Teorias e Processos
de Aprendizagem
Motora
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1. OBJETIVO
• Promover a aquisição de conhecimentos básicos sobre o
processo aprendizagem motora, de modo a proporcionar
subsídios teóricos suficientes a uma adequada estrutu-
ração do processo de ensino-aprendizagem por futuros
licenciados em Educação Física.
2. CONTEÚDOS
• Aprendizagem Humana.
• Aprendizagem Motora.
• Teorias da Aprendizagem e Controle Motor.
4. INTRODUÇÃO À UNIDADE
Nesta unidade veremos que, nos seres humanos, a aprendiza-
gem é uma mudança na capacidade ou disposição que persiste por um
período de tempo e que não é devido simplesmente ao processo de
maturação (desenvolvimento endógeno, biológico e regulatório), sendo
inferida a partir de uma mudança relativa à performance ou potencial
de comportamento e resultante da prática, experiência ou observação.
Como se constitui em um processo interno, sua ocorrência
é inferida por mudanças no comportamento observável (perfor-
mance) e apresenta como focos: pessoas, escolas e o potencial de
aprender sendo que para sua maximização em nível formal alguns
pontos merecem destaque:
1) os estudantes chegam à sala de aula com idéias pre-
concebidas sobre como o mundo funciona. Se estes en-
tendimentos iniciais não forem considerados, é possível
que não consigam compreender os novos conceitos e in-
formações ensinados, ou que aprendam com o objetivo
de fazer uma prova, mas recaindo depois em suas idéias
preconcebidas fora da sala de aula e que podem não ser
adequadas às necessidades de suas vidas;
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Categorias
1) Aprendizagem Explícita: processo que gera alterações
na capacidade individual de responder-realizar uma
questão ou um comportamento como resultado de
tentativas repetidas, observações ou experiências cla-
ramente percebidas por aquele que as emite. Exemplo:
quando treinamos natação por um período suficiente
para aprendermos os quatro estilos, notamos diferenças
nas nossas braçadas, pernadas e respiração quando lem-
bramos nossa performance inicial e aquela manifestada
após estes treinos-práticas.
2) Aprendizagem Implícita: acontece quando não percebe-
mos as aquisições realizadas. A forma e as palavras que
utilizamos em conversas sociais, assim como os gestos
usualmente utilizados, são aprendidas implicitamente
em nosso dia a dia.
3) Aprendizagem Positiva e Negativa: além de aprender-
mos o que deve ser aprendido, ou seja, aqueles com-
portamentos, ideias e sentimentos que são socialmen-
te estimulados e entendidos como positivos, também
aprendemos o que não deve ser aprendido como, por
exemplo, a xingar e a desrespeitar nossos semelhantes,
comportamentos estes percebidos como inadequados
ou negativos.
4) Aprendizagem significativa: é um processo por meio do
qual uma nova informação relaciona-se com um aspecto
relevante da estrutura do conhecimento do indivíduo.
Envolve a interação da nova informação com uma estru-
tura de conhecimento específico (conceitos subsunço-
res) já existente na estrutura cognitiva do indivíduo. A
aprendizagem significativa ocorre quando a nova infor-
mação ancora-se em conceitos relevantes preexistentes
na estrutura cognitiva do aprendiz.
5) Aprendizagem mecânica: aprendizagem de novas infor-
mações com pouca ou nenhuma relação com conceitos
relevantes já existentes na estrutura cognitiva.
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Tipos ou Variedades
Para Gagné (1980), as oito variedades de aprendizagem que
podem usualmente ser distinguidas são as seguintes:
1) Aprendizagem de sinal: também conhecida como res-
posta condicionada clássica de Pavlov em que seres vi-
vos aprendem a emitir uma resposta geral, difusa a um
dado sinal, comentada na Unidade 1 no Tópico Behavio-
rismo de Watson e Pavlov e que será, posteriormente,
detalhada nesta unidade.
