meu rosto. Sei que isso a enerva, porque
simplesmente não choro.
Geralmente não.
"É complicado" digo, cansada. "Não quero falar sobre isso."
"Bem, eu quero", responde Mila, seus olhos estalando. "Preciso
saber o que aconteceu para que eu possa ajudar. Quando Pax me
deixou, você me fez contar tudo. Agora me conte."
Então, eu faço. Passo por tudo, desde a maneira que eu
encontrei Gabe, até a forma como ele deu um soco na parede,
naquela noite, através dos meus medos sobre a forma como ele lidou
com Jared... O que aconteceu ontem à noite. Quando estou
finalmente terminando, Mila está pálida e de olhos arregalados.
"Deixe-me ver o machucado."
Suas palavras são gritantes, empoladas.
Eu desato o lenço e deixo-o cair no chão. Mila suspira,
horrorizada com a impressão roxa da mão de Gabriel no meu
pescoço.
"Oh meu Deus", ela respira. Concordo com a cabeça.
"Ele não estava acordado. Ele não quis."
Mila olha para mim com ar de dúvida. "Tem certeza?"
"Claro que tenho certeza", eu agarro. "Não sou uma idiota. Ele
estava dormindo. Seus pesadelos são tão reais que ele não pode
sequer dizer o que é real e o que não é. Ele pensou que eu era outra
pessoa. Ele está completamente destruído, Mi. E agora ele se foi. Ele
queria me proteger e me deixou."
Estou chorando agora. Mila se aproxima e envolve seus braços
magros em volta de mim.
"Está tudo bem", ela me acalma. "Shhhh. Vá em frente e chore.
Está tudo bem. E tudo vai ficar bem." Ela acaricia minhas costas e eu
choro e choro e choro.
Quando termino, ela me entrega um lenço de papel.
"Ele não tinha a intenção de fazer isso", repito para reforçar,
olhando-a nos olhos. Ela balança a cabeça lentamente, o rosto
inexpressivo.
"Não tenho dúvidas disso", ela diz lentamente. "Posso ver isso
nele. Mas isso não muda o fato de que ele fez isso, Maddy. Ele
precisa de alguma ajuda. E se ele não quer ajuda, então talvez tenha
sido melhor ele te deixar."
Meus olhos ardem, mas não choro novamente.
"Você não entende", murmuro. "Ele acha que não tem
solução."
Ela acena com a cabeça mais uma vez, solenemente. "Tenho
certeza que ele acha. Lembro-me que com Pax foi a mesma coisa. E o
que você me disse?"
Viro meu rosto, recusando-me a responder, mesmo me
lembrando muito bem o que eu disse.
"O que você me disse?" Mila repete com firmeza.
"Disse-lhe que ele tinha que pedir ajuda por conta própria, que
você não poderia consertá-lo." Minha voz está mal-humorada
porque parece muito diferente quando dou esse conselho, ao invés
de recebê-lo.
"E você estava certa", ela me diz suavemente. "E agora estou
dizendo a mesma coisa a você."
"Mas ele não me deixou buscar ajuda", digo a ela molemente.
"Ele partiu para sempre, para me proteger."
Mila parece aflita, com a mão tremendo enquanto esfrega as
minhas costas. "Eu sei. Mas talvez tudo dê certo e talvez ele volte.
Algum dia. E tudo vai ficar bem. Confie em mim. Quando Pax partiu,
achei que ele nunca voltaria. Mas ele voltou."
Balancei minha cabeça, mudando de assunto. Só não posso
falar mais sobre isso. Não, não quero voltar a chorar novamente.
"Sinto muito, Mila," digo a ela, cansada. "Não quero te
derrubar. Você já tem o suficiente estando presa nessa cama.
Realmente só vim aqui para ajudar com o quarto do bebê. Ele
precisa ser organizado e duvido que Pax vá saber o que fazer com
ele."
Mila balança a cabeça, olhando-me com cuidado. "Bem, nisso
você tem razão. Pax não tem ideia do que fazer com as coisas do
bebê. Mas não pense que você não pode falar comigo, Mad. Confie
em mim, sei como você está se sentindo agora. Se você precisar falar
mais uma vez, estou aqui."
"Obrigada", digo a ela suavemente e me curvo para beijá-la
antes de sair.
"Não desista, Maddy" ela responde. "Quero dizer isso!”
Não respondo. Vou para o quarto do bebê e abro a porta.
Uma inundação ensolarada me cumprimenta pelas janelas
atingindo as paredes amarelas. Pax contratou um pintor para pintá-
lo de amarelo, por solicitação de Mila. Uma vez que eles não querem
saber o sexo do bebê, elas tiveram que ser de gênero neutro. E Mila
ama o sol.
Foda-se o sol. Odeio o sol hoje.
Olho em volta para as caixas fechadas, para os monitores do
bebê, as pilhas de roupas ainda com as etiquetas em cima, o carrinho
ainda na caixa. Pax ordenou todas as coisas corretamente, mas ele
simplesmente não tem ideia do que fazer com tudo isso.
E é por isso que estou aqui. Esperemos que isso vá manter a
minha mente longe da minha própria dor.
Começo a trabalhar. Coloquei o trocador em um lugar lógico
no quarto, ao lado do berço de mogno. Alinho todas as pequenas
coisas para cuidado com o bebê na prateleira ao lado dele: o pó, a
loção, o cortador de unhas.
Desligo o celular sobre a cama, ajustando as almofadas
coloridas, de modo que elas estão na altura certa. Coloquei lençóis
no colchão do berço. Configuro o monitor do bebê. Afofo os
travesseiros na cadeira de balanço.
E então me sento nela e dobro as roupas minúsculas do bebê
para que eu possa colocá-las no lugar.
Enquanto olho para a pequenina camisola em minhas mãos,
para a forma como é só um pouco maior que a minha mão, a minha
visão embaça e lágrimas enchem meus olhos.
Não terei isso... Não por muito tempo. Talvez nunca.
Gabe me deixou e não quero mais ninguém. Não posso me
imaginar querendo mais ninguém... Então uma família, um bebê,
um marido... Uma vida feliz... Está fora do meu alcance.
Fecho os olhos e me permito chorar de novo, em silêncio sob o
sol... O sol que se recusa a me deixar em paz.
Não sei quanto tempo eu choro. Tudo o que sei é que,
finalmente, não tenho mais lágrimas. Estou totalmente gasta. Minha
garganta está arranhada e rouca. Meus olhos estão quentes.
Não posso chorar mais. Tudo se foi.
Abro os olhos para encontrar Pax sentado do outro lado da sala
no delicado banco branco.
"O que..." estou assustada. "Há quanto tempo você está aqui?"
Ele olha para mim, seus olhos cor de avelã incomodados.
"Tempo suficiente. Diga-me onde ele está. Vou acabar com ele."
Balanço a minha cabeça, olhando para minhas mãos.
"Não comece você também. Mila já ameaçou. Não que ela seja
realmente uma ameaça. Ele não queria me machucar, Pax. Ele
estava dormindo. Como expliquei a Mila, ele tem TEPT. Ele
sinceramente não sabia o que estava fazendo."
Pax balança a cabeça. "Isso não é o porquê vou socar ele.
Acredito que ele não queria magoar você. Ele não é esse tipo de cara.
Posso dizer. Vou socar ele por ter te deixado assim. É uma coisa
idiota de se fazer."
Meus olhos marejam de novo, mesmo eu tendo pensado que
minhas lágrimas tinham cessado.
Uma escorre pelo meu nariz e pela minha mão.
"Gostaria de nunca ter conhecido ele," confesso
dolorosamente. "Gostaria que ele nunca tivesse vindo aqui. Então,
não me sentiria assim agora. Sinto-me como se alguém tivesse
puxado as minhas tripas para fora e colocado-as de volta em todos
os lugares errados."
Pax olha para mim. Então atravessa a sala, de joelhos ao meu
lado com a mão nas minhas costas.
"Você não quer dizer isso", ele diz suavemente. "Você estava
fechada antes. Não sei nada sobre as mulheres, mas mesmo eu podia
ver isso. Isso é horrível, eu sei. Mas pelo menos você está sentindo
alguma coisa. Você sabe?"
Olho para ele, incrédulo. "Sério, Pax? Preferiria não sentir
nada a me sentir assim."
Ele balança a cabeça. "Eu sei. Sinto muito que eu não seja bom
com essas coisas. Tudo o que posso dizer é que você deve apenas
concentrar-se em si mesma agora. Estou levantando os fundos para
tecnologia em defesa. Então, você não vai mesmo ter de ouvir o seu
nome. Apenas se concentre em si mesma. Gabe tem merda para
cuidar e não é culpa sua."
"Eu sei," digo a ele. "Eu sei que não é culpa minha. E você sabe
o quê? Você está certo. Em vez de me concentrar nele, vou me
concentrar em trabalhar em mim mesma. O senhor sabe que há
muito trabalho a ser feito."
Pax sorri lentamente. "Bem, não há muito o que fazer. Você é
ótima, Mad. Ele não tem ideia do que desistiu."
Meus olhos rasgam novamente. "Não quero pensar mais nele",
sussurro. "É muito difícil."
Pax acena. "Eu sei. Sinto muito, Maddy. Honestamente não
posso imaginar o que aconteceu. Gabe é um cara direito. Confie em
mim, conheço idiotas e ele não é um. Espero que ele possa começar a
consertar os seus problemas."
Concordo com a cabeça em silêncio. "Isso não é realmente
problema meu agora", finalmente respondo.
"Como você disse," Pax responde enquanto se levanta. "Só
quero ver você feliz, Madison. Você realmente merece. Você tomou
conta de Mila por tanto tempo e eu não posso te dizer o quanto
aprecio isso. Mas esse é meu trabalho agora e você precisa cuidar de
você."
"Obrigado, Pax. Realmente. Quero dizer isso. Amo você, você
sabe. Eu sei que você não gosta de falar sobre essas coisas, então
obrigada."
Ele sorri. "A qualquer hora. Meu conselho nem sempre é bom,
mas é grátis." No meu olhar rápido ele acrescenta: "Mas, neste caso,
é bom."
Reviro os olhos quando me levanto.
"Acho que vou correr para o restaurante enquanto Mila
cochila. Estarei de volta com o jantar."
Pax estende a mão para me bater. "Excelente. Mila vai
agradecer. Ela está ficando muito cansada de ovos mexidos, que é a
única coisa que posso cozinhar."
Bato o punho frouxamente e balanço a cabeça.
"A coisa boa que você é bonito", digo a ele no meu caminho
para fora da porta. Posso ouvi-lo rindo enquanto saio.
Não me sinto no clima para piadas. Sinceramente, não. Mas
talvez se eu fingir que está tudo normal, que está tudo ok... Talvez
ficará.
Capítulo Vinte

Gabriel

** Foda-se, Gabe.**

Fico olhando para o meu telefone, para as últimas palavras de


Maddy. Meu estômago se aperta com cada palavra, cada vez mais,
mais e mais.
** Foda-se, Gabe.**
Que porra é essa que eu fiz?
Durante dois dias, eu tenho me feito essa pergunta. E por dois
dias eu não encontrei uma boa resposta. A única coisa que eu sei é
que não posso machucar Madison de novo e essa era a única
maneira que eu conhecia para protegê-la.
Mas Deus. Deus é uma merda. Tudo que eu quero fazer é pegar
o telefone e ligar para ela, para ver como ela está... Para explicar.
Você é a porra de um bichano.
Porque eu não posso. Se eu fizer isso, se eu ouvir a voz dela. Eu
ficaria tentado a esquecer de todas as minhas dúvidas e temores
sobre magoá-la e correria de volta para ela. Apesar de ela poder não
me aceitar de volta a esta altura do campeonato.
** Foda-se, Gabe. **
Como eu me coloquei nesta situação, como fui amar alguém
que eu sei que não posso ter... É tudo minha culpa. Sabia que nunca
poderia estar com ninguém. Que eu não estou inteiro. Que eu não
sou normal.
Que eu sou um monstro.
Que eu sou uma coisa ruim.
Eu sabia de tudo isso. E mesmo assim eu fui atrás dela...
Porque eu tinha que transar com ela. Eu tinha que provar a
tempestade que sabia que ela era. E agora eu a amo e tudo está
fodido.
Eu não posso culpar ninguém além de mim mesmo.
Com um suspiro eu volto minha atenção para esta porra de
entrevista.
Brand agendou algumas entrevistas para contratar uma
assistente fixa, que ficaria aqui em Denver uma vez que a fábrica
será aqui.
Ele fez as primeiras entrevistas. Então, eu tenho que fazer as
outras. É justo.
Mas eu me atrasei esta manhã e tive que entrevistar a
candidata no quarto do hotel, ao invés de encontrá-la no café do piso
principal.
Enquanto ela fala comigo, suas palavras correm juntas. Sua
voz desaparece ao fundo e eu realmente não dou a mínima para o
que ela está falando. Meus pensamentos estão em Angel Bay com
uma linda loira.
"Então, isso é tudo", Alex a garota, termina, sorrindo para
mim. "E eu estou disponível para iniciar imediatamente."
Sentado na beira da cama, sorrio distraidamente enquanto
olho para seu currículo na minha mão.
"Ok. Bem, eu sei que Brand já te entrevistou. Então, vou falar
com ele e depois um de nós entra em contato com você."
Alex sorri novamente da mesa do meu quarto de hotel onde ela
está sentada. Ela é jovem e bonita. A maquiagem dos olhos é forte e
escura, ligeiramente manchada nos cantos. Seu batom é vermelho
vivo. Enquanto eu olho, ela cruza, e em seguida, descruza as pernas.
Olá, buceta raspada. Eu não posso acreditar em meus olhos.
Ela acabou de me mostrar sua virilha de propósito? Mas que
diabos?
"Eu realmente preciso deste emprego", ela me diz, sua voz
ficando rouca e sugestiva. "Existe alguma coisa que eu posso fazer
para consegui-lo?"
De repente. Ela fez isso. Puta que pariu. É como se o universo
estivesse a oferecendo para mim, dando-me uma oportunidade para
tirar Madison da minha mente.
Certamente não será tão fácil.
Mas Alex se levanta e está se movendo na minha direção, com
os olhos nos meus lábios.
"Eu posso ser muito persuasiva", ela sussurra enquanto me
empurra para trás em cima da cama, deslizando sua forma esguia
entre minhas pernas.
"Você definitivamente pode", eu concordo, automaticamente
deslizando minhas mãos para cima dos seus quadris. "Você tentou
persuadir Brand deste jeito?"
Ela ri. "Não. Eu não precisei. Ele disse que gostou de mim. Se
você gostasse de mim, então o emprego seria meu.”
Inferno.
Minha consciência desaparece enquanto o fluxo de sangue é
redirecionado de uma cabeça para outra.
"Bem, é melhor você me mostrar as suas qualificações."
Alex inclina a cabeça, beijando-me com firmeza. Ela tem gosto
de chocolate. É estranho, mas não desagradável.
Eu a beijo de volta.
"Você sabe, você não tem que fazer isso", finalmente digo a
ela, e realmente não tenho certeza se estou dizendo isso para ela ou
para mim.
"Eu quero", ela me diz. "Você já se olhou no espelho?"
Então, agora ela está apelando para o meu ego também. Garota
inteligente. Ela se abaixa lambendo meu pau, fazendo uma
combinação perfeita. Hormônios, ego e pinto. Ela o coloca todo na
boca. Meu corpo reage como sempre faz. Fica mais duro.
Eu a viro e cubro seu corpo com o meu, deslizando minha mão
sob sua saia curta. Eu deveria imaginar o que estava acontecendo
quando ela chegou para a entrevista usando uma minúscula saia.
Eu fico mais duro à medida que enfio meus dedos dentro dela.
Meus pensamentos somem à medida que eu enfio e tiro os
dedos dela. Isso me leva para longe da realidade, do estresse, da
preocupação de fazer a coisa certa, de Madison.
Quando eu faço isso, eu não tenho que pensar.
Eu só tenho que sentir.
É natural, instintivo.
Alex geme e eu fecho meus olhos. Eu não quero vê-la. Eu só
quero senti-la. Enfio meus dedos ainda mais profundo e mais
rápido. E então, eu levanto a saia mais para cima, sem me preocupar
em tirá-la.
Ela tenta me ajudar e diz meu nome de maneira ofegante, o
que me dá uma pausa e eu abro meus olhos.
Ela está espalhada na amarrotada cama de hotel como uma
oferenda, com o cabelo despenteado.
O jeito que ela disse meu nome me lembrou de Madison.
Engulo em seco, congelado em cima dela, travado.
"O quê?" Ela pergunta em confusão, abrindo a olhos. "O que há
de errado?"
Ela não soa como Madison agora. Ela não se parece com ela,
não cheira como ela. Porque ela não é Madison.
Ela pode não ser Madison, mas na minha cabeça isso é tudo
que eu vejo. O sorriso de Maddy, seus olhos azuis, seu corpo lindo.
Imagino a expressão em seu rosto quando ela estava no meu colo na
outra noite, carinhosa, suave e confortável.
** Foda-se, Gabe. **
Eu sinto um nó na minha garganta quando penso nisso. Maddy
não me quer. Não mais. Eu não posso culpá-la. E se há uma maneira
de conseguir tirar essa mulher da minha cabeça, certamente é
transar com outra.
Alguém que realmente me queira.
Eu balanço minha cabeça.
"Não há nada de errado", eu finalmente minto.
Eu volto minha atenção de novo para Alex e passo meus dedos
ao longo do seu corpo que é bem maior que o de Maddy. Eu aperto
meus olhos fechados.
"Eu quero forte" ela geme. "Foda- me forte, Gabe."
Um gosto amargo aparece na minha boca, mas eu ignoro
enquanto eu movo minha cabeça e mergulho no pescoço de Alex e
tiro meus shorts. Ela agarra meus ombros com força, me puxando
para ela, enterrando sua língua na minha boca.
Seu gosto não é bom.
Seu cheiro não é bom.
E meu pau sabe disso, porque, de repente, eu não estou duro
mais.
Eu empurro contra ela novamente, mas não adianta. Eu não
estou mais duro. Eu não vou ficar duro. Porque tudo o que eu quero
é Madison. Eu desço da cama e vou para o chuveiro sem olhar para
trás.
Posso ouvir as perguntas confusas de Alex atrás de mim, mas
eu não me importo.
Enquanto a água corre pelo meu corpo, por minha cabeça e
meus ombros, eu abro a água fria.
Foda-se.
Estou numa merda seriamente profunda aqui.
Um flash de Madison aparece na minha cabeça novamente.
Seus olhos azuis, leves e sinceros. Suas longas pernas enroladas em
torno de meus quadris.
Você é alguém que não vai me machucar.
Praticamente suspiro. Tenho a sensação de que eu poderia
dormir com mil mulheres diferentes, ter mil transas superficiais
diferentes e eu nunca seria capaz de tirar Maddy da minha mente. Se
eu serei capaz de foder alguém, aparentemente, nesse momento é
algo questionável.
O que há na Madison que me mantém assim tão ligado a ela?
Tudo.
Suspiro. É possível eu ficar com ela sem machucá-la?
É a pergunta que me faço desde que a deixei. Mas é uma
pergunta para a qual eu não tenho resposta.
A ideia de ter esse nível de intimidade envia meu estômago
para cima, na minha garganta. Encosto minha cabeça contra a
parede do chuveiro. Esse tipo de intimidade é aterrorizante.
Mas, de repente, por razões que eu não posso compreender e
não posso explicar, ficar sem esse tipo de intimidade também é
muito aterrorizante.

****************************************************************

Depois de cinco dias, eu decidi que odeio Denver.


