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A pesca 19 DE AGOSTO Eu acho muito esquisito que este lago tao bonito tenha sempre tanto peixe, e quando a tarde refresca @ eu trago a cana de pesca, ele, de repente, deixe de ter peixe! ‘A quem acham que me queixe? As uvas verdes { 21 DE AGOSTO Nas belas tardes de Verio, os raposinhos gos- tavam de dormir a sesta na vinha. Era tio agra- davel as folhas verdes a abrigarem-nos do sol ¢ as ‘uvas pendentes em cachos tio apetitosos! — Nao as comam! — recomendava-lhes sempre a mie antes de adormecer. — As uvas verdes sio horrivelmente amargas. —Néo comemos — respondiam os raposinhos. ‘Mas de dia para dia as uvas verdes pareciam mais atraentes! A serpente E certo dia em que a mie adormecera sem Ihes recomendar «nfo as comam», os raposinhos estenderam a pata sorrateiramente, apanharam um cacho e deram-lhe uma dentada. 20 DE AGOSTO —Uil—gemeram les, fazendo uma carcta medonha. — Que amargas A beira da corrente E resolveram nunca mais as provar. ‘mora wma serpente. Por isso, quando as uvas amadureceram ¢ a mie dos raposinhos Ihes disse: «Agora j& podem comé- E feia, muito ma. fas», eles limitaram-se a fazer uma careta © res- Eu sei que ela esté Id. ponderam: t —Nio, muito obrigado. Nao tem dentes nem pélo A mile percebeu logo a razo da resposta, @ 6 fria como gelo. Rapidamente enfiou-thes dois bagos de uva nas boquitas abertas. Os raposinhos olharam um para Ed noite antes da ceia © outro admirados, a careta transformou-se em ! ‘vem passear na areia! sorriso ¢ estenderam a pata a pedir mais, 154 | a Piio 22 DE AGOSTO Pio era um gatinho maroto que gostava muito de correr atrés de coelhos e esquilos, toupeiras ratos, borboletas € besouros, e até de correr atrds do seu rabinho. Andava.a roda, a roda, sem parar, como se fosse um pido ¢ por causa disso & que lhe tinham posto aquele nome. ‘Mas um dia 0 Pio viu um passarinho no relvado; té-lo-ia apanhado se a dona nio viesse a correr. —Piozinho! Seu mauzio!— exclamou, zan- gada, — Nunca mais tornes a correr atrés dos passa rinhos! Para falar verdade, aquilo nio significava nada para o gatinho mau, que, estrebuchando, continuava a olhar para o passarinho. —Tenho de por-te um guizo— disse a dona, E colocou uma enfiada de guizos prateados na coleira encarnada do gato. Eram muito bonitos ¢ tinham um lindo som, mas nfo deixavam 0 Pio divertir- se. Toupeiras, esquilos, coelhos ¢, principalmente, os passarinhos fugiam logo, assim que’ o ouviam aproximar-se. E 0 pior foi que nessa noite os ratos correram & sua vontade por toda a casa, ‘Fizeram tanto barulho a arranhar e a roer que a dona do Pigo no conseguiu pregar olho. —Oh, Pio, que havemos de fazer? —lamen- tou-se ela, Piio miou, 0 que queria dizer: «Tire-me os guizos que eu dou conta dos ratos!» ‘Mas a dona percebeu o que queria dizer aquele miau, € quebrou a cabera a pensar durante noites € noites a fio. descobri! — exclamou por fim, saltando da cama, Os ratos so bichinhos que vivem de noite, & hora em que passaros pequenos ¢ grandes estio em seguranga nos ramos altos das arvores. Tirou 0s guizos da coleira do Pigo, que pode assim dar caga aos ratos todos da casa ¢ até dos vizinhos. Que vaidoso ficou o Pio! E a dona também, satisfeita por poder dormir em paz e sossego. Pela manhi, quando os passa- rinhos saltitavam no relvado, punha outra vez 0s guizos na coleira do Piéo. E, a noite, 0 Pido tinha liberdade de correr, de vadiar, de ir a caca para que nenhum rato se atrevesse a entrar em casa. 155, A mangueira SET ERT 23 Dp KGO a \, ww Amanha pela manhi salto da cama, troco 0 pijama pelo calgao de tomar de légua e meds bro a torneira, rego 0 jardim, sempre quero ver se no fim de estar molhado desta maneira péra doirada nndo foi melhor que apodrecer no chao? 156 Uma folha de couve para cada um 25 DE AGOSTO Que calor fazia no couval onde os coelhinhos andavam a ajudar o pail Passavam por entre 0s canteiros, apanhando os, ichinhos que queriam comer as grandes cauves redondas, e paravam de minuto a minuto para enxugar 0 suor da testa e abanar-se, —O pai —repetiam eles— niio podemos ficar com ‘uma folhinha de couve para cada um de nés, uma s6? — Antes de terminarem o trabalho, no senhor; depois terdo todas quantas quiserem. Por isso, os coelhinhos trabalhavam, paravam, abanavam-se, enxugavam a testa, continuando a reclamar a sua folhinha de couve até que por fim © pai, que também estava cheio de calor, perdeu a paciéncia ¢ gritou: —Néo comem folhas de couve, nem uma pon- tinha sequer, enquanto nfo acabarem o trabalho! '

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