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O QUE A INTUIÇÃO NOS DISSE

Paulo Nogueira, Diretor de Redação


da revista Exame. Outubro/97

Muitas reportagens nascem e morrem antes de chegar ao leitor. Ficam no meio do


caminho, vencidas por fatos novos ou por um trabalho deficiente de investigação. Mas
outras reportagens têm percurso bem diferente: surgem humildes, acanhada como uma
antiga ginasiana do interior, e vão crescendo até chegar à apoteose da capa.

Com a nossa capa dessa edição, sobre a intuição como uma arma mais e mais
usada pelas empresas, aconteceu exatamente isso. Imaginávamos que seria um artigo
entre outros. Mas uns poucos dias de trabalho de apuração bastaram para nos mostrar que
estávamos diante de um tema fascinante, que parecia gritar: me ponham na capa, me
ponham na capa.

Pusemos. A intuição nos mandou que puséssemos na capa. E a lógica nos disse
que acertamos na decisão. Porque nunca as empresas – mundo afora – valorizaram tanto
o poder intuitivo de seus executivos. Num ambiente convulso, em que a competitividade
alça vôos inéditos e no qual o ciclo dos produtos é cada vez menor, a intuição pode fazer a
diferença. Com ela, o executivo tem mais chances, por exemplo, de conseguir o sonho
supremo de um negócio. Esse não apenas supre a necessidade do consumidor, mas, mais
que isso, antecipa-se a ela.

“Quem ainda trata o assunto com base na galhofa pode estar cometendo um erro
colossal”, diz o editor executivo Nelson Blecher, autor da reportagem. Nelson, um
entusiasmado militante da intuição, relata um teste a que foi submetido o presidente da
Compaq do Brasil, Jorge Schreurs. O objetivo do teste era saber se Schreurs tinha em dose
satisfatória uma qualidade que a Compaq julga vital em seus homens e mulheres: a intuição.

Ser intuitivo não significa, claro, abdicar da lógica fria dos fatos. Na verdade, o que
existe de mais próximo no mundo perfeito é a exata combinação entre intuição e lógica. O
problema é que os executivos se acostumaram a ver na intuição uma extravagância, uma
esquisitice irrelevante num universo que, por décadas, foi dominado por regras e manuais.

Não mais. É bom você levar a intuição a sério. Nem que seja por pura questão de
lógica.

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