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16 A Filosofia Oculta

A FILOSOFIA OCULTA
QUESTIONÁRIO

ATENÇÃO: Você sabe o que é FILOSOFIA? Filosofia,


apesar de hoje ser academicamente considerada apenas
Ö as respostas devem ser redigidas segundo a sua uma das ciências, na antigüidade era considerada como
própria concepção; “A Ciência”, mãe de todas as ciências que foram
Ö você deve fundamentar suas respostas, mas não desmembradas de seu seio.
precisa se alongar em demasia;
Ö ao final da folha de respostas deve constar a data e O termo filósofo em grego quer dizer “amigo da
sua assinatura. sabedoria”, ou seja aquele que ama a verdade e faz de
sua vida a busca incessante da mesma.
1- Você acha válida a afirmação de que existe
culpa no ato errado, mesmo que executado por Mas qual Verdade? Evidentemente que não a
ignorância? Sim ou Não, por quê? “verdade de cada um” mas A VERDADE, aquela que deve
2- Na sua concepção aquele que conheceu a ser contemplada sem vícios e sem deslumbramento,
LUZ deve voltar para tentar salvar seus irmãos, mesmo aquela que afasta qualquer nódoa de preconceito, aquela
correndo risco? Por quê? Verdade que é “a luz e a vida” e que não pode ser
3 – Na sua opinião o que é a LIBERDADE? conceituada e nem descrita, apenas SENTIDA.

.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-.- Infelizmente em nossos dias, a FILOSOFIA foi


separada em duas: a Filosofia acadêmica e a Filosofia
1. Qual o assunto, no tema abordado, que lhe Oculta.
suscitou maiores dúvidas? Por quê?
A Filosofia Acadêmica não aceita a FÉ como
2. Qual o assunto, no tema abordado, que mais
uma premissa de seus estudos, busca através do puro
lhe impressionou? Por quê?
cientificismo, do estudo da história e da moral da
3. Se lhe fosse facultado fazer alguma pergunta,
humanidade encontrar a Verdade. Reduz a busca a mente
sobre o tema, o que gostaria de perguntar?
e ao conhecido e aceito como inconteste.

A Filosofia Oculta sabe que todos os fatos estão


presos à causas e estas são expressões de Princípios
Imutáveis no Tempo e no Espaço. Sabe ainda que a
nossa mente apenas pode abarcar e compreender aquilo
que se encontra a seu alcance. Só pode compreender
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algo através da comparação com algo conhecido. qual o caminho para a descoberta da verdade? Qual é o
Portanto, sabe que a FÉ é o assentimento da Alma a algo instrumento que libertou o cativo da “caverna”?!
ainda desconhecido (e incompreendido) da mente. Isto é o
pressentimento (pré-sentimento). Este caminho, que existe desde a queda do
homem, chama-se INICIAÇÃO e é um processo auto-
A Filosofia Oculta busca a verdade oculta, conhecimento e evolução, transmitido de geração em
aquela que está em um mundo acima dos sentidos e, geração através dos tempos, revestindo-se das roupagens
portanto inapreensível pelos sentidos. Busca não uma inerentes a cada época, mas conservando intocável o seu
verdade, mas A VERDADE. cerne, o seu princípio.

Entretanto as duas são inseparáveis como alma A Iniciação proporciona os instrumentos e os


e corpo. O acadêmico estuda uma e pressente a outra, o métodos necessários para que o homem possa libertar-se
Filósofo oculto estuda a oculta e dessa forma conhece as do “jugo das crenças” e tomar as suas decisões iluminado
duas. pelo “sol da verdade”, não pelas “sombras da caverna”.

