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Nariangela RIOS de Ollvelra
Maria Maura Cezario
Angélica Furtado da Cunha
Sebast|ao Votre
Marcos Antonio Costa
Victoria Wilson
Eduardo Kenedy
Mzircio Martins Leitio
Roza Palomanes

Q3

editorai f ‘

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Sociolinguisfico
Marin Marara (frzario
Sebamrio Vom

A sociolinguistica é uma area que estuda a lingua em seu uso real, levando em
consideragio as relagoes entre a estrutura linguistica e os aspectos sociais e culturais da
producio linguistica. Para essa corrente, a lingua é uma instituicio social e, portzmto, niio
pode ser estudada como uma estrutura autonoma, independente do contexto situacional,
da cultura c da histéria das pessoas que a utilizam como meio de comunicagao.
A sociolinguistica parte do principio de que a variagio e a mudanca sio inercntes
3' _ . nguas e que, por isso, devem sempre ser levadas cm conta na anélise linguistica. O
I1\

sociolinguista se interessa por todas as manifestagoes verbais nas diferentes variedades de


uma lingua. Um de seus objetivos é entender quais sio os principais fatores que motivam
:1 variacio linguistica, e qual a importfincia dc cada um desses Fatores na configuragao
do quadro que se apresenta variavel. O cstudo procura verificar 0 grau de estabilidade
dc um Fenomeno, se esta em seu inicio ou se completou uma trajetéria que aponta para
mudanca. Em outras palavras, a variagio nio é vista como um efcito do acaso, mas
@0111-0 um Fenomeno cultural motivado por fatores linguisticos (também conhecidos
¢0m0 Fatores estruturais) e pot fatores extralinguisticos dc virios tipos (conforms
mosrraremos através dc vérios exemplos). A variaciio ilustra 0 carziter adaptativo da
lfflgua como cédigo dc comunicagio c, portanto, a variagao nao é assistemacica. O
llflguista, ao estudar os diversos dominios da variagfio, deve demonstrar como ela se
Cofifigura na comunidade dc fala, bem como quais sio os contextos linguisticos e
Qflralinguisticos que a favorecem ou que a inibem.
| A sociolinguistica abordada ncste presente manual firmou—se nos Estados
Umdosna década de 1960 com a lideranga do linguista William Labov e é comumente
demmlnada de “sociolinguistica variacionista” ou “teoria da variagfio“. Possui uma
mflodologia bem delimitada que fornece ao pesquisador Ferramentas para est-abelecer

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Sociolinguisfico l 43

\,-'5rifieor1—se. também, que a Fal ta de concordancia podia ocorrer tanto na fala de pessoas
analfabetas como na Fala de alunos universitarios, por exemplo. Mas a frequéncia dc
U50 era muito diferente e continua a ser muito diferente. As pessoas analfabetas rérn
wndéncia a marcar o nrimero plural apenas no prirneiro elemento do sujei to, deixando 0
subsrantivo e, sobretudo, 0 verbo sem marcas. ]a as pessoas mais instruidas tém tendéncia
aha dc expressar 0 plural no nucleo dos sujeitos, nos determinantes e no vcrbo (que,
assim, concorda com 0 sujeito em numero e pessoa). Mas isso nao significa que a forma
Padrao nao ocorra na fala nio culta; também nao significa que a Forma nao padrio nao
aparega na elasse dos universitarios. Entretanto, as probabilidades de ocorréncia num
e noutro grupo sfio distintas e relevantes. Cabe ao sociolinguista descobrir os contextos
que Favorecem a variacio: a) na fala de um mesmo grupo de falantes; b) entre grupos
distintos dc falantes divididos segundo variaveis convencionais, a exemplo de sexo, idade,
escolaridade, procedéncia, etnia, nivel socioeconomico. A partir da frcquéncia dc uso
das variantes, cabe a ele estimar as tendéncias associadas a cada frequéncia e verificar sc
se trata dc variaciio instavel ou estavel. No primeiro caso, poderia ainda indagar se algum
tipo dc mudanca linguistica esta ocorrendo ou se esta prestes a ocorrer.
Como vimos pelos dois exemplos citados, 0 conjunto das variantes denomina-
se “grupo de fatores” ou “variavel linguistica”. Cabe ao linguista estabelecer através
da anélise quais sio as variaveis linguisticas relevantes para a descrigao e interpretagao
do fenomeno que esta estudando. Por exemplo, a sibilante e a auséncia da mesma
em “meninas” e “rnenina” siio variantes de mimero. Podemos dizer que a variavel <s>,
cuja representacio é feita com parénteses angulares, tem as variantes sibilante e zero.
Uma variavel pode ser binaria, como a dc mimero singular e plural, com duas
variantes, ou enearia, com trés ou mais variantes. Vamos ilustrar avariavel enearia com a
vibrante final. O “r” final, que ocorre em palavras como “cantar” , “for” , “der” , “qualquer” ,
“melhor”, “mulhcr”, rem diversas variantes fonéticas no Brasil: a) a promincia vibrante
alveolar do Sui do Brasil; b) a promincia retrofiexa (corn a ponta da lingua wioltada para
Iris) do interior de estados como S50 Paulo; c) a promincia velar do Rio de Janeiro, por
exemplo; d) a Fricativa glotal e e) zero, ou seja, a auséncia dc som. Podemos dizer que
essas sao as principais variantes da variavel vibrante /r/ na realidade. Para simplificar
H anilise, vamos reduzir a variavel vibrante a duas variantes: presenca ou auséncia de
Consoante vibrante final. E vamos chama-la de varidveldependente. Examinemos agora
fllgumas das variaveis linguisticas associadas a presenca ou a auséncia de vibracéo.
Vamos chama-las de wzria'veis independentes. As variaveis linguisticas podem ser (1) a
Classe sintatica da forma em —r: verbo, nome, adjetivo, outros; (2) no caso dc verbo,
a classe modo-temporal: infinitivo, subjuntivo; (3) ainda no caso de verbo, a vogal
Ifirnatica indicadora de conjugagio: -a, -e, -i, -0; (4) a variavel extensiio, com as variantes:
monossflabo, dissilabo, trissilabo e polissilabo. As variaveis extralinguisticas envolvem:
f‘) g@"¢f0, corn as variantes masculino e feminino; b) idade, com as variantes: crianga,
Jovem) adulto, velho ou uma escala de idade.
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144 Manon! tie linguislitfo

