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Ca p í t u l o 5
I n t ro d u ç ã o
A mesofauna inclui animais com o tamanho do corpo variando de 0,2 a 2,0 mm,
cuja abundância não pode ser precisamente avaliada através de coleta manual
do material do solo. Enchytraidae (enquitreídeos), Acari (ácaros), Collembola (co-
lêmbolos), Protura (proturos), Pauropoda (paurópodos), Symphyla (sínfilos), Pseu-
doscorpiones (pseudoescorpiões), Palpigradi ( palpigrados), Diplura (dipluros) e e
alguns Nematoda (nematódos) são exemplos típicos da mesofauna, mas algumas for-
mas larvais de espécies da macrofauna também estão dentro deste intervalo de tama-
nho. A coleta da mesofauna (e outros grupos da biota do solo) está integrada ao pro-
grama global de inventários da biodiversidade abaixo do solo descrito no Capitulo 2.
Para cada ponto de amostragem, amostras de solo são localizadas em dois círculos
concêntricos, com 3 e 6 m de raio, respectivamente, a partir do monólito central. A
amostragem é completada por armadilhas localizadas no mínimo 14 m a par tir deste.
A mesofauna é coletada através de dois métodos: a) amostras dos sub-horizontes da
serrapilheira e do solo são extraídas pelo método de Berlese-Tullgren ou pelo método
de Berlese modificado, e b) do líquido mortífero/preservativo das armadilhas de
fosso (pitfall traps). Sondas de diversos formatos e tamanhos são usadas principal-
mente para coletar a mesofauna que vive no solo abaixo da serrapilheira e na própria
Editora UFLA, 2010. Manual de Biologia dos Solos Tropicais (eds F.M.S.Moreira et al.)
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M é to d o s d e c o l eta
Os protocolos aqui descritos abordam primariamente ácaros e colêmbolos presentes
nos horizontes minerais do solo e na serrapilheira. O princípio é coletar pequenas
amostras ou blocos e combiná-los a uma única amostra, que é por sua vez subamostra-
da para a extração pelo método Berlese-Tullgren. Alternativamente três ou quatro
amostras compostas são recolhidas, em vez de apenas uma. Amostras de solo com ou
sem serrapilheira são tomadas no campo com uma sonda de metal. As medidas da
sonda são de 3,5 x 3,5 cm (largura) x 10 cm (altura) e as amostras são tomadas a 5 cm
de profundidade e depois transferidas para um recipiente plástico (300 ml, Figuras 5.1
A e B) para serem armazenadas em recipientes maiores para transporte ao laboratório.
Alternativamente podem ser coletadas amostras do solo a partir de 3,5 x 3,5 x 5 cm
(profundidade) usando uma pequena pá para coletar um volume constante de aproxi-
madamente 100 ml. A amostra composta é então dividida em dez sacos plásticos não
selados, etiquetados, com uma média de 1 kg por saco. Todos os sacos são transferi-
dos para um saco de tecido de 30 x 35 cm, para evitar a morte de mesofauna. Sacos
de tecidos têm sido muito eficientes para armazenamento temporário e transporte de
amostras por longo tempo e distâncias, pois o tecido permite a circulação do ar e
impede indesejados aumentos de temperatura. Além disso, a exposição desnecessária
diretamente à luz solar deve ser evitada durante o ensacamento das amostras no
campo. As amostras devem também ser protegidas da chuva durante o transporte do
campo uma vez que os animais podem morrer se as amostras estiverem muito úmi-
das. Tanto o sol quanto o calor do motor de um carro são prejudiciais para os ani-
mais na amostra. Portanto, todo o material coletado deve ser transportado até o
laboratório, de preferência utilizando um veículo equipado com ar condicionado,
devendo ficar longe do calor do motor do veículo e do sistema de escape. Em caso do
veículo não ter ar condicionado, o material deve ser colocado sobre o assento do pas-
sageiro. Na chegada ao laboratório, todos os sacos com as amostras são dispostos de
acordo com o seu local de coletas. As amostras são embaladas e separadas em cama-
das com papel para manter a estabilidade da umidade dentro da caixa. Após este pro-
cedimento, as amostras são submetidas à extração.
