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MEMORABILIA DO JUDÔ EM SANTOS

ESTÓRIAS, MEMÓRIAS E PERSONAGENS

Inicialmente, o Memórias do Judô em


Santos nasceu do esforço dos veteranos
deste esporte em registrar suas memórias
através de depoimentos, entrevistas e
encontros realizados no Centro de Memória
Esportiva Museu De Vaney, equipamento
municipal que reúne e estimula o convívio
de atletas amadores. O espaço existe desde
1991 e concentra galeria de troféus
conquistados por atletas amadores que
defenderam a cidade nos Jogos Abertos e
Regionais a partir de 1939 o que lhe
conferiu o status de museu. Conta ainda,
com cronologia esportiva, acervo
iconográfico, biblioteca e hemeroteca
esportiva além de acervos pessoais doados
por atletas, professores e técnicos
esportivos sendo também um espaço de

convivência de esportistas da velha guarda. Subordinado à Secretaria de Esportes foi


criado pela Prefeitura Municipal de Santos e tem como patrono o saudoso jornalista,
escritor e cronista esportivo Adriano Neiva da Motta e Silva, o De Vaney, que
manteve, durante décadas, uma legião de fãs de suas crônicas sendo o responsável
por colaborar para que Santos, cidade litorânea do estado de São Paulo, fosse eleita
como o município mais esportivo do Brasil.

Hoje, muitos destes missionários do Judô, responsáveis por introduzir e divulgar o


esporte no Brasil e em diversos municípios, incluindo a cidade de Santos não estão
mais entre nós. Porém, as memórias de suas trajetórias permaneceram vivas e
contém preciosos ensinamentos de fundo moral, filosófico e espiritual, próprios da
essência do Judô.

Kodansha José Gomes de Medeiros

Após décadas tentando divulgar os primórdios desta fascinante história, finalmente


“a missão” foi cumprida através deste projeto de memorabilia.

Tal realização só foi possível devido ao esforço incansável e idealista do Kodansha


José Gomes de Medeiros que conheceu, aprendeu e conviveu com a primeira
geração de judocas de Santos. Por sua dedicação ao Judô como atleta, professor e
árbitro não somente herdou o legado de seus antecessores como conquistou o
direito incontestável de rememorar os feitos de seus mestres às vindouras gerações.

Por mais de sessenta anos, Medeiros reuniu uma vasta coleção de fotografias,
depoimentos, entrevistas e notícias publicadas em revistas e jornais, anotações de
próprio punho, medalhas, troféus, diplomas, flâmulas e emblemas.

Durante toda a sua vida, o amistoso sensei Medeiros cuidou de conhecer, integrar e
manter-se sempre acessível e disponível na divulgação, ensino e prática do esporte
da terra do sol nascente.

Interagiu e ainda interage, com grande disposição, com a comunidade judoística que
ajudou a formar e consolidar.

Treinou crianças, jovens e adultos para campeonatos tornando-se figura bastante


conhecida em Santos.

Nunca desistiu de honrar a promessa feita aos mestres que teve no Judô ao longo de
sua vida, a de escrever sobre a introdução do Judô na cidade que abraçou com sua.

Dedicou grande parte do seu tempo a garimpar informações junto a amigos e


parentes destes lendários judocas dos quais recebeu, inclusive, alguns acervos e
fotos pessoais.

E finalmente encontrou, anos depois, no mesmo Centro de Memória Esportiva onde


a missão de contar esta história surgiu, a organização necessária e a parceria
apropriada para que este projeto fosse realizado.

Eis a História do Judô em Santos! Uma história que convida a uma reflexão apurada
sobre os ideais do Judô, sua essência, sua filosofia e como isso era vivenciado e
honrado pelos ancestrais do esporte. Uma história de Kiais¹!

Simone Dimitrov Rocha Vieira

Kiai¹: grito de força que representa a “união dos espíritos.” No Japão, há a prática do Kiai do
— caminho do grito da força — em que o praticante chega a ter medo do próprio grito.
Também significa energia fluente, em sua tradução literal.
“A HISTÓRIA DO JUDÔ EM SANTOS”

Em Santos, o Judô demorou um pouco a chegar e, no final dos anos 40, a cidade
possuía uma grande colônia japonesa mas nenhuma academia que oferecesse o
treinamento do Judô.

SENSEI HIKARI KURACHI, O SAMURAI DOS SAMURAIS E INTRODUTOR DO JUDÔ EM SANTOS

O mais velho dos irmãos Kurachi, o Mestre Hikari


Kurachi, nasceu em 09 de abril de 1927, na Ilha de
Fukuoka-Japão, próximo a Nagasaki.

A família Kurachi chegou ao Brasil em 1934, a bordo


do navio Marina Maru no Porto de Santos/SP e
migrou para o interior de São Paulo estabelecendo-
se numa fazenda de cultivo de café em São
Simão/SP. No entanto, não se adaptaram a vida
pacata no campo vindo a fixar residência, um ano
depois, em Itapecerica da Serra/SP cidade que
concentrava muitas famílias japonesas dedicadas ao
cultivo de batata.

Aos 10 anos de idade, Hikari Kurachi iniciou os


treinos do Judô com o Sensei Yuiti Hasshizume que
Hikari Kurachi também lecionava japonês, Sumô e corridas em uma
Campeão Panamericano escola da colônia japonesa. Após as aulas normais, a
sala de aula tornava-se uma grande academia de
Judô.

O Judô sempre foi a grande paixão de Hikari Kurachi. Aos 16 anos de idade o jovem Kurachi
formou-se faixa preta. Aos 19, tornava-se 2º DAN de Judô devido as suas habilidades notáveis.
Após a aquisição do título de Nidan, tornou-se aluno do lendário Mestre Ryuzo Ogawa na
Academia Ogawa em São Paulo.

O mestre Ogawa costuma formar no Judô e posteriormente delegar a nobre missão aos seus
pupilos de introduzir o esporte em diferentes cidades do Brasil através de novos dojos filiados à
Associação Ogawa de Judô.

Sensei Ogawa havia tentado introduzir o Judô em Santos contando com a ajuda de Takeo Yano e
posteriormente enviou o seu filho Matsuo Ogawa porém foram tentativas sem sucesso.
A missão viria a ser realizada em 1947, quando o promissor Sensei Kurachi, com apenas 20 anos
de idade tornou-se 3° DAN. Após, foi enviado a Santos com a tarefa de iniciar os treinamentos
do Judô realizando finalmente o antigo sonho do persistente Mestre Ogawa. O desbravador e
perspicaz Mestre Hikari Kurachi se tornaria, oficialmente, o introdutor do Judô na cidade de
Santos.

