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UNIME – Itabuna/BA
RELAÇÕES ABUSIVAS:
UM OLHAR COGNITIVO-COMPORTAMENTAL
RESUMO
1 INTRODUÇÃO
próprio dinheiro, que é pego e utilizado por ele (MANITA; RIBEIRO; PEIXOTO,
2009). Enquanto que a violência moral é “entendida como qualquer conduta que
configure calúnia, difamação ou injúria” (BRASIL, 2006).
Contudo a violência pode aumentar no que diz respeito a sua intensidade e
gravidade, chegando ao nível mais radical que é o assassinato do cônjuge.
Conforme Hirigoyen (2006), uma das principais razões de morte feminina refere-se
às violências no casal. Geralmente o homicídio acontece no período da separação,
podendo acontecer quando elas planejam partir ou mesmo depois de irem embora.
terreno através de sucintos ataques que a deixaram com medo (WALKER, 1979
apud HIRIGOYEN, 2006).
Logo, vem à fase de desculpas, no qual o agressor procura diminuir ou
extinguir suas atitudes. Depois das explosões sente-se arrependido, mas por ser um
sentimento desagradável, tenta se livrar dele buscando justificativas pra isso, a mais
simples delas, é culpabilizar a vítima por todo o acontecido ou ainda explicar seu
comportamento por conta de eventos externos, como a bebida, acúmulo de trabalho
ou raiva. Então pede perdão, promete que não voltará a ter tais condutas e buscará
ajuda de psicólogos ou que vai participar dos alcoólatras anônimos (WALKER, 1979
apud HIRIGOYEN, 2006).
Posteriormente vem a fase de reconciliação ou lua de mel, na qual o cônjuge
muda completamente seus comportamentos, assumindo uma postura amável,
tornando-se subitamente gentil, prestativo, apaixonado, ajudando nos afazeres
domésticos, presenteando-a e empenhando em acalmá-la. Nesta fase elas voltam a
ter esperanças e pensam que com seu amor, ele vai se transformar. No entanto ao
ser instalada a violência, os estágios recomeçam, acelerando com o tempo e
aumentando de intensidade (WALKER, 1979 apud HIRIGOYEN, 2006).
Além disso, muitas mulheres que vivenciam episódios de violência não tem
qualificação profissional para adentrar no mercado de trabalho, o que dificulta a
possibilidade de sair da relação violenta, outras ainda afastam-se do emprego e dos
estudos por conta da imposição do seu companheiro. E como afirma Tavares
(2011), em muitos casos, o parceiro dispõe de toda a renda do casal, o que torna a
mulher subordinada ao cônjuge e esta por sua vez não ver opções para ficar livre
dessa situação.
Já para Marques (2005), a mulher se mantém num relacionamento abusivo,
pois recebe algo que ela deseja (permuta) e mesmo que custe caro, a sua escolha é
feita de forma consciente, ponderando as vantagens e desvantagens. Umas das
permutas referem-se ao dinheiro. A mulher decide entre aproveitar os privilégios
materiais e ter que passar por insultos ou partir e se libertar dessas aflições. Outra
permuta é feita para preservar o conforto dos filhos, porém o que elas não
compreendem é que os maiores traumas na infância decorrem das brigam que
acontecem entre o casal. Desse modo, sentem medo pelas dificuldades que podem
aparecer para providenciar o seu mantimento e dos seus filhos depois da separação.
Outro fator envolvido no não rompimento da relação abusiva pode ser
compreendido por meio de uma perspectiva transgeracional isto é, a experiência da
mulher em um ambiente no qual o pai agredia a mãe na infância, sofria maus tratos
ou abusos, converte em sua própria agressão, quando esposa, se tornando em um
acontecimento completamente normal. Quanto mais forem empregados enquanto
crianças, corretivos físicos para discipliná-las, maior é a chance de a mulher
continuar num relacionamento violento, pois ela soube desde pequena que é natural
agredir a pessoa que se ama, quando esta comete algum erro (TAVARES, 2011).
precisão de intervenção.
Além disso, a mulher pode ter crenças do tipo “não sou capaz de arrumar
alguém melhor” ou “não sou capaz de sair dessa situação”, nesse cenário é
fundamental trabalhar essas cognições por meio da restruturação cognitiva, pois
como afirma Moreira (2014, p.19) “a restruturação cognitiva muda à maneira de
interpretar o pensamento disfuncional”. Então se utiliza dessas estratégias de
reestruturação para ensinar o paciente a identificar e alterar as cognições
inadequadas, mediante técnicas como o questionamento socrático ou de evidências
e registro de pensamentos disfuncionais (BECK; TAYLOR; WOODY & KOCH, 1997
apud OLIVEIRA & ANDRETTA, 2011).
