Noção real
Segundo Max E. Mayer “até agora não houve um jurista nem um filósofo do Direito que
tenha acertado a formular uma definição do Direito unanimemente aceite (…) Na nossa
opinião, o motivo principal consiste em que é impossível compreender e explicar
satisfatoriamente as diversos formas manifestadas do Direito, numa única fórmula.” Ou
seja, visto tratar-se de uma realidade altamente complexa.
Contudo, pode descrever-se, juridicamente, sob a seguinte noção genérica: Ius é tudo
aquilo que tem especiais atinências com o iustum – com o justo, o exacto, o devido.
O direito pode ter várias acepções ou noções específicas:
• Em sentido normativo: ius é a norma jurídica ou o conjunto de normas jurídicas ou o
ordenamento jurídico, que determina o modo de ser ou de funcionar de uma
comunidade social; ou ainda os princípios jurídicos, quer fundamentais, quer
gerais.
• Numa quarta acepção: ius tem o significado de lugar onde se pratica a justiça; grosso
modo o tribunal.
• Numa quinta acepção: ius significa o saber jurídico; geralmente ciência jurídica.
O Direito Romano é um direito que mostra uma formação jurídica notável. Nunca
nenhuma disciplina de direito atribuiu tanta importância ao juiz e à justiça e valorização à
dimensão cultural.
- Século IV em diante
A partir do século IV vários factores contribuíram para uma maior necessidade de textos jurídicos:
• Raridade de material: não existiam textos escritos porque os materiais eram perecíveis a pergaminho e
papio. O material, ainda que pouco, era inadequado aos homens práticos e não tinha as normas
jurídicas adequadas à época. Ou seja, para além da sua raridade, não resolviam os vários
problemas e situações da ordem social, visto estarem desencontradas com a o contexto e realidade
sociais da época.
• Exigência de textos jurídicos: as novas condições sociais exigiam a publicação de um maior número de
textos jurídicos.
• A incerteza do Direito: não se conhecia bem o que estatuía em vigência e o que tinha sido revogado.
Em suma, nos finais do século III, princípios do século IV, reinava a incerteza do Direito; frequentemente,
assistia-se a um espírito de incerteza e de erro. Pelo que era estritamente necessário a publicação de novos
textos jurídicos destinados a esclarecer, precisar, determinar,…
Os novos textos são resumos de obras jurídicas ou colectâneas de leges, ou ainda, compilações de iuris.
Todos os documentos elaborados foram realizados sem qualquer originalidade, visto que o jurista (na
verdadeira acepção da palavra) não existia.
Nesta época, o jurista aplicava simplesmente as normas de uso mais frequente, por serem as mais
invocadas.
Espécies de colectâneas e compilações:
• Leges – compilações de leges: as primeiras a serem compiladas foram as mais fáceis e mais vigentes. As
principais são: código gregoriano; código hermogiano e o código tedoriano (mais importante
reforma, visto que visava suprimir o que não tivesse vigente e tudo o que fosse inútil; modificar o
que não estivesse adaptado; acrescentar o que fosse necessário; e esclarecer o que fosse ambíguo).
• Ius – compilações/fragmentos de grandes jurisconsultos: compilações de Ius que tentam disciplinar a
doutrina jurídica, disciplinar a divergência doutrinária – da qual é exemplo a Lex Litatonium, Lei
das citações ou tribunal dos mortos.
Só as obras dos 5 juristas clássicos eram vinculadoras – Papianianus, Paulus, Ulpianus,
Modestinus e Gaius –, uma vez que as obras que existiam e as versões que delas decorriam não
eram de confiança.
Sobre tal, a Lex Litatonium determinava o seguinte: se houvesse acordo dos 5 jurisconsultos era
considerado obrigatório, se não houvesse acordo seguia-se a maioria, e se houvesse empate e num
dos lados estivesse Papianianus, seguia-se esta. Ainda de relevar, se este jurista, em caso de
empate, não resolver o caso, o juiz tinha a liberdade para decidir a questão; o mesmo se passa em
caso de inobservância por parte dos jurisconsultos em outros casos.
• Iuris e leges.
