A FILOSOFIA OCULTA
QUESTIONÁRIO
algo através da comparação com algo conhecido. qual o caminho para a descoberta da verdade? Qual é o
Portanto, sabe que a FÉ é o assentimento da Alma a algo instrumento que libertou o cativo da “caverna”?!
ainda desconhecido (e incompreendido) da mente. Isto é o
pressentimento (pré-sentimento). Este caminho, que existe desde a queda do
homem, chama-se INICIAÇÃO e é um processo auto-
A Filosofia Oculta busca a verdade oculta, conhecimento e evolução, transmitido de geração em
aquela que está em um mundo acima dos sentidos e, geração através dos tempos, revestindo-se das roupagens
portanto inapreensível pelos sentidos. Busca não uma inerentes a cada época, mas conservando intocável o seu
verdade, mas A VERDADE. cerne, o seu princípio.
Como vimos no “mito da caverna” a tendência perguntas incansáveis, Sócrates os levava a concluir que
natural do ser humano é a inércia e a fuga do na verdade não sabiam o que realmente significava a
sofrimento. O ser humano não gosta de sofrer, e é até coragem. Aos atenienses que acreditavam também que
capaz de mentir para si mesmo para fugir da dor. sabiam o que era a bondade, a beleza, a verdade, após
diálogo com Sócrates, este os fazia perceber que não
O dito popular, carregado de sabedoria, sabiam o que era aquilo em que acreditavam.
imortalizou essa “fuga” da dor ao dizer que “a verdade
dói!” e se dói é melhor nos contentar-mos com as Quando Sócrates perguntava “O que é?” ele
aparências, mesmo que mentirosas, e evitar a dor estava questionando sobre a realidade essencial e
inerente a busca. Ou seja, como no “mito da Caverna” profunda de uma coisa para além das aparências e
evitar a dor da subida e da luz do Sol que fere os olhos contra as aparências. Ou seja, não a verdade de cada
desacostumados a claridade. um, mas a verdade pura sem a carga de conceitos e
preconceitos da cultura vigente. Com essa pergunta,
Essa “fuga da dor” é tão forte no homem comum Sócrates levava os atenienses a descobrir a diferença
que se chega aos extremos de espancar e até matar entre parecer e ser, entre mera crença ou opinião e
aquele que configura o “perigo”, aquele disseminador de verdade.
idéias “revolucionárias” (re-evolução, evoluir de novo),
como no caso do próprio Sócrates. Sócrates, que era filho de uma parteira, dizia que
sua mãe ajudava o nascimento dos corpos e que ele
Como dizem os filósofos “a defesa da também se considerava um parteiro, mas não de corpos e
ignorância é negar a priori”, ou seja nem pensar sobre sim um parteiro de almas. Assim como sua mãe lidava
isso! com a matrix corporal, ele lidava com a matrix mental,
auxiliando as mentes a libertar-se das aparências e buscar
Quem ainda não se deparou com a situação de a verdade.
tentar explicar algo para alguém e o mesmo responder
“isso é bobagem!”, negando-se sequer a pensar sobre o Preocupado com a verdade, ele também foi
assunto? È que seu subconsciente detectou a consultar o oráculo de Delfos para saber quem era o
possibilidade de tal conhecimento “balançar” o “seu homem mais sábio do mundo, ao qual ele teria a intenção
mundo” abalar os alicerces sobre os quais estão de buscar conhecer e aprender com o mesmo. O oráculo
assentados as suas idéias, suas crenças. E apenas esta respondeu-lhe que este homem era Sócrates, pois era o
suposição já causa enorme dor! único que havia percebido a profundidade da ignorância
humana cujo conhecimento é baseado apenas nos
Se portanto aceitamos a hipótese de que a sentidos. Pois Sócrates apregoava que a única coisa
realidade não é formada apenas daquilo que vemos ou que sabia é que na verdade nada sabia. A ele foi
sentimos ou, acreditamos que “há mais coisas entre o céu atribuída a máxima SÓ SEI QUE NADA SEI!
