RESISTÊNCIAS: IMPLICAÇÕES
NA SUBJETIVIDADE
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X SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PSICOLOGIA POLÍTICA
Psicologia política no Brasil e enfrentamentos a processos antidemocráticos
Eixo Temático 1
Discursos Autoritários e Conservadores no Brasil e suas Implicações para a Democracia
Coordenadores(as):
José Sterza Justo (UNESP)
Rafael Siqueira de Guimarães (UFSB)
Igor Costa Palo Mello (UNOESTE)
Fernando Silva Teixeira Filho (UNESP)
O objetivo deste GT é reunir trabalhos provenientes de pesquisas sistemáticas, reflexões sobre prá-
ticas profissionais ou exames de conceitos e teorias, de diferentes áreas do conhecimento, que con-
tribuam para discussão e compreensão do autoritarismo no cenário macro e micropolítico brasilei-
ro, sobretudo, aquele que utiliza a subjetividade como sua principal estratégia para a produção de
convencimentos e de verdades. Serão acolhidos trabalhos de diferentes orientações teórico-
metodológicas, voltados para diferentes temas, tais como o do preconceito, da discriminação, su-
balternização, opressão e violência orientadas por marcadores de classe social, raça/cor, etnia, gê-
nero, idade, espacialidade/territorialidade, nacionalidade, dentre outros, utilizados para justificar
práticas de dominação, subjugação e de extermínio daqueles considerados dissidentes, diferentes e
perigosos.
A p r e s e n ta ç ã o
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29 de Outubro a 01 de Novembro | UFAL | Maceió-AL
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Psicologia política no Brasil e enfrentamentos a processos antidemocráticos
software IRAMUTEQ e a análise de conteúdo. A análise nos possibilitou reconhecer que as transformações
subjetivas decorrentes destas experiências de interconexões nos conferem outras identidades, outros papéis
sócio-comportamentais, outros pontos de referência comunitária, outras estratégias de comunicação, outros
saberes que, aparentemente, nos capacitam à manutenção contínua de diálogos ou monólogos ante a
"presença do outro" que surge como signo atestando que não estamos sozinhos ou, ao menos, indicando
que alguém nos vê, nos lê e nos ouve. Por fim, reconhecemos que os afetos que se apresentam nos proces-
sos de significação que constituem sujeitos e, ao mesmo tempo, são por eles manejados para produzir e
atestar sua presença nos processos interativos; aqui emergem e configuram-se comunidades que partilham
significações de ódio, opondo subjetividades e pretendo cristalizar singularidades opositivas em seus discur-
sos desqualificando suas existências.
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tências que, no envelhecer, por vezes são revividas e ressignificadas em experiências de sexualidades na velhice e/ou
em (re)apropriar-se de seu envelhecer. Neste trabalho também pretendemos tecer reflexões sobre a velhice institu-
cionalizada, cujas existências são administradas e confinadas em asilos. Para além da vida controlada, nosso intuito
será apresentar relatos de enfrentamentos e resistências dos idosos nesse espaço muitas vezes assemelhado à uma
instituição total. Por fim, compreendemos que a velhice, entre o controle e a resistência, é uma categoria social polí-
tica, especialmente em uma sociedade que cultua a juventude eterna.
