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6° Seminário de Inovação e Tecnologia do IFSul

Sixth Innovation and Technology Seminar IFSul


7 a 9 de Novembro / November 7th to 9th, 2017
Sapucaia do Sul RS Brasil ISSN 2446-7618

A UTILIZAÇÃO DO TETRAEDRO DOS MATERIAIS COMO


FERRAMENTA AUXILIAR NA VALORIZAÇÃO DOS
RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS E INDUSTRIAIS
Kappler, G.1
Silveira, T.A.2
Garbin, M.3
Moraes, C. A. M.4
Brehm, F. A. 5

1 Doutorando em Engenharia Civil, MEng. Genyr Kappler, UNISINOS, genyrk@edu.unisinos.br.


2 Mestranda em Engenharia Civil, Engenheira Ambiental, Tamires Augustin da Silveira, UNISINOS,
tamiresas@edu.unisinos.br.
3 Mestranda em Engenharia Civil, Gestora Ambiental, Marilise Garbin, UNISINOS,
mgarbin@edu.unisinos.br.
4 Prof. Dr. Eng. Metalúrgico, Carlos Alberto Mendes Moraes, UNISINOS, cmoraes@unisinos.br.
5 Profa. Dra. Química Feliciane Andrade Brehm, UNISINOS, felicianeb@unisinos.br.

Resumo
O presente trabalho tem como objetivo apresentar o uso do Tetraedro dos materiais
como ferramenta auxiliar na valorização dos resíduos sólidos urbanos e industriais.
O tetraedro é uma metodologia da ciência dos materiais que permite a visualização
dos principais influenciadores a serem avaliados no processamento de materiais. Ele
pode ser utilizado quando se tem por objetivo a valorização de resíduos como
coprodutos, em que é necessário considerar também o processamento, composição,
estrutura, propriedades e aplicação destes materiais. Os resíduos passam a ser
vistos como um problema quando não se percebe seu potencial valor,
comportamento este que acarreta danos indesejáveis ao meio ambiente. Isto é
expresso pelo baixo índice de reciclagem, em especial dos RSUs, que tem levado
ao descarte em aterros ou em locais impróprios volumes gigantescos de resíduos,
transformando materiais com potencial econômico e energético em passivo
ambiental. O resíduo sólido industrial, como as sucatas metálicas, por exemplo,
tende a ser um resíduo uniforme, o que facilita a segregação e caracterização,
facilitando seu uso como matéria-prima. No entanto, a complexidade de alguns
processos e produtos pode comprometer a qualidade dos resíduos para a
reciclagem. Alguns fatores que influenciam na qualidade são: a mistura de materiais
complexos na fabricação de um produto na indústria eletrônica, por exemplo, e a
enorme variedade de elementos químicos que podem estar aderidos ou dissolvidos
na sucata de metal. Constatou-se, com base no estudo realizado, que o tetraedro
dos materiais pode, não apenas servir como ferramenta auxiliar na valorização de
resíduos, mas também pode ser utilizado na fase de desenvolvimento ou melhoria
de produtos, visando um ciclo fechado dos materiais.
Palavras-chave: Tetraedro dos materiais; valorização de resíduos; resíduos sólidos
urbanos; resíduos sólidos industriais, Resíduos de Equipamentos Elétricos e
Eletrônicos.

THE USE OF THE TETRAHEDRON OF MATERIALS AS AN AUXILIARY TOOL


FOR URBAN AND INDUSTRIAL SOLID WASTES RECOVERY

Abstract
The present study aims to introduce the use of Tetrahedron of materials as an

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auxiliary tool for urban and industrial solid waste recovery. The tetrahedron is a
materials science's methodology which allows the visualization of the main
influencers to be evaluated in the processing of materials. It can be used when
aiming at the recovery of waste as co-products, in which it is also necessary to
consider the processing, composition, structure, properties and application of
these materials. This is expressed by the low recycling rate, especially of the
MSWs, which has led huge volumes of waste to the disposal in landfills or in
inappropriate places, transforming materials with economic and energy potential
into environmental liabilities. Industrial solid waste, such as metallic scrap, for
instance, tends to be a uniform residue, which facilitates segregation and
characterization, facilitating its use as raw material. However, the complexity of
some processes and products may compromise the quality of the waste for
recycling. Some factors influencing on quality are: the mixing of complex
materials at manufacturing a product in the electronics industry, for example,
and the huge variety of chemical elements that can be attached or dissolved in a
metal scrap. It was found, based on this study that the Tetrahedron of materials
can not only serve as a tool to assist in the recovery of waste, but it can also be
used in the development or improvement of products, aiming a closed loop of
materials.
Key words: Tetrahedron of materials; valorization of waste; municipal solid
waste; industrial solid waste; Electronic waste.