Odeio a minha maldita vida.
E eu me odeio, porra.
Tenho certeza de que todos esses sentimentos são muito
aparentes para todas as pessoas ao meu redor, porque eu tenho sido
um completo idiota.
Hoje, depois de me reunir com os potenciais contratantes no
novo local da fábrica, Alex e eu voltamos para o meu quarto de hotel
para estudarmos os contratos. Mas eu não quero estar aqui. Há
apenas um lugar em que eu quero estar e se eu não posso estar lá.
Então, fodam-se todos.
Eu esfrego meus olhos vermelhos, tentando ignorar a dor na
minha cabeça. O uísque que tomei para tentar consertar meu mau
humor está fazendo efeito contrário, pois estou numa ressaca do
caralho.
Alex me dá alguns comprimidos de Ibuprofeno. "Aqui. Isto vai
ajudar."
"Obrigado", murmuro, engolindo quatro deles com um pouco
de água.
Por alguma razão, Alex está ficando por perto. Ela chega aqui
cedo e fica até mais tarde.
É como se ela pegasse minha incapacidade de ficar com ela,
minha distância e minha atitude idiota como um desafio pessoal. Eu
não consigo entender. Mas, de qualquer forma, eu não posso
entender as mulheres em geral.
"Quanto tempo você acha que vai ficar aqui?" Alex me
pergunta distraidamente, passando seu dedo nas minhas costas. Eu
instintivamente me afasto. Ela me toca sempre que pode, porque ela
acredita claramente que é irresistível. Ela não tem ideia de como isso
não está funcionando comigo.
"Não sei”, respondo. "O tempo necessário para deixar tudo
arrumado, eu acho."
"Não quero que você vá", Alex faz beicinho. "Eu gosto de ter
você aqui."
Luto contra os impulsos de revirar os olhos. Não há nenhum
jeito dela gostar de mim do jeito que eu estou. Ela só quer dormir
com o chefe.
"Bem, você sabia que eu não ficaria" eu a lembro. "É por esta
razão que precisávamos contratar uma assistente, para que ela possa
lidar com coisas do dia a dia enquanto não estamos aqui."
"Eu sei", ela reconhece. "Mas ainda assim."
Ainda nada.
Entro no banheiro e quando saio, Alex está de pé no meio do
quarto, completamente nua.
"Que diabos?" Murmuro. Mesmo sabendo que eu não a quero,
eu não posso deixar de olhá-la também. Ela está nua e pelo amor de
Deus. Ela é jovem e tem seios perfeitos. Antes que eu possa dizer
qualquer coisa. Porém, antes que eu possa dizer-lhe para colocar
suas roupas de volta , há uma batida na a porta.
"Pedi serviço de quarto", Alex diz amavelmente.
"Bem, obviamente então você teve que tirar suas roupas," eu
murmuro ironicamente. Balancei minha cabeça e lhe entreguei a
colcha da cama, para ela se cobrir enquanto eu vou para a porta. Eu
a abro sem olhar e estou surpreso como o inferno quando encontro
Brand de pé na minha frente, preenchendo a porta.
Ele rapidamente analisa a cena: a assistente nua atrás de mim,
a cama desarrumada como se tivesse sido utilizada recentemente. É
muito fácil tirar uma conclusão errada.
E ele tira.
"Você não..." Brand exclama, intrometendo-se "Gabe, que
merda, cara?"
"Não é o que parece", digo para ele tentando me explicar. “E eu
que pensei que você ainda estava em Chicago.”
Brand se vira para Alex. "Alex, querida, você poderia nos dar
um minuto?"
Ela luta para colocar suas roupas, enquanto Brand olha para
longe. "Vou descer e pegar um café", ela diz rapidamente, sem olhar
para trás enquanto sai do quarto.
Brand olha pra mim.
"Que porra é essa, Gabe?" Ele olha a garrafa de uísque vazia
sobre a mesa. "Sério?”
“Você estava escondido aqui no hotel ficando bêbado e
comendo a nossa nova assistente?"
Olho para a garrafa vazia. "Eu só bebi ontem à noite." Eu
esclareço. "E eu não estou comendo a assistente."
Brand inclina a cabeça e eu posso ver claramente que ele não
acredita em mim, não que nada disso me importe.
"Seja como for", murmuro, "pense o que você quiser."
"Cara, você sabe que Pax Tate não está interessado em ser um
investidor, agora que você fodeu com sua cunhada. Temos
seriamente que procurar um novo investidor. Nós não podemos
fazer isso com você se embebedando neste hotel. E Jesus, não
precisamos de um processo por assédio sexual da nossa assistente."
"Pela última vez," eu cerro meus dentes, "eu não estou fodendo
ela. Poderia processá-la por assédio sexual, pelo amor de Deus. Ela
praticamente se jogou em cima de mim. Um pouco antes de você
chegar aqui, eu fui para o banheiro e quando eu saí, ela estava nua,
com a bunda de fora.”
Brand está interessado agora. "Sério? Ótimo!"
Fico olhando para ele. "Ótimo? Você acabou de me dar uma
lição por que eu estava comendo a assistente."
Brand encolhe os ombros. "É verdade. Estou feliz que não
precisamos nos preocupar com um processo de assédio, mas ainda é
muito estranho que você não quis ficar com ela. O que está
acontecendo, cara? Se você quer estar em Angel Bay com a loira de
pernas longas, você precisa apenas ir. Isso resolveria dois problemas
– seu mau humor e o problema com nosso investidor. Se você voltar,
Tate provavelmente iria investir."
"Então você quer que eu me prostitua para fecharmos o
negócio?" sorrio severamente. Brand revira os olhos.
"Não acho que seria contra a sua vontade. Que porra você está
fazendo, cara?"
Eu sei que ele não está falando sobre o negócio agora e eu olho
para ele enquanto limpo a bagunça em cima da mesa.
"Desde quando você se preocupa com as mulheres que deixei
para trás?” eu pergunto.
Brand me olha nos olho. "Eu não me preocupo. Mas eu me
preocupo com você. E eu odeio ver você foder algo que estava te
fazendo feliz."
"Você não vê", rosno enquanto pego uma garrafa de cerveja
vazia e a jogo no lixo. "Você não entende."
"Eu não entendo?" Ele levanta uma sobrancelha. "Dentre todas
as pessoas no mundo, eu sou a que te entende melhor. Por exemplo,
eu sei que uma das piores coisas sobre ter deixado o Exército é o
sentimento de abandono. Embora saibamos que nós não
abandonamos, que nós saímos de lá por um bom motivo, mas
mesmo assim você ainda se sente um desistente. Certo?"
Fico olhando para ele. "Seu ponto de vista?"
"Meu ponto é que eu sei, cara. Eu sei como é. E eu também sei
que se você não arrumar toda essa bagunça com Madison você vai
embora de novo. Mas dessa vez de verdade. Não faça isso, Gabe.
Arrume essa bagunça e volte para Angel Bay que é onde você
pertence."
Eu olho para ele enquanto amarro meus sapatos. "Se isso é o
que você pensa, então você não sabe de nada. Angel Bay não é onde
eu pertenço. E ficar longe de Maddy não é desistir. É protegê-la. De
mim. Voltar não me faria muito bem, não é?"
Brand suspira, sacudindo a cabeça. "Você é um filho da puta
teimoso, você sabia disso?"
"Sim."
"Você pode, pelo menos se limpar e parar de beber?" Brand
pede cansado. "Você parece de ressaca, amigo. Não posso acreditar
que você foi a uma reunião com os empreiteiros desse jeito."
Dou de ombros. "Eles vão trabalhar para nós, não o contrário.
Mas isso não importa. Estou voando para Chicago amanhã na parte
da manhã."
"Ótimo."
Nós sentamos e olhamos alguns contratos, Brand conversa
com Alex apenas para ter absoluta certeza de que não haverá
qualquer tipo de assédio e eu olho para fora da janela
distraidamente ouvindo tudo isso.
Depois que comemos e finalizamos algumas coisas na mesa do
meu quarto, Brand vai embora enquanto eu arrumo minha mala.
Uma vez que ele está com os olhos vermelhos por eu estar voltando
para Chicago.
"Vejo você amanhã", digo a ele. "Eu estou voando de volta pela
manhã."
Depois de fechar a porta, eu me viro para encontrar Alex que
tirou os sapatos e se mudou da mesa para a cama, onde ela está
esperando com um olhar pesaroso na sua maquiagem pesada. Eu
tenho que lutar contra o tremor que passa através de mim.
“Eu me esqueci de programar meu DVD para gravar meu show
favorito”, ela me diz baixinho. -"Você se importa se eu assisti-lo
aqui? Eu não queria perder."
Eu quero gritar, mas não faço. Devo ser educado já que estou
indo para casa amanhã de qualquer maneira.
"Claro", digo a ela, enquanto caio em uma cadeira ao lado da
cama. "Não tem problema."
O problema é que eu caio no sono assistindo.
E eu acordo com o som de Alex gritando.
"O que diabos está acontecendo de errado com você? " Ela
grita. Sento-me e então percebo que eu estou no chão, me
arrastando no tapete do hotel.
Alex se afasta de mim.
"Você estava rastejando pelo chão, chorando por Brand. Que
porra é essa? Você é gay ou algo assim? Vou embora daqui. Você é
um monstro."
Ela pega sua bolsa e vai para a porta pegando seu caminho de
volta.
Eu ainda estou atordoado, ainda desorientado, por isso sento-
me por um segundo, esfregando minhas têmporas. Nunca pensei
que isso fosse possível, mas os sonhos estão ficando ainda pior, os
olhos escuros, o sangue jorrando.
Eles estão piores porque agora a Madison está neles também.
Ela está sentada na borda do círculo de crianças mortas e ela está
escorregando do meu alcance.
Na minha cabeça, eu sei do que eu preciso para salvá-la, mas
no meu coração eu sei que eu não posso. Porque ela está
escorregando em direção ao fogo, em direção ao perigo.
Mas o perigo realmente sou eu.
Jesus Cristo.
Eu nunca vou superar isso.
Tudo o que eu quero é Madison. Ela fez tudo ficar melhor. Ela
era suave, iluminada, compreensiva e confiante. Ela era tudo isso. E
eu nunca mais vou tê-la de novo. Foda-se, Gabe.
É um pensamento sombrio para caralho e torna-se ainda mais
difícil de esquecer o pesadelo.
Mesmo depois de beber duas garrafas de água e, finalmente,
me deitar na cama, eu não posso esquecer o gosto de cinzas na
minha boca. As cinzas dos corpos em chamas. Meu peito aperta
enquanto tento engolir o gosto das crianças mortas. Mas meu
estômago não quer qualquer parte disso e ele responde em rebeldia.
Eu rolo para o lado e vomito no chão, mais e mais até que não há
mais nada.
Mas o gosto ainda está lá.
As cinzas e o sangue. O desespero sombrio. E agora o vômito
também.
Limpo minha boca e viro. Coloco meu braço em meus olhos
enquanto tento respirar, tento liquidar os tremores nas pernas.
Tento empurrar as visões da minha cabeça.
Estou tão cansado disso.
Tão. Cansado. Disso.
Olhos negros como a noite, cheios de terror me olham por trás
das minhas pálpebras e eu abro meus olhos. Eu não consigo encará-
la mais. Simplesmente não posso. Estou completamente destruído e
eu tenho medo de encarar o que me destruiu. Eu tenho medo de
olhar.
Que tipo de homem eu sou?
O tipo que fode tudo e não pode encarar a merda.
Eu me levanto e tropeço para fora na varanda, sugando o ar
frio da montanha, tentando usá-lo para forçar a abrir meus pulmões,
para inflá-los. Eu posso ouvir o correr do sangue em meus ouvidos,
precipitação, pressa, correndo pelas minhas veias, mas não ar. Não
há ar, porque eu não posso respirar.
Respire filho da puta.
Não é de admirar que eu não possa enfrentar essa merda,
porque eu não posso sequer respirar. Eu sou um maldito bichano.
Agarrando a grade, eu olho para baixo no tráfego por quinze
andares abaixo. As pessoas estão dirigindo ao redor, cuidando de seu
próprio negócio, buzinando, respirando, rindo, vivendo suas vidas,
mesmo que a minha esteja caindo aos pedaços.
Mesmo lá fora, as pessoas estão morrendo. Eles estão
queimando, sangrando e morrendo. Porra de vida de merda. Mas
ninguém aqui sabe disso.
Eles não sabem como a vida realmente é.
Mas eu sei.
Olho para baixo silenciosamente, observando o movimento,
observando a vida, que está estranhamente distante de mim, tão
longe. Por enquanto está tranquilo. Por enquanto ele foi removido.
Por enquanto só há eu.
E eu estou fodido.
Como nos olhos da menina, a minha alma é negra como a noite
e cheia de terror.
Aperto meus bíceps contra a grade, ele se flexiona e eu me
lembro das palavras tatuadas no meu braço; uma marca, uma
lembrança. Uma crença.
Morte antes da desonra.
As palavras não vão sair da minha cabeça e eu sei por quê.
Porque eu não tenho agido com honra durante meses, porque eu
tenho agido como um maldito bichano que não consegue arrumar
essa merda. E eu fodi a única coisa boa que eu tive. Eu quase a
matei.
É apenas mais um exemplo de desonra para adicionar a minha
lista.
Olho para dentro da escuridão.
Morte antes da desonra.
Seria tão fácil.
Sei o que tenho que fazer. Eu sei o que tenho que fazer para
tudo isso ir embora, para dar um final a tudo, para tirar os negros
olhos apavorados da minha cabeça para sempre. Olho por olho.
Certo?
Um olho por um maldito olho.
Uma vida por uma vida de merda.
Passo a perna por cima da grade, me puxando sobre ela, me
sentando. Balanço meus pés e olho para baixo novamente. Os carros
parecem menores do que meu dedão do pé. A queda me mataria.
Certamente me mataria.
E tudo isso acabaria.
O mal não pode me acertar se eu morrer.
Fecho meus olhos, sentindo a brisa leve em meu rosto,
cheirando as montanhas. Meus pulmões estão trabalhando agora, o
que é irônico. Em alguns minutos, não vou precisar mais deles.
Não tenho medo. O medo é uma escolha e eu não estou
malditamente com medo. Tenho um plano.
E por causa do meu plano, nunca vou machucar mais ninguém
novamente.
A escuridão abaixo quase parece convidativa, enquanto ela está
girando em torno dos meus pés, à espera de me jogar para baixo.
Como se eu fosse parte dela, ela vai me engolir todo e minha merda
de vida vai toda embora.
Deve ser assim que a morte é.
É apenas um fim.
Um descanso.
E Deus, estou tão cansado. Eu poderia ter um descanso.
Fico olhando para ela, para a tentadora escuridão, cada célula
do meu corpo é treinada para sobreviver. Isto vai contra todos os
meus instintos. Fecho meus olhos e em vez da pequena menina, eu
vejo um par de olhos azuis brilhando. Maddy.
Se eu pelo menos pudesse consertar.
"Que porra você está fazendo?"
A voz assustada de Brand rompe a escuridão e me traz de volta
a realidade. Olho por cima do meu ombro. Brand está caminhando
através do meu quarto, olhando para mim em estado de choque e
horror.
"Que porra é essa, Gabe?”
Posso ouvir o medo em sua voz. Devo dizer a ele que medo é
uma escolha, mas não falo. Ele já sabe disso.
"Pare bem aí, Brand" digo a ele de repente.
Posso ouvir a falta de emoção na minha voz, para que ele possa
ouvir também. Ao contrário de qualquer outra pessoa, Brand pode
me compreender. Ele sabe como é enfrentar uma missão
aterrorizante e como nós saímos dela. Nós apenas não conseguimos
sair sozinhos.
Ele pode ver que é o que eu estou fazendo agora.
Ele sabe.
Seus olhos se arregalaram e vejo o horror absoluto neles.
"Não, Gabe" ele diz calmamente, parando na porta da varanda
como eu o tinha instruído. "Não faça isso. Você não tem que fazer
isso. Podemos corrigir tudo."
Fico olhando para ele, sem pestanejar, incrédulo. "Não, nós
não podemos. Isso é besteira e você sabe disso.” Tudo está ferrado.
Não há uma solução para isso.
"Há" Brand argumenta, flexionando suas mãos.
"O que você está fazendo aqui?" pergunto, realmente não me
importando. Não mais.
"Esqueci a minha carteira em cima da mesa", responde Brand.
"Graças a Deus. Gabe, pense sobre isso. Pense em Jacey e Maddy.
Isso vai matá-las. Elas não serão capazes de superar isso. Porque
você é tudo que Jacey tem, já que seus pais são uma merda. Já
Maddy perdeu os pais. O que você acha que isso vai fazer com ela?
Você não está pensando nela?"
Engulo, desviando o olhar. "Ela é tudo que eu penso",
murmuro. "Todo o tempo. Não consigo tirá-la da minha cabeça e
isso está me matando, Brand. Isso está me matando."
Brand olha para mim e não vejo a determinação em seus olhos.
"Gabe, você escolheu terminar as coisas com Madison. Você foi
embora e não precisava. Tudo o que você tem que fazer é obter
alguma ajuda, você não fez isso antes. Mas você pode fazer agora,
Gabe."
Não respondo, usando o silêncio como uma oportunidade para
Brand continuar.
"Lembra-se do funeral de Mad Dog? Você quer ver seus pais
segurando sua bandeira? Ou Jacey? Seus pais não merecem ter sua
bandeira e isso acabaria com Jacey. Jesus Cristo, Gabe. Saia dessa
grade.”
“Você não é um desistente. Você não é a porra de um
desistente. Venha aqui e vamos lidar com isso. Nós vamos corrigir
tudo.”
"Eu sou muito frouxo", respondo, minha garganta se fechando
quente e apertada em volta as minhas palavras. "Eu não sei como
corrigi-lo. Eu simplesmente não sei como fazer isso. E não posso
mais fazer isso, Brand."
Brand range os dentes e dá um passo. Olho para ele em
advertência.
"Nã.o"
Ele congela.
"Você não é um covarde", ele disse. "E você não é um
desistente. Você é um corajoso filho da puta. Diga-me o que tenho
que fazer para tirá-lo da borda, Gabe. Diga-me e eu vou fazer isso.
Você e eu fomos ao inferno e voltamos juntos. Não vai terminar
assim. Você não me deixou terminar assim. E eu, de maneira
nenhuma, vou deixá-lo terminar assim. Não depois de tudo que você
fez por mim."
Aperto meus olhos, deixando a escuridão infiltrar sob minhas
pálpebras. Seria fácil deixá-la tomar o resto de mim também.
"Diga-me que você pode acabar com os pesadelos. Diga-me
que você pode salvar aquela menina que... Você pode salvar todas
aquelas meninas."
A respiração de Brand é irregular e áspera. "Você sabe que eu
não posso salvá-las. Mas eu posso te salvar, Gabe. Caia fora dessa
varanda. Podemos parar seus pesadelos."
Estou em silêncio quando eu abro os olhos e olho para abaixo
dos meus pés, olhando os carros passando pelo chão. É um longo
caminho para baixo, mas está lá. Brand segue o meu olhar.
"Gabe, eu já não tenho muitos pesadelos. Juro por Deus. Só
uma ou duas vezes por mês. E algum dia não vou ter nenhum. Você
só precisa sair dessa borda e ir para a terapia como eu fiz. Parece
estúpido, terrível e idiota, mas ela me ajudou, Gabe. E ele vai ajudá-
lo. É um inferno muito melhor que isso."
Melhor do que morrer.
Olho por cima do ombro dele. "Porque este é o caminho mais
fácil?"
Brand olha para mim, seus olhos azuis de aço, determinado.
"Você disse que é muito covarde para corrigi-los. Isso é ser covarde,
Gabe. Talvez não para algumas pessoas, porque quem sou eu para
julgar as pessoas que não conheço? Mas eu conheço você. E fazendo
isso você está sendo covarde. Faça a coisa certa e tire o seu rabo fora
dessa varanda."
Exalo longo e lento, contemplando. Eu não quero morrer. Se
eu morrer, a coisa ruim ganha.
Foda-se isso.
Respiro. Em seguida, seguro a mão estendida de Brand.
Capítulo Vinte e Um

Madison

Gabriel não voltará.


Sei disso agora. Já faz uma semana.
Sete dias.
Cento e sessenta e oito horas.
Não sei onde ele está e tenho dúvidas se ainda o verei
novamente. Eu não deveria ter esse tipo de pensamento, pois sei que
ele poderá me esmagar. Ainda dói muito.
Em vez disso, me concentro em fingir que estou bem para
Jacey e Tony, Mila e Pax. Hoje Jacey me trouxe uma xícara de
chocolate quente. Porque chocolate quente, obviamente, conserta
tudo.
Curvada sobre a mesa onde eu estou enrolando os talheres nos
guardanapos, ela olha para mim.
"Eu também não tive notícias dele ainda. Ele provavelmente
sabe que vou xingá-lo pelo que ele fez."
Olho para ela. "Podemos não falar sobre isso? Sério. Eu só não
quero pensar sobre isso."
"Ok. Isso é bom" diz Jacey rapidamente. "Eu só não quero que
você pense que eu iria esconder algo de você. Eu queria que você
soubesse que ele não me ligou."
Aceno, dobrando outro guardanapo. "Obrigada, Jace. Sinto
muito por estar me comportando como uma cadela, eu só não estou
sendo... Eu mesma."
"Está tudo bem."
Nós sentamos em silêncio até que a porta se abre, a luz do sol
enche a sala e o rosto de Jacey se ilumina.
"Brand!"
Ela salta para cima e atravessa a sala correndo como se ela não
o visse há anos. Seguro a respiração, não tenho certeza se estou
pronta para enfrentar o melhor amigo de Gabe. Vê-lo me dá uma
sensação de levar um soco no estômago - me faz lembrar de Gabriel.
Como se eu o tivesse esquecido.
Não me viro, continuo enrolando os talheres, meus olhos
grudados no meu trabalho bem na minha frente. Mas eu posso ouvir
suas vozes baixas e mantenho meus ouvidos apurados na direção
deles. A voz profunda de Brand atravessa mais facilmente o
restaurante do que a voz de Jacey. Posso ouvi-lo facilmente.
"Ele está bem, Jace. Ele se sente culpado, é claro, por ter
deixado você... E Madison. Mas ele está bem. Ele vai fazer um tipo
especial de tratamento, algo projetado para ajudar as vítimas de
estresse pós-traumático. Eu passei por isso quando nós voltamos
para casa pela primeira vez. É uma droga muito forte, mas é eficaz.
No entanto, ele vai precisar de seu apoio.”
Ouço o som da voz de Jacey, mas não posso ouvir suas
palavras.
Brand responde tudo que ela pergunta.
"Eu sabia que você iria entender. Estresse pós-traumático é
terrível, Jace. É algo que não podemos controlar e caras como Gabe
e eu... Bem, é difícil lidar com algo parecido. Ele precisará de todo
seu apoio. Ele vai estar em Walter Reed esta semana, mas ele queria
que eu checasse você, ter certeza de que Jared ainda está deixando
você em paz."
Jacey murmura algo.
"Que porra é essa? Por que você faria isso, Jacey?"
Brand parece irritado agora e eu não posso imaginar o que
Jacey disse a ele.
"Tanto faz. Só não minta para nós novamente, Jacey.”
"Você tem que dizer a Gabriel que ele está fora. Não conte a ele
enquanto ele estiver lá. Sua atenção não pode ser desviada. Ele
precisa se concentrar no tratamento, certo?"
Jacey murmura novamente.
"Confie em mim, Jace", Brand continua. "Já estive lá. Eu sei
como funciona. Para ter qualquer chance de Gabe se curar, ele tem
que se concentrar cem por cento. Você poderá apoiar o inferno fora
dele quando ele chegar em casa."
Jacey murmura e então, há um silêncio. Eu estou me
preparando para virar para ver se Brand foi embora quando sua voz
explode no meu ouvido.
"Maddy?"
Foda-se.
Lentamente me viro, olhando para os olhos azuis de Brand.
"Oi, Brand. Que bom te ver."
Mas não é. Realmente não é. Porque ele está aqui e Gabe não.
E mesmo que isso seja irracional, é como eu me sinto.
"Hey." Ele parece tão desconfortável falando quanto eu
ouvindo. "Só queria dizer uma coisa, se você não se importa. Gabriel
não sabe que eu estou fazendo isso, mas eu só queria que você
soubesse que ele é um cara bom, Maddy. Sei que ele parece um
merda pelo modo como ele te deixou, mas eu posso lhe assegurar
que... Ele não queria. Ele colocou na cabeça que você precisava ser
protegida. Dele. Essa é a razão dele ter partido."
Meus olhos ardem enquanto eu aceno.
"Entendo" eu digo a ele. "Mas isso não justifica o modo como
ele me deixou sem me dizer uma única palavra. Ele não retornou
minhas mensagens ou meus telefonemas. É um comportamento de
merda."
Brand acena. "Concordo. E ele também. Eu acho que ele não
confia em si mesmo para conversar com você. Ele acha que se ele
conversar, ele vai voltar."
"E isso seria tão ruim assim?" Até eu percebo como minha voz
sai fina.
Brand balança a cabeça. "Não penso assim. Mas Gabe está
obcecado em te manter segura. Apesar de tudo, ele sente sua falta
como o inferno."
Meus olhos se enchem de lágrimas agora. Então, eu aceno e
desvio o olhar.
"Ok", eu finalmente consigo dizer. "Obrigado por me dizer,
Brand."
Ele põe a mão no meu ombro por um minuto e, em seguida, ele
se vai. Depois de um segundo, Jacey volta, olhando para mim com
preocupação.
"Você está bem?" Ela pergunta baixinho. Concordo com a
cabeça.
"Yeah. E você?"
"Yeah. Estou feliz que Gabe esteja recebendo ajuda. Queria que
você me contasse o que aconteceu que o deixou tão fodido!"
Por um minuto fico tentada. Mas depois de pensar um pouco
sobre isso, balanço minha cabeça.
"Não posso. Essa história é dele e ele é quem tem que contar."
"Imaginei que você diria isso", Jacey suspira.
"Por que Brand estava irritado?" pergunto. "O que você não
deveria dizer ao Gabe?"
Jacey realmente parece envergonhada. "Hum. Eu menti para
Gabe sobre Jared."
Levanto uma sobrancelha. "Você o quê?"
"Quando Gabe voltou a primeira vez, eu disse a ele que Jared
ainda estava trocando mensagens de texto comigo e essas merdas.
Eu menti. Ele não estava. Ele parou de me incomodar logo depois
daquela primeira noite que Gabe o socou no rosto aqui no
restaurante."
Fico olhando para ela, horrorizada. "Então, por que no mundo
você mentiria? A questão toda foi ter sido abandonada por Jared,
certo?"
Jacey olha para as mãos sobre a mesa. "Yeah. Eu só... Sinto
falta do meu irmão, sabe? E pensei que ele iria ficar mais tempo se
ele achasse que Jared ainda estava me incomodando. E ele ficou.
Então, ele começou a namorar você e ele ficou de qualquer jeito. Deu
tudo certo."
Balancei minha cabeça. "Sim, exceto Gabe ter socado a cara de
Jared por causa da sua mentira."
Jacey revira os olhos. "Confie em mim, ele merecia. Ele é um
idiota."
"Eu sei", murmurei distraída. "Realmente não me preocupo
com Jared, para ser honesta. Não ando me importando com muita
coisa nestes dias."
Arrasto uma caixa cheia de talheres já envoltos em
guardanapos para a parede lateral. Em seguida, eu entro no
escritório, fechando a porta. Realmente não quero lidar com pessoas
agora.
Depois de trabalhar na folha de pagamento por um tempo,
clico no meu e-mail e o que eu vejo leva meu coração até minha
garganta.
O nome de Gabriel na minha caixa de entrada.
Quase não conseguia respirar enquanto eu clicava na
mensagem.
Eu mal conseguia respirar enquanto lia as palavras.

“Cara Madison,
Desculpe. Eu sei que você acha que sou um idiota e acho que
provavelmente sou, ainda mais do que você imagina. Não falar
com você está me matando e eu tenho certeza de que você
provavelmente não quer ouvir falar de mim agora.
Mas eu queria que soubesse que você estava certa. Não era justo da
minha parte esperar que você enfrentasse seus demônios, quando
eu não estava disposto a enfrentar os meus.
Então, só queria que você soubesse que estou enfrentando eles
agora.
Espero que esteja tudo bem e que sua garganta esteja curada. Você
não tem ideia de como me mata ter feito o que eu fiz com você.
Não sei mais o que dizer, exceto que eu realmente sinto muito,
Maddy.
Realmente sinto.
Gabe”
Minha respiração ficou presa na minha garganta enquanto eu
olho para a tela, para as palavras que Gabe escreveu. Assinou
simplesmente com seu nome.
Nada de "com amor, Gabe." Na verdade ele não menciona
amor em qualquer lugar.
Também não menciona o fato de ter me deixado sem um
adeus, sem uma explicação... Sem nada. Ele poderia ter me
telefonado, ter me enviado uma mensagem. Ou pelo menos ter me
enviado um e-mail de cortesia. Mesmo um e-mail de rompimento do
caralho teria sido melhor do que nada.
Mas, mesmo agora ele não me dá nenhuma explicação.
Apenas um monte de Eu sinto muito.
Sim, bem, eu também sinto muito.
Sinto muito por estar apaixonada por alguém que não me ama.
Capítulo Vinte e Dois

Gabriel

Após ser direcionado para o quarto no Walter Reed, sento-me


olhando para a parede. Quero pegar o telefone e ligar para Maddy,
mas eu não posso. Ela nunca respondeu ao meu e-mail.
Aparentemente, não quer ouvir falar de mim.
Enquanto olho para o meu telefone, sou dominado por uma
frustração de ter me tornado isso... Isso me irrita. E quando olho
para o espelho que está me encarando agora, me irrita ainda mais
ver minha imagem.
Minha raiva toma conta de mim. De repente, vejo tudo como
um borrão vermelho. Meus ouvidos rugem e eu soco a parede
próxima ao espelho tão forte quanto eu posso. Quando minha mão
bate na parede o barulho explode. E isso me faz sentir
surpreendentemente bem.
Uma enfermeira vem correndo e para na porta do quarto me
olhando. Em seguida, vê o sangue escorrendo na minha mão. Ela
levanta uma sobrancelha.
"Tudo Ok soldado?"
Calmamente concordo. “Está tudo bem. Quando será minha
primeira sessão?"
"Só um minuto. Vou pegar uma gaze para sua mão."
Enquanto ela sai eu enxáguo minha mão na pia e quando ela
volta estou secando-a na toalha. Ela entra no quarto com seu cabelo
escuro preso num coque, em seu impecável uniforme de enfermeira,
a imagem perfeita da eficiência.
Ela senta-se ao meu lado e limpa meus dedos com iodo. Em
seguida, os envolve com gaze de forma segura.
"Estou verificando para ver se há uma sessão disponível hoje à
noite," ela diz. "Não sei o quanto você sabe sobre a terapia de
processo cognitivo, mas são doze sessões. Alguns gostam de fazer
uma sessão por semana, outros preferem fazer uma por dia. Há
ainda outros que fazem duas por dia, uma de manhã e uma à noite.
Tenho a impressão que você vai optar por duas sessões por dia."
"Gostaria simplesmente de acabar logo com isso. Portanto, vou
optar pelo processo mais rápido."
Ela sorri novamente. "Vou ver se consigo colocá-lo na sessão
de hoje à noite para adiantar sua semana."
Ela sai e pego meu telefone, clicando no meu e-mail. Sei que
Maddy não respondeu e que ela não vai responder, mas eu não
consigo deixar de checar.
Estou surpreso com a forte dor no meu peito quando eu
percebo que estou certo.
Ela não respondeu e meu estômago afunda.
Lá no fundo uma parte de mim tinha esperanças que ela
respondesse. Não sei por que. Pensei que fazer a coisa mais difícil,
vir para essa porra de lugar a agradaria e ela me perdoaria.
Mas isso foi muito idiota. Ela nem sequer sabe que estou aqui.
Não há esperança para Maddy e eu.
Maddy está lá, estou aqui e esse lugar é um maldito inferno. E
isso levanta a pergunta, se ela não se importa, afinal porque estou
aqui passando por isso?
Por mim? Essa é uma resposta sem sentido porque eu
realmente não dou a mínima sobre mim.
Por Brand? Ele quer que eu faça isso e eu devo isso a ele. Nós
investimos todo nosso dinheiro no negócio. Deixá-lo sozinho para
lidar com tudo isso seria uma atitude de merda. Mas, neste instante
essa resposta também não faz sentido.
Porque no momento nada parece importar.
Tudo parece sem sentido.
Especialmente eu.

