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PELAS FOLHAS DE "O VERBO": PERCALÇOS, ESFORÇOS E IDEAIS NA

PRIMEIRA ADMINISTRAÇÃO DE RECREIO (1939-1946)∗

Leonardo Ribeiro da Silva∗∗

Resumo: O objetivo do presente artigo é analisar as páginas do jornal “O Verbo”


durante o período de 1939 a 1946, período que marca primeira administração do
município de Recreio, relatando os percalços, os esforços e os ideais desta
administração e da população na elevação do nome da cidade. Para isto é
importante identificar o auxílio que os jornais proporcionam para as pesquisas
históricas e o papel da imprensa no governo do Estado Novo.

Palavras-chave: imprensa – Recreio – esforços – percalços


Trabalho de conclusão do curso de pós-graduação em Ciências Humanas – Brasil, Estado e
Sociedade – da Universidade Federal de Juiz de Fora (2008/2009), sob a orientação da Prof. Dra.
Sonia Maria de Souza.
∗∗
Graduado em História pelas Faculdades Integradas de Cataguases.
Introdução
O objetivo deste artigo é analisar o período da primeira administração de
Recreio (1939-1946), tendo como fonte o jornal ‘O Verbo’.1 Nele serão identificados
os percalços, os esforços e os ideais tanto desta administração quanto da população
na elevação do nome da cidade.
Na trajetória do artigo será feita uma pequena menção do surgimento de
Recreio, que tem sua origem devido à passagem da estrada de ferro Leopoldina por
este território. De acordo com o objeto de pesquisa que será o jornal, o nascimento
da imprensa no Brasil fará parte deste artigo de forma sucinta, onde será descrito
também a origem do jornal em Minas Gerais e na decorrência o surgimento da
imprensa recreiense.
Para o entendimento da função da imprensa em pesquisas históricas será
também analisado não só o papel deste meio de comunicação no Governo de
Vargas durante o Estado Novo, mas também o papel do jornal O Verbo na primeira
administração de Recreio, a qual coincide com este período.
Pelas folhas de ‘O Verbo’ o trabalho terá seu desenvolvimento, onde nos
anos da primeira administração de Recreio o jornal descreverá o empenho da
sociedade e da administração para buscar o progresso da cidade, mesmo que
tenham dificuldades para esta elevação o recreiense mostrará o seu empenho para
prosperar o Município, onde o jornal lido pelo povo a cada semana se empenhará
também neste objetivo e fará campanhas para a ascensão de Recreio, e uma
dessas campanhas ganhará as páginas do semanário, que buscará elevar o nome
de Recreio a Termo Judiciário.
O jornal ‘O Verbo’ fará o seu papel de colaborador da sociedade num
período em que as dificuldades serão grandes para uma pequena cidade, mas esta
pequena imprensa mostrará o seu grande apoio a esta cidade e pelas linhas deste
artigo “(...) o que era notícia se transforma em História.” (MEDINA, 1988:21).

1
Os estudos deste período da história da cidade de Recreio tendo como fonte o jornal ‘O Verbo’ se
devem ao empenho de David Vieira Germello (in memorian), que teve a idéia de encadernar a sua
coleção do jornal e que hoje se encontra em propriedade de sua esposa, Dona Aparecida Germello.
Por estas linhas gostaria de registrar meu agradecimento a Pedro Ernesto Ferreira Dorigo que apoiou
este estudo e possibilitou a pesquisa em seu acervo particular, que são cópias do acervo de Dona
Aparecida Germello. Alguns exemplares se encontram na Biblioteca Municipal Dr. Carlos Coimbra da
Luz – Recreio (MG).

Leonardo Ribeiro da Silva


Uma pequena história de Recreio
Recreio é o município mineiro que encravado entre os “mares de morros” da
Zona da Mata mineira, mais precisamente localizado na Microrregião de
Cataguases, tem sua origem ligada à estrada de ferro Leopoldina, que nos anos
setenta do século XIX, por terras onde hoje está localizada a sede do Município de
Recreio, passou e impulsionou a criação de um simples arraial, que logo se tornou
distrito e em um curto período já estava emancipado.
O território foi contemplado com a passagem do importante investimento
das estradas de ferro num período onde elas cortavam a área da Mata em uma
velocidade incontestável. 2A origem da passagem da estrada de ferro neste território
advém da “(...) autorização para construir a estrada de ferro ligando Porto Novo do
Cunha a Leopoldina (...).” (CANTONI).3
A ferrovia seria a inovação que daria impulso a economia da Zona da Mata
mineira, já que no princípio o carregamento da produção de café era feito de forma
precária4, sendo implantada a ferrovia nas terras que eram pertencentes aos “irmãos
Coronel Francisco Ferreira Neto (proprietário da fazenda das Laranjeiras) e Capitão
Inácio Ferreira Brito (proprietário da fazendo do Recreio)” (CARVALHO; SILVA,
2008: 7). A presença da ferrovia nestas terras iria também contribuir para o
crescimento de uma simples vila que fora conhecida inicialmente como Arraial
Novo.5
A vila próspera logo estava com um grande movimento ferroviário,
proporcionado por outro caminho de estrada de ferro, o ramal que ligaria Recreio a
Campos (RJ) em 1891. Foi criado neste território um entroncamento que iria fazer a
2
“Depois da inauguração da estação de Porto Novo, da Estrada de Ferro Dom Pedro II, em 1871, as
estradas de ferro tornaram-se uma obsessão na Mata e em todo o Estado. Todos os mineiros
compartilhavam a noção, tão comum no século XIX, de que a locomotiva prometia ser um agente da
civilização e do progresso. (...)”. BLASENHEIN, Peter Louis. Uma História Regional: A Zona da
Mata Mineira (1870/1906). Trabalho publicado pelo Centro de Estudos Mineiros. V Seminário de
Estudos Mineiros. UFMG/PROED, 1982. Disponível on-line: <http:// www.asminasgerais.com.br>.
Acesso em 26 de maio de 2008.
3
Descrita na Lei Mineira n° 1826 de 10 de dezembro de 1871.
4
Segundo Blasenheim, as dificuldades do transporte de café para a capital “mudou dramaticamente
no final da década 1870, quando o sul e o centro da Mata foram ligadas por ferrovias à cidade do Rio
de Janeiro. As exportações de café quase dobraram entre 1875 e 1880, um aumento que os
fazendeiros atribuíam à locomotiva.” Para maiores esclarecimentos, ver, BLASENHEIM, Peter Louis.
As Ferrovias de Minas Gerais no século XIX. Disponível on-line: <http://www.locus.ufjf.br/>. Acesso
em 18 de março de 2009.
5
O livro do Cartório de Notas de Conceição da Boa Vista (atual distrito de Recreio) faz referências ao
Arraial Novo no ano de 1877. Para maiores esclarecimentos: CANTONI, Nilza. O Arraial Novo e a
Estação. Disponível on-line: < http://www.cantoni.pro.br>. Acesso em dia 29 de maio de 2008.
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ligação entre três estados (Rio de Janeiro, Espírito Santo e Minas Gerais) com a
capital federal. Neste ano de acordo com o Decreto Estadual n°123 de 27 de junho
de 1890 e confirmado pela Lei Estadual n°2 de 14 de setembro de 1891, o povoado
eleva-se a Distrito, sendo este anexado ao município de Leopoldina. 6
O distrito que era conhecido por seu movimento ferroviário logo alcançaria
sua municipalidade de concordata com o Decreto-lei estadual n° 148, de 17 de
dezembro de 1938, criou-se o município de Recreio, com os distritos de Recreio,
Conceição da Boa Vista e São Joaquim (atual Angaturama), desmembrados do
município de Leopoldina.7 A partir de janeiro de 1939 o município passara a ter um
prefeito que seria responsável pela administração tanto do distrito sede, assim como
pelos seus outros distritos citados acima.

6
Para maiores esclarecimentos, ver, CARVALHO, Cynthia Cristina de Mello; SILVA, Leonardo
Ribeiro da. Café, Ferrovia e Recreio pós-municipalização. II Seminário de História Econômica e
Social da Zona da Mata Mineira – FAFISM – 2008. Disponível on-line: < http://www.cantoni.pro.br>.
Acesso em dia 18 de março de 2009.
7
Ibidem.
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O surgimento da imprensa: um breve comentário
Diante de nosso objeto de pesquisa que é o jornal é de extrema importância
fazermos uma breve análise do surgimento da imprensa no Brasil, que nos remete
ao ano de 1808 que é quando na fuga da família real portuguesa para o Brasil, irá
surgir a imprensa brasileira. Nas mãos de Hipólito José da Costa Furtado de
Mendonça empolgado pela vinda da Família Real para o Brasil e pela sua
experiência vivida na Inglaterra irá aparecer o Correio Braziliense, que em 1° de
junho de 1808 tem seu primeiro número rodado em Londres:

Chamou-o de Correio Braziliense porque, naquele começo de século


XIX, chamava-se brasileiros aos comerciantes que negociavam com
o Brasil e brasilianos os índios. Brazilienses eram os portugueses
nascidos ou estabelecidos no Brasil e que se sentiam vinculados ao
Brasil como à sua verdadeira pátria. Ao dar a seu jornal o nome de
braziliense, Hipólito demonstrava que queria sua mensagem
preferencialmente aos leitores do Brasil. (Lustosa: 2003, 14)

No Brasil teremos a instalação da Gazeta do Rio de Janeiro, este foi o


primeiro impresso no Brasil em 10 de outubro de 1808, “(...) era uma espécie de
folha oficial onde se publicavam os decretos e os fatos relacionados a família real.”
(Idem, 20).8
O Correio e a Gazeta eram totalmente opostos, pois o jornal de Hipólito
visava ares de independência para o Brasil, enquanto a Gazeta traçava o seu papel
de folha informativa da Corte. Com a independência do Brasil em 1822 o Correio
Braziliense terminou sua trajetória, pois nas palavras de Hipólito “o Correio já tinha
conseguido o seu objetivo” Como a Gazeta do Rio de Janeiro, era um produto da
Corte, também é extinto com a independência.
Em Minas Gerais, as primeiras tipografias são de 1822, os primeiros
periódicos mineiros são de 1823.

