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1 VIGA BALCÃO

Filho, Joel ([s.d.]) caracteriza como sendo um tipo especial de viga de alma
cheia, devido as exigências arquitetônicas, por necessidades espaciais ou estéticas, a
viga projeta-se fora do plano, desenvolvendo em planta um arco ou poligonal,
apoiando-se apenas nos seus extremos. Essas vigas são denominadas vigas balcões,
nome originado da forma dos pisos que se projetam além da fachada do edifício, como
nos episódios de Romeu e Julieta e Rapunzel.

Figura 1: Viga balcão


Fonte: Filho, Joel ([s.d.])

A viga balcão apresenta um comportamento atípico em relação às vigas planas.


Além de apresentarem os mesmos esforços que aquelas, sofrem também esforço de
torção.

2 ESTUDO DE CASO – DIMENSIONAMENTO DE UMA VIGA BALCÃO

2.1 Exemplo de cálculo: viga-balcão (Estudo de caso do Prof. Alfonso Pappalardo


Junior)
De acordo com Pappalardo (2001) que usou como referencial um estudo
comparativo entre as respostas dos modelos estruturais (a) aproximado, obtido a partir
de uma viga-balcão bi-engastada e (b) rigoroso, considerando-se a viga-balcão
pertencente a um pórtico espacial enrijecido por elementos bidimensionais em cada
lance (diagragmas rígidos). A partir do modelo rigoroso pode-se verificar que os

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vínculos reativos não são simétricos, uma vez que a rigidez axial do pilar P3(20/60) é
muito maior do que a rigidez à flexão da viga contínua V1(15/50), conforme indicado
na Figura 2.

Figura 2: Detalhe da planta de fôrmas na região das vigas-balcão


Fonte: Pappalardo (2001)

Figura 3: Modelo de elementos finitos das vigas contínuas, vigas-balcão e pilares


Fonte: Pappalardo (2001)

Figura 4: Configurações deformada e indeformada dos modelos matemáticos (a)


rigoroso e (b) aproximado
Fonte: Pappalardo (2001)

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Fazendo um comparativo entre a figura 4.a e 4.b, Pappalardo (2001) afirmou que
a solução aproximada corresponde, hipoteticamente, a se considerar nos dois encontros
da viga balcão com a superestrutura, a presença de pilares com a mesma dimensão e
disposição, garantindo assim a simetria das condições de contorno. Segundo o modelo
teórico rigoroso, o apoio mais rígido, correspondente ao pilar P3, sustentará a maior
parte do carregamento, refletindo-se assim, em maiores esforços internos solicitantes. A
título de ilustração pode-se citar o comportamento à flexão de uma viga engastada-
apoiada uniformemente carregada, indicada na Figura 5. Pode-se observar que a reação
de apoio junto à extremidade engastada é quase igual ao dobro da reação junto à
extremidade apoiada.

Figura 5: Viga engastada-apoiada e diagramas de forças cortantes


Fonte: Pappalardo (2001)

Para os momentos fletores as diferenças são ainda mais significativas, não


somente em termos quantitativos, como também, em relação ao sinal do esforço. Como
o posicionamento da armadura longitudinal, em relação às faces inferior e superior da
viga, depende do sinal do momento fletor as diferenças entre os modelos matemáticos
rigoroso e aproximado são apreciáveis. Por exemplo, o trecho menos rígido da viga-
balcão será armado à momentos negativos, enquanto que para a solução rigoroso o
mesmo trecho será armado à momentos positivos. Didaticamente, pode-se ilustrar este
comportamento analisando-se a distribuição dos momentos fletores em vigas sujeitas a
recalques diferenciais isentas de carregamento.

Figura 6: Viga simplesmente apoiada sujeita a recalque diferencial


Fonte: Pappalardo (2001)

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Por fim, Pappalardo (2001), conclui que pode-se considerar que os trechos da
viga-balcão não paralelos oferecem uma resistência ao movimento de rotação das
extremidades do trecho central, garantida pela rigidez à torção deste trecho. Por esta
razão, os momentos fletores junto ao apoio flexível são positivos (tração na fibra
inferior) e, por outro lado, junto ao apoio rígidos, negativos (tração na fibra superior).