Justiniano, aproveitando os trabalhos e o valor das escolas jurídicas do Oriente e com a ajuda de grandes
mestres do Direito antigo, quis restaurar em toda a sua plenitude a tradição jurídica dos romanos, ao mesmo
tempo que procurou reconstruir a grandeza do império e instaurar em todo ele a unidade religiosa.
No aspecto político e religioso, não conseguiu realizar tal aspiração; mas consegui-o no campo jurídico.
Embora imperador do Oriente – região onde se falava principalmente o grego – Justiniano era um defensor
da tradição latina; um classicista, contudo, sem deixar de ser um legislador do seu tempo.
O esforço legislativo e restaurador de Justiniano teve como resultado uma importante compilação - Corpus
Iuris Civilis – que se compõe pelas seguintes partes:
• Institutiones – que serve de introdução didáctica elementar às outras partes do Corpus Iuris Civilis;
• Digesta ou Pandectae – extensa colecção de fragmentos de obras de jurisconsultos notáveis;
• Codex (Código) – colecção de constituições imperiais (de leges);
• Novellae (Novelas) – de 535 a 565, uma série de constituições novas (leges novas) que foram
promulgadas depois do Codex e que não chegaram a ser recolhidas numa colecção oficial.
O Corpus Iuris Civilis é uma colectânea de ius e de leges, ordenada por Justiniano no século VI. Ou seja,
uma colectânea de fragmentos de obras de juristas clássicos – ius – e de constituições imperiais – leges.
• O Direito Romano – lato sensu – é a tradição romanista; abrande 14 séculos – séculos
VI-XX -, sobretudo o período que vai desde o fenómeno da recepção do Direito
Romano até aos nossos dias. É o mesmo Ius Romanum embora com algumas
alterações ou adaptações. A vida e existência do Direito Romano termina no
século VI – 13 séculos de vida –, mas a sua supervivência projecta-se até à
actualidade – 14 séculos de supervivência –, o que constitui 27 séculos de
existência.
O critério jurídico atende à própria vida do Ius Romanum e às manifestações dessa vida.
Este procura captar a essência do jurídico, observa as fontes e as alterações que dirigem o
Direito romano.
A priorização elegida é a da Dorsiana – fundada pelo Prof. Álvaro Dores.
Atendendo às manifestações da vida do Ius Romanum, procura-se saber:
• Se vigora só para os cives ou também para os non-cives;
• Se é local ou universal;
• Se continua puro ou se recebe influências estranhas;
• Se permanece romano ou é já mais oriental ou helénico.
São estes os factores que determinam o critério jurídico enquanto externo. Fixa a
periodização atendendo a certas características do Ius Romanum. Segundo o critério
externo, o Direito Romano dividir-se-ia em três períodos históricos:
• Período do Direito Romano nacional ou quiritário;
• Período do Direito Romano universal ou ius gentium;
• Período do Direito Romano oriental ou helénico.
O critério jurídico interno atende ao próprio valor do Ius Romanum, à perfeição jurídica
das suas instituições, ou seja, à sua vida; examinando atentamente como esse Ius nasce,
cresce, atinge o apogeu e se codifica. Procura conhecer a sua essência e não apenas as
propriedades.
Só o critério jurídico interno nos pode dar uma visão propriamente jurífica do Ius
Romanum. Segundo este critério teremos as seguintes épocas históricas do Ius Romanum:
• Época Arcaica – 753 a.C. até 130 a.C.;
• Época Clássica – 130 a.C. até 230 d.C.;
• Época pós-clássica – 230 até 530;
• Época Justinianeia – 530 até 565.
• Etapa Universalista – 242 a.C. (data da criação do pretor peregrino) até 130 a.C.:
devido aos prejuízos causados aos cives, às novas necessidades comerciais e ao
desenvolvimento da vida social e civil, exige-se do Ius Romanum a
regulamentação das relações entre cives e peregrini e entre os próprios peregrini.
Para atender às necessidades é criado, em 242 a.C., o praetor peregrinus, que tem como
função dirimir as contendas entre cives e peregrini e entre os próprios peregrini. Com ele,
inicia-se a formação do ius gentium, a par do ius civile.
