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PENSAMENTO SOCIAL E RELAÇÕES RACIAIS NO BRASIL:

CONVERGÊNCIAS E DIVERGÊNCIAS NAS OBRAS DE CLÓVIS MOURA E


OCTAVIO IANNI

Marcio Farias

O objetivo deste trabalho é apresentar alguns elementos de convergências e


divergências existentes nas obras de Clóvis Moura e Octavio Ianni no que diz respeito
às relações raciais no Brasil. Ambos estavam ancorados no marxismo, no entanto,
promoveram caminhos distintos para pensar a contribuição da população negra na
formação do país. Enquanto em Clóvis Moura temos um papel ativo do africano
escravizado e seus descendentes durante todo o Brasil colônia e imperial,
impulsionando o fim da escravidão e a transição para o trabalho livre, para Octavio
Ianni elementos da conjuntura internacional da época são os determinantes para o fim
da escravidão e instauração do regime de trabalho assalariado. Por outro lado, na
transição do trabalho escravo para o trabalho assalariado existem mais convergências
do que desacordos nas análises desses cientistas sociais. Abordaremos algumas
dessas questões nesse pequeno texto.

Palavras chaves: Pensamento social – Relações Raciais – Raça e Classe

Parte I: Dos encontros e desencontros.

Clóvis Moura (1925-2003) e Octavio Ianni (1926-2004) foram cientistas sociais


contemporâneos que tiveram caminhos pessoais, políticos e sociais que tem
encontros e desencontros. O primeiro, nascido no Piauí, foi estudante universitário na
década de 1940 na Bahia. Por lá, atuou em alguns jornais que eram ligados ao Partido
Comunista Brasileiro (PCB), ingressando nas fileiras desta instituição nesta época,
onde teve contato com a teoria social marxista, subsidio teórico que lhe foi o alicerce
de seus estudos desse momento em diante, não havendo um momento de ruptura ao
alinhamento com outras propostas teóricas por toda sua produção teórica. Ianni, por
sua vez, foi estudante de ciências sociais na USP da década seguinte, aluno do
professor Florestan Fernandes, com quem trilhou um sólido caminho acadêmico,
consolidando a sociologia brasileira comprometida com uma elaboração teórica que
permitisse ao país superar as condições de atraso e subdesenvolvimento.
Metodologicamente, Ianni – tal como preconiza seu mestre Florestan Fernandes- será
menos ortodoxo na utilização do marxismo enquanto aparato analítico. Sua filiação
definitiva com a teoria social marxista se dará na década de 1960 quando da
participação nos seminários do Capital de Karl Marx, coordenados pelo professor
Arthur Giannotti.

No campo dos estudos sobre relações raciais no Brasil, também temos encontros
e desencontros desses autores. Clóvis Moura dedicou sua vida intelectual para os
estudos sobre a população negra no Brasil. Quase que a totalidade de seus escritos
discute questões relacionadas a população negra, nos mais variados aspectos. Ianni
por sua vez, ainda que tenha deixado como legado teórico um número significativo de
estudos sobre relações raciais, explorou outras temas ligados à formação do Brasil,
como também a compreensão da história da América Latina, a questão da
Globalização, entre outros.

No campo profissional e político, Ianni foi um acadêmico professor universitário


por excelência durante toda a vida produtiva. Também atuou politicamente em vários
momentos importantes da história contemporânea do Brasil, como quando da
fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). Moura, entra na vida política no PCB,
mas sai do partido no final da década de 1950, no momento em que houve a ruptura
entre setores do partido e a criação do Partido Comunista do Brasil. Ainda que
alinhado com os setores que atuariam daquele momento em diante do PCdoB, Moura
nunca mais ingressou em nenhum partido, participando pontualmente com artigos e
debates com os setores de esquerda até a década de 1980 quando se aproxima do
movimento negro paulistano. Profissionalmente, Clóvis Moura era um profissional
autônomo, trabalhando principalmente com jornalismo. Nunca ingressou nas cátedras
universitárias, pois entendia que o espaço acadêmico estava brindado para os estudos
e reflexões críticos da sociedade capitalista.