****************************************************************
Enquanto me sento em uma cadeira dobrável de metal em um
círculo de soldados com transtorno pós-traumático, percebo que isto
é definitivamente o inferno. Todo mundo está desconfortável
enquanto sentam-se no círculo. As pessoas tentam não olhar uma
para as outras. É tenso, embaraçoso e eu imediatamente odeio isso.
A terapeuta fica no meio, sentada em um banquinho alto,
olhando suas anotações. Então, ela finalmente fala. "Temos dois
novos soldados com a gente hoje", olhando para mim. "Um deles
está aqui para a sessão desta noite. Tenente Vincent Gabriel. Bem-
vindo ao Grupo. Não sei quais são suas expectativas, mas eu tenho
certeza de que não é nada como você pensa. Você tem total liberdade
para ser completamente honesto aqui, sem nenhum medo de
constrangimento ou vergonha. Aqui na segurança desta sala, você
vai perceber que tudo o que aconteceu em combate não foi falha sua.
Com a nossa ajuda, você vai sair daqui um novo homem."
Concordo com a cabeça, sem saber exatamente o que ela
espera que eu faça. Gostaria de saber como ela é capaz de dizer que
nada do que aconteceu em combate foi culpa nossa. Isso é besteira.
Às vezes a culpa é de alguém.
Ela pula fora do seu lugar e me entrega uma prancheta com
alguns papéis anexados.
"Enquanto fazemos nossa sessão de grupo, quero que você
responda essas folhas de trabalho. No final veremos suas respostas."
Sinto como se todos estivessem me olhando antes de iniciar a
sessão. Olho através dos papéis no meu colo. E como se todos
estivessem tentando descobrir algo sobre mim, tento ignorá-los e
passo a responder a papelada o mais rápido que posso.
Leio algumas das perguntas e quero revirar meus olhos. Que
merda é essa?
Por favor, explique o incidente que causou seu estresse e
descreva como esse incidente te fez sentir.
Que porra de pergunta é essa?
Obviamente o incidente que me trouxe aqui me fez sentir como
merda ou eu não estaria aqui em primeiro lugar. Então é isso que eu
escrevo. Foda-se. Não vou mascarar as coisas. Ela me disse para
ficar confortável e ser honesto. Então é isso que vou fazer.
Anoto as respostas para todas as outras perguntas estúpidas,
ouvindo apenas metade do que os outros soldados estão dizendo.
Isto acontece até que uma voz quebra minha concentração. Uma
garota.
Enquanto ela fala, percebo que ela está falando sobre ser
mantida em cativeiro por rebeldes talibãs. Seus olhos encontram os
meus e ela me olha enquanto diz como aconteceu. Ela está vestindo
um uniforme, por isso sei que ela ainda está na ativa. Algo me parece
vagamente familiar sobre ela, mas não sei o que é.
"Eu fiquei presa durante nove dias em um casebre sujo", ela
diz com uma voz baixa nessa grande sala. "Passamos fome,
apanhamos e eu fui estuprada pelo grupo de rebeldes talibãs durante
toda a semana. Queria morrer. Não sei se queria ser resgatada
porque eu não tinha certeza se iria ser forte o suficiente para
sobreviver ao que tinha acontecido. Mas eu não tive escolha. Eu fui
resgatada. O septuagésimo quinto regimento invadiu o cativeiro e
resgataram-nos. Nós três."
O septuagésimo quinto regimento.
Eu.
De repente, percebo por que seus olhos são familiares. Já os vi
antes.
Eu me lembro dela me encarando da mesma forma que anos
atrás. Embora, obviamente, ela estava diferente. Seu rosto estava
sujo e sangrando. Ela estava cansada, esfarrapada e rasgada.
Para ser honesto, não tive muita interação com ela naquele
momento. Certamente não fui eu que a carreguei para fora naquele
dia. Mas foi minha equipe, assim como a equipe de Brand.
Eu me lembro desse dia. Foi um como vários outros. Não era
minha missão resgatar os soldados presos. Estava no batalhão de
frente, quebrando as portas e eliminando os sequestradores,
enquanto vários dos meus homens invadiam os cativeiros e
resgatavam os soldados.
Mas depois que terminamos o ataque e a poeira baixou, a
garota ficou nos observando do outro lado, onde os médicos estavam
prestando os primeiros socorros. A outra prisioneira estava
chorando, enquanto o outro soldado estava com sua cabeça
enterrada em suas mãos ensanguentadas. Mas essa garota não.
Essa garota mantinha a cabeça erguida e nos observava,
enquanto os médicos verificavam seus sinais vitais.
Ela olha para mim agora, com os olhos lúcidos e claros.
"Você se lembra de mim agora?" Ela pergunta baixinho. "Eu
estava com uma enfermeira e um médico quando fomos resgatados
do cativeiro na zona verde de Cabul. Seu regimento foi responsável
pela invasão que nos salvou."
Vários soldados no círculo me olham com um pequeno
interesse enquanto eu aceno secamente.
"Sim," finalmente respondi. "Eu me lembro. Não tem como
esquecer seu rosto, sua cabeça erguida enquanto todos os outros
choravam."
Ela sorri tristemente.
"Foi como mantive minha sanidade" ela responde, sua voz
dolorosamente seca. "Eu repetia para mim mesma que não
importava o que eles fizessem comigo, eles não poderiam tirar meu
orgulho. Eles não poderiam tirar meu direito de ser corajosa ou meu
direito de olhá-los nos olhos enquanto me estupravam. Eles fizeram
seu pior e a única coisa que eu podia fazer era ser o meu melhor.
Portanto, não importava o que eles fizessem comigo, eu os olhava
nos olhos. Eu não queria que eles pensassem que tinham me
quebrado."
Eu a encaro, vendo uma tranquila bravura nos seus olhos. Mas
algo está lá, algo assombroso e triste. Algo que me faz perguntar.
"Eles fizeram? Eles te quebraram?"
Ela está quieta. Na realidade, a sala inteira está quieta.
Caso alguém deixasse cair um alfinete, eu seria capaz de ouvi-
lo. Pergunto-me se a pergunta é inadequada ou rude, porém a
terapeuta não interrompe.
Finalmente a garota balança a cabeça.
"É por isso que estou aqui. Fiz terapia logo depois que
aconteceu, mas não quis ceder e fazer todo o impaciente processo de
terapia. Senti-me fraca, como se a terapia fosse um sinal de fraqueza,
um sinal de que eles ganharam. Mas finalmente percebi que, se
deixasse o estresse pós-traumático controlar o resto da minha vida aí
sim eles teriam ganhado. Isso...” Ela faz uma pausa, apontando para
o amplo círculo ao redor da sala. "Isso é a minha vitória. Isso sou eu
chutando seus traseiros fedidos."
Os outros soldados irrompem em aplausos e estou em silêncio
por um momento, observando o grupo. Todos parecem apoiar e não
há olhar crítico no rosto de ninguém. Percebo que não estou batendo
palmas. Então, me levanto e bato palmas mais forte ainda enquanto
eu olho para os olhos duros da garota.
Quando os aplausos finalmente cessam, eu recuo e sento, a
garota se levanta e atravessa o círculo. Quando ela chega até mim,
ela para na minha frente.
"Nunca tive a chance de agradecer," ela me diz. "Não posso
acreditar que você está aqui... Que de alguma forma Deus colocou
você no meu caminho para que eu pudesse te agradecer pelo que
você fez. Serei eternamente grata, a você e a seus homens que me
tiraram daquele inferno naquele dia. Você salvou a minha vida."
Ela bate continência e me saúda.
Não consigo expressar a emoção que me imunda neste
momento.
Como soldado, fiz meu trabalho e voltei para nosso
acampamento. Não parei para falar com ninguém. Ver essa garota
aqui é um lembrete de que meu trabalho teve um propósito. E não é
qualquer propósito. Enquanto muito do trabalho era feio e
implacável, o restante salvou algumas vidas.
Nós fizemos a vida dessa garota melhor, talvez eu não seja
totalmente inútil.
Bato continência e devolvo a saudação.
A sala explode em aplausos novamente e a reverência
silenciosa é quebrada.
O restante da sessão passa lentamente. Finalmente, chega a
hora da despedida e todos começam a falar entre si. A garota parece
que vai vir falar comigo, mas ela é agarrada por outro soldado na
saída. Assim é melhor. Realmente só quero voltar para o meu quarto
e ir dormir.
Pego um sanduíche de uma das máquinas de venda automática
e volto ao meu quarto, segurando meu pão seco com peru.
Caio na cama e olho para o teto por um tempo até que eu
decido estar sendo patético, ficando aqui sem fazer nada. Ao invés de
deixar as paredes se aproximarem de mim, eu coloco um short, faço
flexões e abdominais simplesmente para me livrar da energia
sobressalente. Depois de ter feito quinhentos de cada, eu ainda estou
inquieto.
Olho para meu laptop, lutando contra meus impulsos de ligá-lo
e mandar um e-mail para Madison.
Foda-se. Ela pode não querer falar comigo, mas eu com certeza
quero falar com ela.

“Cara Maddy,
Tenho certeza de que você não quer ouvir isso, porém estou
com saudades.
Com amor,
Gabe”
Capítulo Vinte e Três

Madison

As paredes da casa estão se fechando em mim. Olho em volta


para os quadros, móveis e o reflexo... E todas as coisas que minha
mãe pegou. Todas as coisas que não são minhas. É hora de mudar
isso. Não vou ficar aqui parada, sentindo pena de mim mesma.
Eu me enrolo no sofá, puxando o cobertor mais firmemente
em torno da minha cintura, enquanto olho através dos catálogos de
móveis. Preciso de uma nova mobília na sala, no quarto, na cozinha.
Tudo novo.
Comprar é bom para manter minha mente fora do Gabriel.
Porque pensar sobre ele é patético e eu não sou uma fodida patética.
Ligo meu laptop e compro tudo, não me sentindo nem um
pouco culpada por gastar tanto dinheiro. O Hill deu lucro este ano, e
posso pagar. Assim como eu poderia usar algum dinheiro para
mudar minha vida, ao invés de mais sapatos.
Quando o telefone toca meu coração pula, porque por apenas
um segundo, eu acho que pode ser Gabriel.
É estúpido, eu sei. Porque mesmo que ele ligasse, eu não iria
atender. Não há nenhuma maneira de me expor novamente e ele
pisar em mim. Foda-se. Tudo.
Mesmo assim, quando vejo o número do Hill piscando na tela,
a decepção transborda através de mim e fecho meus olhos.
Se eu não posso falar com Gabe, então eu não quero falar com
ninguém hoje. Deixei a chamada ir para a caixa de mensagem
enquanto fecho meu laptop e vou para a varanda.
Afinal, aparentemente eu sou patética.
Sento-me à mesa, olhando para o lago. E mesmo em meio a
uma vista deslumbrante e ouvindo o som da água, tudo que posso
fazer é me lembrar de Gabe e da noite que ele fez amor comigo nessa
mesa.
Fecho os olhos e me lembre do jeito que... Seus lábios roçaram
meu pescoço, a maneira que ele mordiscava meu ombro, sua voz na
minha orelha, seus dedos dentro de mim. O calor dos nossos corpos
pressionados juntos na chuva fria. Sentir ele dentro de mim, me
preenchendo por completo.
Suspiro. Então, fecho meus olhos, segurando as lágrimas.
Porra não chore.
Ele te deixou.
Então porra, não chore.
Mantenho meus olhos fechados por um minuto, tentando me
recompor... Estou tão orgulhosa quando percebo que não caiu
nenhuma lágrima.
Posso fazer isso. Ele não me quebrou.
Depois de alguns minutos pego meu telefone e escuto a
mensagem.
Ei, Maddy. Aqui é o Tony. Como se eu não fosse
reconhecer sua voz. Sorrio. Você ouviu falar de Jacey? Ela não
apareceu para trabalhar e não ligou.
Infelizmente, está muito tarde. Ela provavelmente está
desmaiada depois de curtir uma noitada em algum clube. Então, eu
ligo para ele e aviso. Clico no meu e-mail.
Estou sem fôlego quando vejo um de Gabe.
Enquanto leio as palavras, meu coração dispara.
Ele sente minha falta.
Minhas mãos tremem enquanto eu digito uma resposta.
Você me deixou. Você fez esta escolha. Agora ambos temos
que lidar com isso.
Fico olhando para as palavras de ódio pulando no meu
coração, dando voltas e voltas. Então apago.
Queria que você não tivesse me deixado. Mas você me deixou.
Enquanto olho para as novas palavras, lágrimas enchem meus
olhos e meu coração está sangrando junto com as lágrimas nos meus
olhos. Foda-se. Pressiono rapidamente o delete, excluindo as
palavras.
Eu sinto sua falta, também.
Apesar de todas as coisas que sinto, sentir falta dele é a maior
de todas. Mas não posso dizer isso a ele. Porque seria como dizer que
apesar dele ter me deixado como se eu não fosse nada, está tudo ok.
E não está tudo ok.
Apago a mensagem, meus dedos pesados como pedra
enquanto fecho o laptop.
Se você não sabe o que dizer, é melhor não dizer nada.
Capítulo Vinte e Quatro

Gabriel

Você sente que precisa estar sempre alerta ou sempre em


guarda?
Em sua opinião esse é um instinto adquirido depois do
incidente?
Você se assusta com facilidade?
Brand não estava mentindo quando ele me disse que essa
merda é uma merda. Essa merda é como se alguém tivesse chutado
suas bolas e essas perguntas me irritam.
O segundo dia não é melhor do que o primeiro. Para ser
sincero foi até pior. As perguntas que eles fazem, tanto na terapia de
grupo como na terapia individual, são ridículas.
Eles começam aparentemente falando sobre perguntas
inofensivas referentes às missões. Depois isso se aprofunda e eles
começam a perguntar sobre os incidentes que nos trouxeram aqui.
Nossos medos.
É como uma teia pegajosa de besteira terapêutica.
Estou desanimado enquanto volto para meu quarto depois da
minha sessão de terapia individual. Não estou com vontade de ir ao
refeitório jantar. Então, comprarei algo na máquina mais tarde.
A primeira coisa que faço depois de fechar a porta do meu
quarto é olhar meu e-mail. Enquanto digito minha senha, sem
perceber prendo a respiração... Quero ver o nome de Maddy. Mas
não há nada, somente uma nota de Brand.
“Gabe,
O segundo dia realmente é uma porcaria, eu me lembro.
Aguente firme. Não é fácil, nem parece que vai funcionar, eu sei.
Mas confie em mim, vai dar certo. Basta manter o queixo erguido,
mano.
Brand”
Aprecio a atitude de Brand, eu realmente aprecio. Mas tudo
que eu queria ver era uma resposta de Maddy e a falta de uma já é
uma resposta em si.
Estraguei tudo e a perdi. Perder seu amor é tão ruim quanto
tudo o que eu passei no Afeganistão. Cada porra de sofrimento. E
não há nada que eu possa fazer sobre isso.
Meu estômago ronca. Então, fecho meu computador e vou até
a área comum onde às máquinas de venda automática estão. Escolho
sanduíche e batatas fritas antes de virar e ver Annie, a enfermeira do
exército, atrás de mim, segurando um punhado de moedas.
"Então, hoje foi um saco, né?" Ela olha para mim. "Foi o
segundo dia para você, não foi?"
Concordo com a cabeça, sabendo que ela não tem nenhuma
ideia de quão ruim foi para mim. "Sim. Hoje o dia pareceu bastante
inútil. Meu amigo me mandou um e-mail me dizendo que vai
melhorar. Ou pelo menos parece que vai fazer algum sentido."
Annie acena em concordância. "Sim, é verdade. Não fica mais
fácil, mas, pelo menos, começa a fazer sentido."
"Quantas sessões você tem por dia?"
"Só uma", ela me diz enquanto coloca suas moedas na
máquina. "Estou fazendo trabalho voluntário enquanto estou em
tratamento aqui no hospital. Então, não tenho muito tempo livre. E
você?"
"Duas por dia", eu respondo. "E agora está parecendo muito
patético. Mas estou esperando que amanhã melhore. Boa noite,
Annie."
"Boa noite." Ela fala depois de mim.
Posso senti-la me observando enquanto vou embora. Sua
atenção me deixa um pouco desconfortável, já que não sei
exatamente o que ela quer de mim. Quase me sinto colocado em um
pedestal, desde que eu estava presente na equipe que a resgatou. Eu
tenho um inferno de certeza que não mereço isso.
Depois que como meu sanduíche, abro meu e-mail mais uma
vez, prendendo a respiração, mas logo solto meu fôlego em um
suspiro lento. Não há nada. Minha caixa de entrada está vazia.
Capítulo Vinte e Cinco

Madison

Termino a ligação com o empreiteiro que contratei para


reformar minha casa e Tony olha para mim da cadeira em frente à
minha mesa.
"Você contratou a empresa Mathis e Filho?” Ele levanta uma
sobrancelha. "Porque eu conheço Derrick Mathis. Diga-lhe para lhe
dar um desconto."
Sorrio, apesar da maneira como me sinto, ainda sorrio.
"Eu o conheço também,” lembrei a Tony. "Confie em mim,
estamos fazendo um bom negócio. Ele pintará todos os cômodos da
minha casa e colocará o novo piso e azulejo. Ele vai fazer todo esse
trabalho em uma semana. Uma vez que eu decidi fazê-lo, eu só quero
pronto. Urgente. Então, ele enviará várias equipes para fazer isso
com cuidado. Vou ficar com Mila e Pax por poucos dias, enquanto
tudo está sendo feito."
"Bom plano" Tony concorda, as mãos robustas e insolentes
dele num trabalho programado. "Nós temos que falar sobre Jacey,
Mad. Este é o segundo dia consecutivo que ela não entra em contato.
O que diabos está acontecendo com ela?"
Suspiro. Eu mandei uma mensagem para ela ontem à noite e
ela não respondeu... E isso sempre significa que ela está fazendo
algo que ela sabe que eu não aprovaria.
"Bem, vamos descobrir.” Suspiro novamente e pego o telefone.
Disco o número dela e toca cinco vezes. Fico pensando que vai cair
no correio de voz quando ela finalmente responde, surpreendendo-
me.
"Ei, Maddy", ela diz brilhantemente, como se não estivesse
sumida por dois dias. "O que está acontecendo?"
"Diga-me você", respondo com firmeza. “Você faltou ao
trabalho dois dias consecutivo. O que no inferno aconteceu, Jacey?
Preciso de você aqui. O negócio é por temporada e eu preciso da
equipe completa."
Há uma pausa, um farfalhar e uma voz no fundo.
Uma voz de homem. Uma voz familiar de homem.
"Quem é esse?" Exijo desconfiada. "Eu sei que não é quem eu
acho que é."
Outra pausa, significativa e longa.
Sinto o sangue ferver, até os meus ouvidos, derramando em
meu rosto, corando-o em um vermelho brilhante.
"Jacey, que porra Jared está fazendo em sua casa?”
Tony concentra-se na minha frente, carrancudo para o
telefone. Ele segura as mãos para cima ao questionar os motivos de
Jacey e eu balanço minha cabeça.
Não tenho ideia, respondo para ele.
"Eu sei," Jacey finalmente suspira. "Eu sei que você e Gabe vão
ficar loucos, mas Jared veio me ver na outra noite e me pediu
desculpas por tudo. Ele estava apenas sendo um idiota, porque
sentiu muita saudade de mim, Mad. Ele estava para baixo. Ele é um
cara bom. Ele só precisa consertar algumas coisas. Ele realmente me
ama."
Oh, Meu Deus! Meu estômago cai em meus dedos do pé e eu
não posso nem pensar.
"Jacey, ele não é bom. Ele só se preocupa com ele mesmo. Sei
que tem problemas de aceitação. Mas você não precisa da aceitação
dele. Ele é um idiota. Ele sempre será um idiota. Ele não vai mudar.
E não estava bêbado quando você mentiu sobre ele para Gabe? Eu
acho que ele apenas não esquecerá isso."
Tony está de pé agora, uma nuvem de trovão sobre mim. Ele
não pode acreditar nessa merda mais do que eu.
"Pedi desculpas por isso", Jacey diz fracamente. "Ele entende
que eu só estava uma bagunça. Que eu perdi o meu irmão."
Minha cabeça cai para trás. Olho para o teto e conto até dez,
respirando pesadamente.
"Mad?” Jacey fala hesitante.
Oito... Nove... Dez.
Tomo outro fôlego.
"Jacey, eu te amo. Mas você está seriamente fodida. Se você
precisa de uma atenção ruim, então você corre de volta para o idiota
psicopata, você precisa de uma ajuda séria. Eu te amo. Você vai ser
sempre a minha melhor amiga. Mas você está demitida. Tenho que
ter alguém aqui que eu possa contar na hora certa. Quando você
colocar sua cabeça no lugar, você poderá voltar.”
Ela protesta, mas eu a ignoro.
Tony e eu nos entreolhamos.
"Sinto muito." Dou de ombros. "Às vezes você tem que jogar
um pouco duro no amor. Isso é realmente estúpido. Não acredito
que ela está fazendo isso. E eu não posso nem contar a Brand e
Gabe, porque eles estão incomunicáveis. Poderia enviar um e-mail
para Gabe, mas sei que ele não precisa dessa merda agora. Não
enquanto ele está em Walter Reed."
Nunca vi Tony tão irritado como ele está agora, suas grandes
mãos apertadas em punhos e ele está sobre mim, sua boca se
contorcendo em um careta.
"Envie uma mensagem e diga pra ela ficar parada. Vou até lá
para conversar com ela. Ela precisa de um chute na bunda e eu sou o
único que vai fazer isso.” Ele me diz enquanto se dirige para fora do
escritório.
"Não se envolva com Jared”, grito depois a Tony. "Ele não vale
a pena."
Pulo e corro atrás dele.
Ele se vira e olha para mim. "Não se preocupe. Só vou falar
com Jacey, para chutar o pequeno punk para fora da casa dela."
Suspiro. Isso é o que eu temia.
Mas não há nada que eu possa fazer a não ser observar como
Tony arranca porta afora.

****************************************************************
Gabriel

“Pelo que você me descreveu, você matou uma pessoa inocente


que foi enviada para matá-lo num esforço coordenado para matar
outras cem pessoas. Diga-me, Gabe. Você realmente sente como se
você assassinasse a garota – ou todas as outras meninas e mulheres?
VOCÊ. Não os militares dos EUA, não a sua unidade e não o tio da
menina... Mas VOCÊ?”
Quero socar meu maldito terapeuta e afundar seus fodidos
dentes até a goela. Esta sessão individual durou três horas hoje, três
exaustivas horas.
Até agora, nos últimos três dias, eu tive que escrever sobre o
que aconteceu, falar sobre o que aconteceu e pensar sobre o que
aconteceu. Profundamente. De uma forma que eu não nunca fiz.
Mas hoje de manhã eu tive um grande avanço.
Percebi que uma coisa é a raiz do meu problema. Sou capaz de
lidar com o fato de que Mad Dog morreu, mesmo que eu sinta que eu
deveria ter evitado. Já vi outros homens morrerem antes e tive que
lidar com isso.
O que me tortura mais é a coisa que me dá pesadelos.
A garota.
Ela precisava da minha proteção e eu falhei com ela. Eu a
matei em vez de ajudá-la. Porque, eu não pude ajudá-la no segundo
que eu tive para tomar uma decisão.
Eu falhei.
Esse é o ponto crucial disso. Não fui treinado para falhar. Mas
porque eu falhei, as pessoas morreram e eu não posso passar por
essa culpa. A menina, para mim, simboliza minha falha.
Uma vez que fazemos essa descoberta, Dr. Hart, meu
terapeuta, me faz falar sobre tudo o que eu sei sobre ela.
O nome dela era Ara Sahar. O exército me disse isso.
Ela tinha dez anos de idade. O exército também me disse isso.
Seu tio era um rebelde talibã que a sequestrou e a mandou
para destruir o meu Humvee. No entanto, isso foi outra coisa que o
exército nos disse.
Ela estava apavorada e precisava da minha ajuda. Ninguém
tinha que me dizer isso, eu vi nos olhos dela. E é por isso que eu não
posso me perdoar. Não vi as outras meninas e mulheres enquanto
elas ainda estavam vivas. Mas eu vi Ara Sahar.
"Até que você perdoe a si mesmo, você não vai deixar isso pra
trás", Dr. Hart me diz solenemente. "Já vi esse tipo de coisa mil
vezes."
Encaro-o com um peso bem pesado em meu peito.
"Como posso me perdoar por falhar com uma criança?"
Pergunto-lhe dolorosamente. "Por falhar com uma centena de
crianças? Se você estivesse no meu lugar você poderia? Se você
sentisse o cheiro delas queimando, você poderia esquecer isso?”
Dr. Hart me olha pensativo.
"Se eu fosse você, eu tentaria pensar em alguma coisa,
qualquer coisa, que pudesse fazer para me dar paz. Às vezes nós
apenas temos que enganar nossas mentes para acreditar no que
dizemos a ela. Alguma vez você já pensou em escrever uma carta aos
pais de Ara? Explicar o que aconteceu então pedir o seu perdão.
Tenho certeza de que o exército pode nos ajudar a descobrir onde
enviá-la ou nos dizer, se seus pais ainda estão vivos."
Jesus Cristo. Até mesmo a ideia de falar com os pais de menina
envia meu estômago diretamente para meus sapatos. Tenho certeza
que eu sou a última pessoa eles querem ouvir.
Mas talvez eles mereçam uma explicação. Um pedido de
desculpas. No mínimo.
Engulo.
O terapeuta empurra um bloco e uma caneta para mim.
"Esse é o seu trabalho de casa", ele me diz.
Encaro-o rigidamente antes de finalmente suspirar e levar o
bloco de notas.
Naquela noite, enquanto eu me sento na escuridão do meu
quarto, olho para a página em branco, por pelo menos uma hora
antes que eu possa pensar o que dizer. Finalmente,começo a
rabiscar.

“Caros Sr. e Sra. Sahar,


Vocês não me conhecem, mas eu fiz algo que mudou suas
vidas... E a minha.
Meu nome é tenente Gabriel Vicent e até há pouco tempo, eu
era um fuzileiro treinado dos Estados Unidos. Estava com o
comboio envolvido na explosão do Humvee que matou sua filha.
Estou olhando para as palavras que escrevo e elas são muito
preto no branco - muito assunto com poucos fatos. Mas, na
realidade, o que aconteceu está longe de preto no branco. Eu penso
na sua filha todos os dias. Todo dia, eu gostaria de poder parar o
que aconteceu, que eu poderia ter ajudado. Todos os dias, eu me
odeio por não ter sido capaz de fazer.
Não sei o que dizer a vocês, exceto que estou muito, muito
triste. Lamento, mas vocês nunca saberão. Duvido que eu jamais
seja capaz de me perdoar pelo que aconteceu. Eu mal posso pedir-
lhe perdão. Então, eu não vou. Mas eu preciso que vocês saibam
que se eu pudesse mudar o que aconteceu naquela noite, eu
mudaria.
Sinto muito pela sua perda.
Minhas profundas condolências,

Tenente Gabriel Vincent


Tenente do Exército dos Estados Unidos,
Regimento setenta e cinco.”

Li e reli a carta. Então, finalmente decidi que não há nada mais


que eu possa dizer. Dobrei-a e coloquei de volta no bloco de notas
para dar Dr. Hart no dia seguinte.
E então eu pensei em Maddy. Pensar muito sobre o perdão me
faz pensar nela. Fora isso, ela é a única que eu devo pedir perdão. Eu
a fiz confiar em mim, então a deixei. Devo tê-la chocado, um
pensamento que me esmaga.
Meus dedos voam pelo teclado e eu não me importo de ser
visto como um fraco ou como um coitado. Só preciso que ela saiba,
que ela realmente saiba, que eu sinto muito. Mesmo que ela nunca
possa me perdoar, eu quero que ela saiba.

