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Uruguai.
Sady Baby, nome artístico de Sady Plauth, não
foi apenas um ator e cineasta maldito que despon-
tou na época de decadência da Boca do Lixo,
quando pipocavam produções de baixo orçamento
cujo único tema era o sexo explícito. Sady é um
polêmico visionário da putaria e, de alguma forma
torta, uma expressão do Brasil profundo. Explico
citando a Lei do Cascão, uma fala de seu persona-
gem no filme Ônibus da suruba: “Trabalhar é pra
otário e, se esse país é uma foda, então vamos fo-
der”. O Ônibus, inclusive, teve uma sequência e
deu nome ao espetáculo de sexo explícito com o
qual Sady e um grupo de atores percorreu o es-
tado do Rio Grande do Sul.
Outros títulos cometidos por ele foram Emo-
ções sexuais de um jegue, Máfia sexual e No calor do
buraco. Como dá pra intuir, seu cinema não era
apenas pornográfico. Ele ia além, trazendo ao seu
universo tabus como zoofilia, estupro e necrofilia,
com diálogos memoráveis e cenas tosquíssimas de
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ação. Os roteiros eram tão surreais que, se o Bu-
ñuel e o Korine1 tivessem feito um filme juntos,
ainda assim não se equiparariam ao cultuado dire-
tor gaúcho de Erechim.
Quando eu era criança, veraneava em Balneá-
rio Camboriú com minha família. Eu tinha mais ou
menos uns sete anos. E todo dia, na beira da praia,
passava um sujeito trajando um chapéu de viking e
uma sunga fio dental, anunciando em um megafone
um teatro erótico chamado "Soltando a Franga". Já
adulto, descobri que essa figura icônica se tratava
do próprio Sady. Depois de ver uns trechos de fil-
mes dele no Youtube, fui atrás da filmografia. Era
difícil de achar, tive que percorrer os cantos mais
obscuros da Internet. Tentei assistir um filme dele
com o mesmo nome do teatro que lhe deu fama,
e em menos de dois minutos fui vomitar no ba-
nheiro.
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Na penitenciária de Caxias do Sul, conversei
por uma hora e meia com Sady. Falamos sobre o
suposto suicídio, seu cultuado legado cinemato-
gráfico, seus 40 (!) filhos, seu teatro de sexo explí-
cito e, lógico, sobre buceta.
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Parei de jogar futebol num jogo do Pinheiros,
que é um time do Paraná, em Londrina, cidade do
café, onde eu quebrei a perna pela segunda vez e
não tive mais condições de jogar futebol. Foi aí que
eu parti pro cinema.
É mesmo?
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por você.
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tem um preço. Isso é da minha cabeça, não sei se
eu sou xarope ou não.
Ônibus da Suruba.
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um dinheiro? Sempre falo o seguinte: jogo limpo,
aberto, olho no olho. E o mais importante é a pes-
soa fazer quando gosta. Se ela não fizer quando
gosta, vai sair mal feito. Se ela gosta, vai entrar com
tudo, com tesão. Tudo tem que ter tesão. Se não
tiver tesão, não funciona.
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Cartaz do primeiro trabalho produzido pelo Sady e diri-
gido pelo Bozo Arlindo Barreto.
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Sady ao lado de seus fiés colaboradores: o mais normal
deles é o cão Toby.
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pegar uma equipe de maquiagem, umas atrizes lin-
das, ia preparar tudo, tipo americano. Pra derru-
bar eles, são só eles que mandam. Eu sou brasi-
leiro, sou feliz por ser brasileiro, entende? Eu já fiz
show em nove países e, desculpa fugir um pouco
do assunto, o meu maior prazer foi fazer o show
no meu estado, porque sou gaúcho... [emocio-
nado] Desculpa, eu me emociono quando falo do
meu estado. Tem até parente meu que diz: “Ah,
você mexe com droga”. Eu nunca mexi com droga.
Até o dia que a polícia me parou e pediu pra fazer
o bafo, eu nem sabia o que era bafo. Eu nunca botei
um cigarro na boca, não tenho nada contra quem
fuma, quem bebe, quem cheira, cada um faz o que
bem entende, mas essas coisas me machucam por-
que eu perdi meu pai e minha mãe com 12 anos.
