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Este capitulo 6 do Ivra: Desenho Urbano Contemporaneo no Brasil Autor(es): DEL RIO, Vicente; SIEMBIEDA, William J. Editora: Grupo Gen ISBN: 9788621622550 INTRODUCAO 0 Contexto do Desenho Urbano no Brasil Vicente del Rio objetivo desta introducao é prover um entendimento bésico sobre a evolucae do desenho urbano ro Brasil cama pratica profssional sistematica, do surgimento do madernisma 20s nassos dia, cama amplacao da nogao de intervengao urbana, passando pelo periaco militar e pelos movimentos de redemacratizacso do pais. Nesse sentido, deve sar vista apenas como um brewssimo ensaio, uma visto, particular que nao pretende andlise exaustiva ou muita menos conclusiv, tarefa per demals pretensiosa ‘eque demandaria- cam aimensidao e a hist6ra tao complexa do Brasil- pelo menos uma obra propria. ‘com vatos volumes! A idea, portanto, 6 expor os funclamentoshistoricos das diferentes abordagens que lidam com a cidade brasileira contemporanea, auxliando na compreens20 ds contelidos e das implica- 00s dos casas discutidas nos capitulos posterior. §sta introdiueao ft particularmente importante na edicao original deste lio nos EUA, pois paticamente nao hd publicacoes dispaniveis em lingua inglesa que discutarn o mesma periodo evolutivo do urbanismo do desenho urbano brasileiro, embora varias ~ particularmente aquelas que tratam da arquitetura rmodernsta brasileira ~ abordem projetos ou questoes espectfcas. Na medida do passive, fzemos uma revis20 dos principastrabalhos publcados, apresentados nas referéncias bibliograficas, de modo a pos- sbiltar 20s leitores estudos mais aprofundados. Ntamos que essa 6 uma tarefa cada vez mais difcl no Brasil, dado o grande nlimero de publicacBes pesquisas na rea nos iltimes anes. Além disso, como fentendemas que 2 hist6ria do desenho urano nto pode ser dssociada de ums campreensso maior do {quadro de desenvolvimento politico, econémico e social, 0 presenta texto também busca cob s prin- pais corelacoes entre essas pics. Desde os primeites esforcos para crar uma nacao avancada, desenvolvida e comprometida com © para- digma modernist, o Brasil avancou na busca pela democraciae pela equidade social por melo da cans- ‘rucao da cidade. © desenho urbano contemporineo brasieiro accita © madernismo como um dos passiveis modelos para entender e atuar sobre a cidade, mas adata ainda autros modetasigualmente \alidos. Do discurso rigido, postvsta, recucionista @ universal do movimento moderna. 3s mudancas ‘ragmentadas, pluralstas @ multifacetadas das sersiblidades que caracterizam 0 pés-modernisma (Ein, 11999; Dear, 2000) e os processos transnacionais de globalizacao (King, 2004), 0 desenho urbana con- ternporaneo brasileiro vem se recrianda e permite a coexisténcia de lagicas tet torais multiplas na busca par madas diversos de responder a demandas socials ¢ problemas urbanos Esta breve andiise historica busca auxiar no- enquadrarmento cos estudos de caso em uma perspactiva mals ampla , assim espe- rames, cantribuir para explcitar por que © desenho urbana contempor’neo brasileiro se tornou capaz de absorver perspectivas e possblidades miltiplas,raza0 pola qual 0 percebemos como pés-maderno 2 Desenho Urbano Contemporaneo no Brasil O Nascimento do Urbanismo e Desenho Urbano Modernos no Brasil (0 caso de amor do Bras com o modernismo 6 longo e Intenso, e ainda est profundamente arraigado fem todas as esferas cultuais de nossa sociedade. Como em outros paises latino-americanos, no Brasil pésindependénciaa produczo cultural e a construcao da cidade se tomaram cada vez mais dependentes da Franca em primeiro lugar e, depois, dos model britanicas até o final da Segunda Guerra Mundial, {quando Estados Unidos passaram 3 sero poder cultural dominante.' As intervencoes urbanas eram Vistas cada vez mals