2.2 Dimensionamento das armaduras de flexão

Conforme Pappalardo (2001), no cálculo das armaduras positivas e negativas


foram considerados os dois modelos matemáticos apresentados para uma comparação
entre os resultados. A partir das próximas figuras poderá se obter os esforços de flexão
mais desfavoráveis, que conduzirão o dimensionamento à flexão normal simples no
Estado Limite Último para a seção retangular, com os seguintes coeficientes de
majoração:

 Ações permanentes e variáveis γg= γq=1,4.

E os seguintes coeficientes de minoração:

 Resistência do aço γa=1,15;


 Resistência do concreto γc=1,4.

Figura 7 Diagrama de momentos fletores na viga-balcão com ligação elástica –


modelo matemático rigoroso
Fonte: : Pappalardo (2001)

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Figura 8: Diagrama de momentos fletores na viga-balcão com ligação rígida – solução
aproximada
Fonte: Pappalardo (2001)

Para o modelo rigoroso:

 Armadura positiva:

12 𝑥 37² 1186
k₆ = ≅ 13,85 → As = 0,0338 = 108𝑐𝑚²
1186 37

Então: As = 2φ10mm

 Armadura negativa:

12 𝑥 37² 3322
k₆ = ≅ 4,9 → As = 0,0373 = 3,35𝑐𝑚²
3322 37

Então: As = 2φ10mm + 1φ16mm

Para o modelo simplificado:

 Armadura positiva:

12 𝑥 37² 200
k₆ = ≅ 82,1 → As = 0,0325 = 0,17𝑐𝑚²
200 37

Então: As = 2φ8mm

 Armadura negativa:

12 𝑥 37² 931
k₆ = ≅ 17,6 → As = 0,0335 = 0,84𝑐𝑚²
931 37

Então: As = 2φ8mm

A armadura mínima de flexão é dada por:

As,min = 0,15% 𝑥 𝑏𝑤 𝑥 ℎ = 072𝑐𝑚²

Então: As,min = 2φ8mm

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2.3 Dimensionamento de Armadura Transversal (modelo de cálculo I)

Particularizando-se para o caso prático de estribos verticais (α = 90º), tem-se


segundo o Modelo de Cálculo I, proposto no Projeto de Revisão da Norma NBR-6118,
a expressão para o cálculo da taxa de armadura transversal:

𝐴𝑠𝑤 1,56 . 𝑉𝑠 − 0,1 . 𝑓𝑐𝑘 ⅔ . 𝑏𝑤 . 𝑑


𝑃𝑠𝑤 = ( )=
𝑏𝑤. 𝑠 𝑓𝑦𝑤𝑑 . 𝑏𝑤 . 𝑑

Tal modelo apresenta o cálculo mais econômico para a armadura transversal,


além do fato das quantidades a serem levantadas são explicitamente indicadas. A única
ressalva é que deve-se entrar com o dado relativo à resistência característica à
compressão do concreto em MPa (1 mega Pascal=1N/mm2). Assim, segundo as
unidades impostas nesta formulação, deve-se trabalhar, consistentemente, em
milímetros e newtons.

2.3.1 Modelo Rigoroso

Figura 9: Diagrama de forças cortantes na viga-balcão ligação elástica


Fonte: Pappalardo (2001)

Sendo assim:

𝐴𝑠𝑤 1,56 . 33.350 − 0,1 . 20⅔ . 120 . 370


𝑃𝑠𝑤 = ( )= = 0,10%
𝑏𝑤. 𝑠 434,8 . 120 . 370

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Para um trecho de comprimento s = 100 cm, tem-se:

Asw = 1,2 cm²

Adotando-se barras de diâmetro nominal φ = 5 mm (Asw,1φ = 0,20 cm² ), a


armadura transversal será:

100 . 2 . 0,20
𝑠= ≈ 30cm > smáx = 0,6 . d ≈ 20cm ⇾ φ5mm c/ 20cm(2ramos)
1,2

Verificação da força cortante correspondente à armadura transversal mínima.