Sócrates, que dispensa apresentações, é tido


como um dos maiores filósofos de todos os tempos, é
considerado o “patrono da Filosofia”, porque jamais se Livro recomendado como leitura adicional :
contentava com as opiniões gerais estabelecidas, com os FERNÃO CAPELO GAIVOTA – Richard Bach
preconceitos de sua sociedade, com as crenças
inquestionadas de seus conterrâneos. Ele buscava
sempre saber “o porque” das coisas. Ele costumava dizer
que era impelido por um espírito interior que o levava a
desconfiar das aparências e procurar a realidade
verdadeira de todas as coisas.

Sócrates costumava andar pelas ruas de Atenas


fazendo aos atenienses algumas perguntas do tipo: “O
que é isso em que você acredita?”, “O que é isso que
você está dizendo?”, “O que é isso que você está
fazendo?”. Aos atenienses que acreditavam, por exemplo,
que sabiam o que era a justiça. Sócrates lhes fazia
perguntas de tal maneira sobre a justiça que,
embaraçados e confusos, chegavam à conclusão de que
não sabiam o que ela significava. A aqueles que
acreditavam saber o que era a coragem, com suas
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Como vimos no “mito da caverna” a tendência perguntas incansáveis, Sócrates os levava a concluir que
natural do ser humano é a inércia e a fuga do na verdade não sabiam o que realmente significava a
sofrimento. O ser humano não gosta de sofrer, e é até coragem. Aos atenienses que acreditavam também que
capaz de mentir para si mesmo para fugir da dor. sabiam o que era a bondade, a beleza, a verdade, após
diálogo com Sócrates, este os fazia perceber que não
O dito popular, carregado de sabedoria, sabiam o que era aquilo em que acreditavam.
imortalizou essa “fuga” da dor ao dizer que “a verdade
dói!” e se dói é melhor nos contentar-mos com as Quando Sócrates perguntava “O que é?” ele
aparências, mesmo que mentirosas, e evitar a dor estava questionando sobre a realidade essencial e
inerente a busca. Ou seja, como no “mito da Caverna” profunda de uma coisa para além das aparências e
evitar a dor da subida e da luz do Sol que fere os olhos contra as aparências. Ou seja, não a verdade de cada
desacostumados a claridade. um, mas a verdade pura sem a carga de conceitos e
preconceitos da cultura vigente. Com essa pergunta,
Essa “fuga da dor” é tão forte no homem comum Sócrates levava os atenienses a descobrir a diferença
que se chega aos extremos de espancar e até matar entre parecer e ser, entre mera crença ou opinião e
aquele que configura o “perigo”, aquele disseminador de verdade.
idéias “revolucionárias” (re-evolução, evoluir de novo),
como no caso do próprio Sócrates. Sócrates, que era filho de uma parteira, dizia que
sua mãe ajudava o nascimento dos corpos e que ele
Como dizem os filósofos “a defesa da também se considerava um parteiro, mas não de corpos e
ignorância é negar a priori”, ou seja nem pensar sobre sim um parteiro de almas. Assim como sua mãe lidava
isso! com a matrix corporal, ele lidava com a matrix mental,
auxiliando as mentes a libertar-se das aparências e buscar
Quem ainda não se deparou com a situação de a verdade.
tentar explicar algo para alguém e o mesmo responder
“isso é bobagem!”, negando-se sequer a pensar sobre o Preocupado com a verdade, ele também foi
assunto? È que seu subconsciente detectou a consultar o oráculo de Delfos para saber quem era o
possibilidade de tal conhecimento “balançar” o “seu homem mais sábio do mundo, ao qual ele teria a intenção
mundo” abalar os alicerces sobre os quais estão de buscar conhecer e aprender com o mesmo. O oráculo
assentados as suas idéias, suas crenças. E apenas esta respondeu-lhe que este homem era Sócrates, pois era o
suposição já causa enorme dor! único que havia percebido a profundidade da ignorância
humana cujo conhecimento é baseado apenas nos
Se portanto aceitamos a hipótese de que a sentidos. Pois Sócrates apregoava que a única coisa
realidade não é formada apenas daquilo que vemos ou que sabia é que na verdade nada sabia. A ele foi
sentimos ou, acreditamos que “há mais coisas entre o céu atribuída a máxima SÓ SEI QUE NADA SEI!
e a terra do que sonha a nossa vâ filosofia (acadêmica)”,
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Sócrates foi condenado à morte em um Conhecendo as coisas