e a terra do que sonha a nossa vâ filosofia (acadêmica)”,
4 A Filosofia Oculta A Filosofia Oculta 13
fundo da parede da caverna, um filme que está sendo Exercendo nossa liberdade
projetado numa tela.) Quando dizemos que uma casa é mais bonita do
Qual é, pois, a situação dessas pessoas que a outra ou que “A” está mais jovem do que “B”,
acreditamos que as coisas, as pessoas, as situações, os
aprisionadas? Tomam sombras por realidade, tanto as
fatos podem ser comparados e avaliados, julgados por
sombras das coisas e dos homens exteriores como as
sua qualidade (bonito, feio, bom, ruim, jovem, velho,
sombras dos artefatos fabricados por eles. “Criam” um
engraçado, triste, limpo, sujo) ou por sua quantidade
mundo segundo a interpretação pessoal daquilo que
vêem. E apegam-se a essa “realidade” tomando-a como a (muito, pouco, mais, menos, maior, menor, grande,
sua verdade.Essa confusão, essa interpretação errônea, pequeno, largo, estreito, comprido, curto). Julgamos,
porém, não tem como causa a natureza dos prisioneiros e assim, que as qualidades e as quantidades existem, e que
podemos conhecê-las e usá-las em nossa vida.
sim as condições adversas em que se encontram, que faz
com que os seus “sentidos”, que balizam o seu Se dissermos, por exemplo, que o Sol é maior do
conhecimento, sejam limitados. Que aconteceria se que o vemos, estamos acreditando que nossa percepção
fossem libertados dessa condição de miséria? alcança as coisas de modos diferentes, às vezes tais
Um dos prisioneiros, inconformado com a como são em si mesmas (a folha deste livro, bem à nossa
frente, é percebida como branca e, de fato, ela o é), outras
condição em que se encontra, toma coragem e decide
lutar para superá-la. Fabrica um instrumento com o qual vezes tais como nos parecem (o Sol, de fato, é maior do
que o disco dourado que vemos ao longe), dependendo
quebra os grilhões. De início, move a cabeça, depois o
da distância, de nossas condições de visibilidade ou da
corpo todo; e vai descobrindo uma outra realidade; a
localização e do movimento dos objetos. Por isso
seguir, avança na direção do muro e o escala.
Enfrentando com persistência as dores causadas pelos acreditamos que nossa visão pode ver as coisas
diferentemente do que elas são, mas nem por isso
obstáculos de um caminho íngreme, difícil e
diremos que estamos sonhando ou que ficamos malucos.
desconhecido, sai da caverna.
Na briga, quando alguém chama o outro de
No primeiro instante, fica totalmente cego pela
luminosidade do Sol, com a qual seus olhos não estão mentiroso porque não estaria dizendo os fatos
exatamente como aconteceram, está presente a nossa
acostumados. Enche-se de dor por causa dos
crença de que há diferença entre verdade e mentira. A
movimentos que seu corpo realiza pela primeira vez e
primeira diz as coisas tais como são, enquanto a segunda
pelo ofuscamento de seus olhos sob a luz externa, muito
faz exatamente o contrário, distorcendo a realidade.
mais forte do que o fraco brilho do fogo que havia no
interior da caverna. No entanto, consideramos a mentira diferente do
sonho, da loucura e do erro, porque o sonhador, o louco e
Sente-se dividido entre a incredulidade e o
o que erra se iludem involuntariamente, enquanto o
deslumbramento. Incredulidade porque será obrigado a
10 A Filosofia Oculta A Filosofia Oculta 7
Numa disputa, quando os ânimos estão decidir onde se encontra a realidade: no que vê agora ou
exaltados, um dos contendores pode gritar ao outro: nas sombras em que sempre viveu.
“Mentiroso! Eu estava lá e não foi isso o que aconteceu”, e
alguém, querendo acalmar a briga, pode dizer: “Vamos Deslumbramento (literalmente: ferido pela luz)
pôr a cabeça no lugar, cada um seja bem objetivo e diga o porque seus olhos não conseguem ver com nitidez as
que viu, porque assim todos poderão se entender”. coisas iluminadas, ofuscados pela claridade. Seu primeiro
impulso é o de retornar à caverna para livrar-se da dor, do
Também é comum ouvirmos os pais e amigos espanto e da incerteza causada pelo “desmoronamento”
dizerem que quando o assunto é o namorado ou a de seu mundo conhecido, atraído pela escuridão, que por
namorada não somos capazes de ver as coisas como ser conhecida, lhe parece mais acolhedora. Além disso,
elas são, que vemos o que ninguém vê e não vemos o precisa aprender a ver e esse aprendizado é doloroso,
que todo mundo está vendo. Dizem, nesse caso, que fazendo-o desejar a caverna onde tudo lhe é familiar e
somos “muito subjetivos”. Ou, como diz o ditado, que conhecido.
“quem ama o feio, bonito lhe parece”.
