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3 UNIDADE 1 - Introdução
5 UNIDADE 2 - Ergonomia
9 UNIDADE 3 - Noções de Fisiologia do Trabalho
10 3.1 Capacidade de trabalho físico, idade e fadiga

11 3.2 Métodos para determinar a capacidade de trabalho

12 3.3 Importância do gasto energético

15 UNIDADE 4 - Os Sistemas de Trabalho


15 4.1 Planejamento dos sistemas de trabalho e a aplicação de forças

SUMÁRIO
15 4.2 Biomecânica

15 4.3 Antropometria

16 4.4 Dimensionamento dos postos de trabalho e limitações sensoriais

19 UNIDADE 5 - Dispositivos de Controle e de Informação


22 UNIDADE 6 - Organização e Métodos de Trabalho
22 6.1 Sistema homem-máquina

25 6.2 Trabalho em turno


27 REFERÊNCIAS
30 ANEXOS
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UNIDADE 1 - Introdução

A revolução social, cultural e profissional ções e pesquisas, através do uso da web ou


que se vive atualmente, é proporcionada internet, deve-se admitir que a velocidade
pelos avanços dos recursos tecnológicos dessas informações, bem como o seu dina-
com o intuito de facilitar a vida das pesso- mismo, favorecem erros técnico-científi-
as, tais como o uso de computadores, lap cos, embora o processo de benchmarking
top ou notebook, alarmes, telefones celu- entre os profissionais que atuam nas áre-
lares e diversos outros equipamentos que as de prevenção à saúde, segurança, meio
são lançados continuamente no mercado. ambiente, resulte na criação de uma malha
No entanto, a utilização das novas tecnolo- normativa que agrupa de maneira global as
gias tem também promovido o aumento de informações a todos os envolvidos, na ten-
acidentes de trabalho, doenças ocupacio- tativa de propor alternativas mais adequa-
nais, gerando ações nas esferas jurídicas, das para as atuais condições de trabalho
cível, criminal, trabalhista e previdenciária, (LOPES, 2001).
que trazem inúmeras repercussões e pre-
Entretanto, os conflitos de interesses
juízos nos relacionamentos entre capital e
de classes, sindicatos, órgãos governa-
trabalho, empresário e trabalhador, e so-
mentais, convênios médicos, entre outros,
ciedade de um modo geral, como será de-
demonstram o envolvimento de grandes
monstrado no decorrer desta unidade.
somas de dinheiro, aumentando conside-
As consequências têm sido discutidas ravelmente o custo Brasil e que uma das
nas áreas de saúde, social, tecnológica, causas do problema está exatamente na
segurança, jurídica, pesquisa, normas in- falta de conhecimento técnico, científico,
ternacionais, e tem motivado o desenvol- administrativo e legal, bem como a manei-
vimento de trabalhos vinculados à preven- ra com que os problemas e sugestões para
ção primária de saúde, ou seja, fazendo a erradicação dos mesmos são conduzidos.
promoção de saúde e proteção específica,
Na última década, observa-se que as
e segurança, bem como do conhecimento
preocupações com a avaliação de riscos
e avaliação dos riscos e dos efeitos que os
inerentes à função e a ambientes de traba-
mesmos ocasionam, buscando desta for-
lho, têm se tornado rotina, tomada como
ma uma globalização e padronização de
uma das poucas formas de resolver inúme-
rotinas e práticas que tragam como resul-
ras situações que resultam em prejuízos,
tado a proteção à saúde e segurança dos
tanto para trabalhadores quanto para em-
trabalhadores e do meio ambiente, onde
presas (LOPES, 2001).
criam-se ordens de serviço ou procedi-
mentos específicos e que são exigências Observa-se também que o Direito do
legais (Lei 6.514 - 22.12.1977 - NRs. Porta- Trabalho vive, na sua rotina diária, median-
ria 3.214- 08.06.1978). do e intervindo na resolução de conflitos
entre o capital e o trabalho, e que as ques-
Apesar de existir um avanço tecnológico
tões referentes à saúde no trabalho por
no que se refere à veiculação de informa-
exposição a riscos conhecidos e doenças
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ocupacionais, demonstram que o traba- assunto e sanar possíveis lacunas que vie-
lho exigido, frequentemente está sendo rem a surgir.
realizado acima dos limites de segurança
Desejamos bons estudos a todos!
ou inadequadas. Tais situações resultam,
na maioria dos casos, em ações jurídicas e
processos movidos de maneira reativa e
compulsória, visando o reconhecimento e
a indenização monetária. Essas situações
poderiam ser prevenidas por meio de práti-
cas seguras e efetivas de prevenção, atra-
vés da ergonomia.

Isto leva a considerar que a Ergonomia


pode ser uma das principais possibilidades
para a prevenção, tratamento, restrição
de danos pessoais e econômicos, em toda
sua amplitude, pois, por meio da ergono-
mia, pode-se constatar diversos aspectos
primordiais para a prevenção de passivos
ocupacionais, dentre eles: a biomecânica
do posto de trabalho, a organização do tra-
balho, o levantamento e priorização de ris-
cos, e ainda fatores físicos e psicossociais
dos trabalhadores, dentre outros. (LOPES,
2001)

Procuramos abordar estes temas – er-


gonomia e fisiologia – de forma teórica e
prática, evidenciando uma das importân-
cias da ergonomia, como instrumento pre-
ventivo de passivos ocupacionais, a fim de
oferecer subsídios para que a ciência deste
problema evite impactos às instituições
e aos trabalhadores, por meio das ações
reclamatórias que variam de uma simples
queixa até a instalação de processos, os
mais variados possíveis.

Enfim, esta apostila não é uma obra


inédita, trata-se de uma compilação de
autores e temas ligados à ergonomia e fi-
siologia do trabalho e tomamos o cuidado
de disponibilizar ao final da mesma, várias
referências que podem complementar o
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UNIDADE 2 - Ergonomia

Em medicina, a saúde é considerada o (1976), necessita-se, evidentemente, de


estado “normal” do organismo humano, ação antecipada, de prevenção primária de
embora a normalidade não possa ser de- saúde, ou seja, impedir o início da doença.
terminada com exatidão pelo grande nú- Certamente a Análise Ergonômica do Tra-
mero de fatores, tais como sexo, idade, balho pode ser considerada como uma das
profissão, susceptibilidade, individualida- ações de intervenção prevencionista pri-
de, que interagem no organismo de cada mária. Evitar a progressão da doença por
pessoa. A Organização Mundial de Saúde prevenção secundária é atuar no início do
(OMS) define que “Saúde é o estado de processo patológico, procurando estancar
completo bem-estar físico, mental e social ou retardar a progressão da doença por
e não apenas a ausência de doença ou en- diagnóstico precoce e tratamento imedia-
fermidade”. to. Nesta situação, considera-se o traba-
lhador que se apresenta com queixas de
Na década de 1960, Leavell e Clark
dor osteomuscular, dificuldade auditiva,
trabalharam com a tríade ecológica, que
entre outros, demonstrando que já tem um
consiste na relação instável entre agen-
distúrbio instalado. Se o processo mórbido
te (predisponente à doença), hospedeiro
progride, atua-se por meio da reabilitação,
(predisposto à doença) e meio ambiente,
objetivando limitar o dano e o aparecimen-
e desenvolveram o modelo da História Na-
to de sequelas, para evitar fundamental-
tural das Doenças, modelo mecanicista e
mente a debilidade funcional ou deformi-
biologicista que tenta explicar o processo
dades, que podem evoluir para invalidez
saúde doença e seus fatores associados.
ou até a morte do indivíduo. Nesta situa-
Leavell e Clark (1976) definiram em seu ção considera-se a prevenção terciária, em
modelo que a história natural das doenças função da limitação e reabilitação das se-
consistia nas inter-relações do agente sus- quelas.
cetível e do meio ambiente, que afetam o
Além da legislação trabalhista, de-
processo global e seu desenvolvimento,
desde as primeiras forças que criam o estí-
ve-se considerar os direitos previden-
mulo patológico no meio ambiente, até as
ciários do trabalhador, ou seja, a Lei
alterações que levam a um defeito, invali- nº 8.213/91 em seus artigos:
dez, recuperação ou morte. 42 a 47, que determinam aposentado-
Em síntese, os estímulos pelos quais o ria por invalidez;
homem é submetido, quer sejam físicos, 57 e 58, que determinam aposentado-
químicos, biológicos, ambientais ou so- ria especial; e finalmente,
ciais, dentre outros, geram reações orgâ-
nicas, seguidas de sinais e sintomas. 59 a 63, que determinam os demais
benefícios e serviços.
Para atingir-se os níveis de prevenção
de saúde apresentados por Leavell e Clark Não deixando de considerar também
que sequelas instaladas podem determi-
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nar o recebimento de pecúlio auxílio aci- sentido do trabalho humano.


dente de 50% de salário e que será objeto
Uma faceta ainda desse drama pós-mo-
de estudo multiprofissional realizado pelo
derno atormenta hoje milhares de mulhe-
RP (Centro de Reabilitação Profissional),
res e homens. Invade suas vidas na forma
com intuito de devolvê-lo ao mercado de
de uma dor ou dificuldade de discrimina-
trabalho já reabilitado.
ção de sons. Este drama mal entendido por
O objetivo final é o pleno funcionamen- quase todos, de empregadores a colegas,
to da pessoa no lar, na comunidade e na médicos, familiares, legislações, são as LER
profissão, procurando recuperar não só a /DORT e a PAIR , que foram estudadas ao
função fisiológica, mas também alcançar longo do curso.
um satisfatório rendimento psicológico e
As LER/DORT e a PAIR não são apenas
social.
um mero distúrbio mecânico, pois o ser
No tocante às relações de trabalho, em humano é mais do que um conjunto de
função do contínuo desenvolvimento do músculos, ossos e sensações, mais do que
trabalho maquínico, redobrado pela revo- força de trabalho. Inclusive são doenças de
lução informática, as forças produtivas vão um grupo crescente de indivíduos, são si-
tornar disponível uma quantidade cada vez nais que clamam por diagnóstico coletivo
maior do tempo de atividade humana po- das mazelas de nossa sociedade. Daí é que
tencial. Rocha (2009) questiona qual seria advém a prevenção (ROCHA, 2009).
a finalidade dessa disponibilidade ao ser
Na família, a desarmonização é cons-
humano: a do desemprego, da marginali-
tantemente constatada em função de de-
dade opressiva, da solidão, da ociosidade,
sarranjo conjugal, paternal ou maternal,
da angústia, da neurose, ou da cultura, da
comprometendo este núcleo que é a base
criação da pesquisa, da reinvenção do meio
da sociedade, e que, com a progressão do
ambiente, do enriquecimento dos modos
processo, atingirá outros núcleos familia-
de vida e de sensibilidade?
res e, em cadeia, toda uma comunidade.
Rigotto (1992) relata que havia, já na
Tentar conceituar com rigor um evento
década de 1990, um bilhão de pessoas sem
biológico, em se tratando de doenças ocu-
trabalho no mundo, que vivenciam, ainda
pacionais, é certamente incorrer em erros,
hoje, a falta de oportunidade para explorar
pois doenças como LER/DORT e PAIR têm
outras dimensões da vida, mas a de conhe-
etiologias multifatoriais, contudo, cabe es-
cer na pele a dor da exclusão social. Outros
clarecer aqui os conceitos mais usualmente
tantos vivem a tortura cotidiana de um tra-
utilizados. Porém, antes de esclarecê-los, é
balho destituído de sentido. Suportam-no
importante fazer uma breve discussão so-
porque dele dependem para sobreviver, e
bre a ergonomia, sua definição, suas áreas
até tentam dar-lhe um significado, projetar
de atuação, a abordagem multidisciplinar e
nele uma esperança, enxergar uma porta
os degraus da intervenção ergonômica.
aberta, considerando a relação consciente
e transformadora do homem com a nature-
za e com os outros homens, impressão da
Ergonomia
própria face na sociedade e na história: o Ergonomia é um conjunto de ciências e
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tecnologias que procura a adaptação con- funções, a prevenção da insalubridade,


fortável e produtiva entre ser humano e da periculosidade e do trabalho penoso.
seu trabalho, basicamente procurando A insalubridade está vinculada a agentes
adaptar as condições de trabalho às carac- físicos, químicos e biológicos, enquanto
terísticas do ser humano, segundo Couto a periculosidade se refere a atividades e
(1995). operações perigosas com explosivos, infla-
máveis, eletricidade e radiações ionizantes
A palavra ergonomia tem sua etiologia
ou substâncias radioativas; já o trabalho
de origem grega, orgon significando tra-
penoso baseia-se nas inadequações das
balho e nomos, regras, leis. Assim, tem-se
condições físicas e psicofisiológicas dos
seu significado como o estudo das leis que
trabalhadores, de seu ambiente de traba-
regem o trabalho.
lho (mobiliários, organização, equipamen-
Wisner (1987) define ergonomia como tos, entre outros).
um conjunto dos conhecimentos científi-
cos relativos ao homem e necessários para A prevenção da fadiga no
a concepção de ferramentas, máquina e
dispositivos que possam ser utilizados com
trabalho
o máximo conforto, segurança e eficácia. Relaciona-se com a Ergonomia de corre-
ção. É aplicada em situação real já existen-
Iida (1990), numa concepção mais ampla
te para resolver problemas que se refletem
de trabalho, não restringindo este apenas
na segurança, na fadiga, em doenças do
à concepção física, mas levando em consi-
trabalhador ou na quantidade e qualidade
deração também o aspecto organizacional,
da produção.
define ergonomia como “o estudo de adap-
tação do trabalho ao homem”.
A prevenção do erro hu-
Segundo a Associação Internacional de
Ergonomia (IEA), entende-se a ergonomia,
mano
ou fatores humanos, como uma disciplina Relativamente nova, a quinta grande
científica relacionada ao entendimento área de atuação da ergonomia ocupa-se
das interações entre os seres humanos e em prevenir o erro humano, já que condi-
outros elementos ou sistemas, e à aplica- ções ergonomicamente adversas estão
ção de teorias, princípios, dados e métodos frequentemente relacionadas a este. Esta
a projetos a fim de otimizar o bem-estar área é particularmente importante quan-
humano e o desempenho global do siste- do envolve postos de trabalho em que um
ma. erro por parte do trabalhador pode desen-
cadear grandes riscos a outrem, como, por
Apesar de já no século passado utilizar-
exemplo, no posto de condutor de meios
-se a palavra ergonomia, foi apenas no iní-
de transporte.
cio deste século que se propôs algo mais
prático em relação a ela, como será visto
adiante.
Abordagem multiprofis-
A ergonomia tem, como uma de suas
sional da ergonomia
8

