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A gestão das Relações Públicas para as pessoas da organização

Cada vez mais, palavras têm sido substituídas por imagens. Livros
tornam-se filmes, blogs pessoais perderam espaço para redes sociais como o
Instagram, mensagens de texto são substituídas todos os dias por emojis. Neste
contexto, o discurso humano passa a ser mais subjetivo e mais incompreendido.
Sobretudo dentro de grandes organizações que abrigam as diversas gerações
existentes, entender um ao outro ficou mais difícil.
Por essas razões, o presente ensaio tem como objetivo discutir a
prática das Relações Públicas na gestão de relacionamentos interpessoais. Isto é, a
utilização da filosofia de relações públicas para facilitar relacionamentos entre, por
exemplo, funcionários e gerência.
Como pontua Simões (2001), a prática das Relações Públicas possui
cunho político, certa vez que todos estão em defesa de um interesse.

Deduz-se das definições assemelhadas de Parsons (1969), de Krech,


Cruchfield e Ballachey (1969) e de Katz e Kahn (1979), que a
organização é constituída por pessoas, ou seja, por indivíduos em
seus papéis, estruturados em grupos, formando sistemas de ações,
mais ou menos concatenados, a fim de atingir objetivos. Sistemas de
comunicação, informação, valores e processo decisório fazem parte
de sua natureza. Ocorre que, normalmente, os objetivos dos
indivíduos (João, Maria, Pedro) são diferentes dos papéis (presidente,
tesoureiro, porteiro) e dos grupos (Contabilidade, Vendas, Produção).
Cada um destes elementos busca atingir objetivos que satisfaçam
suas necessidades. (SIMÕES, 2001, p. 67).

Sendo assim, pessoas relacionam-se devido a interesses em comum


formando organizações. Dessa forma, as características de pessoas e organizações
são encontradas uma na outra.
Isso pode ser observado pela conclusão de Kunsch (2003) em que as
organizações, por meio de sua finalidade, interagem com o meio em que estão
inclusas constituindo dentro delas próprias subsistemas interacionais. Ao mesmo
tempo, Vigotsky (1991) entende que o homem está em constante interação com o
meio em que vive, já que, a formação humana está regulada pela compreensão que
a criança tem do ambiente ao seu redor.
Portanto, as pessoas constroem relacionamentos como forma de se
comunicarem. França (2009, p. 214) entende que relacionamento é a “capacidade em
maior ou menor grau de [...] conviver bem com outros, de estabelecer vínculos oficiais,
permanentes ou não, com objetivos bem definidos”. Ao passo que Marchiori (2009, p.
2) entende que as organizações são “como uma rede de relações sociais em
interação” e diz que é preciso, para que haja “rede de relações que os seres humanos
aprendam, antes de tudo a se relacionar, a se comunicar”. Assim, o relacionamento
passa a ser a forma mais evidente de comunicação dentro das organizações.
Por essas razões, as pessoas da organização necessitam de um
trabalho de consultoria vindo dos profissionais de relações públicas. Para Marchiori,
“(...) a subjetividade está internalizada no indivíduo aguardando para ser comunicada
aos outros indivíduos por meio de comportamentos. ” (2008, p. 82). Extrair a
identidade delas é o ponto de partida para garantir que o que é dito está em
concordância com o que é feito e é pensado.
Isto encontra-se com um dos propósitos da área de relações públicas:
gerir reputação favorável por meio de relacionamentos. A partir da identidade da
organização, o comunicador é capaz de propor ações que levem seus públicos a
entenderem uma imagem positiva da organização e, ao longo do tempo, construir uma
reputação também positiva.
Na atualidade, organizações procuram profissionais que sejam
capazes não só de executar uma tarefa ou que tenham formação específica, mas que
encontrem nos valores da empresa seus próprios valores.
Nesses moldes, as pessoas são entendidas pela forma com que se
comportam. O papel do relações-públicas nesse cenário está em dar orientações
sobre como serem mais coerentes em suas falas e ações, isto é, em extrair a
identidade dos diversos profissionais da organização e aconselha-los em sua
comunicação corriqueira. É claro que, esta função deve ser desempenhada em
conjunto com demais áreas, como a de Administração, alinhando o perfil do
funcionário com o da organização, bem como com seu plano de carreira, e como a de
Psicologia, sendo capaz de capturar a personalidade do funcionário. O importante é
que sua identidade seja extraída com fidelidade para que sua comunicação seja
coerente. “Não adianta nada as pessoas falarem algo e se comportarem de uma forma
completamente diferente daquilo que foi falado. “ (MARCHIORI, 2008, p. 83)
Comportamento reflete em imagem e reputação. Quantas vezes
quantas pessoas não se comportaram de forma a mancharem sua reputação?
Relações públicas para as pessoas da organização significa seguir uma filosofia não
só para ser “bem visto”, mas também para garantir que você seja entendido com
clareza, que você se comunique de acordo com o que acredita, adequando linguajar
e expressões para um determinado momento. É, antes de tudo, saber quem você é
para poder se relacionar.
Relacionar-se sem estratégia e, portanto, seguindo suas crenças, não
se relacionar. Haja vista o exemplo de Neves:

Presidente de uma grande empresa, é, também, presidente de várias


associações de classe. Ainda assim, tem tempo para manter intensa
vida social, haja vista o número de vezes que aparece nas colunas
sociais dos principais jornais, sempre acompanhado de mulheres
jovens e bonitas.
(...) O dirigente de empresa, que circula na noite com as amigas da
neta, deve estar sendo muito comentado nos almoços executivos nos
restaurantes cinco estrelas da cidade e, pelo público interno, no happy
hour das sextas-feiras. Não exatamente como ele gostaria, isto é,
como um bon vivant, “homem de mil fôlegos”, “cabra-macho”. Mas
será lembrado por seus defeitos, reais e imaginários. Tudo que uma
boa inveja é capaz de produzir: “galinha”, “impotente”, “exibicionista”,
“velho pavão”, “corno”, ”enquanto isto nós estamos aqui sem aumento
de salário há meses”. (NEVES, 1998, p. 69-72).

Ora, se a opinião pública é a opinião dos públicos, então todos os


públicos têm opinião, e se eu me relaciono com pessoas que tenham opinião sobre
mim, então me relaciono com meus públicos. Se meu gerente, meus colegas de
trabalho, meus amigos pessoais, minha família pensa algo a meu respeito, então devo
me preocupar com a forma que me expresso.
Desta forma, Neves ainda pontua algumas sugestões para manter
relacionamentos profissionais de qualidade. Entre elas estão a credibilidade, as boas
maneira, a elegância e as pessoas que você escolhe para se relacionar.

1. Credibilidade. Este é o maior patrimônio que uma organização,


grande ou pequena, pessoa jurídica ou pessoa física, pode ter. É o
seu maior asset. (...)
2. Boas maneiras. Sempre. Em qualquer caso. Com qualquer
pessoa. Em qualquer lugar. Os dividendos serão vitalícios. Às vezes,
chegam a herdeiros e sucessores.
3. Aparecer com elegância e comedimento. Ser notado como um
perfume fino e não por causa da melancia sobre o ombro. Aparecer a
qualquer custo, pode custar muito. Aparecer é fácil. Saber aparecer é
uma arte.
4. Não desperdiçar almoços, comendo sozinho ou sempre com os
mesmos comensais. Contatar pessoas de variadas faunas irriga a
imagem e o próprio cérebro.
5. Ter sempre um amigo por perto que lhe diga a verdade. A tese
é que quando se chega ao topo, nada do que se ouve é verdade.
Como escolher este amigo? Ora, se você não sabe fazer isto não
merece estar onde está. Qualquer que seja o lugar. (NEVES, 1998, p.
85-86).