Algumas leis da época arcaica:
Lei das XII Tábuas – primeira lei que existiu, 450 a.C., que contém preceitos ainda hoje
consagrados nos direitos contemporâneos que regem os povos civilizados. Exemplo:
proibição da justiça privada. Esta lei veio amputar o domínio dos mores maiorum, ainda
que apenas em parte; veio imprimir a segurança jurídica no Direito Romano, dado à
existência de favorecimentos ou desfavorecimentos por parte dos sacerdotes na
interpretatio.
Lex poetelia papiria de nexus – Lei que veio proibir o autopenhoramento da pessoa do
devedor. Dar sem nexo significa auto-penhoramento da pessoa do devedor, invocado pelo
credor. O devedor entregava-se ao credor para todos os serviços, ou seja, pagava a dívida
com a força do seu trabalho; o processo executivo tinha como objecto a pessoa do
devedor e não o seu património, ou seja, o que respondia perante as dívidas era a pessoa
do devedor. Esta lei foi proibida pela Lex poetelia papiria de nexus em nome da
moralidade Romana, visto que os credores abusavam sexualmente dos devedores.
Lex aquila de dammo (286 a.C.) – instituir a responsabilidade civil extra contratual (art.
483 do CC); segundo esta lei quem matasse ou causasse danos sem justificação num
escravo ou outra coisa alheia, era obrigado a indemnizar os prejuízos causados –
responsabilidade pela violação de um direito.
Procedimento das Leges Actiones – o processo paradigmático da época arcaica. Esta
forma de processar é dominada pelo princípio da legalidade processual (ainda se verifica
na actualidade) – não há acção da lei que não fosse pré-determinada pela lei. As acções
estavam obrigatoriamente tipificadas na lei.
Este processo é um processo moral e solene, que se caracteriza:
• Solenidade - era muito exigente nos seus rituais;
• Oral – oralidade - porque tudo decorria oralmente;
• Rigidez - porque o mais leve erro provocava a perda do litígio;
• Escassez - era extremamente limitado nas suas acções, só havia cinco acções para
todos os litígios, dessas cinco acções três eram declarativas:
• Actios sacramentum tinha um valor residual, ou seja, tutelava indirectamente
qualquer direito não contemplado por outra acção.
• - Actio per iudicio postulationum era aplicado na divisão de heranças e bens
comuns.
• - Actio per condictionem era aplicada nas dívidas de dinheiro de quantia certa, e
nas dívidas de coisas (res) igualmente certas.
Duas acções executivas (servem para dar realização material coactiva às
decisões judiciais):
• Actio per manus iniectio significa lançar a mão e é uma forma de execução pessoal do
devedor.
• Actio per pignoris capionem significa tomar os bens e é uma forma de execução
patrimonial.
Caracteriza-se por um sistema de acções, com prioridade da actio sobre ius , consagradas
na Lei das XII tábuas. Foi a primeira forma em que a justiça privada foi ordenada sob a
direcção e o controlo da autoridade estatal. Destinava-se a proteger direitos reconhecidos
pelo ius civile. Apenas os cidadãos romanos, em Roma ou no raio de uma milha da
cidade, estavam legitimados para este processo. As Leges Actiones estava dividida em
duas fases, in iure, presidida pelo magistrado ou pretor, com jurisdição estatal que, depois
de ouvir as alegações das partes, concedia ou denegava a actio solicitada pelo actor
(demandante), na presença de testemunhas; ocasião em que se fixava os termos da lide
(os limites do pedido) e as partes acordavam, por meio da litiscontestatio (um acordo
entre demandante e demandado), submeterem-se à decisão do iudex (um juiz privado e
compromissado) que escolhiam ou era nomeado pelo magistrado. Perante aquele, recaía a
incumbência de emitir uma opinião com força vinculativa, denominada sententia, após
terem sido provados ou não os fatos deduzidos pelas partes, sendo esta a segunda fase,
apud iudicem, que decorria na presença do juiz, árbitro ou colégio de juízes.
