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REFERENCIAL PARA A OBTENÇÃO DA QUALIDADE NO

PROCESSO EM ALVENARIA

Cristina Eliza Pozzobon


Engenheira Civil - Especialista em Gestão da Qualidade
Mestranda do CPGEC/Universidade Federal de Santa Catarina
e-mail: ecv3cep@ecv.ufsc.br

Eduardo Rizzatti
Engenheiro Civil – M. Sc.
Professor Dep. Estruturas e Construção Civil
Universidade Federal de Santa Maria

RESUMO
This work present a sistematic revision of bibliography about construction process,
masonry and quality. Shows the differences between structural masonry and conventional
masonry, too. This theoretical reference can be read fastly and used to improve the
construction management.
ÁREA: Gerência da Produção
KEY WORDS: Masonry, quality, management

1. INTRODUÇÃO
A preocupação com qualidade e produtividade, que tomou conta do cotidiano
brasileiro há alguns anos, chamou a atenção dos empresários construtores não só para as
questões relativas à competitividade, visando diminuir custos e prazos, mas também, para
questões relacionadas com as técnicas e processos utilizados, buscando aumentar a
eficiência da mão-de-obra e melhorar a qualidade final do seu produto.
A alvenaria destaca-se nesse contexto pela introdução de ferramentas, equipamentos
e pela sua postura gerencial em uma indústria que ainda é muito carente de avanços
tecnológicos.
Este trabalho foi realizado com o intuito de apresentar uma revisão sistematizada da
bibliografia pertinente ao processo construtivo, a alvenaria convencional e a alvenaria
estrutural. Como a proposta é baseada na gestão do processo, inseriu-se o assunto
qualidade, dando ênfase aos principais conceitos que podem ser aplicados na indústria da
construção civil. Embora seja um apanhado teórico, buscou-se fazê-lo de maneira clara e
objetiva a fim de permitir rápida consulta, uma vez que existe ampla bibliografia (incluindo
muitas obras clássicas) que tangem o assunto.

