Texto de Apoio – A Purificação do Coração I
Escola dos Profetas Fevereiro 2016
A Pureza do Coração e a nossa Perceção da Realidade
O coração puro é o coração simples,
sincero, claro e Yeshua acredita que nós
temos a capacidade de sermos assim
interiormente.
Nós temos como tarefa purificar no dia-
a-dia as nossas emoções, que se
misturam, inconscientemente, com as
emoções daqueles que nos rodeiam.
Para Jesus, o olho puro, «simples», é
sinal o distintivo de um coração puro: «A
lâmpada do teu corpo é o teu olho. Se o
teu olho estiver são, todo o teu corpo
estará iluminado»1.
A luz tem que irradiar do nosso corpo
para que expulse todas as trevas de nós.
O Problema
Existem dois problemas na perceção do
discípulo moderno de Yeshua, que
devem ser solucionados urgentemente. O
nosso mundo tem uma cultura
impregnada de conceitos como
“utilidade” e “interesses”. Na nossa
sociedade tudo tem que ter uma utilidade
aquilo que não é útil para o sistema,
mesmo que seja bom é posto de parte.
Infelizmente quando nós acreditamos
que sabemos o que é útil para nós, pomos
de parte certas coisas que realmente
poderiam ser úteis mas não nos agradam.
Os interesses são a obsessão neurótica do
homem moderno, primeiro ele está
preocupado com os seus interesses. Ele
tem que se defender, porque
constantemente se sente atacado.
Quando não se sente atacada está
vigilante e atento à procura do momento
em que será atacado. Depois ele é
obcecado pelas “segundas intenções” do
seu próximo, ele nunca vê o seu próximo
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Lucas 11:34
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Grun, A. (2010) As Oito Bem-Aventuranças.
Braga: Secretariado Nacional Do Apostolado Da
Oração. P. 98
- A beleza salvará o mundo
Príncipe Mishkin
como realmente é, só consegue ver as
“segundas intenções”.
Ninguém consegue vislumbrar o que é
que queremos verdadeiramente.
Ninguém escuta as palavras; busca, sim,
o que estará por trás delas.2
Isto contamina o nosso «olho bom» e ele
torna-se «mau» porque vê mal em tudo,
interpreta a realidade com base nesta
infeção das intenções.
É muito difícil as pessoas confiarem
umas nas outras, quanto mais confiarem
em Deus.
Elas não confiam em Deus, quando
dizem que o fazem, elas na verdade estão
a afirmar que confiam numa ideia que
fazem de Deus e projetaram na natureza
de Deus.
Esta ideia revela sempre aquele deus
que lhes vai dar razão em tudo o que elas
pensam, acreditam e sentem, mesmo que
isso seja incorreto.
Yeshua convida-nos a confiarmos na
nossa aspiração de sermos livres de todas
as segundas intenções, e a purificarmos o
nosso coração de tudo aquilo que procura
perturbá-lo.
A condição para se ver Deus é o coração
puro, por isso Davi pergunta: «Quem
será digno de subir ao monte do Senhor?
Quem poderá permanecer em seu lugar
santo? O que tem as mãos limpas e o
coração puro, que não pensa nas
vaidades…»3. Noutro salmo
encontramos Davi a suplicar a Deus por
um coração puro «Ó Senhor, criai em
mim um coração puro, renovai no meu
interior um espírito reto»4.
O coração puro pertence a uma pessoa
que não tem segundas intenções. Com
demasiada frequência, fazemos a
Salmo 24:3-4a
Salmo 51:12
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 Texto de Apoio – A Purificação do Coração I
experiência de que todo o bem que
fazemos está impregnado e turvado por
motivos egoístas. Também o nosso amor
se deixa misturar, ora com pretensões de
posse, ora com emoções agressivas, ora
com condenações ou com desejos de
domínio. Quando ajudamos, queremos
ficar bem perante os outros, ou perante
nós próprios5.
Alerto desde já para o facto de que isto
não é pureza de coração.
Que o nosso desejo seja o de termos um
coração que não se deixe turvar por
emoções negativas, por pensamentos de
condenação ou por sentimentos de
desprezo.
Um coração puro é um coração que não
está determinado por segundas
intenções, mas que quer dizer aquilo que
diz. É puro o coração que não condena os
outros, que é livre do mecanismo de
