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Autoridade ou Autoritarismo?

A “Didática do Comportamento”: uma necessidade na


relação Professor-Aluno.

*
Acácio de Assunção Ferreira-Jr

Resumo

O autoritarismo por parte dos professores aparece como uma das


principais questões que influenciam a relação professor-aluno. É
relevante notar que a questão disciplinar é necessária em sala de aula,
porém as regras ou limites criados devem ser discutidos com o outro
participante do processo, o aluno. Para que os mesmos desenvolvam
autonomia de ideais e principalmente uma visão crítica de mundo.

Palavras-Chave: autoridade, autoritarismo, professor, aluno, didática.

Abstract

The authoritarianism on the part of the professors appears as one of the


main questions that influence the relation professor-pupil. It is excellent
to notice that the question to discipline is necessary in classroom;
however the rules or limits bred must be argued with the other
participant of the process, the pupil. So that the same ones develop
autonomy of ideals mainly and a critical vision of world.

Key words: authority, authoritarianism, professor, pupil, didactics.

*
Bacharel em Ciências Contábeis (FVC). Especialista em Docência do Ensino Superior (ABEC/
FVC). Mestrando em educação (UNISINAI/ UNCD). E-mail: ajr79@ terra.com.br.
1 – INTRODUÇÃO

Muito se tem discutido sobre a relação Professor-Aluno no âmbito


da educação, entretanto esta não cabe apenas no contexto onde figura
apenas professor e aluno, e sim é de grande interesse também pela
sociedade, pois, é esta relação que filhos, primos, netos vão conviver
boa parte da sua vida, seja ele quando criança, adolescente ou até
mesmo adulto. A figura do professor estará sempre presente em nossa
vida. Porém quando há, algum problema nesta relação, começa a
“caçada” para descobrir quem é culpado ou a vitima, esquecendo-se
que não existe culpados nem inocentes, todos fazem parte deste
processo que é chamado de educação.
Um dos problemas que aflige o alunado e preocupa também os
professores é proveniente da própria natureza das suas relações, o
“excesso” da autoridade, o autoritarismo.
Isto acontece porque no dia-a-dia no contexto educacional
Professor-Aluno, pressupõe uma relação assimétrica de poder, na qual,
aquele que ensina, o professor, exerce uma autoridade sobre aquele que
aprende, o aluno (De La Taille, 1999).
A autoridade sendo um produto da relação professor-aluno não é
de toda errada e sim necessária, porém realizada de forma eficaz,
conduz o discente a se disciplinar, sendo esse então capaz de adequar
seu comportamento a determinadas regras, definidas por ele ou não
(FREIRE, 1989).
Sendo a didática “um procedimento pelo qual o mundo da
experiência e da cultura é transmitido pelo educador ao educando, nas
escolas ou obras especializadas” (LAROUSSE, 2004, p.288), e a forma
que o educador exige a disciplina em sala, interfere na relação com o
educando, nada mais justo que esta didática ajude de forma a
solucionar ou minimizar estas “rachaduras” no processo educativo, que
no futuro influenciará no convívio em sala de aula.
Neste sentido, este artigo apresenta o problema na relação
professor-aluno e suas influências no processo educacional, tendo como
objetivo não exaurir tudo a respeito deste assunto, mas colaborar com
um estudo que possibilite um entendimento da relevância desta relação,
que pode sim, desperta ou acabar o interesse por parte do discente,
pelo conhecimento e no docente, um desgosto ao realizar a sua
profissão configurando com isso um caos no processo educativo.

2 - O QUE É AUTORIDADE?

Autoridade é tudo que faz com que as pessoas obedeçam, seja na


escola, universidade, na sua residência, por fim onde estiver uma
relação humana.
Assim, uma pessoa na função de professor, adquire o poder de
determinar as ações dos alunos, que legitimam esse poder, pois é
passado de geração a geração, ou adquirem rapidamente na própria
escola, a imagem do professor como uma figura que tem o direito de
exercer a autoridade.
As regras adotadas pelo docente advento da autoridade que é
adquirida devem ser aceita pelo discente e não imposta, estando
vinculada ao papel do líder que as expõem com o direito de ser
dialogada com os participantes do processo para sim, ser aceita.
(MORAIS, 2001)
A relação estabelecida entre o professor e seus alunos passa a ser
construída por ambos, em comum acordo, que conduz os educandos a
aceitar e entender as regras como posturas a serem tomadas e com a
possibilidades de mudanças.
Desta forma se cria uma disciplina onde o aluno participa
ativamente das atividades escolares, envolvendo-se nas tomadas de
decisões e estabelecimentos de regras, questionando o professor,
relacionando-se com seus colegas, discutindo e opinando sobre as
questões colocadas na sala de aula.
Nessa lógica, o professor é o “termômetro” entre a autonomia dos
alunos de decidirem por si próprios e estabelecer limites para mesma,
que implica inclusive tomar algumas decisões com ajuda dos discentes,
na medida em que o trabalho pedagógico admite aos estudantes
participarem na tomada de decisões em sala de aula (GUZZONI, 1995).
A autoridade não pode ser vista como um bloqueio da liberdade
discente, nem tão pouco pelo cessar de uma autonomia discente. Não se
deve confundi-la com autoritarismo, ou seja, uma autoridade sem
limite, com exagero, tornando uma “máquina”, que não possa expressar
a sua individualidade e nem externa a sua insatisfação ou angústia de
um determinado assunto ou regra estabelecida.