memorável processo, acusado de espalhar dúvidas sobre Na briga, quando uma terceira pessoa pede às
as idéias e os valores atenienses, “corrompendo” a outras duas para que digam o que realmente viram ou que
juventude. sejam “objetivas”, ou quando falamos dos namorados
como incapazes de ver as coisas como são ou como
A Ignorância tem horror à verdade, ela não gosta
sendo “muito subjetivos”, também temos várias crenças
de ser exposta à luz.
silenciosas. De fato, acreditamos que quando alguém quer
Não devemos nos surpreender com isto. Esta defender muito intensamente um ponto de vista, uma
reação é perfeitamente compreensível, pois nós mesmos preferência, uma opinião e é até capaz de brigar por isso,
não nos enfurecemos (a ponto de chegar a bater) com as pode “perder a objetividade” e deixar-se guiar apenas
crianças quando as mesmas insistem e querer saber pelos seus sentimentos e não pela realidade. Da
“mas porque?” e nós, do alto de nossa “augusta e mesma maneira, acreditamos que os apaixonados se
incontestável sapiência” apenas sabemos responder tornam incapazes de ver as coisas como são, de ter uma
“porque sim!”. Nós nos enfurecemos com o fato delas “atitude objetiva”, e que sua paixão os faz ficar “muito
serem curiosas ou com o fato delas fazerem nós nos subjetivos”.
aperceber que não sabemos a essência das coisas!
Em que acreditamos, então? Acreditamos que
Qual o ser humano que não se enfurece quando ter objetividade é ter uma atitude imparcial que percebe e
vê expostos à publicidade os seus mais escondidos compreende as coisas tais como são verdadeiramente,
defeitos? enquanto a subjetividade é uma atitude parcial, pessoal,
ditada por sentimentos variados (amor, ódio, medo,
Todos estes questionamentos são ilustrados desejo).
com profunda maestria, em uma passagem escrita por um
filósofo digno do título, discípulo maior de Sócrates, o A verdade de cada um é feita pelas crenças,
filósofo Platão. Essa passagem encontra-se numa obra sentimentos, vícios ou interesses que quase sempre
intitulada A República e chama-se “O mito da caverna”. obscurecem a razão e fazem com que acreditemos
naquilo que nos é mais conveniente.

O Mito da Caverna Entretanto, apesar daquilo que seja mais


conveniente ou melhor para nós acreditarmos, a
Imaginemos uma caverna separada do VERDADE é una e imutável e permanece inalterada; e
mundo externo por um alto muro. Entre o muro e o chão nossos atos serão julgados não pelo que era mais
da caverna há uma fresta por onde passa um fino feixe conveniente para nós, mas pela sua conformidade ou não
de luz exterior, deixando a caverna na obscuridade quase com esta VERDADE.
completa.
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mentiroso decide voluntariamente deformar a realidade e Desde o nascimento, geração após


