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PROCESSO EM ALVENARIA
Eduardo Rizzatti
Engenheiro Civil – M. Sc.
Professor Dep. Estruturas e Construção Civil
Universidade Federal de Santa Maria
RESUMO
This work present a sistematic revision of bibliography about construction process,
masonry and quality. Shows the differences between structural masonry and conventional
masonry, too. This theoretical reference can be read fastly and used to improve the
construction management.
ÁREA: Gerência da Produção
KEY WORDS: Masonry, quality, management
1. INTRODUÇÃO
A preocupação com qualidade e produtividade, que tomou conta do cotidiano
brasileiro há alguns anos, chamou a atenção dos empresários construtores não só para as
questões relativas à competitividade, visando diminuir custos e prazos, mas também, para
questões relacionadas com as técnicas e processos utilizados, buscando aumentar a
eficiência da mão-de-obra e melhorar a qualidade final do seu produto.
A alvenaria destaca-se nesse contexto pela introdução de ferramentas, equipamentos
e pela sua postura gerencial em uma indústria que ainda é muito carente de avanços
tecnológicos.
Este trabalho foi realizado com o intuito de apresentar uma revisão sistematizada da
bibliografia pertinente ao processo construtivo, a alvenaria convencional e a alvenaria
estrutural. Como a proposta é baseada na gestão do processo, inseriu-se o assunto
qualidade, dando ênfase aos principais conceitos que podem ser aplicados na indústria da
construção civil. Embora seja um apanhado teórico, buscou-se fazê-lo de maneira clara e
objetiva a fim de permitir rápida consulta, uma vez que existe ampla bibliografia (incluindo
muitas obras clássicas) que tangem o assunto.
3. A ALVENARIA
“Conjunto coeso e rígido, conformado em obra, de tijolos ou blocos (unidades de
alvenaria) unidos entre si por uma argamassa” (Sabbatini apud Araújo, 1995). Ou, ainda,
“conjunto de blocos artificiais ou componentes naturais, ordenadamente dispostos, unidos
por uma argamassa ou não, formando um maciço que deve apresentar resistência,
durabilidade e impenetrabilidade” (Araújo, 1995).
Em termos de iniciativas de melhorias e de inovações tecnológicas, as empresas
destinam especial atenção ao processo alvenaria, uma vez que a alvenaria é um serviço que
já foi estudado exaustivamente e possuí índices diversos para consumo de materiais e mão-
de-obra. Trata-se, também, de uma atividade com muita importância na lista de
precedências, trazendo muitas atividades dependentes (tais como: instalações,
revestimentos, marcos e forros).
Por outro lado, é uma atividade de programação fácil e que reage bem as iniciativas
de racionalização, refletindo suas melhorias nos serviços posteriores.
Scardoelli, Silva & Formoso (1994) afirmam que as inovações mais freqüentes
observadas na produção de alvenaria referem-se a: Desenvolvimento e integração de
documentos de projeto; organização do canteiro; aquisição, desenvolvimento e adaptação
de equipamentos e ferramentas e ; desenvolvimento de materiais e componentes para
facilitar a racionalização da execução.
Heineck & Andrade (1994) através da observação em canteiros de obras de 20
empresas construtoras do país sugerem uma lista de melhorias diretamente relacionadas
com a alvenaria relativas ao projeto, à geometria da obra, à movimentação de materiais, à
organização do posto de trabalho, à organização do trabalho e a gerência, ao treinamento e
desenvolvimento cognitivo dos operários.
4. A ALVENARIA ESTRUTURAL
Na alvenaria estrutural, as paredes são os elementos estruturais, devendo resistir às
cargas como fariam os pilares e vigas utilizados em obras de concreto armado, aço ou
madeira. O projeto ideal considera a distribuição das paredes de forma que cada uma atue
como elemento estabilizador da outra. O processo construtivo em alvenaria estrutural é
empregado na construção de edifícios que se caracterizam por uma estrutura suporte de
sistema tridimensional de elementos planos constituídos por paredes de alvenaria e lajes que
são dimensionadas segundo métodos racionais e de confiabilidade determinável (Sabbatini
apud Araújo, 1995).
Para Sabbatini (apud Araújo, 1995), os principais parâmetros a serem observados na
execução das alvenarias são: Exatidão na locação das paredes; precisão no alinhamento,
nivelamento e prumo; regularidade no assentamento das unidades; preenchimento e
regularidade das juntas de argamassa; coordenação na amarração dos blocos.