A pL_rgum3 “gnu, 5;-ri;1: qua] é a variante dc "r" que é mais eliminada g

siruar,-Em? As pcxquisas mostram que 0 “r hnal de verbo nq infinitive é, na m _Ca(lH


das vezes. mais climinado da fala de informantes dc todos os graus de escol:ii:1°r1a
do que o “r“ final de subsranrivos e adjetivos. A variavel escolaridade, por cm ade
é relevante para a descriefio do fenomeno, dado que os falantes com mais E6mmPlo,
escolarizagfio tendem a manter 0 “r” mais do que os analfabetos. Ambog Os F0 de
tendem a manter mais no caso dos substantivos do que com verbos. g upos
Ha outras variaveis que podem influenciar a variacio, além das mencionad
acima. Assim, por exemplo, 0 grau dc Formalidade do item é um fator relevante: o “I” fin:
de um verbo menos usado, como “postergar”, tem maior chance de ser pronunciado do
que de um verbo do dia a dia, como “Falar”. O contexto Fonologico da sequéncia que segue
é também relevante. Com efeito, a presenga dc um fonema vocalico na palavra seguimc
favorcce a manutencio do Fonema consonantal por um processo de reorganizacio da
silaba, como em “pegag g crianca”, enquanto um som consonantal desfavorece a presenea
dessa variante de prestigio, como em “toma; banho”. _
Tomemos um segundo exemplo da variagao no uso da lingua, dessa vez corn
foco na alternancia entre presenga e auséncia do pronome “eu”. Podemos constatar
que, no portugués brasileiro, é variavcl a manifestagao da primeira pessoa,‘ como
“comprei um livro” ou “eu comprei um livro”. A primeira forma ocorre com mais
frequéncia na lingua escrita e a segunda, na lingua oral. Com relagao a lingua oral,
o sujeito oculto tende a ocorrer nas oragoes que apresentam uma sequéncia dc agoes
realizadas pclo mesmo sujeito. Somente a primeira oragio de uma sequéncia é que
apresenta o sujeito explicito, como no exemplo:
tinha uma... zirvore um tronco... a1’ Q me abaixei pra poder nio batcr bati oom
isso aqui... a1’ fiquei... desmaiado uma hora e meia duas horas... ai acordei no hospital
com isso aqui... aberto e as costas toda arranhada... (RJ)

Em varias Iinguas em que o sujeito pode ser explicito ou oculto, ¢l¢ tend‘
a ocorrer no inicio do enunciado e na mudanea de referentc (por exemplfh 5‘? °
informante esta falando de Pedro e passa a falar dc si proprio), e o sujeito ocL1lt0I¢ndc a
°°°"er “Q Cadfiia de f6Pi<I0, Ou Séja, quando ha varias oracoes se referindo a uma mfisma I I,
P¢850&, tornando o discurso mais coeso e economico (ver o capitulo “Funcionalismo )-
D¢553 fofmfl, o aparente caos da variagio é desfeito, e o linguista dBIT1°n5m
- que existe
a sisrematizacao . _
no uso das variantes . -
de uma lingua. A (llV€l'5ld3dc 5 3

variabilidade sao caracteristicas inerentes aos sistemas linguisticos e passam mmbém


a ser objcto de estudo com o advento da sociolinguistica. .
O estudo dos . . * cl °‘
b;15-lCos d c variagao
- Pmcessm dg "a1'13<;50 e mudaI1§8 Permite estabeleC6f "'55 P
linguisticaz
(3) variayzio re310%
' I, associada
' -
a distanci ' ' entre cidades
' i665 0“
, .
parses diferentes,- a variavel
-» H8 es aciais estados r W5 .
»
geografica . P opor, por cxcmplo,’ Brasil- e Porfilgaj’
permite

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Sociolinguistics 145

(1,; W-m_<~.(w.~m~1/:1: assoclada a diferencas entre grupos socioeconomicos, compreende


