Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
POPULAR REGIONAL
ALESSANDRA FAVERO
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2017
Conselho editorial roberto paes e luciana varga
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2017.
ISBN 978-85-5548-435-3
Prefácio 5
1. A cultura do povo 7
Povo 8
Cultura 13
2. A cultura em movimento 31
Um pouco da origem da literatura popular 32
O teatro popular 34
3. A literatura regional 57
A literatura regional ao longo dos movimentos: contexto histórico-social 58
A literatura de cordel 92
Prezados(as) alunos(as),
Bons estudos!
5
1
A cultura do povo
A cultura do povo
Neste primeiro capítulo, daremos início à discussão sobre povo e cultura,
para que possamos conhecer a situação da expressão artística popular atualmente
configurada no Brasil.
Para isso, precisamos entender o conceito de "povo", o que é "popular" e
"não-popular", o problema da identidade nacional, que apesar de tantos contrastes
e riqueza de aspectos culturais está, em geral, associada à espontaneidade do povo,
ao artesão e às classes mais modestas.
Desse modo, iremos ampliar o conhecimento geral, desenvolver o senso crítico
e apreender o conteúdo através das possíveis relações de significado, histórico e
socialmente contextualizado, entre os discursos apresentados.
OBJETIVOS
Nosso objetivo é exercitar o olhar acadêmico sobre as manifestações artístico-literárias
que, a priori, não pertencem à tradição..
Povo
capítulo 1 •8
“Operários”, de Tarsila do Amaral
CONCEITO
1 Conjunto dos habitantes de uma nação ou de uma localidade.
2 Pequena povoação.
3 Lugarejo.
4 Aglomeração de pessoas.
5 O terceiro estado da Nação Portuguesa.
6 Grande número, quantidade.
7 As nações.
8 povo miúdo: classe inferior da sociedade.
capítulo 1 •9
Antigamente, o termo povo era utilizado para se referir à população
rural, que vivia no campo e desenvolvia atividades agrícolas. Daí a importância
do resgate da tradição oral cultivada pelos agricultores, camponeses, artesãos, etc.
Isso explica o interesse dos irmãos Jacob e Wilhelm Grimm, que percorreram as
sociedades agrícolas da Alemanha e da Europa como um todo, com a finalidade
de registrar a produção cultural oral que refletia a tradição do povo.
É interessante notar que a tradição oral revela um saber do povo que era
transmitido por meio de histórias - em forma de mitos, contos e lendas - cantigas,
celebrações, etc. Por isso, é importante entender como povo e folclore estão
relacionados.
capítulo 1 • 10
O termo folclore foi criado por Willian John Thoms, arqueólogo inglês, em
1846, da seguinte forma:
FOLKLORE
FOLK LORE
POVO SABER
SABER DO POVO
Segundo Vilhena, o termo folclore era usado para indicar o saber tradicional
preservado pela transmissão oral entre os camponeses, com o significado de
“antiguidades populares”, “literatura popular” (1997, p.24).
capítulo 1 • 11
Transmissão oral das histórias do povo
A busca pelo saber popular existe desde muito antes da criação do termo
folclore. Dentre vários artistas e estudiosos, os românticos se tornaram os
“responsáveis pela fabricação de um popular ingênuo, anônimo, espelho da alma
nacional, [sendo] os folcloristas seus continuadores, buscando no positivismo
emergente um modelo para interpretá-lo.” (VILHENA, 1997, p. 24)
O positivismo é uma corrente filosófica que acompanha o capitalismo e que
ganhou força e se desenvolveu plenamente no século XIX. Seguindo a tendência
iluminista, os estudiosos entendiam que:
capítulo 1 • 12
CONCEITO
Positivismo
1 Sistema filosófico que, banindo a metafísica e o sobrenatural, se funda na consideração
do que é material e evidente.
2 Tendência a encarar a vida unicamente pelo lado prático.
Disponível na https://dicionariodoaurelio.com/positivismo, com acesso em 1-8-2016.
Iluminismo
1 Doutrina de certos movimentos religiosos marginais, baseada na crença de uma
iluminação interior ou em revelações inspiradas diretamente por Deus.
2 Movimento de renovação científica na Itália, no século XVIII.
Disponível na https://dicionariodoaurelio.com/iluminismo, com acesso em 1-8-2016.
Cultura
capítulo 1 • 13
Desse modo, passamos a entender a cultura, como destaca Peter Burke (1989,
p. 25), como o modo de vida de uma determinada sociedade: o modo de expres-
são, sua alimentação, suas tradições, etc., que fazem com que viver em socieda-
de tenha sentido. Ou seja, cultura é “um conjunto integral dos instrumentos e
bens de consumo, nos códigos constitucionais dos vários grupos da sociedade, nas
ideias e artes, crenças e costumes humanos” (DIAS, 2010, p. 67).
Assim, cultura se refere à:
Folclore
capítulo 1 • 14
Você deve estar se perguntando se a cultura é, necessariamente, uma estrutura
material. Canclini explica que:
A ideia de que a cultura é uma estrutura material tem tudo a ver com a ideia
de que a sociedade interage e se comunica por meio de sistemas simbólicos.
Segundo Bourdieu (2010, p. 10): “enquanto instrumentos de conhecimento e de
comunicação, eles [os sistemas simbólicos] tornam possível o consensus acerca do
sentido do mundo social e contribui para a reprodução da ordem social”.
EXEMPLO
A religião, a língua, a arte, a ciência, as leis do Direito, etc., são sistemas simbólicos.
Para Bordieu:
capítulo 1 • 15
Ser a cultura dotada de estruturas materiais e sistemas simbólicos não significa
dizer que seja específica ou limitada, pois, como destaca Chartier (1975, p. 184):
Hierarquia social
capítulo 1 • 16
Felizmente, esse pensamento não se aplica ao entendimento da cultura. Em
termos culturais, não há hierarquia, não se aceita uma escala. O que existe é uma
diferença na expressão cultural como um todo, já que “cada época da História
mundial teve o seu reflexo na cultura popular.” (BAKHTIN, 2002, p. 419).
Passemos, então, ao entendimento dos termos utilizados para designar os
diferentes tipos de cultura.
Embora tenhamos entendido que a cultura não deve seguir uma hierarquia,
é preciso reconhecer que podemos e devemos fazer da cultura uma forma de
expressão de uma classe, o que vai ajudar o país como um todo no reconhecimento
do seu povo. Por isso, costuma-se usar dois termos: cultura popular, que está
diretamente ligada ao povo, e cultura não popular, que se distancia dele.
A cultura popular envolve músicas ou cantigas, danças, crenças, literatura,
costumes, artesanatos, e qualquer outro modo de expressão de um povo,
expressão esta que é conservada pelas diversas gerações e geralmente transmitida
pela oralidade.
Muitas são as formas de cultura popular que são mantidas ao longo do tempo,
como é o caso das cantigas do sul, das histórias do centro-oeste, da literatura de
cordel nordestina, das receitas baianas, das rodas de samba etc. Como se pode
notar, são atividades do dia a dia que são mantidas como tradição e cultura. São
ensinadas em casa pelos pais e avós, e se mantêm vivas e inalteradas.
capítulo 1 • 17
“Roda de samba”, de Caribé
“O Fantasma da Ópera”
capítulo 1 • 18
Temos também a chamada cultura de massa, que é acessível à maior parte da
população, e que não deve ser confundida com a cultura popular. A cultura de massa
não possui valor cultural, pois é veiculada pelos meios de comunicação de massa
como um produto feito pela indústria cultural para ser consumido e descartado.
capítulo 1 • 19
Divertir-se significa estar de acordo. A diversão é possível apenas
enquanto se isola e se afasta a totalidade do processo social, enquanto
se renuncia absurdamente desde o início à pretensão inelutável de
toda obra, mesmo da mais insignificante: a de, em sua limitação, refletir
o todo. Divertir-se significa que não devemos pensar, que devemos
esquecer a dor, mesmo onde ela se mostra. É, de fato, fuga, mas não,
como pretende, fuga da realidade perversa, mas sim do último grão
de resistência que a realidade ainda pode ter deixado. A libertação
prometida pelo entretenimento é a do pensamento como negação. A
impudência da pergunta retórica: “Que é que a gente quer?” consiste
em se dirigir às pessoas fingindo tratá-las como sujeitos pensantes,
quando seu fito, na verdade, é o de desabituá-las ao contato com a
subjetividade. (ADORNO, 2002, p. 44-45).
capítulo 1 • 20
ESTUDO DE CASO
Cultura de Massa, Cultura Popular e Cultura Erudita
capítulo 1 • 21
Essa cultura vem do povo; não é imposta por uma indústria cultural ou por uma elite.
Por exemplo, o carnaval é uma festa da cultura popular brasileira. O frevo é uma dança
brasileira, mas é muito mais expressiva no norte do país. Ela representa a diferença de
cada povo, do micro ao macro.
Fonte: https://goo.gl/CqHrKy.
Acesso em 10-08-2016.
PERGUNTA
Daí a pergunta: Quem somos nós? O que queremos?
Essa pergunta chega até os dias de hoje. Ainda no século XXI, estamos preocupados
com a construção da nossa identidade nacional.
Ante essa questão, é preciso reconhecer que nosso país é formado por três raças:
a branca, a negra e a indígena. Desse modo, nossa identidade nacional é fruto da
miscigenação. É só a partir desse reconhecimento que teremos condições de refletir
e entender como cultura popular e identidade nacional estão inter-relacionadas.
O escritor Gilberto Freire, em “Casa Grande & Senzala”, narra a formação da
identidade nacional brasileira a partir da miscigenação. Vale a pena conhecer essa
obra, que marca o surgimento da nação brasileira a partir de três raças. Portanto:
capítulo 1 • 22
“Casa-Grande & Senzala” (1933) analisa, nas palavras do próprio
autor, "uma sociedade agrária na estrutura, escravocrata na técnica
de exploração econômica, híbrida de índio - e mais tarde negro - na
composição". Trata-se da primeira obra a reconhecer a contribuição
decisiva do negro para a formação da sociedade brasileira, tarefa
empreendida priorizando-se os fatores econômicos e sociais, em
detrimento dos de clima e raça (...)
Disponível na https://goo.gl/isF4CH.
Acesso em 3-8-2016..