Agere per formulas - causa da decadência das legis actionis e o consequente
aparecimento deste processo formulário foi o exagerado formalismo que ocasionava a
perda da lide por qualquer lapso procedimental, mínimo que fosse, na observância das
formalidades. Também corroboraram a necessidade de proteger novas situações não
previstas pelo ius civile e a recepção do ius gentium pelo ius civile. A origem do processo
formulário tem sido apontada na actividade do praetor peregrinus, instituído este em 242
a. C. para dirimir conflitos entre romanos e peregrinos ou entre peregrinos; não obstante,
logo se estendeu aos conflitos de interesses entre cidadãos romanos, através dos costumes
e posteriormente por meio da lex Aebutia e lex Iulia iudiciorum privatorum.
Por fim, verifica-se a passagem do processo das Leges Actiones – Direito publicado pela
comunicação –, passando para a Agere per formulas – Direito escrito de domínio das
acciones.
Negócios jurídicos da época arcaica:
• Traditio – transferência de posse;
• A In iuri cessio – este negócio era um acto processual aparente (como se estivesse no
tribunal). As partes compareciam perante um magistrado, e o adquirente tomando
a res se fosse móvel ou algo que a simbolizasse se fosse imóvel e afirmava:
“Afirmo que este homem é meu segundo o direito dos Quirites.” – Em seguida o
magistrado interrogava a outra parte perguntando-lhe se contestava e em face da resposta
negativa ou do silêncio, atribuía a res ao adquirente. Era aplicável na transferência de
propriedade res mancipi e res nec mancipi.
Jurisprudência da época arcaica:
A jurisprudência era a ciência do justo e do injusto, tinha três funções:
• Respondere: elaborar uma responsa, dar pareceres ou sentenças, sobre questões
jurídicas (Ciência do direito).
• Cavere: aconselhar as partes na realização dos negócios jurídicos.
• Agere: assistir às partes no processo: formula a empregar, que palavras usar, prazos,
etc.
A actividade da jurisprudência, primeira fons iuris, era uma actividade de interpretação
das normas jurídicas vigentes. Era um processo criativo, um trabalho intelectual
destinado de interpretar e compreender o conteúdo e o alcance das normas jurídicas.
A interpretação consistia em descobrir o ius no costume – Mores maiorum
A fonte de Direito primitivo da primeira etapa da época arcaica é o Mores maiorum.
A actividade da jurisprudência surge com Cactus, na sua obra tripértida, invocando a Lei
das XII Tábuas, a interpretação dessa lei e o sistema processual - Leges Actiones – da Lei
das XII Tábuas.
• Clássica Tardia – 130 até 230 – é um período em que já se nota, por vezes, o início de
uma certa decadência, manifestada sobretudo na falta do génio criador. Neste
sentido, os jurisconsultos no final da época clássica dedicam-se, não às obras de
comentário, mas às de compilação – repetir e coordenar o que os grandes mestres
disseram. Aparece Gaius, conhecido pela sua competência de resumo.
Por volta de 130 ocorreu a promoção da cognitio oficial, a burocratização da
jurisprudência e o triunfo da administração técnica. - Cognitio oficial ou extraordinária –
é um novo sistema de processar (processual), instaurável, junto de uma autoridade
jurisdicional, que realizava as funções normalmente desempenhadas pelo pretor e pelo
juiz.
A filosofia influência o direito.
Nesta época a jurisprudência inicia a decadência que iria marcar o seu fim. O trabalho
criador foi substituído pelas longas exposições de Ius civile.
É o tempo dos comentários e das monografias sobre matérias específicas, muitas das
quais simples reelaborações de obras mais vastas, a partir de Adriano – Imperador entre
117 até 138 – os juristas estão ao serviço do Imperador e como seus assessores
respondem às perguntas que lhes são feitas; a jurisprudência burocratizou-se, nestas
funções, interessam-se pelas questões mais diversificadas, respeitante ao direito,
interessavam-se pelas questões respeitantes à administração em geral. A atenção dos
juristas volta-se para o direito público onde se destacam: o Direito Administrativo,
Militar, Fiscal, Penal e o Processo Civil.
