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ESTUDO DE ARCOS LAMINADOS DE MADEIRA FORMADOS POR PEÇAS

VERTICAIS INTERLIGADAS POR PINOS

Dogmar Antonio de Souza Junior e Francisco Antonio Romero Gesualdo

RESUMO: A utilização da madeira pode ser justificada sob diversos aspectos, tais como,
técnico, energético e ambiental. Dessa forma, torna-se essencial o desenvolvimento de novos
métodos que possibilitem explorar as qualidades e minorar as imperfeições deste material.
Método interessante é o da laminação vertical, que consiste em unir peças verticais de
madeira justapostas lateralmente através de pinos (pregos, parafusos ou cavilhas de madeira).
Particularmente, o caso de arcos laminados é interessante pois possibilita a utilização de peças
de madeira com tamanhos menores, o que proporciona facilidades no manuseio e na aplicação
de preservativos, e ainda, possibilita a utilização de vasta potencialidade das madeiras de
reflorestamento.
Palavras-chave: madeira, estruturas, arcos, laminado

STUDY OF VERTICALLY LAMINATED TIMBER ARCHES JOINED BY


CONNECTORES

ABSTRACT: The use of wood can be justified by several aspects as technical, energetic and
environmental. So it is essential to create new methods that allows to explore its qualities and
reduce the defects of this material. An interesting method is the vertical lamination that
consist in joining laterally vertical pieces of wood by connectors (nail, bolt and dowel).
Specially, laminated arches is an interesting case because of it is possible to use short length
pieces of wood, that facilitates the manipulation and conditions of treatment, and even,
possibility the utilization of wood from reforestation in large scale.
Keywords: wood, structures, arches, laminated

Iniciação Científica – Apoio: FAPEMIG e CNPq


1 INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como principal objetivo apresentar os resultados analíticos obtidos para
estruturas em forma de arco com eixo circular, formadas por lâminas verticais justapostas
lateralmente e interligadas por pinos, como mostra a figura 1. É também mostrada a variação
de rigidez de uma viga reta em função da quantidade de pinos e de suas posições na estrutura,
como complemento ao estudo de arcos.

L/2

Figura 1- Esquema de um arco laminado

Esta concepção estrutural é ideal para vencer grandes vãos, pois os esforços solicitantes se
reduzem basicamente a esforços de compressão. Isto contribui para uma maior utilização da
madeira, que reúne diversas qualidades dificilmente encontradas em outro material utilizado
na construção civil.

2 METODOLOGIA

O trabalho foi desenvolvido na Faculdade de Engenharia Civil da Universidade Federal de


Uberlândia – UFU. A madeira considerada no estudo é a Dicotiledônea C-40 conforme
características especificadas pela NBR7190 – Projeto de estruturas de madeira.

Foram modeladas estruturas em forma de arco com eixo circular através dos programas
computacionais PRE-ARC (Pré-processador para arcos), SOUZA Jr (1999) e o SERIALS
(Semi-Rigid Analysis for Lumber Structures). O primeiro software cria o arquivo de entrada
de dados que é posteriormente utilizado pelo software SERIALS no cálculo dos esforços,
tensões e deslocamentos. Com os resultados obtidos pelo software SERIALS dimensionou-se
a estrutura utilizando o software GestrWood seguindo as recomendações da NBR 7190 –
Projeto de estruturas de madeira.
Além do SERIALS foi utilizado o programa computacional FEAST (Finite Element Analysis
for Spliced Timber) para avaliar a variação de rigidez em estruturas laminadas verticalmente
interligadas por pinos. Considerou-se o caso mais simples, de viga reta bi-apoiada, pois o
FEAST não calcula estruturas em forma de arco. Estes softwares apresentam uma importante
diferença na forma como são consideradas as ligações GESUALDO (1985). O primeiro trata
os pinos em grupo, o que diminui a entrada de dados e, o segundo trata os pinos isoladamente,
em linhas verticais.

3 AVALIAÇÃO DA RIGIDEZ DA ESTRUTURA

Um importante aspecto no cálculo de estruturas laminadas é a contribuição das ligações na


rigidez global da estrutura, como avalia SOUZA Jr (1998). Estudaram-se parâmetros de
rigidez da estrutura associados aos pinos. Três casos foram considerados:

a) quantidade de pinos;
b) distância vertical dos pinos até a linha neutra;
c) distribuição horizontal dos pinos.