projetar nos outros as suas necessidades
reprimidas ou as suas frustrações.
As emoções do discípulo facilmente se
misturam com as emoções do seu meio
ambiente e turvam o seu coração.
Deixando-se assim influenciar pela
opinião e pelos sentimentos daqueles que
o rodeiam.
A importância da meditação e a
experiência da oração
Posto isto é importante meditar, sentar-
se em silêncio diante de Deus,
apresentando as suas emoções. Para que
a luz de Deus e o seu amor, penetrem o
coração e o purifiquem de todas as
turvações da realidade ilusória criada na
mente do discípulo.
É assim portanto uma saída: saímos de
turvações provocadas pelo padrão de
vida do nosso passado, das turvações que
nascem das expetativas e projeções do
ambiente que nos rodeia.
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Grun, A. (2010) As Oito Bem-Aventuranças.
Braga: Secretariado Nacional Do Apostolado
Da Oração. P.101
Escola dos Profetas Fevereiro 2016
Em Lucas o rosto de Jesus transfigura-se
enquanto ele ora, existe aqui um ensino
importante. A oração é um caminho para
dar claridade às trevas que existem em
nós. Na oração cada discípulo coloca a
sua realidade sob a luz de Deus, que
ilumina toda a escuridão que existe no
seu interior.
Em Mateus este episódio da
transfiguração ocorre num monte, longe
da multidão apenas com três discípulos
mais íntimos.
Em grego, o texto emprega a expressão
kat’idian ao referir-se ao ‘retirou-se’.
Podemos traduzi-la, das seguintes
formas: «para a sua própria casa», «à
parte», ou também «para si mesmo».
Conduzindo os discípulos para si
mesmos, para o seu próprio centro, para
a casa interior do silêncio, possibilita-
lhes a experiência da clareza e da
transfiguração6. Então conseguem de
Yeshua a visão e reconhecem-se a si
próprios.
«Porque Deus, que disse: Das trevas
brilhará a luz, é quem brilhou em nossos
corações, para iluminação do
conhecimento da glória de Deus na face
de Cristo.»7
Existe um propósito para a iluminação
interna do coração, este propósito é a
gnose interior, o conhecimento da glória
de Deus na face de Cristo. A partir deste
conhecimento e da sua experiência
mística interior, o discípulo sofre uma
transmutação da sua personalidade para
se tornar semelhante a Cristo.
Alguns pensamentos sobre a
Felicidade
A felicidade existe quando nos
purificamos de tudo o que turva o nosso
pensar e sentir. É precisamente no
Grun, A. (2010) As Oito Bem-Aventuranças.
Braga: Secretariado Nacional Do Apostolado
Da Oração. P.104
7
2 Coríntios 4:6
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 Texto de Apoio – A Purificação do Coração I
silêncio, que aqui tem um papel
alquímico, este silêncio que precisamos
para entrarmos em contato com a pureza
interior e com a clareza. Quando isto
ocorre tudo o resto se torna relativo.
Deixamos de nos definir por valores
secundários, por episódios há muito
ocorridos, por situações traumáticas ou
por conversas mesquinhas.
A maior felicidade consiste em sermos
autênticos, claros e puros e em estar em
contato com o esplendor originário da
nossa alma iluminada por Yeshua.
Quando vemos Deus esquecemo-nos de
nós mesmos. Fazemo-nos um com Deus
e, ao mesmo tempo, um connosco
próprio. Na unidade com Deus, tomamos
consciência de nós próprios, alcançamos
o nosso esplendor original e não
falseado.
Reconhecemos quem somos no mais
íntimo de nós mesmos. Sentimo-nos na
luz, iluminados pela luz de Deus.
Comentário de Gregório de Nissa à
pureza do coração
Na sua interpretação desta bem-
aventurança, Gregório acreditava
literalmente que a pessoa purificada de
todos os erros e pecados pode ver Deus
no seu próprio interior. Como ele
afirmou:
«Todos aqueles que purificaram
o seu coração de todo o mal e de
toda a inclinação para as
paixões, veem na sua própria
beleza a imagem da essência
divina».
O pecado é na sua teologia uma espécie
de cobertor feio que tapa e esconde a
nossa beleza original.
«Se, agora, com uma
transformação cuidadosa,
limpas a dor que se acumulou no
teu coração, resplandecerá a tua
verdadeira imagem que é um