2. O PROCESSO PRODUTIVO NA CONSTRUÇÃO CIVIL


“Um processo pode ser visto como um conjunto de atividades que recebe entradas,
agrega valor a estas entradas e fornece um resultado final cujo valor é superior ao das
entradas. Esta visão de processo é normalmente conhecida como o modelo IPO (Input-
Process-Output). A definição de processo permite englobar tanto um pequeno conjunto de
atividades quanto um complexo sistema de operações” (Viera, 1995).
A cadeia produtiva que forma o setor da construção civil conta com uma grande
variedade de fatores e agentes intervenientes, além dos produtos parciais gerados ao longo
do processo de produção. Estes produtos incorporam diferentes níveis de qualidade que
irão afetar a qualidade do produto final. A busca da qualidade neste setor significa envolver
todos intervenientes pelo comprometimento com a qualidade de seus processos e produtos
parciais e com a qualidade do produto final.
O processo produtivo na construção de edificações inicia com a atividade do
planejamento, a partir da identificação da necessidade do usuário, cuja responsabilidade é de
um construtor ou incorporador, seguindo-se as atividades de elaboração dos projetos que
ficam a cargo do projetista, do proprietário e do construtor. A partir destas definições
inicia-se o processo construtivo com as atividades de escolha e aquisição dos recursos
necessários para o empreendimento: materiais e equipamentos, recursos humanos e recursos
financeiros.
A gestão consiste em desenvolver, implantar e controlar todo o processo produtivo
com o objetivo de prevenir os defeitos onde quer que eles ocorram, podendo acontecer na
área de projeto, material recebido, processo de produção ou de produto. Gerenciar significa
coordenar todos serviços que interferem no processo, sem esquecer nem privilegiar nenhum
deles, visando atingir o objetivo final, com a qualidade esperada do produto, dentro do
prazo definido e dos custos orçados.
A qualidade dos processos deve ser gerada com o objetivo de melhorar o
desempenho da organização. Para a obtenção do êxito na busca pela qualidade são
utilizadas algumas ferramentas, visto que o uso de ferramentas adequadas evita uma série de
falhas muito comuns nas decisões do cotidiano (Souza et al, 1995).
Neste contexto, a necessidade de definir precisamente os procedimentos de execução
tem assumido uma importância crescente, frente a rapidez da evolução tecnológica e o
aumento da diversidade de materiais e componentes de construção. “O objetivo do
desenvolvimento e da implantação de um sistema de padronização é reduzir a variabilidade
dos processos, fazendo com que os insumos sejam processados sempre da mesma maneira e
o valor agregado seja sempre o mesmo, gerando assim a satisfação permanente do próximo
processo e do cliente externo. O produto final receberá os impactos benéficos da
padronização na forma de redução de custos devido a utilização racional de materiais,
equipamentos e mão-de-obra, sem desperdício nem retrabalho” (Souza et al, 1995).
Maia (1994) enfatiza que a padronização permite a obtenção e a manutenção do
domínio tecnológico e que uma das suas vantagens consiste no incremento da
produtividade, obtido via melhoramento do método. Uma forma simples de padronizar os
serviços de execução de edifícios é, em primeiro lugar, determinar os padrões da
construtora, ou seja, definir a tecnologia a ser utilizada em todas suas obras. Outra opção é
elaborar o procedimento operacional para toda a fase executiva da obra, incluindo todas as
tecnologias e escolher aquelas que fazem parte da obra a ser executada, semelhante ao que
ocorre na escolha das composições de custos existentes para elaboração de orçamentos
(Maia, 1994).
Cabe relatar que a falta de padronização pode conduzir à variação na produtividade
por operador, na qualidade do produto e sobretudo no custo. Entretanto, a determinação de
padrões sem critérios bem definidos pode causar o fracasso da padronização ou, o sucesso
desta, caso os padrões sejam satisfatórios. Após a elaboração dos padrões, sua implantação
deve ser feita de acordo com o ciclo PDCA. Trata-se de um instrumento valioso de controle
e melhoria do processo. Para gerenciar a rotina utiliza-se o executar e o verificar. A parte
do melhorar é usada quando a normalidade começa a se prolongar.
Segundo Campos (1992), a redação dos procedimentos-padrão operacionais no
PDCA é um processo de educação e treinamento, visto que é realizada com a participação
de todos grupos interessados no assunto. A partir do treinamento decorre a delegação, a
formação de grupos para o autodesenvolvimento (chamado CCQ - Círculo de controle da
Qualidade) e a rotação de cargos. Os círculos de controle da qualidade tem sido uma
ferramenta utilizada pela maioria das empresas que implementam o TQC, visando sobretudo
estabelecer a participação organizada e sistemática.

3. A ALVENARIA
“Conjunto coeso e rígido, conformado em obra, de tijolos ou blocos (unidades de
alvenaria) unidos entre si por uma argamassa” (Sabbatini apud Araújo, 1995). Ou, ainda,
“conjunto de blocos artificiais ou componentes naturais, ordenadamente dispostos, unidos
por uma argamassa ou não, formando um maciço que deve apresentar resistência,
durabilidade e impenetrabilidade” (Araújo, 1995).
Em termos de iniciativas de melhorias e de inovações tecnológicas, as empresas
destinam especial atenção ao processo alvenaria, uma vez que a alvenaria é um serviço que
já foi estudado exaustivamente e possuí índices diversos para consumo de materiais e mão-
de-obra. Trata-se, também, de uma atividade com muita importância na lista de
precedências, trazendo muitas atividades dependentes (tais como: instalações,
revestimentos, marcos e forros).
Por outro lado, é uma atividade de programação fácil e que reage bem as iniciativas
de racionalização, refletindo suas melhorias nos serviços posteriores.
Scardoelli, Silva & Formoso (1994) afirmam que as inovações mais freqüentes
observadas na produção de alvenaria referem-se a: Desenvolvimento e integração de
documentos de projeto; organização do canteiro; aquisição, desenvolvimento e adaptação
de equipamentos e ferramentas e ; desenvolvimento de materiais e componentes para
facilitar a racionalização da execução.
Heineck & Andrade (1994) através da observação em canteiros de obras de 20
empresas construtoras do país sugerem uma lista de melhorias diretamente relacionadas
com a alvenaria relativas ao projeto, à geometria da obra, à movimentação de materiais, à
organização do posto de trabalho, à organização do trabalho e a gerência, ao treinamento e
desenvolvimento cognitivo dos operários.

