Você está na página 1de 26

Dados para citação:

DEPRET, O. R. Apostila Didática elaborada para os cursos de Arteterapia

da UNIP – SP. 2011.

Oneide R. Depret - oneidepret@gmail.com

Tarô e Autoconhecimento

Podemos pensar no Tarô como uma das formas de facilitar o contato com o

Inconsciente e, consequentemente, promover o autoconhecimento e

equilíbrio psíquico.

Suas cartas reproduzem imagens arquetípicas que fazem parte da nossa

memória coletiva, por isso podem ser utilizadas como símbolos, veículos que

favorecem o fluxo de informações do Inconsciente para a Consciência.

O baralho tradicional do Tarô é composto por 78 cartas ou Arcanos

divididos em dois grupos:

- Arcanos Maiores: 22 cartas figurativas, numeradas de 0 a 21.

Reproduzem imagens que simbolizam o processo evolutivo do ser humano ou

processo de individuação, na terminologia junguiana. São arquétipos,

representam personagens, estados psicológicos e situações que pertencem

ao Inconsciente Coletivo.

- Arcanos Menores: 56 cartas divididas em 4 séries correspondentes a

naipes: bastões, taças, gládios e moedas; cada série é composta de cartas

numeradas de 1 a 10 e quatro figuras: Pajem, Cavaleiro, Rainha e Rei.

1
Representam forças secundárias que se referem a aspectos práticos da

vida.

Há registros de vários tipos de Tarô muito antigos confeccionados na

França, Itália e Espanha. Também são muitas as versões sobre suas origens,

inclusive uma, provavelmente fictícia, que o considera a forma utilizada por

sábios egípcios para preservar sua sabedoria.

Um dos mais conhecidos entre os antigos baralhos é o Tarô de Marselha,

criado na cidade que lhe deu o nome provavelmente no final do século XV.

Com desenhos diferentes dos anteriores, mas com os mesmos temas, se

destaca pela simplicidade das imagens e predominância de cores primárias,

características que atendem melhor à linguagem simbólica no sentido de

“sugerir, proporcionando associações que se processam em nível energético,

inconsciente, e permitindo assim que cada indivíduo realize a sua própria

viagem.” (CAMARGO, 1992, p. 41)

Neste texto são apresentados os Arcanos Maiores como aparecem no Tarô

de Marselha e no Mitológico, buscando ampliar as possibilidades de

compreensão das cartas através do estudo dos principais arquétipos e dos

mitos gregos a elas associados.

Apresento a seguir um esquema interessante criado por Nichols (1988), o

“Mapa da Jornada” em que as cartas são divididas em 3 grupos de 7, por

correspondência de sentido:

Mapa da Jornada
2
Reino dos deuses

Reino da realidade terrena e da consciência do ego (do Equilíbrio)

Reino da iluminação celestial e da autorrealização

O Louco - Número 0 ou 22

3
Arquétipo: A Criança divina

Relacionado ao mito de Dioniso

Início ou fim da jornada.

Símbolo da liberdade e do descompromisso que pode causar transformações

e atrair as grandes revelações.

 Início de um novo ciclo

 Impulso inicial

 Criatividade

 Intuição

 A eterna aprendizagem

 Irresponsabilidade

 Insensatez

 Pânico

 Psicose

O Mago - Número 1

4
Arquétipo: Animus

Mito: Hermes

O Mago domina os quatro elementos, reúne características da energia

primordial masculina, yang.

É o guia; elo entre o Ego e o Self.

 Habilidade

 Intuição

 O guia

 O mestre

 Criatividade

 Auto-confiança

 Inaptidão

 Mistificação

 Stress / Ansiedade

A Sacerdotisa – Número 2

5
Arquétipo: Anima

Mito: Perséfone

A eneergia primordial feminina, passiva, yin.

Relação com o Inconsciente; sabedoria intuitiva.

 Intuição

 Serenidade

 Amor

 Compreensão

 Fantasia

 Autodestruição

 Fragilidade emocional/ Distimia / Melancolia

 Depressão/ isolamento

A Imperatriz – Número 3

6
Arquétipo: Grande mãe

Mito: Deméter

Simboliza a maternidade, a sabedoria que não se apóia na racionalidade;


revela emoção associada à intuição. Governa pelo amor e por ele é
governada.

A liderança feminina. Poder de ação ligado à sensibilidade e sensualidade.

A germinação, a fecundidade e o progresso físico.

Sensibilidade artística proveniente da união de consciente e inconsciente.

 Matriarcado

 Fertilidade

 Sabedoria prática

 Natureza

 Possessividade

 Caos

 Castração

 Depressão

 Autoanulação

O Imperador – Número 4

7
Arquétipo: O Pai

Mito: Zeus

Domínio da inteligência sobre a emoção; do espírito sobre a natureza.

