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28/05/2019 O que Fujimori pode nos ensinar sobre Bolsonaro – João Rodriguez – Medium

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O que Fujimori pode nos ensinar sobre
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Bolsonaro
João Rodriguez Follow
Oct 16, 2018 · 6 min read

As lições de um Peru que nos anos 90 abriu mão da liberdade em


nome da segurança

F az um tempo que venho tentando mostrar como é importante olhar


para história para se pensar no futuro, os discursos são mais fortes
do que armas e podem causar um estrago tão grande quanto. Já
adianto que a ideia desse texto não é acusar ninguém. Peço
sobriedade para ler tudo e principalmente a necessária noção de que
não existe democracia garantida.

Da Crise em diante

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Na década de 80 o Peru compartilhava das mesmas carências básicas


de um país latino-americano: corrupção, violência urbana, tráfico,
desemprego e inflação. Depois da ditadura militar no país, os novos
governos não trouxeram prosperidade econômica, o país tinha uma
inflação de 7000% quando Alberto Fujimori, um japonês simpático e
que bradava palavras de ordem, começou a ganhar apoio popular.
Naqueles tempos difíceis era impossível não se deixar levar pelas
palavras do nipo-peruano, apesar do candidato nunca ter apresentado
uma proposta de governo, seu discurso pregava o fim do terrorismo,
comunismo e do narcotráfico com ações policiais “licenciadas para
matar”, Fujimori fez história ganhando a disputa pela presidência do
hoje Nobel de Literatura Mario Vargas Llosa em 1990. A única
segurança que os peruanos tinham nos anos 90 era de que a
democracia iria se manter, afinal tinham acabado de sair de um
regime militar.

Estudantes peruanos durante os anos 50–80: a herança do militarismo in uenciou a política

Assim que Fujimori assumiu, a ampla oposição do Congresso ao novo


presidente se pôs como um obstáculo, mas a popularidade do japonês
foi sua garantia de triunfo. Fujimori tinha um braço direito importante,
Vladimiro Montesinos, um ex-militar que possuía contato com setores
do exército peruano e era o homem à frente do Serviço de Inteligência
Peruana. O autogolpe foi rápido e eficaz, com mais de 80% de apoio
vindo dos peruanos o presidente em 92 fechou o Poder Judiciário, o
Ministério Público, o Tribunal Constitucional, e o Conselho da
Magistratura, além de convocar uma nova eleição para o Parlamento,
que mais tarde seria caracterizada como fraudulenta por observadores
internacionais.

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A centralização política não foi a única característica do ‘czar peruano’,


logo Fuji e Montesinos começariam um plano de montar uma milícia do
governo, ligada ao militarismo e nacionalismo peruano — o Grupo
Colina. Milhares foram torturados, entre opositores, inocentes e
potenciais subversivos críticos à nova ditadura peruana. A
imprensa foi comprada e qualquer ataque opressor de Fujimori era
chamado de uma ofensiva contra o terrorismo e o comunismo. A
mentira era um meio e um fim para governar e ganhar apoio
popular.

Montesinos e Fujimori

O próprio Fujimori possuía um discurso racista e higienista, ele


chegou a ordenar a castração de mais de 300 mil mulheres no país,
muitas eram indígenas, e a desculpa era que os lares mais pobres eram

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“fábricas de terroristas”. Depois de sair do poder, Fujimori culpou o


Ministério da Defesa como responsável pelas atrocidades cometidas em
sua gestão. A anistia internacional acusou o ditador de usar do aparato
policial para exterminar opositores e a Comissão Interamericana de
Direitos Humanos (CIDH) comemorou quando a tentativa de dar
indulto ao ditador fracassou.

A barbárie peruana deu algum resultado apesar de ter custado milhares


de vidas inocentes, o Peru controlou melhor sua economia com os
Gurus econômicos de Fuji e conseguiu prender Abimael Guzmán, líder
do grupo maoísta Sendero Luminoso que ganhava cada vez mais
contornos terroristas. Fujimori recebeu todo o crédito e prestígio pelas
ações e logo começou a montar seu plano de reeleição.

