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Características Gerais
O terceiro período do pensamento grego abrange os três séculos que decorrem da morte
de Aristóteles ao início da era vulgar. Na história da civilização e da cultura, este período
toma o nome de helenismo, significando a expansão da cultura grega, helênica, no
mundo civilizado; na história da filosofia denomina-se período ético, porquanto o
interesse filosófico é voltado para os problemas morais. Primeiramente (estoicismo e
epicurismo), retorna-se à metafísica naturalista dos pré-socráticos, bem como à moral das
escolas socráticas menores, cínica e cirenaica; depois (ceticismo e ecletismo), anula-se
toda metafísica e, consequentemente, toda moral, voltando-se para a sofística,
menosprezando o grande desenvolvimento filosófico platônico-aristotélico.
No terceiro período do pensamento grego não se encontram mais alguns poucos e grandes
pensadores, como no precedente, mas vastas orientações e escolas; não sistemas críticos,
mas afirmações dogmáticas. Trataremos, antes de tudo, da escola estóica, em que ainda
há uma metafísica, elementar, porém, e anacrônica, em contradição consigo mesma e com
a moral; em segundo lugar, da escola epicuréia, em que a metafísica tem apenas uma
função negativa, a saber, libertar o homem das preocupações transcendentais, do temor de
além-túmulo; em terceiro lugar, da escola cética, em que não há mais metafísica alguma,
e, portanto, nem moral, como na escola eclética, em que a metafísica e moral são
sincretistas, e, por conseqüência, anuladas; enfim exporemos o pensamento latino, o qual,
pelo que diz respeito à filosofia, depende de cultura grega, e precisamente desse terceiro
período - ecletismo e estoicismo. A grandeza verdadeira e original do pensamento latino é
o jus, o direito romano, valor universal como a filosofia grega.
O Estoicismo
O fundador da antiga escola estóica é Zenão de Citium (334-262 a.C., mais ou menos).
Seu pai, mercador, leva para ele, de Atenas, uns tratados socráticos, que lhe despertam o
entusiasmo para com os estudos filosóficos. Aos vinte e dois anos vai para Atenas; aí -
perdidos seus bens - dedica-se à filosofia, freqüentando por algum tempo várias escolas e
mestres, entre os quais o cínico Crates. Finalmente, pelo ano 300, funda a sua escola, que
se chamou estóica, do lugar onde ele costumava ensinar: pórtico em grego, stoá. Iniciou,
juntamente com a atividade didática, a de escritor. Em seus escritos já se encontram a
clássica divisão estóica da filosofia em lógica, física e ética, a primazia da ética e a união
de filosofia e vida.
A escola estóica média ou eclética, surge pela influência de outras escolas e para
responder às objeções dessas escolas. Podem-se, pois, agrupar na escola estóica nova ou
religiosa os que entendiam absolutamente a filosofia, o estoicismo, não como ciência,
metafísica, mas como uma missão e uma prática religiosa, sacerdotal.
O Pensamento: Gnosiologia e Metafísica
O estoicismo não apresenta o fenômeno de um grande filósofo, seguido por uma série de
discípulos mais ou menos originais, mas sim uma turma bastante uniforme de pensadores
medíocres. No dizer dos estóicos, a tarefa essencial da filosofia é a solução do problema
da vida; em outras palavras, a filosofia é cultivada exclusivamente em vista da moral,
para firmar a virtude e, logo, para assegurar ao homem a felicidade. Entende-se, pois,
como a filosofia estóica chega a ser substancialmente pragmatista e, por conseguinte, no
fundo, acaba não sendo mais filosofia. E compreende-se o seu vasto êxito em todos os
tempos, amiúde apresentando-se como a filosofia dos não filósofos que têm pretensões
filosóficas, moralizadoras, rigoristas. Não obstante esse absorvente moralismo, os
estóicos distinguem na filosofia uma lógica, uma física, uma ética. Na lógica trata-se da
gnosiologia; a física iguala a metafísica; a ética é o fim último e único de toda a filosofia,
inclusive da política e da religião.
Devendo os estóicos, todavia, fornecer alguma base à sua ética do dever, e dar uma
explicação à razão, que se manifesta no mundo, em especial no homem, incoerentemente
declaram racional o fogo - substância metafísica da realidade -, atribuem-lhe
arbitrariamente os atributos divinos da sabedoria e da providência, imaginam-no como
espírito ordenador, razão da vida, fazendo emergir todas as qualidades da matéria, como o
Sol faz brotar da semente a planta, segundo uma ordem teológica. Deus, providência,
espírito, ordem são afirmados ao lado dos conceitos opostos de fado, destino,
necessidade, mecanicismo. Como se vê, a metafísica dos estóicos é uma metafísica
elementar, decadente, contraditória, e os estóicos não são filósofos, metafísicos, mas
pragmatistas, moralistas, inteiramente absorvidos na prática, na ética.
A Moral e a Política
No pensamento dos estóicos, o fim supremo, o único bem do homem, não é o prazer, a
felicidade, mas a virtude; não é concebida como necessária condição para alcançar a
felicidade, e sim como sendo ela própria um bem imediato. Com o desenvolvimento do
estoicismo, todavia, a virtude acaba por se tornar meio para a felicidade da tranqüilidade,
da serenidade, que nasce da virtude negativa da apatia, da indiferença universal. A
felicidade do homem virtuoso é a libertação de toda perturbação, a tranqüilidade da alma,
a independência interior, a autarquia.
Como o bem absoluto e único é a virtude, assim o mal único e absoluto é o vício. E não
tanto pelo dano que pode acarretar ao vicioso, quanto pela sua irracionalidade e desordem
intrínseca, ainda que se acabe por repudiá-lo como perturbador da indiferença, da
serenidade, da autarquia do sábio. Tudo aquilo que não é virtude nem vício, não é nem
bem nem mal, mas apenas indiferença; pode tornar-se bem se for unido com a virtude,
mal se for ligado ao vício; há o vício quando à indiferença se ajunta a paixão, isto é, uma
emoção, uma tendência irracional, como geralmente acontece.
O estóico pratica esta indiferença e renúncia para não ser perturbado, magoado pela
possível e freqüente carência dos bens terrenos, e para não perder, de tal maneira, a
serenidade, a paz, o sossego, que são o verdadeiro, supremo, único bem da alma. O sábio
é beato, porque, inteiramente fechado na sua torre de marfim, nada lhe acontece que não
seja por ele querido, e se conforma com o demais, sem saudades e sem esperanças; pois
sabe que tudo é efeito de um determinismo universal. A serenidade, a apatia dos estóicos
seria, sem dúvida, fruto de uma fatigosa conquista, de uma dura virtude. Mas é uma
virtude absolutamente negativa. Com efeito, quando o homem se torna indiferente a tudo,
e a tudo renuncia, salvo o seu pensamento - cujo conteúdo é, em definitivo, esta mesma
renúncia -, não lhe resta efetivamente mais nada. Não Deus, pois no sistema estóico, é
uma pura palavra; não a alma, destinada a resolver-se na matéria. A sabedoria estóica é
ação negadora da expansão das forças espirituais, virtude corrosiva, morte moral.
http://www.mundodosfilosofos.com.br/estoicismo.htm