2) Aprendizagem estímulo-resposta: ocorre quando um
indivíduo aprende uma determinada resposta a um es-
tímulo discriminado, muitas vezes denominado de res-
Conceitos Básicos
Habilidades: podem ser entendidas como atos ou tarefas.
Quando relacionadas especificamente às habilidades motoras,
como aqueles atos ou tarefas que requerem movimentos e devem
ser aprendidos para que possam ser executados adequadamente,
a palavra habilidade pode ser usada como um indicador da quali-
dade do movimento (desempenho).
As habilidades podem ser classificadas tendo como base di-
ferentes aspectos:
1) Pela organização da tarefa ou maneira como a ação mo-
tora é organizada:
• discretas: quando apresentam início e fim bem defi-
nidos como o chutar, o arremessar, o receber,
• seriadas: várias ações discretas conectadas e ordena-
das em uma sequência específica como uma série de
ginástica artística, composta por várias habilidades
discretas juntas em uma ordem própria,
• contínua: habilidade sem início e fim bem determi-
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Conceitos relacionados
• Habilidade Fundamental: uma série organizada de movi-
mentos relacionados usados para realizar tarefas básicas
de movimento como correr, saltar, arremessar e receber.
Podem ser classificados como de locomoção, manipula-
ção e de estabilização.
• Padrão de Movimento: um grupo amplo ou séries de atos
motores desempenhados com graus menores de habili-
dade, mas que são dirigidos à realização de alguma meta
externa. Uma série organizada de movimentos relaciona-
dos usados para realizar uma tarefa específica.
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Um movimento fundamental envolve os elementos básicos daquele movimento
particular somente. Não inclui particularidades como estilo do indivíduo ou peculia-
ridades pessoais na performance, já que os elementos básicos de um movimento
fundamental devem ser os mesmos para todas as crianças. Embora relacionado
à idade, a aquisição de habilidades motoras não é dependente da idade, mas de-
pende de uma série de fatores dentro da própria tarefa, do indivíduo e do ambiente.
Cada padrão de movimento é primeiro considerado isolado de todos os outros, e
então reunidos numa variedade de combinações. Ex: os movimentos locomotores
de correr, saltar ou os movimentos manipulativos de arremessar, receber, chutar,
são habilidades motoras fundamentais que são primeiramente dominadas sepa-
radamente pela criança. Estes movimentos são então gradualmente combinados
e refinados numa variedade de modos para tornarem-se habilidades esportivas.
Padrão de movimento (habilidade específica) à arremesso (conjunto de atos
motores).
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Capacidade
A capacidade é o traço geral ou qualidade de um indivíduo
relacionada com o desempenho de uma variedade de habilidades
motoras, sendo um componente da estrutura dessas habilidades.
Traço inato, relativamente permanente e estável do indivíduo que
é a base, ou sustente vários tipos de habilidades motoras, cogniti-
vas, afetivas...
Considerada amplamente definida geneticamente e essen-
cialmente não modificada pela prática ou experiência.
Segundo Barbanti (1996, baseado em Gundlach, 1968), as
capacidades motoras humanas podem ser divididas em coorde-
nativas (determinadas por processos de captação e análise dos
estímulos) ou condicionais (calcadas na eficiência da ação exterio-
rizada). Segundo o autor em foco, as capacidades coordenativas
podem ser classificadas em:
CAPACIDADE DE DIFERENCIAÇÃO SENSORIAL: é a capacidade de di-
ferenciar as sensações extraídas dos objetos e dos processos atra-
vés dos nossos órgãos dos sentidos, face à necessidade específica
de uma atividade.
Quanto mais elevado e específico for o rendimento de um atleta,
tanto mais diferenciadas devem ser as informações recolhidas pe-
los receptores. A qualidade da informação sensorial determina a
qualidade da execução técnica, porque colabora com o controle e a
regulação da ação motora.