Nesta época, a então capital mineira assistiu ao surgimento do


primeiro jornal da província. O Compilador Mineiro veio a publico
descortinar uma pratica ainda inexistente entre os habitantes de
8
“(...) a Gazeta era embrião de jornal, com a periodicidade curta, intenção informativa mais do que
doutrinária, formato peculiar aos órgãos impressos do tempo, poucas folhas, preço baixo; o Correio
era brochura de mais de cem páginas, geralmente 140, de capa azul escuro, mensal, doutrinário
muito mais do que informativo, preço muito mais alto.” Para melhores esclarecimentos: SODRÉ.
Nelson Werneck. História da Imprensa no Brasil. 4. ed. Rio de Janeiro, Mauad. 1999, p. 22. Para
Rodrigo Fialho, “(...) alguns estudiosos da imprensa atribuem o período do processo de emancipação
política do Brasil como o momento irradiador de discussão em que realmente surge a imprensa no
Brasil. (...).” FIALHO, Rodrigo. A imprensa como fonte de pesquisa para história: caminhos e
percursos. In: SANTOS, Cláudia R. Andrade dos. (Org). Estudos. ,Vol. II. Curitiba, 2007, p. 121.
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Minas Gerais e que a partir dessa atitude inicial, outros periódicos,
vieram à baila passando a compor o cenário político, social e cultural
da província. (FIALHO: 2007, 21)

Em terras recreienses o surgimento da imprensa ocorre em 9 de agosto de


1906. Neste ano com o empenho de Luiz Soares dos Santos e do Professor
Edmundo de Morais, surge o jornal ‘O Verbo’, “(...) após terem adquirido as oficinas
tipográficas do O Lidador, órgão dirigido pelo Padre Prudêncio, vigário de Conceição
da Boa Vista (...)” (O VERBO, 09/08/49: 1).
Com a instalação do Município de Recreio em 1939, ‘O Verbo’ surgiu em
sua terceira fase, “(...) com a finalidade nobre de difundir os conhecimentos, as
informações e os noticiários úteis ao nosso progressista e futuro Município de
Recreio.” (O VERBO, 01/01/45: 1).
O jornal ‘O Verbo’ era composto de quatro páginas, nas duas primeiras
páginas eram destacáveis as obras de casas, passeios, comércios e obras
empenhadas pela administração, além de reclamações para a melhoria da urbe. Nas
páginas seguintes encontravam-se as propagandas do comércio, atendimentos
médicos e de advogados, além de obituários, nascimentos, noivados, casamentos.
Era encontrado regularmente também nas folhas do jornal editais, decretos,
prestação de contas e outros serviços da Prefeitura Municipal.
Enquanto a imprensa brasileira surge com a chegada da Família Real em
terras “além-mar”, os periódicos mineiros surgirão após a independência e a
imprensa recreiense surge no momento político brasileiro chamado de República
Velha. Para a elaboração deste artigo foi analisada a terceira fase de ‘O Verbo’9,
entre os anos de 1939 e 1946, período em que Recreio estava em sua primeira
administração e o Brasil era governado por Getúlio Vargas durante a fase do Estado
Novo.

9
O período estudado refere-se a Terceira Fase de “O Verbo”, onde este irá ser formado pelos
seguintes:
►Em 1939: Diretor: Dr. Armando Sizenando e Francisco D’Almeida – Redator: Enéas Nunes de
Miranda e Gerente: José D. Vieira, a partir de 19 de março de 1939 – Redator: Dr. Wantuyler Gama
Lima.
►Em 1940: Diretor: Francisco D’Almeida – Redator: Dr. Wantuyler Gama Lima – Gerente: José D.
Vieira, a partir de 14 de abril de 1940 – Gerente e proprietário: Luiz D. Vieira.
►Em 1942: Diretor: Francisco D’Almeida – Redator: Dr. Wantuyler Gama Lima – Gerente e
proprietário: Luiz D. Vieira.
►Em 1943: Diretor: Francisco D’Almeida – Gerente e proprietário: Carlos Martins Vieira.
►Em 1945: Diretor: Francisco D’Almeida – Gerente e proprietário: Carlos Martins Vieira.
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A imprensa no Estado Novo
O período estado-novista será um momento de extrema dificuldade para os
opositores do governo. As manifestações contrárias não eram aceitas e numa forma
de censurar foi criado o Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). Este tinha
o papel de averiguar todas as formas de comunicação no Brasil e todos os meios de
comunicação deveriam ser registrados neste departamento:

(...) jornais, rádios, cinema. A partir de 1940, 420 jornais e 346


revistas não conseguiram registro no DIP. Os que insistiram em
manter sua independência ou se atreveram a fazer críticas ao
governo tiveram sua licença cassada. As “publicações
inconvenientes” foram suprimidas. (CAPELATO, 1999:173.)

O jornal ‘O Verbo’ estava registrado de acordo com o Decreto n° 5.318, sob


o n° 219 e no D.I.P sob o n° 23.217 e este sabia se adequar a política estado-
novista. Nas folhas de “O Verbo” a exaltação ao presidente eram regularmente
encontradas como pode ser visto em uma delas:

A concentração do poder nas mãos do Presidente Getúlio Vargas


não é, pois, apenas um fenômeno natural que resulta da política
moderna. É uma providência benéfica, que se via exposto e da
dissolução que estava fadado, vem permitindo a reconstrução
nacional, sob moldes capazes de fazer do Brasil uma nação
próspera, forte, grande e feliz. (O VERBO, 14/04/40: 1)

As passagens da data natalícia de Getúlio Vargas eram também motivos de


estampar na primeira página a foto deste, com dizeres de felicidades e de apoio ao
regime.
O DIP além de censurar os meios de comunicação, foi usado para a
divulgação do governo. Estruturalmente o órgão estava composto da Divisão de
Divulgação, Divisão de Radiodifusão, Divisão de Cinema e Teatro, Divisão de
Turismo, Divisão de Imprensa e Serviços Auxiliares, todos empenhados na
divulgação propagandista do governo e “(...) para este fim foram produzidos livros,
revistas, folhetos, fotos, cartazes, programas de rádio, cinejornais, documentários
cinematográficos, etc.” (CAPELATO, 1998: 204).
A política propagandista do governo de Vargas tinha sua origem na
propaganda exercida na Alemanha por Adolfo Hitler para a divulgação do regime
nazista. “A propaganda política organizada por Goebbels na Alemanha impressionou

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alguns homens de poder, intelectuais e jornalistas brasileiros que passaram por este
país nos primeiros tempos do nazismo. (CAPELATO, 1998: 203).”
Com as mudanças políticas ocorridas no Brasil a partir do Estado Novo, a
Constituição de 1937 no artigo 27 relatava que: o Prefeito será de livre nomeação do
Governador do Estado. Seguindo a constituição o Governador do Estado de Minas
Gerais o Sr. Benedito Valadares nomeou o Sr. Modesto Farias para o cargo de
Prefeito Municipal de Recreio.10

10
Para maiores informações: Constituição dos Estados Unidos do Brasil (de 10 de novembro de
1937). Disponível on-line: <http://www.planalto.gov.br/>. Acesso em 12 de março de 2009.
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O jornal em pesquisas históricas
Grandes auxiliadores da sociedade, os jornais têm prestado grande
assistência em pesquisas históricas. “O debate no Brasil sobre a presença dos
jornais no trabalho do historiador é parte constituinte do momento de mudanças na
compreensão do documento e da própria concepção de História.” (GALVES: 67).
Marialva Barbosa e Ana Paula Goulart Ribeiro em “O que a história pode
legar para os estudos de jornalismo” analisa o vínculo entre jornalistas e
historiadores, e como a teoria da história pode ser fundamental para a observação
do estudo jornalístico. Por estar se preocupando sempre com os por quês o
historiador está a se indagar em folhas jornalísticas para o entendimento do que leva
determinadas notícias fazerem parte de um periódico. Para Marialva Barbosa e Ana
Paula Goulart Ribeiro, a intenção não é a de descrever que a mídia poderá
determinar como uma sociedade deva pensar, mas o que leva esta notícia a fazer
parte desta sociedade.
A aproximação de jornais em pesquisas históricas passa a ser um vínculo
de grande valor para as análises, jornalistas e historiadores tendem a fazer
percursos similares, já que para a produção de matérias jornalísticas este precisa se
integrar do que levou algo acontecer, não estando diferente das pesquisas históricas
que através desta têm-se a análise do momento em que o tema estava inserido.
“Assim, o jornalismo como a história conta histórias.” ( BARBOSA; RIBEIRO: 3).
A história contada pela história vem a ser distinta da história relatada pelo
jornalismo. O historiador ao analisar um período ele descreve um tempo passado,
enquanto o jornalista ao descrever sua história ele se acha no tempo presente, no
aqui agora e neste aqui agora é que a história busca entendimentos nos jornais, que
precisamente relatam o seu período. Assim, a notícia de uma época se torna objeto
de pesquisa para historiadores.
Vindo como um lastro de luz que entra em nossas janelas, a notícia nos faz
compreender a importância de termos um meio de comunicação. Neste meio de
comunicação chamado “Jornal” observa-se as memórias de um tempo, onde “(...) o
repórter procura tão-somente registrar cada acontecimento isolado, à proporção que
ocorre, e só se interessa pelo passado e pelo futuro na medida em que estes
projetam luz sobre o real e o presente.” (MEDINA, 1988:69). Já a história não tem a

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tarefa de “(...) recuperar o passado tal como ele se deu, mas interpretá-lo.”
(BARBOSA, 2007: 13).
Para Marialva Barbosa (2007), existem cinco conjuntos de estudos usando
a imprensa como fonte de pesquisa: o primeiro conjunto se caracteriza por
acompanhar o aparecimento e o desaparecimento de periódicos numa perspectiva
essencialmente factual. Ela destaca o livro com a síntese da História da Imprensa no
Brasil de Nelson Werneck Sodré. O segundo grupo se concentra nas modificações e
na estrutura interna dos jornais. Este estuda um único periódico ou um pequeno
grupo deles. Ela ressalta que o problema destas pesquisas é que em sua maioria
não há uma abordagem do momento histórico e social e fazem apenas o diagnóstico
das ações individuais dos autores envolvidos. No terceiro conjunto há a abordagem
dos meios de comunicação em geral como estes sendo mensageiros de conteúdos
políticos e ideológicos, mas não analisam os limites exclusivos da origem e do
desenvolvimento de cada tempo. O quarto grupo é formado por estudos que
descrevem o contexto histórico em que um determinado periódico se inseriu,
descrevendo do seu surgimento ao auge e chegando ao desaparecimento. Por fim,
o quinto conjunto é formado pelas pesquisas que consideram a história como um
processo e, sobretudo, a imprensa na sua relação com o social, destacando-se
nestes trabalhos a visualização das informações impressas para o entendimento da
conjuntura e do espaço social abordado nestes periódicos.
A análise de ‘O Verbo’ fará parte constante deste artigo, pois pelas folhas
deste serão entendidas as dificuldades, as lutas e os ideais da sociedade recreiense
para elevação do nome da cidade. Dentre os cinco modelos de pesquisas descritos
por Marialva Barbosa este trabalho se concentra no quinto grupo.
O estudo de jornais de pequena expressão é tratado por Marcelo Cheche
Galves em “Pequena imprensa e poder político: pensando os jornais locais como
objeto e fonte de pesquisa”, onde o autor relata que apesar da dificuldade da
legitimação das notícias extraídas de um pequeno periódico, estes podem ser
pensados como objetos de pesquisas e que suas linhas devem ser consideradas.
Para Galves, os pequenos jornais tendem a estar subordinados ao poder público,
tendo neste âmbito um paralelo para pesquisas. Em suas conclusões finais este
ainda relata que com as péssimas condições de preservação de documentos nas
cidades, o jornal se torna uma valiosa fonte para a historiografia.

