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Financeiro e de Capitais
1. Mercados Financeiros
Genericamente, referimo-nos a mercados financeiros para tratar do ambiente onde
ocorre a troca de recursos: agentes doadores transferem recursos para agentes
tomadores, mediante certa remuneração. É dizer que os agentes com recursos de
sobra (ditos superavitários) transferem recursos para agentes que precisam obter
recursos adicionais (os agentes ditos deficitários) a fim de desenvolver suas atividades.
1 Empréstimos concedidos pelo Bacen às instituições financeiras, quando estas precisam de caixa. Se a ideia é
aquecer a economia, o Bacen diminui a taxa cobrada por esses empréstimos (“taxa de redesconto”), incentivando
as instituições financeiras a tomarem esses empréstimos, podendo assim oferecer mais crédito no mercado.
Tal qual ocorre com o IR, o IOF tem um arcabouço jurídico formado por leis, decretos
e instruções normativas. Para fins de referência, vamos pautar-nos no Decreto nº
O IOF tem ao menos duas características bastante relevantes, que merecem breve
comentário: ele é um imposto extrafiscal e que não observa o Princípio da
Anterioridade. A seguir, trataremos de cada uma dessas características.
Uma das classificações possíveis para impostos é tratá-los como impostos fiscais ou
extrafiscais. Por impostos fiscais temos aqueles que, possuindo intuito estritamente
arrecadatório, devem prover de recursos o Estado2. Ou seja, são impostos criados com
o fim específico de levantar recursos para financiamento das atividades estatais. Já
por impostos extrafiscais temos aqueles com finalidade reguladora (ou regulatória)
de mercado ou da economia de um país 3 . O caso do IOF seria um caso de
extrafiscalidade, ou seja, a sua relevância no cenário fiscal seria muito mais
referente ao incentivo/desincentivo de determinadas atividades financeiras (em
especial operações de crédito, câmbio e operações com títulos ou valores mobiliários)
do que quanto à arrecadação de recursos para o Estado4.
fato de que em 2008, com a extinção da Contribuição Provisória sobre Movimentações Financeiras
(simplificadamente CPMF), as alíquotas do IOF foram elevadas exatamente pela mesma alíquota a que a CMPF era
calculada. Ou seja, ficou claro o intuito do Poder Executivo de recompor o financiamento do Estado, afetado com
o fim da CPMF.
5 Artigo 153, §1º.
6 AMARO, L. Direito Tributário Brasileiro. 14. ed. São Paulo: Saraiva. 2008.
a) IOF-Crédito
b) IOF-Câmbio
O IOF, nesse caso, é cobrado sobre operações de troca de moeda estrangeira (por
moeda nacional), e o contribuinte será a parte que compra ou vende a moeda
estrangeira. Aqui, a previsão de alíquota máxima é de 25%, mas o máximo previsto
atualmente pelo Decreto nº 6.306/07 não ultrapassa 6,38%. Essa hipótese de
incidência é bastante relevante em casos de financiamento obtido/concedido
internacionalmente, ou de investimentos do/no exterior.
7 Cabe fazer referência também à Lei nº 5.172/66 (do Código Tributário Nacional – CTN), arts. 63 a 67.
8 Decreto nº 6.306/07, art. 7º, §15.
TRIBUTAÇÃO DO MERCADO FINANCEIRO E DE CAPITAIS 6
c) IOF-Seguros
Aqui, a alíquota máxima aplicável também está limitada em 25%, a incidir sobre a
emissão de apólices, ainda que o sujeito passivo seja a parte segurada (e não o
emissor da apólice). Atualmente, essa alíquota não supera 7,38% e varia em função
do tipo do seguro previsto em cada apólice.
d) IOF-TVM
e) IOF-Ouro
A legislação corrente não traz definição unívoca do que seja um instrumento de renda
fixa. Todavia, podemos tomar definições de alguns doutrinadores, para entendermos
melhor a que tipo de instrumento financeiro nos referimos quando o classificamos
como de renda fixa. Mosquera (1999)9 afirma que a operação será classificada como
de renda fixa quando da sua realização houver estipulação de remuneração ou juros,
não a tornando sujeita, portanto, a variações de natureza aleatória. Portanto, o
instrumento financeiro de renda fixa é aquele que necessariamente dará azo ao
pagamento de determinada remuneração (i.e. juros).