As Imposições das Religiões no Estado Laico dentro das Medidas Socioeducativas: Um Relato de Experiência
Jéssica Michelle Dos Santos Silva (ESTÁCIO)
Maria Das Graças De Carvalho Gonçalves (UNCISAL)
Diogo Rodrigo Do Nascimento (UFAL)
Anna Alleska Silva Santos (UNIT)
Allycia Da Silva Álvares (UNIT)
Comunicação Oral
Sabe-se que a Constituição Federal de 1988, ao tratar da Organização do Estado Brasileiro (ART. 19, Caput) e dos
Direitos e Garantias Fundamentais (ART 5º, inciso VI), respalda a neutralidade do estado brasileiro quanto à liberda-
de do sujeito de possuir ou não uma crença, sem sofrer qualquer coação ou discriminação. Nesse sentido, no âmbito
da execução de medidas socioeducativas, aplicadas adolescentes em conflito com a lei, o estado laico e a liberdade
religiosa são defendidos no estatuto da criança e do adolescente (ECA) e no próprio sistema nacional de atendimen-
to socioeducativo (SINASE). Esses instrumentos legais estão, inclusive, alinhados a ditames internacionais, segundo
os quais os adolescentes devem ter direito a receber visitas de um representante qualificado de qualquer religião da
sua escolha, assim como o direito de não participar dos serviços religiosos e de recusar livremente, a educação,
aconselhamento ou doutrinação religiosa. Contudo, foi percebida na prática a ofensa à liberdade religiosa em unida-
des de internação. No presente trabalho, pretende-se apresentar a vivência do projeto de atenção integral á saúde
prisional e internação socioeducativa (PAISPIS), UNCISAL, em uma unidade de internação provisória masculina no
estado de Alagoas, onde foi percebida a instrumentalização e a doutrinação de uma determinada religião no recinto,
contrariando o sentido de um estado laico, e da assistência religiosa, a qual deve ser oferecida respeitando a indivi-
dualidade de cada sujeito. Partindo da percepção de que essa negativa do direito fundamental à liberdade religiosa
pode impactar negativamente na saúde integral dos adolescentes, os acadêmicos e preceptores do PAISPIS estrutu-
raram a atividade “espiritualidade e sentido de vida”, para oportunizar o contato dos adolescentes internos na referi-
da unidade com representantes de diferentes credos religiosas, com o intuito de promover uma intervenção reflexi-
va sobre estado laico e liberdade religiosa na unidade de internação.
defendem modos de existência ética e politicamente referenciados. Ambas possuem potências na construção do
bem-estar comum, rompendo desta maneira com as lógicas de dominação e controle. Neste sentido, é possível pen-
sar as práticas psicológicas e os saberes que elas movimentam, e os agenciamentos produzidos a favor das lógicas
que operam a favor dos direitos de existência.
facilmente reconhecíveis”. A democracia é decisiva na efetivação dos direitos humanos dos/as cidadãos/ãs. O artigo
21, parágrafo 3 da Declaração Universal dos Direitos Humanos diz o seguinte:
“a vontade do povo é o fundamento da autoridade dos poderes públicos; e deve exprimir-se através
de eleições honestas a realizar periodicamente por sufrágio universal e igual, com voto secreto ou
segundo processo equivalente que salvaguarde a liberdade de voto”.
Envolvimento Ativista como Parte do “Renomear O Vivido”: Reflexões sobre Experiências Femininas pelos
Ativismos Populares
Cessimar De Campos Formagio (UFSCAR/SP)
Comunicação Oral
Nesta proposta de comunicação oral, pretendo trazer algumas considerações construídas em minha pesquisa de
doutorado, realizada no programa de pós-graduação em sociologia da UFSCAR/SP, sobre a relação entre o envolvi-
mento feminino em ativismos populares e a busca social por renomear processos de subalternidades percebidos no
cotidiano, ritual que nomeei como “renomear o vivido”. Em interlocuções, ocorridas entre 2015 e 2017, com mulhe-
res que, por diferentes formas e caminhos, passam/ passaram por experiências em práticas ativistas nas cidades de
Campinas/SP e São Paulo/SP, percebeu-se que o envolvimento ativista, em meio a outras causas motivadoras, pode
se dar enquanto parte de uma busca social por mapear e nomear angústias e insatisfações em relação a normatiza-
ções sociais que tecem o convívio nos espaços públicos e na família e naturalizam subordinações e violências. O exer-
cício de “dialogar em público” sobre questões sociais, possibilitado nos encontros ativistas, coloca-se como uma pos-
sibilidade de nomear coletivamente sensações antes confusas, e, assim, fortalecer e nomear a desidentificação em
relação, principalmente, a dois reguladores presentes no contexto brasileiro de expansão da racionalidade neolibe-
ral: aos discursos/práticas de privatização do espaço público e ao dispositivo familiar que centraliza na figura femini-
na a responsabilidade pelos cuidados domésticos e familiares. Como referenciais teóricos, apoio-me nas considera-
ções sobre a expansão do neoliberalismo e seus impactos nas subjetivações contemporâneas construídas por Fran-
cisco de Oliveira e também por pesquisadores que se apropriam dos escritos de Foucault sobre a governamentalida-
de neoliberal, tal como Dardot e Laval, Nildo Avelino e Cibele Rizek. Para refletir a construção da subjetividade diante
dos processos de sujeição, inspiro-me nas considerações de Judith Butler, Jacques Rancière e de Vladimir Safatle so-
bre os estranhamentos e desidentificações que compõem a produção dos sujeitos e ocasionam traduções e desejos
políticos divergentes.