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Em alguns trabalhos com a utilização da imprensa encontramos também
disputas políticas. Rodrigo Fialho (2007), aborda dois periódicos da Vila de São João
del Rey onde há disputas políticas entre os periódicos no século XIX: O Amigo da
Verdade e o Astro de Minas. Para o autor, estes jornais não devem ser só
observados como relatores de um certo momento político, mas também como
personagens deste mesmo momento.
Na cidade de Recreio não foi possível fazer análises de disputas políticas, já
que ‘O Verbo’ era o único periódico existente na cidade e além do mais o período
pesquisado neste artigo era de um regime rigoroso com os meios de comunicação.
Muito creditado entre os meios de comunicação o jornal é também
observado como uma forma de manipular uma sociedade, e é assim que ele foi
utilizado no período do Estado Novo e, neste contexto histórico o jornal ‘O Verbo’ se
insere. O “(...) fato de a história se preocupar com as razões, as causas, os por
quês.” (BARBOSA; RIBEIRO: 2), nos fez analisar as páginas do periódico recreiense
de forma abstrata. As suas folhas que circularam entre os anos de 1939 e 1946 vão
ter um tom de realizações para o bem de Recreio e coerente com a administração
da cidade este jornal fará parte da história de Recreio através de seu empenho, sua
legitimidade e seu caráter.

Sua orientação jornalística não seria por certo a da guerra


destruidora, nem da emboscada traiçoeira. Sua política, sua religião,
seus princípios básicos eram a defesa da municipalidade nova, era a
propaganda da concórdia, era a doutrina do progresso idealista deste
novo município. E, sob tão auspiciosos lemas O Verbo caminhou na
aurora dos tempos novos, desfraldando os troféus admiráveis de um
pensamento só: Trabalhar pelo bem de Recrêio... Trabalhar pelo
bem estar do recreiense. (O VERBO, 01/01/42: 1).

Por tanto, o jornal ‘O Verbo’ irá traçar o caminho para que este trabalho seja
efetuado, definindo assim este como a fonte primária da pesquisa histórica sobre a
primeira administração de Recreio.

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Pelas folhas de ‘O Verbo’
(...) Em Dezembro de 1938 ventos novos suscitaram clamores jovens
no Recrêio, pequenino distrito leopoldinense, e em 1° de janeiro foi
anunciado o nascimento de mais municípios no Grande Brasil, e
entre estes apontou o nome de Recrêio.
Daí surgiu a necessidade da Ressurreição da imprensa recreiense
tão famosa e tradicionalmente representada pelo O Verbo. Ei-lo em
sua terceira fase, imponente, rejuvenescido, galhardamente
triunfante entre os demais semanários mineiros e nacionais. (...) (O
VERBO, 01/01/42: 1).

O jornal ‘O Verbo’ como já fora descrito antes surgiu em 1906 e sua


caminhada sempre foi em prol de Recreio. Empenhado com o progresso da
municipalidade sua terceira fase terá início justamente na data de 1° de janeiro de
1939, quando para o cargo de Prefeito Municipal o Governador Benedito Valadares
confiou ao agrimensor Dr. Modesto Faria, homem de respeito na cidade.
O primeiro dia da municipalidade de Recreio foi uma data bastante
comemorada e durante um bom tempo a data festiva do município foi o dia primeiro
de cada ano. As comemorações da elevação de Recreio a município foram distintas,
pois o trabalho seria a grande dedicação que a administração e a sociedade
recreiense poderiam mostrar a partir deste momento e numa forma de deter algumas
vozes de oposição à emancipação de Recreio, o jornal começou a mostrar sua
colaboração para a municipalidade:

(...) Passados os primeiros instantes festivos e entusiásticos que se


seguem às realisações de sonhos e aspirações, devemos nos
preparar para continuar sonhando coisas maiores como até então,
vínhamos fazendo. Os raros derrotistas existentes no seio de tão
florescente sociedade vivem dês de que se falou no
desmembramento de Recreio da Comarca de Leopoldina a apregoar
que eram falsas todas as hipóteses neste sentido.
Agora, cientes da derrota sofrida pelo pessimismo que os orienta
continua a afirmar aos quatro ventos que ao findar o qüinqüênio
Recreio será reintegrado ao Município de que foi desmembrado por
insuficiência em sua vida econômica. Isto se deixe passar em
brancas nuvens os ditos destes apregoeiros da derrota em nossa
sociedade. E ao referirmos-nos às suas ideias queremos dizer-lhes
que é principio racional, logico e humano que só devemos destruir
alguma cousa quando tenhamos em mente elaborado um plano de
construção que venha substituir aquilo que destruímos.
E para acabarmos com as queixas injustificaveis da deficiencia
territorial do Município de Recreio diremos: se a extensão territorial é
o documento que alegam, por que motivo Recreio como distrito teve
tão destacada situação política e economica?

Leonardo Ribeiro da Silva 12


As dificuldades existem, mas elas serão supridas caso o povo
independente queira supri-las, caso os poucos derrotistas que tudo
destroem numa condenavel e racial dialetica venham raciocinar
melhor estudando um pouco mais e observando com menos
derrotismo o desenrolar evolutivo dos fatos sociais que nos
cercam.(O VERBO,29/01/39:1 e 2).

O momento político brasileiro era um momento em que as críticas e


oposições aos órgãos públicos não eram tolerados. Neste papel a imprensa de
Recreio mostrava que suas diretrizes eram de empenho total para que os poucos
oposicionistas ficassem inibidos com a posição do jornal e este ainda contribuía para
que a sociedade não aderisse a esta oposição.
Além de procurar destruir “vozes contrárias ao progresso de Recreio”, a
imprensa recreiense começou seu empenho em favor da sociedade, revelando o
seu descontentamento com a iluminação pública da cidade em 1939, serviço que
era realizado pela então Companhia Força e Luz Cataguazes Leopoldina:

(...) na noite de 22 do corrente Recrêio a passou as escuras, um


espetáculo ao que se assistia nos dias históricos dos séculos XVI,
XVII e princípio do século XVIII... Os prejuízos inumeraveis advindos
de tais acontecimentos são conhecidos demais, para que nos
ocupemos em referências desnecessárias ao menos.
Apenas nos reportamos ao acontecimento doloroso e absurdo de 22
do corrente para indagar: até quando, isto acontecerá?(...). (O
VERBO, 29/03/39: 1). 11

As reclamações observadas no jornal foram também contra a estrada de


ferro Leopoldina que mantinha seu depósito de lenha em local que não era de
agrado da população. A situação deste depósito era descrita pelo jornal como um
caso de longas datas. Este era

(...) o caso da abusiva atitude assumida pela companhia ferroviária


que corta toda a Zona da Mata, no que se refere ao depósito de
lenha, em local impróprio e inadequado... Reclamações sucessivas
do povo recreiense tem ficado no ar à espera de solução. (O
VERBO, 30/04/39: 1). 12

11
Em ‘O Verbo’ de 27 de outubro de 1940, citado em Café, Ferrovia e Recreio pós-
municipalização (CARVALHO; SILVA, 2008: 12): “fazia sentir a necessidade da reforma completa na
iluminação pública da cidade (...).” Disponível on-line: < http://www.cantoni.pro.br>. Acesso em dia 18
de março de 2009. Pelas folhas de ‘O Verbo’ a reforma foi identificada em dezembro de 1943: “Acha-
se nesta cidade, afim de proceder a reforma geral da iluminação pública, a turma de trabalhadores da
C.F.L.C.L que aqui vai instalar a nova luz.” O Verbo – Terceira Fase – Cidade de Recreio, 12 de
dezembro de 1943. Ano 5. N° 243, p. 4
12
Segundo o jornal: “(...) Ofícios do Sr. Prefeito seguiram imediatamente para a gerência da
companhia inglesa, engenheiros da mesma aqui estiveram como resposta áqueles ofícios. O Sr.
Prefeito demonstrou-se intransigente, confirmando todas as alíneas de seus ofícios. No entanto até
Leonardo Ribeiro da Silva 13
Podemos analisar o fato de o jornal ‘O Verbo’ estar tão preocupado com o
bem-estar social como uma forma de adquirir a admiração de quem iria fazer o
13
sucesso deste jornal. Em descrições sobre o interesse das notícias Cremilda
Medina descreve que: “só é notícia quando chega às pessoas para as quais tem
interesse noticioso.” (MEDINA, 1988: 69).
Para o pesquisador: “(...) o principal postulado da historiografia refere-se à
questão da interpretação: não se trata de recuperar o que ocorre (...), mas
interpretar – a partir da subjetividade do pesquisador – as razões de uma
determinada ação social.” (BARBOSA; RIBEIRO: 2 e 3).
Interpretando as notícias de reclamações tanto para a companhia de
energia elétrica quanto para o transporte ferroviário, podemos inferir que a intenção
do semanário era além de ganhar a confiança do povo, era também de levar estes
protestos ao conhecimento do Prefeito Municipal para este tomar as atitudes
necessárias para melhorar a vida social do recreiense.
O dia de 1° de janeiro de 1940 foi a primeira data festiva do dia do município
e pelas folhas de ‘O Verbo’ houve uma descrição deste momento de satisfação na
cidade:

(...) Missa em ação de graças, pela manhã, ás 13 horas inauguração


do retrato de S. Excia. O Dr. Getúlio Vargas na Delegacia local,
falando por essa ocasião o nosso mui digno Diretor Francisco de
Almeida. A seguir, incorporadas, todas as autoridades, do Município
e do Estado, encaminharam-se em direção á séde da Prefeitura
Municipal de Recrêio acompanhadas de grande multidão, contando
com a cooperação musical da Sociedade M. Lira 1° de Maio.
Ao chegarmos á séde da prefeitura, o Sr. Prefeito assumindo o seu
posto na mesa convidou para formarem ao seu lado os seguintes
senhores Mauro de Almeida Pereira, seu mui digno Secretário; Dr.
Wantuyler Gama Lima, como orador oficial da festividade; Sr.
Henrique Zamagna, Delegado de Polícia; Sr. Francisco D’ Almeida,
nosso diretor e oficial de registro;(...). (O VERBO, 07/01/40: 1).
(...) Ao anoitecer houve retreta, realizada, pela Sociedade M. Lira 1°
de Maio e logo após deram início aos bailes anunciados nos
programas da festa, o do Salão Recrêio Clube foi abrilhantado pelo
Jura-Jazz e o do Flôr da Mocidade pelo conjunto do Jazz da Lira 1°
de Maio. (...). (O VERBO, 14/01/40: 1).

hoje permanece insolúvel o caso. (...).” O Verbo – Terceira Fase – Cidade de Recreio, 30 de abril de
1939. Ano 1. N° 17, p. 1.
13
O fato de ‘O Verbo’ ter em sua redação o advogado Dr. Wantuyler Gama Lima, pode ser a
explicação desta e outras reclamações, já que este era conhecedor de direitos e deveres, pois era
também professor e diretor do Instituto de Ensino Recreio Novo.
Leonardo Ribeiro da Silva 14
O momento além de ter sido de comemoração para a municipalidade, houve
também evento para homenagear o Presidente do Brasil com a foto que ficou
exposta na delegacia. Além desta homenagem ao Presidente devemos destacar a
presença do diretor e do redator do jornal, o que mostra o vínculo entre a imprensa e
a administração municipal.
Para destacarmos um outro vínculo entre os nomes que estão na
administração de Recreio e os nomes que fazem a imprensa recreiense, é
observado a ligação de parentesco entre o secretário da prefeitura, Mauro de
Almeida Pereira, e o diretor de ‘O Verbo’ Francisco D’ Almeida. Mauro era sobrinho
de Francisco e este além exercer o cargo de diretor deste meio de comunicação, era
também o Oficial de Registro Civil e Secretário da Junta de Alistamento Militar de
Recreio (o presidente era Modesto Faria).
Os ares de progresso começaram a chegar a Recreio a partir dos anos
quarenta. Em fevereiro de 1940 uma notícia agraciou a população da cidade e, pelas
palavras do jornal seria um fato completamente despercebido, mas é que ele
aconteceu numa cidade onde tudo assume aspectos de novidade.

Pela manhã da segunda-feira, 19 do corrente, Recrêio foi despertado


com uma auspiciosa e empolgante novidade. A população operosa
da cidade, movimentando-se, desde cedo, sorria feliz e supreza
diante do acontecimento. Waldemar Amarante era o ponto de
atração, para aquela gente alegre que sorria. Nosso pessoal era
convidado para assistir a inauguração de uma refinaria de açucar.
(...) (O VERBO, 25/02/40: 1).

Este empreendimento era muito valioso para a cidade, pois esta ainda
estava se estruturando como um território emancipado. E a administração agora
poderia contar com uma empresa na qual seria cobrado imposto para o seu
funcionamento.
A estação ferroviária local também mereceu destaque nas folhas do
semanário, não deixando de fazer uma reivindicação, pois o aumento da exportação
de café pela estação local foi muito expressivo:

(...) Durante todo o ano de 1938, o total da exportação de café pela


estação local foi de 2.528 sacas.
Agora de 22 de julho de 1939 até 9 de março corrente, 1940,
exportou a mesma estação de Recreio 11.607 sacas.
A diretoria da Companhia Leopoldina Railway, que não pode
desconhecer este fato bem pode facilitar os melhoramentos que se
fazem necessários no prédio de sua estação nesta cidade dotando-a
com água potável para o público, aumentando o telhado para cobrir
Leonardo Ribeiro da Silva 15
uma plataforma por onde se baldeiam as bagagens, malas dos
correios e encomendas, alem de muitos passageiros nos dias de
maior movimento.
A Prefeitura e a Associação Comercial certamente levarão ao Sr.
Diretores da estrada estas razoáveis reclamações. (O VERBO,
17/03/40: 1).

A ferrovia além de ter impulsionado a criação de Recreio, ela era uma


empresa que mantinha muitos funcionários na cidade. Segundo Sr. Aristides
Dorigo14 ela empregava cerca de 500 pessoas e da estação local partiam 43 trens
diários (expressos, mistos, noturnos, leiteiros, cargueiros, lenheiros e lastreiros).
Neste noticiário o jornal além de exaltar este aumento de exportação, ele esperava
que as atitudes de cunho burocrata fossem tomadas pelos órgãos competentes,
neste caso a Prefeitura e a Associação Comercial.
Preocupado também com o asseio urbano, a cada edição o semanário fazia
jus ao seu papel de colaborador da sociedade sem deixar de exaltar a administração
municipal. O primeiro ato foi o de punir com “(...) 17 autos de infração em Recreio,
contra ás pessoas em cujos quintais foram encontrados suinos.” (O VERBO,
25/02/40: 1). Diante deste incômodo que era a criação de suínos no espaço urbano
e da insatisfação popular com as multas, a Prefeitura local teve de fazer a
demarcação das localidades onde poderiam ser criados os respectivos animais.15
No mesmo ano a “Prefeitura Municipal de Recreio, seguindo as diretrizes
“sábias e serenas” de seus mais altos representantes, começou (...) os trabalhos
para a instalação da rede de esgoto (...)” (O VERBO, 14/04/40: 2). Este implemento
foi de grande valor para a higiene da população que, além dessa, reivindicava
também para que os “(...) Snrs. verdureiros e principalmente aos Snrs. vendedores
de frutas, ter cuidado para que não joguem ou deixem jogar nas ruas, cascas ou
16
restos de frutos.” (O VERBO,05/05/40:1). Outra preocupação era a situação das

14
Sr. Aristides Dorigo nasceu em 25 de fevereiro de 1920, em Patrocínio de Muriaé (MG) e chegou a
Recreio em 15 de janeiro de 1941, proveniente de Carangola (MG). Trabalhava como escriturário na
estação local (aposentou-se como chefe de escritório em 31 de outubro de 1970). Poeta e adorador
do cinema, entre 1978 e 1983 foi secretário da Prefeitura Municipal e como grande apreciador das
letras ingressou no jornal ‘O Verbo’ nos anos 50 escrevendo a “Coluna do Ferroviário”.
15
Para maiores esclarecimentos sobre o limite imposto pelo Guarda Sanitário Manoel Pereira da
Fonseca para engorda de suínos, ver O Verbo – Terceira Fase – Cidade de Recreio, 23 de maio de
1943. Ano 5. N° 214, p. 1.
16
Segundo o jornal, “além de constituir este ato uma infração das posturas municipais, sujeito à
multa, demonstra que o autor não é civilizado e que não admira a limpesa. Modo prático de evitar-se
tal ato, seria se os proprietários de botequins tomassem sempre o cuidado de trazer à vista, o caixote
ou o depósito apropriado. Aliás, isto, é da lei municipal.” O Verbo – Terceira Fase – Cidade de
Recreio, 5 de maio de 1940. Ano 2. N° 68, p. 1.
Leonardo Ribeiro da Silva 16
barbearias que para o jornal: “A maioria dos salões de barbeiros desta cidade
precisa receber uma visita de inspecção da saude pública, afim de que, em
entendimento com os seus proprietários se estabeleçam medidas de higiene já
aconselháveis (...).” (O VERBO, 05/05/40: 1).17
As ruas sem calçamento também eram um desagrado para a sociedade,
mas na atitude de um informativo foi destacado que: “Pela Prefeitura de Recreio,
continua sendo mantido o serviço de irrigação permanente de ruas. Diariamente, o
caminhão-tanque percorre a cidade, dando-nos o prazer de viver sem os
inconvenientes da poeira.” (O VERBO, 05/05/40: 1). Mas este incômodo de poeira e
de lama quando havia chuvas logo seria suprimido, pois para a satisfação da
sociedade os calçamentos logo começariam a ter destaque nas folhas do
semanário.
Diante destas preocupações da administração municipal com o asseio
urbano, noticiadas através da imprensa, é de se identificar que a cidade que vivia
seus primeiros anos de emancipação passava por muitas dificuldades, mas com um
inestimável ideal progressista a administração fazia o que era necessário para
manter a cidade com ares de limpeza. Para mostrar que a cidade estava no caminho
certo, o jornal ‘O Verbo’ destacou que:

Em quanto que em outras cidades predomina o desânimo e a


inatividade aqui se vive numa atmosfera de verdadeiro dinamismo
construtor, de animações que se sucedem no campo aberto das
realizações humanas. (O VERBO, 25/08/40: 1).

O trabalho exercido pela administração foi sendo relatado através das


páginas do jornal, em umas dessas notícias era descrito que: “Está sendo feito o
emplacamento de todas as ruas e praças da cidade.” (O VERBO, 07/07/40: 1).
Outros progressos proporcionados pelo empenho da administração foram às obras
de rede esgoto que são primordiais para o asseio urbano. Segundo o jornal,

(...) a Prefeitura, continuando a construção da rêde de esgotos da


cidade, concluiu perto de 2.000 metros de canalização, tendo mais
de 50 poços construídos. Ato continuo, estão sendo feitas as
ligações domiciliares afim de concluir este serviço no mais curto
prazo possível. (O VERBO, 07/07/40: 2).