Capacidade de transformar as energias em realização.

O princípio racional, o Logos. Princípio masculino ativo.

Representa a lei, a autoridade, a combatividade, a consciência social.

 Patriarcado

 Domínio da inteligência

 Civilização

 Proteção

 Comando

 Tirania

 Incompetência

O Papa – Número 5

8
Arquétipo: Curador ferido / Mestre-Aprendiz

Mito: Quíron

Pontífice: a ponte como elemento de conexão com a Divindade.

Representante da lei espiritual. O guia; busca do sentido mais profundo.

Quíron, rei dos centauros, exercia a missão de autoridade espiritual e


mestre dos jovens herois. Dominava as artes da cura, mas não pôde curar-se
a si mesmo.

 Autoridade espiritual

 Guia interior

 Religiosidade verdadeira

 Dogmatismo

 Radicalismo / Rigidez

 Empobrecimento moral e espiritual

 Transtorno obsessivo-compulsivo

O Enamorado – Numero 6

9
Situação arquetípica: decisão, conflito

Mito: Julgamento de Páris

O indivíduo em busca da pessoa em que pretende se tornar.

Momento de decisão. Disposição de assumir a responsabilidade.

O conflito é a essência da vida e o estágio indispensável para o


desenvolvimento espiritual.

A influência vivificante do amor.

Livre arbítrio x compulsão instintiva. O velho e o novo.

 Decisão

 Solução de dependências

 Amor

 Idealismo

 União

 Indecisão

 Desespero

 Frustração

O Carro – Número 7

10
Arquétipo: Caminho do herói.

Mito: Ares

Início da jornada rumo ao autodescobrimento.

A puberdade. “O jovem rei traz nova força e novas ideias.”

“O carro da vitória representa todas as experiências e características que


acompanham uma alegre partida: coragem, confiança, prazer, iniciativa,
disposição para a ação. Mas também representa a habilidade do auriga: a
manutenção do equilíbrio interior e exterior e a capacidade de transformar
os impulsos opostos, naturais, dos cavalos num impulso conjunto para a
frente.” (Banzhaf, 1991, p.63)

 Triunfo

 Passagem de um ciclo para outro

 Domínio dos instintos

 Fracasso

 Orgulho (inflação do ego)

 Frustração

 Estagnação

 Transtorno bipolar

A Justiça – Número 8

11
Arquétipo: O juiz

Mito: Atená

Função Pensamento.

“Capacidade de decidir equilibradamente, livre da escravidão dos sentidos,


das paixões, dos compromissos pessoais.

O domínio dos instintos potencializando a inteligência, a sagacidade.”


(Camargo, 1992, p.62)

 Equilíbrio

 Imparcialidade

 Organização

 Honra

 Intolerância

 Desonestidade

 Corrupção

O Eremita – Número 9

12
Arquétipo: Velho Sábio

Mito: Crono

Personificação da sábia paciência, da prudência e do equilíbrio consciente.

Sabedoria pessoal, conquistada com o tempo, a experiência e a reflexão.

 Autoconhecimento

 Iluminação

 Maturidade

 Isolamento deliberado

 Introvisão

 Resistência à evolução

 Alheamento

 Mal de Alzheimer

A Roda da Fortuna – Número 10

13
Arquétipo: Destino

Mito: As moiras (deusas do destino)

“A Roda do Destino gira sempre para o mesmo lado e está sempre certa em

seu eterno movimento.” (Camargo, 1992, p.65)

Eterna mutação; fusão do passado com o presente e o futuro.

Movimento cíclico.

O fluxo da existência.

 Mudanças

 Aceitação do destino

 Resignação

 Fatalismo

A Força – Número 11

14
Arquétipo: luta com o dragão

Mito: Héracles

Harmonia entre os instintos e a razão.

Canalização construtiva dos instintos sexuais e agressivos.

Transformação da natureza primitiva, através de amorosa aceitação, em


poder e criatividade.

 Sabedoria

 Equilíbrio entre instinto e razão

 Autoridade sem autoritarismo

 Orgulho

 Fraqueza moral

 Ira

 Repressão

 Falta de vitalidade

O Enforcado - Número 12

15
Situação arquetípica: sacrifício

Mito: Prometeu

Imagem do sacrifício voluntário e consciente em benefício de um bem maior.

Pausa necessária; retorno às origens.

 Iniciação

 Superação do ego

 Confiança no futuro

 Impotência

 Revolta

 Mágoa

A Morte - Número 13

16
Situação arquetípica: a morte

Mito: Hades

“ A ceifa proporciona a abundância da próxima colheita, a abertura de

caminho para novas propostas, o nascimento de novas idéias, a regeneração

espiritual, as grandes transformações.”