\,m3»\.€j_; ja citadas, como Faixa etaria, grau de escolaridade, procedéncia, etc.;
KL.) ml;-1/z_(a0 dc regzstroz tem corno variantes o grau de formalidade do contexto
inreracional ou do meio usado para a comunicacio, como a propria Fala, o e-mail, o
jornal, a carta, etc.
Estamos apresentando cada variavel como se a mesma operasse de forma
autonoma, sem interferéncia das demais variaveis associadas ao comportamento da
variagao. Entretanto, o que ocorre normalmente nas linguas é uma interacfio mais ou
menos estreita entre as diferentes variaveis. Assim, uma inovacio linguistica comeca
numa determinada regiao (variavel regional), mas é propria de um grupo socioeconomico
desfavorecido (variavel social). A variante pode passar a ser usada pelo grupo
socioeconomico mais alto nos momentos mais informais (a variavel é, entao, 0 registro).
Um exemplo em que podemos ver a atuagio dos trés tipos de variavel independente
é 0 caso do uso de “tu” vs. “vocé” com o verbo na terceira pessoa do singular: “tu Fez”,
“tu quer”. Do ponto de vista regional, podemos dizer que ha cidades, como o Rio dc
Janeiro, que apresentam tanto a variante “vocé” quanto a variante “tu”; a variavel idade
aponta a preferéncia dejovens pelo uso de “tu”, e avariavel escolaridade a associa com os
menos escolarizados; ja a variavel registro mostra que o pronome “tu” tende a ser usado
nos momentos mais informais.
Podemos flagrarvariacao em todos os niveis da lingua. Por exemplo, no nivel lexical,
poderiamos citar conhecidas oposicoes de forma: “jerimum” (Bahia) e “abobora” (Rio de
Janeiro); “guri” (Rio Grande do Sul) e “menino” (Rio de ]aneiro).2 No nivel gramatical,
vimos a variacao “elas brincarn/elas brinca”. No nivel fonético-fonologico, podemos dar
como exemplo a variacao regional das proniincias de uma palavra como “morena”, com a
vogal pré-tonica aberta no Nordestec fechada na maior parte do Brasil. Nesse nlvel situa-se
grande parte da variacio que contém formas estigmatizadas, como o scgundo membro dos
pares seguintes: Hamengo ~ framengo, lagarta ~ largata, biciclcta ~ bicicreta.
Na dimensio propriamente social estao as diferencas linguisticas verificadas
Com a cornparaciio entre o dialeto padrio — considerado correto, superior, puro - e
os dialetos nfio padrao — considerados incorretos, inferiores, corrompidos. A variantc
padrao é ensinada na escola e valorizada pelos membros da sociedade, tanto pelos
que a dominam como pelos que gostariam dc domina-la, posto que sabem da sua
illlportancia para se adquirir prestigio.
O Contcxtg gitugcignal é responsavel por uma série dc variacoes linguisticas.
Dependendo da situagao em que o falante se encontre, ele utiliza mecanismos
linguisticos diferentes para se expressar. Assim, a sua linguagem apresenta diferencas
lexicais, gramaticais e fonéticas distintas devido ao contexto, ao ouvinte ou ao meio
através do qual a informacao é transmitida (fala ou escrita, carta, e-mail, artigo, etC-)
Desse modo, por exemplo, um diretor de faculdade se expressa dc diferentes
FOYITIHS, dependendo se esta discutindo os novos recursos tecnologicos da educacao
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l46 Mcmuol C16‘ llnguisflco

~ - , .1 ’ do uma aula ' -


com outro prohssional da area. 551 55"‘ dan ' ’ S6 “ta eXPllcando P3321 Q
- - tar um rofessor se esta conversando C
reitor a necessldade de contra
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f bP1 Com Q famflia Sobre a
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a escola, Com 0 amlgo Sabre 0 um O.’ . , . pmxlma viagfln a ct;


Cadil P€SSO9. tem LIITI €I10l'l'n€ I'Cp€I'[Ol'lO lll'1gUlStlCO qLl€ 3. IOFHQ CHPQZ dc
_ . .d ad apt?-l‘ Suq
linguagem as diferenres s1tua<;o€S Vlvl =15-
Em sfntese, a lingua é uma estrutura maleavel, que apresenta variagoes, mas hi
muitos elementos gramaticars, Foneticos e lexicos que sao comuns as variedades dc uma
lingua. Nem tudo é variacao, havendo um numero enorme de elementos comuns q u
sao estaveis. A variacio configura-se como um conjunto de elementos diferemesdz
outro, conjunto de outro grupo, de outra localidade ou de outro contexto. O linguism
pode demonstrar que a variagao é previsivel e determinada por fatores lingulsticos
e/ou extralinguisticos, como veremos nas proximas secoes.

O odvenlo do correnle
sociolinguislico voriocionislo
O estruturalismo e o gerativismo nio incluiram nas suas analises a variagio
porque esta estava fora do fimbito do objeto da linguistica, o qual deveria ser abstraldo
do “caos” da realidade do uso linguistico.
Como fruto da insatisfagao diante dos modelos existentes que afastavam o objeto
da linguistica da realizacio da lingua e de suas diversas manifestagoes, varios linguistas
procuraram outros caminhos. Um desses caminhos culminou com o surgimento <11
sociolinguistica.
O termo “sociolinguistica” surge pela primeira vez na década de 1950, mas Se
desenvolve como corrente nos Estados Unidos na década de 1960, especialmente com
os trabalhos de Labov, bem como os de Gumperz e Dell Hymes e a conferéncia Th!
Dzmenszans ofSocz'olinguz'stz'cs, de W/illiam Bright, publicada em 1966 sob 0 tltulo dc
Soczolmguzstzcs. Na conferéncia, o autor afirma que o escopo da sociolingulsticfl 55¢
na demonstracao de que existe uma sistematica covariacao entre a estrutura lingulsda
e a estrutura social.
Den Hymes (1977), Como antropologo, concebe a sociolinguistica como um
CamP° q"@ indui C011"ibUi§5o de varias disciplinas, como a sociologifli 3 linguist”,
.
=1 antropologia, a educa9 ao , H poética, , dc
o Folclore e a psicologia. Enfatiza qufl» 3P°§aI_
3951053? tilmils iffias, a sociolinguistica é uma disciplina autonomfl, P015 53“ obleflvo
final é diferente dos ob'etiv d . - (31
l O8 e cada uma das disciplinas citadas. Interessa~lhe idenflfi ’
de5¢T@v¢T ¢if1I€rpretar as variaveis que interferem na variacfio e mudaI1§3 linguisdw
Labov (tal qual Saussure) vé a lin ui ' '“ - - de$$3
' d SOCIZIL
. _
forma, a sociolmguistica e uival g, . stlca como uma ciencla,- 0\ ' I
_ d6
IS
\ - C
mm _ q 6 =1 llnguisuca com énfase na atencao 11$ Van“
F6121 extralingulstica.