4. A ALVENARIA ESTRUTURAL
Na alvenaria estrutural, as paredes são os elementos estruturais, devendo resistir às
cargas como fariam os pilares e vigas utilizados em obras de concreto armado, aço ou
madeira. O projeto ideal considera a distribuição das paredes de forma que cada uma atue
como elemento estabilizador da outra. O processo construtivo em alvenaria estrutural é
empregado na construção de edifícios que se caracterizam por uma estrutura suporte de
sistema tridimensional de elementos planos constituídos por paredes de alvenaria e lajes que
são dimensionadas segundo métodos racionais e de confiabilidade determinável (Sabbatini
apud Araújo, 1995).
Para Sabbatini (apud Araújo, 1995), os principais parâmetros a serem observados na
execução das alvenarias são: Exatidão na locação das paredes; precisão no alinhamento,
nivelamento e prumo; regularidade no assentamento das unidades; preenchimento e
regularidade das juntas de argamassa; coordenação na amarração dos blocos.
A gestão do processo em alvenaria estrutural deve levar em consideração as
seguintes ações:

4.1 Racionalização
Ação praticada com o objetivo de tornar racional a atividade construtiva, sendo “um
processo composto pelo conjunto de todas as ações que tenham por objetivo otimizar o uso
de recursos materiais, humanos, organizacionais, energéticos, tecnológicos, temporais e
financeiros disponíveis na construção em todas as suas fases” (Sabbatini, 1989).
O primeiro degrau da racionalização da alvenaria estrutural é a padronização
dimensional do componente básico (bloco ou tijolo). Escolhido um componente
padronizado parte-se para a modulação das paredes, em planta e em elevação.
Uma das maneiras de racionalizar a construção é através da coordenação de
projetos. Esta coordenação eleva a qualidade do projeto global e, como conseqüência,
melhora a qualidade da construção. Para Picchi (1993), a coordenação de projetos é
fundamental para garantir a qualidade final do edifício e, especialmente, para assegurar uma
melhor execução, evitando o retrabalho e o desperdício de materiais.

4.2 Projeto Executivo


Tendo em vista que a execução deve se basear nas informações contidas nos
projetos e nas suas especificações, constata-se a necessidade do desenvolvimento de
projetos executivos apresentando detalhamentos que os tornem claros e precisos (Araújo,
1995). Da mesma forma, a definição das paredes estruturais de vedação deve ser
acompanhada da especificação correta dos blocos para cada fim, fator imprescindível para a
modulação do projeto.
O projeto é elemento chave da gestão do processo na alvenaria estrutural dada sua
importância como vínculo de ligação, uma vez que, necessariamente, a prática deve seguir a
teoria e todas as soluções estão bem definidas no papel. Neste caso, nenhuma decisão fica a
critério da obra.
Outro conceito que se apresenta importante é o da construtibilidade, sendo definido
como a facilidade em construir. Para Griffith (apud Araújo, 1995) construtibilidade trata-se
de um conjunto de ações praticadas na concepção do edifício que simplificam e facilitam as
atividades de execução, sujeitando-se a todos os requisitos do edifício, quando executado.
Araújo (1995) afirma que este conceito se baseia no conhecimento e na experiência
construtiva das fases de concepção, planejamento, projeto e execução da obra a fim de
obter a simplificação das operações construtivas. Geralmente a boa construtibilidade é dada
na ausência de curvas, juntas e detalhes excessivos; em locais iluminados, sem sombras e
com acessibilidade e espaços adequados para o trabalho. Também é dada pela padronização
e pela simplificação do projeto.

4.3 Gerência do canteiro


Consiste na infra-estrutura necessária para a garantir o bom andamento da obra.
Fazem parte desta gerência, o planejamento do layout, o treinamento da mão-de-obra, o
planejamento da execução e, os equipamentos e ferramentas desenvolvidas e/ou adaptadas
no intuito de aprimorar e agilizar o processo construtivo nas suas várias atividades.