AUTOR
Gilberto de Mello Freyre (Recife PE 1900 - idem 1987). Sociólogo, ensaísta, dese-
nhista, poeta e romancista. Filho do professor e juiz Alfredo Freyre e de Francisca de
Mello Freyre, estuda, desde o jardim de infância, no Colégio Americano Gilreath, onde
enfrenta dificuldades no processo de alfabetização. Tem aulas particulares de pintura,
desenvolvendo desde muito cedo a habilidade nessa área. Aos 14 anos, participa da
sociedade literária do colégio, atuando como redator-chefe do jornal “O Lábaro”, editado
pelos alunos, no qual publica seus primeiros artigos. Tendo concluído o curso de bacha-
rel em Ciências e Letras no Gilreath em 1917, segue, no ano seguinte, para os Estados
Unidos. Forma-se bacharel em Artes pela Universidade de Baylor e ingressa na pós-gra-
duação da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade de Colúmbia, em Nova York,
obtendo o grau de mestre em 1922. Em uma viagem pela Europa, convive com artistas
brasileiros como Tarsila do Amaral (1886 - 1973) e Victor Brecheret (1894 - 1955). Re-
torna ao Brasil em 1923, quando passa a colaborar no “Diário de Pernambuco”. Organiza,
em 1925, o livro que comemora o centenário da fundação do jornal, “Livro do Nordeste”,
no qual é publicado pela primeira vez o poema “Evocação do Recife”, composto, a seu pe-
dido, por Manuel Bandeira (1886 - 1968), de quem se torna amigo. Nessa mesma época,
aproxima-se de José Lins do Rego (1901 - 1957), e o incita a escrever romances em vez
de artigos políticos. Após trabalhar durante três anos com o governador de Pernambuco,
Estácio Coimbra, o acompanha em seu exílio, conhecendo parte do continente africano
e permanecendo em Lisboa. A viagem é decisiva, conforme seu próprio relato, para a
redação de “Casa-Grande & Senzala”, obra publicada em 1933 e que inova na análise
da formação da sociedade brasileira. O projeto tem continuidade em dois outros livros:
“Sobrados e Mucambos”, de 1936, e “Ordem e Progresso”, de 1959. Em 1942, é preso
capítulo 1 • 23
após denunciar, em um artigo, atividades nazistas e racistas no Brasil, e é liberado no dia
seguinte. Eleito deputado federal em 1946, participa da Assembleia Constituinte, per-
manecendo na casa por apenas um mandato. Além de colaborar em diversos periódicos,
como “O Estado de S. Paulo”, “Correio da Manhã” e o argentino “La Nación”, viaja pelo
Brasil e pelo exterior proferindo conferências, e é congratulado por instituições diversas,
como as universidades Sorbonne, na França, Coimbra, em Portugal, Sussex, na Inglaterra,
e Münster, na Alemanha. Escreve ensaios e também poemas, como “Bahia de Todos os
Santos e de Quase Todos os Pecados”, publicado em “Talvez Poesia”, de 1962, consi-
derado por Bandeira como "um dos mais saborosos do ciclo das cidades brasileiras"; e
obras de ficção, como “Dona Sinhá e o Filho Padre”, de 1964. Morre em sua cidade natal,
após submeter-se a uma série de cirurgias, em 1987.
Disponível na http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa1785/gilberto-freyre.
Acesso em 3-8-2016.
capítulo 1 • 24
ideia não morreu. Há, ainda nos dias de hoje, muita gente preconceituosa, que
considera a própria raça superior, seja ela branca, negra ou oriental.
Um ponto extremamente importante em “Casa Grande e Senzala”, é que
capítulo 1 • 25
CONEXÃO
“Casa Grande e Senzala”, documentário produzido por Nelson Pereira dos Santos a partir
da obra de Gilberto Freyre. Disponível em https://goo.gl/puhdCH.
Acesso em 12-8-2016.
LEITURA
Que tal indicar a leitura de “Casa Grande & Senzala” em quadrinhos aos seus alunos?
capítulo 1 • 26
ATIVIDADE
1. Reflita sobre o excerto da obra “Cultura brasileira e identidade nacional”, de Renato
Ortiz (São Paulo: Brasiliense, 1994.):
2. Reflita sobre o excerto da obra de Néstor Garcia Canclini, “As culturas populares no
capitalismo” (São Paulo: Brasiliense, 1983):
REFLEXÃO
A relação entre cultura e a construção da identidade nacional é um assunto que tem ocu-
pado muitos estudiosos. Será que a cultura determina a identidade nacional, ou é esta que gera
aquela? É importante pensar na cultura do vir a ser, pois, de acordo com Hall (2003, p. 43):
capítulo 1 • 27
A cultura é uma produção. Tem sua matéria-prima, seus recursos,
seu “trabalho produtivo”. Depende de um conhecimento da tradição
enquanto “o mesmo em mutação” e de um conjunto efetivo de
genealogias. Mas o que esse “desvio através de seus passados” faz é
nos capacitar, através da cultura, a nos produzir a nós mesmos de novo,
como novos tipos de sujeitos. Portanto, não é uma questão do que
as tradições fazem de nós, mas daquilo que nós fazemos das nossas
tradições. Paradoxalmente, nossas identidades culturais, em qualquer
forma acabada, estão à nossa frente. Estamos sempre em processo de
formação cultural. A cultura não é uma questão de ontologia, de ser,
mas de se tornar.
Como se vê, a ideia de Hall gira em torno do “tornar-se” e não do “ser”. Não importa mais
o que somos nem o que fomos, e sim aquilo que podemos nos tornar a partir da tomada de
decisões quanto às nossas tradições. Não é preciso perpetuar o passado, mas transformar o
futuro a partir do que somos.
LEITURA
CANCLINI, Néstor Garcia. Culturas híbridas: estratégias para entrar e sair da modernidade. São
Paulo: EDUSP, 2003.
CHARTIER, Roger. Cultura popular: revisitando um conceito historiográfico In: Estudos históricos,
Vol. 08, n°16. Rio de Janeiro, 1995.
IMAGENS DO CAPÍTULO
Imagem 1.1 - http://novaescola.org.br/img/arte/178-Muitas-historias01.jpg
Imagem 1.2 - http://www.bbaw.de/en/research/dwb/synopsis/bild
Imagem 1.3 - http://www.terraconsciente.com.br/wp-content/uploads/2013/03/contar-historias.jpg
Imagem 1.4 - http://1.bp.blogspot.com/-byr_p9dtASg/UDbzdQd_13I/AAAAAAAAA88/jHNcjunXEsk/
s1600/Folclore-+festa+do+povo.png
Imagem 1.5 - http://static.blastingnews.com/media/photogallery/2015/8/1/main/classe-social-
brasil-extraido-de-www-google-com_380369.jpg
Imagem 1.6 - http://www.carnaxe.com.br/axelook/quadros/arquivos/carybe_rodadesamba.htm
Imagem 1.7 - http://img.saraivaconteudo.com.br/Clipart/images/teatro_06_fantasma.jpg
Imagem 1.8 - http://kmtvfilosofia.blogspot.com.br/2014/10/lazer-alienado.html
capítulo 1 • 28
Imagem 1.9 - https://i.ytimg.com/vi/ymR6egkH2YA/hqdefault.jpg
Imagem 1.10 - http://imagens1.ne10.uol.com.br/blogsne10/social1/uploads/2016/08/rio2-1.jpg
Imagem 1.11 - http://www.onordeste.com/administrador/personalidades/
imagemPersonalidade/35c042ae35c32bf1b3484ba6eb419b14757.jpg
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ADORNO, Theodor. Indústria cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002.
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na idade média e no renascimento: o contexto de François
Rabelais. São Paulo: Annablume/Hucitec, 2002.
BOURDIEU, Pierre. Capital simbólico e classes sociais. In: Novos Estudos Cebrap, 96, jul. 2013
BURKE, Peter. Cultura popular na idade moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
CANCLINI, Néstor Garcia. As culturas populares no capitalismo. São Paulo: Brasiliense, 1983.
CHARTIER, Roger. Cultura popular: revisitando um conceito historiográfico In: Estudos históricos, Vol.
08, n°16. Rio de Janeiro, 1995.
DIAS, Reinaldo. Introdução à Sociologia. São Paulo: Pearson, 2010.
GULLAR, Ferreira. Cultura posta em questão. Rio de Janeiro: Civilização brasileira, 1965.
HALL, Stuart. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: UFMG, 2003.
HARVEY, D. Condição pós-moderna. 8a ed. São Paulo: Loyola, 1999.
ORTIZ, Renato. Cultura popular: românticos e folcloristas. São Paulo: Olho d’água, 1992.
ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 1994.
ORTIZ, Renato. As ciências sociais e a cultura. In: Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 14(1):
19-32, maio de 2002.
VILHENA, L.R. Projeto e missão: o movimento folclórico brasileiro 1947-1964. Rio de Janeiro:
Funarte, 1997.
capítulo 1 • 29
capítulo 1 • 30
2
A cultura em
movimento
A cultura em movimento
Atentos à pluralidade da cultura e da literatura popular nacional, nossa
preocupação, ao elaborar este capítulo, foi voltada para nossa formação literária
e cultural.
Para isso, é importante expandir nossas competências de leitura e interação
com a cultura popular de uma maneira geral, pois é nessa nova leitura, pautada em
um olhar mais amplo e atento, que poderemos obter a compreensão da literatura
como atividade artística, apreendida não só como fenômeno literário, mas também
histórico-social, que dialoga com outras obras artísticas daí resultantes.
Diante desse contexto, entendemos que as manifestações culturais populares se
vinculam à história da literatura e às várias formas de expressão literárias, resultando
OBJETIVOS
em obras teatrais, música, filmes, danças e quaisquer outros movimentos culturais
representativos da cultura popular brasileira como um todo.
Nosso objetivo é difundir o conhecimento sobre a realidade popular brasileira com foco
na literatura; conhecer e analisar a forma e o conteúdo das obras, em uma visão ampla
do universo artístico brasileiro, através dos vários tipos de linguagem, como cinema, teatro,
música, dança, folclore, etc.
capítulo 2 • 32
• aos romances de cavalaria, em que o cavaleiro é solitário e vive no
mundo em busca de justiça;
• às novelas de amor, em que o amor não pode se concretizar por briga
entre famílias, classes sociais diferentes, ou vilania, e
• às narrativas de batalhas homéricas, viagens ou descobertas além mar,
como “Ilíada”, “Odisseia” e “Os lusíadas”, respectivamente.