Referências jurídicas da época clássica:
Agere per formulas: A princípio existia a par do sistema das legis actiones. Mais tarde,
por força da lex Iulia, de Augusto, acabou por ser praticamente o único. As legis actiones
desapareceram, excepto para algum tipo especial de processar que não se adaptou ao
novo regime. Agere per formulas é o sistema próprio da época clássica que dá carácter ao
direito romano dessa época. Tendo as formulas uma redacção especialmente adaptada
para cada tipo de reclamação, a tipicidade processual determina a tipicidade do próprio
direito, já que este consiste essencialmente numa actio. Segundo este novo sistema de
processar, ter uma actio equivale e concretiza-se em ter uma fórmula.
Conceito de fórmula processual – A fórmula é uma ordem por escrito, dada pelo pretor ao
juiz, para condenar ou absolver, conforme se demonstrasse, ou não, determinado facto.
Partes ordinárias (que aparecem sempre) da fórmula:
• Intentio – a pretensão do demandado (o que se quer);
• Condennatio – é a clausula que manda condenar ou absolver o réu consoante se
verifique ou não determinado facto.
• Exeptio – parte extraordinária da forma, é uma cláusula concebida directamente a favor
do demandado (réu). É uma forma de defesa do réu, que consiste em contrapor ao
pedido do autor não uma negação do seu direito, mas um certo facto ou um certo
outro direito que a provar-se há-de paralisar a eficácia do seu pedido.
Cursus honorum
• Magistraturas extraordinárias:
• Tribunado da Plebe (tribunal do povo) - era a magistratura plebeia, não
admitindo patrícios, que a ela nem deveriam querer ascender. Não
possuíam o ius imperii, nem atribuições administrativas, não podiam
convocar o Senado e os Comícios, não possuíam nem insígnias nem
honrarias, tais como lictores. Não se sentavam na cadeira curul.
• Ditadura - era um cargo político da República Romana, criado em 501 a.C.,
preenchido apenas em condições excepcionais, sendo portanto uma
magistratura extraordinária, isto é, fora do cursus honorum. O ditador era
nomeado pelos cônsules do ano, autorizados para tal por um senatus
consultum emitido pelo senado romano em circunstâncias de crise militar
e/ou económica.
Poderes do Magistrado
Haviam vários poderes atribuídos aos magistrados, contudo nem todos tinham os mesmos
poderes. Os poderes são 3:
• Poder potestas: poder de representar o povo romano. Todos os magistrados
representam o povo romano, assim, todos o tinham;
• Poder de imperium: poder de soberania a que ninguém se podia opor. Este poder
obriga à obediência sobre as decisões dos magistrados. Está atribuído ao Cônsul,
Pretor e Ditador;
• Poder iuris dixium: poder vocacionado para a administração da justiça. Este poder está
atribuído ao Pretor, Ediscuruis e ao Questor.
Havia limites ao poder de imperium, apesar da sua condição de soberania Romana. A
saber:
• Temporalidade: os cargos são exercidos com limite temporal, magistraturas anuais;
• Pluralidade: poder repartido por vários magistrados. A mesma magistratura tinha vários
elementos;
• Colegialidade: Dentro de cada uma das magistraturas havia mais do que um
magistrado. Eles gozavam uns sobre os outros de ius intercessionis, isto é,
gozavam do direito de veto. Existia a possibilidade de veto entre magistrados,
nomeadamente, entre o magistrado superior e o inferior.
• Provocatio ad populum: direito de apelar para as assembleias populares quando haviam
decisões injustos propostas pelos magistrados.
Pretor
Significa aquele que vai à frente da administração da justiça – sentido etimológico.
O Pretor surge na época arcaica, em primeiro, com o pretor urbano e, mais tarde, com o
pretor peregrino. As suas funções resumem-se, essencialmente, à aplicação e
interpretação do Direito, contudo, o seu papel teve diferentes fases:
• Fase: função interpretativa – afirmação solene do direito;
• Fase: o pretor flexibilizava a utilização do ius civile face a uma situação. O pretor
surgia perante o Iudex – figura responsável por apurar os factos;
• Fase: o pretor actual com base no poder iuris dixium – o pretor cria direito por via
processual.
Na actividade do pretor, nomeadamente na 3.ª fase, a acção constitui o Direito.