A família Kurachi

Foto: Google Maps 2013


estabeleceu- se
inicialmente na Rua Chile
n° 12 no bairro da Vila
Nova em Santos, próximo
ao velho mercado.
Coincidentemente, eram
vizinhos de rua da família
de José Gomes de
Medeiros, na época com
13 anos de idade.
Saudosamente Sensei
Medeiros relembra que,
junto aos seus irmãos
costumavam acompanhar,
da janela de sua casa, a
programação da televisão Residência da Família Kurachi na Rua Chile n ° 12 em Santos/SP
dos japoneses, uma das Fonte: Depoimentos do Kodansha José Gomes de Medeiros e Sensei Onça.
primeiras famílias a
possuírem o aparelho.

Implantar a Associação Santista de Judô

Diferente de muitos companheiros de Judô de sua época, Hikari Kurachi não apreciava
apresentar-se em desafios, maneira encontrada por muitos adeptos do esporte para
realizar seus propósitos sendo que muitos viviam dos cachês dos desafios e outros até
fama conquistaram desta forma já que as revistas e jornais da época noticiavam essas
disputas e não haviam ainda campeonatos oficiais.

Assim que chegou em Santos, a primeira iniciativa de Kurachi foi a de buscar


patrocínios entre comerciantes santistas.

Era notório um senso nato de idealismo no Sensei. No entanto, o que mais chamava a
atenção era a sua visão empreendedora avançada em relação à sua época. O plano do
jovem Mestre era obter a cessão de um local para iniciar o treinamento do Judô entre
outras estratégias denotando uma visão orientada para o marketing esportivo, termo e
prática desconhecidos naquele tempo.

Persistente como todo aquele que tem espírito de campeão, Kurachi não demoveu
esforços até conseguir realizar o seu intento e assim cumprir a missão de fundar sua
própria academia, a Associação Santista de Judô que viria a ser conhecida como a
primeira academia oficial de Judô em Santos.

A sua sorte fora lançada e, até cumprir o seu intento, um longo caminho havia de ser
percorrido.

Uma ação midiática em pleno final dos anos de 1940

Para divulgar o treinamento do Judô, Kurachi


resolveu realizar uma demonstração da “Nobre
Art” que ficaria marcada na história esportiva da
cidade.

Para isso, era fundamental que esta


apresentação causasse grande impacto e
atraísse grande número de interessados.

Como bom estrategista que era, Kurachi


idealizou o evento dessa forma: a ele caberia a
apresentação das técnicas do Judô e a “lenda”
Carlos Gracie, que já possuía seguidores por
todo o Brasil, a imperdível demonstração das
técnicas do Jiu Jitsu brasileiro, que lhe fora
ensinado por Conde Koma e posteriormente
Carlos Gracie “chutando” Jiu Jitsu sistematizado pela família Gracie.
Para agradecer e homenagear a passagem de Carlos Gracie em Santos cujo nobre
propósito foi divulgar a arte do Jiu Jitsu, colaborar com a implantação do Judô e com
auxiliando grandemente o Mestre Kurachi em seu intento, disponibilizamos os 12
Ensinamentos de Carlos Gracie engrandecendo ainda mais essa Meborabilia e, ao
mesmo tempo, suscitando o resgate e a reflexão de importantes valores:
Ao extinto Esporte Clube Senador Feijó coube a cessão do espaço para a
apresentação que seria imperdível para a nata dos esportistas de Santos na época.

Sede do extinto E.C. Senador Feijó,


local onde ocorreu a primeira
apresentação oficial de Judô em Santos

O jornal A Tribuna graciosamente apoiou a novidade conforme o anúncio publicado


no jornal A Tribuna em 30 de setembro de 1949, página 06:
Uma carta póstuma é misteriosamente encontrada!

O saudoso judoka santista, Felício Agostinho da


Purificação, em carta póstuma pertencente ao
acervo do Centro de Memória Esportiva –
Museu De Vaney relata com grande emoção que
compareceu a demonstração de Judô realizada
pela Academia Hikari Kurachi na sede do E.C.
Senador Feijó

“Lá estavam presentes Gildo Gioia,


Moacir Costa, João Salgado entre outros
interessados que se tornariam, assim
que conquistassem a faixa preta, os
primeiros professores da região!”

Após o término da apresentação, Felício foi


apresentado ao Professor Hikari Kurachi por seu
O Sensei Felício Agostinho da amigo Gildo Gióia.
Purificação em foto de 1950, um
dos primeiros alunos do Sensei Kurachi então os convidou a filiar-se a entidade,
Hikari Kurachi. convite prontamente aceito com estusiasmo e
Fonte: Acervo pessoal de José grande satisfação!
Gomes de Medeiros – CME – Museu
De Vaney
João Salgado, Felício Agostinho da Purificação, Gildo Gioia, e Moacir Costa, faziam
parte da nata do esporte amador de Santos. Praticavam diversas modalidades
esportivas e se destacavam como grandes competidores na cidade isso em uma
época em que ser esportista não era profissão muito menos conduzia a fama e
fortuna. Era uma turma bastante eclética e interessada em novas modalidades.
Conheciam pouco sobre o esporte da terra do sol nascente mas nutriam grande
curiosidade e muita vontade de praticar algo diferente. Este esporte era, sem
dúvida, o Judô, modalidade que alia arte marcial e defesa pessoal. Sim, aulas de
Judô! Era tudo o que a cidade de Santos, a mais esportiva do Brasil, precisava ter e
ainda não tinha!

Mas agora havia um mestre procurando alunos e um dojo e isso não seria mais
problema já que havia o Gildo Gióia, o cara que animava a rapaziada a aderir as
novidades, maior divulgador que ele não havia!

E assim, o Gildo foi convencendo a turma a fazer aulas de Judô. E logo uma classe
havia sido montada! Agora só faltava encontrar um dojo, mesmo que provisório!
Em 05 de outubro de 1949, nascia oficialmente a Academia Santista de Judô,
também conhecida como Associação de Judô de Santos ou Academia Hikari Kurachi.

Um dojo no porão de uma velha pensão

Sensei Kurachi precisava de um Dojo...

Mas afinal o que significa Dojo em japonês?

“Dojo (道場, sítio do caminho ?, Dōjō) é o local onde se treinam artes marciais
japonesas. Muito mais do que uma simples área, o dojo deve ser respeitado como se
fosse a casa dos praticantes. Por isso, é comum ver o praticante fazendo uma
reverência antes de adentrar, tal como se faz nos lares japoneses.

O termo foi emprestado do Zen Budismo, significando um local de iluminação, onde os


monges praticavam a meditação, a concentração, a respiração, os exercícios físicos e
outros mais. Decompondo-se a nos kaniis, ver-se-á que «dō» quer dizer «caminho»,
«estrada» ou «trilha» (sentido espiritual), e «jō», «lugar», «espaço físico», «sítio».”