É comum às narrativas dessas histórias serem interligadas ou permeadas de
poesia, como se pode notar na leitura de “Ilíada”, “Odisseia” e “Os lusíadas”, que
são narrativas escritas em verso.
As poesias também podem descrever ou narrar fatos que interessam ao povo.
Por que se utiliza a poesia no campo da literatura popular? Simples, porque a
poesia ajuda na memorização devido à estrutura em verso e ao sistema de rima
e repetição.
A cultura popular, assim como a poesia, não se restringe a uma classe social,
mas está presente em todos os momentos da vida de um povo, embora seja
encarada como elemento de oposição à cultura considerada oficial, erudita.
Em sua origem, a literatura popular estava ligada aos poetas e músicos que
perambulavam pelas aldeias e acabavam por se tornar verdadeiros cronistas ao
registrarem os acontecimentos do cotidiano em forma de romances ou epopeias de
aventuras. Dentre esses cronistas andarilhos, encontram-se trovadores, menestréis
e jograis, e é por esse motivo que as produções da literatura popular são poéticas.
Aqui, a cultura popular brasileira está ligada aos vários tipos de poesia popular,
CONCEITO
como os romances ou xácaras, que são poesias dialogadas muito comuns no
nordeste. Um exemplo disso é “O Auto da Compadecida”, de Ariano Suassuna.
xá·ca·ra (espanhol jácara) substantivo feminino
[Literatura] Espécie de romance ou seguidilha popular, em verso.
capítulo 2 • 33
Temos também a cantoria ou poesia repentista, como é mais conhecida, que
trata de um combate musical entre dois repentistas. Outro ponto a relembrar
é a parlenda, versão popular muito usada nas escolas por ser ritmada e fácil de
memorizar e contar.
Pelo pouco que contamos até agora, já deu para perceber que a literatura
popular não é uma arte isolada, mas caminha junto de outras formas culturais,
como teatro, cinema, música, etc. Que tal percorrermos um pouco mais desses
espaços artísticos e observarmos a cultura em movimento?
O teatro popular
Acreditamos que a arte (...) deve ser comprometida, isto é, deve manter
um fecundo intercâmbio com a realidade, ser porta-voz da coletividade
e do indivíduo, em consonância com o espírito profundo de nosso povo..
capítulo 2 • 34
CONCEITO
A dança folclórica do bumba meu boi é um dos traços culturais mais marcantes da
cultura brasileira, principalmente na região nordeste. A dança surgiu no século XVIII, como
forma de crítica à situação social dos negros e índios. O bumba meu boi combina elementos
de comédia, drama, sátira e tragédia, tentando demonstrar a fragilidade do homem e a força
bruta de um boi.
Disponível na http://brasilescola.uol.com.br/folclore/bumbameuboi.htm.
Acesso em 15-9-2016.
capítulo 2 • 35
LEITURA
“Mamulengo: o teatro de bonecos popular no Brasil”
Fernando Augusto Gonçalves Santos
Grupo Mamulengo Só-Riso (PE)
Praticado no mundo todo, o teatro de bonecos assumiu fisionomias e espíritos dramáticos
diferenciados, dependendo da localização geográfica de cada uma de suas manifestações.
Isso se deve às próprias injunções de tradição cultural, costumes, e formação social,
econômica e política.
Em alguns estados do nordeste do Brasil, existe uma forma de teatro de bonecos
praticada por artistas do povo, que se denomina mamulengo. O mamulengo é um teatro
de características inteiramente populares, onde os atores são bonecos que falam, dançam,
brigam e, quase sempre, morrem.
Como em tantas outras manifestações artísticas da cultura popular nordestina, o
mamulengo revela de modo singular a rica expressividade do dia a dia do povo da região.
Através dos bonecos, o povo se identifica com suas alegrias e suas tristezas, com seus
temores e sua capacidade de fé, com seus tipos matreiros e seus elementos repressores,
com o esmagamento de seus direitos e sua ânsia por liberdade.
O mamulengo tem um extraordinário poder de síntese e revelação estética dos anseios
mais ardentes do povo nordestino, não obstante a precariedade de seus recursos disponíveis,
sejam técnicos, estéticos ou de escolaridade.
(...) o mamulengo baseia-se na improvisação livre do ator (mamulengueiro).
Conquanto tenha um roteiro básico para a história, que não é escrita, os diálogos são
criados no momento do espetáculo, de acordo com as circunstâncias e com a reação do
público. Não podendo existir sem a música nem a dança, o mamulengo exige do público
uma participação constante e ativa, que permita completar o que os bonecos muitas
vezes apenas sugerem. Requer-se, portanto, uma imensa interação boneco/plateia, que
não se faz difícil por conta do incrível poder de improvisação e da capacidade imaginativa
que caracteriza os mamulengueiros. Por isso, sendo um teatro do improviso, depende
visceralmente da assistência do público, que alimenta, ignora ou castra a vertente de
criação que sai do mestre, passa para o boneco e atinge o público. Ao reagir, a assistência
fornece a inspiração necessária ao processo de criação improvisada que constitui o
espetáculo, formando um ciclo contínuo que envolve a todos: titireteiro, títeres e público.
O espetáculo do mamulengo, seja urbano ou rural, é destinado a um público
específico. O mamulengo não satisfaz às necessidades teatrais ou mesmo emocionais
do público intelectual e burguês que habitualmente frequenta nossos teatros. Quando
capítulo 2 • 36
muito, esse público assiste a uma função por curiosidade, por atitude exótica ou pelo
aspecto folclórico. Fica bastante claro que seu público é o povo; as camadas inferiores
da sociedade; a gentalha; a rafameia; o Zé-povinho. O mamulengueiro sabe falar a
esse povo, retratando os mais diferentes aspectos de suas vidas, transfigurando suas
alegrias e dores.
Frequentemente, o mamulengo é de uma contundência admirável, motivado por
uma inspiração fascinante que lhe permite alterar o equilíbrio do mundo e as relações
de poder, insurgindo-se contra o maniqueísmo da vida e criando outro mundo que ele
próprio governa; uma situação poético-dramática que incorpora o público. Arranca
personagens e temas de um mundo ao qual está sujeito, é submisso e pelo qual é
explorado, e os transpõe, em uma transfiguração muito própria, para um mundo onde
sua voz, anseios e vontades são ouvidos. Isso tudo tem a intenção maior de provocar o
riso que, gerando a folgança, o alívio e o divertimento, atua como elemento catártico e de
grande comunicabilidade.
O mamulengo é um fenômeno vivo, dinâmico, e em constante processo de mutação e de
transformação. (...)
Disponível em hthttps://goo.gl/NWUCmW
Acesso em 15-9-2016.
capítulo 2 • 37
Quando pensamos na relação entre literatura e música, vem à cabeça a
bossa nova dos anos 1950, que transforma poesia em canção ou vice-versa, ou o
tropicalismo dos anos 1970, preocupado com a situação política do país.
A Tropicália foi um movimento musical do final da década de 1960, do qual
participaram músicos como Tom Zé, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Gal Costa,
entre outros. Podemos afirmar que há certo sincretismo entre música e literatura,
uma vez que o tropicalismo colaborou para que a literatura assumisse uma visão
de bom emprego de qualquer estética literária, sem interferência de preconceitos,
e tendo como característica principal a mistura de ideias e estéticas que juntavam
assuntos urbanos e modernos a elementos folclóricos e populares.
Como afirma Alfredo Werney:
capítulo 2 • 38
Chico Buarque usa a música para retratar o sonho de Iracema, sinônimo da
mulher brasileira, de mudar de vida, deixando seu país rumo à América (EUA).
Ele transforma um fato corriqueiro em motivo para cantar poeticamente nos
moldes do modernismo.
Iracema voou
Chico Buarque/1998
Iracema voou
Para a América
Leva roupa de lã
E anda lépida
Vê um filme de quando em vez
Não domina o idioma inglês
Lava chão numa casa de chá
capítulo 2 • 39
A música de Chico Buarque também dialoga com a obra de João Cabral de Melo
Neto, “Morte E Vida Severina”, retratando o sertão, a fome e a morte no nordeste:
Disponível em https://goo.gl/Wzqnml.
Acesso em 15-9-2016.
capítulo 2 • 40
Cabe aqui o depoimento de José Domingos de Brito (2015):
capítulo 2 • 41
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
Disponível em https://goo.gl/uYKUgw.
Acesso em 15-9-2015.
MULTIMÍDIA
Ouça a música “Rosa de Hiroshima”, poema de Vinícius de Moraes, na voz de Ney Mato-
grosso. Disponível em https://goo.gl/IoTSA5.
Acesso em 15-9-2015.
LEITURA
As letras na pauta
Jorge Fernando dos Santos
capítulo 2 • 42
Isso talvez explique o envolvimento de escritores com a música e de músicos com a
literatura. (...)
O fenômeno é universal, mas é no Brasil que ele toma dimensões qualitativa e quantita-
tivamente admiráveis. Basta lembrar os poetas populares do Nordeste, dedicados à tradição
do cordel e do coco de embolada. Patativa do Assaré, por exemplo, fez poemas e canções,
tendo seus versos também musicados e interpretados por outros artistas.
Um dos primeiros a investigar a cultura musical brasileira foi o modernista Mário de
Andrade. Influenciado por esse trabalho, ele compôs o clássico caipira “Viola Quebrada”, em
parceria com Ary Kerney. Manuel Bandeira teve versos musicados por Villa-Lobos e, mais
tarde, por Tom Jobim. Ferreira Gullar fez parcerias com Fagner, Milton Nascimento e Pauli-
nho da Viola, além de incluir no “Poema Sujo” uma letra para “O Trenzinho do Caipira”, de Vil-
la-Lobos. Drummond e Henriqueta Lisboa também tiveram poemas musicados por diversos
compositores. Fernando Sabino era baterista nas horas vagas. (...)
Disponível em https://goo.gl/mfa8WV.
Acesso em 15-9-2015.
Literatura e cinema são artes diferentes, com linguagens distintas, mas complementares,
pois “O cinema torna não só compreensível o teatro, a poesia e a música, como também
o teatro interior do espírito: sonhos, imaginação, representações: o tal minúsculo
cinema que existe na nossa cabeça” (MORIN, 1970, p. 243).