Segundo Couto (2007), não existe uma dade.


categoria profissional que seja capaz de
4º. O quarto passo consiste na melhor
dar uma solução às situações do trabalho
organização do sistema de trabalho, fa-
ergonomicamente completa. É necessário,
zendo a análise de situações antiergonô-
para tanto, que a ergonomia seja praticada
micas dentro de setores organizacionais e
por uma equipe multiprofissional.
hierárquicos da empresa.
Voltado para uma visão biomecanicista,
5º. O quinto passo, que já é considera-
avaliando estados ergonômicos que po-
do uma realidade atual, se dá na adequação
dem causar déficits na saúde do trabalha-
das situações de impactos ergonômicos
dor, está o Médico do Trabalho. Em outras
sobre o trabalhador, visando uma adequa-
óticas da prática ergonômica, que são com-
ção do posto de trabalho ao trabalhador. O
plementares entre si, atuam profissionais
ergonomista, ao diagnosticar a condição
da engenharia, da Segurança do Trabalho
inadequada, deve, nas suas conclusões, vi-
e do desenho industrial, também profissio-
sar também propostas de correção, obser-
nais da área biológica, como enfermeiros,
var parâmetros técnicos e científicos que
fisioterapeutas; ainda psicólogos, e outros
não se restrinjam apenas à automatização
mais. Todos esses profissionais trabalham
do equipamento. Este profissional deve ter
cooperativamente com o objetivo de esta-
em mente também a adaptação das condi-
belecer uma análise ergonômica completa.
ções de trabalho às características do ser
humano, visando assim um ambiente con-
Degraus da intervenção fortável, agradável, possibilitando produ-
ergonômica ção com qualidade e garantia da saúde do
trabalhador.
Couto (2007) acredita que a interven-
ção ergonômica está organizada em cinco
passos.

1º. O primeiro passo consiste na


transformação de condições primitivas de
trabalho, sem qualquer conforto, em pos-
tos de trabalho.

2º. O segundo passo se dá melhoran-


do as condições de conforto relacionadas
ao ambiente de trabalho, tais como o con-
forto térmico, auditivo e luminoso.

3º. O terceiro passo, talvez o mais sutil


em relação à ergonomia, está relacionado
à melhoria dos métodos de trabalho. Cabe
nesta etapa fazer a análise biomecânica do
posto do trabalhador e tentar solucionar
os problemas relacionados à biomecanici-
9
UNIDADE 3 - Noções de Fisiologia do
Trabalho
A descrição do trabalho muscular permi- TIZ, 2003). Conforme o mesmo autor, o
te evidenciar as relações existentes entre começo de uma atividade muscular deter-
o ser humano e seu posto de trabalho. mina o aumento do ritmo respiratório e das
profundezas das inspirações para garantir
Aspectos histológicos e bioquímicos são
a quantidade de oxigênio necessário para
de pouco interesse para a ergonomia, mas
que as células se contraem. De forma si-
precisamos ressaltar a presença dos mús-
multânea acontece um incremento do rit-
culos sinérgicos e dos músculos de contro-
mo cardíaco para aumentar o fluxo sanguí-
le, os primeiros engajados nas atividades
neo que transporta o oxigênio às células. O
dinâmicas e os últimos engajados nas con-
sangue leva as células, além de oxigênio,
trações prolongadas (SANTOS, 2000).
os nutrientes que subministrarão a ener-
Toda atividade profissional necessita gia necessária para a contração e recebe
de um trabalho muscular, mais ou menos das células as substâncias de residual e o
importante, segundo as tarefas a serem calor que produzem as reações químicas na
realizadas. Este trabalho muscular é ne- célula. Estas reações podem ser aeróbias
cessário tanto para a manutenção de uma ou anaeróbias.
simples postura, quanto para a execução
As reações anaeróbias produzem ácido
de gestos e movimentos de trabalho.
láctico que se deve processar posterior-
O conhecimento da fisiologia muscular, mente, quando está disponível o oxigê-
portanto, é a base dos estudos ergonômi- nio necessário. A utilização das reações
cos do homem como um sistema de trans- anaeróbicas vai em incremento com o au-
formação de energia, onde um arranjo fí- mento na intensidade do trabalho muscu-
sico do posto de trabalho pode diminuir os lar, pelo que a concentração de ácido lácti-
gastos energéticos e a fadiga física produ- co na sangue aumenta progressivamente
zida pela realização de uma tarefa com for- com o incremento na intensidade do traba-
te solicitação muscular (SANTOS, 2000). lho.

Desse modo, podemos inferir que uma As reações aeróbias podem manter-se
das primeiras perguntas que toda pes- por um tempo determinado, entretanto
soa deve realizar estaria encaminhada a esteja disponível o oxigênio e os nutrien-
conhecer, “como é obtida a energia pelo tes necessários, mais se predominam as
corpo humano para a realização de um reações anaeróbias, o trabalho somente
trabalho físico?” Em estado de repouso, o pode continuar durante um tempo relati-
metabolismo do indivíduo é ligeiramente vamente curto, pois a elevada concentra-
superior ao metabolismo basal. Neste caso ção de ácido láctico impede a continuação
é bom lembrar que o metabolismo basal das contrações (BATIZ, 2003).
varia dependendo do sexo, ou seja, para as
Sabe-se que para um trabalho ligeiro ou
mulheres este metabolismo seria de 40,6
moderado se produz uma quantidade de
w/m2 e para os homens de 42,9 w/m2 (BA-
oxigênio aos músculos o qual é suficiente
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para a realização desse tipo de trabalho. das extremidades, pois a capacidade má-
Neste caso se sabe que a concentração de xima para realizar um trabalho na prática
ácido láctico aumenta, mais isso não im- pode ser muito menor se se consideram
pede que o trabalho possa ser realizado atividades onde somente encontra-se em
por um período de tempo relativamente contração um número pequeno de múscu-
cumprido. Tal como foi dito anteriormen- los (SANTOS, 2000).
te, na medida que aumenta a intensidade
Por outra parte, em trabalhos onde são
de trabalho, o organismo humano precisa
utilizados grandes grupos musculares,
de maior consumo de oxigênio, já que a
como por exemplo, carregamento de car-
quantidade deste aos músculos é insufi-
gas, trabalhos agrícolas, entre outros, é
ciente, portanto, neste caso, tornam cada
impossível que o indivíduo realize seu tra-
vez mais importante as reações anaeróbia
balho com uma intensidade tal que precise
(SANTOS, 2000).
que seu consumo de oxigênio seja o má-
O organismo humano possui reservas ximo, pelo que é recomendado que o limi-
normais de ATP, fosfato de creatina e ácido te admissível seja de uma intensidade de
láctico que são utilizadas quando da reali- 30% de volume máximo de oxigênio.
zação de um trabalho, as quais devem ser
Os músculos, ossos e juntas formam di-
restabelecidas através dos mecanismos
versas alavancas no corpo, semelhantes
oxidativos que continuam desenvolvendo-
as alavancas mecânicas. Para cada movi-
-se quando o trabalho seja terminado (BA-
mento, há pelo menos dois músculos que
TIZ, 2003).
trabalham antagonicamente: quando um
se contrai, o outro se distende, por exem-
3.1 Capacidade de trabalho plo: ao dobrar o braço sobre o cotovelo, há
físico, idade e fadiga uma contração de bíceps e uma distensão
A capacidade de trabalho físico (CTF), do tríceps.
também conhecida como potência aeró- Os músculos podem funcionar de forma
bia máxima, é o máximo caudal de oxigê- mais ou menos complexa, fazendo parte
nio que um indivíduo é capaz de inspirar, de um conjunto mais amplo, permitindo vá-
combinar com o sangue em seus pulmões e rias combinações de movimentos, como as
transportar por meio do sangue às células contrações associadas a movimentos rota-
que se contraem. Sabe-se que um indiví- cionais (SANTOS, 2000).
duo alcançou sua potência aeróbia máxima
quando os incrementos da carga não pro- A fadiga é frequentemente apontada
vocam aumento do consumo de oxigênio e como causa imediata de graves aciden-
quando a concentração de lactado em san- tes de trabalho, em especial no setor dos
gue é de 8-9 milimoles/litro (BATIZ, 2003). transportes, onde para além do motorista
outras pessoas sofrem as consequências
É importante esclarecer que na defini- dos desastres. O Verão e as épocas festi-
ção dita anteriormente somente se cor- vas são tempos particularmente propícios
responde com a definição comum de ca- a situações de trabalho excessivo, horá-
pacidade de trabalho, quando na atividade rios desregulados e ausência de repouso
se empregam grupos musculares grandes
11

por parte de alguns profissionais. A fadiga, situação, particularmente complexo nas


porém, pode e deve ser prevenida para se suas causas, exige acompanhamento mé-
evitarem custos humanos e econômicos dico.
bem graves! (GUEDES, 2008).
Alguns aspectos do problema estão
A fadiga é o resultado de um trabalho contemplados no normativo comunitário e
continuado que provoca uma redução re- na legislação nacional, referindo-se em es-
versível da capacidade do organismo e, em pecial os ritmos de trabalho, as pausas e a
simultâneo, uma degradação da qualidade rotatividade de tarefas.
desse trabalho. É causada por um conjun-
Uma empresa ou serviço sem condições
to de fatores complexos, nomeadamente
de segurança e saúde no trabalho é propí-
fisiológicos, como a intensidade e duração
cia à existência de fadiga nos trabalhado-
do trabalho físico e intelectual, sem es-
res, embora saibamos que as caracterís-
quecer os psicológicos como a monotonia
ticas individuais e o tipo de vida que cada
e a falta de motivação, e ainda os fatores
um têm, igualmente, influência no apareci-
ambientais e sociais como a iluminação, o
mento daquela.
ruído, temperaturas e relações sociais.
Algumas pessoas são mais sensíveis à
A fadiga resulta frequentemente da ex-
fadiga do que outras. Certos trabalhadores
posição do trabalhador a situações de es-
cansam-se mais com determinado tipo de
tresse, concebendo este como resposta do
trabalho ou em determinadas épocas do
organismo a fatores que exigem adequada
ano ou, ainda, em algumas fases da vida.
adaptação a solicitações e desafios.
As chefias e o médico do trabalho devem
Embora não se conheçam totalmente os estar particularmente atentos a sinais que
mecanismos causadores da fadiga existem indiciem a existência de fadiga nos traba-
estudos suficientes que nos revelam quais lhadores.
são as principais consequências da mes-
Neste sentido, a prevenção é a estraté-
ma. Assim, uma pessoa fatigada tende a
gia acertada para combater esta “doença”
simplificar a sua tarefa, eliminando tudo o
passando nomeadamente pela implemen-
que não é essencial e tornando-se menos
tação de um serviço de saúde e segurança
precisa e segura. Os índices de erro come-
(GUEDES, 2008).
çam a crescer. Um motorista fatigado, por
exemplo, está menos atento aos instru-
mentos de controle e reduz a frequência
3.2 Métodos para determi-
das mudanças (GUEDES, 2008). nar a capacidade de traba-
A fadiga física, desde que não ultrapas- lho
se certos limites, é reversível podendo o Dentre os vários métodos para determi-
organismo recuperar através de pausas nar a capacidade de trabalho físico, temos
durante o trabalho ou com descanso diário. o método de regressão linear, através do
O mesmo não acontece com a fadiga crôni- qual a determinação da capacidade de tra-
ca que não é aliviada por pausas ou sonos balho físico se realiza geralmente através
e tem um efeito cumulativo. Este tipo de de provas submáximas em uma bicicleta
12