Os rendimentos gerados pelo instrumento de renda fixa podem ou não ser conhecidos
quando da contratação de tal instrumento. Isso significa que o rendimento previsto
pelo instrumento de renda fixa não precisa ser determinado, e sim determinável.
Nesse sentido, e ainda fazendo referência às lições do ilustre professor Mosquera, a
própria Receita Federal do Brasil teria, no passado, trazido uma definição interessante
do que seria o instrumento de renda fixa,10 sugerindo que ele é o que gera rendimento
pré ou pós-fixado (ou misto), correspondente a título, obrigação ou aplicação com data
estabelecida para liquidação.
Nessa toada, ressaltamos que o rendimento gerado pelo instrumento de renda fixa
tem de ser determinável: ou ele é pré-acordado entre as partes, e a remuneração
9 MOSQUERA, R. Q. Tributação no Mercado Financeiro e de Capitais. 2. ed. São Paulo: Dialética, 1999.
10 Instrução Normativa nº 134/85.
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pode ser calculada desde o início, ou ele é pós-fixado, pois é pautado em uma dada
variável mensurável, mas que só será conhecida quando da liquidação do instrumento.
Títulos públicos são emitidos pelo Tesouro Nacional, com o intuito de levantar recursos
para financiamento das atividades estatais. Esses títulos podem ser negociados com o
auxílio de intermediadores (corretores) ou mesmo diretamente (Tesouro Direto). Na
categoria de títulos com renda pré-fixada, temos: (i) Tesouro Prefixado, que remunera
o capital investido com rendimentos pagos no vencimento ou resgate do título; e (ii)
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais, que remunera o capital investido com
rendimentos pagos semestralmente – o montante principal é retornado quando do
pagamento do último cupom. Rendimentos são tributados pelo imposto de renda com
base na tabela de alíquotas regressivas que mencionamos.
Aqui também tratamos de títulos emitidos pelo Tesouro Nacional, e nessa categoria
temos: (i) Tesouro Selic, em que o capital investido é remunerado com rendimentos
pagos no vencimento ou resgate do título, sendo certo que os rendimentos serão
calculados com base no indexador, no caso, a SELIC; e (ii) Tesouro IPCA, que tem
como indexador o IPCA. (Esse título pode ou não ter pagamento de cupons
semestrais.) É interessante notar que, se comparados aos títulos públicos com renda
pré-fixada, os títulos com renda pós-fixada tendem a ser mais consistentes com a
evolução da economia, protegendo melhor o capital investido da erosão inflacionária.
Rendimentos são tributados pelo imposto de renda com base na tabela de alíquotas
regressivas que mencionamos.
Debêntures: emitidas por S/A de capital aberto (reguladas pela CVM). Tem
grande variedade de prazos, formas de remuneração e resgate;
Bônus de Subscrição: emitidos por S/A, representam direito de subscrever ações;
Commercial Papers (ou Notas Promissórias): também emitidas por S/A;
Títulos Agrícolas: Certificado de Depósito Agropecuário (CDA) + Warrant
Agropecuário (WA); Letra de Crédito do Agronegócio (LCA): específicos do
mercado agropecuário, usados como garantia.
Para entender que tipo de instrumentos são negociados nesse mercado, e como são
tributados, vale segregá-los (para fins didáticos, apenas) em instrumentos negociados
no (i) mercado à vista ou (ii) mercado a prazo.