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Sociolinguislico 147

Assim como a etnolinguistica e a psicolinguistica, a sociolinguistica veio


P,-gem-l1e1' um vazio deixado pelo gerativismo, que considera objetivo legitimo de
estudo apcnas o aspecto interior das lfnguas e a cornpeténcia linguistica. Dessa forma,
,1, novas disciplinas vém priorizar os fatores sociais, culturais e psiquicos que interagem
na linguagem-
Esses fatores sao considerados essenciais para o estudo linguistico porque o
homem adquire a linguagem e dela se utiliza dentro de uma comunidade de fala, tendo
como objetivos a comunicacio com os indivfduos e a atuacio sobre os interlocutorcs.
Portanto, muito se perde ao abstrair a lingua dc seu uso real.
Labov demonstrou que a mudanca linguistica é impossivel dc ser compreendida
fora da vida social da comunidade em que ela se produz, pois pressoes sociais sao
exercidas constantemente sobre a lingua.

Os precursores do sociolinguislico
Conforme podemos imaginar, a variacao linguistica nao era ignorada pelos
amigos estudiosos da lfngua nem pela linguistica como ciéncia antes da década de
1960. Muitos linguistas procuraram demonstrar a relacio entre lingua, cultura e
sociedade c podem ser considerados os precursores da corrente sociolinguistica. Aqui
apenas Faremos mencfio a movimentos em favor da inclusao dc variaveis sociais nos
Estados Unidos e na Franca.
Na década dc 1930, os dialetologos que trabalhavam no Linguistic Atlas of
the United States and Canada passaram a incorporar informagoes sociais, além das
geograficas, para o levantamento dos dialetos, dividindo os informantes em trés grupos
dc acordo com 0 nivel de escolaridade.
Meillet (1926), procurando uma explicagao para as mudaneas linguisticas na
Franga, afirmou que toda modificacao na estrutura social acarreta uma mudanca nas
condigoes nas quais a linguagem se desenvolve e que, portanto, a histéria das linguas
é inseparavel da historia da cultura e da sociedade.
Os sociolinguistas contemporaneos vém consolidando as bases teoricas e
metodologicas do estudo da lfngua em situacio real de comunicacio e demonstrando
a existéncia da natureza socioestrutural da linguagem. As pessoas provenientes dc
diferentes classes sociais falam dialetos bastante diferentes (com divergéncias em todos
OS niveis, incluindo o gramatical).

Sociedocle e linguagem
O individuo, inserido numa comunidade de fala, partilha com os membros dessa
Comunidade uma série dc experiéncias e atividades. Dai resultam varias semelhancas

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I,-16 |ingiJi3li/if]
Nl(](lUO

, . dos outros individuos. -


6'1"‘: 0 modo como ele Fala 8. lmgua 'Q 0’ modo uosconsrituidos ortra oscomu N95 Comuriidadts
ofgflnirram-Sc agruPamenti>*d°mdm_d - . d P _ Q
rofiss nS‘acX°mPlo
d 6 religiio , lazeres 7 trabalho, Faixa etaria, escolarida
.
e,
.
p . ao e sexo. D€P¢nderido
intensid
.
' do
numero de rr£1§OS (lug 35 P555035 Compamlhami 6 da adc da convwéncm’ Pfldcm
constituir—se
.
subcomunidades
- -
linguisticas, tudantes.
a exemplo dos iornalistas, Pmfessores,
Profissionais da informzitica, Prcgadores € 65
Nas sociedades em que é nitida a separacao da populagao em classes sociais e
egonomicas, a relacio entre lingua e classes sociais se verifica com bastante evidéncia,
Para exemplificar, vcjamos 0 trabalho dc Labov (1966) sobre a erriissio da consoante /r/
pés-vocalica em Nova York, pesquisa que é um marco para a historia dessa correntc,
Labov pesquisou 0 referido fenomeno em trés l0]El$ de departamento dc Nova
York: uma frequentada pela classe alta, outra, pela média e a terceira frequentada pela
classe baixa. Induziu os empregaCl0S =1 Pl'0f¢l'lf 35 P3l3VF9~5_fi'14TF/9 (numeral quarto) e
floor (piso, andar) como resposta a sua pergunta sobre em que andar se encontrariam
produtos que lhe interessavam. Observe'se que a consoante /r/ aparece em dois contcxtos
diferentes: posicao pos-vocélica final e posicio pés-vocalica nao final. Labov descobriu
que a preservacio da vibrante ocorria com maior frequéncia na loja da classe alta e media
do que na loja da classe mais baixa, revelando que a proniincia do /r/ pos—vocalicoé
considerada de prestigio. Além disso, 0 autor — ao comparar o que se verificava com os
registros sobre o grau dc manutencio da vibrante em Nova York em décadas anteriorcs-
concluiu que o /r/ estava sendo recuperado na cidade apos a Segunda Guerra.
A situacio é diferente do que ocorre no inglés padrio da Inglaterra e dc
algumas regioes dos Estados Unidos, locais onde a pronuncia padrio nio emitc o
5°91 ¢°f150fl=1I1I1l, 011 pelo menos nio emitia na época da realizacao da pesquisa
D6553 formal, a variacao entre a realizacio e a ornissao do /r/ esta relacionada com a
comunidade linguistica e a classe social.
Um outro exemplo para ilustrar a relagio entre variaciio linguistica e classe socialé
o nao uso da desinencia -s da terceira pessoa do presente do inglés (He/she/it travels PW»
sleep‘): Tmdgm (1974) <l0mpara os resultados de pesquisas realizadas em duas cidadfifii
Norwich
nas duas Egrlglarerra, e Detroit,- nos Estados Unidos. Os resultados demonstram que’
3 das ab 65> =1 ¢lH$$¢_media elimina a marca -s em menos de 10°/o dos dados, enqw"°
climi:;:;1;) ailhador baixa elimina em mais de 70°/o dos dados (em Norwich, 3 mm dc
0 -8 C e , .
modelo prfivisivel re Bra a quase 100%). Dessa forma, a percentagem media leva a um
5 dz Cliisse trabflhaddiafifiiimdo toda 3 ¢°munidade. Assim, por exemplo, se um (“lame
Um outro mm I P Vavelmente omitira a desinencia -5.
IO ' ' I - A -

