Você está na página 1de 2

/ Cidade

Porque caminhante-voyer?! Porque no contexto de Ouro Preto, um dos grandes destinos


turísticos do Brasil, o turista até caminha, experimenta no corpo as sensações que a cidade provoca,
mas a questão é que na maioria das vezes ele experimenta apenas o contexto do casco histórico, seu
percurso respeita os mapas turísticos, os pontos atrativos da cidade. Cidade cenário, cartão-postal,
experiência forjada e cultivada pelo comércio e administração pública. Seus/as moradores/as nem
sempre se arriscam pelos becos do centro histórico, principalmente quando suas residências estão
localizadas em bairros mais afastados.
Dessa maneira, apenas o fato de caminhar, enquanto ação, pode não gerar a experiência
concreta e ordinária da cidade. Quem caminha pelo centro histórico, e não se atreve a cruzar os
becos e vielas, subir e descer seus morros, se conecta apenas com a experiência de uma Ouro Preto
cenário barroco.
E o que muitos não sabem, ou não percebem, é que estão diante de apenas uma parte da
cidade, que isso é, de fato, um simulacro de uma Ouro Preto do passado, tempo que já passou e está
eternamente consagrado e tutelado pela administração pública. Uma Ouro Preto para movimentar a
economia e que o ouro-pretano dos bairros periféricos pensa nem poder frequentar. Uma cidade
linda, mas que segrega corpos e não está acessível para sua própria gente.
1.Do espaço e da cidade.
2.
Henri Lefebvre (1991,2001) entende o urbano como realidade social e a cidade
como sendo “a realidade presente, imediata, dado prático-sensível, arquitetônico”
(LEFEBVRE, 2001, p. 49). O urbano seria então a obra dos cidadãos: “a reapropriação,
pelo ser humano, de suas condições no tempo, no espaço, nos objetos” (LEFEBVRE,
1991, p. 163).

b) Da memória.
"A memória está presente em tudo e em todos. Nós somos tudo aquilo que
lembramos; nós somos a memória que temos. A memória não é só pensamento,
imaginação e construção social; ela é também uma determinada experiência de vida
capaz de transformar outras experiências, a partir de resíduos deixados anteriormente. A
memória, portanto, excede o escopo da mente humana, do corpo, do aparelho sensitivo e
motor e do tempo físico, pois ela também é o resultado de si mesma; ela é objetivada em
representações, rituais, textos e comemorações." (SANTOS, 2003, p. 26) Myrian
Sepulveda Santos

Porém a cidade não é simplesmente um coletivo de vivências homogêneas. Por


isso, para definir o que seria uma memória da cidade é necessário olhar para o conjunto
de memórias que se tem sobre ela, logo: olhar para a memória coletiva de um grupo.
Essas relações, por sua vez, podem ser de dominação , conflito ou de cooperação e
podem ir variando de acordo com as percepções de tempo e espaço que também são
subjetivas.
Coexistem então nas cidades inúmeras memórias coletivas em diferentes
momentos do tempo. Nem sempre essas memórias coletivas das cidades são registradas,
por isso, é importante garantir que esses registros em forma de inventário possibilitem
que ao eternizamos esses registros permanentes, essas memórias não percam seu caráter
específico. Muito se perde no tempo, tornando os vestígios do passado que permanecem
na paisagem e nas instituições de memória (Museus, por exemplo), somente fragmentos
das memórias coletivas que a cidade produziu .
Segundo Le Goff (1960) foi por parte das classes mais poderosas que essas
memórias foram construídas. Essas classes não apenas construíram objetos mais duráveis,
como também as próprias instituições de memória. Por isso, guardam somente as
memórias coletivas da cidade que esses indivíduos consideram importantes. Esses
documentos que guardam e preservam as memórias da cidade são também expressões de
poder (Foucault 1969).
Ainda que seja impossível resgatar a memória de uma cidade em sua totalidade,
não significa que seja impossível resgatar muitas outras memórias desta cidade. Através
do resgate dessas memórias coletivas que restaram e da preocupação constante em
registrar as memórias coletivas que ainda estão vivas nos cotidianos da cidade que
poderemos resgatar muito do passado, eternizar o presente e garantir que as próximas
gerações conheçam um pouco do que foi importante para sua identidade.
Afinal: as memórias coletivas envolvem as memórias individuais. Ou seja: a
memória, por ter muitos dos seus referentes sociais, permite que além da memória
individual ( subjetiva, única), tenhamos também uma memória intersubjetiva (uma
memória compartilhada).
Lembrar também que essa memória se relaciona muitas vezes com o/os traumas.

Você também pode gostar