1. INTRODUÇÃO

Os crescimentos populacionais e econômicos associados à melhoria no


padrão de vida das pessoas impulsionaram o crescimento da produção industrial e
consequentemente a extração de recursos naturais, consumo de água e de energia,
aumentando a taxa de geração de resíduos (MINGHUA et al., 2009 e UDOMSRI,
2011). O modelo de produção e consumo adotado vem mostrando limitações quanto
a sua capacidade de sustentação devido, principalmente, a fatores como: limitações
da disponibilidade e finitude de recursos não renováveis; a complexidade das
estruturas dos elementos químicos, compósitos e ligas utilizados nos processos
industriais; a elevada geração de resíduos oriundos dos processos de produção e o
descarte de materiais pós-consumo (FAUCHEUX E NOËL, 1995). O suprimento de
água, energia e a gestão dos resíduos estão entre as questões mais relevantes para
o desenvolvimento sustentável. A gestão dos resíduos pode assumir um papel
central nesse tema. Enquanto que, por um lado o design e gestão adequados
podem minimizar o desperdício e o consumo, reduzindo a necessidade de
mineração, por outro lado o conhecimento de suas propriedades e uso de tecnologia
podem reduzir a contaminação da água e até mesmo gerar energia (NASCIMENTO,
2012).
Os resíduos são classificados conforme a fonte de geração em 3 grandes
grupos, como: resíduos sólidos urbanos RSU, resíduos sólidos industriais RSI e
resíduos especiais. Atualmente são gerados de 1,7 a 9 bilhões de toneladas
métricas de resíduos sólidos urbanos por ano (CHEN et al., 2016). Em 2015 foram
gerados no Brasil 79,9 milhões de toneladas de RSU. Destes, 42,6 milhões de
toneladas foram destinados a aterros sanitários, 30 milhões de toneladas foram
depositados em lixões ou aterros controlados, e os restantes 7,3 milhões de
toneladas não foram coletados (ABRELPE, 2016). De acordo com o relatório anual
do Ministério das Cidades (2017), o SNIS - Sistema Nacional de Informações sobre
Saneamento foram descartados, em média, como rejeitos no ano de 2014 no Brasil
97,8% dos recicláveis secos, frente à massa total coletada. Parte dos resíduos

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gerados apresentam componentes que representam risco à saúde. Estes resíduos