os fatos. geração, seres humanos encontram-se ali, de costas
para a entrada, acorrentados sem poder mover a cabeça
Com isso, acreditamos que o erro e a mentira nem se locomover, forçados a olhar apenas a parede do
são falsidades, mas são diferentes porque somente na fundo, vivendo sem nunca ter visto o mundo exterior nem
mentira há a decisão de falsear. a luz do Sol, sem jamais ter efetivamente visto uns aos
outros nem a si mesmos, mas apenas sombras dos
O que erra não tem consciência de seu erro, outros e de si mesmos porque estão no escuro e
toma o erro por verdade, a “sua verdade”, enquanto que o imobilizados.
que mente tem plena noção da verdade, mas busca
deliberadamente propagar a verdade falsa. Abaixo do muro, do lado de dentro da caverna,
há um fogo que ilumina vagamente o interior sombrio e
Ao diferenciarmos erro de mentira, considerando faz com que as coisas que se passam do lado de fora
o primeiro uma ilusão ou um engano involuntário e a sejam projetadas como sombras nas paredes do fundo
segunda uma decisão voluntária. Manifestamos da caverna. Do lado de fora, pessoas passam
silenciosamente a crença de que somos seres dotados de conversando e carregando nos ombros figuras ou
vontade e que dela depende dizer a verdade ou a mentira. imagens de homens, mulheres e animais cujas sombras
também são projetadas na parede da caverna, como
As conseqüências do erro e da mentira são as num teatro de fantoches. Os prisioneiros julgam que as
mesmas? No mais das vezes sim, pois as duas falseiam a sombras de coisas e pessoas, os sons de suas falas e as
verdade, por isso, no primeiro caso a culpa é minimizada, imagens que transportam nos ombros são as próprias
mas não extinta. Como somos responsáveis pelos nossos coisas externas, e que os artefatos projetados são
atos temos também a responsabilidade de buscar o seres vivos que se movem e falam.
conhecimento da verdade para não cometer erros.
Os prisioneiros se comunicam, dando nome às
Acreditamos, portanto, que as pessoas, porque coisas que julgam ver (sem vê-las realmente, pois estão na
possuem vontade, podem ser morais ou imorais, pois obscuridade) e imaginam que o que escutam, e que não
cremos que a vontade é o poder para escolher entre o sabem que são sons vindos de fora, são as vozes das
bem e o mal. E sobretudo acreditamos que exercer tal próprias sombras e não dos homens cujas imagens estão
poder é exercer a liberdade, pois acreditamos que somos projetadas na parede; também imaginam que os sons
livres porque escolhemos voluntariamente nossas ações, produzidos pelos artefatos que esses homens carregam
nossas idéias, nossos sentimentos. nos ombros são vozes de seres reais. (Imagine que a
caverna é uma sala de cinema escura, o fio de luz, a
luminosidade lançada pelo projetor, e as imagens no
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fundo da parede da caverna, um filme que está sendo Exercendo nossa liberdade
projetado numa tela.) Quando dizemos que uma casa é mais bonita do
Qual é, pois, a situação dessas pessoas que a outra ou que “A” está mais jovem do que “B”,
acreditamos que as coisas, as pessoas, as situações, os
aprisionadas? Tomam sombras por realidade, tanto as
fatos podem ser comparados e avaliados, julgados por
sombras das coisas e dos homens exteriores como as
sua qualidade (bonito, feio, bom, ruim, jovem, velho,
sombras dos artefatos fabricados por eles. “Criam” um
engraçado, triste, limpo, sujo) ou por sua quantidade
mundo segundo a interpretação pessoal daquilo que
vêem. E apegam-se a essa “realidade” tomando-a como a (muito, pouco, mais, menos, maior, menor, grande,
sua verdade.Essa confusão, essa interpretação errônea, pequeno, largo, estreito, comprido, curto). Julgamos,
porém, não tem como causa a natureza dos prisioneiros e assim, que as qualidades e as quantidades existem, e que
podemos conhecê-las e usá-las em nossa vida.
sim as condições adversas em que se encontram, que faz
com que os seus “sentidos”, que balizam o seu Se dissermos, por exemplo, que o Sol é maior do