Depois de começar uma campanha nacionalista e de disputa


territorial com o Equador, o ditador ganhou mais fôlego para governar
o Peru, confirmado no voto ainda que poucos dias antes daquelas
eleições, foram descobertas urnas com cédulas preenchidas em favor
da coligação que apoiava Fujimori (Cambio 90/Nova Mayoría).
Ninguém do governo foi punido, apesar dos protestos da comunidade
internacional.
Em 98, Peru e Equador chegaram a um acordo de paz. No ano seguinte,
Fujimori alterou a Constituição novamente, fazendo passar uma lei que
lhe permitia uma nova candidatura.

A queda
Chegado os anos 2000, a guerra contra o terrorismo já havia ceifado
mais de 75 mil vidas mas Fujimori já havia garantido a possibilidade de
concorrer à presidência novamente, mesmo sobre suspeitas de fraude
nas urnas, mas foi então que as denúncias de corrupção e de compra da
mídia por parte de Montesinos vazaram cinco meses após Fuji vestir a
faixa presidencial mais uma vez. Na época, Fuji preparava o terreno

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para a entrada de seu filho Kenyi na política quando precisou correr


para o exílio no Japão, fugindo e deixando um rastro de sangue, crise e
alguns filhos na política peruana.

Um caso de família: Keiko e Kenyi, as heranças de Fujimori para política

Em 7 de abril de 2009 Fujimori foi condenado a 25 anos de prisão por


crimes contra a humanidade, incluindo execuções e sequestros,
também foi considerado o autor intelectual das matanças de Barrios
Altos, em 1991, que deixaram 15 mortos, entre eles uma criança de 8
anos.

Fujimori no banco de réus se defendendo

Apesar da sentença, o ditador saiu da cadeia em 2017 por questões de


saúde, hoje sua filha Keiko dá continuidade a sua carreira política e
apesar das acusações de seu pai, ainda soma o prestígio que Fuji teve
depois de derrotar o Sendeiro Luminoso. Parte dos fujimoristas

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costumam lembrar apenas dos prós e não dos contras da gestão, isso
porque de fato a segurança melhorou, mas muitos peruanos que em 90
sonhavam com isso, acabaram abrindo mão de direitos como a
liberdade e tantos outros da vida. O discurso dos defensores é de que
todos os perseguidos "não estavam fazendo boa coisa". De fato havia
muito radicalismo nos terroristas do Sendero e no MRTA, mas é fácil (e
covarde) acusar todos os perseguidos de terrorismo, afinal morto
não consegue se defender.

No fundo, imagino que até mesmo o mais forte apoiador de


Fujimori sabe que está passando pano para crimes, mas talvez a
vergonha de assumir que legitimou tudo isso seja maior.

É claro que vivemos um contexto diferente do Peru dos anos 90, nossa
economia apesar de estar se recuperando não é um desastre, no
entanto a carência por segurança pública e ordem tem feito o
saudosismo de tempos sombrios virem a tona, as pessoas engolem o
discurso de um comunismo folclórico aqui e esqueceram do perigo que
é pra democracia ter militares próximos do poder. Nesse meio a
mentira engole a memória de que hoje somos privilegiados por
estarmos indo votar, de vivermos em um Estado democrático e com
liberdade de expressão e oposição garantidas. Nos sentimos seguros e
por isso nos arriscamos.

O Medo do Bem

É urgente a necessidade de ter medo agora, enquanto ainda podemos


grita-lo em forma de protesto, não nos deixemos cair na ilusão da
palavra fácil, do apelo sem proposta, da controvérsia das mentiras, da
divisão por descriminação, do mesmo discurso de Fujimori.

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Aqui, nenhum presidente corrige um país em um estalar de dedos,


mas pra destruí-lo basta um pouco de incompetência.

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