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orik 2006
Edição
ORIK – Associação de Defesa do Património de Ourique
Rua D. Afonso Henriques, 3
Direcção
Henrique Albino Figueira
Grafismo
Jacking Produções
Francisco Espada, Jaques Candeias
Impressão
Gráfica Comercial
Tiragem
500 Exemplares
Capa
Cavaleiro retirado das Armas Helrádicas do Antigo Grémio da Lavoura de Ourique
APRESENTAÇÃO 9
Henrique Albino Figueira
Memórias d’ Ourique nos idos de 1939/40 11
Hélder Mendes
Moinhos e Moleiros de Santana da Serra 25
Maria Inês Vargas de Carvalho
O SANTUÁRIO PROTO-HISTÓRICO DE GARVÃO 43
Carlos Tavares da Silva Mário Varela Gomes
A visita de el-rei D. Sebastião em Ourique 55
Henrique Albino Figueira
Notas Históricas - A Aldeia da Conceição
e os Barregões 59
retirado do Jornal “O Campo d’Ourique” de 27 de Outubro de 1898
O Presidente da Direcção
Henrique Albino Figueira
Hélder Mendes
Natural de Ourique.
Licenciado em Ciências Históricas e Filosóficas pela Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa.
Foi realizador da RTP – Rádio Televisão Portuguesa
O Manuel Sousa
O Zé Pequeno, o Cagoite
e Uma Mulher de Armas
Q uando ao fim da tarde saíamos da escola primária, que se situava na
Praça da República, junto à Câmara Municipal e Tribunal, num prédio
do Sr. Jacinto Nobre, a maior parte dos alunos descia em direcção à
Praça D. Dinis e dali se espalhava pela Torre do relógio, pelo arco ou
pela Rua Gago Coutinho, vulgo Rua da Calçada onde se situava a cadeia da vila.
Naquele tempo, uma enorme curiosidade levava-nos até à janela do rés-do-chão
da cadeia, de grades de ferro duplas, a espreitar um preso célebre que ali se encon-
trava encarcerado, o Zé Pequeno.
Merecia a nossa admiração porque, dizia-se, conseguia fugir sempre das cadeias
onde o metiam.
Tinha uma fraca figura, baixote e franzino, mas sempre sorridente e bem dis-
posto. Na nossa imaginação e comentários ele passava por frestas incrivelmente
estreitas, em números de contorcionismo e agilidade, saltava de telhados e janelas
iludindo os carcereiros em fugas célebres.
Uns pensavam que ele era apenas um ladrãozeco incapaz de fazer mal a uma
mosca. Roubava porque não tinha outro modo de vida, precisava comer, vestir-se,
numa palavra, sobreviver.
No final da década de 30 os tempos eram duros. Faltava o trabalho, a fome
grassava pelo País, principalmente no Alentejo. Havia um clima de medo e de preo-
cupação permanente. Acabara a Guerra Civil de Espanha e estava a rebentar a II
Guerra Mundial.
Outros, porém, asseguravam que o Zé Pequeno até era capaz de matar, sobretudo
Pópófio-ó-Fíodó
O Carnaval vinha sempre com uma semana de férias o que era muito apre-
ciado pela rapaziada da escola primária.
Não havia dinheiro para máscaras, por isso ninguém, ou quase nin-
guém, se “mascarava”, mas para brincar o Carnaval “entrouxavam-se”.
Para um homem se entrouxar bastava um lenço na cabeça de modo a tapar-lhe
a maior parte da cara e assim ficar irreconhecível, vestir umas saias compridas e
enrolar-se num xaile preto muito usual nessa época.
As mulheres mais novas faziam-se passar por mais velhas, colocavam almofadas
tornando-se mais volumosas e as mais velhas disfarçavam-se com pinturas ber-
rantes, alterando as linhas do rosto. Prolongavam as sobrancelhas e os olhos com
carvão de uma rolha queimada e alargavam a boca com batom. Nesse tempo nem
todas tinham o atrevimento de vestir calças como os homens. Quando muito ves-
tiam um capote alentejano que as tapava até aos pés, um chapéu caído para os olhos
e lá se faziam grupos que, principalmente à noite, percorriam as encontrando-se
uns com os outros, entrando em casas de pessoas conhecidas. Aí se desfazia o mis-
tério de quem era e quem não era que vinha entrouxado, comiam-se umas filhós e
bebiam-se uns cálices de vinho doce comprado a granel na adega do Sr. José Pratas,
no Largo da Carreira. Nesse tempo nunca ninguém tinha sequer ouvido falar em
whiskey.