Figura 2 - Viga laminada interligada por 20 pinos

120000
Tensão (N/cm2)

16000
100000
80000
14000
12000
60000
Esforços (N)

10000 40000
8000 20000
6000 0
4000 -20000
0

0
0

15

35

45

65

80

95

2000
0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Eixo da peça (cm)
Linha de conectores

b – Esforços nos pinos c – Tensões normais


Figura 3 – Resultados obtidos para a viga da figura 2

Figura 4 - Viga laminada interligada por 36 pinos

120000
18000
100000
Tensão ( N/cm2 )

16000

14000 80000
Esforços (N)

12000
60000
10000
40000
8000

6000 20000
4000 0
2000
-20000
00
0

0
0
10

25

35

45

55

70

80

90

10

0
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15

Linha de conectores Eixo da peça (cm)

b – Esforços nos pinos c – Tensões normais

Figura 5 – Resultados obtidos para a viga da figura 4

As figuras 2 e 4 representam duas vigas bi-apoiadas com diferentes quantidades de pinos


submetidas a um mesmo carregamento, 4500N/m. As figuras 3a e 5a mostram os esforços em
cada linha de pinos, através destes gráficos podemos perceber que os pinos mais solicitados
são os próximos às extremidades das lâminas, local onde ocorre a transferência lateral de
esforços de uma chapa para outra. As figuras 3b e 5b mostram a distribuição de tensões ao
longo da viga. A linha azul representa as tensões nas camadas externas e a linha vermelha as
tensões na camada interna.
Através do programa computacional SERIALS estudou-se o comportamento de estruturas
laminadas tratando os pinos em grupo, como mostra a figura 6. Para tanto, variou-se a
distância horizontal entre os pinos de um mesmo grupo de 10 em 10cm , iniciando em 10cm
até um máximo de 50cm.

Figura 6 - Esquema do grupo de pinos

Os diagramas da figura 7 mostram os deslocamentos ao longo da viga, calculados com o


FEAST e o SERIALS, respectivamente. Pode ser observado que não houve variação
significativa na rigidez da estrutura.

Gráfico de deslocamentos Gráfico de deslocamentos


layer1 - FEAST layer 1 - SERIALS

0 0

-0.5 -0.5
Deslocamentos ( cm )

Deslocamentos ( cm )

-1 -1

-1.5 -1.5

-2 -2

-2.5 -2.5

-3 -3
0 100 200 300 400 500 600 0 100 200 300 400 500 600
Eixo ( cm ) Eixo ( cm )

(a) (b)
Figura 7 – Deslocamentos da viga da figura 6

4 MODELO DA ESTRUTURA EM ARCO

Após o conhecimento do comportamento de estruturas formadas por lâminas verticais


interligadas por pinos, passou-se a avaliação das estruturas em forma de arco.

O programa computacional PRE-ARC foi desenvolvido especialmente para facilitar a entrada


de dados. O software permite a criação do arquivo de entrada de dados a partir de uma
pequena quantidade de informações. A figura 8 ilustra alguns dos parâmetros de entrada, ou
seja, raio de curvatura do arco (R), ângulo inicial do arco (Ai), ângulo final do arco (Af),
usados como dados de entrada. Além destes parâmetros deve se fornecer o comprimento das
lâminas (L), número de camadas (N) e a quantidade de grupo de pinos por lâmina (Q), são
considerados um máximo de dois pinos por grupo no caso dos arcos.

A partir dessas informações o software gera a posição de cada nó e, ainda, permite visualizar
a estrutura em vista frontal e superior.

R Af
Ai

Figura 8 - Esquema de um arco circular

O carregamento do peso próprio e da força atuante do vento também foi automatizado,


exigindo que o usuário forneça apenas a área da seção transversal (A), a densidade da madeira
(ρ), o comprimento de influência perpendicular ao eixo do arco (d), peso das telhas (δ) e a
pressão de obstrução do vento (pv) segundo a NBR 6123 – Forças devidas ao Vento em
Edificações. Sendo pequeno o comprimento de influência de cada nó na direção longitudinal
do arco, o carregamento distribuído foi considerado concentrado nos nós. Tal simplificação
não invalida os resultados.

2
2

1
h

b
Figura 9 - Detalhes de uma lâmina
O nó genérico chamado de “i” é carregado, portanto pelas forças devidas ao peso próprio mais
sobrecarga na direção vertical, e pela força devida ao vento que atua na direção perpendicular
à tangente do eixo do arco conforme mostrado na figura 10.

pv Pg

Figura 10 – Forças atuantes sobre os nós

Estas forças, de peso próprio e vento, são calculadas pelas equações (1) e (2),
respectivamente.

(Li +1 + Li )
Pg = ( .d + æ.A). (1)
2

Li +1 + Li
Pv = p v .d. (2)
2

4.1 EXEMPLO DE CÁLCULO

Para ilustrar o uso das ferramentas anteriormente descritas é apresentado um exemplo


numérico, com os seguintes dados iniciais:

R = 10m l = 2m Ai = 30° Af = 150° N=2 Q=4

O PRE-ARC foi desenvolvido para trabalhar com `n` lâminas mais meia. Após este passo o
software exige que o usuário corrija o número de lâminas por camada, neste caso, o número
de lâminas é 10.45, mudado para 10.50. Gerou-se um total de 128 nós e 106 barras. Todos os
nós receberam uma carga concentrada vertical de 93N, exceto os nós com coordenadas iguais
que receberam um carregamento concentrado de 46.50N.