Em seus escritos, ambos, pouco mencionam o trabalho um do outro. Clóvis Moura


fez algumas citações das obras de Octavio Ianni e apenas uma referência critica no
livro Raízes do protesto negro (1983) – livro que reuniu artigos produzidos por Moura
durante as décadas de 1960 a 1980 – no artigo Correntes dos estudos africanistas no
Brasil:

Com a fundação da Universidade de São Paulo e a


realização posterior da pesquisa sobre relações raciais entre
negros e brancos em São Paulo (...) abre-se um período no qual
as relações inter-raciais paulistas são abordadas e questionadas
de diversas formas, especialmente a existente entre brancos e
negros. (...)
(...) Dentro de uma rigidez de análise e de um refinamento
metodológico muitas vezes considerado exagerado, esses
estudiosos, de um lado, aprofundaram a análise de ângulos
específicos das relações entre brancos e negros, a sua situação
no espaço social, os problemas advindos da forma como a
Abolição se processou, mas, do outro lado, abandonaram quase
que inteiramente o estudo da função das culturas negras no
contexto da grande cidade. Os trabalhos importantes de Roger
Bastides, Florestan Fernandes, Octavio Ianni, Fernando
Henrique Cardoso, João Batista Borges Pereira, Oracy Nogueira,
Emilia Viotti da Costa, Cândido Procópio Ferreira de Camargo e
muitos outros são elaborados dentro de uma visão sociológica
que, se não despreza, não destaca como devia este particular
(MOURA, 1983, p. 92).

Octavio Ianni também conhecia a obra de Clóvis Moura, tanto que orientou o
mestrado da pesquisadora Erika Mesquita que defendeu a dissertação “Clóvis Moura:
Uma visão crítica da história social brasileira" no departamento de sociologia da
Unicamp no ano de 2002. Trata-se de um dos poucos estudos sobre a obra de Moura.
1

Assim sendo, como autores contemporâneos que discutiram por vezes o mesmo
tema, partindo do mesmo pressuposto teórico em alguns momentos, esses autores
também divergiram em alguns aspectos. Vamos explorar alguns pontos dessa
discussão no próximo item desse artigo.

PARTE II: DAS DIVERGÊNCIAS

Apresentaremos algumas questões de divergências na obra de Clóvis Moura e


Octavio Ianni partindo dos livros: Negro, de bom escravo a mau cidadão?(1977) de
Moura e Escravidão e Racismo (1978), de Ianni.

Conforme mencionamos acima, na década de 1980, Clóvis Moura se torna uma


referencia teórica no movimento negro. Precedendo este momento de difusão de sua
obra no seio do movimento negro brasileiro, o primeiro livro pela qual o autor se dedica
a pensar a participação do negro não só na colônia, mas também na modernidade é

1
Temos conhecimento de apenas mais um trabalho de estudo sobre a obra de Clovis Moura. Trata-se da
dissertação de mestrado defendida no ano de 2009 na Universidade Federal Fluminense, no Programa
de Pós Graduação em Sociologia e Direito, feita por Fabio Nogueira com o título: Clóvis Moura e a
sociologia da práxis negra.
Negro, de bom escravo a mau cidadão?(1977). Para tanto, Moura amplia seu escopo
de análise discutindo, num primeiro momento, a participação da população negra em
processos políticos em toda América Latina. Aqui há uma elaborada discussão sobre a
presença negra na América Latina com ênfase na Revolução Haitiana. Explicitamente
influenciado por C.R.M. James autor da obra clássica de análise sobre a revolução
haitiana Os Jacobinos Negros (1944), Clóvis Moura apresenta uma discussão
inovadora sobre o processo de independência da colônia francesa de maioria negra,
que foi a única revolta bem sucedida de escravizados no mundo inteiro. Aqui reside
uma efetiva discrepância entre a análise empreendida por Moura quando comparada
com os estudos sobre o mesmo tema realizados por Octavio Ianni.

No livro Escravidão e Racismo (1978), Ianni apresenta a escravidão como


elemento estruturante do capital e o racismo como desdobramento desse processo.
Segundo Ianni, o racismo é um fenômeno moderno, fruto do encontro dos europeus
com a diversidade étnica de outros povos. É um processo, portanto, que começa com
a constituição do capitalismo comercial que necessitou, dentro dos parâmetros que se
vinha configurando, de mão de obra em larga escala a baixo custo operacional (Ianni,
1978).