17
Era descrito pelo jornal que “ainda que se não exija a melhoria dos moveis e utensílios de alguns
salões de barbeiro, pelo menos, o uso do palito branco e o ladrilhamento dos pisos são exigências
que já se podem tornar efetivas em todas as barbearias de Recreio.” O Verbo – Terceira Fase –
Cidade de Recreio, 1° de janeiro de 1945. Ano 7. N° 293, p. 3.
Leonardo Ribeiro da Silva 17
A melhoria do fornecimento de água na cidade também foi destaque e este
benefício o “(...) Sr. Prefeito havia reconhecido em seu relatório de 1939. Ao iniciar o
presente exercício, a prefeitura tomou imediatamente a melhoria deste serviço
(...).18”(O VERBO, 01/09/40: 2).
Pelas folhas do jornal ‘O Verbo’ os habitantes de Recreio observavam como
a Prefeitura estava disposta a elevar o nome da cidade e nada mais adequado do
que usar a imprensa para divulgar para a sociedade os ideais da administração. 19
Em julho de 1940 uma comitiva da ferrovia Leopoldina Railway veio à
cidade para inspecionar as instalações e deferir trabalhos posteriores. A visita foi
descrita no jornal, uma vez que o próprio já tinha feito críticas às instalações da
estação. Segundo ‘O Verbo’,

Em trem especial de inspeção, chegaram, a nossa cidade, na tarde


de 16 dêste, alguns membros da Diretoria da Cia. Leopoldina
Railway.
Recebidos na garagem da estação local pelos diretores da
Associação Comercial de Recrêio, trocadas as saudações usuais
após a apresentação do Senhor Prefeito Modesto Faria e mais
cidadãos representantes da sociedade recreiense, verificou-se um
entendimento sobre projetados serviços que poderão redundar em
ótimos benefícios para esta amada terra.
Convidados pelos ilustres diretores da L.R. Sr. Neele Vogel e
Armando Aguiar, tomaram assento no carro da frente os Srs. Prefeito
Modesto Faria, Serafim Coimbra, Cel. Cardoso e Darci Miranda que
partindo da estação foram em visita aos terrenos do Sr. Estefânio
dos Santos, na antiga cerâmica Barbosa. Ali para ulteriores estudos.
(...). (O VERBO, 21/07/40: 2).

A visita dos diretores da Leopoldina Railway não surtiu o efeito esperado. As


reclamações diante das instalações da estação local ainda continuavam. Em
novembro do mesmo ano foi “(...) reclamado à Companhia Leopoldina Railway um
aumento da cobertura sôbre a plataforma do lado do pátio por onde diariamente

18
Segundo o jornal, “(...) a primeira parte acaba de ser concluída com o conseqüente aumento de
317.000 litros de água por dia.” O Verbo – Terceira Fase – Cidade de Recreio, 1 de setembro de
1940. Ano 2. N° 84, p. 2.
19
A imprensa já era usada como o meio de propaganda no governo do Estado Novo e as políticas
propagandistas do governo de Vargas eram elaboradas pelo Departamento de Imprensa e
Propaganda. Para melhores esclarecimentos sobre o auxílio da imprensa no Estado Novo, ver,
CAPELATO, Maria Helena. Propaganda política e controle dos meios de comunicação. In:
PANDOLFI, Dulce. (Org.). Repensando o Estado Novo. Rio de Janeiro: Ed. Fundação Getúlio
Vargas, 1999.
Leonardo Ribeiro da Silva 18
carregam as carroças e carros para o armazem. (...).”20 (O VERBO, 10/11/40:3).
Esta melhora na estação foi averiguada em 1942 como pode ser percebido a seguir.

A estação da Leopoldina em nossa cidade, já apresenta um


melhoramento digno de menção, com a obra reclamada e quase
concluida de uma cobertura sôbre a plataforma do lado do pateo.
Alem de melhor impressão que está dando foi um util serviço á
Estrada e ao público. (O VERBO, 19/07/42: 2).

Acidentes ferroviários em Recreio eram também percalços para a


sociedade. Estes acidentes podem ser destacados pelo movimento de trens que
existia no perímetro urbano, sendo que em alguns o desfecho era fatal:

Lourenço Morais, brasileiro, branco, de 70 anos de idade ao


atravessar a linha férrea em nossa cidade, em frente ao Bazar Pinho,
na última terça-feira, foi apanhado pelo limpa trilhos da locomotiva do
trem expresso, de Ubá, que lhe deu um encontrão jogando-o fora em
decúbito dorsal. A vítima que tem família e casa na visinha Vila de
Santa Isabel. Foi carregado para a Farmácia Santo Antônio, onde lhe
foram prestados os necessários socorros médicos e farmacêuticos.
Felizmente parece não ter gravidade o acidentado. (O VERBO,
07/07/40: 2)

Mas em um outro episódio acidental não houve o mesmo desfecho:

No dia 3 dêste, na estação local foi vítima de acidente o antigo


ferroviário da locomoção da Leopoldina Railway, Sr. Romeu Silva.
Embora bastante prático do serviço até em manobras dos trens, a
vítima quando os expressos do centro e ramal manobravam a linha
ele foi apanhado pela trazeira de um carro que o derrubou
apanhando-o gravemente no peito.
(...) foi carregado para a farmácia Santo Antônio onde recebeu
prontos socorros. (...) com a necessária presteza carregado num
caminhão que o conduziu ao Hospital de Leopoldina.
Mas porque os seus ferimentos eram muito graves não persistiu e o
pobre homem ao dar entrada naquele estabelecimento de caridade
sucumbiu. (...). (O VERBO, 08/09/40: 4).

Os relatos acima nos mostram como dois acidentes ferroviários tiveram


relevância nas páginas do jornal. Mas o que mais impressionou não foi como eles
aconteceram e o desfecho que tiveram e sim como era precária a situação da saúde
pública em Recreio. Pode-se depreender que não havia hospital na localidade e

20
Para o jornal, “(...) alem de muito necessária para evitar as chuvas em vários volumes que entram e
saem por ali é ainda mais precisa a cobertura para a baldeação de bagagens, malas e do correio e
para passageiros que nas horas de maior movimento se veem forçados a baldear da linha do centro
para o ramal e vice-versa quando como a miúdo acontece de estarem as outras plataformas e
armazem abarrotados de volumes de várias espécies, inclusive materiais de construção, taboas,
barras de ferro, barris de óleo, de aguardente, etc. (...)” O Verbo – Terceira Fase – Cidade de
Recreio, 10 de novembro de 1940. Ano 2. N° 94, p. 3.
Leonardo Ribeiro da Silva 19
assim o acidentado teria que ser levado para uma farmácia. Em casos de maior
gravidade o indivíduo era encaminhado para o hospital da cidade de Leopoldina.
A administração e a imprensa local chegaram a se empenhar em uma
campanha para a construção do Hospital de Recreio. Em 14 de fevereiro de 1942 foi
feita uma reunião para estudos e instalação de uma comissão para discutir as obras
deste hospital. A comissão era formada pelos senhores: Modesto Faria (Presidente);
Dr. Armando Sizenando, Dr. Darcy Nunes Miranda, Padre Francisco Dias da
Fonseca, Dr. Aristides Costa Mata; Mauro de Almeida Pereira (Secretário).21
Em outro acidente a catástrofe foi exposta no jornal e encabeçada como um
‘Desastre Ferroviário’ na edição de 06 de maio de 1942:

(...) um desastre ferroviário de grandes proporções, que foi


amplamente noticiado pela imprensa do Rio e de Minas. A
composição de vagões que se chocou com a locomotiva 53 e demais
carros que se achavam em manobra num dos desvios da linha ferrea
– saída para Santa Isabel, ficou de fato, inteiramente destruida pelo
choque, resultando a morte do guarda-chave João Crispim e
ferimentos graves no maquinista Sebastião Medeiros e no foguista
Florival Silva, destruindo quaze que completamente, a referida
locomotiva. Por um verdadeiro milagre, a rua Ferreira Neto, no
momento – 7 horas da manhã – tinha pouco afluência de
transeuntes, não havendo mais vitimas a lamentar que as indicadas
acima, apezar de ficar a rua inteiramente obstruída de vagões,
madeiras e ferragens retorcidas. (O VERBO, 17/05/42: 1).

No ano de 1940 um ilustre brasileiro teve sua passagem na cidade de


Recreio destacada. Pelas folhas de ‘O Verbo’ era noticiado que um filho do
Presidente Getúlio Vargas passara por Recreio. Era Getúlio Vargas Filho que estava
a caminho de Caiapó (MG).
Em Recreio, “(...) cercada de mais de 2.000 pessôas, a comitiva se dirigiu á
séde da Assoc. Comercial onde o Doutor Wantuyler Gama Lima em nome do povo e
do mundo oficial e o Sr. Serafim Coimbra, em nome da Associação saudaram o
22
visitante.” (O VERBO, 08/12/40: 1). Pode ser identificada neste noticiário a

21
A ata da 1ª reunião realizada na Prefeitura Municipal para estudos e formação da comissão para a
construção do Hospital de Recreio encontra-se em: O Verbo – Terceira Fase – Cidade de Recreio, 1°
de março de 1942. Ano 4. N° 157, p. 2. Em 1945: “(...) ainda tínhamos um percalço que era a
preocupação de se obter um hospital em Recreio.” Para esclarecimentos: CARVALHO, Cynthia
Cristina de Mello; SILVA, Leonardo Ribeiro da. Café, Ferrovia e Recreio pós-municipalização. II
Seminário de História Econômica e Social da Zona da Mata Mineira – FAFISM – 2008. Disponível on-
line: < http://www.cantoni.pro.br>. Acesso em dia 18 de março de 2009.
22
O jornal descreveu que Getúlio Vargas Filho ainda foi até a Prefeitura, convidado pelo Prefeito
onde dali partiu em seu destino. A passagem de Getúlio Vargas Filho está relatada em: O Verbo –
Terceira Fase – Cidade de Recreio, 8 de dezembro de 1940. Ano 2. N° 98, p. 1.
Leonardo Ribeiro da Silva 20
admiração que o povo de Recreio tinha pela figura do Presidente do Brasil, mesmo
que seja pela representação de seu filho. Este “(...) ao despedir teve ocasião de
manifestar a boa imprenssão que levava da nossa cidade e do nosso povo.” (O
VERBO, 08/12/40: 1).
A administração de Recreio procurava sempre estar agindo de forma correta
com a sociedade. Para as elaborações de construções no espaço urbano era
necessário requerer o direito de fazê-las perante a ordem do Prefeito. Utilizando o
jornal a administração noticiou que

De ordem do Sr. Prefeito Municipal, faço público que nenhum serviço


de construção ou reconstrução de prédios ou demais obras na
cidade, poderá ser feito sem necessário requerimento ao Prefeito.
Fica entendido que somente após o necessário despacho é que a
obra poderá ser iniciada, ficando sujeitos a multa todos os que as
iniciarem antes de receber a autorização. Mauro de Almeida Pereira
– Secretário da Prefeitura. (O VERBO, 25/01/42: 1).