 Renovação

 Morte e renascimento

 Transformação

 Contrariedade

 Perda

A Temperança - Número 14

17
Arquétipo: a harmonia

Mito: Íris

Função sentimento.

Paz interior; equilíbrio dinâmico.

Anjo: mensageiro entre o céu e a terra

Fluxo harmônico de energia entre consciente e inconsciente.

 Harmonia entre os opostos

 Equilíbrio afetivo

 Saúde

 Inflexibilidade

 Descontrole emocional

 Inércia

O Diabo - Número 15

18
Arquétipo: Sombra

Mito: Pã

Manifestação do corpo e da materialidade; sexualidade; vigor físico.

“...quando os aspectos negativos de nós mesmos não são reconhecidos como

nossos no interior, parecem agir contra nós no exterior.”

 Energia sexual

 Competência nos negócios

 Astúcia

 Perversão

 Vício

 Manipulação

A Torre - número 16

19
Situação arquetípica: destruição

Mito: Poseidon e o labirinto do rei Minos

Quebra das estruturas que não condizem mais com o estágio de evolução.

Destruição de antigos padrões que aprisionam.

Libertação das “fachadas” socialmente aceitáveis que escondem os aspectos


sombrios. Destruição de antigos padrões e valores falsos ou superados.

Mudança necessária após o contato com a sombra. Após o encontro com os


aspectos sombrios representados pelo Diabo, há necessidade de alteração
das estruturas internas e externas.

 Libertação

 Autocrítica

 Ruptura favorável

 Ilusão de poder

 Decepção

 Fracasso

A Estrela - Número 17

20
Arquétipo: Esperança

Mito: Caixa de Pandora

“Influência benéfica dos elementos sobre a vida mental, espiritual e

material.”

Bonança após a tempestade.

Confiança no futuro.

Esperança e fé em meio às atribulações.

 Paz interior

 Integridade

 Desequilíbrio mental

 Bloqueio do mundo interior

A Lua - Número 18

21
Arquétipo: a noite, a escuridão

Mito: Hécate

Momento de observação e silêncio.

Coragem necessária para o enfrentamento dos aspectos obscuros da psique.

Interferências no caminho do autoconhecimento: perigo e superação.

 Mergulho no inconsciente

 Capacidade de reconhecer enganos

 Vícios, drogas, alcoolismo

 Vibrações negativas

 Demência

O Sol - Número 19

22
Arquétipo: O dia, a luz

Mito: Apolo

Símbolo do conhecimento, de intensa atividade mental.

“... o consciente finalmente dissipa a escuridão e nos permite reconhecer

que a Natureza renasce continuamente da união dos dois princípios...”

A visão esclarecida se manifesta como ação equilibrada.

 Lucidez

 Otimismo

 Sucesso nas relações afetivas ou profissionais

 Incapacidade de integração

 Egocentrismo, egoísmo

O Julgamento - Número 20

23
Arquétipo: Redenção, recuperação do tesouro

Mito: Hermes Psicopompo

O término da Grande Obra (Alquimia)

Anuncia a chegada de um grande momento, o reinício consciente que emerge


diretamente do passado.

Renascimento a partir da reavaliação consciente do passado.

Insight: quando as experiências se encaixam como as peças do mosaico;


quando tudo faz sentido.

 Renovação

 Despertar

 Questão judicial

 Ruptura

O Mundo - Número 21

24
Arquétipo: Self

Mito: Hermafrodito

Experimentar o Self é estar consciente da própria identidade.

A plena integração dos opostos, a bipolaridade conquistada pela comunhão

entre consciente e inconsciente.

Experiência acumulada ao longo da Grande Jornada.

A chegada que prenuncia nova partida.

 Integridade

 Síntese

 Plenitude

 Imobilidade

 Estagnação

E assim, chegamos ao fim da jornada ...

... prontos para pegarmos a mochila e iniciarmos a próxima etapa, na

constante busca pela individuação...

25
Boa viagem!!!

Bibliografia

 Banzhaf, H. Manual do Tarô. São Paulo: Pensamento, 1991.

 ________ O Tarô e a viagem do herói. São Paulo: Pensamento,

2007.

 Camargo, P. Iniciação ao Tarô. Rio de Janeiro: Record, 1992.

 Nichols, Sallie. Jung e o Tarô – uma jornada arquetípica. São

Paulo: Cultrix, 1988.

 Sharman-Burke, J. e Greene, L. O Tarô Mitológico. São Paulo:

Siciliano, 1988.

26

Você também pode gostar