conhecimento, sejam limitados. Que aconteceria se que o vemos, estamos acreditando que nossa percepção
fossem libertados dessa condição de miséria? alcança as coisas de modos diferentes, às vezes tais
Um dos prisioneiros, inconformado com a como são em si mesmas (a folha deste livro, bem à nossa
frente, é percebida como branca e, de fato, ela o é), outras
condição em que se encontra, toma coragem e decide
lutar para superá-la. Fabrica um instrumento com o qual vezes tais como nos parecem (o Sol, de fato, é maior do
que o disco dourado que vemos ao longe), dependendo
quebra os grilhões. De início, move a cabeça, depois o
da distância, de nossas condições de visibilidade ou da
corpo todo; e vai descobrindo uma outra realidade; a
localização e do movimento dos objetos. Por isso
seguir, avança na direção do muro e o escala.
Enfrentando com persistência as dores causadas pelos acreditamos que nossa visão pode ver as coisas
diferentemente do que elas são, mas nem por isso
obstáculos de um caminho íngreme, difícil e
diremos que estamos sonhando ou que ficamos malucos.
desconhecido, sai da caverna.
Na briga, quando alguém chama o outro de
No primeiro instante, fica totalmente cego pela
luminosidade do Sol, com a qual seus olhos não estão mentiroso porque não estaria dizendo os fatos
exatamente como aconteceram, está presente a nossa
acostumados. Enche-se de dor por causa dos
crença de que há diferença entre verdade e mentira. A
movimentos que seu corpo realiza pela primeira vez e
primeira diz as coisas tais como são, enquanto a segunda
pelo ofuscamento de seus olhos sob a luz externa, muito
faz exatamente o contrário, distorcendo a realidade.
mais forte do que o fraco brilho do fogo que havia no
interior da caverna. No entanto, consideramos a mentira diferente do
sonho, da loucura e do erro, porque o sonhador, o louco e
Sente-se dividido entre a incredulidade e o
o que erra se iludem involuntariamente, enquanto o
deslumbramento. Incredulidade porque será obrigado a
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Numa disputa, quando os ânimos estão decidir onde se encontra a realidade: no que vê agora ou
exaltados, um dos contendores pode gritar ao outro: nas sombras em que sempre viveu.
“Mentiroso! Eu estava lá e não foi isso o que aconteceu”, e
alguém, querendo acalmar a briga, pode dizer: “Vamos Deslumbramento (literalmente: ferido pela luz)
pôr a cabeça no lugar, cada um seja bem objetivo e diga o porque seus olhos não conseguem ver com nitidez as
que viu, porque assim todos poderão se entender”. coisas iluminadas, ofuscados pela claridade. Seu primeiro
impulso é o de retornar à caverna para livrar-se da dor, do
Também é comum ouvirmos os pais e amigos espanto e da incerteza causada pelo “desmoronamento”
dizerem que quando o assunto é o namorado ou a de seu mundo conhecido, atraído pela escuridão, que por
namorada não somos capazes de ver as coisas como ser conhecida, lhe parece mais acolhedora. Além disso,
elas são, que vemos o que ninguém vê e não vemos o precisa aprender a ver e esse aprendizado é doloroso,
que todo mundo está vendo. Dizem, nesse caso, que fazendo-o desejar a caverna onde tudo lhe é familiar e
somos “muito subjetivos”. Ou, como diz o ditado, que conhecido.
“quem ama o feio, bonito lhe parece”.
Sentindo-se atraído pelo conhecimento de uma
Porque “crenças”? Porque são coisas ou idéias realidade mais verdadeira, decide, com coragem enfrentar
em que acreditamos sem questionar, que aceitamos este doloroso processo e permanece no exterior. Aos
porque são óbvias, evidentes. Afinal, quem não sabe que poucos, com paciência e persistência, habitua-se à luz e
ontem é diferente de amanhã, que o dia tem horas e que começa o aprendizado de ver o mundo. Encanta-se, tem a
elas passam sem cessar? felicidade de finalmente ver as próprias coisas,
descobrindo que estivera prisioneiro a vida toda e que em
Quando digo “Ele está sonhando” para me referir sua prisão vira apenas sombras. Doravante, desejará ficar
a alguém que está acordado e diz ou pensa alguma coisa longe da caverna para sempre e lutará com todas as suas
