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PROJETO DE INTERVENÇÃO

Projeto de Intervenção, apresentado em


cumprimento às exigências da disciplina de PSICOLOGIA COMUNITÁRIA
do curso de Psicologia ministrado pela professora

06 de junho de 2018
INTRODUÇÃO

O presente trabalho relata a experiência de estudantes de Psicologia realizada


em uma escola privada no município de Queimados.

O desenvolvimento teórico-prático está referenciado numa perspectiva crítica


entre Educação e Psicologia.

No campo da psicologia, situamos a psicologia sócio histórica, por favorecer a


apreensão de um sujeito histórico e em relação dialética com o mundo,
entendendo que a subjetividade é construída ao longo da vida do indivíduo, no
decorrer das suas atividades e trocas sociais (Bock, 2001). Assim, compreende
que as condições de possibilidades para a saúde psicológica estão diretamente
relacionadas ao meio social, às interações e condições oferecidas por esse
meio social.

No campo educacional, a perspectiva crítica procura contextualizar a educação


como uma prática histórica e socialmente construída, enfocando sua
importância social enquanto instância fundamental no processo de socialização
do conhecimento historicamente acumulado. Por ser uma prática
historicamente determinada, a educação pode estar a serviço de ideologias
opressoras, o que Paulo Freire (1997) chamou de educação bancária. Por
outro lado pode ser um instrumento de libertação, de conscientização, de
transformação social.

A intervenção na instituição de ensino pauta-se também nos propósitos da


análise da demanda institucional, que segundo Baremblit (1992), consistem em
propiciar, apoiar, deflagrar nas comunidades, nos coletivos, nos conjuntos de
pessoas, processos de autoanálise e autogestão.

Na oportunidade, a diretora da escola pediu intervenção junto a equipe para os


alunos do ensino fundamental I, que segundo ela, preocupava-se com o
crescimento da individualidade, distanciamento dos demais, e que não via
empatia entre os colegas de classe, levando em consideração que pelo menos
70% da classe caminhava junto desde o primeiro ano do ensino fundamental I.
Após este primeiro contato, foi marcado uma reunião com a equipe pedagógica
da escola (diretora, vice-diretora, orientadora e a professora da turma). Nesta
mesma reunião foi apresentado nossa proposta de intervenção psicossocial na
escola, além de ouvir a versão de toda a equipe sobre a queixa e suas
expectativas sobre o trabalho a ser desenvolvido. Através da atenção flutuante,
identificamos que eram necessários três encontros e acordado com a direção
da escola, assim ficou definido.

JUSTIFICATIVA

O comportamento individualista apontado na demanda proposta nos mobilizou


a intervir a fim de promover a tomada de consciência das necessidades dos
outros e o desejo de contribuir e colaborar para a satisfação do outro.
Acreditamos que despertar nos alunos a conscientização quanto à empatia e
solidariedade é de extrema relevância social, pois tais valores são essenciais
para a construção de indivíduos capazes de se colocar no lugar do outro e
sensíveis a outras realidades, dispostos a contribuir com doações aos menos
favorecidos.
Trata-se de valores sociais que serão exemplificados através da vivencias
mostradas em vídeos educativos, com o propósito de humanizar o convívio
escolar, de forma a promover a autoanálise, mudança de comportamento,
aproximação dos alunos, conscientização social e saúde psicológica,
contribuindo para uma melhor interação desses alunos na sociedade que
vivem, combatendo gestos, atitudes e comportamentos egoístas, cômodas e
intolerantes das crianças.

OBJETIVO GERAL
Despertar e conscientizar as crianças a respeito da humanização,
solidariedade e empatia em suas relações interpessoais.

OBJETIVO ESPECÍFICO
 Dar aos alunos a oportunidade de fala, implicando eles na demanda que
os mesmos trouxeram;
 Oferecer aos alunos informações e exemplos de comportamentos
socialmente benéficos para as relações interpessoais;
 Mostrar aos alunos outras possibilidades de interação com o outro;
 Realizar dinâmicas educativas;
 Promover troca de experiências e saberes entre os alunos.

REVISÃO DA LITERATURA

Para o experimento proposto, partimos de uma leitura da distinção de Merton,


que retoma outros psicólogos sociais como Hollander (1971), estabelece que
nem qualquer unidade de uma pluralidade deve ser considerada como um
grupo, mas somente aquele tipo de unidade que se dá quando os indivíduos
interagem entre sie compartilham esquemas ou normas sociais de interação. O
que vale dessa aproximação está precisamente em sua formalidade, ou seja,
em buscar uma especificidade para a unidade grupal, e portanto, em definir,
que nem qualquer tipo de junção de várias pessoas pode ser considerado com
um grupo humano a partir da perspectiva psicossocial.

Nossa socialização é aprendida e interiorizada ao longo de nossa vida através


de elementos sócio culturais, do meio em que vivemos, de ensinamentos de
outras gerações, aprendizagem de técnicas, aquisição de conhecimentos,
padrões de comportamento social e esta se ajusta continuamente durante os
diversos estágios de nossas vidas.