Podemos pensar que o maior diretor e criador de um filme somos nós mesmos,
com nossa capacidade imaginativa. Por isso, na opinião de Jorge Furtado (2004), é
comum que uma pessoa “se decepcione quando vê as imagens criadas pelo cineasta
e diga: gostei mais do livro”.
capítulo 2 • 43
No entanto, devemos entender que o filme é uma adaptação da obra literária
e, por isso, se torna outra obra, que depende do ponto de vista do roteirista ao
querer destacar certas cenas e diálogos em detrimento de outros.
É claro que o filme, mesmo sendo uma nova obra, precisa manter um ponto
de convergência com a obra literária. Dito isso, “a adaptação deve dialogar não só
com o texto original, mas também com seu contexto, atualizando o livro, mesmo
quando o objetivo é a identificação com os valores neles expressos” (XAVIER,
2003, p. 62).
Preocupados em manter a fidelidade ao texto literário, “há cineastas que se
esforçam por uma equivalência integral do texto literário e tentam não se inspirar
no livro, mas adaptá-lo ou traduzi-lo para a tela” (BAZIN, 1999, p. 93). Porém, o
filme não precisa ser cópia fiel do livro. Desse modo, para ser uma boa adaptação,
o filme deve ser capaz de “restituir o essencial do texto e do espírito” (BAZIN,
1991, p. 96).
Veja alguns livros que abordam a realidade regional e que viraram filmes:
capítulo 2 • 44
• “Tenda dos Milagres”, de Jorge Amado;
• “O auto da compadecida”, de Ariano Suassuna.
capítulo 2 • 45
(...) das classes populares, "dança de gente" (...) e retrata, sim, um
tempo que não mais existe, porém, é tradição oral e deixa as suas
marcas nas gerações e na memória. Não tem caráter pedagógico,
mas é uma educação visual, política, estética, moral e filosófica. Não é
empobrecida pelo didatismo.
Eram ensinadas dançando e cantando, os mais antigos detinham a
honra de inserir na roda os mais novos e na hora determinada como
certa. Não eram danças infantis, mas poderiam assistir e aprender
assim, com a imitação e a brincadeira (Figueiredo, 2007, p. 26).
CURIOSIDADE
Quer saber mais sobre Luiz Gonzaga? Que tal ler a obra “Rei do Baião - do Nordeste Para
o Mundo”, de Arievaldo Viana, que conta a vida do músico em forma de literatura de cordel?
capítulo 2 • 46
Enquanto fenômeno perfeitamente determinado, o carnaval sobreviveu
até os nossos dias, (...). Conhece-se muito bem a história do carnaval,
descrita muitas vezes no decorrer dos séculos. Recentemente, nos
séculos XVIII e XIX, o carnaval conservava ainda alguns dos seus traços
particulares de festa popular de forma nítida, embora empobrecida.
O carnaval revela-nos o elemento mais antigo da festa popular, e
pode-se afirmar sem risco de erro que é o fragmento mais bem
conservado desse mundo tão imenso quanto rico. Isso autoriza-nos a
utilizar o adjetivo "carnavalesco" numa acepção ampliada, designando
não apenas as formas do carnaval no sentido estrito e preciso do
termo, mas ainda toda a vida rica e variada da festa popular (...).
Fandango
Na região centro-oeste, temos o samba, que chegou aqui com os negros, e era
dançado apenas nas senzalas. Com o passar do tempo, o Rio de Janeiro ajudou a
difundir esse ritmo pelo Brasil.
capítulo 2 • 47
Nas regiões centro-oeste, sul e sudeste, especificamente em São Paulo, Paraná,
Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso, a catira, também conhecida como cateretê, é
dançada com batidas de pés e palmas. A catira representa a cultura caipira, e pode
ser relacionada ao Jeca Tatu, personagem de Monteiro Lobato imortalizado na
atuação de Mazzaropi, por exemplo.
MULTIMÍDIA
Para conhecer a figura do Jeca Tatu e a catira, dentre as tradições populares, assista ao
filme “Tapete Vermelho”, ao longo do qual o espectador é apresentado a histórias e tradições
populares, como o feitiço da cobra que suga leite de mulher parida, a dança da catira, bem
como as habilidades de Zulmira como rezadeira.
Disponível em https://goo.gl/kTM4pT. Acesso em 15-9-2015.
Por fim, a quadrilha e o bumba meu boi são dançados nas mais variadas
regiões do país. A quadrilha é a dança da festa junina, onde os participantes
vestem roupagens típicas da tradição caipira. O bumba meu boi é considerado um
dos maiores símbolos folclóricos do Brasil e conta a lenda de um boi que pereceu
e ressuscitou, depois de ter sua língua cortada para agradar às vontades de uma
gestante. O bumba meu boi mistura dança, música e teatro.
capítulo 2 • 48
Como podemos observar, a dança faz parte das festas populares. Ela dialoga
com músicas, encenações teatrais, e formas literárias, atribuindo à cultura popular
uma imagem pública que representa o povo brasileiro dentro e fora de nosso país.
capítulo 2 • 49
No campo da música:
capítulo 2 • 50
elemento que contribui para expressar a diversidade cultural da Cidade de Deus é a
culinária, que é produto de uma série de tradições regionais d e todo o país.
Paulo Lins foi morador de “Cidade de Deus”. Talvez por isso, o filme tenha
conseguido captar e refletir o painel de vidas diferentes e situações cotidianas que
o livro traz, embora não tenha aberto espaço para a densidade social e psicológica
que aparece marcadamente no texto literário.
O filme foi sucesso de público e ganhou espaço entre os críticos, tendo sido
considerado uma obra-prima entre os filmes de guerra e ação. É interessante notar
que o filme fomentou inúmeras discussões acerca da pobreza no Brasil, fazendo
com que a Cidade de Deus se tornasse cartão-postal e ícone da cultura popular,
por espelhar o mundo das favelas brasileiras.
No que concerne a dança, é preciso lembrar que ela está diretamente relacionada
à festa, marcando celebrações e resgatando elementos típicos da tradição oral, em
forma de cantigas, repentes e poesias, e caminhando para um universo paralelo, pois:
capítulo 2 • 51
(...) nos dias festivos, as portas da casa abrem-se de par em par aos
convidados (no limite, a todos, ao mundo inteiro); nos dias de festa,
tudo se distribui em profusão (alimentos, vestimentas, decoração dos
cômodos), os desejos de felicidade de toda espécie subsistem ainda
(mas perderam quase totalmente o seu valor ambivalente), da mesma
forma que os votos, os jogos e os disfarces, o riso alegre, os gracejos,
as danças, etc. A festa é isenta de todo sentido utilitário (é repouso,
uma trégua, etc.). É a festa que, libertando de todo utilitarismo, de
toda finalidade prática, fornece o meio de entrar temporariamente
num universo utópico. É preciso não reduzir a festa a um conteúdo
determinado e limitado (por exemplo, à celebração de um acontecimento
histórico), pois na realidade ela transgride automaticamente esses
limites. É preciso também não arrancar a festa à vida do corpo da terra,
da natureza, do cosmos (Bakhtin, 1987, p. 241).
capítulo 2 • 52
reconhecidos como parte importante da construção da História do nosso país,
passando por censura ou exílio, por exemplo. Outros artistas permanecem no
anonimato, vendo suas obras se manterem vivas pela manifestação cultural de
dançarinos, artistas e cantores, também anônimos. Quanto à recepção, é bom
saber que muito do que abordamos neste capítulo ainda é praticado com gosto
por nosso povo brasileiro.
ATIVIDADE
01. O termo “cultura popular” caracteriza a cultura de uma classe social específica?
03. Por que o mamulengo pode ser considerado uma forma de “terapia” social?
REFLEXÃO
Como se pode verificar, a literatura é a arte mais popular; a mãe de todas as artes; a
mestra de outras artes com as quais dialoga, como o teatro, o cinema e a música.
Em relação a esta última arte, Luiz Tatit revela que a música:
capítulo 2 • 53
LEITURA
LUYTEN, Joseph. O que é Literatura popular. São Paulo, Ed. Brasiliense, 1983.
IMAGENS DO CAPÍTULO
Imagem 2.1 - http://br.web.img3.acsta.net/medias/nmedia/18/97/64/43/20541364.jpg
Imagem 2.2 - https://upload.wikimedia.org/wikipedia/pt/b/bf/O_auto_da_compadecida.jpg
Imagem 2.3 - http://www.wikidanca.net/wiki/images/6/62/Fandango5.jpg
Imagem 2.4 - http://wikidanca.net/wiki/images/c/ce/Boi1.jpg
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ARANTES, Antonio Augusto. O que é cultura popular. São Paulo: Brasiliense, 1981.
AJZENBERG, Bernardo. A obra. In: BRITO, José Domingos de. (org.) Mistérios da criação literária,
vol.6 Literatura e Música: depoimentos célebres e bibliografia. Disponível em http://www.tirodeletra.
com.br/curiosidades/Vol.6-LiteraturaeMusica.htm , acesso em 15-9-2016.
ASSIS BRASIL, Luiz Antonio de. Música e Literatura. In: BRITO, José Domingos de. (org.) Mistérios da
criação literária, vol. 6 Literatura e Música: depoimentos célebres e bibliografia. Disponível em http://
www.tirodeletra.com.br/curiosidades/Vol.6-LiteraturaeMusica.htm , acesso em 15-9-2016.
BAKHTIN, Mikhail. A cultura popular na idade média e no renascimento. São Paulo: Hucitec, 1987.
BAZIN, Andre. O cinema. São Paulo: Brasiliense, 1991.
______. Por um cinema impuro. São Paulo: Brasiliense, 1999.
BRITO, José Domingos de. Mistérios da criação literária In: BRITO, José Domingos de. (org.)
Mistérios da criação literária, vol. 6 Literatura e Música: depoimentos célebres e bibliografia. Disponível
em http://www.tirodeletra.com.br/curiosidades/Vol.6-LiteraturaeMusica.htm , acesso em 15-9-2016.
CAETANO, Marcelo Moraes. Música, alma da literatura. In: BRITO, José Domingos de. (org.) Mistérios
da criação literária, vol. 6 Literatura e Música: depoimentos célebres e bibliografia. Disponível em
http://www.tirodeletra.com.br/curiosidades/Vol.6-LiteraturaeMusica.htm , acesso em 15-9-2016.
