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ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL

PODER JUDICIÁRIO

COMARCA DE CANOAS
5ª Vara Cível
Processo nº 008/1.09.0012968-7
Espécie: Indenizatória
Parte autora: Nadir Reis Dutra
Parte ré: Município de Caçapava do Sul
Juiz prolator: Alexandre Tregnago Panichi
Data: 18/09/2012

Vistos etc.

A parte autora ajuizou ação indenizatória em face da parte


ré, ambas acima nominadas e já qualificadas nos autos, alegando, em
síntese, que recebeu uma correspondência do Município de Caçapava do
Sul, no ano de 2005, informando que estava sendo ajuizada execução fiscal
referente a débitos de IPTU no valor de R$ 1.110,46, referente a imóveis
urbanos de sua propriedade em tal Município, sendo informado que, caso
não pagasse, teria seus bens penhorados. Disse que, como nunca teve
imóveis em tal localidade, ignorou a correspondência. Para sua surpresa, a
parte ré ajuizou ação de execução fiscal, processo que correu à revelia, pois
não imaginava que iriam chegar a tal ponto. Afirmou que a ação foi julgada
totalmente procedente e que houve a penhora de sua motocicleta Honda
150 Titan ESD, placas IMU-7562. Informou que tentou vender a motocicleta
mas não conseguiu em razão da penhora ocorrida no processo de execução
fiscal nº 040/1.05.0001879-0. Aduziu que, indignado com o ocorrido,
deslocou-se até o Município de Caçapava do Sul, estando em diversos
órgãos, não conseguindo resolver a situação. Referiu ter obtido certidão
negativa perante o Registro de Imóveis de tal localidade. Informou que não
pagou nem ofereceu embargos nos prazos concedidos uma vez que o
imposto cobrado judicialmente nunca existiu, pois nunca teve os alegados
imóveis no Município. Presumiu que tal ação era um equívoco ou má-fé.
Sustentou ter sofrido danos morais, sendo que utilizava o veículo em
questão para trabalhar, o qual foi penhorado. Aduziu que a parte ré tem
dever de indenizar, já que cobrou quantia indevida, citando o art. 940 do
CC. Requereu, em sede de antecipação de tutela, o levantamento da
penhora, mediante ofício ao DETRAN. Ao final, postulou a condenação da
parte ré ao pagamento de indenização por danos morais. Pediu a concessão
da assistência judiciária gratuita. Instruiu a inicial com procuração e
documentos.
Concedida a AJG e determinada a emenda à inicial, foi
esclarecido pelo autor que não há pretensão indenizatória por danos

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materiais, mas tão-somente morais, retificando o valor da causa para R$


1.016,50.
Declinada a competência em prol da Pretora.
Não foi apreciado o pedido liminar.
Citada, a parte ré apresentou contestação, aduzindo,
prefacialmente, a carência de ação e a prescrição. Quanto ao mérito
propriamente dito, referiu que o processo de execução fiscal foi ajuizado em
2005, sendo que a própria parte autora confessou não ter utilizado os
instrumentos processuais adequados para fazer valer seus direitos.
Sustentou que a matéria já foi julgada e não pode mais ser objeto de
discussão judicial. Postulou a extinção do processo ou, subsidiariamente, a
improcedência dos pedidos contidos na exordial. Acostou documentos.
Houve réplica.
O Ministério Público manifestou-se no feito.
É o relatório.
Decido.
Cabível o julgamento antecipado da lide na forma do art.
330, I, do Código de Processo Civil.
Inicialmente, no tocante à alegação de carência de ação,
tenho que se confunde com o mérito e como tal será apreciada.
Quanto à alegada prescrição do direito de ação, não
ocorreu na espécie. Consoante estabelece o art. 206, § 3º, inciso V, do
Código Civil, o prazo prescricional para pleitear reparação civil é trienal.
Dessarte, tendo em vista que a constrição da motocicleta ocorreu em 2008
(fl. 28), data a partir da qual iniciou a possibilidade de aforamento da
presente demanda, a qual foi ajuizada em 2009 (fl. 02), não há falar em
prescrição no caso em tela.
Quanto ao mérito propriamente dito, da análise dos autos
tenho que não merecem acolhida os pedidos formulados na exordial.
Inicialmente, tenho que o pedido de levantamento de
penhora mediante ofício ao DETRAN não pode ser conhecido no presente
feito. Isso porque, tendo emanado a ordem judicial de restrição do processo
tombado sob nº 040/1.05.0001879-0, da Comarca de Caçapava do Sul,
naqueles autos é que deve ser discutida e postulada eventual providência
quanto a tal assunto.
Frise-se que a presente ação foi ajuizada na Comarca de
Canoas, nem sequer sendo postulada a distribuição por dependência ao
feito em questão, que tramita em Comarca diversa.
E poderia a parte autora ter simplesmente requerido nos
autos da execução, mediante simples petição ou exceção de pré-