entre os falantes do P Oparailustrat 3 1'¢ 1Hgao


— entre sociedade
. e linguagem 6, 3 dl-ft renqi
56x0 fnasculino d
smicdldfis em que as fun ' ’ C um l11d0, 6 os do sexo feminine, d¢ °“U°' N”
um e outro scxo falam difiloa entre hflmens e mulheres sao muito distintas, 05 falamcs dc
Panes do mundo Uma daptos bastante diferenciados como é O Q50 d¢ linguas dc van»
' l'aZ()¢s
desta difcrenciacio
- _
e’ fcpormda 30 tab“; detcmunadis
, .

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Sociolinguistics l 49

, . , r 35 so P odcm ser P roferidas p elo s homens e outras, apenas pelas mulheres, P0;
Pal.“
ex¢fl1P|°' cm Zulu’ uma “"5113 Mada Ila Africa, a mulher é proibida de dizer 0 nome do
Sogm, 0 nome dos lrm-105 deste e o nome do genro, quer estejam vivos ou mortos, e também
H510 pode Falar uma palavra semelhante ou derivada: uma mulher cujo genro chame-se
Z/inriiizi C0111 0 F355531 mdnzi (igua), POI exemplo, devera evitar todos os vocabulos em
que se apresenta a palavra mdnzi e os complexos fonicos semelhantes.‘
Nas Sociedades em que as Funcoes sociais entre homens e mulheres se aproximam,
a diferenca de linguagem de um e outro é menos nitida, mas existe. Por exemplo, em
nossa lingua, 0 marido pode dizer “Esta é minha mulher”, ja a mulher deve evitar a
frase “E816 <5 0 H1611 lwmflm”, que, em determinados contextos, soa vulgar.
Pesquisas mostram que as mulheres tendem a usar as formas padrao de uma lingua
com maior frequéncia do que os homens. Ha muitas tentativas de explicacao para a
diferenca, nenhuma totalmente convincente ou suficiente. Segundo alguns estudiosos,
isso se da porque, dentre outros fatores, da mulher é cobrado um comportamento
mais rigido, em conformidade com as normas, em todos os sentidos, inclusive no que
se refere ao comportamento linguistico. Devido a essa cobranga social, a mulher teria
uma preocupacio maior em reproduzir as formas linguisticas consideradas de prestigio
dentro de uma comunidade linguistica. Nos estudos efetuados sobre o portugués do
Brasil, quando uma variante é estigmatizada e outra é prestigiada, verifica-se a tendéncia
de as mulheres empregarem avariante de prestigio. Quando Luna forma nova deixa de ser
estigmatizada, as mulheres utilizam—na geralmente com maior frequéncia que os homens.

Aspecios ieérico-meiodologicos
do sociolinguisiico
A pesquisa sociolinguistica tem como ponto de partida o objeto de estudo para
dai construir 0 modelo teorico. O objeto de estudo normalmente se localiza no uso
do vernziculo, ou seja, da lingua falada em situagocs naturais, espontaneas, em que
supostamente o falante se preocupa mais com 0 que dizer do que com o como dizer.
Trabalha-se com 0 falante-ouvinte real, em situagoes reais de linguagem. Busca-
se, atravég do estudo das manifestagoes linguisticas concretas, dcscrever e explicar o
fenomeno da linguagem.
A analise dos fenomenos de mudanca linguistica (mais do que dc variacao)
procura levar em conta cinco grandes dimensoes estabelecidas por Weinreich, Labov
6 Herzog, em seu estudo classico de 1968:

1) os fatores universais limitadores da mudanca (e variacao), que podem ser sociais


ou linguisticos;
Z) o encaixamento das mudancas no sistema linguistico e social da comunidade;

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]5[) _
Miiiiiifl ide |il1QlJiSii(fO

, _ ~ ~ =rmos dos mssiveis efeitos sobreacstrur ' ,


3) a avaliaczio das ll1ll£ldi1(,35 1") K i um llflguisnq
‘ --, .- comunica
_ ' '[l\/21;
Z)sohrc.,i =fii_"|C]"|Ll;l _ _ _
g ) moment‘) 6m qu¢ ha mudancas intermediarias;
I-1 [l'3ll§l(;1i( 1 . _