CASCUDO, Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. 11. ed. São Paulo: Global, 2002.
FIGUEIREDO, Valéria Maria Chaves de. Gente em cena: fragmentos e memórias da dança em Goiás.
2007. 80 p. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Estadual de
Campinas, Campinas, 2007.
capítulo 2 • 54
FURTADO, Jorge. A adaptação literária para o cinema e televisão. 10ª Jornada Nacional de
Literatura, Passo Fundo, RS, agosto de 2003.
LUCAS, Fábio. Literatura e Música. In: BRITO, José Domingos de. (org.) Mistérios da criação literária,
vol. 6 Literatura e Música: depoimentos célebres e bibliografia. Disponível em http://www.tirodeletra.
com.br/curiosidades/Vol.6-LiteraturaeMusica.htm , acesso em 15-9-2016.
MAURÍCIO, Ivan et al (orgs). Manifesto de lançamento do Teatro Popular do Nordeste In: Hermilo vivo
- vida e obra de Hermilo Borba Filho. Recife: Comunicarte, 1981.
MORIN, Edgar; VASCONCELLOS, Antônio Pedro. O cinema ou o homem imaginário: ensaio de
antropologia. Lisboa: Moraes, 1970.
_____. Cultura de massas no século XX: o espírito do tempo. São Paulo: Forense Universitária, 1967.
_____. O Paradigma Perdido: A Natureza Humana. Seuil: Publicações Europa-América LDA, 1973.
SANTOS, Jorge Fernando dos. As letras na pauta. In: BRITO, José Domingos de. (org.) Mistérios da
criação literária, vol. 6 Literatura e Música: depoimentos célebres e bibliografia. Disponível em http://
www.tirodeletra.com.br/curiosidades/Vol.6-LiteraturaeMusica.htm , acesso em 15-9-2016.
SANTOS, Luiz Henrique Lopes dos; MOURA, Mariluce. Um crítico na periferia do capitalismo.
Universia, Abril de 2003. Disponível em: http://www.universiabrasil.net/html/materia/ materia_dggi.html
Acesso em 30 julho 2006.
TATIT, Luiz. O século da canção. Cotia: Ateliê Editorial, 2004.
XAVIER, Ismail (Org.). A experiência do cinema: antologia. Rio de Janeiro: Graal, 1983.
capítulo 2 • 55
capítulo 2 • 56
3
A literatura
regional
A literatura regional
Neste capítulo, iremos além do estudo de obras, pois nosso enfoque recai sobre
os movimentos representativos da literatura regional ao logo da nossa História.
Para realizarmos nosso intento, também se faz necessário explorar o contexto
social e histórico que marca os movimentos estéticos literários aqui abordados.
O material que nos ajudará a compor o capitulo sobre a literatura regional
brasileira inclui o conjunto de obras escritas por Antonio Candido, crítico literário.
OBJETIVOS
Neste capítulo, temos como finalidade unir os seguintes objetivos:
Para atingirmos nossa finalidade, podemos enfocar a literatura regional a partir do tema
abordado, da região de produção, ou do momento de publicação. Para uma abordagem
mais didática, melhor se faz o estudo da literatura popular regional enfocando movimentos
representativos de cada momento da História brasileira.
capítulo 3 • 58
necessidade do ser humano de se enquadrar no ambiente que o cerca. A Sociologia
e a Etnologia, que estudam a cultura popular, não têm como objetivo fazer juízo
de valor, mas identificar as manifestações permanentes e coerentes dentro de uma
nação ou comunidade. (Disponível em https://www.significados.com.br/cultura-
popular/. Acesso em 10-92016.)
Os estudos sobre folclore e cultura popular brasileira como elementos possíveis
para se compreender a formação de uma identidade nacional tiveram início em
meados do século XIX.
A história do regionalismo e da cultura popular no Brasil passa por várias
temáticas, de acordo com as fases de nossa História, bem como das regiões de
nossos artistas.
• Índio
• Negro
• Sertanejo
• Caipira
• Jagunço
• Povo brasileiro como um todo
capítulo 3 • 59
(...) primitivos habitantes, em estado de isolamento ou na fase dos
contatos com o branco; habitantes rústicos, mais ou menos isolados
da influência europeia direta. Daí as duas direções: indianismo,
regionalismo. O problema referido é o da expressão literária adequada
a cada uma delas (CANDIDO, 1997, v. 2, p. 102-103).
Ferreira Gullar salienta que o escritor pode e deve assumir uma postura crítica
em face da realidade brasileira, por isso:
capítulo 3 • 60
Retomando os movimentos artísticos literários, podemos entender que a
literatura regional sempre foi importante para a formação da literatura brasileira. O
Arcadismo e o Romantismo já eram compostos de regionalismo, e o Modernismo
de 1922 retoma o regionalismo como um momento de renovação cultural
determinante para a arte brasileira.
capítulo 3 • 61
A década de 1960 é marcada pelo surgimento do Centro Popular de Cultura
– CPC. Para seus integrantes, há uma distinção entre as várias maneiras de se
encarar a cultura popular:
• a arte popular alienada, sinônimo de folclore;
• a arte popular produzida por profissionais e especialistas para o público
da cidade grande;
• a arte popular revolucionária, produzida com o intuito de formar a
consciência social dos indivíduos menos abastados.
Passemos, agora, ao estudo dos autores e obras de acordo com cada período da
nossa literatura regional. As abordagens serão realizadas em maior ou menor grau,
de acordo com a importância dos elementos a ressaltar.
capítulo 3 • 62
A literatura regional no romantismo
Bernardo Guimarães
capítulo 3 • 63
Bernardo Guimarães conseguiu compor um bom romance com:
Távora quis retratar aquilo que conhecia, tornando a literatura uma forma de
vivência, e pode-se afirmar que:
capítulo 3 • 64
A virtude maior de Távora foi sentir a importância literária de um
levantamento regional; sentir como a ficção é beneficiada pelo contato
de uma realidade concretamente demarcada no espaço e no tempo,
que serviria de limite e em certos casos, no Romantismo, de corretivo
à fantasia. Ora, para ele este contato se funda na experiência direta da
paisagem, que o romancista deve conhecer e descrever precisamente
(CANDIDO, 1997, v. 2, p. 269).
capítulo 3 • 65
Lidar com uma literatura de cunho regional não era fácil, pois:
capítulo 3 • 66
A literatura regional no pré-modernismo em Monteiro Lobato
Monteiro Lobato
AUTOR
Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, no interior de São Paulo, no ano de 1882.
Formou-se em Direito e atuou como promotor público até se tornar fazendeiro, após receber
uma herança deixada pelo avô. Foi durante este período que Lobato passou a publicar seus
primeiros contos em jornais e revistas, posteriormente reunidos em “Urupês”.
Foi também editor, editando livros no Brasil, e foi o grande responsável por uma série de
renovações nos livros didáticos e infantis. Muitos de seus personagens giram em torno do
universo caipira, como Jeca Tatu e os integrantes de “O Sítio do Pica-Pau Amarelo”, que até
hoje encanta crianças e adultos.
No ano de 1948, morre este grande contista, ensaísta e tradutor, que tanto contribuiu
para a nossa literatura.
Lobato nos revela uma face do Brasil rural ao retratar a vida na região do
Vale do Paraíba, no interior do estado de São Paulo. Tendo vivido no início
do século XX, suas personagens, bem como o discurso lobatiano, ganham tons
cômicos, compassivos, ou caricaturais e patéticos. Sua literatura popular enfatiza
os costumes, as pessoas e o declínio da economia cafeeira.
capítulo 3 • 67
Segundo Candido, o homem caipira ganha representação com o personagem
Jeca Tatu, de Monteiro Lobato, uma espécie de caricatura de um caipira desnutrido,
indolente e humilde.
capítulo 3 • 68
Na verdade, é preciso entender e valorizar o modo como a cultura caipira se
desenvolveu e se conservou.
A cultura do caipira (...) não foi feita para o progresso: a sua mudança é
o seu fim, porque está baseada em tipos tão precários de ajustamento
ecológico e social, que a alteração destes provoca a derrocada das
formas de cultura por eles condicionada. Daí o fato de encontrarmos
nela uma continuidade impressionante, uma sobrevivência das formas
essenciais, sob transformações de superfície, que não a caipira deixou
de o ser (CANDIDO, 2001, p. 107-108).
capítulo 3 • 69
O movimento de reivindicação e a onda surda da tomada de consciência
de uma classe ecoaram de certo modo no domínio estético, e a massa
começou a ser tomada como fator de arte, os escritores procurando
opor à literatura e à mentalidade litorâneas a verdade, a poesia, o sentido
humano da massa rural e proletária, esta um prolongamento urbano do
pária sertanejo. Dentro da sua linha própria de desenvolvimento interno,
o romance correu paralelo, interagindo com a evolução social, recebendo
as repercussões (CANDIDO, 2004, p. 42).
Já na terceira fase do modernismo, que é a que mais nos interessa neste capítulo,
um excelente exemplo de superação do regional pitoresco para o regional “real” é
Guimarães Rosa, um dos principais representantes do regionalismo brasileiro, do
qual passaremos a tratar.
Guimarães Rosa
Muitas são suas obras consagradas, mas é com “Sagarana”, livro de contos
de Guimarães Rosa publicado em 1946, que o regionalismo ganha uma
capítulo 3 • 70
nova perspectiva, um novo significado, com a característica de experiência
estética universal.
Em “Textos de Intervenção”, Candido trata da literatura regionalista:
Guimarães Rosa
AUTOR
Em 1908, nasce João Guimarães Rosa, no dia 27 de junho, em Cordisburgo, Minas Gerais.
Em 1929, escreve quatro contos e recebe prêmios por esses contos em concurso da
revista “O Cruzeiro”.
Em 1930, forma-se em Medicina e casa-se com Lygia Cabral Pena.
Em 1932, trabalha como médico voluntário da Força Pública, na época da Revolução
Constitucionalista de 1932.
Em 1936, seu livro de poemas, “Magma”, vence o Prêmio da Academia Brasileira de Letras.