A verdadeira actividade do pretor consiste em: interpretar, integrar e corrigir.
• A lei (compreende as leges sensu stricto e leges sensu lato; o Direito aparece
mais rápido):
• Lex Privata - A sua base é um negócio privado, surgiu antes da Lei
Pública e trata-se de um acto de disposição acerca de uma coisa
própria.
• Lex Publica - Consiste numa promessa solene da comunidade social,
portanto baseia-se num negócio jurídico. Stricto sensu: Lex Rogata
(plebeus/ Patrícios); Plebiscito (só plebeus); Leges Datae e Dictae. Lato
sensu: Senatusconsultos e as Constituições Imperiais.
Costume
O costume é a primeira fonte manifestandi. A sua fonte existendi é o populus.
Como todos os direitos primitivos, também Ius Romanum começou por ser
consuetudinário. Um direito cuja única fonte era o costume.
Nas fontes jurídicas e extra-jurídicas romanas aparecem três palavras para indicar a ideia
do costume. Este nem sempre foi todo igual; o costume no Ius Romanum foi sofrendo
uma evolução: usus, mos (mos maiorum, mores maiorum) e consuetudo.
O conceito moderno corresponde ao consuetudo; no conceito romano o costume é o
Mores Maiorum.
Usus: poucas vezes é empregada no sentido de verdadeira fonte de direito. É mais
frequente o seu emprego com o significado de hábito de agir, sem que isso constitua
propriamente uma obrigação ou um simples dever
No âmbito da análise ao conteúdo jurídico da Lei das XII Tábuas, é possível observar a
vida socioeconómica da época, sendo certo que esta lei pôs fim ao conflito entre
patrícios e plebeus.
Ao elaborar esta lei, os decenviros tiveram a preocupação com as famílias nas quais
assentava a sociedade romana, pelo que a sua actuação se centrou no âmbito do direito
privado.
A primeira e importante medida investida na Lei das XII Tábuas, foi a de disciplinar o
poder do pater e a sua actividade, em que, caso este não agisse correctamente podia
perder a sua pátria potestas. De grande importância foram também as normas de
regulação de vizinhança, as servidões prediais e as acções para defesa da propriedade.
Contudo, o maior contributo para o direito privado foi a disciplina jurídica de obrigação,
desmaterializando o vínculo que ligava o credor ao devedor. Assim, a obligatio deixa de
ser uma ligação efectiva, mesmo carnal entre as partes, e passa a ser um vínculo ideal
fictício entre os interessados.
Nesta época o “Estado” só intervinha em crimes graves de traição ou religião, ficando a
defesa da vítima a cargo do próprio ou da sua família.
A Lei das XII Tábuas também fixou duas fases no processo judicial, conferindo
estabilidade e defesa dos direitos das pessoas. A primeira fase in iure, o magistrado,
com base nas alegações e da análise casuística do que lhe era relatado, concedia uma
actio ao demandante, remetendo-o para o iudex.
Na segunda fase, designada por apud iudicem, o iudex, pessoa de bem, respeitado e
com bom senso, verificava se os factos eram verdadeiros, avaliava os meios de prova e
respeitando actio atribuída pelo magistrado, pronunciava a sentença que era definitiva
e vinculativa.
Neste sentido, a Lex Duodecim Tabularum teve um carácter reformador, procurando os
consensos necessários, no decorrer de um período de instabilidade política que observa
a transição da monarquia para a república, observando, pela primeira vez, a elaboração
de um ius scriptum que argúi um conjunto de normas de direito público e direito
privado.
Crimes públicos, observados e invocados sob a competência do “Estado”,
nomeadamente através dos seus órgãos, sujeitos a pena pública. Crimes privados,
observados e invocados sob a competência do lesado ou sua família, através do
processo privado, sujeito a pena e sanção privada.
Por fim, a Lei das XII Tábuas revelou ainda grande importância na tarefa dos
jurisconsultos, na medida em que lhe deram aplicação e labor criativo face à elaboração
de outras leis.
Em suma, a Lei das XII Tábuas – Lex Duodecim Tabularum – é invocada como a lei
escrita mais antiga que se tem conhecimento no mundo ocidental, datada de meados do
ano 450 a. C..