necessitam cuidados especiais e, portanto, são geridos de forma diferenciada. Neste
grupo se encontram os resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos (REEE),
que de acordo com o relatório divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o
Meio Ambiente - PNUMA são geradas anualmente 41 milhões de toneladas desse
tipo de resíduo. Destes, entre 60 a 90% ou são comercializados ilegalmente ou
descartados de forma irregular. Estima-se que até o final de 2017 sejam gerados no
mundo 50 milhões de toneladas (PNUMA, 2015). Segundo a Agência Brasileira de
Desenvolvimento Industrial ABDI, a previsão é que sejam gerados, somente no
Brasil e no ano de 2017, aproximadamente 1,37 milhões de toneladas de REEE
(ABDI, 2013). Ainda que o assunto esteja sendo discutido mundialmente, o Brasil
ainda não tem uma legislação específica que regulamente os REEE (SILVAS, 2014).
A capacidade de transformação dos materiais pela indústria atinge um alto
nível de sofisticação e controle, no entanto os processos produtivos e a concepção
dos produtos nem sempre estão fundamentados nos preceitos de maior eficácia
ambiental e econômica. Em geral as perdas, ou desperdícios, ocorrem por falhas de
processo ou planejamento, e uma das maneiras de se identifica-los é manter o
controle do processo, e para controlá-lo é necessário conhecê-lo (CAMPOS, 1999).
localizar o problema,
analisar o processo, padronizar e estabelecer itens de controle de tal forma que o
. Uma maneira de se evitar o desperdício e minimizar o
dano ambiental é por meio do planejamento e da adoção de tecnologias limpas. A
gestão de resíduos sólidos é uma tecnologia sustentável emergente no mundo
industrial moderno (GABBAR e ABOUGHALY, 2017), e está sujeita a normas legais
e diretrizes que sugerem as melhores práticas disponíveis, considerando todo o ciclo
de vida do material.
Com o propósito de minimizar o dano, diversas ferramentas avançadas de
gestão ambiental vêm sendo empregadas. Desde selos ambientais para produtos
orgânicos e normas de qualidade ambiental como a norma ISO 14.001, que são
facultativos, até exigências legais de licenciamento ambiental para permissão de
operação. No campo do gerenciamento dos resíduos sólidos foi criada, em 2010, a
Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei Federal 12.305, na tentativa de
enfrentar os principais desafios advindos do manejo inadequado dos resíduos
sólidos no Brasil. Recentemente a metodologia de Avaliação do Ciclo de Vida (ACV)
vem sendo adotada pelas indústrias para auxiliá-las na avaliação de seus
processos. De acordo com o IBICT Brasil (2017), a Avaliação do Ciclo de Vida trata-
se de uma técnica desenvolvida visando à avaliação dos impactos ambientais,
podendo ser utilizada para: desenvolvimento e melhoria do produto, definição de
planejamentos estratégicos, definição políticas de públicas, gestão de impactos
ambientais de produtos e serviços e marketing responsável.
Os conceitos de Ecologia e Simbiose Industrial também vêm sendo aplicados
nas indústrias. A ecologia industrial compreende a teoria e a prática para a
implementação efetiva do desenvolvimento sustentável. Nela se considera que o
sistema industrial não apenas interage com o meio ambiente, mas é parte
dependente dele, levando em consideração as necessidades econômicas humanas,
sociais e ambientais, que são os pilares do desenvolvimento sustentável, podendo
ser realizada em 3 âmbitos: Intraorganizacional, dentro da empresa,
Interorganizacional, entre empresas, regional e global (MONTANÕ, 2017). A
Simbiose Industrial pode ser definida como uma interação entre diferentes
indústrias, onde a soma dos benefícios coletivos é maior que a soma dos benefícios

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individuais. A simbiose pode envolver, além de outras indústrias, outros tipos de


setores, como centros de pesquisa, órgãos governamentais e universidades.
Normalmente, a ideia da interação entre indústrias envolve o compartilhamento e
reaproveitamento de materiais como resíduos, efluentes, energia e matérias primas.
(MONTANÕ, 2017).
Novos modelos de gestão de resíduos trazem propostas de ação focada na
economia circular (COM, 2015). A proposta sugere uma transição para um modelo
em que os materiais e recursos se mantenham no ciclo econômico pelo maior tempo
possível. A economia circular começa no início do ciclo de vida dos produtos. Tanto
a fase de projeto como os processos de produção impactam na extração de
recursos, no uso destes e na geração de resíduos ao longo do ciclo de vida dos
produtos.
Para um aproveitamento eficaz dos materiais e da energia neles contida se
faz necessário um profundo conhecimento das características dos materiais. O
tetraedro dos materiais é uma metodologia da engenharia dos materiais utilizada no
desenvolvimento de produtos e suas aplicações, na qual os vértices representam a
estrutura e a composição química do material, o processamento e as propriedades
do mesmo (ENGENHEIRO DOS MATERIAIS, 2017). A representação esquemática
do Tetraedro dos Materiais é apresentada na Figura 1. O tetraedro propõe 4 etapas
para caracterização dos resíduos: produto, composição, propriedades e
processamento.

Figura 1. Representação esquemática do Tetraedro dos Materiais


Fonte: Site-Engenheiro de Materiais, 2016.

Por meio deste trabalho foi proposto o uso do tetraedro dos materiais como
uma ferramenta auxiliar na tomada de decisão em relação às melhores práticas para
a valorização dos resíduos sólidos RSU, REEE e resíduos metálicos da indústria
automotiva.

2. MATERIAL E MÉTODOS

Neste tópico são apresentadas algumas formas de uso da metodologia do


tetraedro dos materiais como ferramenta auxiliar no gerenciamento de resíduos. São
avaliados resíduos oriundos de três fontes buscando sua maior valorização. A
estrutura do processo de avaliação está representada pelo esquema da Figura 2.

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Figura 2. Esquema que ilustra as fronteiras compreendidas pela ferramenta de avaliação


Fonte: Autores, 2017.