Além do mais, entender a si próprio permite que as pessoas da


organização sejam capazes de escolher melhor onde devem trabalhar. Se elas
pertencem ao lugar onde trabalham, a cultura organizacional é capaz de se tornar
mais legítima.

A construção de estratégias cria oportunidades, visualizadas pelos


membros de uma organização, mas não garante sua participação.
Somente a busca de sua identidade e da satisfação possibilita a
existência e o desenvolvimento do comprometimento e lealdade do
grupo para com a empresa, formando o espírito de equipe
(MARCHIORI, 2008, p. 219).

É preciso que a comunicação interna saia da produção de veículos,


puramente. Ela precisa deixar de ser descendente para assumir a função do diálogo.
Isto é incluir a estratégia e o gerenciamento de relacionamentos para que as pessoas
saibam como se relacionar. Saibam que o que se faz gera impacto em suas imagens
e, por fim, na imagem e reputação da organização.
Vale salientar que, no Brasil, em específico, observa-se uma
tendência de comportamentos infantis e que não agregam o debate. Em geral, a
população não aceita opiniões de forma crítica, mas sim como uma ofensa pessoal.
Talvez também seja papel da organização assumir esta responsabilidade de criar
pessoas críticas, que possam passar adiante e encorajar esses ensinamentos.
Outro aspecto a ser abordado é a postura do relações-públicas e dos
comunicadores em geral diante suas filosofias. Percebe-se que já dentro dos cursos
da área é muito raro encontrar um que se predisponha a possuir seu próprio
planejamento de comunicação. O comunicador vive uma filosofia em que “casa de
ferreiro, espeto de pau”; ele não se preocupa em organizar a forma como se comunica.
De forma que, ele também não planeja a forma com que se dirige às pessoas de seus
círculos profissionais e pessoais.
Em suma, comunicação, comportamento e reputação são conceitos
que andam juntos não só nas organizações, mas principalmente na vida quotidiana
de todos. Isto, pois a organização é um reflexo da sociedade. Assim como a
organização conhece seus públicos é imprescindível que nós conheçamos os nossos
e, a partir daí, tracemos nossas próprias estratégias.

Referências
FRANÇA, Fábio. Gestão de relacionamentos corporativos. GRUNIG, James E.;
FERRARI, Maria Aparecida; FRANÇA, Fábio. Relações públicas: teoria, contexto e
relacionamentos. São Caetano do Sul, SP: Difusão Editora, 2009.

KUNSCH, Margarida Maria Krohling. Planejamento de relações públicas na


comunicação integrada. 5 ed. São Paulo: Summus, 2003.

MARCHIORI, Marlene. A relação comunicação - organização: uma reflexão sobre


seus processos e práticas. In: Congresso Brasileiro Científico de Comunicação
Organizacional e Relações Públicas - Abrapcorp, 3, 2009, São Paulo. Anais (online).
São Paulo: Abrapcorp, 2009. Disponível em:
<http://www.abrapcorp.org.br/anais2009> Acesso em: 24 maio 2014.

________. Cultura e comunicação organizacional: uma perspectiva abrangente e


inovadora na proposta de inter-relacionamento organizacional. MARCHIORI, Marlene.
Faces da cultura e da comunicação organizacional. 2 ed. São Caetano do Sul, SP:
Difusão Editora, 2008.

________. Comunicação interna: um fator estratégico no sucesso dos negócios.


MARCHIORI, Marlene. Faces da cultura e da comunicação organizacional. 2 ed. São
Caetano do Sul, SP: Difusão Editora, 2008.

NEVES, Roberto de Castro. Imagem empresarial: como as organizações (e as


pessoas) podem proteger e tirar partido do seu maior patrimônio. 3 ed. Rio de Janeiro:
Mauad, 1998.

SIMÕES, Roberto Porto. Relações Públicas e Micropolítica. São Paulo: Summus,


2001.

VIGOTSKY, Lev Semenovich. A formação social da mente: o desenvolvimento dos


processos psicológicos. 4 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

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