A gestão do processo em alvenaria estrutural deve levar em consideração as
seguintes ações:
4.1 Racionalização
Ação praticada com o objetivo de tornar racional a atividade construtiva, sendo “um
processo composto pelo conjunto de todas as ações que tenham por objetivo otimizar o uso
de recursos materiais, humanos, organizacionais, energéticos, tecnológicos, temporais e
financeiros disponíveis na construção em todas as suas fases” (Sabbatini, 1989).
O primeiro degrau da racionalização da alvenaria estrutural é a padronização
dimensional do componente básico (bloco ou tijolo). Escolhido um componente
padronizado parte-se para a modulação das paredes, em planta e em elevação.
Uma das maneiras de racionalizar a construção é através da coordenação de
projetos. Esta coordenação eleva a qualidade do projeto global e, como conseqüência,
melhora a qualidade da construção. Para Picchi (1993), a coordenação de projetos é
fundamental para garantir a qualidade final do edifício e, especialmente, para assegurar uma
melhor execução, evitando o retrabalho e o desperdício de materiais.
6. O DESPERDÍCIO NO PROCESSO
Picchi (1993) menciona que o entulho gerado nas obras brasileiras com sistema de
construção convencional e estrutura independente varia em função do elemento de alvenaria
utilizado e do grau de organização e controle da obra. Afirma, ainda, que é freqüente na
construção de edifícios a utilização de espessuras de argamassa bastante acima do projetado
para correção de imperfeições de prumo, alinhamento e nivelamento da estrutura e
alvenarias, sendo a alvenaria, juntamente com o entulho, um dos maiores fatores de
desperdício de materiais, estimado em 5% sobre o custo de uma obra com valores
arbitrados.
Algumas perdas de materiais (cimento, areia e argamassa) identificadas em processos
construtivos convencionais acontecem devido ao controle de recebimento deficiente,
problemas de transporte e armazenagem (contenção lateral, contaminação de materiais,
altura das pilhas dos sacos de cimento, duplo manuseio e as vias de transporte e
equipamentos inadequados), falta de controle de traços de argamassa e enchimento de
rasgos. Também pode ser identificada uma forte correlação entre as perdas e a espessura
dos revestimentos, especialmente em função da geometria da estrutura e das dimensões dos
componentes. No caso dos blocos cerâmicos e dos tijolos, os principais problemas que
contribuem para a incidência de perdas estão na falta de controle de recebimento dos
materiais, na falta de segurança dos estoques, no uso de meio de transportes inadequados,
na estocagem inadequada, na falta de coordenação dimensional, falta de meios tijolos,
modificações de projeto e no encunhamento (Santos et al, 1996).
Por outro lado, no estudo de desperdício dos materiais em alvenarias convencionais
realizado por De Cesare & Formoso (1994), o primeiro ponto detectado refere-se à falta de
padronização dimensional de tijolos nos diferentes canteiros. Estes autores salientam que se
pode reduzir os desperdícios verificados no fornecimento das peças de tijolo e aumentar o
controle sobre o material adquirido se as unidades forem recebidas devidamente
empacotadas.
Franco (apud Araújo, 1995) relata que “a simples organização das tarefas
tradicionalmente executadas, através de um planejamento e uma programação mais
eficientes pode levar a diminuição dos desperdícios, ao aumento da produtividade, do
desempenho e da qualidade dos produtos acabados”.
O trabalho de Guedert (1994) identificou a descontinuidade da operação de
assentamento dos tijolos como o maior problema, visto que a cada fiada os pedreiros
abandonavam a colher e buscavam o prumo para garantir a verticalidade dos tijolos
externos, além das verificações feitas posteriormente. O uso de escantilhões, neste caso, foi
a solução encontrada para o problema.
7. A MELHORIA DO PROCESSO
O caminho da melhoria da qualidade nos canteiros passa pela adoção de estratégias
de produção à nível de processo produtivo, em sua programação e no seu
acompanhamento. Embora os caminhos, através de atitudes gerenciais e de técnicas de
análise e medição do trabalho sejam conhecidos existe a necessidade de que estas opções
sejam feitas tendo em vista os objetivos e a realidade da empresa.