5) 3 implemenragao da mudanca: estudo dos Fatores responséveis pela implememagio


- ~ - ao ara 0 Faro de a mu
de uma determinada mudflnkai ¢XPl“33§ P ‘A3593 ocorrer numa
ii as ua e nao em outras, 0" "3 mesma lingua em outros rnomentos.
O sociolinguista procura recolher um grande ‘numero de dados através <13
gmvaqao em fitas magnetofonicas dc um numero consideravel de informantes. Hojc
todos os tipos de producao linguistica sao gravados. Na busca da fiila menos monitorada,
costuma-se pedir aos informantes para produzircm narrativas dc experiéncia pessoal,
para que o envolvimento emocional com 0 assunto narrado os fizesse produzir um
discurso espontaneo, informal.
Os informantes escolhidos sao aqueles nascidos e criados na comunidade a ser
estudada ou aqueles que ai vivem desde os 5 anos de idade. O ideal é que se formem céliilas
dc dados com 0 mesmo niimero de informantes: dois sexos (cada qual com o mesmo
numero de informantes); trés niveis de escolaridade e quatro faixas etarias, por exemplo.
A sistematicidade da linguagem é buscada através do estudo da variacao. As
variantes — entendidas como modos diferentes de dizer a mesma coisa — sao concebidas
como estando em competicio na lingua, sendo que 0 favorecimento de uma sobre
outra ocorre devido a fatores linguisticos e nio lingufsticos (contexto linguistico, classe
social, sexo, faixa etaria, etc.).
O linguista busca Formular regras variaveis que descrevem e explicam os pesos
relativos ligados aos fatores associados at ocorréncia de duas formas variantes. A regra
é variavel porque nfio é categorica, ou seja, nao se aplica sempre. Por exemplo, em
portugués a regra que estabelece que o artigo vem antes do substantivo, c nao depoisi
é categorica, mas a regra que estabelece a concordancia entre o artigo e 0 substantivo
é variavel: “as casaslas casa”.
Nas décadas de 1960 e 1970, os fatores extralinguisticos da linguagem fofflm
por demais valorizados, mas, a partir da década de 1980, Labov postulou que o aspecto
liriguistico deveria ser privilegiado sobre 0 social. A variacao é reconhecida como
existindo dentro do sistema linguistico. A teoria recebeu reformulacoes, ffiduz-i"d° °
Pew do S°C‘al Pam dcstflflar as motivacoes essencialmente linguisticas. Os resultad°5
da analise de variantes
' - duas situacoesz
podem definir -
a) a existéncia dc estabilidade entre variantes.
b) a com P eti cao
" entre as variantes
' '5

com aumento de uso de uma das variant€$-


A _ No primeiro caso, diz-se que ocorre uariagdo e no segundo mudariga em curso.
f varia can
" é facilmente
' ’ simplesmente o
detectada, pois para ela ocorrer é necessario
avorecimento do amb' .
cmamo . é necessaria _iente lin 8 u’15IlCo.
, , a interferencia ' '
Para ocorrer uma mudanca linguisti ‘ca n0
»
de Fatores sociais refletindo as lutas pelo poder,

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Sociolinguisiico 151

U Pt.N,‘gi,i entre classes. sexos e geragoes. Mas, para ocorrer a mudanca, é necessario
Um Pg,-iodo de variacao entre formas.
A variacao estavel consiste em diferencas linguisticas que caracterizam cada
gmpo social, cada cidade, regiao, cada canal (oral ou escrito). A variaefio esta presente
gm [0d;1S as linguas num dado momento. Assim, por exemplo, podemos citar a variacio
L.nm= [1]] (consoante velar) e [n] (consoante alveolar) para a terminacao -igg dos verbos
do inglés (speaking/“Falando”, walking/“andando”, watt/ring/“assistindo”), que é um
caso de variagio que permanece estavel na lingua inglesa ha séculos. Essa variacao é
determinada pelo grau de escolaridade e pela classe social: falantes com grau alto de
escolaridade usam a forma padrio [1]] e Falantes com grau bajxo de escolaridade e da
classe baixa tendem a usar a Forma nao padrfio [n].
Outro exemplo é o caso da alternancia [l] vs. [r] dos grupos consonantais do
portugués: “c[l]aro” ~ “c[i‘]aro”, “bicic[l]eta” »- “bicic[i‘]eta”. Pesquisas demonstram
que esse é um caso de variagio estavel que caracteriza duas comunidades de Fala: a forma
nao padréio [r] é usada pelos falantes das classes menos favorecidas e com baixo grau de
escolaridade. A outra forma, canonica, é usada pelo grupo mais escolarizado.
A medida que as criancas entram na escola e o seu nivel de escolaridade sobe,
aumenta a ocorréncia da forma padrfio [1] na sua fala.5 A mudanca ocorre quando,
apos um periodo de variacio de duas ou mais formas, a forma mais nova e de menor
prestigio se espalha e substitui a forma antes mais usada. Podemos dar como exemplo
a proniincia /l/ pos-vocalico do portugués do Brasil, que passou a ser pronunciado
como uma semivogal ( sa[w], pape[w]) em todo 0 territorio brasileiro, exceto na regiao
Sul (que mantém a consoante).
A0 analisar o momento atual de uma lingua, é diffcil dizer se um determinado
fenomeno linguistico é um caso de variacao cstzivel ou de mudanca em curso. Os
sociolinguistas rem uma metodologia para dizer se uma forma esta ou nao vencendo
outra forma mais antiga. E possfvel analisar 0 tempo real ou 0 tempo aparente. O tempo
real e’ observado através da pesquisa de duas ou mais épocas, sendo ideal o estudo de
dois momentos que se distanciam no rninimo em 12 anos e no maximo em 50 anos.
O linguista pode gravar informantes e revisita-los anos mais tarde para ver como é o
Cflmporramento de determinadas variaveis, como concordancia nominal, concordancia
verbal, uso de pronomes, prontincia do /r/ final, etc. Pode também comparar gravacoes
dff entrevistas atuais com entrevistas dadas em radio ha varias décadas. Pode comparar
dados de textos amigos, observar atlas linguisticos, estudar as descrigoes Feiras por
outros linguistas ou gramaticos. Ele tera, assim, diversos meios dc verificar se duas
fofmas estao em variacao ou se sao um caso de mudanga.
Muito comum rambém é a técnica de estudo do tempo aparente: 0 linguista grava
Hfllostras de informantes de diferentes faixas etarias para observar se uma dada forma ocorre
mm "H fala de criancas e jovens do que ria de adultos e idosos. Um uso muito elevado de
Ocorféncia da forma nova na Fala de jovens pode indicar mudanca em curso.