4.4 Controle no canteiro


Acompanhamento contínuo da execução e a contínua comparação do executado
com o previsto. O sistema de controle do processo deve ser economicamente compatível
com o objeto visando a retroalimentação do processo. São importantes os controles: do
prumo, nível e alinhamento; da mão-de-obra e; no uso dos equipamentos.
Na implantação da alvenaria estrutural existe a necessidade do treinamento da mão-
de-obra, uma vez que os sistemas e os projetos não são convencionais. Neste caso, a
qualidade da mão-de-obra e do detalhamento de projetos são fatores determinantes da
qualidade global da obra. Na metodologia do treinamento da mão-de-obra podem ser
aproveitadas as novidades para a motivação do operário.
5. DISCUSSÃO ALVENARIA CONVENCIONAL X ALVENARIA ESTRUTURAL
A alvenaria estrutural diferencia-se dos demais processos construtivos por diversos
fatores, dentre estes, por possuir características intrínsecas que exigem um nível mínimo de
qualidade para garantir a estabilidade e o bom desempenho do edifício (Araújo, 1995).
As vantagens da utilização da alvenaria estrutural centralizam discussões, embora
todos especialistas (Symanski, 1997) concordam que processo é mais econômico que o
usual, gera redução no uso de concreto, ferragem e mão-de-obra, simplifica as instalações
evitando rasgos nas paredes; diminui a espessura dos revestimentos, apresenta facilidade de
treinar a mão-de-obra; gera maior rapidez e facilidade de construção e melhor desempenho
termoacústico.
Medeiros & Sabbatini (apud Araújo, 1995) afirmam que a principal vantagem da
alvenaria estrutural é sua capacidade de racionalização em todas etapas da construção,
utilizando-se para isso de recursos humanos e materiais.
Outras vantagens visíveis da alvenaria estrutural que podem ser citadas: Dispensa o
uso de formas de madeira, metálica ou outras; reduz o uso de ferragem; dispensa o uso de
pilares e vigas; permite a redução da mão-de-obra; racionaliza o canteiro e sua
industrialização; reduz o tempo de construção; reduz o custo da obra; reduz o lixo e o
entulho; permite que sejam instaladas as redes elétricas, hidráulicas e de telefones sem a
abertura de canaletas; garante o alto padrão de qualidade da construção em função da
homogeneidade da produção das peças; permite a paletização, imprimindo maior ritmo à
logística da obra; não necessita de grande aquisição de equipamentos e ferramentas; não
exige grandes investimentos; simples e facilmente absorvível pelo meio técnico.
A alvenaria estrutural não armada de blocos de concreto apresenta limitações no seu
emprego, como qualquer outro sistema construtivo. Estas limitações não impedem a sua
utilização, contudo, necessitam ser avaliadas no estudo de viabilidade do empreendimento.
A execução das paredes estruturais exige materiais adequados para tal finalidade e cuidados
com o projeto, com a qualidade da mão-de-obra, além do maior controle de qualidade
possível, embora trate-se de um processo relativamente simples.
“Sempre que possível deve-se evitar utilizar a alvenaria armada apoiada diretamente
sobre pilotis devido ao alto custo provocado pelas grandes dimensões da estrutura de
transição em concreto armado. Para se obter a maior racionalização do método construtivo
é importante descarregá-la diretamente no terreno” (Campos apud Araújo, 1995).
Uma das desvantagens da alvenaria estrutural diz respeito as ampliações, uma vez
que a parede compõe a estrutura e não pode ser retirada para aumentar a área do quarto ou
sala na edificação. Deve-se ainda, comentar que a alvenaria estrutural apresenta limitações
com relação a impossibilidade da remoção das paredes, ao número de pavimentos possíveis
de serem alcançados, a distribuição das paredes e a necessidade de amarração entre os
elementos.