Os percalços para as construções na cidade eram evidentes nas páginas do


jornal. Mas para este os esforços davam impulso à permanência dos objetivos
recreienses e “apesar da grande falta de cimento e do alto preço de materiais de
construção, nota se ainda na cidade, inicio de alguns novos predios.” (O VERBO-
SUPLEMENTO, 01/01/42: 2).
Um povo que tem amor à sua terra, tende a mostrá-la não só por suas
belezas, mas pelas dificuldades que a fizeram bela e em Recreio o empenho da
população diante dos percalços era relatado com muito orgulho pelas páginas do
semanário. Eram obras que mostravam que o pequeno Arraial Novo que foi um dia,
agora aspirava ares de prosperidade com as construções no agora Recreio. “Num
só tempo, na Rua Estefânio levantam-se atualmente duas construções, que por
certo obdecerão a estilo moderno para um embelesamento de nossa “urbs”.” (O
VERBO-SUPLEMENTO, 01/01/42: 2). Eram construções como “(...) na Rua Augusto
Lacerda, pelo sr. João Pena, uma bela residência. (O VERBO, 09/08/42: 1) e outra
do Sr. Edson Botelho que “(...) concluiu, ha dias, a construção de sua elegante
residência, situada na mesma rua.” (O VERBO, 09/08/42: 1). “O capitão Francisco
Augusto de Freitas, tendo adquirido uma área de terreno dos srs. Castro & Irmão,
está ultimando uma confortavel e formosa vivenda á rua Aragão, no seu
prolongamento.” (O VERBO, 29/11/42: 4).

Leonardo Ribeiro da Silva 21


O comércio também se mostrava aspirando ares de progresso na cidade
como “(...) a reconstrução que o sr. Américo Simão está empreendendo em seu
prédio, sito à rua Cristiano Guimarães, esquina com a Travessa Fernandes. (...) sr.
Américo pretende instalar uma nova padaria modelo que obedecerá aos modernos
requisitos higiênicos (...)”.(O VERBO, 09/08/42: 1).
As construções davam à cidade um novo visual. Era o visual da
modernidade que direcionava Recreio para o progresso. E este modernismo era
destacado com as obras particulares como “(...) os novos passeios mandados
construir pelos proprietários na Rua Governador Valadares.” (O VERBO, 11/01/42:
2), que para o semanário deveria ser seguido por outros moradores. “Na Rua
Ferreira Neto, também precisamos convencer aos proprietários dessa conveniência,
pois, grande parte dos passeios estão exigindo remodelação.” (O VERBO, 11/01/42:
2).
Estas obras dos passeios em frente a cada estabelecimento ou casario era
obrigação do proprietário, que se empenhava para o embelezamento de sua
fachada. Uma dessas fachadas foi feita pelo “progressista comerciante desta praça
Sr. Antônio de Medeiros Fontes, (...) á rua São Joaquim, de acôrdo com as normas
estabelecidas pela municipalidade.” (O VERBO, 15/11/42: 1).
A empresa de energia elétrica também prestou seu apoio para a
modernização da cidade e fez “(...) a construção dos passeios de seus prédios.
Tambem a Exma. sra. Sebastiana A. de Almeida e o Sr. José de Castro Néto
acabaram de prestar a nossa cidade mais útil colaboração. (...)”(O VERBO,
24/01/43:1).
Na primeira semana de julho de 1943: “O sr. Antônio Ferreira Germelo
iniciou, (...), o calçamento das frentes de seus prédios da rua Governador Valadares
(...).”(O VERBO, 06/06/43: 1). Em outubro: “(...) os snrs. Sebastião Gomes Henrique,
Barbosa & Barcelos, Adair Antonio Duarte, Ramon Vicente e Américo Simão,
determinaram os ladrilhamentos dos passeios da Rua Major Cristiano Guimarães,
estando, quase todos êles, concluídos.” (O VERBO, 24/10/43: 1). O comércio
admirando como os passeios embelezavam as fachadas dos casarios, estes
também resolveram empreender esta obra, os proprietários do Bar Oriente “(...) em
cumprimento das justas exigências municipais, já levaram a cabo o calçamento da

Leonardo Ribeiro da Silva 22


frente de seu prédio, (passeio) sito na praça Dr. Custódio Junqueira, esquina com a
rua Cristiano Guimarães.”(O VERBO, 03/10/43:1).
Era esperado que a sociedade e as empresas estabelecidas em Recreio
apoiassem esse progresso na cidade. Sobre o comprometimento da sociedade
podemos observar que estes fizeram o seu papel de colaboradores do progresso,
com as obras nos passeios de frente suas casas, mas este espírito de prosperidade
nem sempre era adotado na municipalidade. Em nota ‘O Verbo’ descrevia que, “(...)
a Prefeitura local, há mais de um ano, aguarda a pavimentação das travessias das
ruas com as linhas férreas, na cidade conforme solicitou dos superiores dirigentes
da L.R..” (O VERBO, 12/12/43:4).23
A Prefeitura Municipal, uma instituição comandada por “um homem
educado, acolhedor e prestativo” (nas palavras de Sr. Aristides Dorigo), visava
caminhar ao lado dos empenhos para o progresso de Recreio e numa época onde o
principal meio de propaganda de um governo era a imprensa, a administração tinha
como aliado o jornal ‘O Verbo’ que muito se parecia como um diário oficial,
destacando em suas páginas além dos editais, decretos, prestação de contas e
outros serviços da Prefeitura Municipal, este ressaltava as obras desta.
Estas obras além de dar uma melhor impressão para a cidade, seriam de
grande agrado para a população que tinha o incômodo da poeira em tempos secos e
da lama em tempos chuvosos, e para a prosperidade da cidade as obras de
calçamento estavam em andamento. O jornal noticiava que “(...) está sendo feito os
serviços na praça principal, frente ao Bar Oriente, já havendo terminado a travessia
da rua Ferreira Neto, na divisa com a de São Joaquim, em frente a Governador
Valadares. (...).” (O VERBO, 14/06/42: 4). Em outra notícia: “A Prefeitura local vem
realizando ativamente os trabalhos da abertura e prolongamento da Rua Aragão,
ligando a R. Campo Limpo a Rua São Joaquim.” (O VERBO, 02/08/42: 1). “A
Prefeitura de Recreio está acumulando materiais para terminar o calçamento a
paralelepípedos da rua Major Cristiano Guimarães desta cidade. De acordo com as
possibilidades orçamentárias o calçamento das ruas irá prosseguindo para melhoria
do aspecto geral da cidade.” (O VERBO, 04/04/43: 1).

23
Para o jornal esta obra era: “Nada mais justo e necessário atender, o quanto antes, a esta
solicitação da Municipalidade Recreiense, a qual tudo faz e pouco exige da Empresas aqui existentes
(...), a L.R., com êsse pequeno serviço, prestará uma bôa colaboração para melhoria do aspecto
geral da cidade, que sempre foi modelo de ordem e de trabalho nas oficinas da Leopoldina Railway.”
O Verbo – Terceira Fase – Cidade de Recreio, 12 de dezembro de 1943. Ano 5. N° 243, p.41.
Leonardo Ribeiro da Silva 23
Essas obras só alimentavam o progresso de Recreio. Na última semana de
julho de 1943 era anunciado que “(...) fôram terminados os serviços de tôda a
Ladeira da Igreja, entrando a turma da construção na Praça João Pinheiro para
terminar a pavimentação da rua Major Cristiano Guimarães. (...).” (O VERBO,
25/06/43:1). Em outro noticiário era descrito que: “Parte da rua São Joaquim está
sendo calçada a paralelepípedos, devendo talvez ser calçada uma outra parte da
Praça João Pinheiro.” (O VERBO, 27/05/45:1). Algumas ruas de Recreio também
necessitavam de construções de pontes para melhor acesso a determinadas ruas, o
jornal descreveu que: “Pelo Sr. Prefeito Municipal, estão sendo ultimados os
preparativos para o inicio da construção imediata da ponte que dá acesso a
Associação Comercial (...).” (O VERBO, 17/11/40:1). E em outro noticiário foi
reivindicado (...) que o Sr. Prefeito Municipal cogite a construção da ponte da
Travessa Batista, que tem a mais urgente necessidade de ser iniciada.” (O VERBO,
27/05/45:1).
David Vieira Germello em matéria produzida para o semanário intitulada de
‘Derrotismo’ descreveu que: “Os fatos aí estão e ninguém os contraduz: Recreio está
em franco progresso.” (O VERBO, 15/08/43: 1). Este descrevia que os poucos
recreienses que não apoiavam o progresso da cidade estavam calados pelas obras
que se viam em Recreio, e de certo David Vieira Germello estava de acordo, pois
Recreio caminhava a ‘passos largos’, pois uma cidade que tinha adquirido o seu
status de Município a pouco tempo já havia empenhado obras de calçamentos, de
casarios e pontos comerciais modernos. Os habitantes contavam com advogados e
médicos residentes, dentre outros fatos que fazíamos crer que a cidade estava no
caminho do progresso. 24
Um fato que traduz o momento progressivo da cidade foi descrito no
semanário, onde este dizia que a notícia tinha sido observada no jornal ‘Minas
Gerais’, onde em uma estatística sobre a exportação de leite para o Distrito Federal
(Rio de Janeiro), a cidade de Recreio vislumbrava como o maior exportador entre
quarenta municípios mineiros, “(...) ocupam os primeiros 5 lugares, os seguintes:

24
David Vieira Germello era Coletor Federal e era um grande colaborador da imprensa recreiense, foi
colunista e redator na 3ª e 4ª fase do jornal ‘O Verbo’, além disso, foi Presidente do Lions Clube de
Recreio (1968/1969). (Palavras de Sr. Aristides Dorigo).
Leonardo Ribeiro da Silva 24
Recrêio – 278.797 lts.; .Santos Dumont – 259.920 lts.;Volta Grande – 152.056 lts.; S.
Sebastião – 139.596 lts.; Pequeri – 135.009 lts.” (O VERBO, 22/03/42:1). 25
Para o processo progressivo que a cidade se encontrava havia uma
necessidade que foi reivindicada ao Governo do Estado, esta reclamação foi feita
pela imprensa recreiense e se empenhando para que a cidade pudesse estar nos
caminhos do progresso, (...) a Prefeitura enviou ao Sr. Governador do Estado uma
solicitação no sentindo de estadualizar a estrada que liga êste Município a Rio-Baía,
ou pelo menos, conceder (...) a construção de uma ponte e a mudança de um
pequeno trecho da estrada.” (O VERBO, 30/09/45: 1).
Em 1945 o mundo estava em um momento crítico, estávamos passando
pela Segunda Guerra Mundial e até mesmo numa pequena cidade como Recreio era
capaz de se identificar os efeitos desta, mas graças a força desta sociedade esta
guerra não tirou o ânimo da população, pelas folhas de ‘O Verbo’ foi referido que

Embora o número de construções tenha caído um pouco, com os


efeitos da guerra, fôram construídas em Recreio, em 1944, 15 novos
prédios que elevam o total de construções, desde a criação da
cidade, para 70 prédios. Nota-se atualmente um grande entusiasmo
dos proprietários no sentido de fazer limpezas gerais na frente de
seus prédios (...). (O VERBO, 21/10/45: 1).