“Querida Maddy,

Escrevi uma carta para os pais da menina... Da menina


afegã. E isso me fez perceber uma coisa. Não pedi que me perdoe
por deixá-la do jeito que eu deixei.
Prometo a você, eu só queria te proteger... De mim. Eu
machuquei você, Maddy. Eu poderia tê-la matado. Mas quando eu
te deixei sem uma explicação, sei que a machuquei também.
Você não merecia que eu entrasse em sua vida e pisasse nela.
Sinto muito por isso. Sinto muito por lhe oferecer algo que eu não
deveria, porque, na época, uma vida comigo simplesmente não era
possível.
Estou aqui agora na CPT, esperando... Rezando... Que eles
possam pegar todos os meus pedaços destruídos e me juntar
novamente.
Mas é uma merda aqui. Odeio isso e todo dia eu não sei se eu
posso ficar. A terapia faz a linha de nos quebrar na base, para que
eles possam nos construir de novo, ensinando-nos direito a
maneira de lidar com nossa merda. É terrível.
Não sei se eu sou forte o suficiente.
Sinto muito por despejar isso em você. Tenho saudades de
falar com você.
Tudo o que eu realmente queria dizer era que eu estou mais
triste do que você jamais saberá. E que, apesar de não merecer isso,
eu espero que você possa me perdoar por ferir você.
Com amor,
Gabe”
Eu me sinto completamente dizimado quando fecho a tampa
do meu laptop. É como se eu tivesse tocado hoje em cima de cada
emoção que eu já tive e eu decido que tenho tempo para um cochilo
antes da minha última sessão do dia.
Quando eu derivo no sono vejo os escuros olhos de Ara Sahar.
Ela está me olhando com curiosidade, mas não há culpa em seu
rosto agora, o que rompe o costume.
Mas os pesadelos ainda virão.
Capítulo Vinte e Seis

Madison

Enquanto espero Tony voltar, eu preguiçosamente navego na


Internet em meu celular, evitando o desejo de ver o meu e-mail.
Algo, no fundo, me dizia que eu poderia encontrar um e-mail de
Gabe. E se ele continuar me mandando e-mails, simplesmente, não
sei quanto tempo posso resistir a responder-lhe.
Eu sinto falta dele.
Eu sinto falta dele.
Deus, eu sinto falta dele.
Mas eu nunca mais posso me abrir assim, novamente. Quando
faço, apenas me machuco e, de forma alguma, não passarei por isso
de novo. Nunca. O Band-Aid foi arrancado agora e a cura será longa.
Eu só tenho que colocá-lo para fora da minha vida.
Mas sou fraca. Nem dois minutos depois, verifico meu e-mail.
E eu estava certa. Há uma mensagem de Gabe.
Meu coração bate alto em meus ouvidos, quando leio cada
dolorosa palavra. Oh, meu Deus. O e-mail diz que ele acha que me
destruiu, que me destrói. Não importa o que ele fez para mim,
mesmo deixando-o, não posso negar que ele é forte e corajoso... E
ouvi-lo assim faz meu coração quebrar. Percebendo que ele quer
meu perdão, faz meu coração doer.
Apertei o botão “Responder” e, hesitante, comecei a digitar.
“Você é forte o suficiente. É isso aí.” Digo a mim. Não sei se início
com “Caro Gabe" ou se no final escrevo "Amor, Madison."
Meu dedo hesita acima do botão “Enviar”. Tremo. Não sei se
devo enviá-la. Não quero que ele saia. Ele precisa de ajuda.
Honestamente, quero que ele fique inteiro novamente. Embora, eu
não possa estar com ele, ele precisa estar inteiro.
Meus dedos coçam.
E então, meu telefone toca, interrompendo-me.
O número de Jacey aparece na tela e reviro os olhos. Ela é a
última pessoa com quem quero falar agora. Sério. Se ela quiser ser
tão estúpida, eu não posso sentar e vê-la se tornando. Mas ainda
assim. Quando olho para o telefone, quando olho para o nome dela,
alguma coisa em mim diz que devo respondê-la. Que preciso
respondê-la.
Pego o telefone, hesitante. E meu ouvido é, imediatamente,
preenchido com Jacey gritando.

****************************************************************

Gabriel

Gritos enchem meus ouvidos, mais uma vez, semelhantes a


aqueles que me fazem lembrar aquela porra de noite. Fico olhando
para o papel que está a minha frente.
“Então, se tudo foi culpa sua, como poderia você consertá-las?
Vamos trabalhar com isso. Anote em um pedaço de papel cada coisa
que você poderia ter feito para evitar as mortes de Ara Sahar e
Mad... Ou as mortes das meninas e mulheres na aldeia. Porque
tenho a impressão que não poderia ter feito nada para salvá-las.”
Tentar provar isso, força a minha mente e me faz sentir mal.
A brancura do papel zomba de mim, quando minha caneta
permanece imóvel acima dela. Ouço o tique taque do relógio e eu
encaro meus sapatos. Finalmente, então, rabisco uma resposta. Eu
odeio essa merda. O terapeuta está tentando tirar tudo de mim, em
apenas uma manhã. Que saco. Uma batida suave na porta
interrompe a minha lição de casa, felizmente. Logo depois de
respondê-la, iria me encontrar com a enfermeira do exército.
"Ei, soldado”, ela me cumprimenta com um sorriso, ao mesmo
tempo em que me lança um refrigerante. “Como foi a sua sessão?”
Praticamente rosno uma resposta, antes de cair de volta para a
cama, pegando o refrigerante aberto e tomando um gole. "Odeio essa
merda.” Annie se senta na cadeira, com suas botas de combate
brilhantes. Elas possuíam um brilho incrível.
“Eu sei”, ela responde com simpatia. “Você vai odiá-la o tempo
todo. Mas eu tenho que te dizer. Ele não ajuda. Todas as questões
que eles pedem, realmente, tem um propósito. Eles nos levam a
pensar de maneira que não fazíamos anteriormente. Continuo a ter
pesadelos, mas eles não duram a noite toda. Ainda continuo nervosa,
mas não olho tanto por cima do ombro, quanto antes. Podemos
realmente fazer isso, soldado.”
"Não sou mais um soldado”, digo a ela, enquanto rabisco outra
resposta na folha de trabalho.
Ela revira os olhos.
"Você sabe tão bem quanto eu que você sempre será um
soldado. Está em seu sangue."
E está.
É bom sentar e conversar com alguém que fique bem com isso.
Brand percebe, mas não falamos sobre isso. Os homens
simplesmente não o fazem.
Annie olha para mim. "Você nunca sente falta?”
Agora, é a minha vez de revirar os olhos. "O que faz você
pensar isso?”
Ela sorri. "Sentiria falta como o inferno. Quando voltei, meus
pais me pediram para renunciar minha comissão, a sair para a vida
civil e ser 'normal'. Como se isso fosse possível de acontecer. Sou um
soldado. Sempre serei um soldado. Não posso imaginar minha vida
sem as minhas botas.”
Isso me impacta como um soco, pois eu me virei sem as
minhas botas.
"Todo mundo tem que fazer o que é melhor para eles." Eu
finalmente respondo. "Tive que me demitir porque isso era o melhor
para mim e o melhor para a minha equipe.”
Annie acena compreensivamente e sei que ela, de fato,
entende. Ela não pode, possivelmente, saber o que era ser um
fuzileiro ou demitir-se do trabalho que eu sempre sonhei durante
toda a minha vida, mas ela gostaria de saber o que é ser um soldado
até o osso.
Esse tipo de entendimento faz com que seja fácil de me
relacionar com ela. Também é fácil para ela se relacionar comigo.
Ela olha para mim, remexendo as mãos sobre o colo.
"Quero agradecer, mais uma vez, por estar aqui”, ela
finalmente disse. “Não só para que eu possa agradecer, mais uma
vez, tudo o que fez por mim, mas por você ter me feito lembrar
algumas coisas. Coisas importantes."
Levanto uma sobrancelha. “Como o quê?”
Annie se levanta de sua cadeira, para ao lado da minha cama e
vejo que algumas gotas caem de seus olhos, algo que me coloca de
imediato em desconforto. Que porra é essa?
"Você me lembrou de que há caras fortes lá fora, que sabem o
que diabos estou passando, porque você está passando por tudo isso
também”, ela diz em voz baixa.
Enquanto fala, ela desliza a mão suavemente sobre meu braço.
Congelo, quando percebo o que está acontecendo.
"Também decidi que tudo acontece por uma razão”, ela
continua. "Quais são as chances de você estar lá naquele dia no
esquadrão que me salvou e que estaria aqui quando eu viesse buscar
ajuda?” Ela faz uma pausa por um breve segundo. "As chances são
muito reduzidas, Gabe. Acho que era para eu conhecê-lo. Eu
realmente penso. A pergunta é... O que vamos fazer sobre isso?"
Antes que eu possa pensar sobre o que ela está fazendo, ela se
inclinou para mim, pressionando os lábios suavemente nos meus.
Estou totalmente congelado, enquanto ela me beija. Eu não a vi
vindo, realmente não consegui pará-la, foi inesperado. Pensei que
estávamos apenas lamentando sobre as nossas questões.
As mãos dela vêm para cima e agarram em torno de mim, por
um momento, um momento, eu penso sobre isso. Seria tão fácil
escorregar para aquele lugar vago, onde o sexo me leva, onde nada
mais importa. Seria a coisa mais fácil do mundo. E eu preciso de
alguém. Preciso ser consolado por alguém. Mas ela não é a pessoa
que preciso. Já tentei por essa estrada com Alex e não funcionou.
Não quero mais ninguém.
Puxo os meus braços de Annie e, suavemente, a empurro,
olhando em seus olhos.
"Annie, você não quer fazer isso," digo a ela com firmeza.
“Você não sabe. Você está sendo emocional, por causa deste lugar.
Está tudo bem, tenho certeza que isso acontece com todos.”
Ela fecha a cara para mim e, então, chega para mim
novamente.
"Não, não é este lugar. É você, Gabe. Só quero você. Você me
faz lembrar o que sei sobre o mundo. Você faz tudo ter sentido.”
Depois de me conhecer por alguns dias? Olho para ela
interrogativamente e segurando em seu braço, questiono.
"Annie, pense no que você está dizendo. Posso ver porque você
poderia pensar que temos uma conexão. Porque ambos temos a
mesma merda mexendo conosco. Mas pense sobre isso... Nós temos
a mesma merda acontecendo. Seríamos um trem descarrilado. Cada
um de nós precisa de alguém do lado de fora desta bagunça, alguém
que possa manter as coisas em perspectiva para nós... Alguém para
nos dar uma razão e para sair dessa. Eu ouvi você falando com
alguns amigos sobre o seu namorado no almoço, outro dia. Você
precisa dizer a ele tudo o que você me disse."
Annie, agora, começa a chorar. Grandes e grossas as lágrimas
rolam por suas bochechas em listras pretas, por causa de sua
maquiagem. Foda-se. Odeio essa merda. Eu nunca sei o que fazer.
Eu, desajeitadamente, dou tapinhas em suas costas.
"Annie, não chore. Está tudo bem. Está tudo bem. Este é
apenas um mal- entendido.”
Ela continua a chorar e, então, chega até mim, enterrando a
cabeça em meu peito.
"Eu sinto muito”, ela cheira. "Sinto muito que eu não tenha
entendido e destruído tudo. Sou a culpada.”
Falo para ela novamente. "Você não destruiu qualquer coisa,
Annie. É um mal-entendido. Nossas emoções estão todas
bagunçadas aqui. Você não tem que se desculpar.”
Ela acena com a cabeça, funga, se afasta da cama e segue até a
porta.
"Sinto muito, Gabe”, ela funga novamente antes de sair.
Ainda estou balançando minha cabeça, mesmo depois dela
partir. Que diabos foi isso?
Quando me acalmo e organizo os meus pensamentos, percebo
o quão desconfortável essa situação foi, mas ela fez algo por mim.
Porque quando Annie olhou para mim, aceitando todos os meus
defeitos, com vista para eles, porque ela queria dormir comigo, me
fez perceber que era por isso que procurava as mulheres desde o
incidente. A sua aceitação me conforta.
Mas é momentânea.
Temporária.
Por apenas um minuto acalma a minha culpa. Deslizo no
esquecimento, em um lugar onde não sou julgado. Eles aceitam-me
pelo que eu sou. Isso! É por isso que eu procurei a prostituta em
Cabul, é por isso que quase dormi com Alex. Mas eu não posso mais
fazer isso. Aceitei o que eu fiz para Ara Sahar. Aceitei o porquê fiz
isso. E por causa disso, não preciso procurar um substituto para me
dar mais aceitação.
Preciso de algo real.
Algo permanente.
Isso é enorme.
Sinto-me atordoado, me sento com os meus ombros caídos,
minhas mãos sobre meu colo, só de pensar nisso. Tentei dormir com
Maddy pela mesma razão que dormi com todas as outras. Mas eu caí
no amor, com ela em seu lugar.
E agora ela é tudo que quero.
Pego o telefone.
Capítulo Vinte e Sete

Madison

Outra chamada emite um sinal sonoro, enquanto tento decifrar


os gritos de Jacey, mas não consigo atendê-la a tempo. Tudo o que
posso fazer é tentar dar sentido ao que ela está dizendo.
"Jacey, fale mais devagar. Não consigo entender você”, digo-
lhe rapidamente. "Respire.”
"Oh meu Deus, Madison!", ela grita. "Oh meu Deus... Oh meu
Deus.”
Ela está frenética e não está me ouvindo. Minha mão fica
úmida, enquanto aperto o telefone.
“O que foi?” Finalmente grito. “Jacey, o que está
acontecendo?”
"É Tony”, ela finalmente consegue dizer. "Jesus Cristo. Maddy,
você tem que vir. Estamos na curva da sua rua. Aquela...
Desagradável.”
Aquela em que meus pais morreram.
Meu coração para.
“Apresse-se”, Jacey lamenta. “Basta chegar aqui.”
Ouço uma sirene. Então, não ouço nada.
Não posso sentir os meus dedos ou pensar, quando pego
minha bolsa e corro para a porta. Não notei a viatura. Não vejo as
luzes vermelhas ou sinais de parada ou qualquer outra coisa. Eu
estou no piloto automático quando dirijo, enquanto me afasto com o
carro, não consigo perceber nada que acontece ao meu redor.
Não é nada ruim, eu digo a mim mesma, na medida em que me
aproximo.
Não é nada ruim. Ele teve um pneu furado. Ele teve um fender
bender22. Ele deslizou para fora da borda, como aconteceu comigo
há algumas semanas atrás. Não é nada ruim. Ele está bem.
Ele está bem.
Ele está bem.
Ele tem que estar bem.
Nada pode estar errado com Tony, porque ele tem que estar
bem. Ele me mantém viva. Ele segura a minha família e ele detém o
Hill conosco. Ele pega minha folga. Ele pegou folga do meu pai há
anos. Tornou-se meu pai, de certa forma.
Ele está bem.
Mas ele não está.
Ele não está bem. Eu sei antes de eu chegar lá. Eu sei, porque
sinto a morte em meu coração. Eu sei que quando olho para cima,
vejo o seu caminhão amassado ao lado da estrada. Sei de tudo o que
se passa, quando vejo a ambulância, os bombeiros e o pavor no
olhar, nos rostos de todos. Sei quando eu vejo a maca, seu corpo está
sobre ela, coberto com um lençol. Sei quando vejo a ponta de sua
bota debaixo do lençol.
Ele não está bem.
E eu não sou qualquer um.
Minhas pernas dobram e eu caio ao chão. Quando eu caio, eu
tomo o resto da cena. Vejo Jared algemado, vejo as lágrimas de
Jacey – as listras em seu rosto correndo para mim. Vejo
paramédicos vindo em minha direção.
E então, não vejo nada.

****************************************************************

22
É uma batida de carro que não causa danos muitos sérios.
Gabriel

Maddy não atende ao telefone.


Ouço chamar e chamar, em seguida, cai no correio de voz.
Escuto a toda mensagem, saboreando o som de sua voz, mas quando
o sinal sonoro vem, não posso falar. Ela não quer falar comigo. Não
vou forçá-la a me ouvir.
Com um suspiro, abaixo a cabeça para uma sessão de grupo,
sentando-me ao lado oposto de Annie da sala. Ela tenta pegar o meu
olhar, algumas vezes, mas eu a ignoro. Não estou bravo com ela, mas
eu não quero lidar com ela agora. Tenho problemas suficientes para
me preocupar, sem mais drama.
Em vez disso, concentro-me no papel a minha frente.
Em resposta a essa merda, de modo que eu só possa lidar com
ela em terapia individual.
Hoje à noite.

****************************************************************
“Eu gostaria muito que você pudesse ter evitado o incidente.
Mas eu estou ouvindo uma reviravolta definitiva na maneira que
você está falando sobre isso, Gabe. Em vez de dizer: ‘Eu devia ter
parado’, agora você está dizendo: ‘Eu gostaria de poder ter parado.’
Você já reparou nisso? Qual é a sensação de perceber que tudo isso
estava fora do seu alcance? Como você se sente?” Lembro-me das
perguntas.
A noite passada foi à primeira noite em um ano que eu não tive
pesadelo. Após a terapia individual, na noite passada, eu cai duro e
quando acordei, a uma hora atrás, levei um minuto para perceber
por que eu me sentia tão bem e descansado. Porque eu realmente
dormi. É uma porra de um incrível sentimento. Eu tinha esquecido o
que sentia.
Também percebi que meu terapeuta estava certo. Acho que
realmente mudei a culpa pelo que aconteceu, em longe de mim.
Quero dizer, na minha cabeça, sempre soube que não era culpa
minha. Mas cabeça e coração nem sempre concordam e meu coração
estava se sentindo culpado como o inferno.
Mas não se sente mais tão culpado.
Não sobre isso, de qualquer maneira.
Culpo-me sobre Maddy, que ainda está viva e bem. Mas eu sei
que não pode ser resolvido aqui. No entanto, isso não pode ser
resolvido se ela não quiser falar comigo.
As sessões hoje, não parecem tão cansativas como
normalmente, provavelmente porque estou me acostumado com elas
agora, mas também porque o fim está à vista. Só tenho uma mais um
dia, então, posso sair amanhã.
Mas e depois?
O que vou fazer, então?
Terei coragem de voltar para Maddy e tentar explicar? Porque,
pela primeira vez, sinto como se eu realmente pudesse vencer isso. E
se puder, sei que nunca a machucaria de novo... Mas se ela não vai
mesmo falar comigo, então não há nenhuma maneira dela me ouvir
tentar explicar. Só posso dizer que o vazio que sinto sem ela é
enorme. Não tinha percebido quanto da minha vida ela levou, até
que me afastei durante esta semana. De repente, notei sua
importância. E não há nenhuma maneira que eu quero continuar
assim.
De jeito nenhum.
Termino a minha sessão e faço o meu caminho de volta para a
minha sala, ignorando a voz de Annie chamando por mim no
corredor.
Não posso lidar com ela agora.
Estou no caminho para o meu laptop, para enviar a Maddy
outro e-mail, quando meu telefone toca na cômoda.
Brand.
"Cara, não quero interromper o seu tratamento, mas há algo
que você tem que saber. Quando você sair de manhã, você tem que
voltar para Angel Bay."
Antes que eu possa protestar ou argumentar, ele continua com
sua voz grave.
"Tony, o barman do Hill, está morto.”
"O quê?” eu pergunto, incrédulo. "O que aconteceu?"
Brand suspira longo e alto. “É uma longa história, mas envolve
Jacey.”
Engulo em seco. “O que aconteceu?”
“Ela aparentemente voltou para aquele porra do Jared. Eu não
sei os detalhes, mas Tony saiu para falar com ela e Jared jogou-o
fora da estrada. Ele morreu na hora.”
Como os pais de Madison.
Essa é a única coisa que posso pensar neste minuto.
"Jacey está bem?” peço calma. "Ela estava lá?”
“Sim, ela está bem. E sim, ela estava lá. Ela foi com Jared para
tentar acalmar a situação e ela não pode impedi-lo. Ela está muito
abalada, mas está bem.”
"E quanto a Jared?” Minha voz é de doer.
"Na prisão.”
Pausa.
“E Maddy?”
A voz de Brand amolece. "Jacey disse que Maddy vive um
naufrágio. Ela não quer falar com Jacey agora. Aparentemente, esse
cara era como um pai para ela. Está sendo difícil para ela. Ela estava
no local também. Você precisa vir pra casa, Gabe. Acho que ela
precisa de você. E Jacey também.”
“Estarei aí amanhã", digo a ele. “Diga a Jacey que estou indo.”
“E Maddy?”
"Não mencione a ela.”
"Mas..."
"Nada de, mas." interrompo. "Estarei aí Brand. Basta dizer a
Jacey”.
Desligo e olho para a parede.
Isso vai matar Madison. Eu sei que ela está devastada. Eu sei o
quanto ela amava Tony. Ela teve que lidar com tantas perdas em sua
vida - incluindo a minha.
Isso não é justo, porra!
Mas a vida não é justa, porra!
Tudo que quero fazer é pegar minhas coisas e ir embora.
Dirigir em linha reta para Angel Bay, agarrá-la e protegê-la de tudo.
Mas não posso protegê-la do presente. Não posso mudar a
morte de Tony.
Tomo uma chuveirada e arrumo minhas coisas. Em seguida,
caio na cama, contando as horas até que eu possa sair deste lugar e
voltar para onde eu pertenço.
Capítulo Vinte e Oito

Madison

Durante o dia todo fiquei na casa de Tony e Maria.


Eles não têm muito dinheiro e o pouco que tinham foi
direcionado para a mensalidade da faculdade de sua filha Sophia.
Assim, quando os ouço decidindo como pagariam o funeral eu digo.
"Quero pagar por isso", enquanto pego as fotos de família,
fotos que me incluem. Maria apenas olha para mim em estado de
choque.
Durante anos Tony tem feito parte da minha vida.
Ele é da família.
Esta é a única coisa que posso fazer por ele agora.
A última coisa.
"Isso é o que eu quero", garanto a Maria e ela chora em sinal
de gratidão. "Ele era como um pai para mim, Maria. Pra Mila
também. Ele sempre estava lá, quando eu mais precisava dele. É o
mínimo que posso fazer." Minha voz quebra e um nó se forma na
minha garganta e sei, por experiência própria, que serão semanas
até que seja capaz de engoli-lo.
É difícil de engolir quando sua garganta está cheia de dor.
Embora eu mal possa pensar em meu choque e tristeza, ajudo
Maria a tomar as decisões, porque sei que tudo o que estou sentindo
é amplificado cem vezes nela. E a pobre Sophia está enrolada em
uma bola em sua cama, incapaz de processar qualquer coisa.
Sei como ela se sente. Sinto que estou andando em torno de
uma névoa.
Mas há decisões a tomar.
Uma urna.
Arranjos para a cremação.
Flores.
Hinos.
Um obituário.
Todas as coisas necessárias para um funeral, nós temos que
decidir. Não posso nem acreditar que estou fazendo isso de novo.
Primeiro os meus pais... E agora Tony. É demais para mim. Em
seguida, Jacey me liga no meio disso. Justamente quando estou
sobrecarregada com tudo.
"Por favor, Maddy", ela implora em lágrimas. "Não queria que
isso acontecesse. Eu amei Tony também. Não tinha ideia de que
Jared ia fazer isso. Pensei que ele estava diferente. Eu achava que ele
estava mudando."
"Oh meu Deus, cale a boca", estalo e caminho para a varanda
da frente.
“Não podia nem estar falando com você, agora. Tony está no
necrotério por causa de suas decisões estúpidas. Nunca soube que
sua necessidade de aceitação, mesmo que ruim, faria você rastejar
para um babaca como Jared. Mas você fez. Você fez. E veja o que
aconteceu. Isto é culpa sua, Jacey. Sua culpa."
Desligo no meio da chamada, soluço e viro para encontrar
Maria olhando para mim, seus olhos escuros cheio de lágrimas.
"Não é culpa da menina", ela me diz suavemente, o cabelo
escuro balançando pela brisa. "Ela tomou decisões ruins, mas ela é
apenas uma jovem. Isso foi culpa de Jared Markson e de ninguém
mais. Tony escolheu ir lá. Ele tomou essa decisão. Você não pode
responsabilizar Jacey, Madison."
Posso. E eu fiz.
Estou tão chateada com o mundo que não posso ver em linha
reta.
Nada disso é justo.
E quando deslizo meu telefone em minha bolsa, vejo algo que
eu perdi ontem com tudo o que aconteceu.
Uma chamada perdida de Gabriel.
Parece que ele ligou quando eu estava falando com Jacey e ele
não deixou uma mensagem.
Essa merda de símbolo da chamada perdida.
E por incrível que pareça, não posso sentir nada sobre isso.
Meu corpo inteiro está dormente. Minha mente, meu coração, meus
membros. Não posso sentir e isso é bom.
Se não posso sentir, então a dor não pode me alcançar. Posso
voltar atrás e fazer o que preciso fazer. E Gabriel não importa agora.
Esses assuntos ficam para amanhã, depois do funeral.
Ficam no passado, esse terrível e pesado assunto.
Descobrir o que fazer com minha vida e meus assuntos.
Porque quando olho em volta, para o lago, o restaurante, para
tudo o que este lugar significa, acho que estou cansada disso.
Estou cansada de tudo isso.
Capítulo Vinte e Nove