Na malta nova a rolha de cortiça queimada fazia milagres. Grandes bigodes pre-
tos e suíças compridas até ao fim do queixo, as sobrancelhas reforçadas e ligadas ao
meio e quase ficávamos por aí. Um ou outro lá se entrouxava.
Mas cabia-nos a nós divertimo-nos a fazer “partidas”. Uma linha preta presa à
aldraba de uma porta e puxada de longe como se alguém batesse fazia com que a
Apresentação
Moinhos de água
O
3
s moinhos de água surgiram na História
antes dos moinhos de vento. A refer-
ência mais antiga que se conhece é um
poema de um autor grego de 85 AC. São portanto,
conhecidos desde a Antiguidade Clássica apesar de
na Antiga Roma não serem muito utilizados devi-
do à existência de mão-de-obra escrava.
É durante a Idade Média que conhecem o seu
período de maior expansão.
Em Portugal, o documento mais antigo que se
refere a um moinho de água data do século X, mas
achados arqueológicos testemunham que já eram
conhecidos em tempos mais recuados e teriam
sido introduzidos pelos romanos.
Há vários tipos de moinhos de água os quais se
dividem em duas grandes categorias:
Moinhos de Vento
O Moleiro
A
grande maioria dos recipientes cerâmi-
6
cos do depósito votivo de Garvão
foi produzida ao torno, com pastas
depuradas e bem cozidas em meio oxidante. A
sua decoração, pintada ou plástica, revelando por
vezes acentuado barroquismo, acusa influências,
ou mesmo proveniência, mediterrâneas, sul-pe-
ninsulares e levantinas, com cronologia dos sécu-
los IV/III a.C.
Em menor percentagem, ocorrem recipientes
produzidos manualmente ou ao torno lento, de
aspecto grosseiro, com pastas mal depuradas;
cozidos em atmosfera redutora, apresentam cor
acinzentada ou negra. São decorados por motivos
incisos, impressos (formando espigas, zigzags, ou
ondulações), ou/e plásticos, como mamilos e
cordões horizontais, verticais, curvilíneos. Esta
cerâmica manual, que inclui numerosos “quei-
madores” de essências perfumadas, é estilisti-
camente conotável com “culturas” continentais
celtizantes que penetraram no Sul de Portugal a
partir do século V a.C.
Além das muitas centenas de recipientes
cerâmicos – que teriam chegado ao santuário ou
contendo oferendas destinadas à divindade aí
venerada, ou com o fim de serem utilizados em
banquetes rituais ou em libações – o depósito vo-
tivo integrava ex-votos, de que destacamos placas
5 - Recipientes em cerâmica, produzidos ao torno, do depósito votivo
oculadas de ouro e prata e peças de pasta vítrea de Garvão. Foto de Rosa Nunes;
ou cerâmica representando maxilares humanos. 6 - Placa em prata com a provável representação da deusa Tanit. Foto
de M. Ribeiro;
Esta breve síntese sobre o depósito votivo de Garvão baseou-se na seguinte bibli-
ografia:
ANTUNES, M.T. e CUNHA, A. Santinho (1986) – “O crânio de Garvão (século III a.C.):
causa mortis e tentativa de interpretação”. Trabalhos de Arqueologia do Sul, 1, p. 79-85.
BEIRÃO, C. de M.; SILVA, C. Tavares da; SOARES, J.; GOMES, M. Varela e GOMES
R. Varela (1985) – “Depósito votivo da II Idade do Ferro de Garvão. Notícia da primeira cam-
panha de escavações”. O Arqueólogo Português, S. IV, 3, p.45-136.
BEIRÃO, C. de M.; SILVA, C. Tavares da; SOARES, J.; GOMES, M. Varela e
GOMES R. Varela (1987) – “Um depósito votivo da II Idade do Ferro, no Sul de Portugal, e
as suas relações com as culturas da Meseta”. Veleia, 2-3, p. 207-221.
FERNANDES, T. Matos (1986) – “O crânio de Garvão (século III a.C.). Análise antropológ-
ica”. Trabalhos de Arqueologia do Sul, 1, p. 75-78.
GOMES, M. Varela e SILVA, C. Tavares da (1994) – “Garvão. Un sanctuaire protohis-
torique du sud du Portugal ”. Les Dossiers d’Archeologie, Nº198, p. 34-39.
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