ergométrica ou um degrau, fazendo uso suas atitudes para o tipo de trabalho e es-
da relação entre o ritmo cardíaco e a carga tabelecer períodos de trabalho e descan-
de trabalho. Na medida em que aumenta a so adequados. Ao mesmo tempo, pode-se
carga de trabalho, aumenta o ritmo cardí- determinar os requerimentos alimentícios
aco. do trabalhador evitando tanto sua insu-
ficiência em trabalhos pesados como seu
A prova consiste em colocar um indi-
excesso em trabalhos sedentários, ambos
víduo pedalando em uma bicicleta ergo-
prejudiciais para a saúde (BATIZ, 2003).
métrica a uma carga e durante um tempo
determinado; nesse período de trabalho O consumo de energia em determinado
deve-se medir os valores de ritmo cardía- tipo de atividade pode variar segundo a
co em intervalos de tempo determinado, maneira de realizá-lo e a postura que ado-
fazendo um regime de trabalho-descanso tem os trabalhadores, pelo que o gasto
que permita avaliar o comportamento do energético pode ser um critério adequado
indivíduo que pode ser de 6 minutos de de comparação entre vários métodos de
trabalho e 4 minutos de descanso. trabalho, com o objetivo de otimizar a efi-
ciência do trabalhador desde o ponto de
Durante esse tempo, o pesquisador po-
vista biológico.
derá comprovar como vai aumentando o
ritmo cardíaco na medida em que passa o Os limites do trabalho variam segun-
tempo de trabalho e como vai diminuindo do autores, mas parece conveniente que
quando está no período de descanso até o gasto energético não exceda a 30% da
alcançar um valor que está perto das con- capacidade de trabalho físico ou potência
dições inicias, ou seja, antes de começar o aeróbia máxima do trabalhador naqueles
trabalho ou condições de repouso. Desta trabalhos onde se utilizam grandes grupos
forma, sugere-se variar, como um mesmo musculares (BATIZ, 2003).
regime de trabalho, a carga até alcançar 3
Este critério é insuficiente quando o tra-
valores diferentes.
balho supõe atividade de poucos músculos
ou com um componente estático grande,
3.3 Importância do gasto em cujo caso os músculos podem ser so-
energético brecarregados sem que o gasto energético
Os seres humanos não são utilizados na seja grande.
atualidade como recurso energético, como
Dentre os métodos para a avalia-
o foram em séculos passados, mas algu-
ção do gasto energético temos:
mas ocupações ainda exigem de um esfor-
ço físico considerável, em outros momen- 1. Medir o alimento consumido, durante
tos um esforço ou ainda como acumulação períodos relativamente largos, registran-
de esforços durante o trabalho. do ao mesmo tempo o peso corporal do su-
jeito.
A medição do gasto energético durante
o trabalho tem importância prática, pois Com o conteúdo energético dos alimen-
comparando-o com a capacidade de tra- tos pode-se determinar com bastante exa-
balho física do indivíduo pode-se avaliar tidão, por exemplo, se o peso corporal se
13

mantém constante, se a energia que con- lhador durante o trabalho e na determina-


têm os alimentos tenha sido utilizada pelo ção do gasto energético, multiplicado pelo
indivíduo. valor calorífico do oxigênio dito anterior-
mente.
Como desvantagem: não permite dife-
renciar facilmente a energia consumida no O procedimento utilizado têm algu-
trabalho e a consumida nas restantes ati- mas variantes dependendo dos equi-
vidades. pamentos disponíveis e das condições
2. Situar o sujeito em um calorímetro em que se desenvolve a atividade la-
realizando sua atividade laborar. Tendo borar, mas em forma geral requer da
em conta que na última instância toca a medição de:
energia consumida durante o trabalho se a) a ventilação pulmonar (volume de ar
converte em calor, pode-se medir o gasto espirado por unidade de tempo) I/min;
energético a partir dele. Para isto o indi-
víduo é situado em um calorímetro o sufi- b) a concentração do oxigênio no ar es-
cientemente grande para permitir a reali- pirado.
zação da atividade laboral avaliada. Como o volume do ar depende das con-
Desvantagens: é um procedimento dições de pressão, temperatura e conteú-
complexo que só é possível a nível de la- do de vapor de água, estas condições de-
boratório e muitas atividades laborais são vem especificar-se. São elas:
impossíveis de realizar em um espaço limi- BTPS – volume do ar à temperatura do
tado. corpo e pressão barométrica ambiental sa-
3. Calorimetria indireta. turado de umidade (condições do ar espira-
do imediatamente a saída do corpo);
Tem seu fundamento no método ante-
rior mais em lugar de medir diretamente o ATPS – volume do ar à temperatura do
calor gerado pelo sujeito o faz indiretamen- corpo e pressão barométrica ambiental sa-
te. Baseia-se em que a geração de calor re- turado de umidade (condições do ar espi-
aliza-se devido a oxidação dos alimentos rado coletado em um depósito não isolado
pelo que é possível determiná-lo medindo depois de transcorrido um período);
o oxigênio consumido pelo sujeito duran- STPD – volume do ar seco à uma tempe-
te seu trabalho. Este método baseia-se no ratura de 0°C e 760 mm de Hg de pressão
fato de que a obtenção de energia dos ali- que são as condições normalizadas.
mentos deve-se a sua oxidação com o oxi-
gênio que se obtém durante a respiração. A quantidade de energia obtida por litro
de oxigênio em STPD depende da propor-
A quantidade de energia obtida por litro ção de carboidratos e grassas oxidadas, o
de oxigênio depende do tipo de alimento que a sua vez depende da dieta, da intensi-
oxidado, mais na prática pode utilizar-se dade do trabalho em relação com a Capaci-
um valor de 20 KJ/I (4,8 Kcal) STPD. O mé- dade de Trabalho Físico (CTF) do indivíduo
todo de calorimetria indireta consiste na e da duração do trabalho.
medição do consumo de oxigênio do traba-
14

Como vimos, ergonomia, antes de mais será muito requerida num futuro próximo.
nada, é uma atitude profissional que se
agrega à prática de uma profissão defini-
da. Neste sentido, é possível falar de um
médico ergonomista, de um psicólogo er-
gonomista, de um designer ergonomista e
assim por diante. Esta atitude profissional
advém da própria definição estabelecida
pela Associação Brasileira de Ergonomia,
com base num debate mundial: A Ergono-
mia objetiva modificar os sistemas de tra-
balho para adequar a atividade nele exis-
tentes às características, habilidades e
limitações das pessoas com vistas ao seu
desempenho eficiente, confortável e se-
guro (ABERGO, 2000).

Esta definição que coloca:


Finalidades – modificar os sistemas
de trabalho;

Propósitos – adequar a atividade às


características, habilidades e limitações
das pessoas; e,

Critérios – eficiência, conforto e se-


gurança,

necessita ser complementada por uma


outra, que estabeleça qual a tecnologia
a que a Ergonomia está referida ou que
possua um referente de suas finalidades,
propósitos e critérios. Esta tecnologia é a
tecnologia de realização de interfaces en-
tre as pessoas e os sistemas.

Não resta dúvida que se trata de um de-


safio que requer uma alta competência da
parte do ergonomista. A nosso ver este é
exatamente um dos fatores explicativos
da explosão da demanda por ergonomia.
Se fosse algo simples, todos estariam fa-
zendo há muito tempo (VIDAL, 2001).

Atentem-se para esta dica: a ergonomia


15

UNIDADE 4 - Os Sistemas de Trabalho

4.1 Planejamento dos siste- A capacidade de força rápida é a capa-


cidade de superar uma resistência exter-
mas de trabalho e a aplica- na ao movimento com elevada rapidez de
ção de forças contração. A rapidez do movimento de-
pende da capacidade máxima de força e
A primeira grande área da ergonomia
do tamanho da resistência (força externa)
preocupa-se com o planejamento dos sis-
que se quer vencer.
temas de trabalho de atividades fisicamen-
te pesadas, com altos gastos energéticos e Por sua vez, a capacidade de resistência
acúmulo de ácido láctico no sangue do tra- de força é a capacidade de se opor à fadiga
balhador, com a possibilidade de acidose no emprego repetido da força, isto é, rea-
metabólica. Nesta área também estudam- lizar um esforço relativamente prolongado
-se ambientes com altas temperaturas. com emprego de força.
De maneira geral, podemos dizer que Na resistência de força é particularmen-
força é a característica humana com a qual te importante a maneira como é produzida
se move uma massa (seu próprio corpo, ou e transformada a energia. A resistência de
um implemento esportivo), sua habilidade força pode ter um metabolismo aeróbio e
em dominar ou reagir a uma resistência anaeróbio.
pela ação muscular. Ela é um pressuposto
para o rendimento que permite se opor a 4.2 Biomecânica
uma resistência. A segunda grande área da ergonomia, a
Aqui temos conceitos como a capacida- área da biomecânica, preocupa-se com os
de de força máxima, a capacidade de força movimentos e posturas de trabalho, estu-
rápida e a capacidade de resistência de for- dando a anatomia corporal relacionada à
ça. posição ocupacional do empregado.

Define-se como máxima a força que Nesta área também estuda-se o que de-
pode ser desenvolvida por uma máxima corre de uma jornada de um trabalhador na
contração muscular. Segundo as condições posição sentada.
desta contração máxima, distinguimos
uma capacidade máxima de força estática 4.3 Antropometria
e uma de força dinâmica. Na força estáti- A terceira grande área, utiliza-se da
ca existe um equilíbrio entre as forças in- antropometria para medir as dimensões
ternas e externas, enquanto na dinâmica humanas e seus ângulos de conforto e
prevalece a força interna (quando vence desconforto, e, com base nestes dados,
a resistência ao movimento e o trabalho é planejam-se postos de trabalho confortá-
positivo) ou a força externa (quando se é veis e ergonomicamente adequados aos
vencido pela resistência e o trabalho é ne- empregados. A ergonomia tenta planejar
gativo). postos que atendam à 90% da população,
16

sendo muito importante para isso o conhe- extensores do dorso; o trabalho com os
cimento do padrão antropométrico popu- braços esticados provocam dores nos om-
lacional. bros e braços; o assento muito alto causa
dores na parte inferior das pernas, joelhos
Aqui temos: e pés; e caso o assento seja muito baixo,
Antropometria estática – refere-se as dores se localizam no dorso e pescoço
a medidas gerais de segmentos corporais, (IIDA, 1993).
estando o indivíduo em posição estática;
O trabalho estático em pé é extrema-
Antropometria dinâmica – refere- mente fatigante e exige muito da muscu-
-se aos pequenos movimentos realizados latura envolvida para manter a postura,
pelos segmentos corporais nos três planos além de haver uma tendência em curvar o
de secções anatômicas; dorso para frente o que provoca dores no
pescoço e coluna. Além disso, esta postura
Antropometria funcional – refere- provoca dores nos pés e pernas contribuin-
-se a análise dos movimentos específicos do bastante para o surgimento de varizes.
de uma atividade considerando os três pla-
nos de secção e delimitações anatômicas Portanto, a elaboração de um posto de
em um posto de trabalho. trabalho direcionado para oferecer maior
produtividade da máquina e do homem
Muitas vezes afastadas para segundo respeitando a interação entre eles e o meio
plano, as condições em que o trabalho de- ambiente minimizam a necessidade de fu-
corre são um ponto-chave para um bom turas correções e a sua complexidade. En-
rendimento no trabalho e para índices de tretanto, estas correções são inevitáveis,
satisfação e motivação elevados por parte pois um posto de trabalho é algo que deve
do operador. estar constantemente se adaptando ao
As principais causas de stress relaciona- funcionário que nele opera. Porém, um fa-
das com o envolvimento físico dos postos tor importante a ser considerado é a bar-
de trabalho decorrem de deficientes con- reira que tais medidas têm que transpor
dições ao nível da iluminação, da tempera- pois, em muitos casos, os investimentos
tura/umidade, do ruído, das vibrações e da feitos em máquinas e equipamentos no
ventilação. antigo posto de trabalho inviabilizam uma
correção do mesmo.
4.4 Dimensionamento dos
Iluminação
postos de trabalho e limita-
O trabalho da grande maioria das pesso-
ções sensoriais as depende da visão e da luz que permite
Um posto de trabalho mau dimensiona- essa visão. A iluminação no posto de tra-
do obriga o operário a trabalhar com postu- balho é complexa devido a três fatores: o
ra inadequada que fatalmente irá provocar tipo de tarefa a realizar, os contrastes que
dores incômodas que afetam seu desem- se estabelecem e o tipo de superfícies que
penho. Sendo assim, um assento sem en- compõem o posto.
costo pode provocar dores nos músculos
17