CAPACIDADE DE OBSERVAÇÃO: capacidade de perceber o desen-
volvimento de um movimento próprio ou de outros, assim como os
objetos imóveis, com base em critérios selecionados. Por causa do
papel dominante das informações visuais na maioria dos esportes
de equipe, esta capacidade é de grande importância. Ela é ainda
Formas de prática
Prática física e prática mental: a primeira diz respeito à ex-
perimentação corporal-motora da habilidade, sendo esta em si-
tuações reais ou em simuladores. Por exemplo: ninguém, em con-
dições normais, inicia sua aprendizagem de pilotar um avião em
condições reais, sendo utilizado, para isso, um simulador, ou seja,
um aparelho de treinamento que apresenta muitas das caracterís-
ticas da situação real. Por outro lado, a prática mental se refere à
prática cognitiva de uma habilidade motora na ausência de movi-
mentos físicos perceptíveis, que objetiva, via imaginação de uma
forma planejada, repetida e consciente de habilidades motoras,
técnicas e estratégias táticas a melhoria da performance.
Prática maciça e distribuída: a primeira diz respeito a uma
prática em que a quantidade de repouso entre as tentativas ou
entre as sessões de realização é menor que a quantidade (tempo)
de prática realizada. Já na segunda, o tempo de descanso, seja en-
tre as práticas e ou entre as sessões é relativamente maior que a
duração da movimentação.
Prática motora como um todo ou em partes: se a execução
de uma habilidade é de alta complexidade (refere-se ao alto ní-
vel de solicitação de processamento das informações geradas para
uma adequada realização da tarefa) e baixa organização (refere-se
ao modo de interligação entre os componentes da tarefa, neste
caso, baixo) o método das partes (divisão do movimento global em
suas partes constituintes) é o indicado para gerenciar o processo
de aprendizagem. Exemplo: divisão da bandeja do basquetebol
em recepção da bola, corrida com a bola dominada, salto com a
bola, arremesso com salto e, por fim, a bandeja. Ao contrário, o
método do todo, sem divisão das habilidades em secções, é indi-
cado quando se tem uma habilidade de baixa complexidade e alta
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Controle motor
Estudo da natureza do movimento e de como ele é controla-
do. O controle não está preocupado com mudanças, ou seja, com
a linha do tempo, mas diz respeito a que estruturas nós temos,
como elas estão organizadas, como elas produzem o movimento
e à capacidade do sistema de se organizar objetivando produzir
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3) Quantidade de prática
Quanto mais complexa uma tarefa, maior a necessidade de
processarmos adequadamente as informações recebidas. Assim,
quanto maior a complexidade da tarefa, maior o tempo de reação.
Atenção
Focalização e limitação dos recursos de processamento de
informação.
Informação
Informação exteroceptiva: informação sensorial que vem
primeiramente das fontes externas ao corpo da pessoa.
Interocepção: informação sensorial que vem, primeiramen-
te, de fontes internas ao corpo do indivíduo.
Propriocepção: informação sensorial que chega de dentro
do corpo da pessoa, e que sinaliza a posição e movimento do cor-
po e segmentos, semelhante à cinestesia.
Feedback
Feedback é um termo que, segundo Schmidt e Wrisberg
(2010, p. 306):
Visão
A atenção visual seletiva desempenha um papel importan-
tíssimo na preparação de várias habilidades motoras.
Visão focal: sistema visual que as pessoas utilizam para iden-
tificar objetos no centro de seus campos visuais; é consciente, in-
fluenciada pelo movimento de objetos circundantes e diminuída
com pouca luminosidade.
Visão ambiental: sistema visual que as pessoas utilizam para
detectar a orientação de seus corpos no ambiente; é inconsciente,
abrange todo campo visual e é utilizada para o controle do movi-
mento.
Dominância visual: tendência da informação visual de domi-
nar a informação vinda de outros sentidos durante o processo de
percepção.