Tal processo guarda contradições, pois enquanto se implantava o trabalho livre na


Europa, a América via renascer uma instituição que havia sido abolida no mundo
ocidental há séculos: o trabalho compulsório. Portanto, escravidão e trabalho livre são
processos contemporâneos quando do estágio do capitalismo comercial. A
acumulação primitiva é o processo econômico que atinge o fim do feudalismo e a
transição para o capitalismo. O trabalho escravo é a mola propulsora da acumulação
primitiva de recursos que vão possibilitar aos europeus as condições materiais para
efetivação das revoluções burguesas e sobreposição da indústria sobre o comércio
ainda no século XVIII (Ianni, 1978).

Portanto, o mercantilismo consolidou a generalização do trabalho cativo e,


sendo assim, o trabalho escravo está na base de consolidação do capitalismo. O
escravismo está dinamicamente relacionado ao embrião do capitalismo, ou seja, “(...)
o escravo estava ajudando a formar-se o operário” (IANNI, 1978, p. 12).

Sobre essa dimensão de compreensão da totalidade em que está inserida a


escravidão e o racismo, há uma divergência parcial entre Clóvis Moura e Octavio
Ianni. Moura também entende a importância das transformações no centro
dinamizador do capital. As celeumas teóricas estão na compreensão da participação
do escravizado nesse processo de transição do regime escravocrata para o trabalho
livre assalariado no Brasil e nas demais coloniais onde houve a utilização em larga
escala da mão de obra africana. Este desacordo analítico se explicita quando da
análise do processo revolucionário no Haiti feita pelos autores.

No Haiti especificamente, para Octavio Ianni, foi fundamental a participação da


classe média mulata esclarecida que, diante de um cenário de aprofundamento das
contradições locais levou a cabo o lema da revolução francesa: liberdade, fraternidade
e igualdade. Os escravizados no Haiti, como na maioria das colônias estavam
submetidos ao regime de extrema desumanização que lhe subtraia qualquer
possibilidade mais elaborado de projetar, com a complexidade que a luta exigia, um
devir que rompesse com os limites sociais e apontassem para uma nova configuração
social. Segundo Ianni (1978):

Note-se, pois, que não é a casta dos escravos que destrói o


trabalho escravizado; e muito menos vence a casta de senhores.
Acontece que a condição econômica, jurídica-políitica e sócio-
cultural do escravo não lhe abria qualquer possibilidade de
elaborar, como coletividade, uma compreensão articulada e
critica da própria situação. Na medida em que era socializado
como escravo, isto é, como propriedade do senhor, ao escravo
não se abriam quaisquer possibilidades de entendimento
independente, autêntico, ou crítico, da sua condição (IANNI,
1978, p.58).

Sobre o Haiti, Octavio Ianni afirma:

(...) a crise do escravismo no Haiti, em 1789, iniciou-se com


uma crise no seio dos homens livres: os “grandes” brancos, os
pequeno “brancos” e os mulatos (...) Foi nesse contexto, no qual
mulatos livres estavam sendo rechaçados do jogo político, que
esses mulatos iniciaram a luta armada e associaram –se aos
escravos (Ianni, 1978, p. 60).

Clóvis Moura por sua vez, vai propor que o elemento religioso possibilitou aos
escravizados submetidos a um regime desumano, respondessem com humanidade a
este processo. O vodu, restituindo elementos sociais como hierarquia, diferenciação,
devir, operou como argamassa da revolta, possibilitando ao segmento mais
pauperizado acompanhar de forma mais direta as dimensões que a luta exigia e que
estava sendo elaborada pelas lideranças “esclarecidas” .Isso porque é justamente nos
setores ligados ao vodu que cresce a chama rebelde com fugas, rebeliões e motins.

Segundo Moura:
(...) Podemos dizer que foi um movimento de escravos que
transformou o Haiti em nação independente, a segunda do
continente. Sua independência surgiu de um protesto negro
violento e radical. Colocados no último extrato da sociedade,
somente encontraram na luta revolucionária a saída capaz de
solucionar os seus problemas que se confundiam com a
independência da parte francesa da ilha (MOURA, p. 107, 1977).