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152 Mommi C19 |ingriisiicci

Qurros latores devem ser sonilados a iaixa etaria f-para dar mais Cantu ao
- , . J c mini 0 - .
pesquisador. A escol;ir|d.idc. POI “xfimp 0’ U P rtflm? amt‘ quflfldo falanrgs mais
_ _ . ma ue anteriormente nao tinha resti ' ' - -
cultos esrao usando uma For _ q P 310, lS$0 mgmfica
- ' ' da e assou a ser normal dentr -
que ela deixou de ser esngma"Z<1 P 0 da C9mUI'llCl3dc dc
fala de pessoas escolarizadas, o que pode significar mudanca, ou seja, substimigio
de uma forma mais antiga pela forma nova.
Vemos que a sociolinguistica nao trabalha com a ideia de se separar a sincronia da
diacronia, como era normal na metodologia estruturalista. Ao analisar um determinado
momento, é possivel verificar aspectos relativos a mudanca da llngua quando’ pol,
exemplo, se compara a Fala dc jovens e adultos de mais de 40 anos. O linguista gm
também estudando a sincronia porque jovens e adultos realizarn a lfngua num dadq
recorte do tempo. Portanto, a sociolinguistica tanto descreve 0 que ocorre nas diferentes
comunidades de fala, tendo em vista diferentes fatores linguisticos e extralingulsticos,
como da explicagoes relativas as tendéncias de mudancas.
Essa corrente trabalha com dados estatisticos, mas os niimeros sao apenas 0
ponto de partida para o linguista Fazer as suas analises. 56 ele pode chegar a conclusoes
sobre os fatores que motivam ou desfavorecem uma variante. Ele seleciona os fatores
importantes a partir de sua experiéncia, de seu conhecimento sobre a teoria e sobre
0 fenomeno em questao e de sua intuicao. Depois, de acordo com os resiiltados
preliminares de sua pesquisa, fara os cruzamentos de fatores, como, por exemplo, (a)
a Forma “a genre” e o grau de formalidade do verbo, e (b) a forma “a genre”, o grau dc
formalidade do verbo e 0 fator idade. Os dados estatisticos servem para comprovar,
refutar e reconstruir hipoteses a partir do olhar treinado do linguista.
Para aprimorar as amilises com um numero grande de dados e de Fatores, houvc
um grande desenvolvimento de programas computacionais para essa area.

Exponsoo do sociolinguisiico
Além de contribuir para a descricio e explicacio de Fenomenos lingulstiC0&
a sociolinguistica também fornece subsidios para a area do ensino de llnguas O5
sociolinguistas postulam que os dialetos das classes desfavorecidas niio sao inferioi'€$»
insuficientes ou corrompidos. Afirmam que esses dialetos sao estruturados com bis‘
em regras gramaticais, muitas das quais diferentes das regras do dialeto padrao. D5593
f0_rm=1, asociolinguistica cria nos (futuros) professores uma visa-'io menos preconceiflwsa
e incentiva-os a valorizar todos os dialetos e a mostrar a crianga que o dialeto ¢\1k°é
Consldemdo melhor 5°Cia1m@f1I¢, mas que estrutural e Funcionalmente nfio é "cm
mc lh or me") Plot
' que 0 dialeto
- .
da comunidade do aluno.
A sociolinguistica, com suas pcgquisas baseadas na produgao real dos individuofii
da-nos informacoes detalhadas acerca da variante roduzida pelas pessoas mais
. _ p
escolarizadas, sobre as variantes que deixaram de ser estigmatizadas e das mudami”
9

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Sociofinguisficci 153

jg implementadas na fala, mas que ainda nao sao aceitas nas gramaticas normativas
(:0lTl isso. a area da educacio se enriquece com as informacoes que podem Sc; usada;
também no ensino ' d a l ingua culta, que passa a ser baseada em dados reais.
No que se refere ao ensino de linguas estrangeiras, as pesquisas acerca da variacio
podem contribuir para fornecer material para que as aulas sejam baseadas na forma
como realmente ()5 nativos falam, na preparacao de material com diversos tipos de
[egiS[I'OS com as suas variagoes linguisticas tipicas, na escollia do dialeto a ser ensinado,
dentre outros elementos.
Os pressupostos teorico-metodologicos da sociolinguistica sao trabalhados em
diversos centros de pesquisa no mundo. No Brasil, as pesquisas nessa linha comeearam
a ser desenvolvidas na década de 1970, através da atuacio de alguns grupos de
pesquisadores, a saber: o grupo do projeto Mobral Central, o grupo do projeto da
Norma Urbana Oral Culta do Rio de Ianeiro (Nurc) e o do projeto Censo davariagio
Linguistica no Estado do Rio de Ianeiro (Censo), tendo como coordenadores os
professores Miriarn Lemle, Celso Curiha e Anthony Naro, respectivamente. A partir
daquela década, muitos trabalhos forarn realizados nessa linha.
Hoje, em vzirias universidades brasileiras, ha grupos que seguem os pressupostos
téorico-metodologicos da socioliriguistica, como 0 Programa de Estudos sobre o Uso
da Lingua (Peul), continuidade do Projeto Censo, o proprio Nurc - na Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ); 0 projeto de Variagio Linguistica da Regiiio Sul do
Brasil (Varsul) — na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e na Univers-idade
Federal do Rio Grande do Sui (UFRS). Diversas teses foram defendidas com o objetivo de
descrever as formas variantes do porttigui’-"‘:s do Brasil e de explioar oslfatores lingtusticos
e extralinguisticos que favorecem/desfavorecem as variantes lingtust1<ifl$-
Muitos projetos buscam riovas alternativas Pam ?XPhCaI 3 Vmago e 3 m}‘dm‘-ia’