Para este trabalho se considerou como fronteiras do sistema as etapas do


ciclo de vida dos materiais compreendidos entre o design dos produtos e seus
respectivos processos de produção, até o descarte dos mesmos. Conforme ilustra o
esquema, a ferramenta apresenta dois ciclos distintos. Um dos ciclos inicia no
design, passa pelo tetraedro dos materiais, onde informações importantes são
obtidas visando à melhoria do desempenho ambiental e econômico dos materiais e
processos, retornando por fim informações importantes para tomada de decisão na
melhoria dos projetos. Já o segundo ciclo é dedicado ao gerenciamento dos
materiais. O segundo ciclo inicia na cadeia de produção e consumo, onde diversas
ferramentas de gestão da qualidade e ações comportamentais podem ser
implementadas. O ciclo segue através do tetraedro que, assim como no ciclo do
desenvolvimento, também auxilia na tomada de decisão sobre a melhor forma de
aproveitamento dos resíduos que, por fim, na etapa seguinte e sob orientação de
ferramentas como a ABNT 10004, se pode decidir pelo processo de recuperação de
materiais e energia mais adequados, permitindo seu retorno aos processos de
produção e consumo.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

3.1 Avaliações dos materiais por meio da ferramenta tetraedro dos materiais

3.1.1 Resíduo Sólido Urbano - RSU

Dentre todos os tipos de resíduos gerados, o RSU parece ter como


característica peculiar e marcante uma composição heterogênea (SCHALCH et al.,
2002), uma vez que os demais (resíduos sólidos industriais e resíduos sólidos
especiais) geralmente são gerados a partir de processos controlados, não
apresentando grandes variações em suas características. Os RSU são divididos
conforme geradores em domiciliares, serviço de saúde, construção civil, portos e
aeroportos, poda, varrição e outros (CABRAL, 20??).

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Segregar os resíduos de maneira planejada é um elemento chave para o


sucesso de qualquer política de gestão de resíduos. O esquema da Figura 3
representa a hierarquia de resíduos, e a Norma da ABNT-10.004/2004 estabelece os
critérios para sua classificação. Por meio da metodologia do tetraedro pode-se
caracterizar os resíduos e repassar as informações para empresas de design, que
podem melhorar seu desempenho, corrigir processos para reduzir perdas e
aumentar seu aproveitamento. Já os resíduos que não apresentam condições
técnicas ou econômicas para seu reaproveitamento na cadeia como materiais,
podem ter a energia contida em sua massa convertida em eletricidade ou energia
térmica. Estes resíduos passam a ser denominados combustíveis derivados de
resíduos ou refuse derived fuel RDF. Dependendo da tecnologia empregada, as
cinzas resultantes do processo de conversão térmica podem ser encaminhadas a
aterros, ou ainda serem transformadas em materiais inertes, servindo como
agregado na construção civil, por exemplo.

Figura 3. Hierarquia de resíduos


Fonte: Adaptado de EPA, 2001

A recuperação da energia contida na massa dos resíduos pode ser avaliada


em três estágios por meio do tetraedro dos materiais. O esquema mostrado na
Figura 4 mostra estes estágios. No primeiro estágio o RDF é caracterizado, onde
nesta etapa os resíduos passam por processos como triagem, seleção gravimétrica,
seleção magnética, determinação de densidade média, avaliação de poder calorífico
inferior, composição, trituração, secagem, compactação, dentre outros. É aqui que
se seleciona e transforma os resíduos em combustível para alimentar um reator. No
segundo estágio, o reator térmico, o tetraedro avalia as variáveis que envolvem o
processo para uma conversão energética eficaz. Já no terceiro estágio são
avaliados a energia, as emissões e sólidos gerados pelo processo, por meio de
indicadores visando garantir as condições operacionais e ambientais do processo.