Sentindo-se atraído pelo conhecimento de uma
Porque “crenças”? Porque são coisas ou idéias realidade mais verdadeira, decide, com coragem enfrentar
em que acreditamos sem questionar, que aceitamos este doloroso processo e permanece no exterior. Aos
porque são óbvias, evidentes. Afinal, quem não sabe que poucos, com paciência e persistência, habitua-se à luz e
ontem é diferente de amanhã, que o dia tem horas e que começa o aprendizado de ver o mundo. Encanta-se, tem a
elas passam sem cessar? felicidade de finalmente ver as próprias coisas,
descobrindo que estivera prisioneiro a vida toda e que em
Quando digo “Ele está sonhando” para me referir sua prisão vira apenas sombras. Doravante, desejará ficar
a alguém que está acordado e diz ou pensa alguma coisa longe da caverna para sempre e lutará com todas as suas
que julgo impossível ou improvável, tenho igualmente forças para jamais regressar a ela. No entanto, levado
muitas crenças silenciosas: acredito que sonhar é pelo sentimento de fraternidade para com seus irmãos,
diferente de estar acordado, que, no sonho, o impossível e não pode evitar lastimar a sorte dos outros prisioneiros e,
o improvável se apresentam como possível e provável, e por fim, toma a difícil decisão de regressar ao subterrâneo
também que o sonho se relaciona com o irreal, enquanto sombrio para contar aos demais o que viu e convencê-los
a vigília se relaciona com o que existe realmente. Acredito, a se libertarem também para conhecerem a verdade.
portanto, que a realidade existe fora de mim, que posso
percebê-la e conhecê-la tal como é, e por isso creio que Que lhe acontece nesse retorno? Os demais
sei diferenciar realidade de ilusão. prisioneiros zombam dele, não acreditam em suas
palavras pois tal realidade lhes parece inadmissível pois
não abrem mão de “seu mundinho” e, se não conseguem
silenciá-lo com suas caçoadas e exclusão social, tentam
8 A Filosofia Oculta A Filosofia Oculta 9
fazê-lo espancando-o. Se mesmo assim ele teima em O que é a luz do Sol? É a luz da verdade, é a
afirmar o que viu e os convida a sair da caverna, luz do conhecimento que vem iluminar as consciências
certamente acabam por matá-lo, no intuito de defender a mostrando-lhes o que é certo e o que é errado, não
integridade de “suas realidades” conhecidas. O baseado em conceitos apregoados pelo mundo dos
conhecimento da verdade é perigoso pois traz em si sentidos e da matéria, mas pelos Arquétipos que existem
muitas responsabilidades e, a grande maioria não está no mundo das causas, ou seja residem na liberdade
preparada para assumi-las. Mas, quem sabe, alguns existente no exterior da caverna.
podem ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também
decidir sair da caverna rumo à realidade? Se isso O que é o mundo iluminado pelo sol da
acontecer com mais um apenas que seja, já terá valido a verdade? A realidade. Aquela que está acima do mundo
pena o sacrifício. dos sentidos. Aquela que necessita, para ser vista e
compreendida, de um sentido superior, ou seja, olhos
O que é a caverna? Ela simboliza o mundo de acostumados a LUZ.
aparências em que vivemos, o qual acreditamos ser a
realidade e a “nossa verdade”, a qual defendemos com Qual o instrumento que liberta o prisioneiro
unhas e dentes. rebelde e com o qual ele deseja libertar os outros
Que são as sombras projetadas no fundo? São prisioneiros? A Filosofia oculta, aquela que através de
as coisas como as percebemos. um método seguro, eficientemente comprovado através
daqueles que já se libertaram, seja capaz de levar o
Que são os grilhões e as correntes? Nossos homem a Ter contato com esta outra realidade e adquirir o
preconceitos e opiniões, nossas crenças de que o que conhecimento que liberta a alma. Este caminho, indicado
estamos percebendo é a realidade, arraigadas em nós pelas estrelas, se chama Tradição.
através da sociedade da qual fazemos parte e que, desde
o nascimento, nos ensina no que devemos acreditar e o
que devemos refutar sem qualquer análise. Nossas crenças costumeiras
Em nossa vida cotidiana, afirmamos, negamos,
Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da desejamos, aceitamos ou recusamos coisas, pessoas e
caverna? É o “filósofo” oculto. Aquele que não se situações. Isto tudo forma a nossa opinião baseada em
contenta com as respostas dadas pelo mundo da nosso julgamento daquilo que é a “nossa verdade”.
aparência e busca a verdadeira essência das coisas.
Estamos tão convictos dessa realidade, dessa nossa
Aquele que, como Sócrates ou as crianças, insiste em
opinião, que geralmente tentamos impingi-la aos outros,
saber “mas porque?”. Que não aceita as idéias e
defendendo-a de todas as formas, às vezes nem tão
conceitos pré-determinados pela sociedade e segue o seu
pacíficas!
coração em busca da LUZ.