A TCC pode ainda empregar outros meios como a psicoeducação e a
descoberta guiada, para tornar claro algumas questões que se tornam difíceis se
serem compreendidas pela mulher nessa condição de violência. Nesse caso a
psicoeducação seria uma importante ferramenta cuja função, conforme Jesus &
Lima (2018, p.4), “é simplificar a queixa da paciente” por meio de exercícios de casa,
miniaulas, sugestões de leituras como a Lei Maria da Penha e outros textos
relacionados à violência contra as mulheres. Desse modo, a paciente que entende
adequadamente seu problema, os impactos acarretados e processo de tratamento,
tem maiores chances de tornar-se mais empoderada. Ao passo que a descoberta
guiada é a técnica mais utilizada na sessão, geralmente para identificar
pensamentos automáticos ocasionados a partir da agressão sofrida. “Por meio desta
técnica o psicoterapeuta atua com o objetivo de ajudar a paciente a identificar
conteúdos cognitivos severos e inflexíveis, colocando-os como suspeitas e não
verdades absolutas” (JESUS & LIMA, 2018, p.4).
Já nas circunstâncias em que a mulher desenvolve o transtorno do estresse
pós-traumático, por exemplo, além de utilizar a reestruturação cognitiva e a
psicoeducação, existem outras técnicas que são eficientes para atenuar os sintomas
desse transtorno. As técnicas de exposição cujo propósito é possibilitar o
desaparecimento da resposta do medo e da ansiedade especifica do TEPT e os
episódios de revivência e sinais de evitação (KEANE et al., 2006 apud OLIVEIRA E
ANDRETTA, 2011).
E como elucida Caballo (2002 apud Oliveira & Andretta, 2011) as técnicas de
relaxamento que ajudam os pacientes a regular os sintomas fisiológicos que lhes
invadem ao se esbarrarem com situações temidas. As mais utilizadas são as de
5 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
parceira, porém com proporções muito menores do que acontece com elas. Como
destacado por Hirigoyen (2006), frequentemente a agressão física realizada pela
mulher é reativa. A maioria delas que assassinaram o parceiro foi em circunstâncias
para se protegerem ou como forma de se defenderem das agressões sofridas.
Pode-se mencionar também que diante das diversas formas de violência
sofrida pela mulher, a agressão física vem liderando com maior prevalência, mas em
contrapartida a psicológica é a que mais traz consequências graves, dado que não
possui materialidade e sua detecção torna-se complicada. À vista disso muitas
mulheres não reconhecem a situação de violência em que estão sendo expostas,
impedindo-as de tomar iniciativas para cessar o abuso e por vezes veem as ofensas,
o ciúme como algo natural, como uma demonstração de zelo e amor.
Logo, há um consenso na literatura quanto aos impactos desestruturantes das
relações abusivas, contudo esta também traz grande repercussão para a sociedade
e para os filhos. Como salienta Krug et al., (2002) a violência traz custos econômicos
para a comunidade no que diz respeito ao aumento da utilização dos serviços de
saúde e baixa produtividade. Considera ainda que os filhos que presenciam
violência conjugal têm maiores chances de apresentar dificuldades afetivas e
comportamentais, incluindo depressão, indisciplina, diminuição do desempenho
escolar e ansiedade.
Fica evidente por meio dos índices alarmantes apresentados nesse artigo que
a violência conjugal tem crescido consideravelmente. À vista disso, fica o
questionamento de qual lacuna está presente que em vez de mitigar esse problema
ele tem se elevado. Dessa forma, entende-se que acabar com a violência que
acontece na intimidade de um casal, parece uma realidade distante, porém constata-
se a necessidade em alterar a conduta dos protagonistas da violência, mas isso não
significa que eles têm que se livrar da pena que lhe foi atribuída, todavia percebe-se
através de um olhar mais humanizado que é essencial que estes tenham algum tipo
de acompanhamento ou tratamento psicológico, pois como diversos estudos
apontam muitos desses agressores na infância vivenciaram maus tratos, negligência
e abusos.
Assim, Epstein et al. (2005 apud Dattilio, 2011) indicaram um tratamento
denominado de Programa de Prevenção do Abuso de Casais, um modelo cognitivo-
comportamental que foca no risco de agressão por parte do companheiro. No qual o
foco é a psicoeducação acerca da conduta abusiva e seus efeitos prejudiciais, na
7 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS