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ENVELHECIMENTOS MASCULINOS:
ENTRE VIVÊNCIAS PLURAIS E EXIGÊNCIAS
NORMATIVAS1

AGING MEN: BETWEEN PLURAL EXPERIENCES


AND NORMATIVE REQUIREMENTS

GABRIELA FELTEN DA MAIA2, FÁTIMA CRISTINA VIEIRA PERURENA3 E BENEDITO MEDRADO4

Recebido em: 14/04/2011


Aprovado em: 16/10/2011

RESUMO ABSTRACT

O presente artigo apresenta reflexões sobre os sig- This article presents reflections on the meanings of
nificados de velhice e envelhecimento, produzidos old age and aging produced in a context of
em um contexto de homossociabilidade, a partir de homosociability, based on information obtained in
informações produzidas em pesquisa de mestrado research carried out in a countryside city of Rio Gran-
realizada em uma cidade do interior do Rio Grande de do Sul. We started from the theoretical inter-
do Sul. Partimos das leituras teóricas que buscam pretations that seek to understand men and
compreender os homens e as masculinidades como masculinity as gender constructions. We seek to
construções de gênero. Buscamos compreender understand how gender symbolic orders produce
como ordens simbólicas de gênero produzem distin- different looks to the aging process, making it plural
tos olhares ao processo de envelhecer, constituindo- and heterogeneous, but at the same time marked by
o como plural e heterogêneo, mas ao mesmo tempo power games. The qualitative methodology was
marcados por jogos de poder. A metodologia, de na- based on ethnographic records made in a central town
tureza qualitativa, baseou-se em registros square, which concentrate a high number of men
etnográficos feitos em uma praça central da cidade, considered old. Our analysis highlights the
onde se concentram uma expressiva quantidade de multiplicity of possible ways to categorize, define
homens considerados velhos. Nossas análises desta- and differentiate aging experiences, also producing
cam a multiplicidade de formas possíveis de different ways of being old man, strongly marked by
categorizar, definir e diferenciar experiências de sexuality as power device.
envelhecimento, produzindo modos de ser homem Keywords: Aging; Gender; Masculinities; Sexuality;
velho também diversos, fortemente marcados pela Process of subjectivation.
sexualidade como dispositivo de poder.
Palavras-chave: Envelhecimentos; Gênero; Mas-
culinidades; Sexualidade; Processos de subjetivação.

1
A pesquisa da qual o artigo é fruto contou com o apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES).
2
Pesquisadora do Grupo de Estudos e Pesquisa em Cultura, Gênero e Saúde (GEPACS) da Universidade Federal de Santa Maria
(UFSM). Mestre em Ciências Sociais. E-mail: gabryelamaia@gmail.com
3
Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais (UFSM). Doutora em Ciências Sociais. E-mail: perurena@terra.com.br
4
Professor do Programa de Pós-Graduação em Psicologia – Universidade Federal de Pernambuco. Doutor em Psicologia Social. E-
mail: beneditomedrado@gmail.com

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1 Introdução de produção de práticas e discursos que


permitem reconhecer e agrupar sujeitos
Este trabalho insere-se no campo dos como velhos ou não, a partir de determina-
estudos sobre envelhecimento e apresenta dos estatutos corporais. Os processos de re-
reflexões acerca das vivências de homens presentação atuam de forma a classificar
com mais de 60 anos, produzidos em um sujeitos e estilos de vida, pondo em circula-
contexto urbano de sociabilidade masculi- ção diferentes significados que marcam cor-
na, ou homossociabilidade, como prefere pos como sendo velhos e, desse modo, apro-
Miguel Vale de Almeida (1995), no municí- ximando e distanciando sujeitos de
pio de Santa Maria, interior do Rio Grande marcadores que definem o que é “a” velhi-
do Sul, a partir de etnografias realizadas para ce no ato de nomear, descrever, classificar e
a pesquisa de mestrado nos anos de 2008 e diferenciar.
2009. Neste estudo, a compreensão dos da- Através da investigação com homens
dos produzidos e os procedimentos de in- velhos a respeito dos processos de significa-
vestigação que compõem o trabalho de cam- ção do que é ser velho e das possibilidades
po aproximam-se de uma abordagem de de viver o processo de envelhecimento, pro-
cunho etnográfico. curamos discutir como as formas de
O tema central desta pesquisa refe- categorizar sujeitos tomam por base os cor-
re-se às representações e às significações de pos para definir e diferenciar. Assim, apesar
marcas que definem corpos e sujeitos ditos da materialidade biológica do envelheci-
velhos. Ao nos propormos a estudar as re- mento, alguém somente pode ser conside-
presentações de velhice, tínhamos como rado velho a partir de contextos sociais e
pressuposto que, nesse contexto de pesqui- culturais que fornecem as condições para
sa, a ideia de velhice entraria como um ele- que ele exista. Isto significa dizer que su-
mento de identificação e reunião em gru- jeitos são posicionados – e posicionam-se –
pos de velhos no centro da cidade. A pes- como velho ou não a partir da forma que se
quisa revelou que a questão é bem mais tem percebido e lidado com o corpo que
complexa, pois, nesse espaço, os homens envelhece.
entrevistados, mesmo aqueles com mais de É, com base nesta leitura sobre ve-
70 anos, não se consideravam velhos. Velhos lhice e envelhecimento, aliada a uma dis-
eram os outros, aqueles que ficam em casa, cussão mais ampla de gênero, que constru-
que após aposentarem-se, entregam-se à ímos nossas análises sobre etnografias du-
espera da morte chegar. Neste contexto de rante visitas de uma pesquisadora mulher
pesquisa, não é a ideia de velhice, e muito jovem, em um contexto de homossocia-
menos de terceira idade, que entraria como bilidade, em espaços públicos da região cen-
um elemento importante na autoiden- tral da cidade.
tificação desses sujeitos. O que está em jogo
é uma resistência a um conjunto de caracte- 2 Envelhecimentos no masculino
rísticas (físicas, psicológicas, sociais etc.)
que, tomadas como definidoras de diferen- As pesquisas sobre envelhecimento
ças, nomeiam a identidade, definidora e têm dado, nas últimas duas décadas, maior
definitiva, de velho e delimitam o campo ênfase às perspectivas femininas, em razão,
de possibilidades dos sujeitos. como destaca Barros (2006b), da invi-
Compreendemos que o modo como sibilidade das mulheres que, também sen-
homens com 60 anos ou mais produzem sig- do velhas, aumentaria a insignificância das
nificados sobre envelhecimento está inse- questões relacionadas a este grupo. Estes
rido em um campo, dinâmico e conflitante, estudos que refletem, de certo modo, a

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tendência dos estudos feministas e de gê- 1992b) e Craig (1992), o homem e a mascu-
nero em focar nas mulheres, passaram a in- linidade têm sido frequentemente tratados
cluir, em seu debate, a condição feminina. como modelo, padrão, protótipo enfim, re-
Então, surgem problematizações a respeito ferência normativa, afinal, “durante séculos
das formas de envelhecer alternativas às mu- quase todos os livros publicados eram so-
lheres (MOTTA, 1994; DEBERT, 2004; bre homens. Inclusive hoje em dia, se um
ALVES, 2005, 2006; BARROS, 2006a, texto não tem a palavra mulheres no título,
2006b). O debate sobre como novas confi- provavelmente trate acerca dos homens”
gurações, estilos de vida, formas de agir e (KIMMEL, 1992a, p. 129).
perceber a velhice como um processo plural Embora ainda que percebamos uma
expandiram as possibilidades de ser velha ao tendência nos estudos científicos a relacio-
permitir que mulheres velhas pudessem re- nar o conceito de ‘homem’ ao genérico ‘ser
ver os scripts do que é velhice e ser mulher humano’, um conjunto de pesquisadores(as)
(DEBERT, 2004), permitindo-lhes vislumbrar têm-se dedicado a refletir sobre as especi-
novas sociabilidades, fora do âmbito e influ- ficidades do conceito de “masculinidade”,
ência familiar (MOTTA, 1994, 2006; ALVES, como uma questão pertinente aos estudos
2005; BARROS, 2006b).
de gênero, tendo em vista que, como desta-
Por outro lado, estudos sobre a rela-
ca Kimmel (1992a, p. 131), estudar os ho-
ção envelhecimento/gênero sob olhares
mens como atores sociais engendrados é
masculinos são ainda escassos. Alguns pou-
algo “essencial se se busca examiná-los des-
cos estudos encontrados problematizam as
centrando-os de sua situação inicial de ter-
questões referentes ao universo de envelhe-
ritório genericamente inexplorável (homens
cimento masculino desde a perspectiva de
como seres humanos), para fazê-los regres-
gênero ou dos estudos de masculinidade.5
Outros, por sua vez, destacam as diferenças sar a sua condição de seres especificamente
entre os modos de envelhecer feminino e genéricos”.
masculino, considerando-as um elemento Nesse sentido, este trabalho insere-
importante para refletir sobre os estilos de se dentro das discussões que problematizam
vida e modos de pensar e agir na velhice, os homens e as masculinidades não apenas
contudo sem se deter especificamente na como contraponto ao debate sobre a auto-
análise de um ou outro (MOTTA, 1999, nomia e o corpo das mulheres (CONNELL,
2006; DEBERT, 2004; FIGUEIREDO et 1995), mas a partir de reflexões que buscam
al. 2007). a construção de uma matriz teórica feminis-
Procurando deslocar nosso olhar, ta de gênero para pesquisas sobre homens
propusemo-nos a descrever e analisar signi- e masculinidades (MEDRADO; LYRA,
ficados de velhice e envelhecimento pro- 2008), buscamos compreender práticas e sig-
duzidos em um contexto de homossocia- nificados que constituem modos de ser ho-
bilidade, tendo como apoio teórico os estu- mem velho no contexto estudado.
dos de gênero e envelhecimento sob a ótica Esta matriz se organiza em quatro
das ciências sociais, atrelada às leituras fe- eixos: 1) o sistema sexo/gênero; 2) a dimen-
ministas de gênero que buscam compreen- são relacional; 3) as marcações de poder e 4)
der os homens e as masculinidades como a ruptura da tradução do modelo binário de
construções de gênero. gênero nas esferas da política, das institui-
É importante reconhecer que, como ções e das organizações sociais.6
destacam autores como Kimmel (1992a,
5
Podemos citar as dissertações de Carlos Lima Rodrigues (2000) e Mirella Pinto Valerio (2001) e o artigo de Renato Xavier Coutinho
e Marco Aurélio Acosta (2009).
6
Para a construção dessa matriz, tomamos por base especialmente as produções de Vale de Almeida (1995, 1996); Lyra (1997); Medra-
do (1997); Figueroa-Perera (2004); Arilha, Unbehaum; Medrado (1998); Arilha (1999, 2005).

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Em linhas gerais, essa abordagem – outras buscam a compreensão do modo


político-conceitual está alicerçada em estu- como os homens entendem e expressam
dos que adotam uma concepção feminista identidades de gênero;
– há ainda as que compreendem as mas-
de gênero: construção social que engendra culinidades como produtos de interações
e legitima o poder masculino. O ponto de sociais dos homens com outros homens e
partida das reflexões sobre homens e mas- com mulheres, ou seja, as masculinidades
culinidades, baseadas nesse marco como expressões da dimensão relacional
conceitual, é de que não existe uma única de gênero (que apontam expressões, de-
masculinidade e que não é possível falar em safios e desigualdades);
– e, por último, leituras sobre a dimensão
formas binárias que supõem a ‘di-visão’ en-
institucional das masculinidades, ou seja,
tre formas hegemônicas e subordinadas. o modo como as masculinidades são
Tais formas dicotômicas baseiam-se nas po- construídas em (e por) relações e disposi-
sições de poder social dos homens, mas são tivos institucionais.
assumidas de modo complexo por homens
e mulheres particulares, que também desen- Os argumentos desenvolvidos neste
volvem relações diversas com outras mas- artigo situam-se especialmente no terceiro
culinidades. eixo acima descrito, na medida em que fo-
Em artigo publicado na Revista Es- caliza a dimensão relacional da construção
tudos Feministas, Medrado e Lyra (2008) dos modos de ser homem velho.
apresentam uma breve síntese sobre as pes- A abordagem político-conceitual
quisas que tem tomado os homens e as mas- adotada neste texto é inspirada na leitura
culinidades como objeto de estudo. Esses feminista de gênero, que se baseia no
autores destacam que os, assim chamados, questionamento da distinção corpo-cultura
“men studies” têm sua origem na década e ressalta a dimensão do poder na constru-
de 1980 e maior visibilidade na década de ção social da diferenciação sexual (SCOTT,
1990. 1995). Focaliza, assim, os usos e efeitos que
Voltando-se a este período de maior práticas sociais (científicas, religiosas,
visibilidade dessas produções, o Handbook midiáticas, de políticas públicas etc.) pro-
of Studies on Men and Masculinities, de duzem a partir do exercício constante de
2005, publicado por Robert (agora oposição binária entre o masculino e o fe-
Rayween) Connell,7 Jeff Hearn e Michael minino. Buscamos, portanto, dar visibilida-
Kimmel, apresenta uma compilação das de à complexa teia que define as relações
principais obras produzidas sobre masculi- de gênero, evidenciando desigualdades pro-
nidades, entre 1995 e 2002, em diferentes duzidas em discursos institucionalizados (a
países. partir de diferentes dispositivos, inclusive
Esses autores classificam as obras as práticas discursivas cotidianas e ritua-
compiladas de acordo com seu foco de inte- lizadas) que nos dificultam a visualização da
resse central: diversidade, das contradições e polissemia,
caminhos potenciais para o questionamento
– algumas se dedicam ao estudo da orga- de regimes de verdade.
nização social das masculinidades em suas
inscrições e reproduções locais e globais;

7
Robert Connell submeteu-se à cirurgia para ‘mudança de sexo’ e, mais recentemente, vem publicando ou reeditando suas produções
com assinatura de Rayween (seu nome atual) ou simplesmente R. W. Connell.

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3 Espaços de gênero em uma pesquisa pois o interesse de uma mulher jovem em


com homens velhos abordar homens com mais de 60 anos no
centro da cidade, com o objetivo de estudar
Essas perspectivas compreendem as a velhice, acabava por produzir, na relação
masculinidades como produtos de de pesquisa, significações sobre quem é ou
interações sociais dos homens com outros pode ser posicionado – e posicionar-se – na
homens e com mulheres, ou seja, as mascu- categoria velho, comumente associada à in-
linidades como expressões da dimensão capacidade e à decadência.
relacional de gênero (que apontam expres- Como pontuam Paula Sandrine Ma-
sões, desafios e desigualdades). De modo chado (2004) e Leina Peres Rodrigues
que a presença de um pesquisador homem (2009), em seus trabalhos, o fato de serem
ou mulher será significativa na produção dos pesquisadoras mulheres pesquisando entre
dados, justamente pela gramática sexual que homens tornou-se um elemento importan-
regula as relações sociais entre homens e te para problematizar a produção dos dados
mulheres, exigindo-se, portanto, leituras de pesquisa. Para estas autoras, a posição de
relacionais, não essencializantes. ser uma mulher estudando homens foi ex-
Por conseguinte, investigar o enve- tremamente importante, na medida em que
lhecimento do ponto de vista dos homens e a negociação com os sujeitos da pesquisa
dos masculinos significa não apenas apre- informava sobre o processo de construção
ender e analisar os signos e significados cul- de masculinidade, a partir da relação de pes-
turais disponíveis sobre o ser homem velho. quisa.
É preciso estar atento a um tipo de interação As escolhas metodológicas adotadas
específica que informa sobre as relações de nesta pesquisa apontam para estas
gênero e sobre os modos possíveis de ser especificidades encontradas durante o pro-
homem velho no contexto estudado. E, as- cesso de trabalho de campo. As particulari-
sim, discutir: 1) como se institucionalizam, dades suscitadas no decorrer da pesquisa,
em práticas mais ou menos ritualizadas e no que tange à “diferença entre os sexos” e
documentadas, modos de ser homem velho, à diferença de idade, foram reveladoras do
a partir de diferentes dispositivos e 2) como próprio objeto de pesquisa.
esses permitem ou impedem a construção Desde a entrada de campo os infor-
de outros modos de ser. Situa-se, portanto, mantes anunciavam o lugar de mulher da
nos usos e efeitos que orientam os jogos de pesquisadora, condição esta que não pôde
discursos e práticas ou, mais precisamente passar despercebida na análise da pesquisa.
práticas discursivas, que tendem a transfor- Várias situações de pesquisa evidenciavam
mar diversidade em desigualdade. que expectativas de gênero permearam a
Nesse sentido, é importante discu- negociação com estes homens, através da
tir as nuances que surgiram nas interações condição de parceria potencial.8 Como ex-
com os homens velhos, tendo em vista o fato plicou Plínio, informante de 83 anos, a con-
do trabalho de campo ter sido executado por cordância em participar da pesquisa e, por-
uma pesquisadora mulher jovem que tinha tanto, encontrar-se com a pesquisadora re-
por objeto a velhice. Estes três elementos – gularmente, para a maioria dos homens que
mulher, jovem, velhice – foram ativos pro- frequentam a praça, poderia indicar que a
dutores de sentidos na relação de pesquisa, partir da relação estabelecida como infor-

8
Tomamos de empréstimo o termo “condição de parceria potencial” utilizado por Nádia Meinerz (2007) para caracterizar a relação
estabelecida durante o seu trabalho de campo a respeito da constituição da parceria homoerótica feminina. Procuramos reter o
mesmo significado utilizado pela autora para caracterizar a relação de pesquisa entre a pesquisadora mulher jovem e os homens
velhos.

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mantes de pesquisa haveria possibilidade de significadas, mas também do próprio enve-


se desenvolver posteriormente um relacio- lhecimento, dado que quem envelhece não
namento afetivo-sexual. Pois, como relata- são apenas os corpos produzidos pelo saber
va, alguns homens, incluindo ele, circula- biomédico, mas os corpos gendrados.
vam pelo centro com o interesse em consti- Desse modo, as escolhas metodoló-
tuir parcerias sexuais ocasionais com mulhe- gicas foram pensadas a partir da percepção
res que circulam pelo local, o que tornava a dessas relações de gênero estabelecidas no
presença da pesquisadora uma parceira po- campo. As entrevistas sempre aconteceram
tencial. no centro da cidade, pois o objetivo era pen-
Em diversos momentos, houve situ- sar as representações e significações de ve-
ações em que tivemos de lidar com canta- lhice em um contexto urbano de homos-
das e desconfianças sobre o motivo de es- sociabilidade. Por isso, foram combinados
colher o centro como local de estudo, quais encontros em locais públicos, como bares,
seriam os “reais” objetivos em abordá-los restaurantes e mesmo nos bancos presen-
ou mesmo situações em que homens reuni- tes na praça e calçadão, mas que mantives-
dos com algum informante afastavam-se sem a privacidade. Foram utilizadas diver-
com a aproximação da pesquisadora. Jorge, sas estratégias que possibilitassem a reali-
outro informante de 75 anos, explicou que zação das entrevistas sem que sugerisse uma
seus amigos supunham que o fato de a pes- demanda para um encontro afetivo. Quan-
quisadora sempre conversar com ele era do se tratava de bares ou restaurantes, evi-
porque esta se tratava de sua namorada e, tamos que o informante pagasse a conta da
por isso, afastavam-se, por mais que ele ex- pesquisadora, a fim de marcar que não se
plicasse que se tratava de uma estudante tratava de uma relação afetiva.
interessada em realizar uma pesquisa com O próprio uso do roteiro teve de ser
homens velhos no centro. repensado, pois as perguntas, ao remeterem
A diferença de sexo, ao mesmo tem- diretamente à velhice, ratificavam constan-
po em que trouxe uma série de vantagens, temente a posição desses sujeitos como ve-
na medida em que alguns homens situavam lhos decrépitos. Em uma entrevista com
os aspectos da construção de masculinida- Jorge, ao dar-se conta de que as perguntas
des, marcada pelo encontro com uma mu- giravam em torno do envelhecimento, refe-
lher, também trouxe alguns empecilhos. riu o roteiro como uma espécie de massa-
Houve acessos barrados e códigos não com- cre, como se a todo o momento o lembrasse
partilhados em função da presença de uma de que ele é velho. Em razão disso, consi-
mulher – a pesquisadora – no grupo, como deramos a impossibilidade de utilizar dire-
expressou um amigo de José, informante de tamente o roteiro como ferramenta de in-
71 anos, ao dizer que não poderia falar so- vestigação, haja vista que as perguntas di-
bre determinadas fatos ou palavras porque retas sobre envelhecimento restringiam as
“há roupa no varal” (referindo-se à presen- possibilidades de respostas desses sujeitos.
ça da pesquisadora). Dessa forma, em vez de levar o roteiro, pas-
Essas e outras situações evidencia- samos a colocar as mesmas questões entre
ram que ordens simbólicas de gênero com- as conversas/entrevistas informais, obtendo
põem os diversos processos e práticas soci- resultados muito mais frutíferos.
ais e culturais através dos quais (en)gendram Foram realizadas apenas duas entre-
os sujeitos como homens e mulheres, cons- vistas formais com o uso do roteiro, tendo
tituem-se como produto e processo não só sido abandonado assim que verificamos a
das formas como masculinidades e femini- dificuldade de desenvolver a pesquisa com
lidades podem ser experienciadas e o uso dele. Desenvolver a pesquisa sem o

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apoio de um roteiro de entrevistas mentos de falas apresentadas ao longo do


semiestruturado mostrou-se uma escolha texto.
acertada. Verificamos que as conversas in-
formais, ao possibilitar o desenvolvimento 4 Entre homens: os desafios do traba-
de uma narrativa livre, permitiam a inser- lho de campo
ção das questões que compunham o roteiro
de forma aberta e sem vincular os homens a Algumas situações do processo de
uma identidade de velho. entrada no campo e os desdobramentos na
As dificuldades encontradas para tentativa de aproximação com os homens no
desenvolver uma entrevista com o uso de centro da cidade podem dar muitas pistas
roteiro informam sobre a dimensão para pensar os dados de pesquisa. A experi-
relacional da entrevista. Percebemos que a ência da pesquisadora em campo junto aos
qualidade dos dados obtidos através do uso homens pesquisados forneceu elementos
dessa técnica depende da relação que os para compreender que os significados sobre
homens pesquisados estabelecem com a as intenções que permeiam a relação de
temática, com a pesquisadora e com o espa- pesquisa são expressivas do modo como os
ço no qual se realiza a pesquisa. homens atribuem sentido às suas relações.
Para a obtenção dos informantes, No contexto estudado, o fato de a pesqui-
pensamos em nos inserir em uma rede de sadora ser uma mulher, jovem, interessada
relações no centro da cidade e, a partir des- em conversar com homens velhos que fre-
sa rede, selecionar os informantes. Por isso, quentam o centro implicou um tipo de
a composição da amostra não foi previamen- interação específica importante para a pro-
te determinada, tendo em vista as caracte- dução dos dados de pesquisa.
rísticas metodológicas da pesquisa. Os ho- O trecho a seguir, extraído do diário
mens que foram convidados a contribuir de campo, refere-se ao processo de entrada
para esta pesquisa foram selecionados atra- em campo:
vés da técnica “bola de neve”. Esta técnica
de recrutamento de informantes chamada Logo após apresentar-me para Antônio e
de “bola de neve” é convencionalmente explicar-lhe sobre a pesquisa que preten-
conhecida na Antropologia como sendo a dia realizar, perguntou-me se não havia,
em alguns momentos, surgido desconfi-
maneira pela qual os participantes são indi- anças, ou seja, se não havia surgido um
cados por amigos ou conhecidos. Nesse sen- mal-entendido com relação ao motivo que
tido, à medida que foram sendo contatados, me levava a abordá-los na praça e se eu
eles indicaram outros homens da sua rede não teria recebido alguma proposta que
no centro da cidade. poderia constranger-me. Comentou que
Embora o uso dessa técnica tenha provavelmente isto aconteceria, visto que
nenhum deles me conhecia previamente
possibilitado a interação com vários homens
e por isso ao aproximar-me poderia gerar
que circulam pelo centro, privilegiamos, na desconfianças. Considerei se esta fala não
descrição dos resultados, as informações se referia a sua própria desconfiança so-
obtidas de conversas/entrevistas informais, bre as minhas intenções (Diário de cam-
realizadas com homens com os quais foram po).
estabelecidos vínculos mais consistentes e
autorizaram a utilização dessas informações A primeira ida a campo é ilustrativa
na pesquisa. Respeitando acordos de ano- para pensar a presença como mulher/pes-
nimato estabelecidos com os informantes, quisadora. No final de novembro de 2008, a
foram utilizados nomes fictícios nos frag- pesquisadora foi até a praça, a fim de iniciar

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a pesquisa. Era início da tarde, por volta de va livre. Constantemente elogiava a pesqui-
13 horas. Havia pouco movimento e poucas sadora, dizendo que esta era simpática, le-
pessoas sentadas nos bancos. Próximo à Rua gal e sabia conversar. Perguntava sobre seus
Venâncio Aires havia um homem, aparen- relacionamentos e o que faria caso algum
tando ter idade avançada, sentado sozinho. dos homens entrevistados se apaixonasse
A pesquisadora cogitou aproximar-se para por ela. Esses constantes elogios constran-
conversar com ele. Ao abordá-lo, a pesqui- giam-na, pois havia um forte indício de se-
sadora apresentou-se como estudante que dução, com constantes elogios e perguntas
tinha como interesse pesquisar o envelhe- que soavam como indiretas. Tinha interes-
cimento masculino. Encerrada a explicação se em continuar encontrando-se com a pes-
dos objetivos da pesquisa e convidando-o a quisadora, mas, em momento algum, esta
participar, ele respondeu: “então nós vamos poderia fazer menção à pesquisa, utilizan-
namorar?” Neste momento, entendemos do ferramentas como o gravador, o roteiro
esta fala como um mal-entendido quanto à ou discutir questões abertas relacionadas à
palavra encontro, pois foi explicado que, pesquisa, o que resultou na impossibilida-
para a realização da pesquisa, seriam com- de de contar com ele como interlocutor.
binados alguns encontros para conversar, e Conforme Plínio, a aproximação de
pensamos que estes poderiam ter soado uma mulher sempre será vista com segun-
como encontro afetivo. Por isso, tentando das intenções. Certa vez, relatou que du-
desfazer esse possível mal-entendido, refor- rante uma conversa entre ele e a pesquisa-
çamos que se tratava de uma pesquisa. Após dora um de seus ex-colegas da Viação Fér-
este encontro, nunca mais o encontramos na rea, sentado em um dos bancos da praça,
praça. estava observando. Após a saída da pesqui-
O que é importante reter deste sadora, aproximou-se dele e perguntou se a
exemplo é que, embora estivéssemos comu- mulher que conversava com ele era sua na-
nicando que se tratava de um encontro para morada. Plínio conta que negou, explican-
uma entrevista, a situação de entrevista, em do que se tratava de uma estudante, reali-
que há alguns encontros para se falar de zando uma pesquisa com os velhos na pra-
determinadas questões, pode ser interpre- ça. Contudo, afirma que apesar de ter ex-
tada diferentemente pelos sujeitos pes- plicado ao seu ex-colega, em geral, todos os
quisados. A esse propósito, Antônio, após homens que circulam pela praça iriam pen-
combinado de encontrá-lo uma segunda vez sar o mesmo ao verem uma mulher jovem
para dar continuidade à pesquisa, comuni- conversando com qualquer homem (Diário
cou que gostaria de encontrar a pesquisa- de Campo).
dora em um bar próximo à praça, onde ele Nesta situação, mesmo os homens
pagaria uma bebida enquanto conversavam. estando cientes dos motivos que levavam a
Compreendemos que se tratava de um con- pesquisadora a aproximar-se deste espaço
vite para um encontro com vias à formação público e a interagir com eles, eles poderi-
de parceria sexual-afetiva. Era uma situa- am colocar em questão esse interesse em
ção inusitada que naquele momento não pesquisar, aceitando participar, explícita ou
sabíamos como contornar. Em razão disso implicitamente, com a intenção de desen-
foi negada a possibilidade de um encontro, volver outro tipo de relacionamento.
reforçando que se tratava de uma pesquisa. A partir dessas situações viven-
Apesar de Antônio concordar com ciadas no contexto da pesquisa, destacamos
os termos dos encontros, dificilmente res- a condição de parceria potencial que
pondia às perguntas ou comentava algo so- permeou boa parte do trabalho de campo
bre sua vida quando proposto uma narrati- realizado na praça. Nádia Meinerz (2007),

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170 GABRIELA FELTEN DA MAIA, FÁTIMA CRISTINA VIEIRA PERURENA E BENEDITO MEDRADO

em seu trabalho intitulado Um olhar sexual pesquisado, há diferenças entre pontos de


na investigação etnográfica..., argumenta vista e expectativas. Antes de ser um em-
que as pesquisas sobre sexualidade tendem pecilho ao desenvolvimento da pesquisa, as
a despertar uma suspeita com relação à se- expectativas que orientam a relação entre
xualidade dos pesquisadores, bem como pesquisadores e informantes fazem parte do
sobre suas intenções subjetivas para a reali- processo de investigação e informam sobre
zação da mesma. Durante a realização do seu valores e visões de mundo do grupo estu-
trabalho de campo, a despeito de ter expli- dado.
cado os objetivos da pesquisa e as mulheres Dessas considerações resulta que a
mostrarem-se dispostas a participar, elas jul- relação estabelecida no campo, devido às
gavam que a real intenção da pesquisadora expectativas de gênero, indica elementos
ao frequentar bares e investigar a constitui- que compõem as representações de mascu-
ção da parceria homoerótica entre mulhe- linidades e feminilidades e orientam o olhar
res era para descobrir-se homossexual. estabelecido para a pesquisadora, que, ao
Na situação de pesquisa, a constitui- manifestar interesse em interagir com ho-
ção de parceria era algo especulado também mens, passa a co-produzir os códigos que
por Plínio nos frequentes retornos à ques- regem as relações entre homens e mulhe-
tão das desconfianças de seus ex-colegas de res no centro. A esse respeito, destacamos
profissão. No início, cogitamos ser apenas um comentário de Plínio ao explicar as re-
um alerta, tornando-o um informante-cha- lações entre homens e mulheres que fre-
ve. No entanto, a recorrência do tema fez- quentam o centro. Estas, quando frequen-
nos pensar que a cada retorno ao tema Plínio tam a praça com o objetivo de encontrar
estava verificando as reais intenções da pes- parceiro, fazem-no ficando sentada nos ban-
quisadora ao conversar com ele. Por isso, cos, trocando olhares com homens velhos
embora esta estivesse fazendo uma pesqui- que por ali circulam. As mulheres não têm
sa e procurasse deixar claro que não estava nenhuma iniciativa de aproximar-se de um
disponível para qualquer envolvimento, homem, é apenas através do olhar que elas
uma mulher jovem conversando com um demonstram interesse e dão o sinal que per-
homem velho não poderia ser visto de for- mite a aproximação de algum homem para
ma desinteressada. iniciar o processo de paquera. Neste caso, a
A situação de parceria potencial, ao situação da pesquisa torna-se parte de um
contrário de ser pensada como uma dificul- jogo de paquera, na medida em que os en-
dade para a realização de pesquisa, deve ser contros para a realização da investigação
explorada como uma condição para apreen- podem ter um significado de “namoro”, ca-
der sobre os significados e os valores do gru- racterístico da situação de conquista sexual
po estudado, na medida em que ser uma entre homens e mulheres no centro.
mulher pesquisando entre homens o cará- Fica claro, a partir desse relato, que
ter de suspeita gerado e constantes verifi- as respostas ao interesse de uma mulher em
cações das intenções, ao mesmo tempo em conversar com homens podem ser signifi-
que orientam as relações estabelecidas, in- cativas para pensar que essa relação é regu-
formam sobre um tipo de interação balizada lada por uma grade de interpretação das
pelas relações de gênero. interações sociais que moldam as expecta-
Como salienta Geertz (2001) e tivas quanto ao comportamento do outro,
Meinerz (2007), a pesquisa científica pode organizando a interação dos sujeitos com a
ser qualificada como uma experiência mo- pesquisadora. Assim, essas respostas torna-
ral, inerente ao trabalho de campo, uma vez ram-se um elemento fundamental para o
que, na relação entre pesquisador e o grupo desenvolvimento da pesquisa. O modo

