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1 CLIMATOLOGIA
São Paulo, 1971
-1-
que se revestiram. Ainda estáo vivos na memória os episódios de Caragua-
tatuba, serra das Araras e Guanabara. Já o verão de 1967-68 registrou de-
ficiência de chuvas em meses normalmente os mais chuvosos. Estas defi-
ciências prolongaram-se pelo ano seguinte, refletindo-se nos níveis dos reser·
vatórios da metrópole. Em 1970 o verão registrou uma intensificação das
chuvas no Planalto Atlântico, com episódios calamitosos em janeiro e feve-
reiro no domínio da Grande São Paulo. Enquanto isto, neste mesmo verão
os excessos de chuva em São Paulo, contrastavam com a escassês na Gua-
nabara, onde os índices pluviométricos daquêles meses, notadamente feve-
reiro, estiveram muito abaixo do padrão normal.
Tal problema transcende não só o quadro regional em que se insere o
Estado de São Paulo mas projeta-se por todo o quadro nacional. As irre-
gularidades' climáticas, outrora consideradaS apanágio do Nordeste, revelam-
se nas mais variadas regiões, repercutindo sensivelmente nas atividades hu·
manas, com ~feitos que podem ser notados sôbre a pecuária na Campanha
Gaucha, passando pelo regime do rio São Francicco, até a navegação fluvial
no Estado do Acre. A agressividade do ritmo climático tem que ser, pois,
considerada no complexo geográfico brasileiro, como uma realidade vigente
nos meados do Século XX.
Quando chegamos à Universidade de São Paulo, em março de 1968, tra-
zíamos em nossa bagagem duas pesquisas (MONTEmO 1964Iinédita e 1969)
sôbre problemas climáticos de São Paulo e do Brasil Meridional, nas quais
procuramos enfatizar a necessidade de considerar a realidade dos extremos
em confronto com as abstraÇÕ€s médias, ao mesmo tempo que tentavamos,
através dos mecanismos de sucessão dos tipos de tempo, a explicação para o
ritmo climático atuaI.
No anuo lctivo de 1969, vinculado ao curso "Climatologia Dinâmica da
América do Sul", do calendário oficial de Pós-Graduação, na área de con-
centração de Geografia Fisica, do Departamento de Geografia, realizamos
uma série de debates sôbre o problema do ritmo climático atuaI, em semi-
nários sob o tema central: "Anos sêcos e Chuvosos em São Paulo". Nêstes
seminários tivemos o prazer de contar com a participação de uma brilhante
equipe de agrônomos, pesquisadores em Climatologia Agrícola, do Instituto
Agronõmico de campinas, da Secretaria de Agricultura, e da Escola Superior
de Agricultura Luiz de Queiroz, de Piracicaba, esta última da Universidade
de São Paulo. Tal participação trouxe ao debate. do problema uma valiosa
contribuição e fixou o inicio de uma colaboração e intercâmbio que conside~
ramos das mais positivas e temos o maior empenho em que sejam continuados.
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COMPARAÇAO DAS VARIAÇÕES
ANUAIS DE
PRECIPITAÇÃO EM SÃO PAULO, NO EX-
TREMO SUL E NO NORDESTE
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Fig. 1
Por outro lado a atuação dos alunos de pás-graduação, seja pelo debate mas
sobretudo pela coleta bibliográfica e execução de alguns gráficos importantes,
também foi bastante valiosa.
A partir daquele ano letivo, as tarefas de pesquisa concentradas no La-
boratório de Climatologia e executadas por estagiários e alunos de pós-gra-
duação, especialmente bolsistas da Fundação de Amparo ii Pesquisa do Es-
tado de São Paulo, estiverem entrosadas num programa de trabalho que,
partindo de um interre pessoal, e ventilados por um proveitoso debate, pas-
saram a constituir um verdadeiro plano de ação a que passamos a nos de-
dicar. Agora, quando já se inicia a colheita dos prirnentos resultados, acha-
mos ser chegado o momento de divulga-lo. Tal é, pois, o principal objetivo
destas notas. .
Ao faze-lo desejamos esclarecer os pontos de .vista fundamentais que
norteiam nos~) trabalho para que ele seja conhecido das equipes de pesqui-
sadores em Climatologia, espalhados por outras instituições, com as quais
desejamos manter diálogo e intercâmbio. Por outro lado servirá esta divul-
gação também aos candidatos que nos procuram ao nível da pós-graduação
universitária e cuja temática de investigação, por motivos de concentração
de esforços, deverá estar vinculada a êste programa.