Nesse mercado, os instrumentos mais óbvios são as ações. Estas, por sua vez,
representam uma fração do patrimônio da empresa que as emitiu – empresas sempre
constituídas como sociedades anônimas ou S/A. A tributação (na fonte) prevista
pelo imposto de renda para os ganhos na negociação de ações é de 15%,12 calculada
sobre os ganhos líquidos (de perdas). Vale lembrar que há isenção do IRRF para a
pessoa física que não exceder o montante de R$20 mil/mês em vendas de ações.
a) Contratos a termo
b) Contratos futuros
Embora sejam muito parecidos com os contratos a termo, estabelecem ajustes diários
entre as partes (como se fossem pequenas “liquidações financeiras” acontecendo
diariamente). A tributação é a mesma dos contratos a termo (IRRF a 15%), e são
contratos negociados em Bolsa.
Para fins ilustrativos, vale a pena observar a tabela comparativa entre os dois,
reproduzida logo a seguir:
c) Opções
Regra geral para fins de apuração e pagamento do IR sobre ganhos líquidos com os
instrumentos de renda variável que apresentamos neste tópico, as perdas incorridas
poderão ser compensadas com os ganhos líquidos auferidos, no próprio mês ou nos
Destacamos, uma vez mais, que os contratos de swap, ainda que classificados como
de liquidação futura, não são tributados como instrumentos de renda variável. Ou seja,
a possibilidade de compensar prejuízos (com contratos de swap) com ganhos auferidos
em outras operações de renda variável não é aplicável a eles17.
5. Fundos de Investimento
Fundos de Investimento são condomínios constituídos com o objetivo de promover a
aplicação coletiva dos recursos de seus participantes. Constituem-se num mecanismo
organizado, com a finalidade de captar e investir recursos no mercado financeiro,
transformando-se numa forma coletiva de investimento, com vantagens, sobretudo,
para o pequeno investidor individual.18
ABERTOS FECHADOS
Fundos de Ações
Considerando o objetivo final deste estudo, que é a tributação dos mercados financeiro
e de capitais, cabe avaliar a classificação adotada para fins fiscais. Ainda que não haja
uma tabela tão clara de classes de fundos de investimento, a Receita Federal do Brasil
de alguma forma segregou essas estruturas em fundos que seguem a “Norma Geral”
e fundos que têm “Norma Própria”. São fundos com “Norma Própria” todos aqueles
listados no art. 2º da Instrução Normativa nº 1.585/15, a saber:
Para segregar os fundos em função do tempo em que os ativos objeto são mantidos
por eles, a legislação fiscal sugere a classificação em fundos de Curto Prazo e fundos
de Longo Prazo. São considerados fundos de Curto Prazo aqueles em que o
vencimento médio dos títulos investidos pelo fundo é de 365 dias. Nesses casos, a
tributação dos rendimentos auferidos pelo IR ocorrerá no resgate das cotas, a
alíquotas que variam entre 22,5% e 20%. Já quanto aos fundos de Longo Prazo,
pode-se dizer daqueles em que o vencimento médio dos títulos-investidor pelo fundo
é superior a 365 dias – nesses casos, a tributação pelo IT também ocorrerá nos
resgates, mas a alíquotas que variam entre 22,5% e 15%.
O que chama a atenção no caso dos fundos de investimento em renda fixa é que a
tributação não ocorre somente, mas também no resgate. Isso porque há uma
antecipação do IR devido que ocorre semestralmente (todo mês de maio e novembro),
conhecida pelo jargão de tributação “come-cotas”. A legislação19 prevê que haverá
incidência de IRRF no caso de investimentos em fundos de renda fixa, a alíquotas de
20% para fundos de Curto Prazo e 15% para fundos de Longo Prazo. Como o cotista
detém apenas cotas do fundo, e não necessariamente caixa ou equivalente de liquidez
imediata que possa fazer frente à cobrança do IRRF, cabe ao Administrador proceder
a um resgate parcial de cotas cujo valor agregado equivalha ao total de IRRF devido.