ção argumentativa na disputa fundamentalista religiosa sobre a educação nacional pode ser apresentada por meio
de duas categorias: (1) a cristianização da educação e (2) a fragilização do reconhecimento da diversidade social,
com ênfase para questões de gênero e diversidade étnica/religiosa. Conclusões. A disputa fundamentalista da edu-
cação nacional pode ser entendida como projeto político mais amplo, que visa a formação de subjetividades afeitas
aos princípios políticos defendidos por neoconservadores de direita no brasil. A ênfase no caráter técnico da educa-
ção é acionada para vedar debates sobre desigualdades sociais, o que não se coaduna com as proposições que expli-
citamente visam garantir a cristianização dos valores morais.
Comunicação Oral
As redes sociais são um dos maiores fenômenos de massa da atualidade. As suas facilidades de uso e conectividade,
são fatores que auxiliaram a sua expansão para além do uso cotidiano, vide as jornadas de 2013, organizadas princi-
palmente através delas. Atualmente, grupos e digital influencers autodenominados de esquerda e direita se digladi-
am nas redes, defendendo seus ideais a todo custo, muitos proferindo discursos de ódio a quem possui um posicio-
namento antagônico, se destacando a criação de fake news, que são notícias falsas e sensacionalistas criadas e espa-
lhadas somente com o intuito de enfraquecer o outro lado. Objetivou-se discutir o que leva tais grupos seguirem
essas ideologias, construir e crer nessas fake news. Utilizamos para esta discussão o conceito de ideologia de Guares-
hi (2008), o estudo de Allcot e Gentzkow (2017) sobre o impacto das fake news nas eleições americanas de 2016, o
conceito de discurso de ódio trazido por Schâfer, leivas e santos (2015) e a ideia de indústria cultural de adorno e
Horkheimer (1985). Fora utilizado o método de revisão narrativa de literatura, assim produzindo um escopo teórico
amplo sobre o tema. Relacionando os conceitos, trouxemos o ideal das fake news como um produto da indústria
cultural, em que a ideologia por trás destas notícias, as fez se tornarem um produto, um produto que é mais aceito
quando elas convergem com o ponto de vista ideológico de quem as lê, ou quando o sujeito possui um conhecimen-
to raso sobre a temática. Allcott e Gentzkow (2017) apontam uma motivação financeira (no sentido de quanto mais a
notícia for compartilhada e visualizada, maiores serão os ganhos) e ideológica (por favorecer os seus candidatos ou
causas) na criação destas notícias. Concluímos que as fake news podem ter um papel preponderante e massivo na
formação, perpetuação de ideologias e no processo de alienação.
da psicologia”. Neste sentido, o presente trabalho visa apresentar os desdobramentos iniciais da pesquisa de douto-
rado intitulada "prisioneiras invisíveis: mulheres indígenas encarceradas nos estabelecimentos penais de mato gros-
so do sul", cujo objetivo é problematizar, à luz do referencial teórico da psicologia social crítica e estudos decoloniais,
a construção da subjetividade de mulheres indígenas que estão presas em unidades penais localizadas no estado
brasileiro de mato grosso do sul - MS. Além do necessário levantamento bibliográfico, a pesquisa é subsidiada por
entrevistas realizadas com mulheres indígenas em situação prisional. Dentre tais entrevistas, destacam-se elementos
acerca de Kuñataî (nome fictício cujo significado é "mulher jovem"), mulher da etnia Guaraní-Kaiowá que cumpre
pena de vinte e cinco anos de reclusão no estabelecimento penal feminino de três lagoas - MS com base no Artigo
157, § 3º, Parte II do Código Penal Brasileiro. Para além de apresentar dados meramente censitários acerca das mu-
lheres indígenas no sistema prisional, a pesquisa aborda temas como o protagonismo destas mulheres, especialmen-
te as Guaraní-Kaiowá, nas lutas contra as diversas formas de exclusão, violência e negligência do estado a que são
submetidas cotidianamente.