PROBLEMAS DE CONCEITUAÇAO E
FUNDAMENTAÇAO METODOLóGICA
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PLUVIOGRAMA DE CAMPINAS {1930-1950l
Segundo SCHROEDER
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~ 8,3 ·12,4 %
.,
• TOTAL ANUAL PRECIPITAÇÃO
Fig. 2
mesmo tempO que estabelece confronto ·com outras localidades de regiões e
zonas climáticas diferentes: Iguatú~ no Sertão Nordestino e São Gabriel, na
campanha Gaucha.
A primeira aproximação válida para o conceito de ritmo seria aquela
das variações anuais percebidas através das variações mensais dos elementos
climáticos. Uma repetição das variações mensais em vários e sucessivos
anos é o fundamento da noção de "regime".
Num estudo já clássico sobre o Clima do Rio Grande do Sul, Floriano
Peixoto Machado (1950) mostra a dificuldade de fixação de um critério para
distinção de anos sêcos e chuvosos, sobretudo para uma região em que não
há definição de uma estação sêca no decorr.er do ano. Tenta aquele autor
uma caracterização a partir da distinção mensal baseada no indice de 40 mm,
acima do qual seria chuvoso e abaixo do qual seria sêco. Lembramos que
no sistema dI..>' Koppen o índice tomado para determinação de um mês sêco
é o de 60 mm. Com o conhecimento do clima do Rio Grande pretende Ma·
chado que, naquela região, o índice de 40 mm é passível de caracterizar o
mês sêco e considera como "ano sêco" aquele cujos totais mensais de pre·
cipitação durante seis meses, no mínimo, sejam "muito inferiores" aos res-
pectivos valores "normais".
Em Schroeder (1956), a quem devemos um primoroso estudo analítico
das chuvas no Estado de São Paulo, a preocupação de levar em conta as
necessidades agrícolas, conduz a consideração da variação porcentual das
precipitações mensais assim como .a consideração do número de dias de
chuva, para melhor efeito da análise. No pluviograma de Campinas (Fig. 2)
podemos notar não apenas os totais anuais no período de 1930 a 1950, mas
a distribuição anual através da variação percentual dos meses em todos
esses anos. Já que há definição de um período sêco no decorrer do ano, ao
contrário do que ocorre no Rio Grande, a indicação do mês mais sêco e· do
mais chuvoso é extremamente importante na avaliação das distorções. Em-
bora julho seja o mês mais sêco, indicado pela média, o pluviograma deixa
bem clara uma oscilação que varia de abril a agôsto. ~ste tipo de repre-
sentação já constitue uma passo considerável na análise de um clima local
do ponto de vista rítmico.
A presença de água no solo reveste·se de um caráter eminentemente
geográfico já que o "ciclo da água" reflete tôda uma gama de interações.
Uma das correntes mais vastas de avaliações do "balanço hídrico" é aquela
desenvolvida pelo geógrafo americano Thorntwaite (1948, 1955) e larga-
mente utilizada entre nós no campo da Climatologia Agrícola. Neste caso
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mml I I i j' i i I i I
/ I
RIBEIRÃO PRÊTO-1968 PERIODO' 1937 -68
I II I I
PreCIpito cão -1062 mm P,ecipitoção - 1426 mm
E'o'cPQI. PQt -I073mm E'o'cpct. pc I. - tOS 7 mm
Excedente 159mm Excedente _ 476 mm
'00 Deficiência - 170mm DeficiênClO _ 107 mm i I
Temp.médio .21.2°C Temp_média.21.S0C
o M , o o o o
" "
INSTITUTO AGRONÔMICO DE CAMPINAS
• Secçõo de Climotolc9io A9ricolo
...,
Fig. 3
FIg Jl
o cálculo dos indices mensais ao longo dos anos já é o procedimento aceito
como capaz de racionalizar o balanço hídrico. Na Fig. 3 podemos confrontar
a ·abstraçào do que seria a variação anual médica do balanço hídrico cm
Ribeirão Prêto com a realidade especifica ocorrida no ano de 1968. Con-
forme já nos referimos na Introdução êste ano apresentou um verão de chu-
vas escassas. fato que aí se apresenta de maneira bem nítida, pejo registro
de deficiência hldrica cm pleno mês de fe\·creiro.
