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Tit.

IV – Dos crimes contra a vida em sociedade 129

Artigo 297.º (Conceito material de crime)

No conceito material de crime surge-nos a pergunta do que deve ser considerado


crime.
A necessidade de um conceito material decorre, desde logo, do art.º 18.º n.º 2 e
art.º 27.º da CRP.
Porque eé que a pergunta eé necessaé ria, o que eé que nos impoõ e a necessidade de
encontrar um conceito material de crime? A necessidade de encontrar algumas
condutas, determinadas caracteríésticas que as tornam particularmente
desvaliosas e portanto susceptíéveis de serem condenadas pelo direito penal.
Resulta, em primeiro lugar da CRP, porque de diferentes preceitos da CRP se retira
essa ideia de necessidade de sancionar os comportamentos mais graves (art.º
27.ºCRP).
O direito fundamental de que estamos aqui a falar, atraveé s da intervençaõ o do
direito penal eé o do art.º 27.º da CRP, a liberdade.
O primeiro factor que permite definir materialmente um crime eé o facto de o
comportamento ser susceptíével de ofender gravemente um bem juríédico
fundamental quer seja lesar efectivamente, quer seja a possibilidade de colocar
em perigo o bem juríédico fundamental.
O problema eé determinar o que eé um bem juríédico fundamental.

Artigo 298.º (Conceitos de bem juríédico fundamental)

ÉÉ uma realidade que pode ter natureza tripla: (bem)  coisa; valor; finalidade, tem
eé de ser ué til a uma de duas coisas, ao desenvolvimento da personalidade de cada
pessoa ou aé manutençaõ o da proé pria existeê ncia de coesaõ o social.
Retendo a definiçaõ o do professor Figueiredo Dias naõ o anda muito longe disso: “O
direito penal soé deve intervir onde se verifiquem lesoõ es
Insuperaé veis da condiçaõ o social ao livre desenvolvimento e realizaçaõ o da
personalidade de cada homem ou da proé pria sociedade”.
Alguns autores tendem a responder a esta questaõ o com a CRP, como criteé rio que
pode esclarecer dué vidas acerca do facto de uma determinada realidade dever ser
ou naõ o elevada aé categoria de bem juríédico fundamental.
Os bens juríédicos que a CRP refere, tais com direitos, liberdades e garantias, saõ o
sem dué vida, nessa perspectiva bens juríédicos fundamentais.
A CRP eé o instrumento praé tico atraveé s do qual noé s passamos de um conceito
abstracto de bem juríédico para a decisaõ o concreta sobre se um determinado bem
juríédico eé ou naõ o fundamental.
Naõ o basta a demonstraçaõ o de que o comportamento eé lesivo de bens juríédicos
fundamentais, para que seja legíétima a intervençaõ o do Éstado, criminalizando esse
comportamento.

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