Para tanto, o contexto da revolução Haitiana é analisada da seguinte forma:

Esta realidade social agudamente antagônica levou os


escravos a atos de rebeldia que variavam da fuga as matas às
lutas armadas que culminaram com a independência da ilha e
eliminação da sua população branca (MOURA, p. 107, 1977).

Ainda sobre o contexto sócio-politico da revolução haitiana, Moura afirma:

Será nesta força social composta de negros fugidos ou


abertamente rebeldes que se apoiará o movimento de
independência do Haiti. Por isso já se escreveu que a história do
Haiti é uma série de lutas terríveis, de opressão e martírios (...)
Neste movimento de protesto, o culto do vodu exerce papel
importante e, como diz René Depestre, serve como ele de
ligação entre os escravos sublevados (MOURA, p. 107, 1977).

Prossegue o autor:

É nesta fase inicial que podemos ver claramente como as


religiões negros africanas em determinados momentos podem
exercer um papel social relevante no plano organizacional,
embora, como toda a ideologia religiosa, limite seus objetivos e
crie entraves à projeção de uma ordenação social superior. De
qualquer maneira o vodu inicialmente foi ideologia plebeia, que
unia escravos negros pela base e que posteriormente será
substituída, pelo menos nos estratos dos lideres
independentistas, pelo ideário da revolução francesa . Nas
camadas inferiores, no entanto, a arma ideológica era o vodu
que conseguia uni-los. Isto correspondia à brutalidade das
relações escravistas, pois somente a magia podia dar aos
escravos sublevados nas plantations o combustível sócio-
psicológico capaz de servir de contrapartida à brutalidade dos
senhores de escravos (MOURA, p. 107, 1977).

Essa compreensão de cultura como resistência, também existente já nos


primeiros textos de Clóvis Moura, ganha neste ínterim uma dimensão mais elaborada.
A análise da participação do negro na emancipação da América latina, principalmente
na revolução haitiana possibilitará a Moura um campo analítico mais preciso e,
certamente, definirá os rumos da sua teoria. Não por acaso, na segunda parte do livro,
quando analisa a inserção do negro na modernidade capitalista brasileira, Moura
utiliza pela primeira vez as categorias grupo específicos e grupo diferenciados para
entender o elemento cultural como elemento de resignicação identitária e instrumento
simbólico recorrente nas lutas dos negros durante o século XX em vista da
marginalização imposta quando da emergência da sociedade de classes no Brasil,
particularmente.

Parte III :Das convergências

As divergências apresentadas acima não anulam possibilidades de encontros nas


análises perpetradas pelos autores que estamos discutindo. Não temos condições de
esgotar essa discussão nesse momento, mas existem elementos de convergência nos
estudos de Octavio Ianni e Clóvis Moura, sobretudo quando da efetivação da
sociedade de trabalho livre assalariado. É importante ressaltar que as ênfases nas
analises sobre a sociedade do capital são diferentes. Conforme citação que fizemos
da crítica de Clóvis Moura à Escola da USP e seus estudos sobre relações raciais,
Moura vai entender um papel dinâmico, diante da luta de classes, dos movimentos
culturais urbanos protagonizados pela população negra, não apenas como polo
aglutinador identitário, mas também como contra hegemonia na sociedade de classes,
fator que tem menor peso na análise de Ianni que enfatiza a dinâmica estrutural capital
VS trabalho.

Porém, uma convergência explicita entre os dois autores está na compreensão da


composição da luta de classes no Brasil, tendo o racismo como um elemento
ideológico que penetrou na classe trabalhadora agindo de maneira a criar um duplo
preconceito para com a população negra: classe e raça. Sobre essa questão Ianni
comenta:

Ocorre que o negro reage tanto às condições reais de vida em


que se acha como à ideologia racial do Branco. Enquanto
operário negro, por exemplo, ele não desfruta dos mesmos
direitos do operário branco que se acha em situação idêntica.
Para ser igual a uma operário branco, o operário negro precisa
ser melhor do que o operário branco. Na estrutura ocupacional e
na escala de salários, o negro está em piores condições. Além
disso, ele sofre o preconceito,a discriminação ou também a
segregação. Isto é, o negro se vê em condição subalterna tanto
prática como ideologicamente. A ideologia racial do branco o
rejeita ou confunde; mas não o considera como igual (...) É
diante dessa situação, prática e ideológica, que o negro toma
consciência da sua dupla alienação: como raça e como membro
de classe (...) Nesse contexto, raça e classe subsumem-se
recíproca e continuamente, tornando mais complexa a
consciência e a prática políticas dos negros (IANNI, 1978, p.80).