-9-
:€ inegável que tal técnica de anâ1isc, fundamental à compreensão
genética dos fatos climâticos, é, portanto, quaUtcttitx(., Do ponto de vista
quantitativo há que reconhecer diferenças de pontos de vistas entre as di-
ferentes setores de investigação. Impõe-se assim uma distinção pelo menos
entre os objetivos mateorológicos, agronõmicos e geográficos como campos
de investigação mais diretarnente ligados ao clima.
Do ponto de vista meteorolõgico a análise ritmica possibilita a evolução
de um simples tratamento quantitativo, em totais mensais, desvinculado da
gênese dos fenômenos. Nesta abordagem será possivel tratar estatistica-
mente "tipos de tempo", unidades reais de observação meteorológica, as quais
cumpre prever, e às quais será possível associar a análise quantitativa dos
diferentes elementos, assegurando-lhes a compreensão genética.
Embora as preocupações agronómicas sejam variadas, uma das básicas
é aquela da disJX)nibilidade de água no solo para alimentação das plantas.
A "sêca agre. nõmica"· traduz uma preocupação com a disponibilidade de
água no 50]0 e sua utilização pela planta. A conceituação dada por van
PAVEL (1953 a 1959), entre nós comentada por MORETTI (1%5), de que
a sêca agronómica "é um(, condição (o grifo ê nosso) onde há uma insufi-
ciente disponibilidade de água no 50]0, à zona das raizes, para prover um
6timo crescimento da planta" e a preocupação daquele autor em considerar
o Oldia sêco" (periodo de 24 horas durante o qual prevalescem as condiçôes
de sêca agronõmica) revela bem a necessidade de consideração do ritmo de
distribuição das chuvas e das disponibilidades hídricas. As investigações
do balanço hídrico como também os graus de resfriamento (no caso das gea-
dos) ao nivel diário e nesta técnica de representação gráfica, teriam, pois,
muito a beneficiar-se.
Dada a complexa natureza da Geografia as preocupaçôes quantitativas
com os fatos climáticos são muito amplas. Tomando por base de discussão
as chuvas, que se revestem de importância fundamental, forçosamente tere-
mos que considerá-la, em termos quantitativos, sob diferentes ângulos. Um
dado teor de chuvas tem um sentido específico para uma dada paisagem
agrária. Os organismos urbanos, em função de suas dimensões e atividades,
apresentam outras exigências. Um determinado impacto pluvial é capaz
de desencadear um dado processo erosivo sobretudo nas paisagem em dese-
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quilibrio ecológico. Mas em toda a variedade de aspectos de que se reH'stc,
geogràficamente, o fato pluvial há um constante definitiva que é a predo-
minância da noção do "modo de distribuição" sõbre os valores quantitativos
isolados.
Retomemos o exemplo das cidades. Os problemas e as necessidades de
água diferem muito na São Paulo da decada dos trinta e na Área Metropo-
litana de 1970. O abastecimento urbano em agua conduz a um equaciona-
mento racional do aprovisionamento, Se o ,"olume dos reservatórios torna-
va-se insuficiente ao volume populacional e sobretudo, se o ritmo climático
atual agia de modo a colocar em carência um produto vital, todo um novo
sistema de abastecimento te\'e que ser planejado e construido para assegu-
rar as disponibilidades da região metropolitana *. Consideremos agora tIue
uma determinada região tem uma rêde de drenagem fluvial que abaixo de
um certo indice sazonal se vê implicado na paralização dos cursos d'água.
E o ritmo de distribuição das chuvas, o coeficiente de infiltração no solo,
os indices de evaporação, serão fundamentais a definição daquele "mínimo".
Por outro lado um determinado tipo de distribuição de chuvas, tal seja o
de um longo periodo de chu\'a e baixo teor de e,"aporação seguido de periodo
de intensificação do impacto plm'ial em uma região do tipo Serra do Mar,
poderá colocar em colapso, por ação dos mO\'irncntos coleti\'os do solo, todo
um sistema de transprte rodo e ferro\'iário.
Somente êstes três exemplos bastariam para esclarecer que preocupações
quantitativas são de ordem muito variada e haverá sempre a maior düicul·
dade para estabelecer indices quantitativos para definir, geogràficamente, o
que seja um ano sêco ou chuvoso. Um "ano séco", assim tornado por um
simples critério de inferioridade em relação aos índices normais poderá' ou
não implicar na aeorrência de diferentes "estados de séca" considerados como
períodos cm que a ocorrência dc chuva foi insuficiente a prover as deter-
minadas e diferentes necessidades.