Considerando as mudanças na sociedade que alteraram a formação da criança


até os dias de hoje, percebemos que a escola, atualmente, divide
principalmente com a família um papel de importância na socialização de
nossas crianças.

Quando falamos do desenvolvimento intelectual da criança, não podemos


deixar de mencionar Jean Piaget (1896-1980), que desenvolveu uma teoria
conhecida como psicologia genética e que também é abordada como teoria do
construtivismo.

Esta teoria envolve estágios de desenvolvimento da criança, e é considerada


base para a elaboração de práticas pedagógicas. Considera que o saber é
construído pela criança, e não imposto de fora. A criança organiza o
pensamento e o julgamento. De acordo com Piaget (2007) cada estágio é
caracterizado pelo surgimento de estruturas originais que vão distinguindo um
do outro, gerando construções sucessivas.

Este autor destaca os períodos de desenvolvimento em seis estágios:

• O estágio dos reflexos ou mecanismos hereditários;


• o estágio dos primeiros hábitos motores e das primeiras
percepções organizadas, como também dos primeiros
sentimentos diferenciados;
• o estágio da inteligência senso-motora ou prática;
• o estágio da inteligência intuitiva, dos sentimentos interindividuais
espontâneos e das relações sociais de submissão do adulto;
• o estágio das operações intelectuais concretas e dos sentimentos
morais e sociais de cooperação.
• e o estágio das operações intelectuais abstratas da formação da
personalidade e da inserção afetiva e intelectual na sociedade
dos adultos (PIAGET, 2007, p.15).
Para Charlot, a criança é o reflexo do que o adulto e a sociedade querem que
ela seja e temem que ela se torne.

Miranda, (2004, p.128) escreveu que:

Independentemente de sua origem social, a criança passa por um


processo de maturação biológica, em que seu desenvolvimento depende
da mediação do adulto. Contudo esta mediação se fará de diferentes
maneiras (às vezes opostas) dependendo da condição social da criança.
Na sociedade capitalista, definida pelas relações estabelecidas entre
classes sociais antagônicas, a origem da criança determina uma condição
específica de infância. Não existe, portanto, uma natureza infantil, mas
uma condição de ser criança, socialmente determinada por fatores que
vão do biológico ao social, produzindo uma realidade concreta. Assim, a
dependência da criança é um fato social e não um fato natural.

Ainda segundo esta autora, Miranda (2004), a escola tem tarefas básicas
como:

 Facilitar a apropriação e valorização das características sócio-culturais


próprias das classes populares;
 Garantir a aprendizagem de certos conteúdos essenciais da chamada
cultura básica, tais como leitura, escrita, operações matemáticas,
noções fundamentais de história, geografia, ciências, etc;
 Propor a síntese entre as tarefas anteriores, possibilitando a crítica dos
conteúdos ideológicos propostos pela cultura dominante e a reprodução
do saber.
Fica estabelecido então, que na escola, a criança passa por um processo de
socialização onde internaliza regras, padrões de comportamento, novos
conteúdos e valores sociais. Porém as limitações para estas tarefas são
constantes no processo educacional.

METODOLOGIA

Foi proposto ao grupo um trabalho utilizando-se da metodologia de Oficinas de


Dinâmica de Grupo. Os encontros aconteceram em uma sala na própria escola,
no horário da aula, totalizando cinco encontros. Enquanto a professora dava
aula para uma parte dos alunos, trabalhamos com os demais, e vice-versa.
Antes de iniciar o trabalho com as crianças, foi informado aos pais sobre o
trabalho psicossocial que seria feito e o retorno os termos (TCLE) previamente
autorizados, deveriam ser encaminhados a direção da escola.

No primeiro encontro foi feito o rastreio de campo, onde permitimos que as


crianças pudessem nos contar sobre o seu dia, como é a relação deles com a
escola, os professores e os amigos. Estendendo o questionamento para seus
grupos sociais, fora da escola. Era necessário ouvir o máximo de informações
que pudesse fundamentar nosso plano de intervenção. Todas as informações
foram registradas no diário de campo, com base na polifonia de Backtin.

Já com o projeto de intervenção montado, utilizamos a sala de tv, onde


passamos um pequeno vídeo sobre dividir e saber se colocar no lugar do outro.
Nesse vídeo, um menino está na escola e na hora do lanche, ele sai da sala e
vai se esconder, pois na sua lancheira não havia nada para ele comer. Quando
ele volta para a sala e pega seu potinho, ele percebe que o mesmo está
pesado e quando ele abre, havia um pouquinho de cada lanche dos
amiguinhos, pois cada um havia tirado do seu e dado a ele. Percebemos o
desconforto em alguns e emoção também.
Falamos sobre o compartilhar com o próximo e o quanto é gratificante ver e
sentir a alegria do outro.

Após o bate-papo, propusemos que aqueles que quisessem dividir seus


lanches com os amiguinhos sem obrigatoriedade, poderiam fazer e para nossa
surpresa, todos embarcaram na idéia e se divertiram muito fazendo isso.