Com o arquivo de dados gerado, usou-se o software SERIALS para calcular os esforços e
deslocamentos da estrutura. O SERIALS exige que o usuário entre com três parâmetros para
iniciar o cálculo, são eles: a deformação inicial do pino, tolerância e número máximo de
iterações. Neste exemplo usaram os seguintes valores: 0.15, 0.04 e 500, respectivamente.

4.2 SERIALS x GESTRUT

Para avaliar a confiabilidade dos resultados e permitir alguma comparação, fizeram-se duas
avaliações usando os programas computacionais SERIALS e GESTRUT (Cálculo de
pórticos). O segundo software não considera o efeito das ligações, admitindo perfeita
continuidade das extremidades das barras.

Tabela 1 - Resumo dos esforços


Reação horizontal (N) Reação vertical (N) Momento fletor (N.m)
SERIALS GESTRUT SERIALS GESTRUT SERIALS GESTRUT
Apoio A 3480 4475 5020 4960 -933 -1367
Apoio B -3640 -4475 5000 4957 729 1401

Tabela 2 - Resumo dos deslocamentos


SERIALS GESTRUT
Deslocamento máximo (m) 0.0589 0.0213

As diferenças encontradas nos resultados gerados pelos dois softwares eram esperadas, pois o
GESTRUT considera a estrutura com ligações totalmente rígidas, ao contrário do SERIALS
que considera as deformações das ligações. Consequentemente, as deformações produzem
efeitos internos que levam à diferentes valores de esforços e deslocamentos.

4.3 DIMENSIONAMENTO

Barra mais solicitada

Mk = 150.75 kN.m
Nk = - 8.87 kN

Comprimento de flambagem
Lx = Ly = 1.20m (Distância entre terças)

Seção transversal – 2x (6 x 12)cm2

O dimensionamento foi feito seguindo as recomendações da NBR7190 – Projetos de


estruturas de madeira, utilizando o software GestrWood para dimensionamento de barras
flexo-comprimidas.

a) Verificação da resistência

0.92 < 1 Ok!

b) Verificação da estabilidade

- Em relação ao eixo X

Peça curta

0.15 < 1 Ok!


- Em relação ao eixo Y

Peça medianamente esbelta

150 190
+ < 1
1600 1600

0.21 < 1 Ok!

d) Verificação quanto ao estado limite de utilização

Vão do arco (L) = 17.60m

L 17.60
= = 0.088m
200 200

Deslocamento máximo da estrutura

δmáx = 0.0589m

0.0589 < 0.088 Portanto, a estrutura está dimensionada.

10 CONCLUSÃO

Com relação ao caso de vigas retas, a distribuição horizontal dos pinos não provoca variação
significativa na rigidez da estrutura. Os pinos mais solicitados são os próximos as
extremidades das lâminas, onde existe grande transferência de esforços. O aumento de pinos
não causa variações nas tensões ao longo da peça, provoca apenas uma variação na rigidez
diminuindo os deslocamentos. O aumento de rigidez tende a um limite. A partir disto o
aumento de pinos não provoca efeito significativo na estrutura. Tratar os pinos em grupo é tão
eficiente quanto isoladamente.

Estruturas laminadas verticalmente em forma de arco são excelentes alternativas para se


vencer grandes vãos. O aumento no número de camadas diminui a força normal nos
elementos enquanto que o esforço cortante e o momento fletor aumentam. No cálculo de arcos
laminados utilizando o software SERIALS, a deformação inicial do pino fornecida pelo
usuário é de grande importância para a convergência. As ferramentas de cálculo usadas
permitem a avaliação de estruturas em arco de forma rápida e eficiente. Obviamente que
novos estudos devem ser feitos para se conhecer mais adequadamente este tipo de estrutura.
De qualquer forma, este trabalho representa um avanço significativo quanto ao cálculo de
estruturas complexas como o arco, considerando-se parâmetros importantes (deformações das
ligações) até então ignoradas no cálculo usual.

11 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1997). NBR 7190 – Projeto de


Estruturas de Madeira – São Paulo.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (1988). NBR 6123 – Forças
Devidas ao Vento em Edificações – Rio de Janeiro.
GESUALDO, F. A. R. 1985. Deformações das ligações nas estruturas de madeira. Orientador:
Prof. Dr. João César Hellmeiter. São Carlos, SP – LaMEM-EESC-USP, 170p. Tese
(Doutor em Engenharia de Estruturas).
SOUZA Jr, D. A. (1998). Estudo de arcos laminados de madeira formados por peças verticais
interligadas por pinos – Montagem de um Pré-processador de dados para arcos. In: II
SEMINÁRIO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – FAPEMIG, Uberlândia, 1998. Anais.
Uberlândia, v. único, p. 24.
SOUZA Jr, D. A. (1999). Arcos laminados de madeira formados por peças verticais
interligadas por pinos. In: VIII ENCONTRO DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – CNPq,
Campo Grande, 1999. Anais. Campo Grande, v. único, p. 163-164.

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