6. O DESPERDÍCIO NO PROCESSO
Picchi (1993) menciona que o entulho gerado nas obras brasileiras com sistema de
construção convencional e estrutura independente varia em função do elemento de alvenaria
utilizado e do grau de organização e controle da obra. Afirma, ainda, que é freqüente na
construção de edifícios a utilização de espessuras de argamassa bastante acima do projetado
para correção de imperfeições de prumo, alinhamento e nivelamento da estrutura e
alvenarias, sendo a alvenaria, juntamente com o entulho, um dos maiores fatores de
desperdício de materiais, estimado em 5% sobre o custo de uma obra com valores
arbitrados.
Algumas perdas de materiais (cimento, areia e argamassa) identificadas em processos
construtivos convencionais acontecem devido ao controle de recebimento deficiente,
problemas de transporte e armazenagem (contenção lateral, contaminação de materiais,
altura das pilhas dos sacos de cimento, duplo manuseio e as vias de transporte e
equipamentos inadequados), falta de controle de traços de argamassa e enchimento de
rasgos. Também pode ser identificada uma forte correlação entre as perdas e a espessura
dos revestimentos, especialmente em função da geometria da estrutura e das dimensões dos
componentes. No caso dos blocos cerâmicos e dos tijolos, os principais problemas que
contribuem para a incidência de perdas estão na falta de controle de recebimento dos
materiais, na falta de segurança dos estoques, no uso de meio de transportes inadequados,
na estocagem inadequada, na falta de coordenação dimensional, falta de meios tijolos,
modificações de projeto e no encunhamento (Santos et al, 1996).
Por outro lado, no estudo de desperdício dos materiais em alvenarias convencionais
realizado por De Cesare & Formoso (1994), o primeiro ponto detectado refere-se à falta de
padronização dimensional de tijolos nos diferentes canteiros. Estes autores salientam que se
pode reduzir os desperdícios verificados no fornecimento das peças de tijolo e aumentar o
controle sobre o material adquirido se as unidades forem recebidas devidamente
empacotadas.
Franco (apud Araújo, 1995) relata que “a simples organização das tarefas
tradicionalmente executadas, através de um planejamento e uma programação mais
eficientes pode levar a diminuição dos desperdícios, ao aumento da produtividade, do
desempenho e da qualidade dos produtos acabados”.
O trabalho de Guedert (1994) identificou a descontinuidade da operação de
assentamento dos tijolos como o maior problema, visto que a cada fiada os pedreiros
abandonavam a colher e buscavam o prumo para garantir a verticalidade dos tijolos
externos, além das verificações feitas posteriormente. O uso de escantilhões, neste caso, foi
a solução encontrada para o problema.

7. A MELHORIA DO PROCESSO
O caminho da melhoria da qualidade nos canteiros passa pela adoção de estratégias
de produção à nível de processo produtivo, em sua programação e no seu
acompanhamento. Embora os caminhos, através de atitudes gerenciais e de técnicas de
análise e medição do trabalho sejam conhecidos existe a necessidade de que estas opções
sejam feitas tendo em vista os objetivos e a realidade da empresa.
O gerenciamento de processos é uma metodologia aplicada em diversas indústrias
dentro dos fundamentos da Qualidade Total e do just in time. Esta metodologia, estruturada
para a resolução de problemas, é empregada para definir, analisar e gerenciar as melhorias
no desempenho dos processos críticos da empresa, com a finalidade de satisfazer o cliente,
tanto interno como externo. Para o sucesso, o gerenciamento de processos depende do
apoio da alta administração e de sua capacidade de se organizar, além da participação dos
trabalhadores e membros da administração. Harrington (apud Viera, 1995) formulou a
metodologia para a melhoria dos processos empresariais, composta de cinco fases e vários
passos, a seguir: [i] Fase I: Organizar para melhorar; [ii] Fase II: Entender o processo; [iii]
Fase III: Aperfeiçoar; [iv] Fase IV: Medir e controlar; [v] Fase V: Buscar a melhoria
contínua.

8. CONTROLE DE COMPRA E DO RECEBIMENTO DOS MATERIAIS


Para Souza et al (1995), a qualidade na aquisição tem caráter multifuncional, uma
vez que envolve diversos setores da empresa, como projeto, compras e outros e deve
garantir o trabalho integrado desses setores, de forma a garantir a satisfação dos clientes em
relação à qualidade dos materiais adquiridos. Ainda para Souza et al (1995), através de
especificações claras, com requisitos definidos e documentados pode ser realizada a livre
comunicação entre os fornecedores e os compradores, reduzindo eventuais
desentendimentos e permitindo uma comparação objetiva entre os preços e os prazos dos
fornecedores de materiais similares.