Os níveis de iluminação devem diferen- As diferenças individuais assumem,


ciar-se quando o trabalho é de precisão e aqui, grande importância já que situações
minúcia ou, pelo contrário, é um trabalho intoleráveis para alguns, podem apenas se
com tarefas normais que não necessita de desconfortáveis para outros. Até no mes-
intensidades tão elevadas de luminosida- mo indivíduo a sua reação ao estresse tér-
de. mico pode variar em momentos diferentes,
consoante a situação ou estado psicológi-
Com níveis de iluminação adequados,
co.
em função das cores, dos contrastes, do
tipo de superfície utilizada, das capacida- Por outro lado, o tipo de alimentação
des e características de quem trabalha, também é susceptível de afetar a reação
poderão obter-se melhores performances, do homem às condicionantes térmicas do
aumentando-se o rendimento no trabalho, envolvimento. Trabalhar em ambientes de-
a produtividade e a satisfação no local de sadequados do ponto de vista térmico, em
trabalho, para além de reduzirem os riscos, condições de desconforto, provoca, geral-
quer da ocorrência de acidentes de traba- mente, ineficiência, desagrado, frustração
lho, quer para a saúde dos colaboradores. e manifestações neuróticas, entre outros
Os contrastes com a iluminação artificial e sintomas.
natural existente no local, os fenômenos
de reflexão da luz no olho humano, a per- Ruído
cepção das cores do écran e das letras e
O trabalho decorre muitas vezes em am-
símbolos, são variáveis que podem desen-
bientes ruidosos que, embora possam não
cadear níveis de estresse elevados e sin-
parecer prejudiciais, fruto da capacidade
tomas que provocam alterações no normal
de adaptação do organismo humano ao
decorrer do trabalho.
meio que o rodeia, vão, a pouco e pouco,
Existem quatro fatores que deter- degradando as estruturas auditivas e as do
minam o nível de estresse térmico im- sistema nervoso central e periférico.
posto pelo envolvimento: A utilização de ferramentas ruidosas é
A temperatura do ar; outra das causa de estresse, neste caso
intimamente relacionada com o proble-
As trocas de calor radiante; ma das vibrações, já que em muitos locais
A velocidade do ar; onde existe ruído ocorrem fenômenos vi-
bratórios, precisamente devido às caren-
A umidade. tes condições que constituem o envolvi-
Eles interagem entre si, de forma que mento neste tipo de postos.
a alteração num fator pode influenciar os A ansiedade, perturbações de sono, ou
outros fatores. Outros fatores influenciam hipertensão, são algumas das consequên-
o estresse térmico, tais como o nível de cias do efeito do ruído sobre o homem.
energia despendido e as roupas utilizadas
pelas pessoas, bem como o tipo de ativida- Ventilação
de desenvolvida.
Com a introdução do ar condicionado
18

na maior parte dos edifícios e escritórios,


criaram-se condições para surgir uma nova
causa de estresse. A qualidade do ar res-
pirado, as diferenças individuais entre co-
legas de trabalho que ocupam um mesmo
espaço e o tipo de tarefa e esforço a de-
sempenhar, condicionam o nível de venti-
lação ótimo requerido para trabalhar.

No meio industrial, as condições de ven-


tilação assumem uma importância ainda
maior devido ao contato com gases, poei-
ras e materiais tóxicos que expõem o apa-
relho respiratório e o organismo em geral a
ambientes extremos.
19
UNIDADE 5 - Dispositivos de Controle e de
Informação
Os dispositivos de controle e de infor- dos sistemas. Um display visual pode
mação são as partes das máquinas que ser classificado em 4 tipos:
dão as mais variadas informações aos seus
respectivos operadores. Sobre os display O mostrador (mais conhecido pelo
visuais, alguns autores os classificam em: termo em inglês “Dial”) é o display que
contém uma escala graduada, sobre a
Quantitativos – são os que indicam qual o valor é indicado por um ponteiro. Ex
numericamente a grandeza da variável : marcador de velocidade;
medida;
O Indicador é o display que forne-
Qualitativos – são usados para se ce tão somente uma indicação sobre um
medir condições de operação. Os campos dado evento ou situação. Ex.: a luz no pai-
da escala que definem as condições de nel do carro que indica que a “luz alta” do
operação do sistema, são codificados, ge- farol;
ralmente, por cores e não por numerais;
Dispositivo de alerta é o display que
de Checamento – são utilizados ape- tem por função chamar a atenção para
nas para verificação de uma dada condi- uma mudança no sistema que requer a
ção, não envolvendo medida quantitativa; atenção imediata. Ex.: a luz que indica
uma baixa pressão do óleo;
de Alerta – usado como principal dis-
positivo para apresentação de sinais de Contador é o display que dá a infor-
alerta, através de luzes, de preferência mação diretamente em numerais. Ex.: o
na cor vermelha, devendo os demais dis- marcador de quilometragem.
positivos na vizinhança serem de outras
cores. No que diz respeito à localização, Os display sonoros são usados como
recomenda-se que as luzes de alerta se- alerta ou emergência. Têm a grande van-
jam colocadas na parte central do painel. tagem de atingir todos os funcionários,
As luzes de alerta devem ser de grande independente da posição ou do posto de
brilho, porém sem ofuscar o operador e, trabalho. Pode perder a eficiência em lo-
na medida do possível, do tipo pisca-pisca. cais muito barulhentos, ou em situações
em que os trabalhadores estejam usando
O Display Visual é o mais usado, incluin- protetores auriculares.
do números, símbolos, luzes, etc. Tem a
vantagem de fornecer uma grande quan- Os alarmes sonoros devem ter um nível
tidade de informações, porém não podem de som que atinja a todas as pessoas in-
ser observados a distância. Exigem a pre- teressadas, e uma frequência entre 2 e 4
sença constante de um funcionário em KHz (banda de frequências mais sensível
frente ao painel de instrumentos. do ouvido humano).

O projeto de um display é de vital im- Os dispositivos visuais são os mais uti-


portância para a segurança e proteção lizados, e servem para uma grande gama
de informações. Os dispositivos sonoros
20

são principalmente alarmes e de feedba- da face, do centro de rotação até a cauda.


ck.
o ângulo recomendado para a ponta é
Os mostradores podem ser qualitati- de 20º (UNESP, 2005).
vos (usados para faixas de valores), como
Se pensarmos em uma unidade indus-
exemplo: mostradores pictóricos e luzes
trial, encontraremos os controles auto-
de advertência e quantitativos (analógi-
matizados que já são uma realidade global
cos ou digitais). Sendo de três tipos: de es-
e tem como objetivo alcançar maior produ-
cala física; ponteiro móvel; escala móvel e
tividade e redução de custos. Contudo, a
ponteiro fixo digital.
experiência revelou que isso nem sempre
Os digitais são mais rapidamente lidos é verdadeiro. O investimento para implan-
e os erros de leitura são menores, entre- tação de sistemas automáticos é elevado
tanto, não podem ser utilizados quando e, além disso, a nova instalação requer
as quantidades/valores variam rapida- recursos, inclusive humanos, dispendio-
mente. A preferência deve ser os de es- sos para sua manutenção. Atualmente, o
cala fixa/ponteiro móvel e deve-se utilizar principal motor da automação é a busca
apenas um ponteiro por mostrador. de maior qualidade dos processos, para
reduzir perdas (com reflexo em custos) e
Os instrumentos com ponteiros móveis
possibilitar a fabricação de bens que de
e escala fixa são divididos em sete tipos:
outra forma não poderiam ser produzidos,
escala reta, escala em arco, escala verti-
bem como do aumento da sua flexibilida-
cal retal, escala reta em arco, escalas seg-
de (GUTIERREZ, KOO PAN, 2008).
mentadas, escalas concêntricas e escalas
excêntricas. Na automação de um processo produ-
tivo, é necessário empregar dispositivos
As escalas devem ser de metal, entre 7
mecânicos, elétricos e eletrônicos que
e 30 cm de comprimento, com face branca
desempenhem funções equivalentes às
ou preta e as graduações e números em
humanas nas atividades de supervisão e
preto ou em branco. Os números devem
controle, tais como coleta e análise de da-
ser posicionados horizontalmente e não
dos e correção de rumos. Para o atributo
radialmente, e, de preferência, do lado de
dos sentidos humanos, foram desenvolvi-
fora para evitar que o ponteiro os cubra.
dos os sensores ou instrumentos de me-
Os ponteiros devem seguir as se- dição, que medem e informam os dados
guintes recomendações: sobre o andamento do processo. Para as
funções executadas pelo cérebro huma-
ser o mais simples possível; no, foram criados dispositivos denomina-
estender-se até as marcas menores dos controladores, que recebem e pro-
sem cobri-las; cessam as informações fornecidas pelos
sensores, calculando as medidas a adotar
estar o mais próximo possível da face e emitindo instruções para os atuado-
para evitar erros de paralaxe; res. Esses são os dispositivos que execu-
ter a mesma cor das marcas, do cen- tam as ações que seriam realizadas pelos
tro de rotação até a ponta, e da mesma cor membros humanos para corrigir variações
21

detectadas pelos outros dispositivos ou


alterar as respostas do processo.

De todo modo, o que deve ficar claro é


que todos estes instrumentos dependem
em algum momento de uma atuação do
ser humano, portanto, devem ser trei-
nados e capacitados para sua utilização,
pois algum erro por provocar acidentes de
trabalho para si ou para outros trabalha-
dores, sendo importante um acompanha-
mento por parte do Engenheiro de Segu-
rança do Trabalho na sua implementação
e rotinas de manutenção.
22
UNIDADE 6 - Organização e Métodos
de Trabalho
6.1 Sistema homem-máqui- americanos que propõem um tratamento
sistêmico para a Ergonomia onde todos po-
na dem se enxergar: a ergonomia seria a ciência
Podemos considerar o sistema homem- de sistemas homens-máquinas. Sua ideia era
-máquina como a primeira geração da Ergo- de considerar tanto o ser humano quanto as
nomia. Por definição é um sistema no qual máquinas industriais domínios de disciplinas
as funções de um operador humano (ou um distintas da ergonomia: as ciências do ho-
grupo de operadores) e uma máquina são in- mem individual e a engenharia de máquinas.
tegrados. Este termo pode também ser usa-
Neste sentido eram problemas que não
do para enfatizar a vista de tal sistema como
caberiam na episteme desta disciplina nas-
uma única entidade que interage com o am-
cente. Esta teoria tem um domínio bem de-
biente externo (BEZERRA, 1998).
finido, a zona de relacionamento entre o ser
O primeiro estágio histórico da ergonomia humano e seus objetos e instrumentos de
estabeleceu-se à partir da II Guerra Mundial, trabalho, não importando a forma ou instân-
principalmente com o projeto ergonômico de cia desse relacionamento. Advogando por
estações de trabalho industriais na Europa e uma sociedade futurista e acreditando no
no Japão (reconstrução do pós guerra), e na mito da eliminação do trabalho dito manual,
indústria aeroespacial dos Estados Unidos. os mesmos autores citados anteriormente
Rapidamente, a ergonomia se expandiu até colocam,
alcançar, também, os sistemas de transpor-
te, os produtos de consumo, aspectos de se- os anos recentes e particularmente
gurança, etc. os da Segunda Grande Guerra produzi-
Esta primeira geração da ergonomia enfo- ram um crescimento bastante sensível
cou o projeto das interfaces homem-máqui- do número de pesquisas aplicadas ao
na, que incluíram os comandos e controles, problema da concepção de máquinas
displays, arranjos do espaço de trabalho e o visando uma melhor utilização pelo
ambiente físico do trabalho. A grande maio- ser humano. O termo americano Enge-
ria das pesquisas enfocava as características nharia de Fatores Humanos aparece
físicas perceptuais do homem e a aplicação para designar o estudo e a realização
destes conhecimentos no projeto de má- das máquinas, dos postos de trabalho
quinas e equipamentos. Por esta razão, este e mesmo dos ambientes que possam
primeiro estágio foi considerado o estágio corresponder às capacidades e limites
da ergonomia física e denominado “tecnolo- do homem. A finalidade da Ergonomia
gia da interface homem-máquina” (HENDRI- (neste paradigma) é, portanto, de con-
CK,1986). ceber equipamentos, ritmos e ambien-
tes de trabalho que possam facilitar ao
Ao se referir ao sistema homem-máquina processos de informação, de decisão e
de TIFFIN e MCCORMICK, VIDAL (1994), as- de execução para obter um rendimento
sim se coloca, neste cenário, dois psicólogos
23