No ano de 1945 o jornal ainda noticiou mais um empreendimento


empresarial ao relatar que “(...) o Sr. Francisco Barbosa de Carvalho acaba de
adquirir todos os maquinismos necessários para a instalação, nesta cidade, de uma
moderna fábrica de macarrão, que deverá estar brevemente em franco
funcionamento” (O VERBO, 21/10/45: 1). Neste mesmo ano já tinha sido iniciado a
“(...) construção da cadeia local, entregues sob empreitada, à Prefeitura.” (O
VERBO, 04/03/45: 4).26
As obras faziam Recreio visualizar as luzes da prosperidade, tendo como
grande aliado a imprensa que se mostrou a todo instante idealizada a empenhar a
sociedade a ultrapassar os percalços, exaltando sempre os esforços do povo e da
administração que direcionavam Recreio ao progresso.

25
O jornal explicou que a localização de Recreio diante ao Rio de Janeiro pode ter influenciado este
primeiro lugar na estatística.
26
Este mesmo número 300 do jornal ‘O Verbo’ descrito em Café, Ferrovia e Recreio pós-
municipalização (SILVA; CARVALHO, 2008: 15) relatou também a demolição do primeiro ponto de
hospedagem de Recreio, construído ao início da pequena vila, era o ‘Sobrado dos Melidos’ que tinha
como proprietário o Sr. Waldemar Amarante, ali seria feita uma nova edificação.
Leonardo Ribeiro da Silva 25
Em 1945 alguns nomes que se mostraram interessados a elevação do
nome de Recreio, deram lugar a novos nomes que por certo se mostrariam capazes
de continuar a caminhada do progresso recreiense.
Primeiro foi a mudança de Secretário Municipal que desde a elevação de
Recreio a Município estava ao lado da municipalidade. Mauro de Almeida Pereira foi
exercer o cargo de escrivão do 2° ofício de notas na sede da Comarca, em seu lugar
foi nomeado Sr. Menotti Dorigo.27 Segundo foi a mudança do Tabelião e Escrivão
de Paz desta cidade, o nome que veio exercer o cargo foi o do “(...) jovem Geraldo
Damasceno de Almeida, filho de seu predecessor, Sr. Francisco D’ Almeida, que há
37 anos esteve em exercício no mesmo cargo.” (O VERBO, 29/04/45: 4). 28
Estando ao lado das ações progressistas, ‘O Verbo’ caminhava ao lado da
administração, a partir de 1945 sem a presença do sobrinho do diretor do jornal, mas
com os laços de amizade unindo a imprensa municipal à administração, amizade
esta entrelaçada pela força que ‘O Verbo’ tinha diante da opinião pública e da
sabedoria de utilizar este como um diário oficial não deixando nada ‘às escuras’ para
a população, pois diante das luzes da imprensa observamos as atitudes dos
mandatários, visualizamos os caminhos positivos e detectamos as ocorrências da
prosperidade.
Recreio caminhou nos trilhos da evolução, como uma locomotiva que trouxe
o surgimento do Arraial Novo, que adiante se transformou em distrito de Recreio,
para logo contemplá-lo com a municipalidade e nas mãos de seu competente
administrador foi identificada obras, melhoramentos e ideais progressistas de uma
sociedade que tinha o amor por Recreio por base, a ordem na cidade por princípio e
o objetivo do progresso por fim.

27
A nomeação de Menotti Dorigo para o cargo de Secretário Municipal foi descrito em: O Verbo –
Terceira Fase – Cidade de Recreio, 11 de novembro de 1945. Ano 7. N° 331, p. 4.
28
Geraldo Damasceno de Almeida exerceu também o cargo de Secretário da Junta de Alistamento
Militar. Francisco D’ Almeida continuou sua caminhada a frente do jornal ‘o Verbo’.
Leonardo Ribeiro da Silva 26
A campanha para elevação de Recreio a Termo Judiciário
Recreio passava por momentos de prosperidade, com ruas calçadas,
pontes em obras para melhor acesso às ruas, com modernos casarios e
embelezamento de suas fachadas, estabelecimentos comerciais, fábricas,
melhoramento da rede de esgoto, de água e etc. Muitos destes benefícios foram
possíveis devido às reclamações feitas pela imprensa recreiense, onde esta fazia o
seu papel de colaborador da sociedade e de aliado da administração de Recreio.
Além dessas reclamações que eram feitas pelo jornal e que já foram aqui
descritas, o jornal também se empenhava em campanhas em prol da
municipalidade. Merece destaque nesse sentido, a campanha de construção do
Hospital de Recreio. Durante esta campanha o jornal buscou motivar a população
relatando que era “(...) chegada a hora de mobilizarmos todas as nossas
capacidades morais e materiais, para ampararmos, sem vacilações, o Hospital de
Recreio, que espera receber, de cada um, o que esteja a seu alcance (...).” (O
VERBO, 22/02/42: 1). Outra campanha empreendida pela imprensa foi a de se fazer
à arborização de Recreio. Para o jornal, a arborização “(...) não só embelezaria a
cidade como constitue um problema de grande importância para a vida de Recrêio...
O clima da cidade exige uma arborização inteligente e bem orientada...” (O VERBO,
07/06/42: 1). 29
O jornal ‘O Verbo’ em Recreio foi um grande impulsionador dos movimentos
progressistas da cidade. Fazendo a sociedade e a administração municipal aderirem
a estes objetivos, o jornal buscou em mais uma campanha a prosperidade da
municipalidade. Pelas folhas de ‘O Verbo’ foi iniciada a campanha para a elevação
de Recreio a Termo Judiciário.
Estudos para a nova divisão administrativa que entraria em vigor no Estado
de Minas Gerais ao final do ano de 1943, fizeram a imprensa recreiense impulsionar
a campanha. Para estes estudos, deveriam ser formadas comissões para as
análises geográficas de cada território e o jornal noticiou o edital para a formação

29
A campanha para a construção do Hospital de Recreio perdurou e não foi concretizado no mandato
do Prefeito Modesto Faria. Para a campanha de arborização, o sucesso teve o apoio de Miguel
Andries, que O Verbo o descreveu: “(...) Miguel Andries é um elemento util, necessário e
imprescindível até, quando se tem em mira qualquer organização nova (...)”. O Verbo – Terceira Fase
– Cidade de Recreio, 14 de junho de 1942. Ano 4. N° 170, p.1.
Leonardo Ribeiro da Silva 27
desta comissão na cidade de Recreio, intitulada como ‘Concurso de Monografias
Municipais’. Segundo a nota publicada,

Por intermédio do Sr. Prefeito Municipal foram remetidos às


Coletorias Federal e Estadual desta cidade, para serem afixados em
lugar visível do público, exemplares assinados das “Normas para o
estudo de questões do relevo municipal.”
Trata-se de uma interessante Campanha de Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística, que deverá atrair estudiosos da geografia
local ou pessôas conhecedoras do território Municipal, afim de
apresentarem um trabalho sôbre o relevo Municipal que entrará em
concurso e que será premiado pelo Gôverno, verificado o seu valôr
ou a sua importância Geográfica. (O VERBO, 13/06/43: 1).

Através destes estudos a imprensa de Recreio começou a confiar que a


elevação da cidade a Comarca poderia ser concretizada. Para o jornal, era possível
também com os estudos “(...) possuir, oficialmente como nosso, alguns distritos que,
os acidentes geográficos, os interêsses econômicos e até mesmo os laços de
família, já a nós, de há muito, estão ligados.” (O VERBO, 29/06/43: 1). 30
Esta campanha tinha o desenvolvimento de Recreio como base para a
realização da Comarca e também a administração municipal que “(...) entregue ao
prefeito Dr. Modesto Faria, que tudo tem feito em prol do município, nada deixa a
desejar, existindo saldo regular para a efetivação dos melhoramentos necessários
para a promoção do município a Termo.” (O VERBO, 03/09/43: 1).
Mas, alguns percalços ainda perduravam na cidade, podendo estes
obstáculos dificultar a efetivação da cidade como Comarca. Uma delas era a falta de
uma cadeia, que só foi resolvida com grande apoio da imprensa que estimulou a
administração a requerer junto aos órgãos estaduais a realização desta obra. 31
Outro percalço que poderia dificultar a elevação a Termo era a precariedade
do sistema de Correios e Telégrafos no município, que perdurou pelas folhas do
jornal, e não foi resolvido na primeira administração. 32

30
Pelas páginas do jornal foi noticiada a realização da reunião do Diretório Municipal de Geografia:
“Realizou-se na Prefeitura loca, nesta última semana, uma reunião do Diretório Municipal de
Geografia, sob a presidência do Sr. Prefeito Municipal para tratar de assuntos de interêsse do
Município.” O Verbo – Terceira Fase – Cidade de Recreio, 1° de agosto de 1943. Ano 5. N° 224, p.1.
31
O jornal antes de noticiar realização da obra da cadeia em 1945 já havia descrito que em Recreio
existe “(...) uma já celebre casinha a que ainda se lhe dá o título de casa da cadeia. É situado na rua
Campo Limpo á margem da linha férrea, (...) pertence a Prefeitura, que a demolirá por êsses dias.” O
Verbo – Terceira Fase – Cidade de Recreio, 22 de fevereiro de 1942. Ano 4. N° 156, p.1.
32
“(...) Infelizmente nesta cidade, onde temos uma agencia de 2ª classe que é apenas postal continúa
ela mal localisada de acesso difícil e em casa acanhada. Estamos certos de que se um dos srs.
Diretores Regional ou Geral viésse pessoalmente verificar o local, não deixaria por mais tempo a
Leonardo Ribeiro da Silva 28
O semanário buscando orientar a população de que algumas obras que
poderiam ser feitas em Recreio dependiam do Governo Estadual noticiou que: “(...) o
Estado possue dentro da cidade (...) uma area de 4.000 metros quadrados no qual
alem da cadeia podem ser construídos outros prédios como Coletorias, Forum,
Prefeitura, Cartorios, edifício para correios e telegrafos.” (O VERBO, 08/03/42: 4).
Entre os critérios positivos que faziam crer que a cidade atingiria o seu
Termo Judiciário, estava a permanente imprensa de Recreio destacada pelo jornal ‘o
Verbo’, que era “(...) regularmente distribuído em Belo Horizonte, São Paulo (capital)
como tambem nas localidades do interior para onde é remetido.” (O VERBO,
08/03/42: 1). Outra descrição favorável era o fato de Recreio já possuir uma
“Associação Comercial: instituição fundada nesta cidade em 6 de março de 1927
(...).” (O VERBO, 08/02/42: 1). Além da competente administração municipal, sob o
comando de Modesto Faria estes critérios podem nos mostrar que a sociedade de
Recreio estava sendo bem assessorada.
A campanha para elevação de Recreio a Termo Judiciário ganhou um
grande aliado. Era o fundador do jornal que buscou ares de progresso para a cidade.
Luiz Soares dos Santos assinava com grande orgulho esta matéria em fins de 1943,
onde este proferia que