coma “parte de um pacote mais ambicioso de reformas cujo objetivo era madernizar as estuturas sociais” (Almandaz, 2002, p. 17), De fato, o modernismo no Brasil nunca tera se dese volvdo 120 rapidamente e de forma t20 intensa sem o patrociio das elites ea instalagao de um Estado nacionalista, vindo a servic como ferramenta fundamental para.a promocao da vsa0 oficial de progresso. Com a reyolucao de 1930, a ditadura Vargas e, depois, o Estado Now (1937-1945), 0 modemismo forne cea © vecabulirio oficial perfeto para os projelose eicios governamentas. A dedicaga0 do Estado Novo 8 mademizacao do aparato de Estado, 20 desenvolvimento do pas © 8 racao de uma base econémica industrial deveria ser acampanhiada por uma nova simbologia que representasse uma naczojovem, avancads, de vis20 naconalsta e em processo de industiiizagaa, Essa nova era politica fol fundamental para 0 over (grupo de intolectuas, arquitetese artistas brasieiros que | dscutiam o mederisma nas aros ena iteratura sua relagdo com a producto industrial desde a Semana de Arte Moderna de Sao Paulo em 1922. Eses ‘madernistaspionetes, 20 persaguir 2 nocio de brasianismo — uma cuitura brasileira leima -, adotaram a metfora do canivalsmo para defn a relacso do Brasi com a cultura europea: uma ingestao deiberads, Sale, pela qual um produto estrangeira era transtormado em algo diferente, tpicamente bras. Esse Ideal, assim coma a busca por uma nova ident nacional iia defini o caminho terado pela aruitetura 0 urbanismo modernistas no Brasl. Como observa Cavalcanti (1995, p. 179), a eventual "vitra” dos arquitetos modernos no Bras deveuse, fundamentaiment, a que eles “possum um projeto de naczo, incomparavelmente mais obaliznte, safstiado e insivo da corplexa realidad brasiora” As conturbadas e intensas transformagoes polticas, socials e culturals no Brasil do final dos anos 1920 @ comego dos 1930 levariam 3 insttucionalizacso de um ideal de moderidade e aconteciam ao mesmo tempo em que o utbanismo comecataa se define como campo espectico de atuacso. Tes planos uraancs, desenvotvdos praticamente ao mesmo tempo, foram emblemticos desse momento e refieiam bem a visa0 de Vargas e sou ragime: 0s panos Agacho do Ri de Janeiro, de Gotdia e de avenidas de Sa0 Paulo, (© chamado Plano Agache resutou das preccupacoes das elites cariocas pressionadas pelos crescentes problemas urbanos e pela necessidade de consoldar a imagem da cidade como espeto da cultura e portal de entrada do pals (Rezende, 1982; Stuckenbruck, 1996; Olvira, 2009). Convidado pelo entzo prefeto Prada Jonior para uma série de canferércas no Ro de Janeiro em 1927, Alfred Agache, importante urba- rista francés da época, foi ogo cantratado para desenvolver o prio plano diretor da capital Agache, 0 imei autlizarse do termo urbanisme como uma ciéncia aplcada 3s cidade, oi um dos fundadores da associaao francesa de urbanistas e, em 1913, havia conquistado © segundo lugar no concurso interaco nal para o projeto de Camberra, nova capital da Austria (Underwood, 1991; C. Bruant, 1996). ‘Aprovado em 1932, 0 Plano Agache, primeira plano diretor realizado no pals, tinha um forte vis beaux arts am suas propostasfsco-espacais, mas tamibém trazia uma nova abordagem de compreensao da Ccdade baseads em anslse exaustiva de indcadores socais e econdmicas ~ fato into para a @paca, » Sobre a influéni inal do urbansmo europeu no Bras em cuts pases ltino-amerianos, er Leme (1999), Perera (2001) e Aimadoz 2002) > Oficamente initia Cidade do lode Sanaa Exenss, Remodelacta,Embelezamenta, Crganisacdes Projets das pel Admnisraczo Antonio Frado Junior sab a Drea Geral de red Agache ats Foyer Bresson, 1930). Vet Overs (2005) para excelente resto comentad do plano, com minucosaanliehstorice dos processes pics tineitucanals ds epoce

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