então, o estágio da ergonomia de softwa-


máximo do conjunto do sistema ho- re e denominado estágio da “tecnologia
mem- máquina. (.....) o modelo de sis- de interfaces usuário-sistema”. Importan-
tema homem-máquina se aplica a tes contribuições na melhoria e no desen-
um reduzido número de situações de volvimento de produtos e sistemas têm
trabalho onde o campo da atividade sido alcançados com este enfoque, que
humana se resume a um conjunto de como primeiro continua a ter grande apli-
ações sobre as interfaces de um pro- cação atualmente (HENDRICK,1986).
cesso produtivo; no entanto, não se
A terceira geração da ergonomia, isto
presta para descrever atividades onde
é, a macroergonomia surge devido às
o objeto de trabalho é parte essencial
constantes mudanças decorrentes da
no desenvolver da atividade (TIFFIN e
organização do trabalho e pelo desen-
MCCORMICK, VIDAL, 1994).
volvimento tecnológico, e se caracteriza
pela aplicação de conhecimentos sobre
Num segundo momento evolutivo da
pessoas e organizações ao projeto, imple-
ergonomia ocorre uma mudança na pre-
mentação e uso de tecnologia (TAVEIRA
ocupação central do aspecto do homem,
FILHO,1993).
deixa-se de ter como ponto principal os
aspectos físicos e perceptuais do trabalho Para Hendrick (1986), a tecnologia da
e passa-se para a sua natureza cognitiva, ergonomia é a tecnologia da interface
esta alteração se reflete em decorrência homem-sistema, isto é, enquanto ciência
de uma presença mais intensiva de siste- a ergonomia lida com as capacidades hu-
mas computacionais no meio de trabalho manas e em como esses fatores se rela-
e, consequentemente, o uso de processa- cionam com o projeto das interfaces entre
mento de informação tornou-se uma pre- as pessoas e os demais componentes do
ocupação central (TAVEIRA FILHO,1993). sistema.

As ciências cognitivas (inteligência na- Esta terceira geração vem em res-


tural) e a inteligência artificial começaram posta a importantes mudanças que
a ser estudadas, mais ou menos ao mesmo estão afetando o trabalho do homem,
tempo, aos fins dos anos 50. Formalismos, particularmente com relação:
ferramentas e programas são as três áre-
as de desenvolvimento em inteligência 1) à tecnologia – o rápido desenvolvi-
artificial. O casamento da Psicologia Cog- mento de novas tecnologias nas indústrias
nitiva com a inteligência artificial permitiu de computadores e das telecomunicações
que diversos desses formalismos relati- afetará profundamente a organização do
vos à representação do conhecimento em trabalho e as interfaces homem-máquina;
mecanismos inerentes ao processo relati- 2) a mudanças demográficas – au-
vo à aquisição desses conhecimentos fos- mento da idade média da população e a
sem utilizados como Modelo Teórico para extensão da vida produtiva dos trabalha-
a psicologia (SANTOS,1991). dores levando a um contexto de traba-
Este segundo estágio é considerado, lhadores mais experientes, melhor pre-
parados e profissionalizados, exigindo
24

organizações menos formalizadas e pro- originalmente proposto pelos pesquisa-


cessos de tomada de decisão mais des- dores KAGEYU NORO e ANDREW IMADA,
centralizados. em 1994 e, desde então, tem se firmado
como “a nova tecnologia para dissemina-
3) a mudanças de valores – trabalha-
ção da ergonomia”, sendo também consi-
dores atualmente valorizam e esperam ter
derada como a abordagem mais apropria-
um maior controle sobre o planejamento e
da e mais aplicada dentro do contexto da
execução do seu trabalho, maior respon-
macroergonomia.
sabilidade de tomada de decisão e tare-
fas mais largamente definidas, de forma a O processo participativo inclui qua-
permitir maior senso de responsabilidade tro áreas específicas: declaração de ob-
e realização; e, jetivos, tomada de decisões, solução de
problemas e planejamento, e condução
4) ao aumento da competitividade
das mudanças organizacionais (SASHKIN,
mundial – a sobrevivência de qualquer
1986 apud BEZERRA, 1996).
grande empresa no futuro dependerá da
eficiência de operação e a produção de A participação do trabalhador tem tido
produtos de qualidade (HENDRICK,1986). uma grande diversidade de significados,
formas e motivos no curso do século vin-
Para BROWN JR (1990 apud BEZERRA,
te. Muitos termos diferentes são usados
1998): “a macroergonomia entende as or-
para descrever – ou prescrever – o envol-
ganizações como sistemas sócio-técnicos
vimento ativo do trabalhador na tomada
e incorpora conceitos e procedimentos
de decisão no trabalho: participação do
da teoria dos sistemas sócio-técnicos ao
trabalhador, democracia industrial, con-
campo da ergonomia”. A macroergonomia,
trole dos trabalhadores, autogerencia-
portanto, entendendo as organizações
mento, democracia no local de trabalho,
como sistemas abertos, em permanen-
co-determinação, envolvimento dos em-
te interação com o ambiente e evidente-
pregados, qualidade de vida no trabalho.
mente, passando por processos de adap-
Esta diversidade reflete não somente pe-
tação e, ao mesmo tempo, passíveis de
ríodos históricos, tradições nacionais ou
apresentar disfunções organizacionais,
teorias acadêmicas, mas a realidade do
que se refletem nas suas performances
conflito e significado, discutidos sobre a
e muito particularmente, no subsistema
natureza do trabalho, a distribuição do
social, através da metodologia própria da
poder e, muito frequentemente, o futuro
ergonomia – a análise ergonômica do tra-
da própria sociedade industrial.
balho – desenvolve a análise do trabalho,
e promove o tratamento da interface MÁ- Em sua evolução conceitual, verifica-se
QUINA - HOMEM - ORGANIZAÇÃO. que a ergonomia, hoje, se constitui numa
ferramenta de gestão empresarial. De
Cabe ainda discorrer, mesmo que rapi-
nada adianta a certificação de processos
damente sobre a ergonomia participativa
e produtos, se não se consegue certificar
que propicia uma perspectiva na macroer-
sentimentos, crenças, hábitos, costumes,
gonomia.
isto é, certificar o homem. Uma das for-
Segundo Bezerra (1996), o termo foi mas de compatibilizar os sistemas técnico
25

e social, é evidentemente, o que precei- Existe uma grande variedade de


tua a ergonomia: a visão antropocêntrica. turnos no mundo, como:
O centro das atenções no homem, isto a) sistema tradicional de três turnos de
é, a antropocentricidade da Ergonomia, 8 horas cada por dia;
favorece não só mudanças organizacio-
nais, como também alavanca mudanças b) dois turnos perfazendo 16 horas
no conceito de produtividade, este sendo quando não se trabalha no turno da noite;
visto à partir da qualidade de vida no tra- c) dois turnos de 12 horas perfazendo
balho, observando, dentre outros parâ- 24 horas por dia. Nas plataformas maríti-
metros: a participação do trabalhador, a mas de petróleo, face às longas distância
liberdade para a criação e a valorização do dos locais de trabalho aos centros urba-
saber fazer. nos, trabalha-se geralmente 14 dias se-
guidos, 12 horas por dia, e a seguir folga-
6.2 Trabalho em turno -se 14, 21 ou 28 dias, dependendo do país
O trabalho em turnos é de estudo com- (EUA, Brasil e Noruega, respectivamente);
plexo por lidar com variáveis de difícil
d) Turno único pela tarde ou pela
mensuração, abranger muitas variáveis
noite – garçons e garçonetes, por exem-
que atuam fora do local de trabalho e tra-
plo, trabalham apenas no turno vesper-
tar de assuntos subjetivos e de caráter
tino. Alguns vigias trabalham apenas no
multidisciplinar.
turno da noite (overnight ou graveyard);
Há uma grande definição para traba-
e) Turnos de fins de semana e feria-
lho em turnos (shiftwork). Aqui conside-
dos (bridging shift) – algumas empresas
raremos como horário normal de traba-
usam equipes específicas para os fins de
lho o que ocorre à luz do dia, geralmente
semana, aliviando as equipes do reveza-
iniciando de 06 às 08 horas da manhã e
mento normal do sacrifício familiar e so-
terminando de 16 às 18 h, com tempo de
cial do trabalho nos fins de semana. Uma
trabalho diário de 8 horas, de segunda a
escala praticada na Europa e apreciada
sexta-feira. Assim, todo trabalho con-
em particular pelas mulheres mães e tra-
tínuo fora deste período é considerado
balhadoras é a de 12 horas no sábado, 12
como trabalho em turno.
horas no domingo e 8 horas em outro dia
Os turnos caracterizam-se pelo núme- da semana perfazendo 30 horas sema-
ro e duração diária de cada jornada, pela nais;
velocidade de rotação (número de dias f) Turnos intermediários (split shift)
seguidos em cada turno) e pela direção da – usados em indústrias com picos de tra-
rotação. Na rotação para a frente os tra- balho diários como catering e transporte
balhadores mudam da manhã para a tar- de passageiros;
de e daí para a noite. Na rotação para trás
sucede o oposto. Os turnos podem ser g) Turnos de sobreaviso (on call shift)
constituídos por trabalhadores de tempo – os trabalhadores permanecem à dispo-
integral ou por empregados contratados sição da empresa aguardando solicitações
por tempo parcial. eventuais;
26

h) Outros – para atender a tendência para cuidar da família ou de projetos pes-


nos EUA e Europa de menor carga horá- soais como estudar, o trabalho com menor
ria de trabalho e maior flexibilidade dos supervisão, o uso de trajes mais confortá-
turnos, há uma variedade de turnos dife- veis e menos formais, a possibilidade de
renciados, com frequência cumpridos por frequentar estabelecimentos comerciais,
trabalhadores autônomos ou de tempo esportivos, artísticos, etc., em horários
parcial. de menor movimento e o espírito de gru-
po que desenvolve-se em certos casos.
As três fontes principais de difi- Muitos trabalhadores preferem o turno da
culdades advindas do trabalho em noite pela maior liberdade em termos de
turnos são: 1) a adaptação dos ritmos atitudes e ritmo de trabalho, sendo que
biológicos às inversões dos períodos de alguns tornam-se mais produtivos e cria-
atividade e repouso; 2) as perturbações tivos neste turno (RODRIGUES, 1998).
do sono; 3) os fatores domésticos e so-
ciais.

Vários autores, a partir da análise de


dados empíricos, propuseram modelos te-
óricos que explicam as interações entre as
variáveis dependentes e independentes
que atuam nos processos de trabalho em
turnos e que podem resultar em doenças.

Numa análise sucinta das princi-


pais consequências negativas do tra-
balho em turnos, temos:
Acidentes pessoais e industriais;
Desempenho e produtividade;
Custos;
Distúrbios psicossomáticos;
Obesidade;
Riscos à saúde: coração, mente, apa-
relho gastro-intestinal;
Longevidade;
Abuso de drogas;
Problemas de sono;
Vida familiar;
Vida social e lazer.