Desse modo, e considerando que os rendimentos gerados por esses fundos sofrem
tributação na fonte, caberá apenas um ajuste de IR a ser pago quando do resgate
das cotas. Sintetizando as regras do “come-cotas” com a tabela regressiva aplicada
aos investimentos em fundos de renda fixa, chegamos ao quadro apontado a seguir,
que acaba por resumir a tributação aplicável a esse tipo de investimento:
O FII é um fundo um tanto sui generis, na medida em que sua condição de entidade
“transparente” para fins fiscais só é válida se atendidos alguns requisitos; do contrário,
o FII deveria ser tributado como uma pessoa jurídica comum. Os requisitos para
garantir a transparência fiscal do FII são: (i) obrigação de distribuir 95% dos lucros; e
(ii) não ter no portifólio uma participação superior a 25% em empreendimento detido
por pessoa ligada.
A tributação pelo IRRF aplicável aos rendimentos oriundos desse tipo de investimento
é calculada à alíquota de 20%21, sendo certo que pessoas físicas farão jus à isenção
do IR se (i) as cotas do FII forem negociadas em bolsa, (ii) o FII tiver no mínimo 50
cotistas, e (iii) a pessoa física não detiver mais que 10% das cotas do FII.
6. CLUBES DE INVESTIMENTO
Os Clubes de Investimento lembram, em muitos aspectos, os FIAs. No caso dos clubes,
são formados condomínios (em regime aberto) de no mínimo 3 e no máximo 50
pessoas físicas, para investimento em títulos e valores mobiliários. Aqui já temos um
primeiro ponto relevante: essa estrutura é permitida unicamente para investidores
pessoas físicas, sendo certo que nenhum deles poderá ter mais de 40% do total de
cotas do Clube.
Tal qual o FIA, os Clubes de Investimento devem manter no mínimo 67% de seu
portifólio aplicado em ações, bônus de subscrição, debêntures conversíveis em ações
de emissão de companhias abertas, recibos de subscrição, cotas de fundos de índices
de ações negociados em mercado organizado e certificados de depósitos de ações.
Membros cotistas ou
Gestão da carteira Gestora
Gestora
No mínimo 67% em
Carteira No mínimo 67% em ações
ações
Número de
Mínimo 3 Entre 3 e 50
investidores
7. Previdência Complementar
Ao longo deste estudo, focamos nossa análise no entendimento do mercado financeiro
como gênero, avaliando suas espécies, de acordo com uma proposta didática para
melhor apreciação da abrangência do tema. Em todos os tópicos anteriores, avaliamos
a tributação de investimentos em determinados tipos de instrumentos financeiros,
cujo resultado esperado seriam ganhos/lucros.
As EAPCs são entidades com fins lucrativos, constituídas sob a forma de sociedade por
ações e que negociam planos de previdência complementar para qualquer pessoa
física. Os benefícios concedidos por esses planos podem vir na forma de renda
continuada ou de pagamento único. Tais entidades são reguladas pela
Superintendência de Seguros Privados (Susep).
As EFPCs, também conhecidas por fundos de pensão, são entidades sem fins
lucrativos, que instituem e operam planos voltados somente a determinado grupo de
empregados de uma empresa. As EFPCs podem ser constituídas sob a forma de
fundação, por exemplo. Tais entidades são reguladas pela Superintendência Nacional
de Previdência Complementar (Previc).
A regra geral para tributação desses produtos é prevista na Lei nº 11.053/04 e segue
a mesma lógica: IRRF à alíquota de 15%23, seguido de um potencial adicional cuja
alíquota será calculada com base na tabela progressiva do Imposto de Renda para
Pessoas Físicas (IRPF), que varia entre 7,5% e 27,5% em função dos montantes de
rendimentos brutos recebidos pela pessoa física em determinado ano.
Ressaltamos que o tema previdência complementar deve ser avaliado com atenção
específica, posto que aqui não tratamos diretamente de aplicações de renda fixa ou
variável, operações em Bolsa ou mercado de balcão organizado. Uma vez que a
essência do tema é outra – tendo foco em complementação de renda –, as análises