Inicialmente, o primeiro local que Kurachi conseguiu para dar segmento aos treinamentos
possuía instalações precárias já que os treinos eram realizados no porão de uma velha pensão
de japoneses situada na Rua Freitas Guimarães, 26 no bairro da Vila Nova.

Edificação onde funcionou a pensão para japoneses que cedia o seu porão (porta esquerda) para os
treinos de Judô do Sensei Hikari Kurachi. Foto Google Maps
Segundo o relato póstumo do Sensei Felício, poucos dias depois da inauguração, ingressaram
dois grandes amigos João Salgado e Fernando Azevedo que viriam a se tornar grandes
companheiros de treino e os primeiros professores do esporte em Santos. Estava configurada a
primeira geração de judocas santistas!

Ao final dos treinos, podia-se tomar banho de tina com água quente e, para quem apreciava a
exótica comida japonesa, eram servidos peixe crú com molhos e mostarda.

O local permaneceu por alguns meses com treinos informais e, antes que conseguisse encontrar
um local definitivo, a Academia Hikari Kurachi Santista de Judô estabeleceu-se provisoriamente
em uma sala que ficava em cima de um tradicional bar, localizado na Rua João Pessoa, esquina
com a Rua Martim Afonso no Centro de Santos.

Fonte: Google Maps 2011


Tremei! Os famosos Ukemis de Kurachi!

A execução dos exercícios do Ukemi (queda ou rolamento executado em dupla) incomodavam


os frequentadores do bar já que as paredes de madeira tremiam a cada execução de Ukemi.
Realizadas com maestria e perfeição as quedas abalavam a estrutura do antigo prédio cujo pé
direito possuía cerca de 6 metros e, em suas paredes haviam diversas prateleiras contendo
garrafas e copos. Muitas vezes, estas garrafas tremiam ou mesmo “voavam” das prateleiras já
que os Ukemis do Mestre eram realizados até a completa exaustão. Kurachi, sempre fora muito
enérgico e costumava contar com o auxílio de uma vara de bambu para estimular os treinos e
impor disciplina. Seu maior objetivo era tornar os seus discípulos ágeis e comprometidos e,
consequentemente, aptos para a luta com qualquer adversário, não importando a altura e o
peso.

No entanto, o Sensei estava sendo pressionado a abandonar o local. Realmente, o sótão de um


velho botequim não era nada apropriado para a prática da Nobre Art. A execução dos golpes e
os brados dos Kiais importunavam os frequentadores em suas conversas e degustações. Lá,
ficaram menos de um mês! Kurachi sabia que era necessário procurar instalações mais
adequadas e espaçosas para abrigar uma Academia de Judô, a 7ª das treze filiais da Budokan do
Kodansha Ryuzo Ogawa. Era preciso encontrar um local definitivo para ser o endereço de uma
Academia cuja missão seria a de ensinar com esmero um esporte que detém filosofia mui
respeitosa e requer o ensino e prática primorosa da técnica. Além disso, um local adequado
dignifica tanto o mestre como os alunos. Dignifica também a cidade que a abrigaria além de
contribuir para a conservação e o respeito do título que Santos até hoje detém, a de ser o
município mais esportivo do Brasil.

Finalmente um Dojo para chamar de seu!

Depois de longa procura pelo local ideal Kurachi finalmente encontrou uma sala de armazém de
café que fora cedida com a ajuda de comerciantes do ramo. Afinal, Santos é também a terra da
caridade como bem ilustra o seu brasão de armas!

A Academia de Judô em Santos de Hikari Kurachi estabelecia-se em um endereço definitivo! Um


antigo casarão na Rua Tuiuti, 83 (atual Praça Azevedo Júnior, local que foi completamente
transformado com a demolição das edificações situadas na extinta rua).

O dojo possuía uma sala espaçosa com tatames e ocupava o 1° andar do casarão. Ficava
exatamente ao lado do prédio da Telegraph Western Co. também conhecida como Cabo Oeste.
Lá, permaneceram por cerca de 10 anos.
Antigo casarão ao lado esquerdo do imponente prédio da Western Telegraph Co. onde funcionou a
Academia Santista de Judô do Sensei Hikari Kurachi.

Fonte: Google

O apogeu!

Neste período, a Academia Santista de Judô Hikari Kurachi atingiu rapidamente o seu apogeu
ministrando três turnos de aulas com horários totalmente preenchidos e grande procura de
interessados em treinar o Judô.
Primeira foto da Academia Santista de Judô com o Sensei Hikari Kurachi e seus primeiros alunos – 1950

Fonte: Acervo pessoal de José Gomes de Medeiros doado ao Centro de Memória Esportiva – Museu De
Vaney

As aulas sempre foram ministradas pelo Sensei Kikari Kurachi salvo quando passou a contar com
os primeiros Faixas Pretas.

Estes primeiros senseis atuariam como multiplicadores disseminando a semente plantada por
Hikari Kurachi e Ryuzo Ogawa.
Alunos da Academia Santista de Judô com o Sensei Hikari Kurachi ao centro – 1951

Fonte: Acervo pessoal de José Gomes de Medeiros – Centro de Memória Esportiva – Museu De Vaney

Alunos da Academia Santista de Judô com o Sensei Hikari Kurachi ao centro em 1952.
Fonte: Acervo pessoal de José Gomes de Medeiros – Centro de Memória Esportiva – Museu De Vaney

O judokas numerados se tornariam os primeiros faixas pretas a disseminar o ensino do Judô em Santos e
a representar Santos nos Jogos Abertos do Interior e Torneios da Budokan.
Os tradicionais torneios da Budokan

Os torneios da Budokan eram realizados pelo Grande Mestre Riuzo Ogawa, faixa-preta do 6º
grau, presidente da Budokan Brasil e membro da Kodokan. Eram realizados no Ginásio do
Pacaembu na cidade de São Paulo e reunia, anualmente, os mais qualificados lutadores de Judô
de todo o país.

Alunos da Academia Santista de Judô com o Sensei Hikari Kurachi participando do Torneio Budokan
também conhecido como “Ju-Kendô Remmei” realizado no Pacaembu em julho 1953.

Da esquerda para direita, judokas santistas liderados pelo Sensei Kurachi integram as 7ª e 8ª filas.

Fonte: Acervo pessoal de José Gomes de Medeiros – Centro de Memória Esportiva – Museu De Vaney
Alunos da Academia Santista de Judô com o Sensei Hikari Kurachi ao centro em 1953.