Captura visual: tendência da informação visual de atrair a
atenção da pessoa mais facilmente do que outras formas de inter-
pretação.
Memória
Capacidade de o indivíduo reter e utilizar a informação de
várias maneiras por vários períodos de tempo; composta de três
componentes:
1) armazenamento sensorial de curto prazo: sistema de
memória mais periférico, que mantém a informação que
chega por diferentes canais até que o indivíduo possa
identificá-la. Limitada na capacidade e extremamente
breve em duração, é capaz de fazer uma cópia exata do
que é visto ou ouvido;
2) memória de curto prazo (MCP): sistema de memória que
permite ao indivíduo o processo de recuperação e de
Tipos de Memória
Redintegrativa: memória em uma pequena lembrança
pode desencadear outra e, como resultado, uma experiência do
passado pode ser reconstituída a partir de um pequeno detalhe
como. Como exemplo podemos citar a situação em que, ao ouvi-
mos uma música lembramos de uma viagem realizada há muitos
anos.
De procedimentos: é aquela relacionada a respostas con-
dicionadas básicas como aquelas apresentadas no ato de digitar
uma palavra ou no uso de uma raquete em uma partida de tênis de
mesa e que pode ser substituída pela palavra "técnica".
Declarativa: utilizada para memorizar informações relacio-
nadas idéias, nomes, rostos, datas e palavras. É o tipo de memória
que uma pessoa com amnésia perde e que pode ser dividida em
semântica (relacionada ao nosso registro sobre o mundo em que
vivemos, não tem conexão com tempos e lugares, pois dificilmen-
te lembramos quando e onde aprendemos nossa língua, nossas
habilidades motoras, matemáticas e sociais básicas, por exemplo)
e episódica (aquela que apresenta conexão com tempos e ou luga-
res. É um registro autobiográfico de eventos como, por exemplo,
do Natal do ano de 2009; do dia que ficamos sabendo que tínha-
mos sido aprovados no vestibular).
De reconhecimento: capacidade de identificar adequada-
mente as informações aprendidas anteriormente. Este é o caso
quando somos capazes de recordar o conteúdo de uma disciplina
já cursada e bem estudada com apenas algumas leituras.
Explícitas: são aquelas trazidas à mente de forma consciente
quando, por exemplo, respondemos conscientemente e correta-
mente um teste de múltipla escolha.
Implícitas: são aquelas que utilizamos inconscientemente e que
influenciam de forma significativa nosso comportamento. Exemplo:
a lembrança dos lugares das letras de um teclado quando digitamos.
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Motivação
Motivação diz respeito a alguma causa que nos põe em mo-
vimento, a algo que nos estimula, que nos motiva, nos impulsiona
a fazer algo ou a agir de certa forma, sendo que o estudo das in-
fluências que justificam o início, a manutenção e a intensidade de
comportamento é crítica para compreendermos nosso comporta-
mento e nossa facilidade ou dificuldade de em aprender algo.
8. QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS
Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar
as questões a seguir que tratam da temática desenvolvida nesta
unidade, ou seja, o processo de aprendizagem humano.
Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu
desempenho no estudo desta unidade:
1) O que você entende como aprendizagem?
9. CONSIDERAÇÕES
A aprendizagem humana envolve uma série de processos
complexos e altamente suscetíveis de interferências internas (ní-
vel de ativação e de interesse, respostas individuais ao tipo e tem-
po de prática) e externas (condições materiais para aprendizagem,
local de realização entre tantos outros). Por isso, organizá-la é ta-
refa que demanda um grande número de informações qualitativa-
mente relevantes.
Na busca de uma adequada sistematização de suas ativida-
des, de modo a atingir suas metas (o ensino e a aprendizagem de
habilidades motoras), o professor de Educação Física deve se apri-
morar na pesquisa e no estudo dos mecanismos e meios que ve-
nham a favorecer a aprendizagem em sua práxis diária.