No segundo encontro, falamos sobre doações, perguntando quem já havia


doado algo, como uma roupa, um calçado, ou um brinquedo que não servia
e/ou não usavam mais e alguns disseram que sim, pois a mãe sempre fazia
isso e alguns que nunca haviam feito. Apresentamos outro vídeo como ponto
de partida e nesse vídeo, o menino está sentado numa praça, triste e descalço,
enquanto do outro lado tem outro menino sentado numa cadeira de rodas e
com um tênis lindo no pé, mas também triste. O menino da cadeira de rodas
olha para seus pés e para os pés do menino, como se comparando as duas
situações e então tira dos pés os seus tênis e oferece ao menino, pois naquele
momento o tênis pouco importava, já que ele não pudera correr. O menino todo
sorridente calçou os tênis, levantou-se e começou a pular de tanta alegria. De
repente ele para, olha para o menino sentado na cadeira e começa a empurrá-
lo, a rodá-lo e dois sorriam de felicidades. A ação de doar seus calçados, não
trouxe felicidade apenas para o menino descalço, mas para o que doou
também.

Assim, anunciamos que iríamos deixar uma caixa nas turmas, para que quem
pudesse e quisesse doar algo, trouxesse e colocasse nessa caixa, e que todas
as doações seriam levadas para uma instituição onde vive crianças
necessitadas. Eles apoiaram a ideia, e assim deixamos a caixa e marcamos o
dia de irmos buscar.

No terceiro encontro, voltamos para buscar as doações e principalmente para


vermos se havíamos conseguido de maneira positiva, alcançar alguma
mudança em curto prazo no comportamento e no pensamento daquelas
crianças. Para nossa surpresa, de um total de 63 crianças, 35 trouxeram
doações, outras lamentaram por não ter nada no momento.
Porém, reforçamos para todos a necessidade de olhar para o outro, como
gostaríamos que olhassem para nós mesmo, que doar não é vale apenas para
as materiais, mas também é válido um abraço, um sorriso, um beijo. Pedimos
que todos se levantassem, os aplaudimos, demos um pirulito para cada aluno
com uma mensagem colada que dizia: “Todos somos iguais”. E por fim,
distribuímos abraços e os agradecemos por terem sido tão receptivos e
amáveis com todas nós.

No quarto e último encontro foi feita uma avaliação em conjunto com as


crianças sobre todo o percurso do trabalho, elas expressaram satisfação com
as técnicas trabalhadas, falaram sobre mudanças percebidas e alcançadas:
melhoria na relação da turma, maior confiança da professora em relação a
eles, algumas crianças relataram, com muita satisfação, que estavam
conseguindo aprender a ler. Ao final dos quatro encontros com as crianças, foi
feita outra reunião com a equipe pedagógica da escola com objetivo de fazer
uma devolução sobre o trabalho desenvolvido. Nesta oportunidade, a
professora colocou que percebia que as crianças estavam mais entrosadas
entre si, mais respeitosas em sala de aula, mais disponíveis para o trabalho
pedagógico. Falou-se também sobre a questão de se ter uma turma especial,
no intuito de levar à reflexão sobre os impactos desta para as crianças e para a
escola. A equipe, após um momento de ansiosas justificativas para a
experiência, chegou à conclusão de que a mesma havia fracassado e que para
o bom desenvolvimento e aprendizagem das crianças é interessante que elas
estejam inseridas em turmas heterogêneas, evitado assim, rótulos e
discriminações, e ainda, que quando os níveis de conhecimento são variados,
o trabalho em sala pode se desenvolver de forma mais rica e prazerosa. Foi
feita também uma reunião de devolução para os pais. Esta reunião aconteceu
na escola, teve a participação dos pais e das crianças, foi um momento para
conversar sobre o trabalho desenvolvido. Criou-se um espaço democrático
onde todos puderam falar – estagiárias, crianças e pais, falou-se sobre
problemas e dificuldades, mas também sobre as potencialidades percebidas
nas crianças.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

HOLLANDER, Edwin 1971 – Princípios e Métodos da Psicologia Social (2ª


Ed) - Publicado pela Oxford University Press

AFONSO, Lúcia. Oficinas em Dinâmica de Grupo: um método de


intervenção psicossocial. BH: Edições do Campo Social, 2002, pp. 11-59.

MIRANDA, Marília Gouvêa. O Processo De Socialização Na Escola: A


Evolução Da Condição Social Da Criança. In: LANE, S. & CODO, W. Corgs.
Introdução A Psicologia Social: O Homem Em Movimento, Ed. Vozes. P. 125 -
135.

PIAGET, J. A linguagem e o pensamento da criança. Trad. Manuel Campos.


Rio de Janeiro: Fundo de Cultura, 1959. 307p.

PIAGET, J. Seis estudos de psicologia. Trad. Maria A.M. D’Amorim; Paulo


S.L. Silva. Rio de Janeiro: Forense, 1967. 146p.

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