Fonte: Acervo pessoal de José Gomes de Medeiros – Centro de Memória Esportiva – Museu De Vaney

Os primeiros Faixas Pretas outorgados em 04 de Setembro de 1953, após quatro anos da


fundação da Academia Santista de Judô, foram os judocas:

João Salgado Arcanjo;


Agostinho Felício da Purificação;
Toshyuki Myamoto;
Tadashi Kuwamoto;
Luiz Ferreira;
Hiroshi Minakaua;
Fernando Pais de Azevedo;
Valdir Pacheco.

Na sequência, vieram Manabo e Akira Kurachi (irmãos mais novos do mestre Kurachi).
Equipe santista da Academia de Judô de Santos filiada a Budokan na Sede da Academia Hombu
Bodokan em São Paulo.

Da esquerda para a direita:


Tadashi Kuwamoto, Sunji Hinata (aos 16 anos – faixa branca), Manabu Kurati, João Salgado, Hiroshi
Minakawa e o Mestre Hikari Kurachi.

Estes inesquecíveis e valorosos judokas consolidaram o Judô em Santos e esses primórdios


marcam uma época no qual os judokas santistas que obtiveram destaque na modalidade e não
apenas se tornaram senseis ministrando treinamentos de Judô em Clubes, academias como
também se tornaram os primeiros competidores da cidade. Inicialmente, representavam Santos
nos torneios realizados pela Budokan. Após, defendendo como judokas a cidade de Santos em
Jogos de Inverno da Cidade, Jogos Abertos e Regionais. Tempos depois, passaram a integrar a
seleção paulista e finalmente a seleção brasileira quando o Brasil passou a competir no II Pan
Americano.

Semear o Judô em Santos

Após os primeiros faixas-pretas serem formados pelo sensei Kurachi iniciou-se a fase de
disseminação do Judô na cidade de Santos.

O objetivo do sensei era multiplicar o esporte inserindo-o no maior número de clubes e


academias possíveis e abrindo aos seus alunos possibilidade de atuação como professores.

Kurachi começou a visitar diversos clubes e academias levando consigo seus melhores alunos.
A ação consistia em propor aos seus dirigentes a realização de uma demonstração de Judô e
convence-lo a abrir um dojo com tatames e professor para ministrar os treinos. Q
uem testemunhou essas demonstrações ficava no mínimo impressionado e bastante animado
tanto em colocar o esporte no local como acabava por despertar nas pessoas a vontade de fazer
o treinamento do Judô.

Foi dessa maneira que o Sensei Medeiros conheceu o Mestre Kurachi e seus alunos faixas-preta:

“Em maio de 1955, a Associação Atlética dos Portuários de Santos iniciou aulas de Jiu-jitsu tendo
como professor o Sensei Adriano Mattos. No final do mesmo ano, Sensei Kurachi e seus pupilos
da Academia Santista de Judô compareceram ao Portuários para realizar uma demonstração de
Judô. O Sensei Adriano Mattos e seus alunos, entre eles o jovem José Gomes de Medeiros,
ficaram tão impressionados com a técnica brilhante que até o Sensei Adriano Mattos adotou o
novo esporte. A partir desse dia, a Associação Atlética dos Portuários de Santos deixou de
oferecer treinos de Jiu Jitsu passando a ministrar treinamento de Judô tendo o auxílio dos sensei
Kurachi e seus alunos.”

Kurachi já havia realizado demonstrações de Judô e implantado o esporte em outros clubes


como: Clube de Regatas Saldanha da Gama, Clube de Regatas Vasco da Gama, Clube
Internacional de Regatas e o IT Clube do José Menino.

Paralelamente, ao trabalho e atuação de Kurachi frente a Academia Santista de Judô outro


importante Sensei passou a chamar a atenção no meio judoístico santista, o Sensei Hirano
responsável por treinar e revelar vários judocas: Marco Antônio Marcolin, Delso dos Santos,
Ricardo Antônio Passos Gonzalez, Roberto Jô Hirano, Alberto Jorge Soares e Agostinho Feijó
Gonzalez.

Surgem as primeiras competições de Judô (incompleto)

1951 – Acontecia em São Paulo o primeiro campeonato oficial de Judô estadual.

1954 – É realizado o primeiro campeonato estadual de Judô do Rio de Janeiro

1954 – Primeiro Campeonato Brasileiro de Judô foi no Rio de Janeiro entre 12 a 14 de outubro
de 1954 pela Confederação Brasileira de Pugilismo. O judoka Masayoshi Kawakami é o grande
destaque desse campeonato sagrando-se campeão nas categorias 3º dan e absoluto;
1956 – O primeiro Campeonato Mundial de Judô
aconteceu em março de 1956 em Tóquio, no
Japão. Foi disputado apenas na categoria absoluto
masculino. O primeiro pódio foi composto por dois
japoneses e dois europeus com a seguinte
premiação ouro para Shokichi Natsui, prata para
Yoshihiko Yoshimatsu, ambos do Japão, e bronze
para Anton Geesink, da Holanda, e para Henri
Courtine, da França.

Em 1956, acontecia do II Campeonato Pan-Americano realizado na cidade de Havana em Cuba.

Oficialmente, essa foi a primeira participação do Brasil em uma competição no exterior.

A equipe brasileira era composta pelos judocas Massayoshi Kawakami, Sunji Hinata, Augusto Cordeiro,
Luiz Alberto Mendonça, Hikari Kurachi e Milton Rossi que conquistaram um honroso segundo lugar
emocionando toda uma geração de judocas visto que Kurachi se manteve na competição mesmo com o
braço quebrado.

Delegação Brasileira – Da esquerda para a direita: Massayoshi Kawakami, Augusto Cordeiro, Shunji
Hinata, Paulo Falcão (dirigente), Hickari Kurachi, Luiz Alberto Gama de Mendonça e Milton Rossi.
1956 Resultado II Campeonato Pan Americano – Havana - Cuba
(Competia-se por Kyu e por Dan)

Categorias Medalha Nome País


Campeão 1º Kyu 1-Ouro Luís Alberto Mendonça BRA

Vice-Campeão Prata Charles Lomas USA

Campeão 1º Dan 1-Ouro Milton Rossi BRA

Vice-Campeão Prata Thomas Dalton USA

Campeão 2º Dan 1-Ouro Lavern Raab USA

Vice-Campeão Prata Shunji Hinata BRA

Campeão 3º Dan 1-Ouro Frank Leszczynski USA

Vice-Campeão Prata Massayoshi Kawakami BRA

Campeão 4º Dan 1-Ouro Hikari Kurashi BRA

Vice-Campeão Prata Kenzo Uyeno USA

Campeão Absoluto Jhon Osako USA

Vice Campeão Massayoki Kawakami BRA

Equipe Campeã Lavern Raab, Frank USA


Leszczynski e John Osako

Vice-Campeã Massayoki Kawakami, Augusto BRA


Cordeiro e Hikahi Kurachi
O Mestre, competidor, técnico da Seleção Brasileira de Judô e campeão faixa-preta 4º Dan Hikari Kurati
cumprimentando Carlos Alberto Mendonça pela conquista do Pan-americano de Judô.