Gabriel

Quando entro pela porta dos fundos do chalé dos meus avós,
sou praticamente atropelado por Jacey que se lança em meus braços.
"Graças a Deus você está em casa", ela grita enquanto enterra-
se em meu peito. Olho através da cozinha para ver Brand encostado
na porta e ele parece cansado. Ele, provavelmente, esteve
conversando com Jacey a noite toda.
"Ei, pessoal," saúdo-os calmamente, enquanto solto minha
bolsa no chão. "Eu sinto muito por Tony, Jacey. Sei que você era
próxima dele.”
Ela me agarrou, com o rosto coberto de lágrimas virou-se para
mim. "Eu o amo, Gabe. Você sabe disso, né? Você sabe que eu nunca
faria isso de propósito.”
Tenho que lutar contra o impulso de lhe dar um sermão, para
dizer a ela o quão errado era em primeiro lugar mentir sobre Jared
assediá-la, e então na verdade, voltar ao babaca.
Ela está muito frágil agora, eu posso ver. Seus ombros
delgados tremendo enquanto ela chora.
Brand balança a cabeça para mim alertando-me.
"Eu sei, Jace," digo a ela em seu lugar. "Isto não foi sua culpa.
Isso é culpa de Jared. Não há nada o que podemos fazer agora, mas
honraremos a memória de Tony.”
"Mas Maddy não vai mesmo falar comigo", Jacey continua a
chorar. "Ela acha que a culpa é minha. E ela provavelmente está
certa. Se eu não tivesse voltado para Jared. Se eu tivesse escutado
todos. O funeral será na parte da manhã e eu sei que se eu for ela
ficará perturbada. Mas eu preciso ir, Gabe. Ele era o meu amigo
também. E isso é tudo culpa minha.”
Eu a acariciei, acalmei e assegurei da melhor maneira que
pude. Em minha cabeça, estou chateado com ela. Mas não posso
fazê-la sentir-se ainda pior. Foi uma coisa estúpida de se fazer, mas
Jacey não tem um osso significativo em seu corpo. Ela nunca quis
que ninguém se machucasse.
Eu a levei para seu quarto e sentei-a em sua cama.
"Você precisa descansar, Jacey," eu a instrui. "Você têm bolsas
sob os olhos. Eu sei que você não dormiu. Isso não foi sua culpa e
você irá ao funeral. Eu vou com você, ok?"
Ela acena com a cabeça silenciosamente e se enrola. Puxo o
cobertor até o queixo e fecho a porta na saída.
Brand está esperando por mim na cozinha.
"Ela vai ficar bem," ele me diz enquanto me joga uma cerveja.
"Ela ficou acordada a noite toda. Mas ela vai ficar bem. Sei que
Maddy voltará atrás. Essas coisas que acontecem tão de repente são
sempre difíceis de aceitar."
Concordo com a cabeça, bebendo a cerveja e esmagando a lata
na minha mão, antes de sair de casa pela porta dos fundos.
"Onde você está indo?" Ele me chama.
"Vou sair", respondo, sem parar. Ele me conhece bem o
suficiente para não seguir-me enquanto ando o caminho pela praia.
Quando chego à beira da água, abaixo-me e olho para o
horizonte.
A partir desse ponto, tudo o que posso ver é o lago. É vasto,
amplo e me faz sentir pequeno.
Faz-me sentir como apenas um maldito pontinho no universo,
como se toda a minha merda fosse pequena para se preocupar.
Porque no esquema das coisas, é isso que é.
A vida continua. Se for bom ou ruim, não vai parar. E não há
nada o que eu possa fazer se não fizer o melhor dela.
A melhor coisa que posso fazer é de alguma forma consertar as
coisas com Maddy. Agora não é o momento, porque sei que ela está
atravessando o inferno, mas eu sei que eu tenho que tentar.
Mais uma vez.
Se ela me odeia e não quer falar comigo, eu vou ter que lidar
com isso.
Mas eu nunca vou me perdoar se eu nem tentar. Não sou a
porra de um desistente.
Não posso parar com isso. Não até que o jogo acabe
definitivamente.
Não que isso fosse sempre um jogo em tudo.
Capítulo Trinta

Madison

"Ainda não acho que isso seja uma boa ideia", afirmo a Mila,
enquanto Pax a transporta escada abaixo e a coloca em uma cadeira
de rodas alugada. Ela olha para mim.
"Eu amava Tony tanto quanto você", ela responde. "Como no
mundo eu poderia ficar aqui na cama durante seu funeral? Sério,
Maddy. Ele esteve lá para nós cada vez que precisamos dele. Estarei
lá para ele agora."
"Os funerais são para os vivos Mi", afirmo novamente. "Tony
não vai saber a diferença."
Pax balança a cabeça para mim. "Confie em mim. Argumentei
com ela a noite passada toda. Sua mente está decidida. Ela só vai ter
que ficar nessa cadeira de rodas e vamos levá-la diretamente para
casa.”
Suspiro de frustração. "Mila, a última coisa que precisamos
hoje é nos preocuparmos com você. Vai ser difícil o suficiente.”
Mila olha para mim de novo, os olhos vermelhos e seu rosto
coberto de lágrimas. “Maddy, hoje não é sobre você. Lamento soar
rude. Mas hoje é sobre Tony e todos nós devemos estar lá. Quero
estar lá.”
Suas palavras atingiram o alvo, bem no meio do meu coração.
Ela está certa. Hoje não se trata de mim e ela tem o direito de estar
lá também. Eu aceno lentamente.
“Você está certa. Sinto muito. Claro que você deve estar lá. Mas
nós vamos ter que trazê-la de volta para casa. Você não pode ficar
por muito tempo." Ela acena com a cabeça.
“Eu sei. Prometo que irei direto para casa assim que acabar.”
Pax a coloca no carro. Em seguida, carrega a cadeira de rodas
até o porta-malas e se vira para mim.
"Não gosto disso", ele me diz. "Mas ela tem um ponto. É
importante para obter o fechamento. Ela merece, tanto quanto todos
os outros.”
Concordo com a cabeça em silêncio, enquanto subo no banco
de trás.
Estou em silêncio enquanto nós dirigimos para a igreja,
silêncio enquanto nós descarregamos Mila. Silêncio enquanto
caminhamos para a igreja, silêncio quando encontramos nossos
lugares na seção da família ao lado de Maria e Sophia. Maria se
inclina para me dar um abraço e sentamos nos bancos de madeira
dura.
O cheiro esmagador de flores de funeral... Os lírios e cravos...
Eles têm um cheiro tão doce que fazem meu estômago virar e
provocam lembranças do funeral de meus pais. Do choro, da dor, do
sofrimento. Mas eu as bloqueio.
Hoje não é sobre mim. Olho para frente, na urna em preto
brilhante que segura Tony. É tão pequeno e ele estava tão grande.
Mal posso acreditar que ele cabe nela. Mas ele está lá.
Mal posso acreditar que isso aconteceu. Mas aconteceu. Tudo
realmente pode mudar num instante. Tudo pode acabar e está fora
de nossas mãos. É deprimente. Fecho meus olhos, ouvindo a estirpe
assombração de "Amazing Grace" filtrando através dos alto-falantes.
Não abro meus olhos novamente até Mila me cutucar ao lado.
Meus olhos se abrem e sigo seu olhar. Gabriel e Jacey estão
andando pelo corredor, a sua mão em seu cotovelo, enquanto ele a
guia para a igreja. Seu rosto está coberto de lágrimas e cansado, mas
não é nela que eu estou focada.
É nele.
Ele está aqui.
Meu coração salta de seu sono dormente, fora dos limites de
meu peito e para na minha garganta, enquanto pego e seguro seu
olhar. O seu é tempestuoso e preto, tão negro como a noite, tão preto
como sempre.
Ele não afasta do meu, ele mantém lá, como se uma fita
invisível estivesse nos segurando juntos.
Meu coração bate forte e sinto um absoluto alívio ao vê-lo.
Mesmo que eu queira odiá-lo, mesmo que eu queira estar furiosa
com ele e tenha raiva dele, tudo o que eu sinto é alívio.
Porque ele está aqui.
“Ele veio,” Mila sussurra. Concordo com a cabeça, sem dizer
uma palavra, sem quebrar o olhar de Gabe. Brand está atrás dele,
ambos usando seus uniformes de gala do Exército. Eles estão
impressionantes, enquanto sentam no banco de Jacey. Seus chapéus
nas mãos enquanto se sentam encarando à frente, duro, reto e digno.
Mesmo que Gabe não esteja olhando para mim agora, a fita
que nos mantém juntos ainda está lá, tão forte quanto sempre. É
como se mil volts de eletricidade estivessem ondulando no ar dele
para mim. Mas, então, o serviço é iniciado e eu forço minha atenção
dele para onde ela pertence... Para homenagear o homem que se
tornou o meu pai substituto, o melhor em muitos aspectos do que o
verdadeiro.
"Queridos amigos, estamos aqui reunidos hoje para celebrar a
vida de Tony Romano. Um marido, um pai, um amigo...”
Com os meus olhos para cima, pressiono um lenço nos cantos,
enquanto a voz do Pastor zumbe. Estou consciente do choro
silencioso de Maria ao meu lado, o braço de Pax enrolado em Mila,
das flores, da urna, das pessoas de luto.
Estou muito consciente de tudo isso, mas ainda é como se eu
estivesse suspensa. Distante. É como se estivesse vendo tudo através
de um véu.
Isso é o que tenho que fazer para não desmoronar.
Isso é o que sempre faço. Recuo atrás de um muro.
Os segundos transformam-se em minutos e, em seguida, em
horas. E só quando acho que acabou, Gabe está em pé. Olho para ele
no meio da confusão, não sei o que está acontecendo.
Mas ele avança para frente com um propósito, um papel
branco na mão.
Ele murmura algumas palavras para o pastor. Em seguida, o
pastor se vira para nós.
"O tenente Gabriel Vincent gostaria de dizer algumas
palavras.”
Puta merda. Meu coração bate. Mas que diabos?
Mila e eu nos olhamos rapidamente, mas minha atenção
imediatamente é completamente consumida por Gabriel. Ele é o
dono de púlpito, ele é o dono da sala.
Ele é dono de mim.
Não importa o que aconteceu ou o que vai acontecer. Ele é
dono de mim. Eu sei disso agora. Sei quando ouço a sua voz
profunda e rouca falando, quando ele se vira para me encontrar no
meio da multidão, quando seu olhar encontra o meu.
Escuro, tempestuoso e preto.
"Não conhecia Tony assim tão bem", ele admite aos que
choram. "Nós não fomos amigos próximos, porque eu não tive
tempo para realmente conhecê-lo. Mas a partir do que eu vi, sei que,
com o tempo, teríamos que ficar muito perto. Ele encarnou valores
que eu considero importantes. Força, integridade e honestidade.
Mais importante ainda, ele era fiel. Ele cuidou daqueles que eram
próximos a ele de uma forma feroz e poderosa. Ele cuidou de minha
irmã, Jacey, que é algo que serei eternamente grato. Ele cuidou dela
quando eu não podia estar aqui e cuidar eu mesmo."
Gabe faz uma pausa para respirar fundo e acho que eu não
consigo respirar. De alguma forma, em apenas algumas frases, Gabe
está conseguindo detalhar a essência de quem Tony era de uma
maneira que o pastor não foi capaz em uma hora. Não consigo tirar
meus olhos dele, em relação à forma como ele está em pé e pelo
cuidado. Como ele é tão sincero. Este não é um show. Este não é um
ato. Esta é uma crua demonstração de gratidão. Engulo enquanto ele
continua.
"Eu não quero tomar muito do seu tempo hoje, mas eu só
queria homenagear Tony em meu próprio caminho, para agradecer-
lhe por proteger a minha irmã e por cuidar de Mila e Mandy todos
esses anos. Como você pode ver, sou um soldado do exército. Ou eu
era. E eu posso dizer que eu recebi minha metade de heróis ao longo
dos anos. E há uma coisa que eu posso dizer... Tony Romano era um
herói. Eu não o conhecia bem, mas eu sei disso.”
Ele se afasta do púlpito e faz seu caminho de volta ao seu lugar,
caminhando altivo e confiante. Finalmente recupero o fôlego e em
seguida, ele olha para mim, levando-me para longe de novo. Suas
palavras eram tão lindas que eu só queria chorar novamente. Nunca
pensei que ele pudesse ser tão eloquente. Mas ele era. E ele disse
exatamente as coisas mais perfeitas.
Os porteiros chegam para colocar todo mundo para fora, fileira
por fileira. Estou presa e falando com Maria, Sophia, Mila, Pax e as
pessoas sentadas atrás de nós. Quando eu me viro de novo, Gabriel,
Brand e Jacey sumiram.
Suspiro.
"Foi lindo", Mila me diz com conhecimento de causa, seus
olhos verdes olhando para os meus. "Você precisa ir encontrá-lo.”
"Eu não sei," digo a ela, hesitante. "Ele me deixou, Mila. Isso
não muda nada.”
Ela olha para mim, incrédula. "Madison. Ele a deixou para
buscar ajuda. Ele voltou. Ele está aqui. Qualquer pessoa nesta sala
pode sentir o quanto ele te ama quando ele olha para você. Confie
em mim. Isto muda tudo.”
Engulo em seco, todas as emoções do dia ameaçando me
oprimir.
"Precisamos levá-la para casa", digo a ela, recusando-me
responder a isso. "Maria vai espalhar as cinzas de Tony outro dia.
Não há nenhuma maneira de você ficar para o jantar."
“Não deixe Maria", Mila me diz com firmeza. "Você fica. Eu
vou com Pax para casa e então ele pode voltar e te pegar. Ela precisa
de você.”
Concordo com a cabeça. "Ok. Se Pax não se importar.”
"Eu não", ele me tranquiliza atrás de Mila. "Chame-me quando
estiver pronta."
Ele levou minha irmã embora e sigo através da massa de
pessoas para fazer meu caminho para o jantar. Mãos rápidas me
agarram, me puxando para um canto.
Jacey.
"Sinto muito Madison", ela me diz chorando. "Por favor,
acredite em mim. Detesto que você está chateada comigo. Detesto
que você ache que a culpa é minha. Eu sei que é minha culpa. Eu me
sinto tão culpada estando aqui, mas eu não poderia ficar de fora. Eu
tinha que ver Tony partir.”
Um nó se forma em minha garganta novamente e eu não posso
deixar de abraçá-la. Seus olhos são tão tristes.
"Eu sei", murmuro em seu cabelo. "Sei que não é culpa sua.
Você tomou uma decisão estúpida, mas isso foi culpa de Jared. Eu
estava apenas perturbada outro dia. Sinto muito.”
"Você mandou uma mensagem para esperar, mas Jared ficou
chateado e pulou em seu caminhão. Não sabia mais o que fazer a não
ser ir com ele, para tentar impedi-lo de fazer algo estúpido. Mas
quando ele viu Tony chegar a redor da curva, ele desviou mais. Eu
não sei se ele estava blefando ou o quê. Mas Tony perdeu o controle
de seu caminhão. Eu não poderia impedi-lo, Maddy. Eu não poderia
impedi-lo.”
Sua voz quebra e murmuro: "É claro que você não podia Jacey.
Ninguém pode controlar ele.”
Ela chora, nos abraçamos e ficamos juntas para o que parece
uma eternidade, até que alguém limpa a garganta. Olho por cima do
ombro de Jacey para encontrar Gabriel encostado na parede,
olhando para nós. Seu olhar imediatamente me espetando direto no
coração.
Deixei Jacey ir e fiquei mole de repente, somos apenas Gabe e
eu.
O quarto gira ao redor e estamos sozinhos nele, sozinhos no
mundo. Como se ela estivesse falando do nevoeiro, eu ouço Jacey me
dizer que ela vai nos deixar sozinhos para conversar, mas eu não
posso nem reconhecê-la.
Tudo que posso fazer é olhar para Gabriel.
Ele dá um passo em minha direção, depois outro. Então, ele
está perto o suficiente para que eu possa sentir seu cheiro, o cheiro
que é tão claramente dele.
"Você me deixou." sussurro, olhando diretamente em seus
olhos. "Eu te odeio por isso."
Seu rosto está triste e ele concorda. "Eu sei. Eu me odeio por
isso também. Sinto muito, Madison. Eu sinto muito. Não vejo outra
maneira. Mas eu estava errado.”
Aceno formalmente porque eu não sei o que fazer. Porque ele
estava errado. Porque o mundo está girando ao redor e tudo o que eu
quero fazer é lançar-me em seus braços, mas eu não posso. Eu não
deveria. Está tudo confuso na minha cabeça e eu não consigo
lembrar como eu deveria me sentir.
Tudo o que sei é como eu me sinto.
Senti muito a falta dele. Tudo que eu quero é ele.
Estou congelada e Gabe pode ver isso.
"Posso levá-la de volta para jantar. E então talvez mais tarde...
Você poderia falar comigo por alguns minutos?"
Seu belo rosto está esperançoso e vulnerável, mesmo quando
ele é forte. E não há nada que eu possa fazer a não ser concordar.
“Sim.”
Porque eu tenho concordar.
Porque eu preciso de você para dizer todas as coisas certas.
Por favor.
Capítulo Trinta e Um

Gabriel

O jantar passou dolorosamente devagar, mas finalmente


acabou. Maddy abraçou e beijou a todos que ela precisava abraçar e
beijar. Ela jogou conversa fiada. Ela está consolando as pessoas. Ela
tem sido consolada.
Através de tudo isso, ela tem sido muito consciente de onde eu
estou. Ela me olhou com o canto do olho, como se ela estivesse com
medo de que eu fosse sair de novo.
Antes que eu possa dar-lhe uma explicação para o final.
De jeito nenhum. Não há nenhuma maneira que eu faria isso.
Observo enquanto Maddy abraça Jacey, e depois a entrega
para Brand. "Pode levar Jacey para casa?" Peço-lhe em voz baixa.
"Preciso ficar e falar com Madison.”
Ele acena com a cabeça. "Definitivamente. Boa sorte.”
"Vou precisar." murmuro. Mas quando Maddy olha para mim,
é suave. É esperançoso. Não está cheia de ódio, raiva ou medo. Está
cheio de esperança.
E isso me enche de esperança.
Caminho ao seu lado, de volta para onde eu pertenço. Ela olha
para mim.
"Não estou de carro", ela me diz. "Pax me trouxe. Você se
importaria de me dar uma carona para casa? Podemos conversar lá.”
"É claro", concordo rapidamente.
Eu a guio através das pessoas que são deixadas no jantar, para
o meu carro, onde abro a porta.
Quando eu sento no meu lado, ela olha para mim. "Você está
muito bem em seu uniforme", ela diz para mim. "E o que você disse
sobre Tony hoje... Bem, foi bonito.”
"Eu quis dizer cada palavra," digo a ela honestamente.
Porque eu quis.
Enquanto dirijo, ela liga Pax e lhe diz que não precisa de uma
carona. Percebo que ela não diz a ele por que... Ela não diz a ele
quem é que está levando-a para casa em seu lugar. Mas isso não
importa agora.
Tudo o que importa é que ela está me dando uma chance.
Uma chance.
E eu tenho certeza que não vou estragar tudo.
Quando chegamos a casa dela, ela me leva para o pátio, onde
nos sentamos à mesa.
"Gostaria de vinho ou uma cerveja?", ela pergunta hesitante.
Os olhos azuis colados ao meu. Balancei minha cabeça.
"Não. Tudo que eu preciso é você, Maddy.”
Ela suga a respiração e, embora eu não quisesse dizer isso. Eu
não queria começar assim, não faz sentido agora. Mas merda é a
absoluta verdade.
Olho para ela, iluminada pelo sol. Puta que pariu como ela é
linda. É a única coisa que eu posso pensar. Tudo que eu preciso é ela.
Começo derramando tudo, uma palavra depois da outra.
O quanto eu senti na noite que saí. Porra como foi difícil. O
que eu tentei fazer com a Alex, mas não consegui. Como eu não
poderia apagar Maddy da minha mente, não importa o que eu
fizesse. Como me equilibrei no parapeito no hotel e como Brand
falou baixo comigo. A merda da desolação total e absoluta. O
tratamento. A terapia. Quão a garotinha não me assombrava mais.
Quanto coloquei Annie há distância.
"Eu senti sua falta a cada minuto, porra", digo a ela
sinceramente, honestamente. Desesperadamente. "Não posso viver
sem você. Nada que eu fizesse poderia tirar você da minha cabeça.
Eu era infeliz a cada minuto que eu tinha ido embora.”
Fico olhando para ela e ela olha para trás. Não consigo ler seu
rosto.
"É como se eu não estivesse inteiro quando não estou com
você", digo a ela, simplesmente. "Você é um pedaço de mim. Um
grande pedaço de mim. E quando você vai embora, eu não posso
funcionar direito. Sou apenas a metade de uma pessoa. Sinto muito.
Eu sei que sou fodido. Eu agi com desonra. Deixei você. Mas eu fiz o
que tinha que fazer para tentar mantê-la segura. Você entende? Você
vê?”
Ela parece doente quando ela olha para o lado.
"Não posso acreditar que quase dormiu com outra pessoa", ela
diz frouxamente. "Eu estava morrendo aqui, Gabe. Tudo o que eu
conseguia pensar era em você. Nunca teria dormido com mais
ninguém. Eu só não teria. Perdi muito de você.”
"Eu também senti sua falta", interrompo. "Deus, eu senti sua
falta. Cada minuto. Fiz uma coisa estúpida, Maddy. Tentei fazer a
única coisa que eu conseguia pensar para finalmente tirar você da
minha cabeça. E não deu certo. Nada funcionou. Mas se você me der
outra chance, eu juro por Deus que não vou te machucar novamente.
Eu nunca vou te deixar. Nunca sequer vou olhar para outra pessoa.
Você é tudo que eu quero.”
Sem dizer uma palavra, ela se levanta e caminha até a praia.
Ela está completamente silenciosa enquanto olha para a água,
completamente bonita.
“Maddy", eu finalmente disse depois que os minutos passaram. Ela
se vira para mim.
"Eu não sei o que dizer", ela admite. "Sei que eu deveria dizer-lhe
para sair. Para nunca mais voltar. Mas, honestamente, eu não
consigo. Estou chateada, apesar de tudo. Estou chateada porque
aquela mulher, ela tocou o que era meu. Você estava quase dentro
dela, Gabe. E você é meu. O que é que eu vou fazer com isso?”
Eu tomo uma respiração irregular. "Você deveria colocá-la fora
de sua mente, Maddy. Nunca pense nisso novamente. Porque eu não
a queria. Eu só queria você. Na minha cabeça, era o seu rosto que eu
via. Seus olhos. Seu cheiro. Suas mãos me tocando. Por favor,
perdoe-me Madison. Não te mereço. Isso é verdade. Mas tudo que
quero é você. E se eu não posso ter você, então não quero mais
ninguém.”
Uma lágrima desliza pelo seu rosto e ela aperta os olhos
fechados. Não sei o que fazer. Quero agarrá-la, puxá-la para mim,
para nunca deixá-la fora da minha vista novamente, mas eu não sei o
que ela quer que eu faça.
Depois de um minuto ela abre os olhos.
"Gabriel?" Sua voz é pequena.
"Sim?"
"Abra seus braços."
Então, eu faço.
Abro amplamente e ela se dobra para eles, enterrando o rosto
no meu peito. Eu faço o que queria fazer a duas semanas. Segurá-la
apertado. Inspiro o cheiro do seu cabelo, eu corro minhas mãos
sobre a extensão esguia de suas costas.
Inclino o queixo e beijo sua boca, esmagando seus lábios
macios contra os meus.
Depois de um minuto sem fôlego, ela se afasta e olha para
mim.
"Não me deixe novamente."
Concordo com a cabeça, pegando-a em meus braços, levando-a
para dentro de sua casa.

