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cos conceituais que merecem ser comenta- (nasal) por assimilação com s, e monotongação
dos. Em primeiro lugar, o autor parte de uma de au para o.
má definição de vocábulos cultos, semicultos Outro equívoco é a apresentação da palavra
e herdados, classificando como cultos alguns domnie como exemplo do sufixo ‑ie (< lat. ‑ia <
termos que, a rigor, são semicultos, e, por falta grego ‑ía) em romeno (p. 182). Segundo Teodo-
de clareza na redação, sugerindo que palavras ro Henrique Maurer Jr. (A Unidade da România
formadas a partir de termos herdados tam- Ocidental, 1951), esse sufixo não tem a ver com o
bém são herdadas. ‑ía grego ou latino e aponta como indício o fato
Em segundo lugar, alguns (felizmente de que nenhuma palavra romena terminada em
bem poucos) exemplos são inadequados: ‑ie tem correspondente em línguas da România
numa ou noutra ocasião, o autor ilustrou a ocidental; além disso, ele mostra que em alguns
evolução fonética em uma língua por meio dialetos da Dácia a forma da palavra é domnilie,
de termo importado de outra; em alguns ca- o que indica que ‑ie proviria de ‑ilia e não de ‑ía.
sos, semicultismos foram mencionados como Mas, a meu ver, o maior problema do livro
exemplos de metaplasmo hereditário. é a adoção de algumas posturas teóricas in-
Há também algumas etimologias erradas, sustentáveis, baseadas em definições grama-
como latim quassare > português cansar (na ticais superadas ou contraditadas por pesqui-
verdade, cansar provém do lat. campsare) e sas mais modernas. Senão vejamos.
outras não consensuais, como lat. tottus > Ao falar sobre os processos românicos de
francês tout, italiano tutto (a forma latina vul- formação de palavras, Bassetto afirma, inspira-
gar mais provável é tuttus) e lat. vulgar accum do em Dionísio Trácio (p. 167):
illud > port. aquilo (é fato sabido que na Ibéria
e na Dácia o e inicial das palavras latinas passa- Esse é o conceito de composição: formação de
va a a enquanto na Gália e Itália desaparecia; palavra pela junção de dois ou mais elemen-
portanto, eccum illud é suficiente para explicar tos do sistema linguístico semanticamente
tanto o port. aquilo quanto it. quello). compatíveis. O foco central do processo de
Ainda em relação a etimologias, à p. 281 o composição é, portanto, formal. A derivação,
Prof. Bassetto afirma, na esteira de outros roma- porém, é um processo semântico, em que há
nistas, que a desinência número-pessoal ‑ons da deslocamento do núcleo de significação; […]
primeira pessoa do plural em francês provém de Esse descolamento (sic), não ocorre sempre na
um suposto lat. ‑umus por analogia com a for- composição. Dito de outro modo, nem toda
ma verbal sumus (‘nós somos’). Ora, essa expli- composição é uma derivação. Consequente-
cação suscita vários problemas. Primeiro, sumus mente, não se pode falar em derivação nos ca-
deu em fr. sommes e não *sons. Segundo, por sos dos sufixos considerados gramaticais (grau,
que todos os verbos franceses, em sua maioria gênero e número nos nomes, v.g., port-inh-a-s,
regulares, iriam tomar como modelo de flexão e tempo-modo e número-pessoa nos verbos,
um verbo irregular do latim que é único em seu como em fal-á-sse-mos) […] O mesmo se dá
paradigma? Terceiro, para que o fr. chantons pro- com os prefixos, como com o verbo pôr, “colo-
viesse de um suposto *cantumus, seria necessá- car”, que admite compostos praticamente com
rio que o u fosse longo (isto é, *cantūmus, forma todos os prefixos – apor, antepor, compor, con-
inconcebível em latim), caso contrário a palavra trapor, depor, dispor […], nos quais não se altera
seria proparoxítona em latim e paroxítona em o significado básico de “colocar”, mas apenas
francês. E se proviesse de *cantūmus, a forma fr. acrescenta-se uma noção adverbial, que não é
seria *chantuns. Mais plausível é postular ‑amus suficiente para causar uma derivação, uma vez
> ‑amos > *‑ams > *‑auns > ‑ons; neste caso, to- que o significado básico permanece o mesmo:
dos os metaplasmos são regulares: síncope do “colocar”, apenas acrescido da ideia adverbial
o, dissimilação da labial nasal m em u (labial) e n própria ou figurada do prefixo.