Mesmo com o braço quebrado sagrou-se Campeão! (incompleto)

Um acontecimento para lá de inusitado aconteceu


no 2º Campeonato Pan Americano que ficaria
marcado na história do Judô como exemplo
máximo de persistência e de doação pelo esporte e
principalmente pela equipe e nação representada.

No momento em que competia com Kenzo


Uyeno, judoka da seleção dos Estados
Unidos....
1956 - Torneio Budokan João Salgado campeão vence Sunji Hinata

1956 – II Campeonato Paulista de Judô realizado no Pacaembu seleção santista de Judô Manabu, Sunji
Hinata e João Salgado. Santos campeã paulista de Judô.

1957 – Realização do Torneio Internacional de Judô entre o Brasil e Argentina ocorrido no Rio de Janeiro
e em São Paulo.

1957 – Segundo Campeonato Brasileiro de Judô realizado em Belo Horizonte

1957 Torneio No Portuários “Troféu Professor Hikari Kurachi”


1958 – Fundação da Federação Paulista de Judô em 17 de abril de 1958

III CAMPEONATO PANAMERICANO DE JUDÔ - BRASIL - 1958


CAMPEÃO DO 1º KYU- YOSHIO HANRAKU - (BRASIL)
VICE-CAMPEÃO - FLORENTINO ALONSO - (ARGENTINA)

CAMPEÃO DO 1º DAN - LUIZ ALBERTO MENDONÇA- (BRASIL)


VICE CAMPEÃO - EDMUND NED - (USA)

CAMPEÃO DO 2º DAN - SHUNJI HINATA - (BRASIL)


VICE-CAMPEÃO - JUAN MORENO - (ARGENTINA)

CAMPEÃO DO 3º DAN - WILLIAM LEWOOD - (USA)


VICE-CAMPEÃO - MANABU KURACHI - (BRASIL)

CAMPEÃO DO 4º DAN- GEORGE HARRIS - (USA)


VICE-CAMPEÃO - MASAYOSHI KAWAKAMI- (BRASIL)

CAMPEÃO ABSOLUTO - GEORGE HARRIS E MASAYOSHI KAWAKAMI (EMPATADOS)

EQUIPE CAMPEÃ - B RASIL (MASAYOSHI KAWAKAMI, AKIRA YAMAMOTO E MANABU KURACHI )


VICE-CAMPEÃ- USA ( EDMUND NED, GEORGE HARRIS E
WILLIAM LEWOOD )
VICE-CAMPEÃO - MANABU KURACHI - (BRASIL)

1958 - Abertura do !! Campeonato Mundial!novembro de 1958

1959 João Salgado campeão estadual no Ibirapuera. Academia santista já sob direção de Akira Kurachi.

1959 – Campeonato Brasileiro de Judô em Porto Alegre Sunji Hinata já tinha ido pro Rio. João Salgado
em 3 lugar
Galeria do Judô Santista

KIKARI KURACHI, “UM CAMPEÃO SEMPRE É HUMILDE, MAS NÃO SE HUMILHA


NUNCA!”

Hikari Kurachi (*09/04/1927 + 22/07/1982)

Nascido na Ilha de Fukuoka no Japão, Hikari Kurachi


veio ao Brasil com a família em 1935.

Considerado o Pai do Judô em Santos fundou a


primeira Academia de Judô em junho de 1949.

Kikari Kurachi era extremamente respeitado entre


os judokas de sua época e até hoje é relembrado
por muitos de seus alunos como o Samurai dos
Samurais.

As Academias que manteve em Santos e em São Paulo eram consideradas de alto


padrão esportivo e Kurachi sempre promoveu excursões no qual levava seus alunos
para enfrentar alunos de outras academias.

Mas Kurachi não era apenas um empresário que visava parcerias entre clubes e outras
academias devido ao seu elevado senso de publicidade. Ele foi um dos mais notáveis
senseis que o Judô brasileiro já teve e também foi um Campeão , por amor ao Brasil!

Participou dos primeiros campeonatos do Judô que se iniciaram na década de 50


atuando como competidor e como técnico. Representou com patriotismo a nação que
escolheu de coração.

Kurachi era talentosamente rápido na entrada no adversário e de uma agilidade tão


impressionante que dificultava qualquer reação. Ao Brasil proporcionou vitórias
gloriosas que o tornaram um dos maiores campeões de todos os tempos. Numa época
em que as competições de Judô podiam ensejar lutas dignas de Davi e Golias já que as
competições eram por categoria de faixas e não por peso.

“ESTE BRAÇO PERTENCE AO BRASIL!”

Além da técnica perfeita que detinha como judoka e sensei. O golpe “Uchi-Mata” era
executado por Hikari Kurachi com extrema perfeição.

No Pan americano de 1956 ocorrido na cidade de Havana em Cuba Hikari Kurachi


disputava a medalha de ouro na categoria faixa-preta 4 DAN com o americano Kenzo
Uyeno. Foi uma luta difícil e dramática e Kurachi acabou quebrando um braço. A luta
foi interrompida por um breve momento com orientações médicas para que desistisse.
Mesmo com o braço quebrado Kurachi bradou emocionado:

“Este braço não é meu! Este braço pertence ao Brasil!”

A luta prosseguiu e Kurachi rapidamente finalizou o adversário com seu perfeito Uchi-
Mata trazendo a medalha de ouro para o Brasil.

UM GRANDE FILOSÓFO, UM MESTRE DA VIDA!

Quem teve a honra de conviver e de compartilhar a vida nos tatames com o Mestre
Kurachi jamais esquece:

Kurachi não era apenas um idealista, um professor e um campeão. Ele era um Mestre
da vida como relata a família, os amigos e os discípulos que tiveram a honra de tê-lo
em seu convívio.

O Sensei Onça em seu depoimento fala que Kurachi costumava orientar seus discípulos
para terem uma vida equilibrada e a evitar o excesso de fumo e álcool. Quem saísse da
linha costumava ser castigado no dojô com uma vara de bambu.

Tinha sempre um ensinamento de cunho moral que inspirava o silêncio e a reflexão e


era admirado por sua enorme sabedoria espiritual.

Kurachi foi um homem firme, honrado e justo. Rebelava-se facilmente contra tudo que
infringia os seus rígidos princípios. Hikari e Manabu Kurachi após conflitarem com as
diretorias da FPJ e CBJ decidiram romper com as mesmas.