Comunicação Oral
Trata de pesquisa junto ao núcleo de atenção ao homem (Nah) de uma cidade do oeste paulista, que desenvolve
trabalho com homens autores de violência contra a mulher. O trabalho do Nah é realizado com a rede mulher do
município, em especial, o CREAS – mulher e fundamenta-se nos Artigos 35 e 45 da Lei Maria da Penha. O objetivo da
pesquisa é analisar as percepções da equipe do Nah acerca do trabalho desenvolvido com homens autores de violên-
cia contra a mulher e as possíveis mudanças nas percepções dos usuários a partir dos atendimentos realizados nos
grupos reflexivos. Possui como base teórica as concepções de gênero como construção social e portanto, passíveis
de serem desconstruídas ou resignificadas e a violência, desnaturalizada. Trata-se de metodologia de abordagem
mista de campo com caráter exploratório, tendo como instrumentos entrevistas semi-estruturadas sobre o trabalho
realizado, os resultados já obtidos e esperados, além de questionário com escala de tipo Likert abordando percep-
ções sobre gênero dos atendidos, dinâmicas relacionais, reconhecimento de violências e táticas de resolução de con-
flitos, com comparações pré e pós-atendimentos. A análise dos dados qualitativos é realizada através da analise de
conteúdo e dos dados quantitativos através do software PSPP. Os resultados já obtidos apontam para o caráter polí-
tico da atuação dos profissionais concomitante a falta de institucionalização como política pública do trabalho reali-
zado, a efetividade do serviço no que tange às mudanças de percepções dos atendidos, a redução do número de
reincidências, por meio de feedback do CREAS – mulher, a dificuldade na abordagem da religião e da violência psico-
lógica, a incompreensão dos agressores sobre os motivos do encaminhamento ao Nah, a demora nos encaminha-
mentos via processo judicial e a insuficiência do tempo de permanência nos grupos.
Psicopolítica da Violência Contra Atingidos por Barragens: A Subjetividade como Instrumento de Legitimação
Andreia Duarte Alves (UNESP)
José Sterza Justo (UNESP)
Comunicação Oral
O aumento de desalojados pela implantação ou rompimento de barragens e as crises socioambientais decorrentes
levaram-nos, desde meados dos anos 2000, a estudar a subjetividade de populações atingidas por barragens. No tra-
balho de conclusão da graduação e na dissertação de mestrado em psicologia e sociedade, pesquisamos uma comu-
nidade atingida por uma barragem instalada na década de 1990. Na atualidade a violência tem se aprofundado, rela-
tórios recentes do conselho nacional de direitos humanos (CNDH) sobre as violações de direitos contra atingidos por
barragens hidrelétricas e pelo rompimento de uma barragem de resíduos de mineração em minas gerais – respecti-
vamente em 2010 e 2017 – revelaram a mesma lógica de institucionalização das violações de direitos, negociações
autoritárias, criminalização da resistência, penalização de lideranças comunitárias, instrumentalização das políticas
de assistência social, ausência ou fragilidade de indenizações e reparações, etc. A identificação de um aprimoramen-
to dessas estratégias a partir da instrumentalização da violência psicológica em processos recentes como as viola-
ções observadas em belo monte (PA) e mariana (MG) motivou-nos a seguir no doutoramento investigando a dinâmi-
ca psicopolítica do processo de desapropriação e indenização a essas populações. Para isso temos coletado e analisa-
do documentos de domínio público disponíveis em sítios oficiais de instituições e órgãos públicos, empresas respon-
sáveis pelas barragens, agências de notícias, movimentos sociais e ONGs referente a processos ocorridos após 2010.
A bibliografia teórica sobre violência estudada até esta etapa da pesquisa compõe a ciência política e da psicologia
política. Porém, optamos por não definir antecipadamente o referencial teórico, mas delimitá-lo a partir das especifi-
cidades dos conteúdos obtidos ao longo do trabalho de investigação. Nosso objetivo é descrever a dinâmica psicopo-
lítica de consolidação e legitimação da violência e como a subjetividade – medo, luto, revolta, resistência, culpa, etc.
– são aliciados e manipulados ao longo das diferentes etapas de negociações e dos processos judiciais.