Mas o trabalho em turno também apre-


senta vantagens. Dentre elas podem ser
citadas os adicionais salariais, a possibili-
dade de se obter agenda mais favorável
27

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30

ANEXOS

ANEXO I d) garantir um espaço adequado para li-


vre movimentação do operador e colocação
TRABALHO DOS OPERADORES DE da cadeira, a fim de permitir a alternância do
CHECKOUT trabalho na posição em pé com o trabalho na
posição sentada;
(Aprovado pela Portaria SIT nº 08, de 30
de março de 2007) e) manter uma cadeira de trabalho com
assento e encosto para apoio lombar, com
1. Objetivo e campo de aplicação
estofamento de densidade adequada, ajus-
1.1. Esta Norma objetiva estabelecer pa- táveis à estatura do trabalhador e à natureza
râmetros e diretrizes mínimas para adequa- da tarefa;
ção das condições de trabalho dos operado-
f) colocar apoio para os pés, independen-
res de checkout, visando à prevenção dos
te da cadeira;
problemas de saúde e segurança relaciona-
dos ao trabalho. g) adotar, em cada posto de trabalho, sis-
tema com esteira eletro-mecânica para fa-
1.2. Esta Norma aplica-se aos emprega-
cilitar a movimentação de mercadorias nos
dores que desenvolvam atividade comercial
checkouts com comprimento de 2,70 metros
utilizando sistema de autosserviço e che-
ou mais;
ckout, como supermercados, hipermercados
e comércio atacadista. h) disponibilizar sistema de comunicação
com pessoal de apoio e supervisão;
2. O posto de trabalho
i) manter mobiliário sem quinas vivas ou
2.1. Em relação ao mobiliário do checkout
rebarbas, devendo os elementos de fixação
e às suas dimensões, incluindo distâncias e
(pregos, rebites, parafusos) ser mantidos de
alturas, no posto de trabalho deve-se:
forma a não causar acidentes.
a) atender às características antropomé-
2.2. Em relação ao equipamento e às fer-
tricas de 90% dos trabalhadores, respeitan-
ramentas utilizadas pelos operadores de
do os alcances dos membros e da visão, ou
checkout para o cumprimento de seu traba-
seja, compatibilizando as áreas de visão com
lho, deve-se:
a manipulação;
a) escolhê-los de modo a favorecer os mo-
b) assegurar a postura para o trabalho na
vimentos e ações próprias da função, sem
posição sentada e em pé, e as posições con-
exigência acentuada de força, pressão, pre-
fortáveis dos membros superiores e inferio-
ensão, flexão, extensão ou torção dos seg-
res, nessas duas situações;
mentos corporais;
c) respeitar os ângulos limites e trajetórias
b) posicioná-los no posto de trabalho den-
naturais dos movimentos, durante a execu-
tro dos limites de alcance manual e visual do
ção das tarefas, evitando a flexão e a torção
operador, permitindo a movimentação dos
do tronco;
31

membros superiores e inferiores e respei- a) negociação do tamanho e volume das


tando a natureza da tarefa; embalagens de mercadorias com fornecedo-
res;
c) garantir proteção contra acidentes
de natureza mecânica ou elétrica nos che- b) uso de equipamentos e instrumentos
ckouts, com base no que está previsto nas de tecnologia adequada;
normas regulamentadoras do MTE ou em
c) formas alternativas de apresentação
outras normas nacionais, tecnicamente re-
do código de barras da mercadoria ao leitor
conhecidas;
ótico, quando existente;
d) mantê-los em condições adequadas de
d) disponibilidade de pessoal auxiliar,
funcionamento.
quando necessário;
2.3. Em relação ao ambiente físico de tra-
e) outras medidas que ajudem a reduzir a
balho e ao conjunto do posto de trabalho, de-
sobrecarga do operador na manipulação de
ve-se:
mercadorias.
a) manter as condições de iluminamento,
3.2. O empregador deve adotar mecanis-
ruído, conforto térmico, bem como a prote-
mos auxiliares sempre que, em função do
ção contra outros fatores de risco químico e
grande volume ou excesso de peso das mer-
físico, de acordo com o previsto na NR-17 e
cadorias, houver limitação para a execução
outras normas regulamentadoras;
manual das tarefas por parte dos operado-
b) proteger os operadores de checkout res de checkout.
contra correntes de ar, vento ou grandes va-
3.3. O empregador deve adotar medidas
riações climáticas, quando necessário;
para evitar que a atividade de ensacamento
c) utilizar superfícies opacas, que evitem de mercadorias se incorpore ao ciclo de tra-
reflexos incômodos no campo visual do tra- balho ordinário e habitual dos operadores de
balhador. checkout, tais como:

2.4. Na concepção do posto de trabalho do a) manter, no mínimo, um ensacador a


operador de checkout deve-se prever a pos- cada três checkouts em funcionamento;
sibilidade de fazer adequações ou ajustes
b) proporcionar condições que facilitem o
localizados, exceto nos equipamentos fixos,
ensacamento pelo cliente;
considerando o conforto dos operadores.
c) outras medidas que se destinem ao
3. A manipulação de mercadorias
mesmo fim.
3.1. O empregador deve envidar esforços
3.3.1. A escolha dentre as medidas relacio-
a fim de que a manipulação de mercadorias
nadas no item 3.3 é prerrogativa do empre-
não acarrete o uso de força muscular exces-
gador.
siva por parte dos operadores de checkout,
por meio da adoção de um ou mais dos se- 3.4. A pesagem de mercadorias pelo ope-
guintes itens, cuja escolha fica a critério da rador de checkout só poderá ocorrer quando
empresa: os seguintes requisitos forem atendidos si-
multaneamente:
32

a) balança localizada frontalmente e pró- ckouts com características diferentes;


xima ao operador;
f) outras medidas que ajudem a manter o
b) balança nivelada com a superfície do movimento adequado de atendimento sem
checkout; a sobrecarga do operador de checkout.

c) continuidade entre as superfícies do 4.2. São garantidas saídas do posto de


checkout e da balança, admitindo-se até dois trabalho, mediante comunicação, a qualquer
centímetros de descontinuidade em cada momento da jornada, para que os operado-
lado da balança; res atendam às suas necessidades fisiológi-
cas, ressalvado o intervalo para refeição pre-
d) teclado para digitação localizado a uma
visto na Consolidação das Leis do Trabalho.
distância máxima de 45 centímetros da bor-
da interna do checkout; 4.3. É vedado promover, para efeitos de
remuneração ou premiação de qualquer es-
e) número máximo de oito dígitos para os
pécie, sistema de avaliação do desempenho
códigos de mercadorias que sejam pesadas.
com base no número de mercadorias ou
3.5. Para o atendimento no checkout, de compras por operador.
pessoas idosas, gestantes, portadoras de
4.4. É atribuição do operador de checkout
deficiências ou que apresentem algum tipo
a verificação das mercadorias apresentadas,
de incapacidade momentânea, a empresa
sendo-lhe vedada qualquer tarefa de segu-
deve disponibilizar pessoal auxiliar, sempre
rança patrimonial.
que o operador de caixa solicitar.
5. Os aspectos psicossociais do trabalho
4. A organização do trabalho
5.1. Todo trabalhador envolvido com o tra-
4.1. A disposição física e o número de che-
balho em checkout deve portar um disposi-
ckouts em atividade (abertos) e de operado-
tivo de identificação visível, com nome e/ou
res devem ser compatíveis com o fluxo de
sobrenome, escolhido(s) pelo próprio traba-
clientes, de modo a adequar o ritmo de tra-
lhador.
balho às características psicofisiológicas de
cada operador, por meio da adoção de pelo 5.2. É vedado obrigar o trabalhador ao uso,
menos um dos seguintes itens, cuja escolha permanente ou temporário, de vestimentas
fica a critério da empresa: ou propagandas ou maquilagem temática,
que causem constrangimento ou firam sua
a) pessoas para apoio ou substituição,
dignidade pessoal.
quando necessário;
6. Informação e formação dos trabalhado-
b) filas únicas por grupos de checkouts;
res
c) caixas especiais (idosos, gestantes, de-
6.1. Todos os trabalhadores envolvidos
ficientes, clientes com pequenas quantida-
com o trabalho de operador de checkout
des de mercadorias);
devem receber treinamento, cujo objetivo é
d) pausas durante a jornada de trabalho; aumentar o conhecimento da relação entre o
seu trabalho e a promoção à saúde.
e) rodízio entre os operadores de che-
33

6.2. O treinamento deve conter noções e implementação do Programa de Prevenção


sobre prevenção e os fatores de risco para de Riscos Ambientais.
a saúde, decorrentes da modalidade de tra-
7. Disposições Transitórias
balho de operador de checkout, levando em
consideração os aspectos relacionados a: 7.1. As obrigações previstas neste anexo
serão exigidas após encerrados os seguintes
a) posto de trabalho;
prazos:
b) manipulação de mercadorias;
7.1.1. Para os subitens 1.1; 1.2; 3.2; 3.5; 4.2;
c) organização do trabalho; 4.3 e 4.4, prazo de noventa dias.

d) aspectos psicossociais do trabalho; 7.1.2. Para os subitens 2.1 “h”; 2.2 “c” e “d”;
2.3 “a” e “b”; 3.1 e alíneas; 4.1 e alíneas; 5.1;
e) agravos à saúde mais encontrados en-
5.2; e 6.3, prazo de cento e oitenta dias. (alte-
tre operadores de checkout.
rado pela Portaria SIT n.º 13, de 21 de junho
6.2.1. Cada trabalhador deve receber trei- de 2007)
namento com duração mínima de duas horas,
7.1.3. Para Subitens 2.1 “e” e “f”; 3.3 “a”, “b”
até o trigésimo dia da data da sua admissão,
e “c”; 3.3.1; 6.1; 6.2 e alíneas; 6.2.1; 6.4; 6.5 e
com reciclagem anual e com duração mínima
6.6, prazo de um ano. (alterado pela Portaria
de duas horas, ministrados durante sua jor-
SIT n.º 13, de 21 de junho de 2007)
nada de trabalho.
7.1.4. Para os subitens 2.1 “a”, “b”, “c”, “d”,
6.3. Os trabalhadores devem ser informa-
“g” e “i”; 2.2 “a” e “b”; 2.3 “c”; 2.4 e 3.4 e alíne-
dos com antecedência sobre mudanças que
as, prazos conforme o seguinte cronograma:
venham a ocorrer no processo de trabalho.
a) Janeiro de 2008 – todas as lojas novas
6.4. O treinamento deve incluir, obrigato-
ou que forem submetidas a reformas;
riamente, a disponibilização de material di-
dático com os tópicos mencionados no item b) Até julho de 2009 – 15% das lojas;
6.2 e alíneas.
c) Até dezembro de 2009 – 35% das lojas;
6.5. A forma do treinamento (contínuo ou
d) Até dezembro de 2010 – 65% das lojas;
intermitente, presencial ou à distância, por
palestras, cursos ou audiovisual) fica a crité- e) Até dezembro de 2011 – todas as lojas.
rio de cada empresa.

6.6. A elaboração do conteúdo técnico e


ANEXO II
avaliação dos resultados do treinamento de- TRABALHO EM TELEATENDIMENTO/
vem contar com a participação de integran- TELEMARKETING
tes do Serviço Especializado em
(Aprovado pela Portaria SIT nº 09, de 30
Segurança e Medicina do Trabalho e da de março de 2007)
Comissão Interna de Prevenção de Aciden-
tes, quando houver, e do coordenador do 1. O presente Anexo estabelece parâme-
Programa de Controle Médico de Saúde Ocu- tros mínimos para o trabalho em atividades
pacional e dos responsáveis pela elaboração de teleatendimento/telemarketing nas di-
34

versas modalidades desse serviço, de modo mínimo, aos seguintes parâmetros:


a proporcionar um máximo de conforto, se-
a) o monitor de vídeo e o teclado devem
gurança, saúde e desempenho eficiente.
estar apoiados em superfícies com mecanis-
1.1. As disposições deste Anexo aplicam- mos de regulagem independentes;
-se a todas as empresas que mantêm servi-
b) será aceita superfície regulável única
ço de teleatendimento/telemarketing nas
para teclado e monitor quando este for do-
modalidades ativo ou receptivo em centrais
tado de regulagem independente de, no mí-
de atendimento telefônico e/ou centrais de
nimo, 26 (vinte e seis) centímetros no plano
relacionamento com clientes
vertical;
(call centers), para prestação de serviços,
c) a bancada sem material de consulta
informações e comercialização de produtos.
deve ter, no mínimo, profundidade de 75 (se-
1.1.1. Entende-se como call center o am- tenta e cinco) centímetros medidos a partir
biente de trabalho no qual a principal ati- de sua borda frontal e largura de 90 (noven-
vidade é conduzida via telefone e/ou rádio ta) centímetros que proporcionem zonas de
com utilização simultânea de terminais de alcance manual de, no máximo, 65 (sessen-
computador. ta e cinco) centímetros de raio em cada lado,
medidas centradas nos ombros do operador
1.1.1.1. Este Anexo aplica-se, inclusive, a
em posição de trabalho;
setores de empresas e postos de trabalho
dedicados a esta atividade, além daquelas d) a bancada com material de consulta
empresas especificamente voltadas para deve ter, no mínimo, profundidade de 90
essa atividade-fim. (noventa) centímetros a partir de sua borda
frontal e largura de 100 (cem) centímetros
1.1.2. Entende-se como trabalho de te-
que proporcionem zonas de alcance manual
leatendimento/telemarketing aquele cuja
de, no máximo, 65 (sessenta e cinco) centí-
comunicação com interlocutores clientes e
metros de raio em cada lado, medidas cen-
usuários é realizada a distância por intermé-
tradas nos ombros do operador em posição
dio da voz e/ou mensagens eletrônicas, com
de trabalho, para livre utilização e acesso de
a utilização simultânea de equipamentos de
documentos;
audição/escuta e fala telefônica e sistemas
informatizados ou manuais de processa- e) o plano de trabalho deve ter bordas ar-
mento de dados. redondadas;