O Sensei Luís Kurati, filho de Manabu e sobrinho de Hikari Kurachi, colaborador na


realização desta obra rememora:

“Ainda criança, lembro que durante os treinos meu pai Manabu e meu tio Hikari
ficavam contando fatos ocorrido ao longo de suas vidas e hoje colho benefícios em
todas as esferas das relações humanas e sabedoria com a experiência passada por eles.

Isso mesmo! Além do JUDÔ, eles transmitiam experiência de vida! Ensinavam como
passar pelas intempéries da vida, a importar-se e ajudar o próximo, a ser íntegro, justo,
leal e respeitador. Enfim, eram fortemente pautados em uma filosofia de vida baseada
nos bons costumes”.

Sensei Lula Kurati


JOÃO SALGADO ARCHANJO, A “FERA” DOS TATAMES NOS ANOS 50!

João Salgado Arcanjo (*08/01/1930 +


12/05/2007)

Aos 18 anos, esse santista nato e descendente de


espanhóis, interessou-se pelas artes marciais,
exatamente na época em que Hikari Kurachi
tentava implantar uma filial da Budokan em
Santos.

O jovem João Salgado foi um dos primeiros alunos


do Mestre Hikari Kurachi na Academia de Judô de
Santos. Descrito como um aluno comprometido,
assíduo e disciplinado logo se destacou entre os
colegas integrando o seleto grupo dos primeiros
faixas-pretas formados em Santos.
Aos 23 anos veio a primeira de muitas conquistas: foi campeão absoluto de Judô em
Ribeirão Pires.

Podemos considerar então que o judoka João Salgado é o primeiro campeão de Judô
nascido em Santos.

Em 1955, foi convocado para integrar a seleção santista de Judô durante o II Jogos
de Inverno da Cidade de Santos. Ao lado dos judokas companheiros de academia
Hiroshi Minakawa, Manabo Kurachi, Shunji Hinata, Gildo Gióia e tendo como técnico
o Mestre Hikari Kurachi defenderam Santos brilhantemente conquistando o título
por equipes e vencendo faixas pretas de academias de todo o Brasil.

Era o ano 1956 e Arcanjo sagrou-se campeão do 5° Torneio Faixa Preta do Budokan
3° Grau. Ainda no mesmo ano, recebeu a medalha de vice-campeão paulista.

No ano seguinte, conquistou o 3° lugar no II Campeonato Paulista e, posteriormente,


foi agraciado com a Taça Eficiência de “A Gazeta Esportiva”.

Em 1958, foi convocado para integrar a seleção paulista de Judô ficando com a
terceira colocação no Campeonato Brasileiro como 3º DAN.

Finalmente, em 1959, o talentoso judoka santista teve o seu momento máximo de


consagração quando se tornou Campeão brasileiro de Judô. No mesmo ano foi
Campeão nos Jogos de Inverno de Santos/SP.
Na década de 60, encerrou sua carreira como competidor recebendo a Medalha de
Honra ao Mérito pela Federação Paulista de Judô.

Em 1990 conquistou a Medalha “Masters” do Judô concedida 11ª Delegacia de Judô


do Litoral.

Em 2000 a Câmara Municipal de Santos homenageou João Salgado com a Medalha


de Honra ao Mérito “Brás Cubas”.

João Salgado Arcanjo é reconhecidamente o primeiro judoka nascido em Santos a se


tornar campeão brasileiro no Judô. Conhecido pela nata judoística como a “Fera dos
Tatames nos anos 50” destacou-se em uma época quando os primeiros
campeonatos estaduais, brasileiros e pan-americanos foram realizados.

Faleceu em 12 de maio de 2007 e em 00/00 foi homenageado no Evento Dia do


Esportista Amador por personalidades do esporte amador e autoridades da
Prefeitura Municipal de Santos.

As melhores lições são as lições de vida!

“Quando você pensa que sabe tudo, está na hora de aprender de novo!”

Certa feita, eu e os outros judokas da Academia Santista de Judô fomos lutar contra
atletas de uma academia no ABC. Na época, era muito comum esse tipo de embate
entre as academias. Eu, até então, era faixa marrom.

Nos combates contra os competidores da minha faixa venci tudo! Não satisfeito fui
competir com o pessoal da faixa preta do 1 º grau. Também ganhei! Depois, faixas
pretas do 2º Grau. Ganhei novamente! E depois, se ainda não era o bastante, venci
também o grupo absoluto com lutadores de todas as faixas.

Voltei para Santos com uma “tromba enorme”. Estava me achando o melhor! Como
era faixa marrom retornei com a idéia clara de que, após minhas conquistas, eu
receberia a faixa preta do meu professor, de Hikari Kurachi!

Como nessa época Hikari também dava aula no Internacional de Regatas e fui
chamado junto com outros alunos para também treinarmos lá. Depois do treino, todos
foram embora e Kurachi me pediu para permanecer no local.

Meu Deus! Ele me deu tanto tombo! Me derrubou umas mil vezes! Eu já estava
precisando segurar nas pernas dele para me levantar e recuperar.

Sensei Kurachi não era apenas um dos maiores professores de Judô de todos os
tempos, ele era um Mestre espiritual e fazia de tudo para me ensinar uma lição que
trago até hoje comigo, a da humildade de eterno aprendiz! Com aquele jeito oriental
característico de japonês ele disse:

“Quando você pensa que sabe tudo, está na hora de você aprender de novo!”

Pauto minha vida nesse inesquecível episódio e frase. É assim mesmo! Somos eternos
aprendizes da vida e o Judô incute uma disciplina e responsabilidade que levamos na
nossa existência e que estendemos para todas as áreas da nossa vida.

João Salgado, aprendiz da vida!

FELÍCIO AGOSTINHO DA PURIFICAÇÃO SOUZA


* 04/07/1922 + 28/02/2002

O estimado santista Felício Agostinho da Purificação


Souza nasceu em 04 de julho de 1922.

Ao longo de seus bem vividos 80 anos, dedicou-se a


várias modalidades esportivas: futebol, voleibol,
natação, karatê, judô e atletismo tendo se destacado
no Judô como professor e no Atletismo como
competidor no qual conquistou diversas premiações.

Defendeu a cidade nos Jogos Abertos do Interior, de


1941 a 1946, sagrando-se seis vezes campeão em
Atletismo. Participou de diversos campeonatos Jogos
Regionais, Bancários, Paulista e Brasileiro de
Atletismo, no qual foi bi-campeão.

Seu currículo esportivo completo é muito extenso sendo conveniente nesta obra,
explorar apenas a sua importante contribuição na consolidação do Judô em Santos.
Ingressou na Academia de Judô de Santos, filiada a Academia Ogawa e dirigida por Hikari
Kurachi em 1949 tornando-se um dos primeiros faixas pretas (1º turma) em 1953.

Em 1959 graduou-se 4º DAN com o Professor Hikari Kurachi.