****************************************************************

Madison

Isto é real.
Essa é a única coisa que posso pensar quando Gabriel me leva
para a casa e para a cama. Isto é real e Gabriel está aqui.
Não sei o que eu deveria estar sentindo agora, se estou o
deixando ir muito facilmente ou se eu deveria tentar ser distante.
Tudo o que sei é que eu não posso.
Porque o que aconteceu o torturou.
Posso ver isso em seu rosto e isso parte meu coração.
E eu sei que eu preciso dele.
Olho para ele, e por alguma razão, todas as sobras de
sentimentos... Estar brava com ele, a dor, o medo... Tudo desaparece
para longe. Sei o que é importante agora.
Ele e eu. É isso aí.
Isso é tudo que importa. Podemos separar todo o resto fora.
"Nunca parei de confiar em você", eu digo-lhe com
sinceridade. "Não é verdade. Quando eu percebi que você se foi, eu
estava chateada. E magoada. Mas eu descobri porque você me
deixou muito rapidamente. E então, eu estava chateada novamente.
Mas eu sempre confiei que você pensava estar fazendo a coisa certa."
Ele olha para mim, o rosto áspero e pensativo. "Tudo que eu
quero é você", ele me diz em voz baixa. "Eu prometo a você. Sinto
muito te machucar. Lamento que o nosso caminho tenha sido
torcido e duro. Mas eu quero que você saiba... Pensar em você me
deu força para aguentar a CPT. Na parte de trás da minha cabeça, eu
sempre mantive a esperança de que se pudesse me corrigir, então
poderíamos nos corrigir.”
Engulo em seco. "Isso estava na parte de trás da minha mente
também. Mesmo quando eu estava chateada com você. Mesmo
quando eu o odiei.”
Ele olha para mim, com os olhos tão tempestuosos. "Não me
odeie, Maddy. Sou capaz de lidar com qualquer outra coisa que o
mundo jogar em mim, mas eu não posso lidar com isso. Eu te amo.
Conheço você há algum tempo e eu estava com medo de dizer isso.
Não tenho certeza de que estou curado, mas tenho certeza como o
inferno que estou indo na direção certa. Não vou te machucar de
novo, não vou deixar isso acontecer. Preciso que você saiba disso.”
"Eu sei", sussurro, puxando-o para perto e agarrando ele mais
apertado. "Eu preciso de você, Gabe."
Ele engole. "Eu preciso de você, também."
"Então me mostre," sussurro.
Sem dizer uma palavra, ele me coloca em cima da cama,
cobrindo meu corpo com o seu. Senti falta do peso, a forma como o
seu corpo desliza contra o meu apenas para a direita, pressionando-
me.
"Senti sua falta", ele diz, logo antes de me beijar. Sua língua se
aprofunda em minha boca e ele tem gosto de hortelã.
Ele beija-me suave, ele me beija duro. Então, ele geme e fode
minha boca com a língua, devastando-a enquanto ele não pode
controlar a si mesmo, porque me perdeu muito.
O ar ao nosso redor é desesperador, quente e eu quero
respirar.
Suas mãos estão em toda parte, escorregando em meus
quadris, puxando minhas roupas. Ajudo chutá-las fora e dentro de
um minuto estamos ambos nus. O atrito é delicioso e eu me deleito
com a sensação de seu corpo contra o meu.
Meus quadris se inclinam e ele me aperta lá, com a boca
traçando meu braço.
"Adoro o seu cheiro", ele me diz enquanto corre os lábios ao
longo do meu ombro, beijando minha pele levemente. Ele faz o seu
caminho de volta para minha boca. "Sonho com aquele cheiro."
Eu sonho com ele.
Com esse momento.
Levanto as minhas pernas em torno de seus quadris e puxo-o
para mim... Em mim.
E de repente me sinto completa. Ele toma tudo de mim, dos
meus dedos aos meus pés, para o íntimo do meu coração.
Minhas partes escondidas.
Meus segredos.
Ele leva, toma e eu dou tudo.
Porque eu quero o que ele tem.
Quando ele desliza para dentro de mim, sei que não quero ficar
sem ele novamente. É uma sensação inebriante e não me assusta
nem um pouco.
Enquanto ele lentamente empurra para dentro de mim, dentro
e fora, sem pressa, ele desliza suas mãos em todos os lugares... Como
se ele não conseguisse parar de me tocar.
Enquanto ele está tentando decidir se sou real.
Olho em seus olhos escuros. "Eu te amo", sussurro.
Ele sorri, um sorriso lento, que se espalha para os olhos.
“Eu sei", ele responde, antes de enterrar o rosto no meu
pescoço e estremece a partir de sua libertação. "Eu também te amo.
Deus, eu te amo.”
Suas palavras, ásperas e cruas, perfuram meu coração e me
mandam por cima da borda e o sigo, tremendo e arqueando contra
ele, gritando seu nome enquanto eu venho.
Enquanto estou deitada debaixo dele, eu sei que poderia ter
uma morte feliz aqui em seus braços e nós deitamos entrelaçados
pelo que parece uma eternidade, apenas ouvindo o outro respirar.
Mas, eventualmente, sentimos fome. Então, faço uma bandeja
de carne fatiada, queijo e biscoitos, e nos enrolamos no sofá com
uma garrafa de vinho.
"E os seus pesadelos?" Pergunto enquanto saboreio o meu
vinho. "Eles já acabaram?"
Ele balança a cabeça. "Tive, mas apenas durante uma parte da
noite. Costumava ser algo contínuo, durante toda a noite. Podemos
manter nossos dedos cruzados que isso dure. De qualquer maneira é
um progresso. Por enquanto, porém, vou dormir na sua
espreguiçadeira. Não quero tomar todas as possibilidades ainda.”
Aceno, mesmo que eu não queira. Não quero dormir separada,
mas eu também não quero ser estrangulada novamente. Então,
vamos fazer o que temos fazer.
"Você notou a casa?" Pergunto em voz baixa e ele olha em
volta, só agora percebendo a nova pintura e mobiliário. "Sei que você
me levou para meu antigo quarto e eu não te corrigi, mas eu me
mudei para o quarto principal. Tive que mudar tudo... Para fazer isto
por minha conta."
Gabe olha para mim, com algo muito próximo de admiração
em seus olhos. "Então, você passou de não ser capaz de abrir a porta
para movê-la em duas semanas?"
Sorrio. "Eu tenho bolas, Gabe. Alguém me disse isso uma vez.”
Ele sorri de volta. "Você tem bolas. Quem te disse isso foi
brilhante."
Nós rimos e largamos nossos pratos na pia. Em seguida,
voltamos para a cama, onde me enrolo em seus braços.
"Não me deixe de novo", digo a ele antes de fechar meus olhos
para dormir. "Nunca mais."
"Não se preocupe", ele responde em voz baixa, dando um beijo
no topo da minha cabeça. "É bom estar em casa."
Olho para ele, lutando para manter os olhos abertos após este
longo dia infernal. "Você realmente considera Angel Bay sua casa
agora?"
"Maddy, considero onde quer que você esteja a minha casa."
Capítulo Trinta e Dois
Madison

"Estaremos em nosso caminho em um par de minutos", digo a


Mila, equilibrando o telefone entre meu queixo e o meu ombro
enquanto pego minha bolsa na mesa de cozinha. "Nós vamos parar,
te comprar um milk-shake e depois vamos estar lá. Por favor, não
torne isso estranho, ok? Eu realmente não me sinto confortável em
sair tão cedo, mas Pax precisa de mim para ficar com você, então..."
Minha voz falha, porque eu não sei o que dizer.
"Ele vai ficar bem," Mila diz alegremente, antes que ela abaixa
a voz. "Confie em mim, eu entendo. Mas só sei que Pax planeja falar
para Gabe.”
Congelo. "Falar com ele?"
P praticamente ver Mila acenando. "Yeah. Eu disse a ele que
tocar não é permitido quando conversar com ele.”
"Bem, obrigada por isso", respondo. "Diga que ele realmente
não precisa. Gabe e eu estamos trabalhando isso. Eu sei por que ele
saiu. Ele tinha uma boa razão. Ele está de volta há apenas um dia. Eu
não preciso de Pax para assustá-lo já.”
Sei que Gabriel não está indo a lugar nenhum. Mas ainda
assim.
"Sei que ele te deixou por um bom motivo", Mila suspira. "E
você sabe disso. Mas Pax só quer ter certeza de que isso não aconteça
novamente. É uma coisa de homem, eu acho.”
"Ok", suspiro quando desligo. Gabe olha para mim a partir do
assento do motorista.
"O que há de errado?", ele pergunta enquanto vira a chave e
seu Camaro dispara. Eu balanço minha cabeça.
"Aparentemente, Pax quer falar com você sobre o que
aconteceu. Sinto muito. Eu poderia dizer não, mas provavelmente
seja melhor, apenas para tirá-lo do caminho. Ele não tem muita
família. Então, ele é protetor sobre quem ele tem.”
Gabe acena não afetado. "Isso é bom", ele me diz facilmente.
"Eu respeito isso. E eu mereço. Vou ouvir o que ele tem a dizer.”
Balanço minha cabeça. "Homens."
Nós pegamos o milk-shake e corremos para Pax e Mila, dentro
de alguns minutos.
À medida que caminhamos até a porta da frente, Pax abre.
Aparentemente ele está nos assistindo.
"Ei, irmão mais novo," saúdo-o com cuidado. "O que está
acontecendo?"
Pax está usando a sua expressão mais intimidante quando ele
abre a porta, fazendo sinal para nós entrarmos. Se eu fosse um cara,
estaria colocando meu rabo para correr. Mas Gabe não. Ele mantém-
se firmemente ao meu lado.
"Ei Mad," Pax me cumprimenta antes de girar para Gabe.
"Você pode nos dar um minuto? Gostaria de falar com Gabe, se você
não se importa.”
"Na verdade, eu ficarei", digo a Pax. "Só vou ficar por aqui por
causa disso. E não se esqueça de o que Mila disse. Tocar não é
permitido.”
"Você não precisa se preocupar com isso," Pax me diz
enquanto entramos na sala de estar. Olho para ele.
"Ah, acho que sei. Vou ficar”, respondo com firmeza.
Ele encolhe os ombros. "Como quiser. Não vai demorar
muito”, ele diz virando-se para Gabe.
"Eu já te disse que respeito muito do que você fez como
fuzileiro. Por causa de toda a merda que tinha que fazer, não me
surpreende que você voltasse para casa com essa bagagem. Isso é
bom. Eu não usarei isso contra você."
"Mas se você tratar Maddy assim de novo, se você sempre
deixá-la ou colocar um dedo sobre ela de uma forma que eu não
aprove, eu vou te foder. Você pode ser um soldado do Exército, mas
não duvide que de mim.”
Gabe olha-o nos olhos, para ficar de igual para igual. O braço
de Pax flexiona ao seu lado, mas Gabe permanece relaxado e imóvel.
"Não tenho dúvida disso," Gabe responde com calma. "De
nada disso. Confie em mim, não vou machucar Maddy novamente.
Eu prometi a ela e eu prometo a você. O que fiz foi uma merda. Eu
não sabia outra forma de protegê-la de mim, então a deixei. Se eu
pudesse fazer tudo de novo, eu pensaria em outro caminho. Mas eu
não posso. O que posso fazer é a promessa de nunca estragar tudo
assim novamente.”
Pax acena lentamente. "Isso é tudo que precisa ser dito. Eu
respeito o inferno que passou ao falar no funeral de Tony. Essa foi
uma grande coisa a se fazer.”
Gabe acena lentamente. "Obrigado. Parecia que era a coisa
certa a fazer.”
Há uma pausa e eu olho para Pax.
"Já acabou de agitar seu pênis em torno disso agora? Porque
eu deveria ir ver Mila e não quero deixar vocês dois sozinhos a
menos que seja seguro”.
Ele ri. "É seguro, Mad. Ela está lá em cima, é claro. Preciso
falar com Gabe um pouco sobre um negócio antes de sair. Obrigado
mais uma vez por ter vindo hoje. Sei que ela não precisa de uma
babá, mas eu só não gosto que ela fique sozinha agora que a data
prevista esta tão perto.”
"Oh, eu concordo", digo a ele. "Ela não deveria ficar sozinha.
Não é uma grande coisa eu estar aqui.”
Quando vou embora, ouço Pax conversando com Gabe sobre
sua armadura de novo, algo que me faz sorrir. Eu sabia que ele só
tinha parado de investir por causa de mim.
Ele é fiel até o osso.
Subo as escadas e coloco minha cabeça no quarto de Mila.
"Está tudo acabado. Todos foram adequadamente ameaçados e
aparentemente está tudo bem.”
Entrego-lhe o milk-shake.
"Estou feliz", responde Mila. "Não queria que ele dissesse
alguma coisa, mas você sabe como são os homens."
Franzindo o cenho, ela rola para um lado tentando se arrumar.
Dobro e ajusto o travesseiro gigante que ela mantém atrás das
costas.
"Melhor?"
Ela acena com a cabeça, mas posso dizer que ela está
mentindo. "Não posso ficar confortável hoje", ela resmunga.
"Minhas costas doem. E os meus quadris. E todo o resto."
“Provavelmente porque estou ficando tão enorme. E porque
estou presa nessa maldita cama.”
Olho seu pequeno corpo. "Sim, você está enorme. Você parece
um mosquito com gás. Fique sentada e vou fazer as unhas. Isso vai
manter sua mente fora dela.”
"Você pode tentar," Mila suspira quando ela examina a mão
dela. "Mas meu desconforto se recusa a ser ignorado."
"Bem, nós vamos dar-lhe uma dose."
Pintei os dedos e segui adiante para os dedos dos pés antes que
dela finalmente falar sobre Gabe. Estive esperando por isso. Na
verdade, estou surpresa do porque ela levou tanto tempo.
"Então, você vai me dizer mais sobre como está indo com
Gabe?", ela pergunta, tentando ser casual.
Sorrio. “Está ótimo, na verdade. Sei que ele só voltou por um
dia, mas, aparentemente, seus pesadelos começaram a melhorar e as
coisas estão no caminho certo. Nós somos bons, Mila. É difícil
porque tanta coisa aconteceu, mas estou tão feliz que ele está de
volta. Isso é tudo o que importa agora. Nós vamos lidar com todo o
resto.”
"Entendo essa sensação," acena Mila. "Sinto muito que você
teve que passar por tudo isso, Mad. Mas confie em mim, às vezes as
situações mais difíceis acontecem para depois vir o felizes-para-
sempre. Tenho que acreditar que você vai conseguir o seu. Gabriel,
definitivamente, esta trabalhando nisso”.
"Eu sei", concordo. "Continuo esperando o outro sapato para
deixar cair. Para descobrir que não é real. Sonhei que vou acordar e
ele vai ter ido embora. Mas, até agora, tudo bem. É real, ele está aqui
e está tudo ok.”
"Você vai se acostumar com isso", ela me diz com
conhecimento de causa, olhando para minha cara.
Olho para ela. "Acostumar com que?"
"Acostumar com alguém como ele, acostumar não esperar que
tudo desmorone. Sei que é difícil, especialmente depois que ele te
deixou assim. Sei como é isso. Gabe te ama muito, você sabe.
Qualquer um pode ver isso. E um dia desses, você vai perceber que o
que tem é real. Você vai aprender a confiar nele.”
"Deus, espero que sim," murmuro, sabendo exatamente o que
ela quer dizer. Nós ficamos em silêncio enquanto eu termino os
dedos dos pés, cada uma de nós perdido em seus pensamentos.
Depois de um tempo, depois que a unha polonesa secou, Mila
sacode a cabeça, como se para sacudir os pensamentos.
"Realmente poderia usar um chuveiro", ela me diz
ironicamente. "Só posso ter uma vez por semana, você sabe. É a
coisa mais nojenta do mundo. Aqueles banhos de esponja
simplesmente não fazem nada por mim.”
"Você tem um cheiro ruim", concordo e ela me dá um soco.
"Ok. Vou te ajudar. Deixe-me ir buscar os seus produtos e estarei de
volta."
Ela acena com a cabeça e faço o meu caminho para o banheiro
para deixar o banco do chuveiro pronto, e alinhar todos os seus
produtos para o banho, para que ela não tenha que ir até eles.
Volto e levo-a esticada no braço, ajudando-a a sair de sua
cama. Seus músculos tremem à medida que caminhamos, a
evidência do quanto eles se deterioraram nos últimos meses sem
uso. O médico disse que era normal, que tinha que construí-los de
volta depois que o bebê nascer, mas agora ela esta tão claramente
fraca.
"Você realmente tem pés de galinha agora", digo a ela
amavelmente enquanto ela tira o roupão e me sento ao seu lado no
banco. "Assim como Tony sempre disse.”
Pensar em Tony faz minha garganta instantaneamente apertar,
me faz instantaneamente triste e desejo não ter dito isso. Acho que
Mila pensa da mesma forma, porque ela me dá um soco novamente.
"Ow," resmungo enquanto ligo o chuveirinho e,
acidentalmente, borrifo-a no rosto com isso. Ela grita por causa da
água fria, agarrando-me com as mãos molhadas.
"Hey," grito, agarrando-a. "Sinto muito. Acalme-se antes que
se machuque. Você estava muito inteira ontem. Você não precisa
empurrar a sua sorte hoje.”
Ela obedientemente se acalma e fica parada enquanto eu
borrifo os cabelos com água morna e lavo-os com xampu. Eu
cantarolo sem rumo enquanto meus dedos massageiam o couro
cabeludo, então, eu enxaguo.
Distraidamente viajo para longe, perdida em meus
pensamentos; pensando em Gabe, e sobre o que ele poderia fazer.
Será que ele talvez vá morar comigo? É tudo tão excitante, novo e
aterrorizante.
De repente, Mila se assusta e agarra seu estômago, puxando-
me dos meus pensamentos.
"O que há de errado?" Pergunto ansiosamente. "Você está em
trabalho de parto?"
Ela balança a cabeça, recua enquanto ela se enrola sobre si
mesma.
"Ow. Não, não penso assim. Isso não está certo”, ela murmura.
"Trabalho é suposto ser uma coisa gradual. Este... Owwww." Ela
geme, agarrando seu estômago novamente. Ela olha para mim, com
o rosto pálido de repente. "Maddy, isso não está certo. Alguma coisa
está errada.”
Merda. É porque ela foi ontem.
"Pax", grito em pânico, mas rapidamente percebo que ele não
será capaz de nos ouvir aqui.
Minhas mãos estão tremendo tanto que eu mal posso tirá-la do
chuveiro. De alguma forma, consigo, mas assim que tiro-a fora da
água , ela grita alto e estridente, antes se dobrar completamente.
Olhando para baixo, vejo que o turbilhão de água com sabão
em torno do ralo ficou vermelho de sangue.
Em poucos segundos, se transforma em mais sangue do que eu
já vi.
Capítulo Trinta e Três

Gabriel

Pax está acabando de me dizer o quanto seu avô está


interessado na armadura da Defense Tech23 quando nós ouvimos um
grito aterrorizante. Não posso dizer se é Maddy ou Mila, mas isto
não importa.
Nós dois saltamos de nossos pés e corremos pelo corredor.
Assim que chegamos ao quarto, Maddy está puxando Mila para
fora do banheiro. Mila está completamente nua, toda molhada e
coberta de sangue.
“Pax”, Maddy grita. “Nós precisamos de uma ambulância.”
Imediatamente puxo meu telefone e disco para 911, mas Pax
balança sua cabeça enquanto ele apanha sua esposa inconsciente.
"Não há tempo", ele grita por cima do ombro enquanto desce
as escadas com sua esposa ensanguentada em seus braços.
Merda.
Mila arranca o lençol da cama enquanto seguimos Pax o mais
rápido que podemos. Mila está sangrando tanto, que há um grande
rastro de sangue nas escadas. Maddy desliza na mesma, desabando
na descida, manchas de sangue em sua roupa, em suas mãos e em
seu rosto.
Eu a puxo para cima e corremos para encontrar Pax no carro.
"Aqui", Maddy diz a Pax, empurrando o lençol pra ele. "Pelo
menos a cubra."
"Apresse-se," ele resmunga, segurando Mila fora para que
Maddy possa enrolar o lençol pra baixo, em torno dela. “Temos que
nos apressar. O que aconteceu, Maddy?"
"Não sei," Maddy admite, com a voz trêmula. "Eu estava lhe
dando um banho. Em seguida, ela gritou. Havia muito sangue."

23
Empresa do Gabe.
E há. Está jorrando por toda parte, gotejando, pingando pelo
lençol e sobre Pax, saturando suas roupas.
"Vou dirigir", eu ofereço, saltando para a porta do lado do
motorista. Maddy mergulha no banco de trás e Pax cai no banco do
passageiro com Mila em seu colo. É apertado, mas em seu desespero,
ele faz dar certo.
"Depressa," ele manda, embora não há nenhuma necessidade.
Meu pé já está no chão.
As rodas mal tocam o chão enquanto nós voamos até o
hospital. Enquanto eu dirijo, Maddy chama Pax, "Você sabe o
número do médico dela?”
“Claro que não,” Pax retruca. “Não sei esta merda. Apenas
ligue para o 911. Eles podem avisar ao hospital que estamos a
caminho.”
Então Maddy liga. Sua voz está estridente enquanto ela dizia
ao atendente a situação.
Mila não abriu seus olhos por todos os dez minutos a caminho
do hospital, independente da súplica de Pax.
“Mila, apenas olhe pra mim,” ele implora, tirando seu cabelo
do rosto. Ele tentou limpar o sangue da sua bochecha, apenas ficou
pior. “Por favor, acorde,” ele murmura impotente.
Há sangue em todo lugar.
“Ela não está respirando,” Pax de repente deixa escapar,
baixando seu ouvido para escutar em sua boca. “Ela não está
respirando. Jesus Cristo.”
Maddy luta para tentar ajudar atrás de nós, enquanto
chegamos ao estacionamento.
Antes mesmo que eu parasse no meio fio, Pax abre a porta e
desliza Mila pra fora na calçada.
“Respire baby,” ele implora enquanto ajoelha e lhe dá fôlego.
“Respire.”
Ele está frenético, desesperado e coberto pelo sangue de Mila.
“Pax,” Maddy grita, puxando seu braço. “Nós temos que levá-la
pra dentro. Nós não temos tempo pra isto.”
Ela o puxa, mas Pax não está pensando claramente e ele a
sacudiu, voltando a Mila, tentando empurrar ar em sua boca.
Ele é interrompido por uma equipe de pessoas estourando
através das portas com uma maca. Pax pula com Mila em seus
braços e entrega para equipe médica.
“Ela não está respirando,” ele diz pra eles desesperado. “Por
favor, a ajudem.”
Os médicos e as enfermeiras fecham ao redor de Mila
enquanto a deitam na maca e correm com ela pra dentro.
Enquanto eles correm, Maddy se apega impotente ao lado da
maca. Olhando para baixo, eu vejo que os olhos de Mila ainda estão
fechados e ela está tão pálida como eu nunca vi ninguém. Mais
terrível que isto, porém, são as palavras vindas das bocas das
enfermeiras.
Ela não está respondendo.
Não há pulso.
Precisamos das pás.
Maddy se encolhe assim que ela os ouve, as lágrimas escorrem
por seu rosto.
"Vai dar tudo certo", Maddy diz a sua irmã enquanto a equipe
empurra a maca pela porta dupla e fora de nossa vista. "Mila, você
vai ficar bem."
"Mila estou aqui!" Pax chama atrás dela, quando uma
enfermeira bloqueia seu caminho. Mas Mila permanece sem se
mover. Ela não pode ouvir nada disto.
Merdaaaaaaaaaaaaaaaaaaa.
Nunca me senti tão impotente como quando os assisti levá-la
embora. Eu sei que não há nada que eu possa fazer e pelos olhares
de todos com todo aquele sangue manchando os lençóis que a cobre,
não tenho certeza se há qualquer coisa que alguém possa fazer. Não
há nenhuma maneira, ela não vai morrer.
Há muito sangue.
Inferno. De repente, o sangue me faz lembrar muito daquela
noite no Afeganistão e os meus sentidos ameaçam me ultrapassar: o
cheiro de sangue, o gosto do medo, a sensação de pânico.
A fumaça.
A morte.
As crianças ensanguentadas.
Luto, tentando respirar.
Maddy precisa de mim. Não posso me perder na minha merda.
Respiro fundo, sugando o medo e liberando na expiração.
Respiro em pânico, liberando na expiração.
É um truque que Dr. Hart me ensinou e parece funcionar.
No momento em que Maddy cai em meus braços, um minuto
depois, virando o rosto no meu peito, eu me acalmei. Posso respirar
novamente.
Estou bem, mesmo que Mila não esteja.
Que porra é essa? Onde está à justiça nisso?
Maddy esconde o rosto como se ela estivesse escondendo o que
está acontecendo, se escondendo do mundo, se escondendo da
morte. Engasgo quando percebo alguma coisa.
A perda é o seu maior medo. Ela acabou de perder Tony e
agora ela pode perder Mila também.
Sua única coisa ruim a pegou.
Fecho os meus braços em volta dela. É a única coisa que posso
fazer.
"Ela vai ficar bem," diz Maddy pela centésima vez enquanto
todos nós andamos pela sala de espera do hospital. "Ela vai ficar
bem. Não posso perdê-la também. Simplesmente não posso. Ela vai
ficar bem."
Nem acho que ela sabe que ela está falando. As palavras só
vêm automaticamente para fora da boca em intervalos de tempo,
desajeitada e sem vida. Concordo com ela. Digo a ela que Milla vai
ficar bem, apesar de nem eu mesmo acreditar. Maddy nem percebe.
Pax está em seu próprio mundo. Eles não o deixaram ir com
Mila e ele é como um leão enjaulado aqui. Seus músculos enrolam
enquanto ele anda em círculos apertados. A tensão nesta sala é
palpável. Posso provar o medo no ar, mas ninguém reconhece isso.
"Eles são médicos", Maddy diz a Pax. "Eles podem consertá-
la."
Pax olha para cima, seus olhos completamente estáticos, mas
não responde enquanto ele passa por Maddy.
Por sua vez, Maddy passa por mim.
É um ciclo contínuo, desesperador.
Nós fomos deixados aqui fora sozinhos, imaginando o que
diabos está acontecendo. O pior é não saber. Mas saber vai ser ainda
pior. Me sinto tão certo sobre isso. Porque não há nenhuma maneira
que Mila possa sobreviver.
Não há nenhuma maneira.
E quando olho para Pax e vejo como seu rosto é desenhado,
como ele está pálido, como ele está andando, flexionando as mãos e
tentando respirar, eu sei que ele sabe disso também.
Sua única coisa ruim o pegou também.
A pior coisa possível.
Segundos se passam. Então minutos. Então uma hora. Então
duas. Uma enfermeira vem uma ou duas vezes para nos dizer que os
médicos ainda estão trabalhando, que eles voltarão quando houver
qualquer novidade.
Mais tempo passa.
Pego café para Pax e Madison. Pego água. Vou ao banheiro e
trago pra eles papel toalha molhado para limpar o sangue de seus
rostos. Nenhum deles sequer notou.
Eles estão imersos no medo.
“Ela estava tão fria,” Madison me diz sua voz quase sem
emoção. “Ela estava tão fria, Gabe.”
Esfrego suas costas e a puxo para perto. Observo o relógio.
Outra meia hora passa.
Não há maneira dela sobreviver. Não há maneira.
Finalmente o médico sai das portas duplas. Ele parece exausto.
Mas mais do que isto, ele parece condensado.
Merda. Prendo a respiração.
Pax salta em seus pés e Maddy congela ambos esperando pelo
pior, rezando pelo melhor, com medo de saber qual deles.
“Ela vai ficar bem,” o médico nos assegura, depois de quase
uma eternidade. “Sua placenta deslocou, causando uma hemorragia.
E quando vocês a entregaram lá fora, ela não tinha pulso. Ela perdeu
muito sangue. Seu corpo desligou em total choque. Conseguimos
reanimá-la, felizmente. Isto levou um tempo, mas nós fomos capazes
de estancar o sangue e reparar os danos.” Ele parou, deixando isto
descer.
Ambos, Pax e Maddy olharam feridos.
“Ela realmente morreu?” Pax perguntou em choque.
O médico assentiu. “Ela não tinha batimento cardíaco quando
ela chegou. Mas nós fomos capazes de trazê-la de volta dentro de
dois minutos. Ela vai ficar bem. E ela está pedindo para ver você.”
Ele disse a Pax. “Você vai ter que ser breve. Ela está exausta.”
Pax imediatamente começa a passar pela porta, mas para. “O
bebê?” ele pergunta ansioso, seus olhos brilhando molhados.
O médico sorri. “Uma saudável menina. Como ela nasceu
semanas mais cedo, ela vai ficar aqui por uns dias. Mas tudo parece
bem, filho. Parabéns.”
Suas palavras limparam as nuvens de medo da sala,
evaporaram e Pax sorri assim que ele passou pela porta.
Maddy cai em mim, desmorona ao meu lado com um soluço.
Eu a abraço, então encaro seus olhos.
“Eu lhe disse que ela ficaria bem,” eu a lembro. “Viu? Eu
mantive minha promessa.”
Ela finalmente se permitiu um sorriso.
“Você cumpriu, não foi?” ela murmura. “Estava com tanto
medo, Gabe.”
“Eu sei” eu disse suavemente. Eu a segurei perto de mim por
muitos minutos, esperando enquanto ela voltava a si. Finalmente ela
empurrou seu cabelo do rosto, levantou e andou.
“Não posso esperar para ver minha sobrinha.” Ela finalmente
me disse. “Quero saber com quem ela se parece.”
“Bem, ela tem bons genes,” eu aponto. “Ela vai ser linda.”
Maddy cai novamente no meu colo.
“Você não faz ideia como eu estava com medo.” Ela admite
calmamente. “Não sei o que eu faria se eu perdesse Mila.”
Eu a encarei. “Eu sei. Mas você segurou isto tudo tão bem,
Maddy. Estou orgulhoso de você.”
Ela sorriu um pouco. “Tenho que lembrar a mim mesma que o
medo é uma escolha, mas não funciona muito bem pra mim. Estava
com muito medo.”
Sorrio de volta. “Eu acho que nesta situação, isto é permitido.”
Digo a ela. “Isto foi assustador. Mas vai ficar tudo bem. O bebê está
bem. Tudo está bem.”
Maddy relaxa contra mim, nervosamente especulando sobre
quem o bebê parece e como vai se chamar.
“Você apenas não pode esperar até comprar pequenos sapatos
pra ela,” eu brinquei tentando tirar um pouco da ansiedade. Maddy
sorriu.
“Oh, eu definitivamente não posso esperar por isto. Esta vai
ser a bebê mais bem vestida de todo estado.”
Nós ansiosamente esperamos até Pax vir para nos pegar e
então, Maddy dispara e nos deixa pra trás do quarto de Mila.
Quando nós chegamos, Maddy está sentada perto de Mila,
segurando sua mão, dizendo a ela quanto todos nós estávamos com
medo.
Olhei ao redor, mas não há nenhum bebê.
Olhei para Madison questionando.
“Como ela nasceu prematura, eles tiveram que levá-la para
unidade neonatal,” ela explicou. “Pax pode nos mostrar através da
janela um pouquinho.”
Mila está pálida e obviamente cansada, mas apesar de tudo ela
parece bem.
“Você pode ir e vê-la agora,” ela nos diz cansada. “Sei que você
quer vê-la, Mad.”
“Você tem certeza?” Pax pergunta. “Nós podemos esperar.”
Mila assente. “Tenho certeza. Vá ver nossa filha.”
Nós achamos a unidade neonatal e todos nós pressionamos
nossos narizes no vidro. Quando a enfermeira empurrou a
incubadora mais perto da janela, Maddy sorri para a bebezinha
através do vidro.
“Ela é a coisa mais linda que eu já vi na vida,” ela anuncia,
embora eu pessoalmente ache ela vermelha e enrugada. “Como ela
vai chamar?” Pax olha para Maddy.
“Madelyn Susanna Tate,” ele anuncia orgulhosamente. “Como
você e minha mãe.”
Maddy fica completamente imóvel, com a boca aberta em
choque. “Vocês estão dando a ela o meu nome”? Ela sussurra. Pax
sorri.
“De quem mais nós poderíamos dar o nome? Não há muitos
derivados de Pax.”
Maddy sorri amplamente e depois vira para a bebê de novo,
conversando com ela através do vidro.
“Escute Mad. Você e eu vamos ficar grudadas juntas. Vou te
comprar tantos pares de sapatos que o seu pai vai ter que construir
uma nova casa apenas para guardá-los. Sim, eu sei... Isto é muito.
Mas você vale a pena.”
Balancei minha cabeça para o Pax.
“Sinto por você cara,” digo a ele. “Ela provavelmente não está
exagerando.”
“Oh, eu sei que ela não está,” Pax suspira. “Mas tudo bem.
Minhas garotas já me têm enroladas em seus dedos. Sou homem o
suficiente para admitir isto.”
Não posso deixar de sorrir com isto. Mas, eu nunca vou culpá-
lo por isto. Tenho uma fraqueza também. Olho para Maddy de novo
e decido que se for para eu ter uma fraqueza, eu estou feliz que seja
bela.
“Madison, nós devemos dizer adeus pra sua irmã para que ela
possa descansar,” sugiro á ela gentilmente. “Nós podemos voltar
amanhã. E podemos até trazer sapatos para Madelyn, se você
quiser.”
“Ah, eu quero,” ela disse firmemente. Ela sopra um beijo para
a bebê e nós fazemos o caminho de volta para o quarto da Mila.
“Nós vamos voltar amanhã, mana.” Maddy beija Mila na
bochecha. “Nunca mais me assuste assim de novo,” ela acrescenta
com firmeza. Mila sorri cansada por ser uma nova mamãe,
prometendo que ela não vai. Nunca mais.
E com isto, nós deixamos o quarto.
Enquanto dirigíamos para casa, eu pego a mão de Madison.
“Você está bem?” pergunto pra ela solenemente. “Isto foi
intenso.”
Ela me encarou.
“Isto foi intenso,” ela concordou. “Achei que fosse ter um
ataque cardíaco. Primeiro havia aquele monte de sangue, e então
Mila morreu. Não sabia o que fazer. Ela morreu, Gabe. Ainda não
acredito. Mas ter você lá comigo na sala de espera... Você fez tudo
certo, Gabe.”
Eu me senti chocado com suas palavras, pela força com que ela
lida com tudo na vida. Pela confiança que ela coloca em mim.
Quando eu coloquei meu carro na entrada da garagem, eu
beijei sua testa.
“Estou orgulhoso de você,” disse pra ela calmamente.
“Realmente. Você pensa que sou a pessoa mais forte que você
conhece, mas realmente, é você. Você é mais forte do que todos nós.”
Ela revirou os olhos, mas ficou em silêncio quando fomos pra
dentro.
Nós jantamos num silêncio pensativo, em seguida sentamos
um tempo na sala de estar, ainda quietos enquanto Maddy senta no
meu colo. "Devemos ir até a casa de Pax e Mila e limpar todo aquele
sangue", ela me diz. "Sei que Pax ficará com Mila esta noite."
Concordo com a cabeça.
"Nós vamos. Mas vamos fazê-lo amanhã. Você está cansada
esta noite."
Ela concorda com a cabeça. Ela está tremendo de frio e com o
choque do que aconteceu, então sugiro um banho quente. Ela fica lá
por meia hora.
Quando ela finalmente sai, seguro uma toalha para ela e a
envolvo com ela, puxando-a em meus braços enquanto eu a seco.
Ela ainda não disse nada e é ainda mais silenciosa depois de
cair na cama.
"O que foi?” Finalmente pergunto a ela, porque o silêncio está
me matando.
Ela suspira no escuro.
"É só que eu sei o quão rápido tudo pode acabar. Meus pais
tinham ido embora há um instante e hoje parecia que Mila poderia
escapar também. E naquele instante, meu coração seria quebrado
para sempre, eu sei disto - porque eu passei por isto antes. Corações
são tão frágeis, Gabe."
Ela faz uma pausa enquanto olha para mim. Eu não tenho
certeza o que ela está querendo me dizer. Mas ela não me dá uma
chance de responder a tudo antes de continuar.
"Isso me faz lembrar o quão rápido eu poderia perdê-lo. Tudo
pode acontecer e isso assusta a merda fora de mim. Assusta-me que
você tem esse poder sobre mim."
Ela para de falar e me encara. Suas mãos estão tremendo e eu
pego uma.
"Maddy, você tem esse mesmo poder sobre mim. Isto se chama
amar alguém. E sim, é assustador como o inferno. Odeio saber que
te amar me faz fraco... Mas isso me faz forte também. Amar você me
faz feliz de uma maneira que nada mais me fez, e isso é saudável,
Madison. Isso é mais saudável do que qualquer outra coisa no
mundo. Ele cura um monte de merda. Isto ainda tem me curado e eu
estou fodido. Portanto, antes de pensar e decidir que me amar não
vale a pena por medo de me perder, basta lembrar como você está
feliz quando estamos juntos. O medo é uma escolha, Maddy. Mas
isso é ser feliz.”
"Eu sei," ela admite calmamente. "Minha cabeça sabe disso.
Mas meu coração está com medo, porque ele sabe que em um
momento você pode ir embora. Todo mundo sempre parece me
deixar, Gabe. Meus pais, Tony. Mila quase o fez. E se você partir... Se
você partir nada vai ficar bem de novo.”
Sua voz quebra e ela chora, suavemente no meio da noite, e
isto aperta meu estômago em nós.
"Maddy, eu sei por que você está com medo. Qualquer um
estaria em seu lugar. Você já teve muitas perdas. Mas a morte faz
parte da vida e o medo disto não pode nos impedir de viver. Isso é
algo que eu aprendi no Afeganistão. Ser governado pelo medo é pior
do que nunca viver em tudo. Nós vamos ficar bem, Maddy. Você não
vai me perder, não até estamos velhos, grisalhos e cansados. Eu te
amo."
Ela está quieta e parada até que ela se encolhe contra mim,
com as mãos esguias segurando firme as minhas.
"Então vamos fazer isto funcionar, não importa como.
Prometa-me, Gabe. Sei que há uma merda para trabalhar. Mas
podemos fazê-lo. Porque tudo o que realmente importa é você e eu.”
Sua voz é fina e ansiosa. Corro minhas mãos ao longo de seu
rosto, soltando para acariciar seu ombro. Ela treme sob meus dedos
e eu a abraço mais perto. Eu sei o quanto levou para ela dizer isto,
para ela se comprometer a tentar algo de longo prazo comigo. Isto
apenas confirma tudo o que eu sempre soube sobre ela.
A garota tem bolas.
“Madison, tudo vai ficar bem,” digo firme a ela. “Agora estou
de volta, você está presa a mim. E nunca vou te deixar. Por favor,
não se preocupe. Você não tem mais nada a temer.”
Posso sentir seu sorriso através do meu peito. E então, ela se
aconchega mais perto de mim. Eu descanso minhas mãos ao seu
lado e a encaro no escuro.
Ela bufou. “A única coisa que tenho medo é de perder você.”
“Isto não vai acontecer,” respondo firmemente, ignorando a
dor no meu peito por suas palavras. “Isto nunca vai acontecer.”
Eu a segurei enquanto ela foi dormir. Então, eu continuei a
segurar por quanto tempo eu ousei ficar na cama. Quando eu
finalmente soube que eu não podia mais segurar meus olhos abertos,
cuidadosamente escorreguei para a cadeira.
A cadeira é fria e isto parece mil milhas longe de Maddy, mas
eu ainda estou aqui com ela. Isto é o que importa.
Fechei meus olhos.
Capítulo Trinta e Quatro