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ENVELHECIMENTOS MASCULINOS:ENTRE VIVÊNCIAS PLURAIS E EXIGÊNCIAS NORMATIVAS 171

como os sujeitos categorizavam e interpre- posicionamos em campo está regulada por


tavam a relação com a pesquisadora pôde aquilo que Saffioti (2004) chama de uma
tornar inteligível a forma como homens en- gramática sexual que regula as relações en-
tendem o que deve ser feito quando tre homens-mulheres, mulheres-mulheres
interagindo com uma mulher em determi- e homens-homens.
nada circunstância e em determinado mo- É possível pensar que a situação de
mento. Apresentamos duas situações ano- parceria potencial na pesquisa situava a po-
tadas no Diário de campo que registram a sição da pesquisadora na interação com es-
forma como os homens estavam significan- ses homens a partir dessa gramática sexual,
do a aproximação da pesquisadora: ancorada em roteiros sexuais, nos termos de
John Gagnon (1999), na medida em que
Na primeira conversa com Antônio, após estes estruturam as possibilidades de
apresentar os objetivos da pesquisa, sou interação sexual ao informar o que é ou não
interpelada sobre a existência de um na- uma situação sexual e o que deve ser feito
morado. Ao responder afirmativamente,
Antônio questiona: Ele sabe das tuas vin-
em circunstâncias específicas.
das à praça para conversar com homens? Compreender as relações que se es-
Ele não implica com tal ‘atividade’? (Di- tabeleceram no campo de pesquisa a partir
ário de campo). de uma perspectiva da roteirização permi-
te, nas palavras de Gagnon (1999), relacio-
Certa vez, em meio à conversa com Carlos nar a forma como as pessoas pensam e agem
sobre a necessidade de interagir com os ao contexto sociocultural em que vivem.
homens que vão ao centro para compre-
Significa dizer que a conduta sexual somen-
ender as sociabilidades e representações
destes, ele comenta: Tem que se integrar. te irá se produzir a partir de esquemas
Para conhecer e entender. Tem que par- cognitivos, ou seja, a partir de roteiros que
ticipar. Quem é integrada é essa guria que definem a situação e informam quem pode
ele tá falando aí [aponta para Jorge, ao agir e qual o cenário de ação. Nesse senti-
comentar de outra pesquisadora que in- do, uma determinada concepção de sexua-
vestiga a sociabilidades de homens velhos lidade e de gênero está em jogo quando da
e também tem como campo de pesquisa
o centro de Santa Maria]. Seguido ela ta
relação entre pesquisadora e sujeitos pes-
lá [sentado nos bancos da praça com um quisados, uma vez que o comportamento
grupo de homens que se reúnem com Jor- sexual é menos uma resposta simples a uma
ge]. Mas eu não dou muita trela pra ela pulsão interna ou efeito automático de um
não. Esse aí [Jorge] saem e tomam cerve- instinto do que um arranjo que encontra sua
ja juntos. Não sei qual é a história. Diz origem em contextos balizados por uma
que é pra pesquisa. Mas eu não sei. Ela tá
tecnologia de gênero. Portanto, a peculiari-
se ‘integrando’ ou... eu to fora né. Risos
(Diário de campo). dade da negociação com os informantes,
marcada por um estranhamento de ser uma
Analisamos esses exemplos como mulher e jovem estudando homens velhos,
ilustrativos da forma como os sujeitos está informando sobre noções de gênero.
pesquisados estavam compreendendo a in- A sexualidade, então, passou a ser
serção da pesquisadora em campo e o fato um tema importante para pensar a consti-
de a mesma estar fazendo uma pesquisa com tuição de modos possíveis de ser homem
homens. As insinuações sobre possíveis re- velho. No desenvolvimento da pesquisa,
lações sexuais e as suspeitas quanto ao in- identificamos que o contexto de homosso-
teresse em falar com eles são fundamentais ciabilidade do centro da cidade constitui um
para entender que a forma como nos campo dinâmico e conflitante de produção

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172 GABRIELA FELTEN DA MAIA, FÁTIMA CRISTINA VIEIRA PERURENA E BENEDITO MEDRADO