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executividade, a providência ora postulada, juntando a certidão negativa do


Registro de Imóveis daquela Comarca (fl. 17).
Assim sendo, em que pese o erro cometido pela parte ré, já
que não provou nestes autos a propriedade do imóvel em questão,
acionando mediante executivo fiscal por inadimplemento de IPTU parte que
não possui imóveis, tenho que a parte autora também obrou com culpa,
pois confessou que deixou correr “à revelia” o processo em questão.
E o próprio autor afirmou expressamente que foi notificado
e citado, optando por deixar correr o processo judicial sem sua intervenção,
quando poderia, em simples petição de uma lauda, ter informado e corrigido
o equívoco perante o Juízo competente.
Então, descabe no presente feito providências atinentes ao
Juízo da execução em comento.
Já com relação ao pleito de indenização por danos morais,
tenho que deve ser julgado improcedente.
Entendo que o fato de ter sido demandado o ora autor em
ação de execução fiscal não configura danos morais indenizáveis.
Até porque, conforme remansosa jurisprudência, mero
transtorno ou dissabor não gera danos morais.
Com relação à penhora da motocicleta em questão,
conforme já dito, em que pese o equívoco da parte ré, o autor igualmente
silenciou nos autos da execução, não tomando qualquer providência para
defender seus direitos e interesses, mesmo sendo regularmente intimado
para tanto.
Considerando os fundamentos jurídicos do pleito
indenizatório expostos na exordial, tenho que a alegação de que o autor
utilizava o veículo para trabalhar não foi provada no feito. Ademais, mera
penhora sem a apreensão do bem, o qual permanece na posse do autor,
não tem o condão de impedir sua circulação e uso normal, não acarretando
nenhum prejuízo ao autor.
Dessarte, tenho que a situação em apreço não configura
fato que alcança a violação de atributos da personalidade da parte autora,
não autorizando, isoladamente, a reparação por danos extrapatrimoniais,
sob pena de se levar à banalização do instituto.
Nessa esteira, reservando-se o direito à indenização por
dano moral à tutela de fatos graves, que atinjam bens jurídicos relevantes,
verifico que no caso em apreço não restou caracterizada a ocorrência de
prejuízos desta natureza suportados pela parte autora.

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Logo, entendo descabida a indenização pleiteada a título de


danos morais, por entender que não estão presentes os requisitos
autorizadores da responsabilização civil.

Isso posto, com fulcro no artigo 269, inciso I, do Código de


Processo Civil, JULGO IMPROCEDENTE o pedido de indenização por danos
morais formulados pela parte autora em face da parte ré.
Condeno a parte autora ao pagamento das custas
processuais e honorários advocatícios em prol do patrono da parte adversa,
que fixo em R$ 800,00, valor a ser atualizado pelo IGP-M a partir da data da
prolação da sentença, atentando-se à natureza da ação e ao trabalho
desenvolvido, consoante dispõe o artigo 20, § 4º, do Código de Processo
Civil.
Considerando que a parte sucumbente é beneficiária da
assistência judiciária gratuita, com fundamento no art. 12 da Lei nº
1.060/50, fica suspenso o pagamento dos ônus da sucumbência, devendo
ser pagas tais verbas se nos próximos cinco anos ocorrer mudança em sua
situação econômica que lhe permita o pagamento sem prejuízo do sustento
próprio ou da família.
Oficie-se imediatamente ao Juízo da 1ª Vara de Caçapava
do Sul, referente ao processo nº 040/1.05.0001879-0, remetendo cópia da
presente sentença, para que tenha ciência dos fatos em questão, para as
providências que entender cabíveis.
Publique-se. Registre-se. Intimem-se.
Canoas, 18 de setembro de 2012.

ALEXANDRE TREGNAGO PANICHI


Juiz de Direito em regime de exceção

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