que julgo impossível ou improvável, tenho igualmente forças para jamais regressar a ela. No entanto, levado
muitas crenças silenciosas: acredito que sonhar é pelo sentimento de fraternidade para com seus irmãos,
diferente de estar acordado, que, no sonho, o impossível e não pode evitar lastimar a sorte dos outros prisioneiros e,
o improvável se apresentam como possível e provável, e por fim, toma a difícil decisão de regressar ao subterrâneo
também que o sonho se relaciona com o irreal, enquanto sombrio para contar aos demais o que viu e convencê-los
a vigília se relaciona com o que existe realmente. Acredito, a se libertarem também para conhecerem a verdade.
portanto, que a realidade existe fora de mim, que posso
percebê-la e conhecê-la tal como é, e por isso creio que Que lhe acontece nesse retorno? Os demais
sei diferenciar realidade de ilusão. prisioneiros zombam dele, não acreditam em suas
palavras pois tal realidade lhes parece inadmissível pois
não abrem mão de “seu mundinho” e, se não conseguem
silenciá-lo com suas caçoadas e exclusão social, tentam
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fazê-lo espancando-o. Se mesmo assim ele teima em O que é a luz do Sol? É a luz da verdade, é a
afirmar o que viu e os convida a sair da caverna, luz do conhecimento que vem iluminar as consciências
certamente acabam por matá-lo, no intuito de defender a mostrando-lhes o que é certo e o que é errado, não
integridade de “suas realidades” conhecidas. O baseado em conceitos apregoados pelo mundo dos
conhecimento da verdade é perigoso pois traz em si sentidos e da matéria, mas pelos Arquétipos que existem
muitas responsabilidades e, a grande maioria não está no mundo das causas, ou seja residem na liberdade
preparada para assumi-las. Mas, quem sabe, alguns existente no exterior da caverna.
podem ouvi-lo e, contra a vontade dos demais, também
decidir sair da caverna rumo à realidade? Se isso O que é o mundo iluminado pelo sol da
acontecer com mais um apenas que seja, já terá valido a verdade? A realidade. Aquela que está acima do mundo
pena o sacrifício. dos sentidos. Aquela que necessita, para ser vista e
compreendida, de um sentido superior, ou seja, olhos
O que é a caverna? Ela simboliza o mundo de acostumados a LUZ.
aparências em que vivemos, o qual acreditamos ser a
realidade e a “nossa verdade”, a qual defendemos com Qual o instrumento que liberta o prisioneiro
unhas e dentes. rebelde e com o qual ele deseja libertar os outros
Que são as sombras projetadas no fundo? São prisioneiros? A Filosofia oculta, aquela que através de
as coisas como as percebemos. um método seguro, eficientemente comprovado através
daqueles que já se libertaram, seja capaz de levar o
Que são os grilhões e as correntes? Nossos homem a Ter contato com esta outra realidade e adquirir o
preconceitos e opiniões, nossas crenças de que o que conhecimento que liberta a alma. Este caminho, indicado
estamos percebendo é a realidade, arraigadas em nós pelas estrelas, se chama Tradição.
através da sociedade da qual fazemos parte e que, desde
o nascimento, nos ensina no que devemos acreditar e o
que devemos refutar sem qualquer análise. Nossas crenças costumeiras
Em nossa vida cotidiana, afirmamos, negamos,
Quem é o prisioneiro que se liberta e sai da desejamos, aceitamos ou recusamos coisas, pessoas e
caverna? É o “filósofo” oculto. Aquele que não se situações. Isto tudo forma a nossa opinião baseada em
contenta com as respostas dadas pelo mundo da nosso julgamento daquilo que é a “nossa verdade”.
aparência e busca a verdadeira essência das coisas.
Estamos tão convictos dessa realidade, dessa nossa
Aquele que, como Sócrates ou as crianças, insiste em
opinião, que geralmente tentamos impingi-la aos outros,
saber “mas porque?”. Que não aceita as idéias e
defendendo-a de todas as formas, às vezes nem tão
conceitos pré-determinados pela sociedade e segue o seu
pacíficas!
coração em busca da LUZ.

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