(...) está se aproximando o fim do corrente ano e, uma vez creado o


Termo, deverá êle ser instalado em janeiro de 1944. (...) O emérito
Governador Benedito Valadares, sem dúvida, não oporá obstáculos á
creação do Termo, desde que sejam preenchidas as exigências
legais. Edifícios para o Forum, Cadeia e o mais que se tornar
necessário para a creação do Termo judiciario, certamente não serão
óbices ao empreendimento desejado da população de Recreio (...).
(O VERBO, 10/10/43: 1).

Esperando respostas tanto da população quanto da administração municipal


sobre a campanha empreendida, o fundador de ‘O Verbo’ colocou a
responsabilidade nas mãos de Modesto Faria, pois este no relato de Luiz Soares
dos Santos, “(...) sem dúvida tomará a frente do movimento que transformará em ato
concreto as aspirações dos seus jurisdicionados. Nem outro procedimento é de se
esperar do patriotismo e da boa vontade do emérito administrador recreiense.” (O
VERBO, 24/10/43: 1).

nossa repartição dos correios desta cidade permanecer nestas condições.” O Verbo – Terceira Fase
– Cidade de Recreio, 08 de março de 1942. Ano 4. N° 158, p.1.
Leonardo Ribeiro da Silva 29
Luiz Soares dos Santos ainda descreveu posteriormente que: “(...) Urge,
pois, que se faça um bom movimento para que seja creado o Termo judiciário de
Recreio, benefício de inestimável valor que muito virá concorrer para que o
município seja elevado a um maior nível de progressividade.” (O VERBO, 31/10/43:
2).
O fundador do jornal ‘O Verbo’ fez uma visita a Recreio em 6 de dezembro
de 1943 e pelas páginas do jornal que este mesmo fez surgir na cidade em 1906
relatou o seu deslumbramento após a visita ao município:

Eis a minha impressão ligeira, que aqui exáro, franca e sincera, sem
disfarces: A cidade cresce, estende-se em todas as suas direções.
Há construções novas em muitas das suas ruas e praças (...).
O seu comércio avoluma-se, e expande-se (...).
Tudo aqui admira e extasia o turista. Eu, que há cerca de dois anos
não vinha, fiquei encantado com tudo (...).
Até o número de médicos cresceu. Recreio hoje tem quatro ótimos
clínicos, todos trabalhando (...).
A cidade cresce. Fui ao alto da Igreja.
Edifícios novos Uma avenida foi aberta, já com prédio de um lado e
de outro, recentemente edificados, e com arvores em plena
florescência frondejando. Mora ali o meu velho amigo Dr. Modesto
Faria, prefeito do município, com quem me avistei e da palestra que
com êle mantive, embora rápida, colhi a impressão de que êle
trabalha a valer, não só na sua profissão de agrimensor, mais ainda
na de administrador do município.
Disse-me ele estar muito esperançado na elevação do município á
categoria de Termo Judiciário, contando com a cooperação do nosso
comum amigo Dr. Carlos Luz.
O calçamento está proseguindo nas ruas centrais da urbs. Do largo
João Pinheiro até a matriz já foi concluído o calçamento.
O serviço do abastecimento da água á população foi melhorado.
Finalmente, vai tudo bem. Volto, no entanto, a Cataguazes bastante
contrariado por ter encontrado doente, e em estado grave, o meu
velho amigo Antonio Germello.
E como este já vai longo e o trem está quasi partindo, aqui faço
ponto.
Recreio, 7-12-1943. (Matéria de Luiz Soares dos Santos. O VERBO,
12/12/43: 1).

A descrição da visita do ilustre fundador de ‘O Verbo’ mostrou o que já era


periodicamente relatado pelas folhas do mesmo. Infelizmente a campanha para
elevação de Recreio a Termo Judiciário não foi alcançado. Nas linhas da divisão
administrativa do decreto lei estadual n° 1058, de 31 de dezembro de 1943, o
município de Recreio ficou composto de 3 distritos: o da sede e os de Angaturama

Leonardo Ribeiro da Silva 30


(ex-São Joaquim) e Conceição da Boa Vista. E juridicamente subordinado a
Comarca de Leopoldina. 33
Mas a campanha ainda ganhou destaque nas folhas posterirores do jornal.
Em 1945 Jair Santos depois de visitar Recreio ainda buscou objetivar a elevação
deste a Termo Judiciário, em suas palavras34:

A municipalidade de Recreio possuidora de todos os requisitos


primordiais e valorosos para a sua elevação a Termo Judiciário, pede
e espera de S. Excia., Dr. Benedito Valadares Ribeiro, DD.
Governador do nosso glorioso Estado de Minas Gerais, a lavratura
do Decreto-lei, creando e instituindo em recreio o Termo Judiciário
(...). Elevado, portanto, a Termo, o Município passa a ter o seu fôro,
em que, com intérprete da razão e da justiça, há de surgir a figura
augusta e repeitosa da Autoridade Judiciária, o Juiz Municipal. (...)”.
(O VERBO, 07/10/45:1).

Mesmo com a força da imprensa e de alguns nomes que já não residiam em


Recreio o objetivo não foi alcançado na administração de Modesto Faria, que teve
seu término na data de 05 de maio de 1946, depois de muitos esforços e de ideais
progressistas para a cidade.

33
Para maiores informações: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/.>.
34
O jornal descreve a visita de Jair Santos: “Visitando sua terra natal, aqui esteve durante os dias 25,
26 e 27 do corrente, (...) Prof. Jair Santos, DD. Diretor do Grupo Escolar de Passos, onde também
exerce as elevadas funções de professor de várias matérias no ginásio e na escola normal.” O Verbo
– Terceira Fase – Cidade de Recreio, 1° de julho de 1945. Ano 7. N° 315, p.1.

Leonardo Ribeiro da Silva 31


Considerações Finais
O jornal ‘O Verbo’ designou os passos do progresso de Recreio, mostrando
por suas páginas o que a sociedade era capaz de empreender mesmo diante dos
percalços, ou o que a administração fez pela cidade. Este jornal ganhou o crédito da
população não apenas por ter se empenhado nas notícias progressistas, mas
também por descrever o que se passava por dentro do setor administrativo de
Recreio, não deixando nada na escuridão da imoralidade.
Diante de constantes reclamações por parte dos pesquisadores devido à
falta de arquivos e de fontes para análises, o jornal deverá ser uma fonte de muito
crédito para pesquisas sociais, administrativas, políticas etc. de um determinado
território. Estes “(...) jornais representam um esforço que deve ser premiado e
estimulado e, além disso, publicam, sempre, como é de seu dever e programa,
informações de interesse geral. (...).” (O VERBO, 22/11/42: 1).
No período estado-novista deve-se ter as análises dos meios de
comunicação de forma que não venhamos a ser iludidos com as propagandas que
eram feitas através destes. A imprensa recreiense não fugiu deste apoio ao Governo
de Vargas, mas como seu papel era de possibilitar progresso a Recreio, sua alusão
ao Estado Novo era mais destacada em datas comemorativas.
A imprensa recreiense mostrava com orgulho em suas folhas como a
sociedade ao lado da administração ultrapassava as dificuldades e empreendiam
obras em casarios, comércios, pontes, ruas e outras. Mas, em alguns momentos foi
preciso fazer reclamações para que obras fossem elaboradas, como as obras na
estação ferroviária ou obras públicas de empenho do Governo Estadual e para isso
‘O Verbo’ objetivava campanhas.
Algumas campanhas empreendidas pelo jornal durante este período não
foram concretizadas, como a campanha para a construção do hospital, que seria de
muito valor para a população e a campanha a elevação de Recreio a Termo
Judiciário, o que faria de Recreio uma Comarca e este não seria subordinado
juridicamente a de Leopoldina. Mas, estas campanhas que não obtiveram o sucesso
esperado não ofuscaram o brilho do período da primeira administração, que fazia da
cidade um verdadeiro ‘canteiro de obras’, onde os empenhos do jornal iluminavam
as atitudes da sociedade para a efetivação de Recreio como um lugar de se viver
feliz, ao lado da ordem e do progresso.
Leonardo Ribeiro da Silva 32
Esta análise deste período remoto só foi capaz de haver porque homens de
idéias positivas foram capazes de demonstrar que uma pequena imprensa como foi
o jornal ‘O Verbo’ seria hábil de impulsionar uma pequena cidade para o
desenvolvimento. Pelas folhas de ‘O Verbo’ observa-se que esta pequena cidade
pôde ser capaz de desenvolver-se quando a união de uma sociedade e uma
administração fez o possível para ultrapassar os percalços e condecorar a cidade
com seus esforços.
Enfim, espera-se que em um momento qualquer este artigo venha favorecer
não só os pesquisadores e não só impulsione novas pesquisas, mas ilumine uma
sociedade que durante os tempos vem perdendo a adoração por sua terra, e faz
dela apenas um lugar de se viver e não um lugar de se progredir, como o jornal ‘O
Verbo’ fez um dia.

Leonardo Ribeiro da Silva 33


Fontes
Biblioteca Municipal Dr. Carlos Coimbra da Luz – Recreio - Minas Gerais
Jornal O Verbo (Terceira Fase)

Coleção Particular de Pedro Ernesto Ferreira Dorigo


Jornal O Verbo (Terceira Fase)

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PUBLICADO EM <http://www.cantoni.pro.br/Recreio.html> 14jul09

Leonardo Ribeiro da Silva 34

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