3 - O “SER” AUTORITÁRIO

Historicamente o autoritarismo é facilmente associado em um


contexto educacional, seja relacionado à educação religiosa ou militar,
que foi adotada, por muito tempo no trabalho pedagógico (FURTANI,
2000). Sua característica principal é que os alunos sofrem com a
ausência de diálogo, pelo fato de que as decisões fundamentais são
tomadas por quem “tem autoridade”, algo que jamais pode ser
questionado ou discutido.
Nesta perspectiva, o discente se cala não por temer as punições e
ameaças (implícitas ou explícitas), através de notas, e reprovações ou
até constrangimento em público do professor autoritário, com isso a
relação professor-aluno vai se enfraquecendo diariamente.
Desta forma, a educação que se baseia no autoritarismo tende a
gerar indivíduos submissos, conformistas, individualistas, logo não
cumprindo o seu papel de acordo com os ensinamentos de Krishnamurti
(2001, p.04) que revela:

Não deve a educação estimular o individuo a adaptar-se à


sociedade ou a manter-se negativamente em harmonia com
ela, mas ajudá-lo a descobrir os valores verdadeiros, que
surgem com a investigação livre de preconceitos e com o
autopercebimento. Não havendo autoconhecimento, a
expressão individual se transforma em arrogância, com todos
os seus conflitos agressivos e ambiciosos. A educação deve
desperta no individuo a capacidade de estar cônscio de si
próprio, e não apenas deixá-lo comprazer-se da expressão
individual.

Este confronto entre professor autoritário e o aluno questionador


só traz malefícios ao bem maior “a formação e o trabalho pedagógico” e
principalmente a construção do conhecimento em sala de aula.
Os professores que não conseguem abandonar a postura de todo-
poderoso e “donos” dentro da classe, prejudica a formação de seu aluno
como aprendiz e também como membro de uma sociedade no que diz
respeito a vedar as suas opiniões e dúvidas, não permitindo a
autonomia das idéias, mas sim criando meros repetidores à fala do
professor, do livro didático, ou da instituição que se encontra.

4 - COMO A DIDATICA PODE AJUDAR?


O entendimento da didática como possível solução de conflitos na
relação professor-aluno, é centrado no conceito de que “ao estudarmos
os passos didáticos, é importante assinar que a estruturação da aula é
um processo que implica criatividade e flexibilidade do professor”
(LIBÂNEO, 1994, p.179), logo regras impostas pelos professores
impossíveis de serem questionadas por seus alunos, prejudicam não só
a relação dentro da sala de aula, mas o processo educativo como todo.
A valorização na relação das partes envolvidas no processo
educativo, professor-aluno, transforma o trabalho pedagógico em uma
ação conjunta, onde as regras criadas em sala são negociadas e
cumpridas por todos os participantes do contexto. O discente encara
seus alunos como colaboradores deste processo, portanto o aluno é
aceito como membro da construção do conhecimento.
A didática também é responsável pela materialização de uma
nova consciência docente, centrada na divisão de responsabilidades
dentro de uma sala de aula. A disciplina ou a falta dela é de
responsabilidades de todos envolvidos no processo, pois somente
juntos, o professor e o aluno, terão possibilidades de dialogar, negociar,
compartilhar e construir um conhecimento em conjunto.

5 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

A premissa que a disciplina consiste num estado de quietação,


aceitação e submissão dos alunos ao professor é de toda falsa. A sala de
aula é um lugar onde os envolvidos do contexto educacional, professor-
aluno são agentes com suas devidas importâncias como afirma Freire
(1996, p.21) “não há docência sem discência”.

Os alunos afetados com algum resquício do autoritarismo podem


não reconhecer no diálogo um caminho viável de comunicação não
compreendendo que o mesmo tem como uma das suas finalidades,
romper com esquemas verticais de relações, com relações de cima para
baixo, com relações consideradas autoritárias e mais preocupante é que
esses alunos podem chegar a reproduzir na sociedade o que sofreram
dentro da sala de aula.

O professor não deve se colocar como único detentor do


conhecimento e do poder, ou como opressor da voz de seus alunos, mas
sim buscar negociar com eles regras claras nas quais são embasadas no
seu trabalho em sala buscando sempre como parceiro na construção do
conhecimento, os seus alunos.

Ademais, necessita-se desenvolver muitos estudos ainda para se


chegar a uma conclusão na qual mostrará uma resposta que findará os
problemas do autoritarismo na relação professor-aluno sem influenciar a
autoridade docente e a autonomia discente.

REFERÊNCIAIS.

DE LA TAILLE, Y. Autoridade na escola. In: AQUINO, J.G. (org.).


Autoridade e autonomia na escola: alternativas teóricas práticas
São Paulo: Summus Editorial, 1999.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia. 29.ed São Paulo:Paz e


Terra,2004.

_______, P. e outros. Disciplina na escola: autoridade versus


autoritarismo. São Paulo: EPU, 1989.

GUZZONI, M. A. A autoridade na relação educativa. São Paulo:


Annablumme, 1995.
FURLANI, L.M.T. Autoridade do professor: meta, mito ou nada
disso? 6a ed. São Paulo: Cortez, 2000.

RISHNAMURTI, J. A educação e o significado.São Paulo. Curtriz,2001.

LAROUSSE. Dicionário Ilustrado da Língua Portuguesa. São Paulo:


Larousse do Brasil, 2004.

LIBÂNÊO, José Carlos.Didática.São Paulo: Cortez, 1994.

MORAIS, R. (org.). Sala de aula: que espaço é este?14a ed. São


Paulo: Papirus, 2001.

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