Em 1937, escreve os contos que integram “Sagarana”. Concorre ao Prêmio Humberto
de Campos e fica em 2º lugar.
capítulo 3 • 71
Em 1946, “Sagarana” é publicado e recebe o Prêmio Sociedade Felipe d’Oliveira.
Em 1956, publica “Corpo de Baile” e lança “Grande Sertão: Veredas”, recebendo por este
último os Prêmios Machado de Assis, Prêmio Carmem Dolores Barbosa e Prêmio Paula Brito.
Em 1963, entra para a Academia Brasileira de Letras.
Entre 1965 e 1966, seus livros são traduzidos para vários países, como França, Itália,
Estados Unidos, Canadá, Alemanha, Espanha, Polônia, Holanda e Checoslováquia.
Em 19 de novembro 1967, falece, vítima de enfarte.
É importante saber que Guimarães Rosa traz Minas gerais para a literatura,
mas não como algo pitoresco, pois:
(...) “Sagarana” não vale apenas na medida em que nos traz um certo
sabor regional, mas na medida em que constrói um certo sabor regional,
isto é, em que transcende a região. A província do sr. Guimarães Rosa,
no caso Minas, é menos uma região do Brasil do que uma região da
arte, com detalhes e locuções e vocabulário e geografia cosidos de
maneira por vezes quase irreal, tamanha é a concentração com que
trabalha o autor (CANDIDO, 2002, p. 185).
capítulo 3 • 72
Pensando assim:
capítulo 3 • 73
É fato que Guimarães Rosa conseguiu fugir do naturalismo típico da tendência
regional de Graciliano Ramos, por exemplo, fazendo com que o leitor seja levado
a pensar sobre o que se narra, (...) “fugindo a qualquer naturalismo e levando, não
à solução, mas à suspensão que marca a verdadeira obra de arte, e permite a sua
ressonância na imaginação e na sensibilidade” (CANDIDO, 2002, p. 123).
Desse modo:
A literatura popular ganha novos ares com Simões Lopes Neto, com menos
artificialidade que autores dos períodos anteriores.
capítulo 3 • 74
PERGUNTA
É possível escrever um romance que seja exemplar de literatura regional, sem expor uma
linguagem também regional?
Isso foi possível porque Simões Lopes Neto escreveu “Contos Gauchescos”:
“Contos Gauchescos”
capítulo 3 • 75
Depois disso, a literatura regional tardou a ganhar independência com o chamado
“super-regionalismo”, expressão criada por Antonio Candido para designar um
“super-realismo”, expresso no trabalho de autores arraigados em suas regiões, com uma
linguagem nova, como João Cabral de Melo Neto, em “Morte e Vida Severina”.
AUTOR
João Cabral de Melo Neto nasceu na cidade do Recife, em 6 de janeiro de 1920, e
faleceu no dia 9 de outubro de 1999, no Rio de Janeiro, aos 79 anos. Eleito membro da
Academia Brasileira de Letras em 15 de agosto de 1968, tomou posse em 6 de maio de
1969. Foi recebido por José Américo.
(...)
Da obra poética de João Cabral, pode-se mencionar ao acaso, por sua variedade, os
seguintes títulos: "Pedra do sono", 1942; "O engenheiro", 1945; "O cão sem plumas", 1950;
"O rio", 1954; "Quaderna", 1960; "Poemas escolhidos", 1963; "A educação pela pedra",
1966; "Morte e vida severina e outros poemas em voz alta", 1966; "Museu de tudo", 1975; "A
escola das facas", 1980; "Agreste", 1985; "Auto do frade", 1986; "Crime na Calle Relator",
1987; "Sevilla andando", 1989.
Em prosa, além do livro de pesquisa histórica citado, João Cabral publicou "Juan Miró",
em 1952 e "Considerações sobre o poeta dormindo", em 1941.
Disponível na https://goo.gl/cQ5Xv5. Acesso em 20-9-2016.
capítulo 3 • 76
O regionalismo não é uma linguagem regional, que o inutilizaria, mas
falar de problemas que estão mais próximos da pessoa que fala: a
dor do homem, a alegria, as suas lutas e as suas belezas etc. Não,
é claro, com a limitação de uma linguagem local, que inutiliza a
expressão universal e a transmissão objetiva do conteúdo humano do
poema ou do romance (...). Apenas com aquele interesse intrínseco
do humano, na valorização do humano. O que limita o regionalismo
não é o tema de interesse circunscrito, mas a linguagem, com seus
perigos de fixação que lhe poderá inutilizar a universalidade (...). O que
interessa é o problema do homem. Quando me bato pelo regionalismo
é para mostrar, numa anedota, o local, os sentimentos comuns a todos
os homens. O homem só é amplamente homem quando é regional
(...).O perigo do regionalismo para o poeta é também a limitação da
linguagem, porque o conteúdo psicológico lá está indiretamente no
seu conteúdo humano (...) (ATHAYDE, 1998).
Como se vê, a literatura regional não trata apenas de certa região de nosso
país, mas sim da nossa gente; da valorização do humano, com seu linguajar, seu
jeito de ver a vida e seu modo de viver.
REFLEXÃO
Para encerrar nosso capítulo e nossas reflexões a respeito da literatura regional ou regionalista,
vale expor a explicação de Antonio Candido sobre o regionalismo na literatura brasileira:
capítulo 3 • 77
Depois de 1930 houve uma fecundação do regionalismo em duas
direções, que ocorreram sucessivamente. A primeira foi devida sobretudo
a ficcionistas do nordeste e consistiu em superar a alienação folclórica
por meio da consciência social, que problematizou a vida rural e, por
outro lado, procurou aproximar o homem rústico do homem da cidade,
invertendo de certo modo a natureza do discurso da fase anterior, ao
tentar uma injeção equilibrada da simplicidade coloquial na norma culta.
A segunda direção, que denominei “super-regionalismo” (pensando em
“surrealismo”, ou “super-realismo”) foi uma literatura de sublimação, na
medida em que incorporou o experimentalismo modernista. Um autor
como Guimarães Rosa privilegiou a função poética da linguagem e viu a
sua tarefa como invenção, não reprodução pitoresca. (...)
A tipologia acima é aproximativa e visa sobretudo às predominâncias,
mas é preciso lembrar que as três tendências podem ocorrer em grau
maior ou menor (...) (FISCHER, 2005, p. 33-34).
LEITURA RECOMENDADA
ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 1994.
IMAGENS DO CAPÍTULO
Imagem 3.1 - https://pt.wikipedia.org/wiki/Bernardo_Guimar%C3%A3es#/media/File:Bernardo_
Guimar%C3%A3es_(Iconogr%C3%A1fico).jpg
Imagem 3.2 - https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/5e/Lobato_arte.jpg
Imagem 3.3 - http://www.academia.org.br/academicos/joao-guimaraes-rosa/biografia
Imagem 3.4 - http://t1.gstatic.com/images?q=tbn:ANd9GcQsC4Niph741BRdB3fP3W_WHDRK6_
eU-097iMaeo-VALynmTfVK
Imagem 3.5 - https://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Cabral_de_Melo_Neto#/media/
File:JoaoCabral.JPG
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ATHAYDE, Félix de. Ideias Fixas de João Cabral de Melo Neto. Rio de Janeiro: Nova Fronteira /
Fundação Biblioteca Nacional / Universidade de Mogi das Cruzes, 1998.
GULLAR, Ferreira. Cultura posta em questão. Rio de Janeiro: Editora civilização brasileira, 1965.
capítulo 3 • 78
FISCHER, Luís Augusto. Antonio Candido: Um olhar decisivo sobre o Brasil. In:
Arquipélago – Revista de Livros e Idéias, nº 1, Porto Alegre, mar. 2005.
ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 1994.
SATRIANI, Luigi M. Lombardi. Antropologia cultural e análise da cultura subalterna. São Paulo:
Editora Hucitec, 1986.
CANDIDO, Antonio. Brigada Ligeira. 3ª ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre Azul, 2004.
CANDIDO, Antonio. Textos de Intervenção. Org. Vinícius Dantas. São Paulo: Duas Cidades/Ed. 34, 2002.
CANDIDO, Antonio. Tese e Antítese. 4ª ed. São Paulo: T. A. Queiroz, 2002.
CANDIDO, Antonio. Formação da literatura brasileira: momentos decisivos. 2v. 8ª ed. Belo
Horizonte: Itatiaia, 1997.
CANDIDO, Antonio. Os Parceiros do Rio Bonito. 9ªed. São Paulo: Duas Cidades/Ed. 34, 2001.
CANDIDO, Antonio. Vários escritos. 4ª ed. Rio de Janeiro: Ouro Sobre Azul; São
Paulo: Duas Cidades, 2004.
PELLEGRINI, T. Despropósitos. São Paulo: Annablume/Fapesp, 2008.
WILLIAMS, R. O campo e a cidade. São Paulo: Companhia das letras, 1989.
capítulo 3 • 79
capítulo 3 • 80
4
A literatura regional
popular: tecendo
considerações
A literatura regional popular: tecendo
considerações
OBJETIVOS
• Tratar do poder advindo dos discursos populares e das diferentes esferas sociais;
• Observar o papel da produção de cultura de massa nas transformações subjetivas e coletivas;
• Estudar o surgimento da literatura de cordel como expressão popular;
• Conhecer a origem dos centros de estudos culturais.
capítulo 4 • 82
Literatura paulista não precisa existir, insinua Candido, mais do que na
vida real. Quer dizer (explicito eu): não é preciso pensar numa categoria
como literatura paulista para que exista a literatura paulista ela mesma,
os autores e as obras. E por que não precisa existir a categoria, na visão
de Candido? Porque São Paulo, cidade ou estado, é suficientemente
existente e central para impor sua presença, sua marca, sua influência
sobre os escritores; tão suficientemente existente que é o próprio
centro do Brasil.
Outro é o caso gaúcho e pernambucano, naturalmente. Um e outro
estados, de maneira exclusiva na história brasileira, experimentaram
por breve, mas marcante período, a independência, a vida autônoma,
no caso pernambucano durante a chamada dominação holandesa,
num momento que terá ficado no imaginário do povo a tal ponto
que não serão poucas as tentativas de busca por maior autonomia
de então em diante, especialmente no episódio da Confederação
do Equador, e no caso gaúcho durante a República do Piratini, pelo
menos. Duas províncias que lutaram por maior autonomia e que até
hoje são reconhecidas, interna e externamente, como singularmente
afeitas às ideias republicanas e federalistas.