Moura, por sua vez, inicia as indagações sobre a formação do Brasil moderno
sobre a égide do racismo:

(...) não será, atualmente, mau cidadão aquele negro livre


que procura, através da sua conscientização, levantar o
problema da situação racial do Brasil e encontrar soluções,
globais ou parciais para ela? Ou será bom cidadão negro aquele
que aceita o status quo e procura ser apenas divertimento,
objeto para o branco (como já fora no tempo da escravidão)
espécie de mercadoria que se vende nos momentos em que a
indústria turística procura se desenvolver no País e, com esta
atitude de subalternização, regride socialmente a uma franja
próxima ao do antigo escravo? (MOURA, 1977, p. 18).

Continua seus argumentos sobre a condição do negro no pós-abolição:

É visto ainda como mau cidadão negro aquele que vive nas
favelas, nos cortiços, nos mocambos nordestinos e se situa nas
mais baixas camadas sociais, como operário não qualificado,
doméstica, mendigo, biscateio, criminoso ou alcoólatra (...) A
imagem abstrata que os estratos superiores que se julgam
brancos têm do negro é reflexa dessa realidade social,
econômica e cultural na qual ele se encontra emerso. Concluem
dai que ele não tem condições para desfrutar da liberdade, pois
dissipa-a na cachaça, no amor livre e na maconha (...) O negro
marginalizado, por isto, é visto através da racionalização como
sujo, incapaz de disputar com o branco a liderança da
sociedade, nos seus diversos níveis (MOURA, 1977, p. 19).

Ainda que o apronfudamento dessas questões na obra de Clóvis Moura só


ocorrerão em obras posteriores, podendo afirmar que nesse momento estamos diante
do edifício teórico final de Moura em status nascendis, o elemento central da critica
capital, trabalho e relações raciais já estão apresentadas nesse momento.
Diferentemente, Ianni tem nessa obra seu último momento de reflexão mais elaborada
e sistematizada sobre relações raciais no Brasil.
CONCLUSÃO

A partir do esboço analítico que delineamos nesse texto entre as convergências e


divergências nas obras de Clóvis Moura e Octavio Ianni, podemos inferir que no que
diz respeito ao Brasil escravocrata e a transição para o trabalho livre assalariado,
temos dois pontos de vistas distintos. Se em Ianni as determinações estruturais do
capital internacional são determinantes do processo de abolição da escravidão no
Brasil e nas Américas, para Clovis Moura, o ainda que tenhamos de fato uma
importância substancial das revoluções burguesas na Europa, o africano escravizado
no novo mundo teve um papel relevante nesse processo, a partir de seus levantes,
fugas e quilombos que se apresentam como uma característica constante, portanto,
dinamizadora da sociedade escravocrata.

O ponto de convergência de ambos, na está na compreensão do processo das


relações de classe e raça no pós-abolição, tendo as determinações de raça e classe
como mais um instrumento de aviltamento da população negra. As propostas para
essas situações, aparentemente diferem, mas nesse trabalho não teremos condições
de adentrar nesse quesito, apontando, portanto, essa questão como uma possibilidade
de continuação desse esboço.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

IANNI, O. Escravidão e racismo. São Paulo: Hucitec, 1978.

MESQUITA, E. Clóvis Moura: Uma visão crítica da história social brasileira.


2002. Dissertação de mestrado- Departamento de Sociologia, Unicamp.

MOURA, C. O Negro: De bom escravo a mau cidadão?. Rio de Janeiro:


Conquista 1977.

___________. Raízes do protesto negro. São Paulo: Global, 1983.

JAMES, C.L.R. Os jacobinos negros: Toussaint L’ouverture e a revolução de


São Domingos. São Paulo: Boitempo, 2010. (1944)

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