9. CONSIDERAÇÕES E SUGESTÕES
“Na indústria da construção civil, a separação entre as etapas de concepção e
execução não é completa, uma vez que o trabalhador, por sua experiência e pelo seu
trabalho artesanal atua diretamente sobre as atividades que fazem parte das suas tarefas”
(Dalcul, 1995). Assim, é através de investimentos, tais como em inovações e melhorias que
pode-se buscar a gestão eficaz do processo e o aumento da produtividade da mão-de-obra.
Estes investimentos, geralmente de baixo custo, possibilitam a qualidade na execução e a
motivação para os operários, uma vez que foram criados para facilitar os serviços.
No caso da alvenaria estrutural, as melhorias e inovações, na sua maioria, já vem
implícitas no processo, sendo necessárias para a realização deste. O mesmo não acontece
com a alvenaria convencional.
Por outro lado, vale salientar que um dos maiores problemas da alvenaria está no
emprego de mão-de-obra primitiva, semi ou não-alfabetizada e pouco qualificada nas
olarias. Estas empresas são de base familiar e utilizam-se de equipamentos rudimentares, na
sua maioria. A qualidade do produto destas empresas afeta diretamente a qualidade da
alvenaria, visto que o bloco é o principal insumo do processo em estudo. Assim torna-se
importante registrar a necessidade de avaliação da qualidade dos materiais e componentes
entregues pelo mercado de materiais de construção.
A nível de gestão, cabe frizar que quanto menos tipos de blocos forem utilizados na
obra, melhor será, principalmente para evitar enganos quanto a resistência dos mesmos.
Ao longo da pesquisa realçou-se a importância da qualidade que toma parte do
cotidiano de qualquer setor da economia. Destacou-se, também, as características e
vantagens da alvenaria estrutural e convencional. Neste sentido, registramos alguns
aspectos a serem considerados:
♦ Para o estudo de viabilidade de uma obra na construção civil, deve-se considerar as
alternativas existentes, para dentre elas, escolher aquela que se apresenta mais vantajosa
sob o ponto de vista construtivo, técnico e econômico;
♦ A experiência técnica e gerencial da empresa e a prática da mão-de-obra devem ganhar
atenção especial no momento desta escolha;
♦ Como já foi mencionado, a alvenaria executada no processo convencional é um item
importante na lista de precedências de serviços e no processo em alvenaria estrutural é o
item fundamental, mostrando assim, que a qualidade é uma exigência necessária;
♦ A gestão do processo deve englobar as atividades do projeto à manutenção da
edificação;
♦ Para a busca na qualidade no processo da alvenaria (convencional ou estrutural), outro
ponto a registrar é a necessidade do envolvimento da alta direção da empresa. Nesse
sentido, vários autores (Campos, 1992; Juran, 1993; Souza et al, 1995) afirmam que o
sucesso da implantação da qualidade depende diretamente do envolvimento da alta
gerência da organização;
♦ O gerenciamento deve buscar a qualidade sem considerar menos importante os custos e
prazos pré-estabelecidos.
Na prática, podem ser recomendadas algumas ações como: Introdução de novos
equipamentos (tais como: masseira, carrinho para transportar blocos, andaimes apropriados,
tubofone e os demais listados na bibliografia); planejamento do layout, buscando a
configuração mais adequada ao bom andamento do processo; planejamento do
sequenciamento da produção; redimensionamento das equipes buscando diminuir tempos
improdutivos (estudos relatam o trabalho de 2oficiais:1servente); utilização da gravidade
para movimentação dos materiais de construção; canal direto de comunicação entre a obra e
os fornecedores; contrato de lealdade com os fornecedores; estudo ergonômico do trabalho;
mudança no horário de fornecimento do café da manhã a fim de evitar que os operários
parem o trabalho e tenham deslocamentos desnecessários.

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