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Assim como no IMBd, site que reúne grande parte das informações de filmes, ou como
os diretores, na página de biografia de Wajda, encontramos informações importantes sobre
os filmes que ele dirigiu. Seu primeiro filme, “Geração" (1955), é sobre a geração de jovens
que amadureceram durante a ocupação nazista da Polônia, os outros como, “Kanal" (1957) e
“Cinzas E Diamantes" (1958) também tratam sobre guerra e a vida na Polônia, até “O Homem
de Ferro"(1981) todos os filmes tocavam no assunto de guerra, e sobre seu país. De maneira
indireta ou direta. Alguns como “Terra prometida” (1975) trabalhavam mais com simbolismo,
inclusive o mesmo, foi indicado ao Oscar em 75.
Além de sua carreira no cinema, ele teve forte atuação política ao longo de sua vida.
Entre o lançamento de “Kanal” e “Cinzas E Diamantes”, que seria entre 1957 e 1958, sob
pressão das autoridades soviéticos na Polônia “[...] Wajda se posicionou como um artista que
estava acima do conflito. Ele ainda conseguiu mostrar a guerra civil não declarada entre duas
forças polonesas anti-nazistas, que foram divididas pela ideologia política: os comunistas
poloneses e os partidários heróis folclóricos do Exército Nacional.” e “Em 1981, Wajda se
juntou ao movimento trabalhista "Solidariedade" de Lech Walesa .” (informações e a citação
foram encontradas no site IMBd, que indica como autor do texto Steve Shelokhonov). De
1989 a 1991, é eleito senador da república da Polônia, de 1991 a 1995 foi membro do
Conselho Presidencial da Cultura, fundou o Centro de Arte e Tecnologia Japonesa em
Cracóvia, e recebeu a Ordem do Sol Nascente no Japão (1995).
Diante disso, temos primeiramente um diretor extremamente ligado a política, e
anticomunista, o que nos leva a Escola Polonesa de Cinema, da qual falarei com mais
profundidade nos tópicos seguintes, que de modo geral, ele é reconhecido como “líder” desse
movimento de diretores. Mas, de modo geral, a vida de Wajda, no âmbito profissional e
pessoal, dos quais se confundem, é retrata em diversas maneiras nos seus filmes.
Sobre o filme:
Para esse segundo tópico, que explicarei o filme em si, sem muito aprofundamento, o
que farei no terceiro tópico, tratarei do tema em si, por si só. Mais sobre o que se trata o filme
em um breve resumo do que uma análise técnica.
O filme vai retratar os momentos finais da vida de Danton, no contexto do terror
revolucionário, e seu processo de acusação de traição, conspiração e corrupção. Num clima
de suspense total, onde cada cidadão pode ser um potencial inimigo do governo e da
revolução. Com isso, temos três personagens que podemos destacar do filme: o primeiro
personagem é a própria revolução, como algo vivo e sempre presente no filme, como em
discussões sobre o que ela representa ou no que ela deveria ser; o segundo é o próprio
Danton (Gerard Depardieu), agente fundamental dentro do drama; e o terceiro como
antagonista é o, incorruptível, Robespierre (Wojciech Pszoniak).
O processo de Danton é a drama principal. E o processo seria a acusação por participar
de atos de corrupção, que conspiravam contra o governo revolucionário. Por isso o filme vai
tratara das diferenças entre esses três personagens que se destacam dentro deste contexto.
Especialmente a relação de Danton e de Robespierre com o primeiro personagem, a
revolução e como mantê-la. De modo geral esse é o centro do filme, que movera a drama.
Analise do filme:
Neste último tópico meu objetivo é uma análise contextual e profunda do conteúdo
do filme, o que, como dito no primeiro tópico, demanda do contexto e das referências do
diretor. Com isso, veremos que essa análise é política, depende de conhecimento sobre a vida
e os alinhamentos do diretor, como visto no segundo tópico. Posto isso, tratarei desta analise
em dois momentos. O primeiro sobre o conteúdo do filme, e de quem o fez, e depois uma
análise técnica do próprio filme.