Assim, não estaremos afastados da justa interpretação quando
notarmos que a enumeração de Candido fere os casos centrais a
considerar quando se trata de literatura regional. Dito de modo liso e
direto: a noção de regionalidade está, no quadro brasileiro, vinculada
diretamente à experiência do poder sobre o conjunto do país, ao longo
de sua formação (FISCHER, 2004, p. 8-9).
capítulo 4 • 83
(...)
Em tudo você vai ver
Uma dose de cultura;
Nas roupas que nós vestimos,
Na nossa literatura...
Os cocos e as emboladas
São a cultura mais pura.
(...)
E pra concluir: cultura
É algo bem natural;
São lendas, crenças de um povo,
É território atual.
São histórias, são costumes,
E é progresso social.
Moreira de Acopiara
capítulo 4 • 84
A cultura é uma criação social, mas que expressa algo natural de dentro de
cada região, demonstrando o progresso social:
capítulo 4 • 85
Entretanto, a integração da cultura é algo a se pensar, porque:
Uma boa comunidade, uma cultura viva, irá, por causa disso, não
apenas dar espaço para, mas encorajar ativamente, todo e qualquer
um que possa contribuir para o avanço em consciência que é a
necessidade comum... Precisamos considerar com toda a atenção
qualquer afeto, qualquer valor, pois não conhecemos o futuro, pode
ser que jamais estejamos certos do que pode enriquecê-lo (WILLIAMS
apud EAGLETON, 2005, p. 168).
capítulo 4 • 86
A cultura não é unicamente aquilo de que vivemos. Ela também é,
em grande medida, aquilo para que vivemos. Afeto, relacionamento,
memória, parentesco, lugar, comunidade, satisfação emocional, prazer
intelectual, um sentido de significado último: tudo isso está mais
próximo, para a maioria de nós, do que cartas de direitos humanos ou
tratados de comércio (EAGLETON, 2005, p. 184).
Pluralidade cultural
Desse modo, o diálogo entre as diversas culturas, bem como a relação entre os
vários tipos de literatura:
capítulo 4 • 87
A produção de cultura de massa nas transformações subjetivas
e coletivas
capítulo 4 • 88
cultura e consumo
capítulo 4 • 89
A cultura é ainda uma forma de expressão e tradução da realidade que
se faz de forma simbólica, ou seja, admite-se que os sentidos conferidos
às palavras, às coisas, às ações e aos atores sociais se apresentam de
forma cifrada, portando já um significado e uma apreciação valorativa
(PESAVENTO, 2003, p. 15).
O pintor Almeida Júnior, autor de obras como “O Violeiro”, foi citado durante colóquio na
USP sobre o livro “Os Parceiros do Rio Bonito”, de Antonio Candido
(imagem: Pinacoteca do Estado de São Paulo)
capítulo 4 • 90
A cultura de massa, também chamada de indústria cultural, visa atingir a
massa popular, sem qualquer tipo de distinção por sexo, raça, idade, classe
socioeconômica, etc. "Para os teóricos norte-americanos dos anos 1940-1950, a
cultura de massa representa a afirmação e a aposta na sociedade de democracia
completa" (MARTIN-BARBERO,1997, p. 69). Nesse ponto, a cultura de massa
traz uma ideia de pertencimento, ou seja, de que todos fazem parte de uma mesma
comunidade, sem distinção e padronizada. Isso acontece porque cultura de massa:
capítulo 4 • 91
Nesse ponto, não é demais reforçar que:
A cultura popular não quer reprimir, domar instintos, nem mesmo fazer com
que seus receptores sigam uma vida inexorável, rígida, severa. Ora, se a cultura
tem o papel de veicular valores e visões de mundo:
A literatura de cordel
capítulo 4 • 92
Literatura de Cordel A minha literatura
É poesia popular, De cordel é reflexão
É história contada em versos Sobre a questão social
Em estrofes a rimar, E orienta o cidadão
Escrita em papel comum A valorizar a cultura
Feita pra ler ou cantar. E também a educação.
Cordel
capítulo 4 • 93
CONCEITO
Xilogravura significa gravura em madeira. É uma técnica antiga, de origem chinesa,
em que o artesão utiliza um pedaço de madeira para entalhar um desenho, deixando em
relevo a parte que pretende reproduzir. Em seguida, utiliza tinta para pintar a parte em relevo
do desenho. Na fase final, é utilizado um tipo de prensa para exercer pressão e revelar a
imagem no papel ou outro suporte. Um detalhe importante é que o desenho sai ao contrário
do que foi talhado, o que exige um maior trabalho do artesão.
Existem dois tipos de xilogravura: a xilogravura de fio e a xilografia de topo. Elas se
distinguem pela forma como se corta a árvore. Na xilogravura de fio (também conhecida
como madeira à veia ou madeira deitada), a árvore é cortada no sentido do crescimento,
longitudinal; na xilografia de topo (ou madeira em pé), a árvore é cortada no sentido
transversal ao tronco.
A xilogravura é muito popular na região nordeste do Brasil, local de origem dos mais
populares xilogravadores (ou xilógrafos) brasileiros. A xilogravura era frequentemente utilizada
para ilustrar textos de literatura de cordel. Alguns cordelistas também eram xilogravadores,
por exemplo, o pernambucano José Francisco Borges.
A xilogravura também é gravada em peças de azulejo, reproduzindo desenhos de menor
dimensão. Essa é uma das técnicas que o artesão pernambucano Severino Borges utiliza em
seus trabalhos.
Disponível em https://www.significados.com.br/xilogravura/. Acesso em 22-9-2016
capítulo 4 • 94
Embora haja divergências na data de origem, costuma-se marcar o aparecimento do
cordel na segunda metade do século XIX, principalmente na região entre Bahia e Pará.
No entanto, Diégues Júnior revela que:
capítulo 4 • 95
A literatura de mascate, de cordel ou folhas volantes, esteve
provavelmente presente no Brasil, como no resto da América
Latina, desde os tempos coloniais: documentos comprovam o
embarque regular de pliegos sueltos para as colônias espanholas.
Contudo, o primeiro folheto brasileiro, encontrado por Orígenes
Lessa, é datado de 1865 e foi publicado no Recife. Escrito sobre
o modelo de testamentos de animais, tão apreciados pela literatura
de cordel portuguesa, ele contém alusões a acontecimentos da vida
pernambucana que comprovam sua escritura brasileira. A partir de
1893, a literatura de folhetos constitui, aos poucos, um conjunto
complexo e independente do sistema literário institucionalizado
com seus poetas e suas editoras que, até os anos 1960, pertencem
frequentemente a poetas. Esta literatura tem suas próprias redes
de comercialização (os mascates), sendo vendida nas feiras, nas
estações ferroviárias e rodoviárias, e até nas ruas.
capítulo 4 • 96
A literatura de cordel é a expressão do povo, é:
Para Drummond, literatura de cordel é mais que crônica poética ou história popular:
CURIOSIDADE
Na época dos povos conquistadores greco-romanos, fenícios, cartagineses,
saxões, entre outros, a literatura de cordel já existia, tendo chegado à Península Ibérica
(Portugal e Espanha) por volta do século XVI. Na Península, a literatura de cordel
recebeu os nomes de "pliegos sueltos" (Espanha) e "folhas soltas" ou "volantes"
(Portugal). Florescente, principalmente na área que se estende da Bahia ao Maranhão,
esta maravilhosa manifestação da inteligência brasileira mereceria, no futuro, um
estudo mais profundo e criterioso de suas peculiaridades particulares.
capítulo 4 • 97
O grande mestre de Pombal, Leandro Gomes de Barros, que nos emprestou régua
e compasso para a produção da literatura de cordel, foi de extrema sinceridade quando
afirmou na peleja de Riachão com o Diabo, escrita e editada em 1899:
"Esta peleja que fiz não foi por mim inventada, um velho daquela época
a tem ainda gravada minhas aqui são as rimas exceto elas, mais nada."
Oriunda de Portugal, a literatura de cordel chegou no balaio e no coração dos
nossos colonizadores, instalando-se na Bahia, mais precisamente em Salvador. Dali,
irradiou-se para os demais estados do nordeste. A pergunta que mais inquieta e intriga
os nossos pesquisadores é, "Por que exatamente no nordeste?". A resposta não está
distante do raciocínio livre nem dos domínios da razão. Como é sabido, a primeira
capital da nação foi Salvador, ponto de convergência natural de todas as culturas,
permanecendo assim até 1763, quando foi transferida para o Rio de Janeiro.
Na indagação dos pesquisadores, no entanto, há lógica, porque os poetas de
bancada ou de gabinete, como ficaram conhecidos os autores da literatura de cordel,
demoraram a emergir do seio bom da terra natal. Mais tarde, por volta de 1750, é
que apareceram os primeiros vates da literatura de cordel oral. Engatinhando e sem
nome, após um período relativamente longo, a literatura de cordel foi batizada de
poesia popular.
Foram esses bardos do improviso os precursores da literatura de cordel escrita. Os
registros são muito vagos, sem consistência confiável, de repentistas ou violeiros antes
de Manoel Riachão ou Mergulhão. Mas Leandro Gomes de Barros, nascido no dia 19
de novembro de 1865, teria escrito a peleja de Manoel Riachão com o Diabo em fins
do século passado.
Sua afirmação na última estrofe dessa peleja (ver detalhe) é um rico documento,
pois evidencia a não contemporaneidade do Riachão com o rei dos autores da literatura
de cordel. Ele nos dá um amplo sentido de longa distância ao afirmar: "Um velho
daquela época a tem ainda gravada”.
Disponível em http://www.ablc.com.br/ocordel.html. Acesso em 22-9-2016.
capítulo 4 • 98
Ariano Suassuna
Ariano Suassuna
Com relação à tradição popular nordestina, o próprio escritor nos revela que
“O Auto da Compadecida” teve seu texto baseado em narrativas populares do
nordeste, em especial as contidas nas obras de literatura de cordel: “O enterro
do cachorro”, “O cavalo que defecava dinheiro” e “O castigo da soberba”
(SUASSUNA, 2005, p. 179).
capítulo 4 • 99
AUTOR
Sexto ocupante da Cadeira nº 32, eleito em 3 de agosto de 1989, na sucessão de
Genolino Amado, e recebido em 9 de agosto de 1990 pelo acadêmico Marcos Vinicios
Vilaça. Faleceu no dia 23 de julho de 2014, no Recife, aos 87 anos.