Segundo a NBR 6118/2014 o Item 17.3.1 que prescreve a taxa de armadura
transversal mínima para elementos sujeitos à força cortante no ELU, tem-se:

𝑓𝑐𝑘 ⅔
𝑃𝑠𝑤, 𝑚𝑖𝑛 = 0,06 . = 0,088% < 0,10%
fywk

𝑓𝑦𝑤𝑑 . 𝑏𝑤 . 𝑑 0,1 . 𝑓𝑐𝑘 ⅔ . 𝑏𝑤 . 𝑑


𝑉𝑚í𝑛 = (𝑃𝑠𝑤, 𝑚í𝑛). +
1,56 1,56

434,8 . 120 . 370 0,1 . 20⅔ . 120 . 370


𝑉𝑚í𝑛 = (0,088%) . + = 31,912 𝑁
1,56 1,56

2.3.2 Modelo Aproximado

Figura 10: Diagrama de forças cortantes na viga-balcão com ligação rígida


Fonte: Pappalardo (2001)

Devido ao valor da força cortante correspondente a armadura transversal mínima


ser superior ao maior valor indicado no diagrama da Figura 10, deve-se adotar a
armadura transversal mínima dada por:

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𝑓𝑐𝑘 ⅔
𝑃𝑠𝑤, 𝑚𝑖𝑛 = 0,06 . = 0,088%
fywk

Para um trecho de comprimento s=100cm, tem-se:

Asw = 1,06 cm² ⇾ φ5mm c/ 20cm (2ramos)

2.4 Detalhamento

Ao longo de todo o comprimento da viga deve-se garantir a presença de duas


barras superiores e duas barras inferiores, locadas nos quatro cantos da seção transversal
retangular, de modo a garantir estabilidade lateral aos estribos verticais na fase de
execução. Estas barras são conhecidas como porta-estribos, onde são indispensáveis na
montagem das armaduras em vigas de concreto armado.
Portanto, valendo-se deste princípio pode-se utilizar a armadura de flexão para
cumprir este papel, e com isto, pode-se dispensar a decalagem do diagrama de
momentos fletores para a revelação dos comprimentos das barras tracionadas, uma vez
que foram utilizadas duas barras para combater os momentos fletores positivos e
negativos. Então, as barras longitudinais devem se estender por toda a extensão da viga.
Para o trecho tipicamente representado pelo Corte CC, segundo o método rigoroso para
a obtenção dos esforços surge a necessidade de uma terceira barra para complementar a
área de aço exigida no cálculo. Na realidade, o comprimento da barra negativa N4,
indicada na Figura 12, deve ser obtido segundo o esquema de cobertura do diagrama de
momentos fletores deslocado, observando-se os comprimentos de ancoragem exigidos
em região de má aderência.

Figura 11: Planta de Fôrmas referente à viga-balcão VB1 (12/40)


Fonte: Pappalardo (2001)

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Figura 12: Detalhe típico das armaduras nos trechos correspondentes aos cortes AA,
BB e CC da viga-balcão VB1 (12/40) obtidas pelo Método Rigoroso
Fonte: Pappalardo (2001)

2.5 Considerações Finais

Os comprimentos das armaduras detalhadas foram adotados, de maneira


simplificada, para facilitar a montagem e conferência na fase de execução da viga-
balcão.

Vendo por outro lado, pode-se notar uma diferença nas armaduras calculadas,
comparativamente, segundo os métodos de cálculo rigoroso e aproximado apresentados.
Então, pode-se afirmar que nos dois casos tem-se um dimensionamento seguro, apesar
de que, particularmente, para a viga calculada segundo o método aproximado, deve-se
notar uma plastificação (fissuração) da mesma no encontro com o pilar P3, levando a
uma redistribuição de esforços e passando a “chamar” a armadura positiva, que a
solução elástica, obtida pelo modelo aproximado, exigiu. Segundo o modelo de cálculo
aproximado instalaria fissuras na região do encontro da viga-balcão com o pilar P3 e
caso, a superfície externa da viga-balcão não receber tratamento adequado, poderá então
se reverter, num futuro em um problema patológico.

3 EXEMPLOS DE SISTEMA CONSTRUTIVO

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Figura 13: Viga balcão em concreto armado
Fonte: Souza; Rodrigues (2008)

Figura 14: Viga balcão em concreto armado


Fonte: Matos (2018)

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REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 6118:


Projeto de estruturas de concreto — Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.

Filho, Joel. Sistemas estruturais básicos ([s.d.]).

MATOS, Bernardo Meira Souza Braz. Aplicabilidade de Coberturas em Cúpulas


Metálicas em Edificações Religiosas –Estudos de Caso (2018).

PAPPALARDO, Alfonso. Aula j – exemplo viga-balcão (2001).

Souza, Marta Francisca Suassuna Mendes; Rodrigues, Rafael Bezerra. Sistemas


estruturais de edificações e exemplos (2008).

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