Foi um dos professores multiplicadores que tinham como missão dividir a instrução
junto ao Sensei Kurachi em outras academias e clubes. Ministrou treinamentos no IT
Clube, Marçal Clube, Clube Internacional de Regatas, Polícia Técnica, Polícia Marítima e
Polícia Militar.

Depois que o Sensei Adriano Mattos, professor de Jiu Jitsu do A.A. Portuários fora
finalmente convencido pela trupe de Kurachi a introduzir o Judô nesta associação,
Sensei Felício passou a assessorar Adriano no Portuários e posteriormente ensinou Judô
na Academia Adriano Mattos e na Associação dos Advogados de Santos.

Felício se destacou no Judô mais como Sensei tendo participado de alguns torneios
tradicionais como os realizados pela Budokan.

Na década de 60, graduou-se faixa-preta tendo professor o Mestre Shinzato.

Tornou-se faixa preta em Tae Kwon do em 1979 concedida pelo Mestre Sang Min Cho.

Felício sempre foi um facilitador do convívio esportivo e social. Contribuiu


enormemente com a história e a memória esportiva da cidade em que nasceu, viveu,
trabalhou, constituiu família e inúmeros amigos com os quais agraciou através da
versatilidade de seus feitos esportivos dignos de um genuíno multiatleta.

Contribuiu, postumamente, para a realização desta obra após uma antiga carta escrita
por Felício ser encontrada nos arquivos do Centro de Memória Esportiva – Museu De
Vaney por esta autora. Um espantoso acaso sobrenatural que tornaria-se peça
fundamental de uma história escrita por tantas mãos.

Assim era o amigo Felício Agostinho da Purificação solícito, comprometido e realizador.

Felício foi um homem de raras qualidades morais e espirituais. Não era de se admirar
que, mesmo do “outro lado da vida”, deixasse de colaborar com a realização desta tão
sonhada obra, a História do Judô em Santos.

Felício talvez pensasse na posteridade. Certamente, um dia, sua antiga carta já


amarelada pelo tempo e que fora lavrada através de seu depoimento ao Centro de
Memória Esportiva – Museu De Vaney pudesse realizar sua última missão de judoka, o
convite a uma profunda reflexão e resgate de valores morais e espirituais que somente
o Judô possui e que há muito foi esquecida.

Felício Agostinho da Purificação sem dúvida é o idealizador desta obra cuja missão foi
realizada graças a persistência do Sensei José Gomes de Medeiros. A esta autora só cabe
agradecer pela honra e oportunidade de também servir ao Mestre.
Félicio, além de muitas outras atribuições, foi perito judicial na área cível, era maçon e
bastante conhecido pela sociedade santista do qual foi grande benemérito

Faleceu em 28 de fevereiro de 2002

Era casado com a Sra. Marília de Andrade Souza e pai de Felício Antônio e Mara Andrade
Souza.

MANABU KURACHI, UM BRAVO!


* 15/05/1938 + 17/11/2003

Manabu Kurati nasceu em Itapecerica da Serra em 15 de


maio de 1938. Mudou-se para Santos ainda criança vindo a
residir com a família na Rua Chile, bairro de Vila Nova em
Santos.

Filho Kakiti e Yume Kurachi iniciou-se no Judô em 1952 como


aluno na Academia Ogawa e teve como Mestre Ryuzo
Ogawa.

Ainda na infância costumava ser um japonesinho tímido e


calado sendo o garoto Manabo possuidor de um
temperamento típico oriental. Em suas primeiras aulas no
dojô já dava mostras do grande judoka que viria a se ser.

Seu grande amigo de juventude, o Sensei Adolpho Firmeda Arias, o Sensei Onça, em
seu depoimento relata:

“Eu era daqueles moleques que pareciam mais velhos e que tirava uma onda com a
cara de todo mundo. Todos os dias eu arrumava uma encrenca diferente. Eu adorava
melindrar e debochar do Japonês diverte-se Onça.”

Manabu era calado e franzino e fazia de tudo para não demonstrar que ficava nervoso.

Quanto mais eu o irritava mais invocado ele ficava mas sempre conseguia se controlar.
Era inacreditável a força mental que ele possuía!

Isso fazia dele uma das minhas vítimas preferidas! Eu o provocava com apelidos,
piadas sobre japonês e cantarolava musiquinhas que despertavam gargalhadas
viscerais da escola inteira. No fim do dia era eu e toda a molecada maldando do
japonês de forma insistente e irritante.

Manabu era constantemente provocado por Onça, um valentão de primeira! Dotado


de um rico e divertido repertório de apelidos e piadas troçava diariamente de alguns
de seus infelizes eleitos. O “sardento” Onça não só destilava ironias e provocações
como também arrumava toda sorte de confusões e brigas. Suas perseguições
costumavam encontrar força entre outros valentões que faziam fama através das
gargalhadas que causavam nas meninas.

O japonesinho Manabu se sentia cada vez mais perseguido e ultrajado mas persistia
em manter seu comportamento reto. Um dia, Onça estava tão encapetado que
começou a distribuir petelecos a esmo na cabeça dos moleques.

Cansado, Manabu finalmente remediou o colega com alguns bons golpes de Judô. A
inusitada reação se tornou uma das melhores brigas da “hora da saída” da história do
grupo escolar José Bonifácio. A molecada eufórica gritava e aplaudia o japonesinho
emburrado que seguiu seu caminho impassível para casa.

Nascia uma grande amizade entre Manabu e Onça o que o estimulou a aprender o
Judô.

Junto aos irmãos Hikari e Akira Kurachi dirigiu a Academia Santista de Judô fundada
em julho de 1949, 7° filial da Academia Ogawa e também ministrou treinamento de
Judô no Clube de Regatas Santistas, Clube Athlético Paulistano, Ipê Clube e Associação
de Judô Manabu Kurati.

Defendeu a Federação paulista entre 1956 a 1958 sagrando-se tricampeão brasileiro


por equipes.

Foi campeão brasileiro representando o estado de São Paulo por categoria de faixas
em:

1956 (faixa preta - 2 º DAN) campeonato ocorrido em São Paulo/SP


1958 (faixa preta - 3 ° DAN) campeonato ocorrido em Belo Horizonte/MG

Foi Vice-Campeão (faixa preta – 3° DAN) brasileiro no III Campeonato Panamericano de


Judô em 1958 e campeão por equipe com Masayoshi Kawakami e Akira Yamamoto.

Foi campeão brasileiro representando o estado de São Paulo por categoria de peso e
absoluto em 1965 (categoria Leve) em campeonato ocorrido no Rio de Janeiro/RJ.

Em 1968, não aceitando as políticas da FPJ e da CBJ se desligou de ambas as entidades.

