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Universidade Luterana do Brasil – ULBRA

Unidade Gravataí

Conceito de recalcamento

por

Alexandre Barbosa dos santos

Tecnicas Psicoterapicas I
Prof. Aurélio Marcantonio

Gravataí, RS

Março de 2019
O Recalcamento

As representações que são tornadas inconscientes não são destruídas nem têm a
sua força reduzida, elas permanecem lutando, a nível inconsciente, para se tornarem
conscientes. O termo então utilizado para designar a expulsão de uma representação
para longe do local de entrada da consciência é recalcamento.
Quando Freud abandona a hipnose e solicita aos seus clientes que procurem se
lembrar do fato traumático sem o auxílio da hipnose, ele passa a se defrontar com um
fato novo que era inteiramente ocultado pelo próprio método que empregava: a
resistência por parte do paciente que se manifestava sob a forma de falha de memória ou
de incapacidade de falar sobre o tema caso este lhe fosse sugerido.
Essa resistência foi interpretada por ele como o sinal externo de uma defesa cuja
finalidade era manter fora da consciência a idéia ameaçadora. A defesa nada mais era
do que a censura exercida pelo ego sobre a idéia ou conjunto de idéias que despertavam
sentimentos de vergonha e de dor.
Apesar de Freud ter empregado durante algum tempo defesa e recalcamento de
forma semelhante, o termo recalcamento vai ganhando maior precisão conceitual
enquanto defesa passa a ser utilizado de uma forma mais ampla e, portanto mais vaga.
Freud define o recalcamento como o processo cuja essência consiste no fato de
afastar determinada representação do consciente, mantendo-a à distância. O objeto do
recalcamento não é a pulsão propriamente dita, mas um de seus representantes
(representante ideativo) capaz de provocar desprazer em face das exigências da censura
exercida pelo sistema pré-consciente/consciente.

O Recalcamento e os Representantes Psíquicos da Pulsão

A finalidade do recalcamento é evitar o desprazer, então fica difícil explicar


como é que a satisfação de uma pulsão poderia provocar desprazer. A satisfação de
uma pulsão é sempre prazerosa. Portanto, quando Freud fala em recalcamento da
pulsão, devemos ter sempre em mente que ele está se referindo ao representante ideativo
da pulsão, esta sim, capaz de provocar desprazer ao ser confrontada com o sistema pré-
consciente/consciente.
“...O recalcamento não é um mecanismo defensivo que esteja presente desde o início,
ele só pode surgir quando tiver ocorrido uma cisão marcante entre a atividade mental
consciente e a inconsciente”. FREUD.

O Recalcamento Originário (Primário)

Ou bem o recalcamento é um mecanismo do sistema pré-consciente ou bem ele é


o responsável pela cisão do psiquismo e, portanto, constituinte de cada um dos sistemas.
Para resolver essa aparente contradição, Freud lança mão da distinção entre
recalcamento originário (primário) e recalcamento propriamente dito ou posterior
(secundário).
Freud distingue três fases no processo de recalcamento. São elas: a fixação, o
recalcamento propriamente dito e o retorno do recalcado.
É essa primeira fase, a da fixação ou inscrição que ele vai denominar
recalcamento originário. Mecanismo segundo o qual a pulsão era inibida em seu
desenvolvimento e permanência fixada num estágio infantil, mantendo-se inconsciente
(não no inconsciente recalcado, pois este ainda não se constituiu). Termo “inscrição” é
mais apropriado para designar o recalque originário.
Assim, quando uma cena é presenciada por uma criança que ainda não está na
fase de significação, o que foi presenciado ainda não teve valor traumático, se dando
somente a sua inscrição num inconsciente não recalcado. Ela ainda não é dotada de
significação, o que vai acontecer somente após sua integração, através da linguagem, no
sistema simbólico do sujeito.
Essa retroatividade do simbólico em direção ao imaginário não se faz sobre
qualquer material da experiência, mas sobre aquele que, por não poder ser dotado de
significação, não pode ser vivido.
Antes de ser formados os sistemas inconsciente e pré-consciente/consciente,
certas experiências cuja significação inexiste para o sujeito são inscritas no inconsciente
e tem seu acesso à consciência vedado a partir de então. Essas inscrições vão funcionar
como o “recalcado” original que servirá de pólo de atração para o recalcamento
propriamente dito. Essas inscrições se dão antes do ingresso no simbólico e
permanecem no registro do imaginário até que recebem significação a partir do
momento em que o sujeito atinge a verbalização. É somente ao receber significação por
parte do sistema simbólico que seu caráter traumático vai ser experienciado pelo sujeito
e ocorrerá o recalcamento propriamente dito.

O Recalcamento Secundário

Freud distingue as três fases do recalcamento, ele descreve a segunda fase (a do


recalque secundário) como sendo constituída por um processo essencialmente ativo, por
oposição ao recalcamento primário, que é de natureza mais passiva.
Ele é efeito do conflito entre o sistema inconsciente e o sistema pré-
consciente/consciente, sendo que a partir deste último que ele é exercido. A função do
recalcamento é, como já foi dito, a de impedir que certas representações pertencentes ao
sistema inconsciente tenha acesso ao sistema pré-consciente/consciente.
Uma vez recalcado, as idéias continuam a ter existência independente. O
recalcamento interfere apenas na relação do representante ideativo com o sistema pré-
consciente/consciente, mais não com o seu modo de ser no interior do sistema
inconsciente.

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