- - ' ' -meto o 0


E12;Zlfildsfijsqqizeeaii)2ir(iivc(ii)?einaroea:iia2iii:zifi>:ril(ii(:los, como égi) caso do projeto Discurso
66 Gramatica, iniciado pelo professor Sebastiio Votre na UFR] e que hoie coma Com
representantes em diversas universidades do B11151]-

Exercicios
_ - ' ' 'stica.
1) Caracrerize a area de estudos denominada de sociolingul
_ _ , . - - ' gum - ? Cite - exern los no nivel' fonetico
’ ' -fonolo gico.
2) Quais sao os trés tipos basicos de varia§a° 1'“ ‘ca P
_ _ - - d 1' r 0 uso das variantes do
3) Cite algumas variaveis lingulsticas e extralinguisticgs atria |:;a;:)1 “P ‘C3
fonema /1"’ em Pomlgués Cm Poskiéo P65-vocahca ( n . , rte ling"?! e sociedade
’ 3. en '
4) Cite um exemplo em que fique claro que hi uma rcmiao mmnscc _
. , _ , _ ue recursos metodologicos ' 0 linguista pode
5) Diferencie varxattia esta:/e1 de mudanea em curso Q
_ , . - - ' ' 0 de mudan a em curso.F
uiilizar para afirmar se um fenomeno lingul$Il¢° 3 ‘:35 ‘i

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K M i i P , nwu Lire 1; ll€1£,1lE$(iC.l. 0 F‘<'>“-1"‘-Q99‘ P°d¢ hilt!’ um estudo em tempo fa] 5,,’
P-Ir: 1: :'>'fu\1.i- -1 * "‘ i '< '\d cl ‘ > mull! -i.<.-
,...- Qmi 1 din-ien;.i entre as dois men. as c pesquisa. .-; -
:cm§\‘- -i§\i5‘~' =“* ‘ _ . . . . _ J-
. . . '- tnem estudos so-ziovariaciomstas no Brasil. ,
Cir; 1l~§'=1!‘.S :;nii\\~ d\ ;<squi_~.i que I‘
Cnfilpire cc conrextus lianetims cm que ocorrem os $0115 [ll (50111 3l\’¢°|") 6 [tfl (sum .W I.
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Rio dc lancim. K ':- " _ _ _
(ltisefle nos e:R‘fl1Pl“5 l -‘ti’-“if ‘PK 0 mfimo “P0 d: mnago mmbém ocom cm [cu e -i
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iudo ['Iudu}
dim Fdsiml
dedo Pdodu]
=IiiIIi°l1\¢|3i'IdIIl
('hnpmapodi§i>mflmmaauiudcummarminfi>mmm(Vd&ia,nfidmpefimhmmpleg4);
Apzcscmealguimsdasdifeimqmeiiueasduasinodalidades (variafioderegistm).
FAIA
E; chzz... e::... agoneu qucria que vooE me oomawe que tenhaac
algum amigo seu... seu seu qucvooénio csiivemeprmente...
canton... e que vocé adiou a histdria [ou ttiste ou/1
I: lahn... aim]... essa eu... cu me leinbro achci tio fiii um
noiluio.--umarnigodeumamigomcu.-.quefiiijantarnamsaclanoiva...aqucle
asim... pi-iinein vn e :21.-. oficializaro noivazzdo... ai srava jantando e tal... ele...
uiogosumuitodebife... dec2rne...aie-sravali... niooonseguiapartirobifedejeito
cnL-aidec£nmmiaarenc,indopmoaL..piaumaoimaooisa...entendeu?apo
m.1uohrlochmma...et:lcviuquctinhaumajandaanis((risodeE)) elcpegouo
((30)) mas ele nio repamu mui1:ot.. a jancla estava ((riso)) sério... o bife
bflteu najznda... c comogou a esmi-rer... gnidou... moor-reu... quando cu (ouvi) ele
"l"3°--¢1l=-~flldI=i/mIlil0-- f0iml1it0mglaQd0elcoonmndo...eleoonundoo
mm ele... can.-. fiai muito
E fllingllélnviu... quco bifi-I
I: 5511- todo mundo olhou_.. ele viu que 0 bifel 0 laife a famllia
((Ii9ns)) ai (6) o fiin da
Ecdtfimllcomamcriinaou naquelcdhacabou?
l:ni“"'"5°¢=$°l1--- Iliochcgouacasarcomcssanio... foicasaroomuma0l1Il'i((1'i-'i°))-.
BCRITA
uh _Um“_mi1flddomaiFoiiantarnacasadanoiva,uaopdmeimjanliI°°m*
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