retrato fiel de Deus».
Escola dos Profetas Fevereiro 2016
Portanto quem adquire um coração puro,
vê a sua própria essência como imagem
de Deus e nesta imagem consegue ver,
como num espelho o estado original da
alma (chamado de imagem original).
«Se, pois, os teus pensamentos e
as tuas aspirações rejeitam toda
a espécie de maldade, se te
conservas livre de toda a
inclinação para as paixões e
manténs à distância toda a
mancha, então podes ser
considerado ditoso, por causa da
tua capacidade de ver ao longe;
porque, graças à tua purificação,
podes ver o que não pode ver o
que não está purificado e, uma
vez retiradas as densas trevas
dos olhos da tua alma, oferece-
se a ti uma visão bem-
aventurada, no céu claro do teu
coração. E que avistas lá? A
pureza, a santidade, a
simplicidade – tudo reflexos
luminosos da essência divina,
nas quais Deus pode ser
contemplado».
Os olhos puros de todo o tipo de maldade
e distorção da realidade veem Deus nas
profundezas da alma.
A visão de Deus conduz também à visão
da essência pessoal, ao verdadeiro
conhecimento de si próprio. O coração
puro libertou-se de toda a espécie de
identificação com as coisas terrenas.
Quando isto acontece, a cura interior dá-
se. O discípulo deixa de procurar no
exterior a cura das suas feridas. Já não
espera, vinda do afeto e da ajuda de
outros, a sua saúde emocional. Encontra-
a em si mesmo se, graças à pureza, se
tornou inteiramente ele próprio.
Conclusão: O que é a pureza do
coração?
Primeiramente é um estado de
consciência que a personalidade do
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 Texto de Apoio – A Purificação do Coração I
discípulo de Yeshua alcança quando
ascende na escada para o Reino dos
Céus8. Este estado de consciência
implica vários estados psicológicos e
vários processos e mecanismos mentais
e espirituais. Que foram apresentados a
vocês através do ensino oral.
A pureza do coração implica que o
discípulo veja e entenda Deus de uma
maneira especial.
Quando o discípulo alcança esta pureza
principalmente a nível dos seus
pensamentos, motivos, desejos,
disposições interiores e emoções, ele
alcança uma inocência madura.
O discípulo tornar-se puro de coração
não significa que ele vai perder o
conhecimento do mal. Nem que vai
existir uma ausência de pecado ou
ausência de consciência nalguns campos
que ainda precisam de ser aperfeiçoados.
Antes alcançar pureza no nosso coração
é superar, e nalguns casos reganhar uma
inocência madura. Tal inocência é
confirmada pelo estado de caráter que o
discípulo alcança e exerce, mantendo-o
afastado da tentação.
Com o seu novo estado de caráter
confirmado, marcado certamente por
falhas menores. Ele já não tem aquela
predisposição para pecar e evita de todas
as maneiras possíveis colocar-se em
situações que o podem levar a sucumbir
à tentação.
Escola dos Profetas Fevereiro 2016
Acredito que existem duas asceses
modernas que podem ajudar qualquer
discípulo a alcançar a pureza de coração.
A ascese intelectual que promove a auto
análise dos nossos defeitos e padrões
comportamentais errados, e promove um
cultivo de virtudes e de bons hábitos
espirituais na nossa vida.
A ascese mística promove o
desenvolvimento da nossa sensibilidade
às realidades espirituais e principalmente
a Deus. Aqui através das práticas
místicas e da contemplação a nossa
personalidade começa a transformar-se e
a nossa consciência expande-se para
dimensões mais profundas do divino.
Ambas as asceses devem ser praticadas
pelo discípulo de Yeshua, os
mandamentos por ele deixados encaixam
nas duas, na primeira eles são
compreendidos e praticados na segunda
eles são interiorizados e digamos que
“experimentados” pelo discípulo.

«Os corações não contaminados,

semblantes abertos, e olhos
imperturbáveis daqueles que
não suspeitam nem escondem,
nem esquivam nem são
ciumentos».

Este coração é autónomo da maldade

humana e do egoísmo pessoal, já se
transcendeu de ninharias e
mesquinhices.

8
Brevemente sairá um texto místico sobre a
escada interior para o Reino dos Céus