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FICHA CATALOGRAFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL — UNICAMP Nunes, José Horta No22f Formagio do leitor brasileiro : imagindrio da leitu- ra no Brasil - Colonial / José Horta Nunes. — Campinas, SP : Editora da UNICAMP, 1994. (Colegao Viagens da Voz) 1. Leitura - Brasil - Perfodo colonial, 1500-1822 1. Titulo. 20. CDD - 418.409 81 ISBN 85-268-0309-3 Indice para catdlogo sistematico: 1. Leitura - Brasil - Perfodo colonial, 1500-1822. 418.409 81 Colecdo Viagens da Voz Copyright © by José Horta Nunes Coordenagao Editorial Carmen Silvia P. Teixeira Editoragao Nivia Maria Fernandes Preparacio de originais Vera Luciana Morandim Revisao Rosana Horio Monteiro Paula M. Senatore Editora¢ao Eletrénica e Filmes Helvética Editorial Capa Vlad Camargo 1994 Editora da Unicamp Rua Cecilio Feltrin, 253 Cidade Universitaria — Bardo Geraldo CEP 13084-110 — Campinas — SP — Brasil Tel.: (0192) 398412 Fax: (0192) 39.3157 non seulement le mouvement des idées, mais également I’élaboration de régles sociales dont nous sommes aujourd’hui les héritiers.’’ (Jacob, s.d., p. 185) O direito de propriedade, o trabalho e as teorias econémicas, a idéia de civilizagao, 0 pensamento politico, os movimentos revolucionarios, s40 quest6es que envolvem conhecimentos sobre os indios, em que estes apa- recem como argumentos. Exemplificando, a imagem do selvagem como pre- guicoso representa um contra-modelo diante dos valores sociais (entre os quais se salienta 0 trabalho) que surgem no Ocidente no século que segue as descobertas — ‘‘o bom selvagem nao € produtivo”’ (Jacob, s.d.). Percebe- se, pois, que os elementos dos discursos sobre 0 Novo Mundo passam a funcionar como implicito na produgéo de conhecimentos. 2. Os leitores no Brasil Quando podemos dizer que h4 um leitor brasileiro? Tendo como prin- cipio tedrico 0 estudo de processos discursivos, e por conseguinte, de pro- cessos de leitura, ndo visamos marcar um ponto de origem para o leitor brasileiro. Podemos dizer, contudo, que ha condi¢6es que possibilitam o estabelecimento de um lugar, de uma posi¢ao para os leitores brasileiros. Deste ponto de vista, viajantes ¢ missionarios, assim como indios, € euro- peus que vém colonizar 0 pais, enunciam em condi¢6es discursivas que se distinguem das do leitor na Europa. Essa distin¢ao nota-se, de inicio, nos tragos enunciativos que marcam essa posi¢ao. Na transi¢ao entre o leitor europeu € 0 leitor brasileiro, a perspectiva enunciativa muda: a distancia entre os interlocutores, os tragos espaciais, os tragos referenciais, as anteci- pacoes imagindrias sao fatores que se reconfiguram no processo discursivo que se instaura. Desta forma, para 0s mesmos textos temos condi¢des ima- gindrias distintas. A materialidade hist6rica da lugar a leituras € a leitores especificos, com posig6es distintas de sujeito-leitor. 74 2.1 O leitor europeu no Brasil Os discursos de viajantes e missionarios fornecem elementos para a for- macao de regides de interdiscurso, elementos que podem funcionar como pré-construidos nas leituras. A regido de memoria advinda da historia euro- péia das leituras é um espaco de possibilidades a que tem acesso 0 leitor no Brasil; os espa¢os virtuais de memOria sao articulados em conformidade com as posicGes que se configuram do sujeito-leitor hist6rico brasileiro. Os discursos de viajantes, como vimos, trazem uma série de elementos da mem6ria discursiva européia. No Brasil, os viajantes nao tem uma tradi- ¢40 de leitura com a qual eles possam se confrontar, nao havendo discurso escrito ja institufdo; porém, a escrita dos europeus d4-se no contato com 0 discurso dos indios, ou seja, considerando-se 0 fato de que ha ja interl cutores no pais. Representando através da escrita um discurso de tradi¢ao oral, tanto se atribui um lugar para o outro na relagao com a escrita, como se delineiam os tracgos de uma leitura que para o europeu € inviadvel. Assim, quando os viajantes representam os indios, eles constroem uma posi¢ao para ele dentro de uma tradi¢ao escrita, uma posi¢do de sujeito-leitor, e ao mes- mo tempo, condicionam a tomada de posi¢do para os leitores no Brasil, ou seja, constroem uma posi¢ao determinada para o leitor brasileiro. O trabalho de leitura dos viajantes consiste, pois, em fornecer matéria- prima para os leitores no Brasil, a partir da memoria discursiva do europeu, € também, conformar um espaco enunciativo com pontos de identificacao entre o leitor europeu (no Brasil) e o leitor brasileiro, que se constitui distinguindo-se daquele. Um desses pontos de identificacao esta na relagao dos locutores com os objetos do discurso. Se para os leitores na Europa os objetos do Novo Mundo estao fora do alcance da vista, para os viajantes € missiondrios, assim como para Os indios, eles estao visiveis. Do mesmo modo para outros habitantes do pais: governadores, colonos, religiosos. As- sim, a situacdo imaginaria que ai se estabelece tem como caracteristica a primazia para a imagem que se vé, em oposi¢ao 4 imagem construfda para 75

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