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Figura 4. Tetraedro do tratamento térmico de RDF


Fonte: Autores, 2017

3.1.2 Resíduos de Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEE)

Pertencendo ao grupo dos resíduos sólidos especiais, estão os Resíduos de


Equipamentos Elétricos e Eletrônicos (REEE), que em geral são resíduos de pós-
consumo, incluindo todos os componentes, subconjuntos e materiais consumíveis
que fazem parte do produto no momento em que este é descartado (EUROPEAN
COMISSION, 2003).
No que tange a valorização dos eletroeletrônicos pós-consumo, existem
alguns processos que podem recuperar numerosos componentes, como cobre e
metais preciosos (COBBING, 2008). Na literatura são encontradas diversas
tecnologias para a reciclagem e recuperação de materiais de REEE, nas quais se
inserem processos químicos, térmicos e mecânicos. Os quatro principais processos,
de acordo com Veit (2001), são: pirometalurgia, hidrometalurgia, eletrometalurgia e
processamento mecânico.
Embora os processos de reciclagem e recuperação de placas de circuito
impresso sejam uma alternativa à minimização dos impactos que os REEE podem
causar, eles também apresentam algumas desvantagens, que podem ser
ambientais, tecnológicas e/ou econômicas.
Com relação ao processo de hidrometalurgia, por exemplo, para Veit (2005),
as principais desvantagens desse processo são a geração de grande quantidade de
soluções e efluentes líquidos que são corrosivos e tóxicos, enquanto na
pirometalurgia os principais impactos ambientais associados ao processo são as
emissões gasosas.
O Quadro 1 mostra um comparativo das principais vantagens e desvantagens
das tecnologias de hidrometalurgia e pirometalurgia.

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Tecnologia Principais desvantagens Principais vantagens


-Liberação de dioxinas e furanos oriundos
de polímeros e outros materiais
-Materiais cerâmicos e vidros do material
-Aplicável a qualquer tipo de
geram o aumento da quantidade de
sucata eletrônica
escória gerada
Pirometalurgia -Não requer um pré-
-Recuperação de metais pode não ocorrer
tratamento
devido à volatilização dos cloretos
-Tem poucas etapas
-A recuperação de alumínio e zinco é
praticamente impossível, a de estanho e
chumbo é baixa
-Não emite gases que
-Geração de grande quantidade de causam poluição
Hidrometalurgia soluções e efluentes líquidos corrosivos e -Maior facilidade na
tóxicos separação dos
componentes
Quadro 1. Principais desvantagens e vantagens dos processos de pirometalurgia e hidrometalurgia
Fonte: Elaborado pela autora (2017) baseado em Kasper (2011), Veit (2005), Oliveira (2012).

Baseando-se na estrutura do tetraedro dos materiais, a metodologia foi adaptada


a fim de valorizar os resíduos de equipamentos eletroeletrônicos, conforme
apresentado na figura 5.

Figura 5. Tetraedro dos materiais adaptado para valorização dos resíduos eletroeletrônicos
Fonte: Os autores, 2017.

Conforme observa-se nos vértices do tetraedro, a matéria-prima utilizada na


produção das PCI são os metais, petróleo e argila Os processos analisados em
questão foram a pirometalurgia e hidrometalurgia, processos esses que também
geram resíduos, como emissões gasosas e efluentes líquidos.

3.1.3 Resíduos metálicos da indústria

A sucata industrial tende a ser um resíduo limpo, no entanto, determinados


processos podem comprometer a qualidade deste resíduo para reciclagem. Alguns
fatores que influenciam na qualidade são: a mistura dos materiais no momento da
geração e a quantidade de óleos ou graxas que podem estar aderidos à sucata
industrial. Para que se tenham bons resultados na valorização destes materiais junto

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às outras empresas é necessário que eles estejam separados por tipo de material e
o mais limpo possível. Sendo assim, uma etapa fundamental do processo é a
separação dos diferentes tipos de materiais na fonte geradora. Conhecer os
processos industriais utilizados pela organização estudada é de grande importância
quando se tem como objetivo a valorização dos resíduos.
Com base na estrutura clássica do tetraedro dos materiais adaptou-se a
metodologia visando o correto uso das ferramentas de gestão ambiental (ACV, P+L,
Simbiose Industrial, etc.) e, consequentemente, à valorização dos resíduos
metálicos na indústria. Esse desmembramento do processo industrial auxilia na
visualização das perdas (econômicas e ambientais), facilitando a implementação de
melhorias ao longo de todo o processo. Na Figura 6 é apresentado o tetraedro dos
materiais adaptado para valorização dos resíduos metálicos. Onde nos vértices têm-
se:
A matéria-prima utilizada na indústria: tipos de aço utilizados na indústria, a
composição química, as reações entre os materiais e qual a utilização do
material avaliado.
Os processos industriais utilizados: usinagem, conformação e tratamento
térmico.
Os resíduos gerados nas atividades industriais: tipo de resíduo gerado, se ele
é um material limpo ou se está contaminado com outros materiais que
dificultem ou impeçam a valorização dele em outras indústrias, as misturas de
materiais são importantes de serem avaliadas.