O gerenciamento de processos é uma metodologia aplicada em diversas indústrias
dentro dos fundamentos da Qualidade Total e do just in time. Esta metodologia, estruturada
para a resolução de problemas, é empregada para definir, analisar e gerenciar as melhorias
no desempenho dos processos críticos da empresa, com a finalidade de satisfazer o cliente,
tanto interno como externo. Para o sucesso, o gerenciamento de processos depende do
apoio da alta administração e de sua capacidade de se organizar, além da participação dos
trabalhadores e membros da administração. Harrington (apud Viera, 1995) formulou a
metodologia para a melhoria dos processos empresariais, composta de cinco fases e vários
passos, a seguir: [i] Fase I: Organizar para melhorar; [ii] Fase II: Entender o processo; [iii]
Fase III: Aperfeiçoar; [iv] Fase IV: Medir e controlar; [v] Fase V: Buscar a melhoria
contínua.
9. CONSIDERAÇÕES E SUGESTÕES
“Na indústria da construção civil, a separação entre as etapas de concepção e
execução não é completa, uma vez que o trabalhador, por sua experiência e pelo seu
trabalho artesanal atua diretamente sobre as atividades que fazem parte das suas tarefas”
(Dalcul, 1995). Assim, é através de investimentos, tais como em inovações e melhorias que
pode-se buscar a gestão eficaz do processo e o aumento da produtividade da mão-de-obra.
Estes investimentos, geralmente de baixo custo, possibilitam a qualidade na execução e a
motivação para os operários, uma vez que foram criados para facilitar os serviços.
No caso da alvenaria estrutural, as melhorias e inovações, na sua maioria, já vem
implícitas no processo, sendo necessárias para a realização deste. O mesmo não acontece
com a alvenaria convencional.
Por outro lado, vale salientar que um dos maiores problemas da alvenaria está no
emprego de mão-de-obra primitiva, semi ou não-alfabetizada e pouco qualificada nas
olarias. Estas empresas são de base familiar e utilizam-se de equipamentos rudimentares, na
sua maioria. A qualidade do produto destas empresas afeta diretamente a qualidade da
alvenaria, visto que o bloco é o principal insumo do processo em estudo. Assim torna-se
importante registrar a necessidade de avaliação da qualidade dos materiais e componentes
entregues pelo mercado de materiais de construção.
A nível de gestão, cabe frizar que quanto menos tipos de blocos forem utilizados na
obra, melhor será, principalmente para evitar enganos quanto a resistência dos mesmos.
Ao longo da pesquisa realçou-se a importância da qualidade que toma parte do
cotidiano de qualquer setor da economia. Destacou-se, também, as características e
vantagens da alvenaria estrutural e convencional. Neste sentido, registramos alguns
aspectos a serem considerados:
♦ Para o estudo de viabilidade de uma obra na construção civil, deve-se considerar as
alternativas existentes, para dentre elas, escolher aquela que se apresenta mais vantajosa
sob o ponto de vista construtivo, técnico e econômico;
♦ A experiência técnica e gerencial da empresa e a prática da mão-de-obra devem ganhar
atenção especial no momento desta escolha;
♦ Como já foi mencionado, a alvenaria executada no processo convencional é um item
importante na lista de precedências de serviços e no processo em alvenaria estrutural é o
item fundamental, mostrando assim, que a qualidade é uma exigência necessária;
♦ A gestão do processo deve englobar as atividades do projeto à manutenção da
edificação;
♦ Para a busca na qualidade no processo da alvenaria (convencional ou estrutural), outro
ponto a registrar é a necessidade do envolvimento da alta direção da empresa. Nesse
sentido, vários autores (Campos, 1992; Juran, 1993; Souza et al, 1995) afirmam que o
sucesso da implantação da qualidade depende diretamente do envolvimento da alta
gerência da organização;
♦ O gerenciamento deve buscar a qualidade sem considerar menos importante os custos e
prazos pré-estabelecidos.
Na prática, podem ser recomendadas algumas ações como: Introdução de novos
equipamentos (tais como: masseira, carrinho para transportar blocos, andaimes apropriados,
tubofone e os demais listados na bibliografia); planejamento do layout, buscando a
configuração mais adequada ao bom andamento do processo; planejamento do
sequenciamento da produção; redimensionamento das equipes buscando diminuir tempos
improdutivos (estudos relatam o trabalho de 2oficiais:1servente); utilização da gravidade
para movimentação dos materiais de construção; canal direto de comunicação entre a obra e
os fornecedores; contrato de lealdade com os fornecedores; estudo ergonômico do trabalho;
mudança no horário de fornecimento do café da manhã a fim de evitar que os operários
parem o trabalho e tenham deslocamentos desnecessários.
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