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Rola bastante ação nos seus filmes e uns diálo-
gos memoráveis. E esses diálogos eram na base
do improviso?
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Então, você escrevia antes uma ideia de roteiro,
mas na hora acabava improvisando?
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eu digo, se o cara quiser fazer alguma coisa, ele
tem que entrar de cabeça. Pra mim aquilo era
tudo. Quando o cinema caiu, fiquei muito triste.
Tenho uma frase que diz: “Eu não faço por di-
nheiro, eu faço por tesão, eu faço por vontade”.
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Como funcionava o Ônibus da Suruba? Você sim-
plesmente recrutou uma galera e pegou a es-
trada?
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Aquilo era uma família pra mim. Como te falei,
perdi minha família muito cedo, então aquela era a
minha família. Uma família da putaria, mas ainda as-
sim uma família.
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Isso nos anos 90?
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Em POA eu tentei fazer algo do tipo, dois ho-
mens se abraçando, mas o pessoal não gostou, eles
saíam. Já em Balneário Camboriú o povo aceitou
mais. Mas não rolava sexo. Aliás, o que o povo
mais gostava não era o show de sexo explícito,
mas as cenas de lesbianismo.
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teatro à venda, só que vendi pra pessoa errada.
Recebi só 20% do valor do meu teatro. Perdi tudo.
Então, eu tentei o suicídio, em 2008. Me joguei no
rio Uruguai, nem sabia nadar, mas por felicidade da
vida acabei me salvando. Então saí, andei a pé até
Chapecó (SC), que dá uns 20 km, e liguei pra mi-
nha menina, que estava em Marau (RS), e disse pra
ela que ia até Aparecida do Norte (SP), a pé, por-
que cada um tem sua fé. Demorei 39 dias pra che-
gar até lá. Tinha dias que eu... [emocionado] Des-
culpa, eu não tô aguentando. Ela foi comigo. Tinha
dias que eu não aguentava, meus pés doíam muito.
Aí voltamos de ônibus até Marau. E não tenho ver-
gonha de falar não, fui trabalhar numa fazenda,
como peão. Fiquei cuidando de porco e gado, não
tinha prática nenhuma. A minha menina estava
junto. Depois de uns meses, ela entrou na internet
e fizemos contato com o cara que me comprou o
ônibus em Blumenau. Quando falei que estava tra-
balhando no sítio, ele pensou que o sítio era meu,
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que eu tinha posse. Ele disse que eu não podia con-
tinuar lá. Mas eu falei que tinha errado, eu preci-
sava pagar por isso. Tempos depois, fui atrás pra
receber o resto da minha grana do teatro. Só que
fui sozinho, errei. E os caras me grampearam. Eles
falaram: “Ou tu assina, ou tu fica”. Entre o teatro
e a vida, que se vá o teatro. Perdi tudo. Então, vol-
tei pro sítio e continuei trabalhando lá. Estava
dando certo. Troquei meu nome, porque não que-
ria falar com ninguém das pessoas que me conhe-
ciam. Eu caí aqui com cheque, isso foi vergonhoso.
É difícil... [emocionado]
Podem, lógico.
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Um filme ou o circo?
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digo: “Gay eu não sou”. Não gosto de comer mu-
lher com quem trabalho, mas tem umas que vêm
e esfregam a buceta na cara e eu não aguento. É o
meu fraco.
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13 anos, aí eu vi aquela ninfetinha e disse: “Ah meu
Deus do céu, não faz isso comigo”... E eu não
aguentei. Estou junto com ela até hoje. E o que
mais me pesa é que ela está presa por minha causa.
Isso é o que mais me dói. Porque, por ela eu mu-
dei. Outra coisa: eu nunca gostei de camisinha. E,
se não fosse por ela, eu não estaria aqui. Eu teria
pegado uma doença...
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Sady, nos tempos de coroinha.
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Você é religioso?
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sim, só que era emancipada. Aí chamei ela, só que
no final acabei me ferrando com a Polícia Federal.
Como o delegado disse, entrei de laranja.
Uns 40.
E conhece todos?
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forcei nada, nunca estuprei ninguém. É que esse
meio oferece muita mulher. Em São Paulo, quando
eu estava na produtora, eu trepava três ou quatro
vezes por dia.
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Quatro vezes por dia com mulheres diferentes?
https://www.vice.com/pt_br
6 de março de 2013
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