Madison

Vou até a casa do Pax e da Mila, sento-me no carro por um


minuto, simplesmente apreciando o chilrear dos grilos de verão e o
farfalhar suave da brisa saindo da água. Após o parto de emergência
do bebê, pensei que iria demorar um pouco para a vida voltar ao
normal, mas isso não foi verdade.
Pax e Mila trouxeram a bebê para casa do hospital há alguns
dias e foi tudo bem. Mila está completamente recuperada, o bebê é
saudável e forte. Nós somos mais resistentes do que eu teria
imaginado.
Depois de correr os degraus, empurrei a cabeça na porta e
imediatamente ouvi o choro da bebê e Pax gritando para Mila.
"Não sei o que fazer! Ela vomitou em todos os lugares!”
Sorri e caminhei para frente, tirando a bebê de Pax enquanto
ele olha para mim com alívio.
"Mila está no chuveiro", ele me diz timidamente. "Só troquei a
bebê, mas não fiz isso direito. Sua fralda caiu e, em seguida, ela se
vomitou toda."
Coloco a bebê para baixo e reaperto as tiras de velcro sobre a
fralda, então tiro fora sua camisa pequena.
"Você quase conseguiu", digo a ele. "Apenas não estava
apertada o suficiente. Você vai buscá-la.”
Ele me dá uma camisa limpa e eu deslizo-a sobre a bebê, então
a embalo em meus braços. Pax nem se incomoda estendendo as
mãos para ela, porque ele sabe que, enquanto estou aqui, não vou
desistir dela. Abraço-a e inalo o cheiro doce de bebê, respirando
profundamente.
"Ahhh. Eu amo isso”, suspiro. "É o melhor cheiro do mundo,
além de chuva."
"Concordo," Pax diz enquanto ele se instala em uma cadeira na
sala de estar e fecha os olhos. "Merda estou tão cansado, Mad. A tua
sobrinha estava louca na noite passada.”
Balanço minha cabeça, apreciando seu rosto exausto. "Vá em
frente e descanse. Vou ficar com a bebê até Mila sair."
"Você é a melhor", ele respira, estabelecendo-se para uma
soneca.
Pulo do meu assento e abraço Pax com força, passando os
braços ao redor de seu pescoço.
"Não, você é", sussurro para ele. "Você realmente é. Obrigada
por cuidar tão bem da minha irmã."
"Não sei de onde veio isso, mas você é bem-vinda." Ele dá um
tapinha nas minhas costas e enquanto ele faz, Mila entra, enxugando
o cabelo dela.
"Geesh, pessoal. Obtenham um quarto." Ela revira os olhos,
então sorri para mim. "Você veio para tomar conta para que eu possa
tirar uma soneca?"
O tom esperançoso em sua voz me faz rir. "Vim aqui para dizer
alguma coisa, mas com certeza, posso ficar por um tempo com a
bebê."
Mila olha curiosa. "O que você quer me dizer?"
Movimento-me para o sofá. "Você pode sentar-se?"
Mila parece preocupada, mas faz o que eu peço. Quando
estamos frente a frente, pego as mãos.
"Mi, eu sei que depois que mamãe e papai morreram, não
conseguíamos desistir do Hill. Voltei para casa para reformá-lo e
acho que fiz um bom trabalho." Faço uma pausa e ela concorda,
hesitante. Pax parece saber, ele adivinha o que vou dizer.
"Mas não posso mais fazer isso, Mila. Sinto como se estivesse
vivendo a vida de outra pessoa. Mesmo que eu tenha reformado
completamente a casa, ainda me sinto como se tivesse pisado em
mamãe e papai, e tomado suas vidas. Tenho que ter a minha própria.
Você entende?"
Ela acena com a cabeça lentamente. "Entendo.
Definitivamente. Mas o que você está dizendo? O que você quer
fazer?”
Tomo uma respiração profunda. "Eu quero vender o Hill. E eu
quero vender a casa de campo. Estou pensando... E sei que isso pode
parecer loucura, mas acho que eu poderia me mudar para Hartford e
abrir um restaurante. Acontece que sou muito boa administrando
um. Mas simplesmente não posso fazer isso aqui. Há muitas
lembranças... Pai, mãe, Tony. Eu só... Não posso. Você me odeia?”
Mila joga seus braços em volta do meu pescoço, praticamente
me sufocando. "Claro que não! Você está indo para Hartford com a
gente? Você faria isso? Oh, meu Deus. Estou tão feliz. Teria tantas
saudades tuas.”
Meus olhos reviram para cima. "Eu sei. Só preciso de um novo
começo. Uma nova vida. Mas não quero fazer isso muito longe de
você.”
Ela funga, eu fungo e Pax joga seus braços em volta de nós
duas, esmagando nós duas juntas.
"Tudo vai ficar bem, Maddy." Mila me diz entre lágrimas. Mas
são lágrimas de felicidade agora, graças a Deus. "Ela realmente é."
Concordo com a cabeça. "Eu sei. Eu realmente acho que é.”
Pax finalmente nos solta e fica em pé.
"Tem certeza que você não se importa em olhar Madelyn um
pouco?" Mila pergunta, encobrindo um bocejo.
Balanço minha cabeça. "Claro que não. Vou ser sua tia
favorita.”
"Você é sua única tia," Pax ressalta. Mas o efeito é perdido
porque ela grita por cima do ombro enquanto eles praticamente
correm para o quarto para tirar uma soneca.
Tenho que rir com isso. Sempre ouvi histórias de pais privados
de sono, mas tê-lo visto em primeira mão, sei como eles estão
desesperados para dormir.
Madelyn realmente adormece logo depois deles, o que acho
irônico. Seguro por muito tempo enquanto ela cochila, apenas
respirando seu cheiro doce de bebê, e ponderando tudo o que
aconteceu durante as últimas semanas.
Sinto falta de Tony. Sinto falta dele todos os dias. Mas Maria
está bem e Sophia voltou para a escola. Elas estão indo tão bem
quanto possível, e o tempo vai continuar a curá-las. E o resto de nós.
Talvez tudo ficará bem.
****************************************************************

Em uma noite quente de verão, eu chego em casa, depois de


uma reunião com um corretor de imóveis sobre a venda do Hill, para
encontrar Gabe sentado na mesa da sala de jantar, com um pedaço
de papel em suas mãos e um olhar estranho em seu rosto.
"O quê?" Pergunto com curiosidade. "O que há de errado?"
Ele olha para mim. "Você se lembra que eu lhe disse que
quando estava no CPT, escrevi uma carta para os pais de Ara Sahar?
Foi ideia do terapeuta e fiz o que ele pediu. Realmente não esperava
muito que fosse escrevê-la, porque diabos, eu nem sabia se seus pais
ainda estavam vivos. Mas se o exército traduziu para o árabe e eles
localizaram seus pais. Eles me responderam." Ele segura o papel.
Não posso ler seu rosto. É totalmente inexpressivo.
"Posso ver?" pergunto hesitante, quase com medo de olhar.
Ele balança a cabeça, entregando-me e eu olho para a carta
enrugada.

“Caro tenente Vicente,


No começo não sabia como responder, porque os nossos
corações foram quebrados, em um milhão de pedaços minúsculos.
Mas você é um soldado que veio aqui para ajudar as pessoas como
eu e as crianças que gostavam de Ara. Então, eu pensei que com
certeza você deve merecer uma resposta.
Apesar de colocar esta caneta sobre este papel doer meu
coração, há várias coisas que você deve saber.
Você deve saber que não foi sua culpa que a minha Ara foi
morta. O meu país tem sido assolado por coisas terríveis, coisas
más, nenhuma das quais é sua culpa ou sua criação. Todos os dias,
eu acordava, com medo de que aquele dia seria o dia em que algo
iria prejudicar Ara. Agora que está finalmente feito, eu já não devo
me preocupar. Nada pode prejudicá-la mais. Ela está nos braços de
Alá agora, segura e acolhida.
Você deve saber que mesmo no meio do mal, há bons floreios.
Você é bom. Você subiu acima do mal aqui e lutou muito para o
bem. Ara sabia disso. Ela costumava assistir os soldados norte-
americanos passarem e ela me dizia: "Eles estão aqui para nós,
Mama, para proteger.” Ela viu quem é você.
Ela viu isso em todos vocês. Tenente Vincent, você deve saber
que não pegou a minha filha de mim. Mesmo o mal aqui não levou-
a de mim, porque ela realmente não foi. Ela ainda é minha filha e
eu ainda sou sua mãe. O amor que você vê é imortal. E um dia, eu
vou estar com ela novamente. Vou respirar em seu cabelo e sentir
seu cheiro doce. Ela vai sorrir para mim e então eu estarei
completa novamente. Algum dia.
Tenente Vincent, você deve saber que Ara não culpa você. Eu
sei disso a cada respiração que resta em mim. Isso não é o que
minha filha era, não é quem ela era. Ela não lhe desejaria nada,
senão a paz. Por favor, não chore por ela. Ara é como os anjos. Eu
acho que ela está cuidando de você agora, como você cuidou dela
quando estava aqui. Mesmo que você não sabia, você lutou por ela.
Ela sabia disso.
Tenente Vincent, você deve saber que você não pode se odiar.
Não foi culpa sua. Você deve perdoar a si mesmo.
Tenente Vincent, você deve saber que eu te perdoei.
Que a paz esteja com você,
Pashka Sahar”

Minha respiração congelou a minha garganta enquanto as


lágrimas rolam pelo meu rosto. Ela não culpa Gabriel. Mesmo com o
véu de tristeza esmagadora, ela o perdoou.
Na minha cabeça eu imagino uma menina afegã, sua mãe de
luto e tudo o que posso fazer é sentar-me e se maravilhar com o
espírito belo de Pashka Sahar em meio a toda a feiura à sua volta. Eu
li as palavras de novo e meu coração sofre um pouco mais com cada
palavra.
"Ela o perdoa, Gabe," digo-lhe baixinho. “Agora você tem que
perdoar a si mesmo. Está na hora." Gabe abre a boca para falar, em
seguida, fecha-a e abaixa a cabeça para os braços sobre a mesa.
Em seguida, ele chora.
Depois de tudo que o que passamos, eu nunca vi Gabriel
chorar.
Quebra meu coração e todos os últimos meses parecem
desabar à nossa volta. Me ajoelho no chão e puxo-o em meus braços
para o chão comigo. Eu o embalo no meu colo e deixo-o chorar.
Eu sei que não é só pela carta que ele está chorando. É tudo. É
Ara Sahar, é Mad Dog, é a antiga vida que ele perdeu, é a culpa
pesada que ele tem segurado. É tudo isso.
É tudo o que ele nunca se deixou devidamente lamentar.
"Shhhh," eu acalmo-o, acariciando suas costas. "Está tudo
bem. Deixe sair, Gabe. Mesmo o choro mais forte. Uma pessoa
inteligente me disse isso uma vez.”
Aliso seus braços fortes com meus dedos, traçando cada linha
de músculo até que finalmente ele se cala e vira, olhando para mim.
Mergulho minha cabeça para pressionar os meus lábios contra
os dele.
"Você é um herói, Gabe," digo a ele. "Você realmente é. Você
não precisa levar isso mais. Não há mais culpa. Não mais tristeza.
Como Pashka disse você não poderia ter evitado isso. Ara não querer
que você carregue esse fardo mais."
Ele vira e me puxa para seus braços.
"Eu te amo, Madison Hill", ele me diz. "Eu nunca tinha
chorado antes. Deveria estar envergonhado, mas eu não estou. Eu te
amo por não julgar a minha fraqueza.”
"Você não é fraco, Gabe," respondo suavemente. "Você está
longe, muito longe de ser fraco. Você é uma das razões por que as
pessoas normais como eu dormem bem à noite. É porque nós
podemos. Você enfrenta o perigo, de modo que não temos com o que
nos preocupar. Até mesmo Ara sabia disso. Você acha que é uma
coisa ruim, mas você não é. Você protege o resto de nós a partir de
coisas ruins. Você é mauzão, letal e assustador, mas você está tão
longe de ser fraco. Você é um protetor, Gabe. Meu protetor.”
Ele parece atordoado, então satisfeito. "Obrigado", ele disse em
voz baixa.
Concordo com a cabeça e nós apenas sentamos em silêncio por
um tempo.
Nada mais realmente precisa ser dito. Tudo paira no ar ao
nosso redor, reverente, bonito e forte. As palavras não são
necessárias para que possamos senti-las.
Eventualmente, nós saímos do chão e bebemos uma garrafa de
vinho, em silêncio apreciando a presença um do outro antes de
finalmente ir para a cama.
À medida que nos encontramos na escuridão tranquila,
emocionalmente esgotado e cansado, Gabe finalmente fala.
"Maddy, estive pensando sobre uma coisa. Não quero ir para
Hartford com as coisas do jeito como elas estão.”
Cada pedacinho do meu ser congela com suas palavras.
"Não?" Consegui deixar sair.
Ele balança a cabeça. "Não. Nós já passamos por tanta merda,
Maddy. Fomos para o inferno e voltamos, na verdade. Não quero
mudar para Hartford com você como minha namorada. Eu quero ir
para lá com você como minha esposa.”
O mundo para de novo, como têm acontecido centenas de
vezes desde que eu o conheci.
Encaro-o no escuro, a minha mão inerte em seu peito.
"Você sabe?" Minha voz é um sussurro.
"Eu não", ele me diz. "Maddy, eu sei que você provavelmente
está com medo do casamento por causa de seus pais. Mas eu posso
prometer-lhe que o nosso seria tão diferente do deles quanto à noite
é do dia. Vou te amar todos os dias da minha vida. Tudo o que quer
prejudicá-la terá que pedir a mim para fazê-lo. O medo é uma
escolha, Maddy. Não tenha medo disso. Case-se comigo. Por favor."
Minha resposta é instantânea. Eu nem sequer tenho que
pensar sobre isso.
"Sim", eu respiro. "Quero me casar com você."
"Graças a Deus", ele murmura quando me puxa para ele. "Não
sei de que outra forma eu estava indo para convencê-la, se você
dissesse que não."
Eu rio, traçando meus dedos ao longo de seu rosto, seu queixo,
seu pescoço.
"E você realmente não se importa de mudar para Hartford
comigo?" pergunto pela décima quarta vez esta semana.
"Maddy, eu iria a qualquer lugar com você."
Seus braços apertam em torno de mim e eu ouço o vibrar de
seu coração, sólido e forte. Sussurro alto o suficiente para que ele
possa me ouvir sobre o ruído do lago pelo lado de fora.
"Não me deixe esta noite, Gabe. Fica comigo a noite toda.”
Por força do hábito, ele se espanta com a ideia, mas depois
relaxa e, finalmente, concorda.
A emoção percorre-me em suas palavras.
"Você sabe o quê? Talvez seja a hora. Nós não podemos nos
casar se não podemos nem dormir juntos, certo?”
Inundações de alívio me atravessam.
"É definitivamente a hora", digo a ele. Relaxando, me encaixo
perfeitamente. "Mas nós vamos nos casar de qualquer maneira." Ele
ri e eu derivo em direção ao sono, curtindo a sensação de segurança
e amor que me lava nos braços de Gabe.
Como o sono toma conta de mim, sei que eu nunca vou querer
estar em outro lugar mais do que eu quero estar aqui com ele.
Nunca.
A noite passa pacificamente.
Quando eu acordo de manhã com o sol no meu rosto, me volto
para Gabe e encontro-o olhando para mim, seus olhos escuros,
sensuais e pensativos.
"Você sonhou?" Pergunto nervosamente. Ele sorri, um sorriso
lento que eu amo, aquele que se espalha a partir de seus lábios nos
seus olhos quando ele balança a cabeça.
"Sem pesadelos. Eu acho que talvez eu tenha detonado um
demônio depois de tudo.”
Chego a ele, puxando-o para mim, apreciando a forma como o
seu corpo cobre o meu. Uma coisa é certamente verdade, esse
homem é o meu herói pessoal.
Quando eu olho em seus olhos e vejo as promessas que
permanecem lá, não posso deixar de pensar em outra verdade.
O medo é realmente uma escolha.
E nós dois enfrentamos os nossos e ganhamos.
Não há nada mais a temer.
Epílogo

Gabriel

Um ano depois

Arlington, Virginia

As fileiras de lápides brancas parecem se estender por milhas e


milhas no cemitério silencioso. Mas apenas uma me importa agora.
A que estou em pé na frente.
Marshall Elias Crane.
Mad Dog.
Curvando meus joelhos, limpo a leve camada de pó da lápide.
É claro que não está escrito “Mad Dog”. Está escrito seu nome
completo e sua patente em letras maiúsculas simples. Não fala mais
nada sobre ele.
Não fala que ele era engraçado pra caramba, que era leal como
o inferno, ou que ele estava com medo de morrer, mas enfrentou
com honra de qualquer maneira.
Não falava nada disso.
"Ei, cara" Brand o cumprimenta com a voz baixa. "Como você
esta lidando com isso?"
Reviro os olhos e Madison lhe soca nas costelas.
"O quê?", ele pergunta inocentemente. "Não vou mudar a
forma de falar com ele só porque ele está morto."
Seguro a mão de Maddy e ela me entrega a caixa.
"Por que você não me disse o que ia fazer?" Ele pergunta
baixinho. "Por que você não esperou até que eles lhe dessem esta
medalha?"
"Não se sinta mal", Jacey fala. "Eu também não sei. Não posso
acreditar que ele não me disse."
Balancei minha cabeça. "Não era relevante."
Brand ri ironicamente. "Foi relevante para mim."
Olho para ele e, de repente, ao invés de lhe ver em pé alto e
dono de si, como ele estava agora, eu o vejo sangrando e
inconsciente. Sua perna foi explodida em pedaços e eu não tinha
ideia se mais alguma coisa estaria por vim. Fiz a única coisa que
poderia fazer. Eu o coloquei sobre minhas costas e o carreguei.
"Seu marido me carregou por duas milhas" Brand conta a
Maddy, em voz baixa. "Depois da explosão do Humvee, rebeldes
talibãs atacaram todo o perímetro e mataram todos os
sobreviventes. Ele me tirou de lá e me levou para um lugar seguro,
depois das colinas, da areia e da fumaça. Eles teriam me matado se
ele não tivesse me carregado.”
Maddy levantou uma sobrancelha e se inclinou para mim. "E
você não achou importante mencionar este fato até agora? Pareci
uma idiota quando o Pentágono ligou para convidá-lo para a
cerimônia de premiação. Um aviso prévio teria sido bom."
Sorrio. "Não sabia que eles iam fazer isso. Me desculpa."
"Por que não?", ela responde incrédula, enquanto retira o
cabelo do rosto. "Você é um herói, Gabe. Todo mundo sabe disso,
menos você. Durante meses você focou somente no que você não fez
naquela noite. Enquanto você deveria ter focado, unicamente, no
que você fez."
Fico olhando para ela, encontrando seu olhar. "Eu sei", eu
respondo.
E, finalmente, é verdade. Eu realmente sei. Sei que eu não
poderia impedir o que aconteceu naquela noite. Não foi culpa
minha. A falha não foi minha.
É algo que me tomou muito tempo, mas estou em paz agora.
Uma vez que as engrenagens do governo giram lentamente, foi
apenas há um mês atrás, que recebi o telefonema. Eles queriam
homenagear eu e Brand por aquela noite. Brand com o Purple Heart
24 e eu com a Medalha de Honra25.