Ariano Vilar Suassuna nasceu em Nossa Senhora das Neves, hoje João Pessoa (PB), em
16 de junho de 1927. (...)
Em 1950, formou-se na Faculdade de Direito e recebeu o Prêmio Martins Pena pelo
“Auto de João da Cruz”. Para curar-se de doença pulmonar, viu-se obrigado a mudar-se de
novo para Taperoá. Lá, escreveu e montou a peça “Torturas de um Coração” em 1951. Em
1952, volta a residir em Recife. Desse ano a 1956, dedicou-se à advocacia, sem abandonar,
porém, a atividade teatral. São desta época “O Castigo da Soberba” (1953), “O Rico
Avarento” (1954) e o “O Auto da Compadecida” (1955), peça que o projetou em todo o país
e que seria considerada, em 1962, por Sábato Magaldi, “o texto mais popular do moderno
teatro brasileiro”.
(...)
Em 1959, em companhia de Hermilo Borba Filho, fundou o Teatro Popular do Nordeste,
que montou em seguida a “Farsa da Boa Preguiça” (1960) e “A Caseira e a Catarina” (1962).
No início dos anos 1960, interrompeu sua bem-sucedida carreira de dramaturgo para
dedicar-se às aulas de Estética na UFPe. Lá, em 1976, defende a tese de livre-docência “A
Onça Castanha e a Ilha Brasil: Uma Reflexão sobre a Cultura Brasileira”. Aposenta-se como
professor em 1994.
Foi membro fundador do Conselho Federal de Cultura (1967). Foi nomeado, pelo Reitor
Murilo Guimarães, diretor do Departamento de Extensão Cultural da UFPe (1969). Ligado
diretamente à cultura, iniciou, em 1970, em Recife, o “Movimento Armorial”, interessado no
desenvolvimento e no conhecimento das formas de expressão populares tradicionais.
(...)
Disponível em https://goo.gl/6x456W. Acesso em 12-9-2016.
capítulo 4 • 100
no sertão, preocupado em relatar a realidade, não quanto ao pitoresco, mas sim
quanto aos aspectos sociais e humanos mais relevantes.
MULTIMÍDIA
Assista ao filme “O Auto da Compadecida”, baseado na obra literária homônima em
https://www.youtube.com/watch?v=EFmB8Qo-g-k. Acesso em 26-9-2016.
capítulo 4 • 101
(...) o grupo do CCCS alarga o conceito de cultura para que sejam
incluídos dois temas adicionais. Primeiro: a cultura não é uma entidade
monolítica ou homogênea, mas, no sentido oposto, manifesta-se de
maneira diferenciada em qualquer formação social ou época histórica.
Segundo: a cultura não significa simplesmente sabedoria recebida ou
experiência passiva, mas um grande número de intervenções ativas —
expressas mais notavelmente através do discurso e da representação
— que podem tanto mudar a história quanto comunicar o passado.
Por acentuar a natureza diferenciada da cultura, a perspectiva dos
estudos culturais britânicos pode relacionar a produção, distribuição
e recepção culturais a práticas econômicas que estão, por sua vez,
intimamente relacionadas à constituição do sentido cultural (AGGER,
1992, p.89, tradução nossa).
capítulo 4 • 102
ATIVIDADE
01. A literatura regional popular tem um papel de cuidado?
REFLEXÃO
Encerramos nosso capítulo e nosso livro sugerindo uma reflexão em torno
da ideia de que:
LEITURA RECOMENDADA
ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. 4. ed. São Paulo: Brasiliense, 1994.
IMAGENS DO CAPÍTULO
Imagem 4.1 - http://www.dgabc.com.br/Noticia/234521/momento-de-ouro-do-cordel
Imagem 4.2 - http://avisala1.tempsite.ws/portal/wp-content/uploads/2009/02/avisala_37_mala2.jpg
Imagem 4.3 - http://3.bp.blogspot.com/_HP823d34yVk/TEENqh7p0gI/AAAAAAAABm4/
VXdxdGvCtlU/s1600/blog-charge-turistas.jpg
Imagem 4.4 - http://agencia.fapesp.br/agencia-novo/imagens/noticia/20282.jpg
capítulo 4 • 103
Imagem 4.5 - https://pt.wikipedia.org/wiki/Literatura_de_cordel#/media/File:Literatura_de_cordel.jpg
Imagem 4.6 - https://d2m2c9wovu25l7.cloudfront.net/autores/ariano-suassuna.jpg
Imagem 4.7 - https://upload.wikimedia.org/wikipedia/en/d/d1/O_Auto_da_Compadecida.jpg
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABREU, Márcia. Cordel português / folhetos nordestinos: confrontos um estudo histórico-
comparativo. Campinas: Instituto de Estudos da Linguagem/UNICAMP, 1993. (Tese de Doutorado em
Teoria Literária). Disponível em http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/
document/?code=vtls000065537. Acesso em 2-9-2016.
ACOPIARA, Moreira de. O que é cultura popular. Xilogravura de Erivaldo da Silva. São Paulo: Acatu, 2006.
AGGER, Ben 1992: Cultural Studies as Critical Theory. London/Washington DC:The Falmer Press.
BARRETO, Luiz Antonio. Um novo entendimento do folclore e outras abordagens culturais. 2. ed.
Sociedade Editorial de Sergipe: Sergipe, 1997.
BARROSO, Maria Helenice. Os cordelistas no D.F.: dedilhando a viola, contando a história.
Dissertação de Mestrado pela Universidade de Brasília – UnB, 2006.
BOSI, Alfredo. Dialética da colonização. São Paulo: Cia. das Letras, 2006.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A educação como cultura. Campinas, São Paulo: Mercado de Letras, 2002.
CANDIDO, Antonio. Textos de Intervenção. Org. Vinícius Dantas. São Paulo: Duas Cidades/Ed. 34, 2002.
CAVALCANTI, Maria Laura Viveiros de Castro. Cultura e saber do povo: uma perspectiva antropológica.
In: Revista Tempo Brasileiro, Rio de Janeiro, out./dez. 2001. (pp. 1-11)
CHAUI, Marilena. Conformismo e resistência: aspectos da cultura popular no Brasil. São Paulo:
Brasiliense, 1996.
CURRAN, Mark. História do Brasil em cordel. São Paulo: Edusp, 2001.
DIEGUES JR., M. Literatura de cordel. Apresentação a BATISTA, S.N. Antologia da literatura de
cordel. Natal: Gráfica Manimbu, 1977. pp. I-XXVI.
DIÉGUES JÚNIOR, Manuel. Características dos ciclos temáticos. In: Literatura popular em verso:
estudos. Rio de Janeiro, Ministério da Educação e Cultura / Fundação Casa de Rui Barbosa, 1973,
tomo I, p. 224-329.
EAGLETON, Terry. A ideia de cultura. São Paulo: Editora UNESP, 2005.
FONSECA, Santos Idelette Muzart dos. Palestra no Instituto de Estudos Avançados da USP. Em:
24 de agosto de 1999, dentro das atividades do NUPEBRAF (Núcleo de Pesquisa Brasil-França).
Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142000000200014&script=sci_>
FOUCAULT, Michel. História da sexualidade: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1985. v. 1.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. Rio de Janeiro:
Paz e Terra, 1996.
capítulo 4 • 104
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
FREYRE, Gilberto. Manifesto Regionalista. 6. ed. Recife: MEC – Instituto Joaquim Nabuco de
Pesquisas Sociais, 1976.
HORKHEIMER, M. & ADORNO, T, W. A indústria cultural: o esclarecimento como mistificação das
massas. In: Dialética do esclarecimento: fragmentos filosóficos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1985.
(p. 113-156)
LONDRES, Maria José Fialho. Literatura popular: o caso brasileiro. In: PIZARRO, Ana. (Org.). América
Latina: palavra, literatura e cultura. Vol. 2. São Paulo: Memorial; Campinas: UNICAMP, 1994.
LOPES, José de Ribamar (org.). Literatura de cordel: Antologia. 3. ed. Fortaleza: Banco do Nordeste
do Brasil S.A., 1994.
LUYTEN, Joseph M. O que é literatura de cordel. São Paulo: Brasiliense, 2007. (Coleção Primeiros
Passos; 317)
LUYTEN, Joseph M. O que é literatura popular. São Paulo: Brasiliense, 1983.
MARTIN-BARBERO, Jesus. Dos meios às mediações. Rio de Janeiro: UFRJ, 1997.
MONTIEL, Edgar. A nova ordem simbólica: a diversidade cultural na era da globalização. In: SIDEKUM,
Antônio (org). Alteridade e multiculturalismo. Ijuí: ed. Unijuí, 2003.
NEPOMUCENO, Cristiane Maria. O jeito nordestino de ser globalizado. 2005. 193 f. Tese
(Doutorado em Ciências Sociais)–Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal
do Rio Grande do Norte, Natal, 2005. Disponível em: http://hdl.handle.net/123456789/13854.
Acesso em: 15 jul. 2011.
ORTIZ, Renato. Estudos culturais In: Tempo social. vol. 16 n.1 São Paulo June 2004. Disponível
em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-20702004000100007 >.
Acesso em 2-9-2016.
SLATER, Candace. A vida no barbante: a literatura de cordel no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1984.
SUASSUNA, Ariano. Auto da compadecida. 35. ed. Rio de Janeiro: Agir, 2005.
SCHWARZ, Bill 1994: Where is cultural studies? In: Cultural Studies, 8 (3), 377-393.
XAVIER, Maria do Socorro Cardoso. Tesouro redescoberto: a riqueza do folheto em verso. João
Pessoa: Editora universitária, 2002.
ZUMTHOR, Paul. A letra e a voz: A literatura medieval. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
capítulo 4 • 105
ANOTAÇÕES
capítulo 4 • 106
ANOTAÇÕES
capítulo 4 • 107
ANOTAÇÕES
capítulo 4 • 108
ANOTAÇÕES
capítulo 4 • 109
ANOTAÇÕES
capítulo 4 • 110
ANOTAÇÕES
capítulo 4 • 111
ANOTAÇÕES
capítulo 4 • 112