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Figura 5.1 A) Sonda de metal para a coleta de amostras da mesofauna da serrapilheira e do solo. B) O conteú-
do de cada cilindro é colocado em um recipiente de plástico, etiquetado, com ajuda de uma espátula ou faca de
campo. É aconselhável usar luvas de proteção contra galhos e espinhos de plantas, formigas, centopéias, aracní-
deos e demais animais peçonhentos. J.W.Morais & E. Franklin
E xt r a ç ã o
Berlese-Tullgren
O aparelho de Berlese-Tullgren (Figura 5.2) é usado para extrair a mesofauna ativa, de
vida livre, das amostras de solo e serrapilheira. O aparelho pode ser mantido em um
laboratório próximo ao acampamento base ou à área experimental. O sistema consiste de
um armário de madeira com cerca de 160 x 50 x 64 cm, dividido em compartimento
superior e inferior. Os dois compartimentos são divididos por uma base de madeira,
coberta com isopor, com aberturas que servem de suporte para funis plásticos (Figura
5.2A). Cada cabine é equipada com portas para excluir insetos voadores que não fazem
parte das amostras. Uma minijanela é aberta na porta, coberta por uma tela de malha de
1 cm para não haver superaquecimento dentro da cabine. Um recipiente (8 cm de diâ-
metro e 5 cm de altura) com fundo de malha, contendo as amostras do solo e da serra-
pilheira, é colocado no topo do funil. O tamanho da malha é de 1,5 mm e deve conter
quatro buracos de 4 mm de diâmetro para permitir a fuga dos animais de maior tama-
nho para baixo. Depois de colocar todos os funis com as amostras, o aparelho é lenta-
mente aquecido por lâmpadas elétricas (25 watts é o ideal; se não disponível, 40 watts
pode ser utilizado), suspensas a 14 cm acima dos funis contendo as amostras. O aqueci-
mento deve ser aumentado gradualmente a cada dia, para evitar a secagem rápida das
amostras, uma vez que a diminuição brusca da umidade, no interior da amostra, pode
ocasionar a morte da mesofauna. O princípio básico do aparelho de Berlese-Tullgren é
que os organismos do solo irão responder à diminuição da umidade resultante do aumen-
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to da temperatura e secagem do material, migrando para baixo, até que finalmente irão
passar pela peneira e cair em um recipiente coletor posicionado à base do funil e conten-
do um líquido mortífero/preservativo (formalina 4%). Para maior eficácia, o funil deve
ter uma encosta íngreme e uma superfície lisa para que tais animais caiam imediatamen-
te através da peneira no frasco receptor. A posição da lâmpada é regulável e prevê outra
forma de garantir o aumento gradativo da temperatura do solo, possibilitando assim um
deslocamento lento das espécies, evitando que elas fiquem aprisionadas nos blocos duros
de solo seco. Normalmente, a temperatura no interior da cabine contendo as amostras é
aumentada gradualmente a partir de 27 °C, para 40-45 °C. As amostras permanecem no
aparelho até que estejam completamente secas (peso seco constante), que ocorre normal-
mente após 8 dias. Se for deixado por um longo tempo, ovos presentes nas amostras irão
eclodir e os imaturos podem eclodir, de modo que os resultados serão menos represen-
tativos. O mortífero/preservativo é normalmente formalina a 4% ou etanol 96%.
Figura 5.2 A) Armários para funis de Berlese-Tullgren. Observe que as pernas dos armários são mantidas
em recipientes com água para evitar a invasão por invertebrados, principalmente formigas (Cortesia M.R.Coelho);
B) Aparelho de Berlese-Tullgren em funcionamento. J.W.Morais & E. Franklin
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Figura 5.3 Funil de Berlese com solo e serrapilheira (cortesia do Dr. YR Suhardjono, LIPI Bogor).
Nota: Incubação ocorre com a tampa fechada, mas os furos de ventilação permitem a entrada do ar. Um pano acoplado à tampa impede
a entrada de insetos através dos furos. Frascos coletores devem ser firmemente presos no fundo dos funis.
Figura 5.4 Funil de Berlese feito de alumínio; com 50 cm de altura x 40 cm de diâmetro (cortesia do Dr. YR Suhardjono,
LIPI Bogor).
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Figura 5.5 Equipamentos básicos necessários para coleta das amostras no campo a serem extraídas pelo apare-
lho de Berlese-Tullgren (Da esquerda para a direita: três funis acoplados com recipientes coletores com peneiras no
fundo; um recipiente coletor usado para transporte da amostra do campo para o laboratório; duas piscetas, uma
tesoura, uma caneta, um funil menor ao lado do tubo com tela no interior para manuseio e transferência da meso-
fauna de um recipiente para outro; duas sondas para coleta de amostra de solo; um frasco coletor, com tampa ros-
queável, usado com líquido mortífero/preservativo, no aparelho de Berlese-Tullgren). Cortesia de M.R.Coelho
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C l a re a m e n to d e e s p é c i m e s e
pro cessos de montagem
Para a identificação, espécimes da mesofauna são montados em lâminas após o clarea-
mento. O processo de montagem deve ser feito ao estereomicroscópio. Observações de
morfologia normalmente requerem um microscópio composto
Clarificação
Clareamento é o processo de tornar os tecidos do espécime mais transparentes pela
remoção ou lavagem da gordura corporal e pigmentos. A solução de Nesbitt (composi-
ção dada abaixo) é comumente utilizada, mas hidróxido de potássio (KOH) e ácido lác-
tico são alternativas eficazes. Espécimes podem ser clareados com KOH 15 % por 2 a 5
minutos, com ou sem aquecimento. Greenslade et al. (2009) propôs o uso de KOH 10 %
por 2 a 5 minutos, dependendo do pigmento e da gordura corporal do animal. Após a
imersão em KOH, os espécimes são transferidos para cloralfenol por alguns minutos até
que a reação de neutralização esteja completa. Um método de clareamento mais simples
é o uso de ácido láctico, onde espécimes da mesofauna são imersos e aquecidos por
períodos de tempo variáveis dependendo do tamanho. Este método é mais barato, fácil,
seguro e funciona bem (Greenslade et al., 2009). Táxons com cutículas delicadas, como
alguns Diplura, Protura e Pauropoda, não devem ser colocados em ácido láctico puro e
sim diluído em 50% de acido láctico e etanol, por algumas horas, sem aquecimento, a
não ser que alguma estrutura tenha de ser bastante distendida para melhor visualização
de cerdas. O tempo deve ser controlado para cada caso porque os espécimes podem ser
danificados e desarticulados. Para montagem permanente, os espécimes devem ser
transferidos para outro meio, uma vez que o ácido láctico continua o processo de cla-
reamento e amolecimento dos animais. Grandjean (1949), Balogh (1959), Travè (1965),
Krantz & Walter (2009) e Norton (1990) discutem sobre clareamento e montagem de
lâminas com ácaros. Após a identificação, a maior parte de ácaros oribatídeos é manti-
da em frascos com etanol 70-75% e glicerina 5%. Ácaros altamente esclerotizados
podem ser clareados com lactofenol (contém ácido láctico, cristais de fenol e água des-
tilada na proporção de 50:25:25) ou apenas com ácido láctico (a frio ou a quente).