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ocorrência de um episódio de sêca em um mês habitualmente chuvoso ou de
geada inesperada em mês não muito frio poderão ter sérias implicações nas
atividades agrícolas, ligadas a um calendário guiado pelo ritmo climática
habitual.
Do ponto de vista geográfico. de tão variadas implicações, convem que
a caracterização de "ano sêco" e "ano chuvoso" "frio" ou "quente" não es-
teja prêsa a critérios arbitrários de totais anuais ou mensais mas sim ligada
ao verdadeiro ritmo de variação da sucessão do tempo meteorológico.
A segunda conclusão Que tomamos como norma de trabalho será, pois,
a seguinte: Só a análise rítmux& detallu/,(la ao nível de «tempo", revelando
a gênese dos fenômenos climáticos peL::!- interação dos elementos e fatôres,
dentro de uma realidade regimu&l, é capaz qe oferecer parametros válidos à
consideração dos diferentes e variados problemas geogníficos desta região.
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rização bem como a identificação de fãcies intra-regionais, jã que cada re-
gião clirnãtica admite um "core" e faixas periféricas transicionais para as
outras regiões. O Estado de São Paulo, por exemplo, encontra-se numa
faixa de transição, não apenas regional mas coincidindo com um limite zonal
(MONTEIRO, 1964 inédito e 1965). tste fato de P9sição, aliado a sua di-
versificação de quadros gcornorfolôgicos, oferece a maior significação pela
variedade de problemas (que não significam inconvenientes mas, algumas
vêzcs, vantagens), na organização do espaço.
AS BASES METEOROLÓGICAS
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BALANÇO DA RADIAÇAO
PIRACICABA ( s. p )
( 1936 - 1965)
Segundo J. C. Ometto
(ESALO)
_MElHA
Fig. 5
tanto a escolha da escala de representação é da maior importância e deve
ser adequadamente considerada para cada elemento, com o cuidado de possi-
bilitar a análise, sem deformar seriamente os fatos.
Hl
Devemos ao Dr. J. C. OMETTO a gentlleza deste grâtlco bem como uma Impor·
1.anh.' partlclpacão em nossos semInários.
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e bem distribuída precipitação colocará o solo saturado d'água e, potencial-
mente, emissor de menor radiação. Mas, cm contraposição, a forte nebu-
losidade do ceu que acompanha estas precipitações, pelo efeito de estufa, im-
pedirá a perda desta fraca radiação para o espaço. Como se percebe o ritmo
de sucessão destas combinações tem o maior significado no balanço de ra-
diação. Se é impossível encontrar uma correlação linear entre a radiação
c o caráter "sêco·' ou "chuvoso" de um ano, já que os fenômenos têm gran-
des variações episódicas no interior de um ano, o mais adequado será colo-
car a análise cm sua perspectiva real.
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ção das variáveis geográficas. O espirito de investigação estará dirigido a
uma grande abertura de ensaios fora das receitas habituais. e com cautela
na avaliaçâo dos resultados. As limitações impostas pelos dados de obser-
vação hidrológica e pela falta de tradição de abordagem geográfica destes
problemas entre nós não diminuirá nosso interêsse neste campo.
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nas Ãreas Metropolitanas brasileiras com o objetivo de subsidiar tarefas de
planejamento em vias de elaboração. Consideramos que a abordagem cli-
matológica geralmente dadas nos estudos preliminares justifica plenamente
a insistência sob êste ângulo, que nos parece fadado a uma aplicabilidade
mais efetiva. Na rêde urbana do Estado de São Paulo já se iniciaram alguns
estudos comparativos em relação a algumas capitais regionais bem como às
estâncias climáticas e de turismo.
CONSIDERAÇOES FINAIS
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MONTEIRO, Carlos Augusto de Figueiredo
SCHOEDER, Rudolt
THORNTH\VAITE, C. W.
PRAVEL, C. H. M. van
MORETTI, J. F.
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VILLA NOVA, N. A. et alll.
OMETTO, J. C. et all1.
1968 - Estudo das relações entre: Radiacão Solar Global. RadIação LIquida.
Isolacão, Plraclcaba. ESALQ. V.S.P. p, (Tese de 'Doutoramento).
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