2. MOBILIÁRIO DO POSTO DE TRABALHO f) as superfícies de trabalho devem ser re-


guláveis em altura em um intervalo mínimo
2.1. Para trabalho manual sentado ou que
de 13 (treze) centímetros, medidos de sua
tenha de ser feito em pé deve ser proporcio-
face superior, permitindo o apoio das plantas
nado ao trabalhador mobiliário que atenda
dos pés no piso;
aos itens 17.3.2, 17.3.3 e 17.3.4 e alíneas, da
Norma Regulamentadora nº 17 (NR 17) e que g) o dispositivo de apontamento na tela
permita variações posturais, com ajustes de (mouse) deve estar apoiado na mesma su-
fácil acionamento, de modo a prover espaço perfície do teclado, colocado em área de fá-
suficiente para seu conforto, atendendo, no cil alcance e com espaço suficiente para sua
35

livre utilização; tido antero-posterior, com forma levemente


adaptada ao corpo para proteção da região
h) o espaço sob a superfície de trabalho
lombar; largura de, no mínimo, 40 (quarenta)
deve ter profundidade livre mínima de 45
centímetros e, com relação aos encostos, de
(quarenta e cinco) centímetros ao nível dos
no mínimo, 30,5 (trinta vírgula cinco) centí-
joelhos e de 70 (setenta) centímetros ao ní-
metros;
vel dos pés, medidos de sua borda frontal;
9. apoio de braços regulável em altura de
i) nos casos em que os pés do operador não
20 (vinte) a 25 (vinte e cinco) centímetros
alcançarem o piso, mesmo após a regulagem
a partir do assento, sendo que seu compri-
do assento, deverá ser fornecido apoio para
mento não deve interferir no movimento de
os pés que se adapte ao comprimento das
aproximação da cadeira em relação à mesa,
pernas do trabalhador, permitindo o apoio
nem com os movimentos inerentes à execu-
das plantas dos pés, com inclinação ajustável
ção da tarefa.
e superfície revestida de material antiderra-
pante; 3. EQUIPAMENTOS DOS POSTOS DE TRA-
BALHO
j) os assentos devem ser dotados de:
3.1. Devem ser fornecidos gratuitamen-
1. apoio em 05 (cinco) pés, com rodízios
te conjuntos de microfone e fone de ouvido
cuja resistência evite deslocamentos invo-
(head-sets) individuais, que permitam ao
luntários e que não comprometam a estabi-
operador a alternância do uso das orelhas
lidade do assento;
ao longo da jornada de trabalho e que sejam
2. superfícies onde ocorre contato corpo- substituídos sempre que apresentarem de-
ral estofadas e revestidas de material que feitos ou desgaste devido ao uso.
permita a perspiração;
3.1.2. Alternativamente, poderá ser for-
3. base estofada com material de densida- necido um head set para cada posto de aten-
de entre 40 (quarenta) a 50 (cinquenta) kg/ dimento, desde que as partes que permitam
m3; qualquer espécie de contágio ou risco à saú-
de sejam de uso individual.
4. altura da superfície superior ajustável,
em relação ao piso, entre 37 (trinta e sete) 3.1.3. Os head-sets devem:
e 50 (cinquenta) centímetros, podendo ser
a) ter garantidas pelo empregador a corre-
adotados até 03 (três) tipos de cadeiras com
ta higienização e as condições operacionais
alturas diferentes, de forma a atender às ne-
recomendadas pelos fabricantes;
cessidades de todos os operadores;
b) ser substituídos prontamente quando
5. profundidade útil de 38 (trinta e oito) a
situações irregulares de funcionamento fo-
46 (quarenta e seis) centímetros;
rem detectadas pelo operador;
6. borda frontal arredondada;
c) ter seus dispositivos de operação e con-
7. características de pouca ou nenhuma troles de fácil uso e alcance;
conformação na base;
d) permitir ajuste individual da intensida-
8. encosto ajustável em altura e em sen- de do nível sonoro e ser providos de sistema
36

de proteção contra choques acústicos e ruí- trada no INMETRO, observando o nível de ru-
dos indesejáveis de alta intensidade, garan- ído aceitável para efeito de conforto de até
tindo o entendimento das mensagens. 65 dB(A) e a curva de avaliação de ruído (NC)
de valor não superior a 60 dB;
3.2. O empregador deve garantir o corre-
to funcionamento e a manutenção contínua b) índice de temperatura efetiva entre
dos equipamentos de comunicação, incluin- 20ºC e 23ºC;
do os conjuntos de head-sets, utilizando
c) velocidade do ar não superior a 0,75
pessoal técnico familiarizado com as reco-
m/s;
mendações dos fabricantes.
d) umidade relativa do ar não inferior a
3.3. Os monitores de vídeo devem pro-
40% (quarenta por cento).
porcionar corretos ângulos de visão e ser
posicionados frontalmente ao operador, 4.2.1. Devem ser implementados projetos
devendo ser dotados de regulagem que per- adequados de climatização dos ambientes
mita o correto ajuste da tela à iluminação do de trabalho que permitam distribuição ho-
ambiente, protegendo o trabalhador contra mogênea das temperaturas e fluxos de ar
reflexos indesejáveis. utilizando, se necessário, controles locais e/
ou setorizados da temperatura, velocidade e
3.4. Toda introdução de novos métodos
direção dos fluxos.
ou dispositivos tecnológicos que traga al-
terações sobre os modos operatórios dos 4.2.2. As empresas podem instalar higrô-
trabalhadores deve ser alvo de análise er- metros ou outros equipamentos que permi-
gonômica prévia, prevendo-se períodos e tam ao trabalhador acompanhar a tempera-
procedimentos adequados de capacitação e tura efetiva e a umidade do ar do ambiente
adaptação. de trabalho.
4. CONDIÇÕES AMBIENTAIS DE TRABALHO 4.3. Para a prevenção da chamada “síndro-
me do edifício doente”, devem ser atendidos:
4.1. Os locais de trabalho devem ser do-
tados de condições acústicas adequadas à a) o Regulamento Técnico do Ministério da
comunicação telefônica, adotando-se medi- Saúde sobre “Qualidade do Ar de Interiores
das tais como o arranjo físico geral e dos pos- em Ambientes Climatizados”, com redação
tos de trabalho, pisos e paredes, isolamento da Portaria MS nº 3.523, de 28 de agosto de
acústico do ruído externo, tamanho, forma, 1998 ou outra que a venha substituir;
revestimento e distribuição das divisórias
b) os Padrões Referenciais de Qualidade
entre os postos, com o fim de atender o dis-
do Ar Interior em ambientes climatizados ar-
posto no item 17.5.2, alínea “a” da NR-17.
tificialmente de uso público e coletivo, com
4.2. Os ambientes de trabalho devem redação dada pela Resolução RE nº 9, de 16
atender ao disposto no subitem 17.5.2 da NR- de janeiro de 2003, da ANVISA – Agência Na-
17, obedecendo-se, no mínimo, aos seguin- cional de
tes parâmetros:
Vigilância Sanitária, ou outra que a venha
a) níveis de ruído de acordo com o estabe- substituir, à exceção dos parâmetros físicos
lecido na NBR 10152, norma brasileira regis- de temperatura e umidade definidos no item
37

4.2 deste Anexo; res na elaboração das escalas laborais que


acomodem necessidades especiais da vida
c) o disposto no item 9.3.5.1 da Norma Re-
familiar dos trabalhadores com dependen-
gulamentadora nº 9 (NR 9).
tes sob seus cuidados,
4.3.1. A documentação prevista nas alíne-
especialmente nutrizes, incluindo flexibi-
as “a” e “b” deverá estar disponível à fiscali-
lidade especial para trocas de horários e utili-
zação do trabalho.
zação das pausas.
4.3.2. As instalações das centrais de ar
5.1.3. A duração das jornadas de traba-
condicionado, especialmente o plenum de
lho somente poderá prolongar-se além do
mistura da casa de máquinas, não devem ser
limite previsto nos termos da lei em casos
utilizadas para armazenamento de quais-
excepcionais, por motivo de força maior,
quer materiais.
necessidade imperiosa ou para a realização
4.3.3. A descarga de água de condensado ou conclusão de serviços inadiáveis ou cuja
não poderá manter qualquer ligação com a inexecução possa acarretar prejuízo mani-
rede de esgoto cloacal. festo, conforme dispõe o Artigo 61 da CLT,
realizando a comunicação à autoridade com-
5. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO
petente, prevista no §1º do mesmo artigo,
5.1. A organização do trabalho deve ser no prazo de 10 (dez) dias.
feita de forma a não haver atividades aos
5.1.3.1. Em caso de prorrogação do horário
domingos e feriados, seja total ou parcial,
normal, será obrigatório um descanso míni-
com exceção das empresas autorizadas pre-
mo de 15 (quinze) minutos antes do início do
viamente pelo Ministério do Trabalho e Em-
período extraordinário do trabalho, de acor-
prego, conforme o previsto no Artigo 68,
do com o Artigo 384 da CLT.
“caput”, da CLT e das atividades previstas em
lei. 5.2. O contingente de operadores deve
ser dimensionado às demandas da produção
5.1.1. Aos trabalhadores é assegurado,
no sentido de não gerar sobrecarga habitual
nos casos previamente autorizados, pelo
ao trabalhador.
menos um dia de repouso semanal remune-
rado coincidente com o domingo a cada mês, 5.2.1. O contingente de operadores em
independentemente de metas, faltas e/ou cada estabelecimento deve ser suficiente
produtividade. para garantir que todos possam usufruir as
pausas e intervalos previstos neste Anexo.
5.1.2. As escalas de fins de semana e de
feriados devem ser especificadas e informa- 5.3. O tempo de trabalho em efetiva ativi-
das aos trabalhadores com a antecedência dade de teleatendimento/telemarketing é
necessária, de conformidade com os Artigos de, no máximo, 06 (seis) horas diárias, nele
67, parágrafo único, e 386 da CLT, ou por in- incluídas as pausas, sem prejuízo da remune-
termédio de acordos ou convenções coleti- ração.
vas.
5.3.1. A prorrogação do tempo previsto no
5.1.2.1. Os empregadores devem levar em presente item só será admissível nos termos
consideração as necessidades dos operado- da legislação, sem prejuízo das pausas pre-
38

vistas neste Anexo, respeitado o limite de 5.4.4. As pausas para descanso devem ser
36 (trinta e seis) horas semanais de tempo consignadas em registro impresso ou eletrô-
efetivo em atividade de nico.

teleatendimento/telemarketing. 5.4.4.1. O registro eletrônico de pausas


deve ser disponibilizado impresso para a fis-
5.3.2. Para o cálculo do tempo efetivo em
calização do trabalho no curso da inspeção,
atividade de teleatendimento/telemarke-
sempre que exigido.
ting devem ser computados os períodos em
que o operador encontra-se no posto de tra- 5.4.4.2. Os trabalhadores devem ter aces-
balho, os intervalos entre os ciclos laborais e so aos seus registros de pausas.
os deslocamentos para solução de questões
5.4.5. Devem ser garantidas pausas no
relacionadas ao trabalho.
trabalho imediatamente após operação
5.4. Para prevenir sobrecarga psíquica, onde haja ocorrido ameaças, abuso verbal,
muscular estática de pescoço, ombros, dorso agressões ou que tenha sido especialmen-
e membros superiores, as empresas devem te desgastante, que permitam ao operador
permitir a fruição de pausas de descanso e recuperar-se e socializar conflitos e dificul-
intervalos para repouso e alimentação aos dades com colegas, supervisores ou profis-
trabalhadores. sionais de saúde ocupacional especialmente
capacitados para tal acolhimento.
5.4.1. As pausas deverão ser concedidas:
5.5. O tempo necessário para a atualiza-
a) fora do posto de trabalho;
ção do conhecimento do operador e para o
b) em 02 (dois) períodos de 10 (dez) minu- ajuste do posto de trabalho é considerado
tos contínuos; como parte da jornada normal.

c) após os primeiros e antes dos últimos 5.6. A participação em quaisquer modali-