Em 1973, manteve academias na cidade de Santos na Rua Paraná e em São Paulo no


bairro das Perdizes.
Além de ensinar o Judô confeccionava quimonos de judô e karatê de excelente
qualidade!

Após 51 anos de dedicação total ao ensino do Judô encerrou a sua carreira em 2003.

Em 17/11/2003 deixou este mundo vítima de enfisema pulmonar.

Era casado com a Sra. Amélia Tomiko Kurati.

Deixou os filhos Luis Claudio Issao Kurati, - também judoca - Simone Mitiko Kurati,
André Issamu Kurati e Andrea Miyuki Kurati Gamer.

ADRIANO MATTOS (incompleto)

A primeira mulher a iniciar treinamento do Judô em


Santos foi a esposa do sensei Adriano Mattos foi Raquel
Mattos e Maria Aparecida de Matos sua cunhada

Adriano considerava o dojô seu segundo lar tanto que


seus filhos pequenos brincavam e treinavam no dojô.

JOSÉ GOMES DE MEDEIROS


Nasceu em 11 de maio de 1934, na cidade
de Senador Eloi de Souza (antiga Caiada
de Baixo), Rio Grande do Norte.

Dedicando–se a prática de Judô,


participou interruptamente no período de
1956 a 1970 de competições. Voltou a
viver essa experiência somente em 1996
em Osasco e Bragança Paulista

Neste intervalo permaneceu ministrando


aulas, uma vez que desde 1964 detém o
título de professor

1996 - Revivendo a experiência de participar das competições - Bragança Paulista - Jogos


Abertos do Interior

O Kodansha Medeiros teve em Sensei Shinzato um grande mestre, treinando Caratê de


1962 até 1972, ano em que tornou - se 2º Dan após ser promovido pela Federação
Paulista de Judô.
1962: Início do Caratê em Santos/SP – Hotel Chinês - Rua Brás Cubas
.

No ano de 1964, assumiu como técnico da Associação Atlético Portuários de Santos


(A.A.P.S.), devido o afastamento do Mestre Adriano Mattos.

1982: Alunos da Associação Atlético Portuários de Santos (A.A.P.S.), e o Professor


José Gomes de Medeiros.

Em 1968, tornou-se árbitro da Federação Paulista de Judô. Em dezembro de 2012,


encerrou sua atuação como árbitro, colaborando como coordenador..
1984: Professor Medeiros arbitrando no Evento do Clube de Regatas Santista

É técnico de Seleções desde 1978 e grande colaborador na Comissão Técnica da SEMES,


tanto em Jogos Regionais como Abertos. Atuou por quatro vezes na Seleção Paulista,
Esteve em Paris em 1997, onde acompanhou o Campeonato Mundial de Judô.

Desde 2002 é o responsável em Santos pela preparação dos candidatos a faixa preta
da Federação Paulista de judô. Sempre firme no propósito de desenvolver e divulgar os
katas e os fundamentos técnicos de Judô. Também atuou como professor no Clube
Atlético Santa Cecília, no Clube Saldanha da Gama e na Fundação Praia Esporte de
Santos (FUPES).

Há onze anos é responsável pelo Kata de apresentação competitiva nos Jogos regionais
e abertos, tendo compromisso como atleta e não somente como técnico com a
Fundação Pró Esporte de Santos – FUPES.
Conquistas e Títulos como Atleta / Técnico no Judô:

1964 a 2004 – Substituindo o Professor Adriano Mattos, assumi como técnico de judô
da A.A.P.S. Sobre sua orientação, o departamento de judô obtém diversos títulos, tais
como:
1990 Internacionais: 1980 - 3º colocado no Campeonato Mundial Militar de Judô
(Colorado - EUA), com o atleta Ricardo Ferreira Ayres; 1992 - Vice – campeão no
Campeonato Panamericano (Colômbia), com a atleta Gláucia Ferreira de Souza; 1993
- Campeão Sulamericano (Argentina) e Panamericano (Porto Rico), com os atletas
Fabiano de Oliveira Ramos e Rúbia Araújo dos Santos; 3º colocado no Campeonato
Panamericano (Cuba), com a atleta Telma Coelho de Souza.
1991 Nacionais e Estaduais: Diversos títulos conquistados pelos atletas
individualmente da A.A.P.S., orientados pelo Profº José Gomes de Medeiros.
1992 Nacionais e Estaduais por equipe: A Equipe Junior da A.A.P.S. conquistou o
Torneio Benemérito de judô no Brasil, integrada pelos atletas: Eloy P. Costa, Marcelo
Patrício, Ariovaldo dos Santos Júnior, José Augusto dos Santos Filho e Fabrício de
Oliveira Ramos (1991). A Equipe da Yudan (faixa preta) da A.A.P.S. Conquista o vice-
campoenato do Torneio Anual da Equipe da BUDOKAN, sagrando – se campeã no ano
seguinte.
1978 até os dias atuais – Técnico da Seleção de Judõ da Cidade de Santos, e nos
últimos 12 anos, como técnico do Kata.
1996 – Passa a representar como atleta com o Kata a modalidade de Judô.
Set. 2012 - Conquista o 14º lugar entre os 32 competidores do Campeonato de
Pordenone (Itália) – província de Veneza.
Dez. 2012 - Campeão no Campeonato da União Panamericana (República
Dominicana).
2013 – 4º lugar em kata na Copa São Paulo.
2013 – 4º lugar no Campeonato Paulista.

Promoção de Graduação:

1968 – Através de uma competição e um exame teórico foi promovido a faixa preta
(1º dan) pelo Sensei Tokuzo Terazaki (8º dan).
1972 – Através de exame teórico e prático, foi promovido a 2º dan pela Federação
Paulista de Judô, no Clube de Regatas Tiête.
1973 – Através de exame na Federação Paulista de Judô (bancada de 5 professores
em São Paulo), foi promovido a 3º dan.
1980 – Apartir do 4º dan a ortogação ocorre através do trabalho realizado a serviço
da Ferderação Paulista de Judô, da arbitragem de competições paulistas e brasileiras,
e ensinamentos dos fundamentos teóricos do Kata (a essência do Judô) para a
formação de Senseis. É promovido a 4º dan através da indicação do Professor
Kusabara.
1985 – Através da indicação do Professor Kikuo Arasaki é promovido a 5º dan.
1990 – Através da indicação do Professor Tetsuo Nitisuma e Hatiro Ogawa é
promovido a 6º dan.
2000 – Através da indicação de Nobuo Suga é promovido a 7º dan.

Por Jenifer Pavani Ribeiro

N.T da Autora: biografia realizada por Jenifer Pavani Ribeiro do Centro de Memória Esportiva
Museu De Vaney
Fonte: Acervo CME e depoimento do Sensei José Gomes de Medeiros

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