de práticas e discursos sobre o envelheci- apontam Maria Liz de Oliveira, Selma Oli-
mento que permitem reconhecer e agrupar veira e Lilian Iguma (2007), a naturalização
homens como velhos ou não, a partir de da funcionalidade da sexualidade para a pro-
determinados noções de masculinidade an- criação também naturalizou a atividade se-
coradas em estatutos corporais. São proces- xual de tal forma que não se poderia pensar
sos de classificação e diferenciação produ- em seu prolongamento até a velhice.
zidos por estes homens que possibilitam Ao combater essa ideia de que a se-
distanciá-los das representações negativas xualidade se extingue com o envelhecimen-
que implicam ser considerado um homem to, a gerontologia defende que o prazer se-
velho. Os significados culturais que consti- xual é um dever e um indicador de saúde,
tuem e estruturam a percepção e a organi- adotando procedimentos terapêuticos para
zação concreta e simbólica das relações en- restabelecer a experiência sexual satisfatória
tre homens e entre homens e mulheres no na velhice em face às disfunções sexuais. A
centro da cidade, institucionalizam os mo- discussão sobre o envelhecimento bem-su-
dos de ser homem velho a partir da virilida- cedido, em sintonia com a ideia de terceira
de e da sexualidade ativa. idade, aparece como uma importante pre-
missa gerontológica para associar a manu-
5 Envelhecer com virilidade: a sexuali- tenção da atividade sexual na velhice à saú-
dade como marcador de diferenças de e à qualidade de vida. Se hoje é possível
falar sobre essa associação, enquanto há bem
Envelhecimento e sexualidade pouco tempo imperava o mito da velhice
quando vistos da perspectiva do desenvol- assexuada, é porque percepções e significa-
vimento humano – envelhecimento conce- ções sobre o envelhecimento vêm sofrendo
bido como progressão cronológica rumo à mudanças nas últimas décadas, de modo a
finitude – tornam-se excludentes mutua- constituir um novo-velho (BRIGEIRO,
mente, pois, dentro da perspectiva de dete- 2006).
rioração, considera-se que há um declínio Se a noção de velho, de acordo com
do desejo, da função sexual (menopausa ou Clarice Peixoto (2006), pertence à
disfunção erétil), perda da atratividade físi- categorização de sujeitos pobres, sem esta-
ca e da justificação social, visto a perda da tuto social, em decadência e dependentes.
capacidade produtiva – saída do trabalho – A preferência pela juventude e o vigor, em
e reprodutiva. nossa sociedade, torna a experiência de en-
Mauro Brigeiro (2006) em seu estu- velhecer negativa, atingindo, sobremanei-
do de revisão da literatura gerontológica so- ra, a vivência de homens velhos que têm a
bre o tema da sexualidade na velhice verifi- capacidade de ereção diminuída. A noção
cou um consenso de que a sexualidade de de velho ao associar-se à negatividade
pessoas mais velhas está marcada pelo “mito inviabilizaria que estes homens se consti-
da velhice assexuada”. Segundo Doris tuíssem como sujeitos sexuais possíveis. Por
Vasconcellos et al. (2004), até bem pouco isso mesmo, torna-se difícil reconhecerem-
tempo ainda se acreditava que o declínio da se como velhos. Aqueles que têm saúde
função sexual ao se chegar em determinada saem de casa, possuem atividades de lazer
idade era inevitável, face à menopausa e à e sociabilidade, mantêm-se sexualmente
progressiva disfunção erétil. Além disso, sua ativo, não se consideram velhos e não que-
justificação social ligada à reprodução per- rem ser enquadrados neste modelo.
deria seu objetivo ao envelhecer e contri- Isto foi perceptível no entendimen-
buiria para uma negligência quanto à exis- to do que seja o envelhecimento com virili-
tência de atividade sexual na velhice. Como dade para os homens que participaram des-

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ENVELHECIMENTOS MASCULINOS:ENTRE VIVÊNCIAS PLURAIS E EXIGÊNCIAS NORMATIVAS 173

ta pesquisa.9 Como pudemos observar, a Bom, depende também da vivência do


relação entre sexualidade e envelhecimen- homem. Se o homem fuma, ele bebe bas-
to – a partir do valor da “virilidade” e da tante, se ele fuma bastante. O homem
com 50 anos já tá virando também num
possibilidade de manutenção/produção da velhinho já. Já começa a ficar, né... O sexo
virilidade – tornou-se um eixo estruturante pra ele já começa a ficar, começa a desa-
e estruturador da percepção do envelheci- parecer e tal e aí já vai mudando tudo.
mento. Agora o cara que nunca bebeu, não fuma
A sexualidade desses homens ten- e tal, se controla e tal, o cara aí vai mais
dem a concentrar-se na área genital e no re- longe... [...] Tem muito homem que se
controla, mas têm outros que não. Se ele
curso da penetração. Conforme discute
se controla aí ele vai mais longe. Ele vai
Brigeiro (2006), a literatura gerontológica mais longe pra fazer sexo. (Jorge, 74 anos).
sobre sexualidade considera esta ênfase uma
concepção limitada de sexualidade ao de- Essas dificuldades do envelheci-
fenderem que, na velhice, há uma plas- mento e a necessidade de manutenção das
ticidade corporal e um deslocamento da se- funções sexuais são expressas por Adolfo na
xualidade da área genital para “zonas colocação a seguir:
erógenas” do corpo. Contudo, é importante
atentar que a valorização da atividade sexu- Nós levamos a vida, o restinho de vida
al com penetração é antes um compromisso meio... Se não dá para dar uma hoje, a
com aspectos característicos do modelo de gente dá outra, dá amanhã. A gente tam-
masculinidade valorizado pelos informantes bém tem as folgas da gente, né. Ou às
vezes se quer muito, esforça, dá uma de
e uma das condições por meio da qual se manhã e outra de tarde, mas não é sem-
distanciam do estereótipo de velhice. pre, né. [Risos] (Adolfo, Diário de Cam-
Para eles, a capacidade de manter po).
relações sexuais com penetração e sem uti-
lização de medicamentos é determinante Como manifesta este informante, as
para nomear velhos e não velhos, como na dificuldades de manutenção das condições
afirmação de Xavier ao comentar sobre como físicas são os delimitadores da atividade e
os homens devem envelhecer: do discurso sexual, pois apesar do discurso
ser importante para sustentarem-se no lu-
Estávamos falando sobre envelhecer com gar de não-velhos, este necessita ser ratifi-
virilidade. Temos que envelhecer com cado por condições dadas pelo corpo. Por
virilidade. Tem aqueles que envelhecem
isso, a ereção torna-se um valor constituin-
de remédio. É aquele que vive na farmá-
cia. (Xavier, Diário de Campo). te da masculinidade desses homens, bem
como marcador de diferença, como enfatiza
Um corpo saudável e apto para a Jorge, ao dizer que os homens velhos preci-
vivência da sexualidade são condições para sam de “argumento pra contentar a mulher
‘envelhecer com virilidade’ e demonstra [...] argumento físico”, pois “chegar com
que, apesar da passagem do tempo e o uma polenta velha braba não adianta”. Para
surgimento dos sinais de envelhecimento, se considerarem não velhos há necessaria-
ainda é possível manter as condições dese- mente a passagem pela via corporal, na qual
jáveis para a sua realização, como destaca a capacidade de ereção, a virilidade é a con-
Jorge: dição para a categorização.
Verificamos que os significados as-
sociados à disfunção erétil e o consequente