60 (sessenta) minutos de trabalho em ativi- dades de atividade física, quando adotadas
dade de teleatendimento/telemarketing. pela empresa, não é obrigatória, e a recusa
do trabalhador em praticá-la não poderá ser
5.4.1.1. A instituição de pausas não pre-
utilizada para efeito de qualquer punição.
judica o direito ao intervalo obrigatório para
repouso e alimentação previsto no §1° do 5.7. Com o fim de permitir a satisfação das
Artigo 71 da CLT. necessidades fisiológicas, as empresas de-
vem permitir que os operadores saiam de
5.4.2. O intervalo para repouso e alimen-
seus postos de trabalho a qualquer momen-
tação para a atividade de teleatendimento/
to da jornada, sem repercussões sobre suas
telemarketing deve ser de 20 (vinte) minu-
avaliações e remunerações.
tos.
5.8. Nos locais de trabalho deve ser per-
5.4.3. Para tempos de trabalho efetivo de
mitida a alternância de postura pelo traba-
teleatendimento/telemarketing de até 04
lhador, de acordo com suas conveniência e
(quatro) horas diárias, deve ser observada a
necessidade.
concessão de 01 pausa de descanso contí-
nua de 10 (dez) minutos. 5.9. Os mecanismos de monitoramento
39

da produtividade, tais como mensagens nos trabalhadores ou grupos/equipes de traba-


monitores de vídeo, sinais luminosos, cromá- lho;
ticos, sonoros, ou indicações do tempo utili-
b) exigência de que os trabalhadores
zado nas ligações ou de filas de clientes em
usem, de forma permanente ou temporária,
espera, não podem ser utilizados para ace-
adereços, acessórios, fantasias e vestimen-
leração do trabalho e, quando existentes,
tas com o objetivo de punição, promoção e
deverão estar disponíveis para consulta pelo
propaganda;
operador, a seu critério.
c) exposição pública das avaliações de de-
5.10. Para fins de elaboração de progra-
sempenho dos operadores.
mas preventivos devem ser considerados os
seguintes aspectos da organização do traba- 5.14. Com a finalidade de reduzir o estres-
lho: se dos operadores, devem ser minimizados
os conflitos e ambiguidades de papéis nas
a) compatibilização de metas com as con-
tarefas a executar, estabelecendo-se cla-
dições de trabalho e tempo oferecidas;
ramente as diretrizes quanto a ordens e
b) monitoramento de desempenho; instruções de diversos níveis hierárquicos,
autonomia para resolução de problemas, au-
c) repercussões sobre a saúde dos traba-
torização para transferência de chamadas e
lhadores decorrentes de todo e qualquer sis-
consultas necessárias a colegas e superviso-
tema de avaliação para efeito de remunera-
res.
ção e vantagens de qualquer espécie;
5.15. Os sistemas informatizados devem
d) pressões aumentadas de tempo em
ser elaborados, implantados e atualizados
horários de maior demanda;
contínua e suficientemente, de maneira a
e) períodos para adaptação ao trabalho. mitigar sobretarefas como a utilização cons-
tante de memória de curto prazo, utilização
5.11. É vedado ao empregador:
de anotações precárias, duplicidade e con-
a) exigir a observância estrita do script ou comitância de anotações em papel e sistema
roteiro de atendimento; informatizado.

b) imputar ao operador os períodos de 5.16. As prescrições de diálogos de tra-


tempo ou interrupções no trabalho não de- balho não devem exigir que o trabalhador
pendentes de sua conduta. forneça o sobrenome aos clientes, visando
resguardar sua privacidade e segurança pes-
5.12. A utilização de procedimentos de soal.
monitoramento por escuta e gravação de
ligações deve ocorrer somente mediante o 6. CAPACITAÇÃO DOS TRABALHADORES
conhecimento do operador.
6.1. Todos os trabalhadores de operação
5.13. É vedada a utilização de métodos e de gestão devem receber capacitação que
que causem assédio moral, medo ou cons- proporcione conhecer as formas de adoe-
trangimento, tais como: cimento relacionadas à sua atividade, suas
causas, efeitos sobre a saúde e medidas de
a) estímulo abusivo à competição entre prevenção.
40

6.1.1. A capacitação deve envolver, tam- ciais ou de procedimentos.


bém, obrigatoriamente os trabalhadores
6.3. A elaboração do conteúdo técnico, a
temporários.
execução e a avaliação dos resultados dos
6.1.2. A capacitação deve incluir, no míni- procedimentos de capacitação devem con-
mo, aos seguintes itens: tar com a participação de:

a) noções sobre os fatores de risco para a a) pessoal de organização e métodos res-


saúde em teleatendimento/telemarketing; ponsável pela organização do trabalho na
empresa, quando houver;
b) medidas de prevenção indicadas para a
redução dos riscos relacionados ao trabalho; b) integrantes do Serviço Especializado
em Segurança e Medicina do Trabalho, quan-
c) informações sobre os sintomas de ado-
do houver;
ecimento que possam estar relacionados a
atividade de teleatendimento/telemarke- c) representantes dos trabalhadores na
ting, principalmente os que envolvem o sis- Comissão Interna de Prevenção de Aciden-
tema osteomuscular, a saúde mental, as fun- tes, quando houver;
ções vocais, auditivas e acuidade visual dos
d) médico coordenador do Programa de
trabalhadores;
Controle Médico de Saúde Ocupacional;
d) informações sobre a utilização correta
e) responsáveis pelo Programa de Preven-
dos mecanismos de ajuste do mobiliário e
ção de Riscos de Ambientais; representan-
dos equipamentos dos postos de trabalho,
tes dos trabalhadores e outras entidades,
incluindo orientação para alternância de ore-
quando previsto em acordos ou convenções
lhas no uso dos fones mono ou bi-auriculares
coletivas de trabalho.
e limpeza e substituição de tubos de voz;
7. CONDIÇÕES SANITÁRIAS DE CONFORTO
e) duração de 04 (quatro) horas na ad-
missão e reciclagem a cada 06 (seis) meses, 7.1. Devem ser garantidas boas condições
independentemente de campanhas educa- sanitárias e de conforto, incluindo sanitários
tivas que sejam promovidas pelos emprega- permanentemente adequados ao uso e se-
dores; parados por sexo, local para lanche e armá-
rios individuais dotados de chave para guar-
f) distribuição obrigatória de material di-
da de pertences na jornada de trabalho.
dático impresso com o conteúdo apresenta-
do; 7.2. Deve ser proporcionada a todos os
trabalhadores disponibilidade irrestrita e
g) realização durante a jornada de traba-
próxima de água potável, atendendo à Nor-
lho.
ma Regulamentadora nº 24 – NR 24.
6.2. Os trabalhadores devem receber qua-
7.3. As empresas devem manter ambien-
lificação adicional à capacitação obrigató-
tes confortáveis para descanso e recupera-
ria referida no item anterior quando forem
ção durante as pausas, fora dos ambientes
introduzidos novos fatores de risco decor-
de trabalho, dimensionados em proporção
rentes de métodos, equipamentos, tipos es-
adequada ao número de operadores usuá-
pecíficos de atendimento, mudanças geren-
41

rios, onde estejam disponíveis assentos, fa- potável fornecida gratuitamente aos opera-
cilidades de água potável, instalações sani- dores.
tárias e lixeiras com tampa.
8.3. A notificação das doenças profissio-
8. PROGRAMAS DE SAÚDE OCUPACIONAL nais e das produzidas em virtude das condi-
E DE PREVENÇÃO DE RISCOS AMBIENTAIS ções especiais de trabalho, comprovadas ou
objeto de suspeita, será obrigatória por meio
8.1. O Programa de Controle Médico de
da emissão de Comunicação de Acidente de
Saúde Ocupacional - PCMSO, além de aten-
Trabalho, na forma do Artigo 169 da CLT e da
der à Norma Regulamentadora nº 7 (NR 7),
legislação vigente da Previdência Social.
deve necessariamente reconhecer e regis-
trar os riscos identificados na análise ergo- 8.4. As análises ergonômicas do trabalho
nômica. devem contemplar, no mínimo, para atender
à NR-17:
8.1.1. O empregador deverá fornecer có-
pia dos Atestados de Saúde Ocupacional e a) descrição das características dos pos-
cópia dos resultados dos demais exames. tos de trabalho no que se refere ao mobili-
ário, utensílios, ferramentas, espaço físico
8.2. O empregador deve implementar um
para a execução do trabalho e condições de
programa de vigilância epidemiológica para
posicionamento e movimentação de seg-
detecção precoce de casos de doenças rela-
mentos corporais;
cionadas ao trabalho comprovadas ou obje-
to de suspeita, que inclua procedimentos de b) avaliação da organização do trabalho
vigilância passiva (processando a demanda demonstrando:
espontânea de trabalhadores que procu-
1. trabalho real e trabalho prescrito;
rem serviços médicos) e procedimentos de
vigilância ativa, por intermédio de exames 2. descrição da produção em relação ao
médicos dirigidos que incluam, além dos tempo alocado para as tarefas;
exames obrigatórios por norma, coleta de
3. variações diárias, semanais e mensais
dados sobre sintomas referentes aos apa-
da carga de atendimento, incluindo varia-
relhos psíquico, osteomuscular, vocal, visual
ções sazonais e intercorrências técnico-ope-
e auditivo, analisados e apresentados com a
racionais mais frequentes;
utilização de ferramentas estatísticas e epi-
demiológicas. 4. número de ciclos de trabalho e sua des-
crição, incluindo trabalho em turnos e traba-
8.2.1. No sentido de promover a saúde vo-
lho noturno;
cal dos trabalhadores, os empregadores de-
vem implementar, entre outras medidas: 5. ocorrência de pausas interciclos;
a) modelos de diálogos que favoreçam mi- 6. explicitação das normas de produção,
cropausas e evitem carga vocal intensiva do das exigências de tempo, da determinação
operador; do conteúdo de tempo, do ritmo de trabalho
e do conteúdo das tarefas executadas;
b) redução do ruído de fundo;
7. histórico mensal de horas extras reali-
c) estímulo à ingestão frequente de água
zadas em cada ano;
42

8. explicitação da existência de sobrecar- 17.


gas estáticas ou dinâmicas do sistema oste-
9. PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
omuscular;
9.1. Para as pessoas com deficiência e
c) relatório estatístico da incidência de
aquelas cujas medidas antropométricas não
queixas de agravos à saúde colhidas pela
sejam atendidas pelas especificações deste
Medicina do Trabalho nos prontuários médi-
Anexo, o mobiliário dos postos de trabalho
cos;
deve ser adaptado para atender às suas ne-
d) relatórios de avaliações de satisfação cessidades, e devem estar disponíveis aju-
no trabalho e clima organizacional, se reali- das técnicas necessárias em seu respectivo
zadas no âmbito da empresa; posto de trabalho para facilitar sua integra-
ção ao trabalho, levando em consideração as
e) registro e análise de impressões e su-
repercussões sobre a saúde destes traba-
gestões dos trabalhadores com relação aos
lhadores.
aspectos dos itens anteriores;
9.2. As condições de trabalho, incluindo
f) recomendações ergonômicas expres-
o acesso às instalações, mobiliário, equipa-
sas em planos e propostas claros e objetivos,
mentos, condições ambientais, organização
com definição de datas de implantação.
do trabalho, capacitação, condições sani-
8.4.1. As análises ergonômicas do traba- tárias, programas de prevenção e cuidados
lho deverão ser datadas, impressas, ter fo- para segurança pessoal devem levar em con-
lhas numeradas e rubricadas e contemplar, ta as necessidades dos trabalhadores com
obrigatoriamente, as seguintes etapas de deficiência.
execução:
10. DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
a) explicitação da demanda do estudo;
10.1. As empresas que no momento da
b) análise das tarefas, atividades e situa- publicação da portaria de aprovação deste
ções de trabalho; Anexo mantiverem com seus trabalhadores
a contratação de jornada de 06 (seis) horas
c) discussão e restituição dos resultados
diárias, nelas contemplados e remunerados
aos trabalhadores envolvidos;
15 (quinze) minutos de intervalo para repou-
d) recomendações ergonômicas específi- so e alimentação, obrigar-se-ão somente
cas para os postos avaliados; à complementação de 05 (cinco) minutos,
igualmente remunerados, de maneira a al-
e) avaliação e revisão das intervenções cançar o total de 20 (vinte) minutos de pau-
efetuadas com a participação dos trabalha- sas obrigatórias remuneradas, concedidos
dores, supervisores e gerentes; na forma dos itens 5.4.1 e 5.4.2.
f) avaliação da eficiência das recomenda- 10.2. O disposto no item 2 desta norma
ções. (MOBILIÁRIO DO POSTO DE TRABALHO) será
8.5. As ações e princípios do Programa de implementado em um prazo para adaptação
Prevenção de Riscos Ambientais – PPRA de- gradual de, no máximo, 05 (cinco) anos, sen-
vem ser associados àqueles previstos na NR- do de 10% (dez por cento) no primeiro ano,
43

25%

(vinte e cinco por cento) no segundo ano,


45% (quarenta e cinco) no terceiro ano, 75%
(setenta e cinco por cento) no quarto ano e
100% (cem por cento) no quinto ano.

10.3. Será constituída comissão perma-


nente para fins de acompanhamento da im-
plementação, aplicação e revisão do presen-
te Anexo.

10.4. O disposto nos itens 5.3 e seus subi-


tens e 5.4 e seus subitens entrarão em vigor
em 120 (cento e vinte) dias da data de publi-
cação da portaria de aprovação deste Anexo,
com exceção do item 5.4.4 que entrará em
vigor em 180 (cento e oitenta) dias da publi-
cação desta norma.

10.5. Ressalvado o disposto no item 10.2


e com exceção dos itens 5.3, 5.4, este anexo
passa a vigorar no prazo de 90 (noventa) dias
de sua publicação.
44

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