Como visto, Wajda, como cineasta é um agente político fruto de seu tempo e sua
realidade material moldou sua forma de ver o mundo, e isso é visto em suas obras. E os filmes
foram a melhor maneira de explorar suas angustias sobre o mundo ao exibi-las indiretamente
em suas obras, para isso, Marc Ferro fala sobre: “[o cinema] destrói a imagem do duplo que
cada instituição, cada indivíduo se tinha constituído diante da sociedade. A câmera revela o
funcionamento real daquela, e diz mais sobre cada um do que queria mostrar. Ela descobre
o segredo, ela ilude os feiticeiros, tira as máscaras, mostra o inverso de uma sociedade, seus
“lapsus”. É mais do que preciso para que, após a hora do desprezo venha a da desconfiança,
a do temor (...). A idéia de que um gesto poderia ser uma frase, esse olhar, um longo discurso
é totalmente insuportável: significaria que a imagem, as imagens (...) constituem a matéria
de uma outra história que não a História, uma contra-análise da sociedade.” (FERRO, M, 1976.
p. 202-203.) Posto isso, estudar cinema é estudar as técnicas e as maneiras como construir
algo que vai além de uma narrativa, mas, de constituir um significa sobre esse momento da
história, para legitimar uma narrativa. Sendo assim, um resultado desse contexto material, e
de suas práticas, em resposta ao próprio.
A escolha do tema do filme não é sem motivo “Em 1789, cerca de um em cada cinco
europeus era francês. [...] ela foi, diferentemente de todas as revoluções que a precederam
e a seguiram, uma revolução social de massa, e incomensuravelmente mais radical do que
qualquer levante comparável. [...] Em terceiro lugar, entre todas as revoluções [...] foi a única
ecumênica. Seus exércitos partiram para revolucionar o mundo; suas ideias de fato o
revolucionaram.” (HOBSBAWM, 1982, p. 72). Por exemplo, muitos pensadores de diversas
correntes ideológicas vão escrever sobre a revolução francesa, e ao assistir ao filme, e
sabendo de alguns textos como de Burke ou de Tocqueville, que são conservadores, vemos o
alinhamento de Wajda ao retratar, em especial, o período de Terror da revolução e como ele
constrói os personagens. Numa passagem de Burke sobre a revolução: “A partir desse
momento não há bússola que nos guie, nem temos meios de saber a qual porto nos dirigimos.
A Europa, considerada em seu conjunto, estava sem dúvida em uma situação florescente
quando a Revolução Francesa foi consumada. Quanto daquela prosperidade não se deveu ao
espírito de nossos costumes e opiniões antigas não é fácil dizer; mas, como tais causas não
podem ter sido indiferentes a seus efeitos, deve-se presumir que, no todo, tiveram uma ação
benfazeja” (BURKE, 1982, p. 102).
Em 1:47:45, no tribunal, em meio de seu segundo discurso, Danton fala “Temo que a
revolução, como saturno, devore um após outro, os seus próprios filhos". A revolução, para
Wajda, destrói seus ideais e preceitos fundamentais. Mas, quais ideais e preceitos? Ora, no
começo do filme vemos uma criança recitando os três primeiros artigos da “A Declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão" para aprender a ser um bom revolucionário.
Art.1.º - Os homens nascem e são livres e iguais em direitos. As distinções sociais só podem
ter como fundamento a utilidade comum.
Art. 2.º - A finalidade de toda associação política é a preservação dos direitos naturais e
imprescritíveis do homem. Esses direitos são a liberdade, a prosperidade, a segurança e a
resistência à opressão.
Como parte da análise do filme a compreensão do mise en scène, ou aquilo que está
posto em cena, nos ajuda a identificar a nuances do enredo, ou seja, de como o filme será
contado. Em suas propostas visuais. Desde a cenografia, até mesmo, atuação, e a trilha
sonora, como visto no artigo de (RAMOS, 2012). E como dito, o posicionamento de Wajda vai
ser retratado de diversas formas, assim como na construção dos personagens.