Uma medalha de valor incomensurável devido ao grande


perigo, acima e além do dever. Isso foi o que o presidente disse para
mim hoje, enquanto ele colocava a medalha em volta do meu
pescoço.
Maddy e Jacey se sentaram na primeira fila e choraram.
E a mulher do Mad Dog estava lá ao lado delas. Levou meses.
Mas o tempo e uma carta de Maddy a fizeram entender que eu daria
minha vida para salvar a do Mad Dog. E eu teria.
Mas isso não é o que aconteceu. Então, estou aqui hoje para
honrar sua memória da única maneira que eu posso.
Ajoelhado, coloco a fita azul ao redor do topo de sua lápide.
"Não deixe que isso suba à cabeça", digo a ele.
É claro que ele não está aqui para me ouvir. Mas de alguma
forma, com a tranquilidade deste lugar, parece quase possível que
ele pode. Que ele está de pé atrás de mim, com uma garrafa de Mad
Dog26 em sua mão, rindo enquanto eu deixo minha medalha com um
homem morto.
Mas está tudo bem.
Ela pertence a ele.
Preciso deixar isso para trás, junto com tudo o que aconteceu
naquela noite. Não quero mais pensar nisso.
"Você tem certeza que quer deixá-la aqui?"
Maddy pergunta gentilmente.
Concordo com a cabeça. "Não preciso de um pedaço de metal
para contar quem eu sou."
Ela sorri, linda e quente, com a mão tremula no seu estômago,
onde o nosso bebê está começando a crescer.

24
Medalha concedida a quem tenha sofrido algum dano especificamente do inimigo. É uma das
mais respeitadas e mais antigas, condecorações do Exército dos EUA
25
Mais alta condecoração dos EUA para os militares. Para conseguir uma você praticamente
tem que mostrar destemor absoluto e bravura, heroísmo e capacidade sobre-humana contra
um inimigo dos Estados Unidos.
26
Bebida forte.
"Você está se sentindo bem?" Pergunto. "Está quente. Você
quer um pouco de água?"
Ela sorri. "Estou bem, querido. Pergunte-me novamente em
alguns meses. Agora estou bem."
Brand envolve um braço em volta dos seus ombros e o outro
em torno de Jacey. Juntos os quatro, por um segundo, ficamos na
imersão da calma. Uma silenciosa homenagem a todos os soldados
mortos que nos rodeiam. Eu sei que Brand está pensando a mesma
coisa que eu. Poderia facilmente ter sido um de nós a ser enterrado
aqui sob a sujeira e a grama.
Mas não foi.
"Se o bebê for um menino, quero chamá-lo de Elias."
Finalmente disse a Maddy. "Tudo bem?"
Seus olhos se aquecem e ela concordou. "Desde que seu nome
do meio seja Gabriel."
O calor fluiu através de mim. "Feito." consigo dizer,
entrelaçando os dedos com os dela.
"Você pode não querer falar sobre isso", ela me diz
suavemente. "Mas o nosso filho vai saber que você é um herói. Só
para você saber disso."
Ela solta minha mão, agarrando o meu braço em vez disso, e
eu penso sobre as palavras abaixo de seus dedos.
Morte antes da desonra.
Mad Dog está morto e não há nada que eu possa fazer sobre
isso. Ele morreu com honra junto com Ara Sahar e todas aquelas
outras mulheres e crianças. Mas eu ainda estou vivo. Portanto, só há
uma coisa que posso fazer. Viver para eles.
Viver com honra.
"Você está pronto?” Brand pergunta, olhando para mim.
Concordo com a cabeça. "Sim."
E, finalmente, estou.
Saímos juntos, deixando o passado para trás, onde ele
pertence.
Agradecimentos

Passei muito tempo isolada no meu escritório enquanto escrevia esse


livro. Então, eu tenho que agradecer minha família por me aturar. Por não
reclamarem de comer tanta comida pronta. E por não tirarem (muito) sarro de
mim quando eu me esquecia de tomar banho, comer ou quando eu me esquecia
do tempo. Sou abençoada pelo apoio de vocês e eu os amo demais.
Amy Pierpont, meu editor estrela do rock de Forever. Oh meu Senhor. Eu
não sei o que eu teria feito sem você durante este livro. Obrigado por ter sido
paciente através das quatro revisões e por não me matar quando eu adicionava
um novo material. E obrigada por ser incrível e por sua visão incrível.
Para o tenente-coronel Gerritt Peck e SPC Desiree DeCoteau. Obrigada
enormemente a ambos, por responderem a todas as minhas perguntas sobre a
vida nas forças armadas e no Afeganistão. Eu sei que ambos são muito
ocupados, por isso significou muito o tempo dispensado em minhas perguntas.
Vocês dois são heróis.
Para minha melhor amiga e parceira no crime M.Leighton. Eu tenho que
agradecê-la em cada um e em todos os livros, porque ela praticamente segura a
minha mão quando eu escrevo. Se eu tiver um problema ou uma pergunta, se eu
estiver travada, ou neurótica, se eu estou insegura... Eu chamo M. E ela
conversa comigo ou para o que estiver fazendo para ler a cena e me dar sua
opinião. Ela é demais. E um dia, eu realmente espero que possamos ser
vizinhas, morando porta a porta.
Para a minha agente dos sonhos, Catherine Drayton. Você é incrível e eu
ainda me impressiono algumas vezes quando vejo seu nome na minha caixa de
entrada ou no meu telefone. Obrigada por dar uma chance a esta menina
fazendeira.
Para minha talentosa e incrível equipe de marketing... Kelly Simmon da
Inkslinger PR e as incríveis senhoras da Hachette: Jessica, Marissa, Jane e
Tanisha. Vocês são simplesmente as melhores.
E para os blogueiros e leitores que leem meu trabalho. Vocês são
incríveis. E eu aprecio cada um de vocês mais do que vocês possam imaginar.
Muito obrigado por tudo que vocês fazem, por lerem meus livros, por suas
notas, mensagens e tweets e e-mails e Facebook.
Vocês são a razão de eu conseguir fazer o que eu faço e serei eternamente
grata.
Nota da Autora

No momento da elaboração deste livro, cerca de 3460


Medalhas de Honra do Congresso foram concedidas à militares
norte-americanos que agiram com bravura excepcional e coragem.
Os destinatários desta honra merecem reconhecimento.
Assim como os milhares de militares que fazem seus trabalhos
tanto neste país como ao redor do mundo.
E assim também, como os muitos soldados que lutaram em
combate e voltaram para casa com transtornos mentais, muitas
vezes em um grau debilitante. Segundo as estatísticas em 2012, mais
soldados perderam suas vidas por suicídio (média de um por dia) do
que no campo de batalha. Isso é impressionante.
E comovente.
Soldados enfrentam as coisas que nós não queremos enfrentar,
coisas que nós não temos que enfrentar porque eles fazem isso por
nós. Porque eles enfrentam o medo com seus olhos, eles voltam para
casa com cicatrizes no interior.
Não devemos esquecer isso. Não devemos esquecer eles.
Há dezenas de sites e grupos de ajudas, todos projetados para
ajudar soldados feridos e soldados com transtornos mentais. Se você
gostaria de apoiar esta causa, se você gostaria de ter algum grupo
para apoiar, eu recomendo olhar um desse e se tornar um membro
ativo. Um que eu encontrei durante as minhas pesquisas é a
Wounded Warrior Project (www.woundedwarriorproject.org). Você
pode começar por aqui e a partir daí aprender maneiras para ajudar.
Eu tenho um lugar especial no meu coração para os soldados,
que foram uma das razões pelas quais eu escrevi este livro.
Antes de deixar meu emprego no mundo corporativo e iniciar o
trabalho dos meus sonhos que era escrever livros, tive o enorme
privilégio de trabalhar com uma equipe de ex-oficiais militares e
soldados. Cada um deles repletos de características que todos nos
deveríamos ter.
Honra, dignidade, lealdade, coragem, disciplina. Esses caras
me mostraram, em primeira mão, a incrível pessoa humana que os
soldados são.
Além disso, o meu próprio avô serviu na Segunda Guerra
Mundial. Lembro-me da minha avó contando que ficava sem
notícias dele por meses (por que as cartas sempre extraviavam).
Então, uma noite quando ela foi assistir a um filme apareceu uma
cena de soldados embarcando num navio para o exterior e ela viu
meu avô. Ela disse: "Eu sabia que era ele. Ninguém tem um andar
como do Olen.”
Esses meninos estavam embarcando em um navio para ir lutar
contra o terror desconhecido, coisas que nunca tinham visto antes.
No entanto, eles fizeram isso com honra. Eles fizeram isso com
dignidade. Todos eles descobriram em primeira mão que o medo é
uma escolha. Eles enfrentaram o medo para que todos em casa não
precisassem. Isso me dá arrepios só de pensar.
Meu avô, que faleceu agora, cheio de cada uma das
características que eu mencionei acima. Ele estava em silêncio
digno, forte e corajoso. Ele nunca falou sobre o que aconteceu na
guerra, porque muitos homens de sua geração não fizeram. Era
horrível demais para falar.
As coisas mudaram. Porém, os soldados são incentivados a
falar sobre as coisas que acontecem e suas cicatrizes. Eles são
incentivados a lidar com seus demônios internos... Demônios que
eles adquiriram no cumprimento do dever. Demônios que eles
adquiriram quando estavam nos protegendo do mal.
Este livro é a minha maneira de homenagear cada um deles. É
um lembrete de que eles lutam para garantir um direito concedido
as pessoas. Como disse Maddy na história, soldados lutam para que
possamos descansar facilmente. Eles nos guardam contra coisas que
acontecem à noite.
Eles servem com honra, para que possamos viver livres.
Eles são todos heróis e eu nunca vou esquecer isso.
Eu espero que você também não...
Sobre a Autora

Courtney Cole é uma das autoras mais vendidas do New York


Times e EUA Today que mora perto do Lago Michigan com sua
família. Ela está sempre trabalhando em seu próximo projeto... Ou
olhando para fora da janela de seu escritório sonhando. Para saber
mais sobre ela, visite: www.courtneycoleauthor.com
Prévia de Before We Fall

Capítulo Um

Dominic

Gosto de assistir.
Sei que não deveria, mas realmente não dou à mínima.
Gosto do brilho de pele, os membros suado, o sexo, os cheiros, a
porra....
Assistindo me faz sentir alguma coisa. É uma das únicas
coisas que faz.
"Algumas coisas nunca mudam, Dominic", murmura
Kira com suas mãos espalhadas em toda a minha camisa aberta, seu
longo cabelo castanho se movendo ao vento, fazendo cócegas no meu
peito enquanto ela assiste comigo. "Você é apenas o mesmo... uma
aberração. Amo isso.”
Não respondo por que ela está certa. Sou uma porra de
aberração. Ela sabe disso e eu sei disso, e nenhum de nós se importa.
Se qualquer coisa, Kira gosta. Ela deve, porque está presa em mim
durante muito tempo. Me conhece melhor do que ninguém... e
definitivamente sabe o que gosto.
Mesmo que ela seja bonita e familiar, ignoro os dedos à
medida que rastreia toda a minha pele, pastam as pontas dos meus
mamilos e trilha até a minha virilha. Meu pau é resistente ao toque
dela esta noite e permanece macio por dentro da calça. Não porque
ela não está quente ou sexy, porque ela é, mas porque seu toque é
familiar e normal, não agita meu sangue. Vi praticamente tudo de
uma vez ter feito isso várias vezes. Normal não fazê-lo para mim.
Coisas proibidas são o que levanta o meu pau. Coisas
escuras, coisas ruins.
Olho para baixo a partir da varanda, olhando além da piscina
cintilante abaixo, passando pela água ondulante que lança luz azul
em tudo ao seu redor, para as imagens que vacilam na noite. As
imagens de duas pessoas do caralho.
Sabendo que eu não deveria ver é o que me excita sobre
isso e então não desvio os olhos do casal fazendo sexo ao lado da
piscina do meu irmão.
Tomo outro gole de uísque, deixando o ardente líquido
sentar na minha boca antes que eu engula, deixando-a enrolar seus
dedos ao redor do meu estômago, aquecendo meu intestino.
Assistindo o casal em silêncio, me inclino contra o
parapeito, meio escondido pelas sombras, envolvido pela noite. É
exatamente como gosto.
Na minha frente, a cena se transforma em bruto.
E meu pau se transforma, imediatamente fica duro.
Os dentes da garota afundam no pescoço do cara, então
ela sussurra algo ininteligível em seu ouvido, palavras que silvam
enquanto arrasta os dentes através de sua pele. Duro, agressivo,
áspero. Posso ver o rastro vermelho de dor que ela deixa para trás a
partir daqui.
"Ela acabou de mordê-lo?" Kira diz com diversões, sua
mão congelada a minha cintura.
Concordo com a cabeça. Ela fez. E isso me fez duro como
uma rocha.
Adoro assistir dor. Isso me distrai da minha
O cara sorri, gostando também. Ele levanta as pernas
sobre seus ombros como ele empurra para dentro dela. Duro. Depois
libera uma das mãos para agarrar o pescoço dela. Duro. Seus dedos
cavam a pele delicada lá, cortando a carne, deixando marcas
vermelhas que só poderia ficar roxo pela manhã..
Mas ela gosta.
Posso dizer pelo jeito que ela coça as costas e geme mais.
Posso dizer pelo jeito que ela traga ainda mais em si mesma, indo
contra seus quadris para levá-lo ainda mais profundo. Posso dizer
pelo jeito que ela nem tenta tirar a mão dele de sua garganta.
Isto sempre me fascina quando vejo mulheres que se
rebaixam, as que gostam de uma vida difícil, aquelas que querem ser
dominadas ou humilhadas.
Não faz qualquer sentido, mas vejo isso todo o tempo,
mais e mais, especialmente aqui na casa do meu irmão em uma de
suas festas intermináveis. Em torno de sua piscina, em sua banheira
de água quente, em seu gramado. As pessoas parecem perder suas
inibições quando passam por estas portas, o que não faz qualquer
sentido, também. A maioria deles não o conheço, não realmente.
Mas isso não os impede.
Basta dizer que estou sempre entretido quando venho lhe
visitar.
"Você acha que eles sabem que estamos assistindo?" Kira
inclina-se na ponta dos pés, murmurando com a respiração quente
em meu ouvido quanto uma mão acaricia minhas bolas.
Olho para trás, para baixo e para o casal, observando o
rosto a contorcer e o torcer do cara, e vendo a garota gemer e se
contorcer debaixo dele. Eles não têm ideia de que estamos aqui, mas
tenho a sensação de que não se importariam mesmo que o fizessem.
"Acho que essa menina me serviu champanhe mais
cedo!" Kira exclama, inclinando-se mais perto para olhar.
"Você provavelmente está certa", respondo, olhando para
o uniforme de servidor acanhado da garota. Brevemente me
pergunto onde seu chefe pensa que ela está. Certamente, ele não tem
ideia de que ela está transando com um convidado da festa ao lado
da piscina.
Mas isso não é problema meu.
A protuberância entre as minhas pernas é o meu
problema agora. Tem crescido mais grosso e mais pesado e eu mudo,
aliviando a pressão do meu jeans longe do meu pau. Escovo minha
mão contra o jeans cobrindo minha virilha, acariciando-me. Só um
pouco. De forma rápida e eficiente.
Não farei nada em publico, por causa da minha
profissão, aprendi que proteger minha imagem. A imprensa teria um
dia de campo do caralho se imagens minhas imagens masturbando-
me vazassem.
Kira cuida da situação para mim, assim como ela sempre
faz quando estou na cidade. Ela me empurra para trás para as
sombras, onde ela sai do seu short na minha frente. Ela não está
usando calcinha.
Ela está certa. Algumas coisas nunca mudam.
"Foda-me com a sua mão enquanto você os vê", ela me
instrui baixinho, os olhos verdes brilhando. "Faça isso, Dom. E então
vou deixar você vir na minha cara, da maneira que você gosta. "
Ela fica inerte na minha frente, com a cabeça apoiada no
meu ombro enquanto deslizo dois dos meus dedos dentro e fora
dela. Sei exatamente onde tocá-la. Ela suga a respiração e tenho que
sorrir. Sei cada centímetro dela. Há algumas coisas a serem ditas por
familiaridade.
Ela está toda molhada, como se ela estivesse esperando
por isso desde que a tinha visto pela última vez. Ela não estava, é
claro. Kira e eu temos um arranjo de conveniência. É conveniente,
porque nos conhecemos, nós confiamos um no outro. E não há
sentimentos envolvidos. Ela e eu somos da mesma forma.
Posso ouvir a menina na piscina gemendo alto e faz os
meus dedos se movem mais rapidamente, trabalhando Kira mais
duro, em vez de impulsos suados do cara. Kira geme como a menina
na piscina e fecho meus olhos, ouvindo os sons do caralho. Com a
minha mão enterrada na virilha de Kira, os sons são tudo que
preciso agora.
Se eu fosse decente, recuaria a partir da varanda e daria
ao casal um pouco de privacidade e daria a Kira mais cobertura das
sombras... apenas no caso de alguém nós observar.
Mas foda-se. Não sou digno. Não mais.
Depois de mais alguns minutos de foda dura, o cara puxa
para fora da garçonete e agarra-a com força, puxando-a para fora da
carruagem e forçando-a para baixo na frente dele, de joelhos. Posso
ver sua pele roçar os tijolos, assim como posso ler seus lábios.
Chupe-me.
Faço uma pausa enquanto a menina balança a cabeça,
tentando ir embora, mas ele segura rápido pelos seus cabelos,
fazendo-a levá-lo em sua boca. Fazendo-a chupar seu próprio gosto
nele.
Ela definitivamente não é para ele agora. Ela balança
seus braços para ele freneticamente, mas ele segura seu cabelo com
força, envolve-o em torno de suas mãos, recusando-se a deixá-la ir.
Assisto a lavagem de medo sobre o seu rosto e meu
intestino aperta em reação.
Foda-se.
Kira levanta a cabeça quando a minha mão se silenciou.
"O quê?"
Seus olhos estão vidrados enquanto ela olha para mim.
Concordo com a cabeça em direção à piscina, na luta acontecendo lá
embaixo, para a garota tentando desesperadamente escapar das
garras do imbecil.
"Inferno", Kira suspira. "Ignore-o, Dom. Não é o seu
problema. Não estamos aqui."
Suspiro também, porque sei que não posso ignorar isso.
Isso vem acontecendo de forma demasiada. Pessoas vêm
aqui e ficam perdidos e fora de controle. Não vale a pena, mas o meu
irmão continua tendo parte de qualquer maneira. Ele diz que o
mantém relevante, qualquer que seja o que isso significa. Não pareço
ter um problema de ser relevante e não hospedaria uma única festa.
Agito o aperto de Kira fora do meu pulso, engulo o resto
da minha bebida e desço as escadas, ignorando os chamado de
protesto dela.
Demoro um minuto para tecer discretamente através das
massas de pessoas espalhadas pela casa e fazer o meu caminho
através do gramado e sobre as pedras que leva à piscina. Mas
alcanço o casal dentro de dois minutos e, mesmo sem fazer uma
pausa, pego o cara por trás, puxando-o para trás. Ele assobia quando
dentes da garota raspam o pau dele.
Ela serve bem. O filho da puta me interrompeu.
Ele grita e eu jogo-o no chão, assistindo satisfeito quando
ele machuca o rosto na pedra tijolos antes de ele rolar no gramado.
"Cai fora", grito pra ele. "Ninguém fica forçado contra a
sua vontade aqui."
"Essa cadela queria", ele protesta quando ele sobe a seus
pés. "Ela estava pedindo por isso."
Balancei minha cabeça. "A última vez que verifiquei, não
significa não. Não é uma nova maneira de perguntar para ele. Fora
daqui."
O cara olha para mim de novo, reconhece quem eu sou, e
depois segue longe sem outra palavra. Pego uma toalha de piscina e
envolvo-a em torno dos ombros da menina.
Seu uniforme acanhado, o que era mal lá, em primeiro
lugar, está pendurado em torno de sua cintura, agora,
aparentemente rasgado em sua briga. Ela parece autoconsciente,
mas honestamente, quase não notei. Ela é jovem e tem peitos
alegres, mas assim como milhares de outras mulheres. Ela não faz
muito para mim. Principalmente porque sei que ela ia oferecer-se
em um prato, se quisesse ela. Considero brevemente convidando-a
para se juntar a Kira e eu, mas não o faço. Ela está bêbada, e mesmo
que ela não estivesse muito bêbada para se lembrar, ela tinha
acabado de ser quase violada.
"Você está bem?" Pergunto rispidamente. Ela balança a
cabeça, choramingando, assim quando outra menina, uma linda
loira em um correspondente uniforme, apressa-se.
"Puta merda, Kaylie. O que diabos aconteceu? "
A loira está evidentemente assustada, preocupada, e
enquanto Kaylie explica sobre o idiota, tento desaparecer nas
sombras. Independentemente da minha profissão, tento ficar fora do
holofote quando as câmeras não estão rolando. Infelizmente, antes
que consiga desaparecer Kaylie agarra meu braço, então envolve-se
em torno da minha cintura.
"Obrigada", ela me diz com voz trêmula, com os braços,
como bandas finas, não me dando espaço para sequer me contorcer.
Olho para ela, e observo seu delineador manchado de lágrimas ao
fixar em seus olhos em pânico.
"Não é um problema. Mas você precisa ficar fora de
situações como essa. Não haverá sempre alguém para intervir e
salvar você."
De sua expressão chocada, decido que poderia ter sido
um pouco duro demais com ela. Mas merda. As mulheres têm que
ser mais cuidadosas. Elas não podem desfilar em apenas qualquer
roupa, ter sexo violento com um estranho e só esperar que ele seja
um cavalheiro. Homens, em geral, não são cavalheiros. Nós somos
idiotas.
Kaylie olha para mim, muito bêbada ou alta até mesmo
para responder. Mas sua amiga não é tão silenciosa.
Grandes olhos castanhos morde-me com raiva. "Por que
você está preocupado com ela? Ela estava apenas assustada, no caso
de você não perceber."
Reviro os olhos.
"É o que você chama isso? Ela estava tendo sexo violento
com aquele idiota em público, quando ela deveria estar trabalhando,
poderia acrescentar. Pareceu-me como se fosse um incidente que
ficou fora de controle. Parei por ela. Você é bem-vindo.”
Linda loira me olha pasmo. "Você está tentando insinuar
que ela não é uma vítima, que era culpa dela que isso aconteceu?"
Suspiro. "Claro que não. Estou dizendo que ela não
deveria ter encorajado um bêbado estranho para ser áspero com ela
em primeiro lugar. Boa noite.”
Começo a ir embora, mas, aparentemente, ela não está
satisfeita.
"Quem diabos você pensa que é?" Ela exige. "Você pode
não ter ouvido falar, mas você realmente não deve culpar a vítima."
"Não estou culpando..." Começo, mas sou interrompido
por seu suspiro quando passo totalmente para a luz e ela vê meu
rosto.
"Puta merda", ela respira. "Você é a porra do caralho de
Dominic Kinkaide".
Não posso deixar de sorrir, só um pouco, apenas o suficiente
para puxar os cantos dos meus lábios para cima. "Dominic fica. Eu
tiro o 'porra'. A menos, claro, sou realmente do caralho."
Ela sorri um sorriso de tirar o fôlego que deveria me
afetar. A menina está uma pilha, tem pernas que se estendem por
quilômetros, e está vestindo quase nada. Ela deveria me afetar. Mas
ela não faz. Porque nada me afeta mais. Estou cansado pra caralho.
"Ouvi que você é problema", ela anuncia assunto com
naturalidade, olhando-me de cima a baixo com um olhar lento e fogo
em seus olhos. "Isso é sorte, porque acontece que gosto problemas."
"Aposto que você faz", respondo de volta, tentando
ignorar a forma como ela está agindo agora que ela sabe quem sou.
Todos eles agem assim. Cada um deles. Fica monótono. Só uma vez,
não pode alguém me surpreender? "Prazer em conhecê-la."
Me viro e caminho de volta para a casa, mas ela dá dois
passos e pega meu braço. Faço uma pausa.
"Mas você não fez", diz ela, hesitante, um pouco insegura
agora. "Você não me conhece. O meu nome é Jacey".
Suspiro. "Seu nome não importa."
Continuo andando, ignorando a forma como ela suga o
fôlego, a forma como ela chama por mim depois em agitação, do
jeito que ela desiste e para na derrota.
Posso ser um idiota, mas eu não minto.
Seu nome não importa.
Não para mim.

Aguardem...

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