Montagem
Nenhum método é totalmente satisfatório para a montagem de lâminas (Greenslade
et al., 2009) e a montagem de mesoinvertebrados em lâmina permanente deve ser
evitada (ver Grandjean, 1949 e Balogh, 1959), uma vez que muitas variáveis estão en-
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Tabela 5.1
Composição química para clareamento e montagem de espécimes
1. Clareamento de espécimes
2. Montagem de espécimes
Nota: Montagem em Berlese: endurecer a 70oC por sete dias. Hoyer’s é um agente temporário e não endurece no aquecimento, mas podem
ser feitas montagens semipermanentes da lamínula com esmalte de unhas transparente.
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A montagem temporária é comumente utilizada para ácaros do solo, e pode ser uti-
lizada para outros grupos da mesofauna. O espécime é transferido para algumas gotas
de ácido láctico ou glicerina em uma lâmina escavada. Uma lamínula é colocada parcial-
mente ao longo da depressão. O espécime é colocado sob a lamínula perto da borda da
depressão da lâmina escavada e colocado levemente abaixo da lamínula na orientação
desejada, com um pincel de cerda flexível (Travè, 1965).
Identificação de espécimes e
a n á l i s e d e da d o s
Identificação
A maioria dos invertebrados do solo pode ser identificada por ordens ou por famílias com
a ajuda de livros, tais como Bachelier (1978) e Dindal (1990). No entanto, para a maioria
dos grupos de artrópodes do solo a identificação além deste nível é muito difícil. A espe-
cialização taxonômica é talvez o fator crítico na seleção de um táxon para se estudar por
espécie. Várias informações estão disponíveis na Web, fornecendo as chaves que ajudam a
identificar e a apontar características distintivas dos diferentes grupos, por exemplo,
http://www.cals.ncsu.edu/course/ent591k/kwikey1.html. Bachelier (1978) fornece uma
ampla perspectiva taxonômica dos artrópodes do solo, com chaves ilustradas para vários
grupos. As formigas estão entre os grupos ideais para projetos de biodiversidade devido a
três fatores: 1) facilidade de coleta e identificação, 2) elas são um grupo bem estudado do
ponto de vista taxonômico, minimizando os problemas de comparações de morfoes-
pécies, 3) grande suporte digital na internet que facilita as identificações e trocas de infor-
mações entre especialistas. Bestelmeyer et al. (2000) e Delabie et al. (2000) fornecem infor-
mações valiosas sobre métodos de campo e esforço amostral. Dindal (1990) fornece um
amplo estudo sobre a biologia, taxonomia e ecologia de grupos da biota do solo. O livro
foi escrito para facilitar o uso por iniciantes e profissionais, com chaves de identificação
ilustrada por famílias e, às vezes, por espécies, para diversos grupos como Nematoda,
Enchytraidae, Scorpiones (escorpiões), Araneae (aranhas), Pseudoscorpionida (pseudos-
corpiões), Opiliones (opiliões), Acari, Isopoda (isópodos), Chilopoda (quilópodos),
Pauropoda, Symphyla (sínfilos), Protura (proturos), Diplura, Collembola, Isoptera
(cupins), Coleoptera (coleópteros), Diptera (dípteros) e Hymenoptera (himenópteros). O
Trabalho de Adis (2002) contém chaves de identificação ilustradas em Arachnida (aracní-
deos) e Myriapoda (miriápodos) Neotropicais, com chaves de identificação para todas as
classes, ordens, famílias, alguns gêneros e listas de espécies terrestres conhecidas, fornecen-
do ainda referências sobre a taxonomia desses grupos.
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Referências
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