Figura 6. Tetraedro dos materiais adaptado para valorização dos resíduos metálicos da indústria
Fonte: Os autores, 2017.

4. CONCLUSÃO

Neste trabalho avaliou-se o uso da metodologia do tetraedro dos materiais


como uma ferramenta auxiliar na tomada de decisão em relação às melhores
práticas para a valorização dos resíduos sólidos urbanos, resíduos eletroeletrônicos
e resíduos metálicos da indústria automotiva. Algumas ferramentas avançadas de
gestão ambiental podem e devem ser utilizadas visando à valorização dos resíduos.
O uso do tetraedro auxilia na identificação de qual ferramenta é mais adequada de
acordo com cada atividade ou resíduo.

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O uso energético de RDF já é realidade em diversos países. Porém, a


heterogeneidade, a variabilidade e aspectos culturais regionais deste recurso impõe
a necessidade do uso de ferramentas de gestão e caracterização para possibilitar
seu uso de maneira sustentável. Na visão de uma economia circular, onde não
existe geração de resíduos, mas o aproveitamento de todo seu potencial, a literatura
sugere processos como a gaseificação com tocha de plasma. Neste processo são
gerados gases combustíveis com múltiplos usos e toda cinza é transformada em
massa vítrea com uso comercial, tendo ainda emissões abaixo do mínimo exigido
pelas mais rigorosas legislações no mundo.
Quanto aos REEE, com base na avaliação realizada, constatou-se que as
principais características das placas de circuito impresso que influenciam na
recuperação de metais pelo processo de lixiviação são a granulometria do material
(quanto menor, mais rápido e mais eficaz o processo) e a área superficial (quanto
maior a área superficial, menor as resistências e maior eficiência na recuperação de
metais). Com relação ao processo de pirometalurgia, não foram encontrados na
literatura trabalhos que façam relação das características das PCI com esse
processo, embora se acredite que a granulometria e área superficial possam ser
fatores influenciadores. Ambos os processos apresentam vantagens e desvantagens
ambientais, econômicas e técnicas. Devem continuar sendo realizados estudos a fim
de aprimorar esses processos.
Com relação aos resíduos metálicos da indústria, o uso do tetraedro dos
materiais na indústria auxilia na correta aplicação das ferramentas ambientais, tendo
em vista que a ACV, a P+L e a Simbiose Industrial necessitam de um profundo
entendimento do processo industrial avaliado, das matérias-primas consumidas e
dos resíduos gerados ao longo do processo industrial. A implementação de
melhorias no sistema de produção acarreta em uma melhor qualidade do resíduo
gerado, tendo um material limpo, sem misturas, facilitando a valorização deste como
matéria-prima em outro processo industrial, além de auxiliar na diminuição de perdas
e insumos (matéria primas, energia, água, dentre outros), possibilitando atingir
ganhos ambientais e econômicos.

Agradecimentos
Os autores agradecem a CAPES e a FAPERGS pelas bolsas de doutorado e
mestrado, e ao CnPq pelas bolsa de produtividade DT.

REFERÊNCIAS

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6° Seminário de Inovação e Tecnologia do IFSul
Sixth Innovation and Technology Seminar IFSul
7 a 9 de Novembro / November 7th to 9th, 2017
Sapucaia do Sul RS Brasil ISSN 2446-7618

16 Engenheiro de materiais (2016). Disponível em: <http://engenheirodemateriais.c


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18 CABRAL, E. Considerações sobre resíduos sólidos. Disponível em:


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19 EPA. The waste hierarchy. Disponível em:


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22 VEIT, H.M. Emprego de Processamento Mecânico na Reciclagem de Sucatas


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2001.

23 VEIT, H.M. Reciclagem de Cobre de Sucatas de Placas de Circuito Impresso.


Tese (doutorado). Porto Alegre: UFRGS, 2005.

24 KASPER, A.C. Caracterização e Reciclagem de Materiais Presentes em


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UFRGS, 2011.

25 OLIVEIRA, P.C.F. Valorização de Placas de Circuito Impresso por


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Lisboa, 2012.

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