Algumas cenas nos ajudam a compreender, ao menos, o que Wajda propôs para cada
um dos três personagens principais que destaco no terceiro tópico. Uma delas, é no começo
do filme. Da qual apresenta dois dos nossos personagens destacados, Revolução e Danton,
são apresentados pela primeira vez. A cena, desde o início do filme, tem como ambientação,
com a trilha sonora de Jean Prodromidès, um ambiente de suspense que acompanha a
carroça que leva Danton para a cidade.
.
A guilhotina que assombra a cidade com sua presença.
Danton, mesmo proibido pela mesa que o julga de se dirigir ao povo, foco seu discurso
em direção do povo. Que para ele, assim como visto na “A Declaração dos Direitos do Homem
e do Cidadão" no Art. 3.º - O princípio de toda a soberania reside, essencialmente, na nação.
E assim, como visto no discurso de Robespierre, onde ele fala que existe um pacto de
confiança entre as instituições e a população. Mas, o discurso de Danton nesse momento
demostra o contrário, que as instituições revolucionarias, como os comitês, destruíram uma
antiga ditadura para impor outra. E assim, “eles esqueceram da própria revolução!”.
Conclusão:
Por fim, uma visão mais pessoal sobre o filme. Eu escolhi analisar esse filme por conta
do ator que interpreta o Danton, o Gerard Depardieu, na minha cabeça ele no papel de
Porthos, um dos mosqueteiros em “O homem da máscara de ferro” de 1998, era incrível, além
de um elenco interessante, no mínimo.
Esse filme, agora falando do “Danton”, tem seus méritos, ele sozinho, ao assistir
“superficialmente”, algo que eu discordo, mas alguns tendem a usar essa expressão, ainda
continua sendo um filme bom. E quando, temos uma noção sobre a revolução francesa, com
base nos textos da apostila, ou, em outras leituras, e acima de tudo entendimento do autor e
de seu contexto, vemos que o filme é a síntese dessa construção pessoal e artística de Wajda,
e como um cineasta político, e fruto de seu tempo, ele expressa isso nesse filme. É a forma
de como muitos filmes se colocam, de forma autônoma, como produto de fato artístico, que
está disposto a ser analisado, e criticado, mas que apresenta a si mesmo como representação
de um momento e de um sentimento político. E relembrando as palavras de Penafria, que
usei no começo desta análise, o filme é “o resultado de um conjunto de relações e
constrangimentos nos quais decorreu a sua produção e realização, como sejam o seu
contexto social, cultural, político, económico, estético e tecnológico.” (PENAFRIA, 2009, pag.
7).
Referencias
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São Paulo , v. 32, n. 2, p. 295-323, ago. 2016 . Disponível em
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-
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BURKE, Edmund. Reflexões sobre a Revolução em França [1790]. Brasília: ed. UnB, 1982p.102
FERRO, Marc. O filme: uma contra-análise da sociedade? In: LE GOFF, J., NORA, P. (Orgs.).
História: novos objetos. Trad.: Terezinha Marinho. Rio de Janeiro: F. Alves, 1976. p. 202-203.
HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções. 4ª ed. RJ: Paz e Terra, 1982.
MEDEIROS, Vinícius Santos de. Um fenômeno chamado Escola Polonesa: autoritarismo,
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História da Mídia - Mídia e Memórias do Autoritarismo, 2014, Rio de Janeiro. 3º Encontro -
2014, 2014.
PENAFRIA, Manuela. Analise de Filmes – conceitos e metodologia(s). IV Congresso SOPCOM,
Abril de 2009.
RAMOS, Fernão. A mise-en-scène realista: Renoir, Rivette e Michel Mourlet. In. "XIII Estudos
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Shelokhonov, Steve. Andrzej Wajda - Biography. IMDb. Disponível em:
<https://www.imdb.com/name/nm0906667/bio?ref_=nm_ov_bio_sm>. Acesso em: 22, Abril
de 2019
Biografia do site oficial de Wajda, Wajda.pl. Disponível em:
<http://www.wajda.pl/en/kalendarium.html>. Acesso em: 21, Abril de 2019