9
Envelhecer com virilidade é um termo êmico.

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174 GABRIELA FELTEN DA MAIA, FÁTIMA CRISTINA VIEIRA PERURENA E BENEDITO MEDRADO

afastamento de certas prerrogativas, que tornavam-se mais visíveis, o que indicava a


para estes homens constituem a sua mascu- suspeita sobre os seus interesses em estar
linidade, sinalizam que os significados so- próxima deles.
bre o que venha a ser o sexual estão infor- Este espaço é recortado por diferen-
mando sobre um conjunto de valores fun- tes grupos e denominações, sendo um co-
damentais para a constituição das identida- nhecido como o “canto do cutuca” onde ho-
des. Vale de Almeida (1996), em seu estudo mens observam as “mulheres bonitas pas-
etnográfico sobre homens residentes em sar”, e quando estas passam um cutuca o
uma comunidade do interior português, ar- outro para que todos olhem para ela. Esta
gumenta que o corpo é investido simboli- denominação é antiga e refere-se a um gru-
camente como base existencial da cultura, po de homens que se reuniam em frente a
de modo que o processo de incorporação dos um clube localizado próximo ao calçadão.
significados de gênero passa a ser consen- Todavia, ainda hoje é utilizada pelos ho-
sual e concretamente vivido. Como demons- mens velhos para designar o lugar onde al-
tra Ceres Víctora (1997), as práticas e repre- guns velhos sentam-se ao longo do dia para
sentações sobre o corpo, a sexualidade e a observar as mulheres que passam, conside-
reprodução geradas em determinado con- radas “colírios” para seus olhos. Sobre isso
texto sociocultural são fundamentais para Carlos comenta:
compreender como a internalização
(embodiment) de um habitus de gênero dá [...] Tem outra né, quem fica sentado aqui
forma e significado ao aprendizado relativo fica alegrando os olhos, né... com as gurias
tanto à composição do corpo do homem bonitas... Colírios pros olhos. Tem mais
essa né [além de conversar com os ami-
quanto à identidade masculina. gos]. Em casa tu acostuma né, arroz e fei-
Com base nessas reflexões, é inte- jão. Então, tem que ver coisa nova. [...]
ressante destacar que entre os homens ve- Elas passam em todos os lugares. A gente
lhos entrevistados compôs-se um modelo de só olha, né. E vê o que é... Faz bem pras
masculinidade ‘viril’, reiterado constante- vistas ou fecha os olhos. Quando não faz
mente na relação de pesquisa com uma bem pro... É mesmo que colírio. O que
não faz bem não olha. Fecha os olhos.
mulher jovem. Esta postura, para Brigeiro
(Carlos, Diário de Campo).
(2002), deve ser observada, antes, como
performances desses homens forjadas na De acordo com as análises de
dinâmica da sociabilidade em um espaço Brigeiro (2002), a possibilidade de reunião
público. Mais do que evidenciar o surgi- de um grupo de homens de mais idade em
mento de novos comportamentos para a espaços públicos e as performances jocosas
velhice, configuram-se a partir de certos atri- e das práticas sexuais representa uma con-
butos de gênero na organização do cotidia- tinuidade das práticas e estilo de vida do
no desses sujeitos. curso de suas vidas e um movimento de re-
A reunião de homens no centro da sistência à velhice incapacitadora. A possi-
cidade de Santa Maria, apesar de aberto para bilidade de não reclusão no espaço domés-
outros membros que circulam no centro, são tico, antes associada à dedicação ao traba-
fechados para a participação de mulheres. lho e como provedor e protetor da família, e
A pesquisadora nunca teve a oportunidade agora através do trânsito diário pelo espaço
de participar de uma roda de conversas, por- público, demarca uma dinâmica social que
que ao aproximar-se de um homem o res- hierarquiza as relações sociais e os espaços
tante do grupo encerrava a discussão e afas- de sociabilidade a partir de noções de gê-
tava-se. Os olhares desconfiados quando nero.
esta estava conversando com algum velho

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ENVELHECIMENTOS MASCULINOS:ENTRE VIVÊNCIAS PLURAIS E EXIGÊNCIAS NORMATIVAS 175

Essas noções estruturaram as possi- quem é ou não velho não está relacionada à
bilidades de relação e deram suporte ao idade cronológica ou biológica. Pertencer a
modo como os homens velhos entenderam uma categoria implica a identificação da pre-
a entrada de uma mulher em um espaço sença ou ausência de certas condições que
marcado por princípios de visão de divisão demarcam e diferenciam sujeitos. Isto sig-
sexuadas do mundo social. Assim, as parti- nifica que, ainda que haja o reconhecimen-
cularidades surgidas na interação entre pes- to do processo de envelhecimento, reconhe-
quisadora e sujeitos pesquisados, no que diz cerem-se – e serem reconhecidos – como
respeito à condição de parceria potencial homens sexualmente ativos os exclui da
que permeou a relação de pesquisa, de- condição de sujeitos velhos.
monstraram que as representações em tor- A expectativa em torno do
no da masculinidade entrelaçaram-se com envolvimento sexual está associada ao em-
um movimento de resistência à velhice es- penho em reconhecerem-se em um mode-
tigmatizada. lo de envelhecimento que, de modo mais
geral, torna-se uma prerrogativa para uma
6 Considerações finais velhice ativa e saudável. Pode ser pensada
como um dos mecanismos encontrados pe-
Este trabalho teve como principal los homens velhos para demarcar que ‘ve-
desafio compreender representações e sig- lho’ é sempre o outro. Portanto, a sexuali-
nificados de velhice e envelhecimento pro- dade como uma tecnologia que constitui
duzidos em um contexto de homos- comportamentos, sujeitos e representações
sociabilidade masculina, a partir da interação possibilita que, através do sexo, marcadores
com uma pesquisadora mulher e jovem. corporais de diferença materializem os cor-
Avaliamos que os resultados obtidos são pro- pos enquanto corpos velhos ou corpos não
duto e processo de uma relação surgida na velhos.
situação de pesquisa, caracterizada pela con-
dição de parceria potencial e balizada por Referências bibliográficas
uma tecnologia de gênero que (en)gendra
as posições dos sujeitos como sujeitos ALVES, A. M. Família, sexualidade e ve-
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Percebemos que esses homens não construção de novos sentidos para o enve-
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