Esta lei compõe normas do direito público – direito processual e penal - e do direito
privado.
A sua importância está ainda relacionada, essencialmente, com dois factores que se
traduzem revolucionários no quadro do Direito Romano.
Por um lado, quanto ao seu aspecto simbólico, esta lei é responsável por impulsionar a
transição da oralidade à literalidade, da insegurança à segurança, do esoterismo à
laicidade, do incógnito ao público e do estado de submissão às reivindicações populares,
fundamentais para sua criação e para as ulteriores conquistas plebéias.
Por outro, quanto ao conteúdo, as XII Tábuas reúnem, de um lado, a reprodução de mores
e, de outro, um conjunto de elementos inovadores e reformadores relacionados com
normas do direito público e privado, nomeadamente, direito processual e penal e direito
civil, que vem regular a vida dos cidadãos romanos.
Neste sentido, e recorrendo a Tito Lívio, a Lei das XII Tábuas constitui-se como fonte de
todo o direito público e privado.
Da 1ª à 3ª regulamentam-se matérias de Processo Civil, da 4ª à 5ª o Direito da Família e
sucessões. Na 6ª versava-se sobre os negócios jurídicos, da 7ª à 12ª sobre o Direito
Penal.
Na sua Tábua III regulamentavam-se as consequências resultantes do não cumprimento
voluntário (isto é, não imputável a um qualquer factor externo à própria vontade do
sujeito como ocorrerá num caso de estado de necessidade ou de perda de todos os
bens devido a uma catástrofe natural) da obrigação jurídica de pagar por parte do
sujeito responsável pela dívida.
Por sujeito responsável pela divida deve entender-se quer o sujeito que a contrai, isto é,
o devedor, quer o sujeito que perante o credor se responsabiliza pelo pagamento da
divida contraída pelo devedor, isto é, o fiador.
Consideração detalhada tábua III da lei das XII tábuas, que versava sobre as
consequências decorrentes do incumprimento voluntário da obrigação jurídica de
pagar, que da válida celebração de uma Stipulatio (de um negócio jurídico que
consistia num empréstimo em dinheiro) nascia para o sujeito responsável pela dívida.
A obrigação jurídica de pagar é o correspectivo do Direito de exigir o pagamento, sendo
que, quer essa obrigação, quer este Direito, são os efeitos que se produzem na esfera
jurídica dos sujeitos envolvidos na válida celebração de um negócio jurídico que consiste
num empréstimo em dinheiro e que no Direito Romano chamava-se Stipulátio.
Segundo o disposto na 1ª Lei da Tábua III, sempre que o responsável pela divida não
cumpri-se voluntariamente com a sua obrigação jurídica de pagar, o credor levava-o a
tribunal, dando-se inicio à chamada acção declarativa. Esta tinha por finalidade, declarar
a existência da divida e, em consequência, do Direito do sujeito credor e a obrigação do
sujeito responsável pela divida.
Introduzido o pedido em tribunal iniciava-se o processo jurisdicional, que deve
entender-se como conjunto organizado de actos que se desenvolvem desde o momento
em que o pedido é introduzido em tribunal até ao momento em que ele é resolvido
através da emanação da Sentença.
O processo jurisdicional romano admitia duas fases:
1) Fase In Iure, era presidida pelo Pretor e nela se desenvolviam as principais actividades
que sustentavam a resolução do litígio, designadamente a análise da natureza jurídica
do pedido e a recolha e produção da prova.
2) Apud Iudicem, era presidida por um particular – o Iudex, ao qual cabia emanar a
sentença.
Durante a Acção declarativa podiam ocorrer uma das seguintes duas situações:
• O responsável pela divida confessava-a, obtendo-se assim um confessio In Iure, logo
na primeira fase do processo jurisdicional e não se transitando portanto para a
fase Apud Iudicem.
• Não existindo qualquer confissão após a produção da prova na fase Apud Iudicem, o
Iudex emanava uma sentença condenado o responsável pela dívida obtendo-se
assim, uma Iudicatio.
Muito importante
Quer o confessio In Iure, quer a Iudicatio assumem a natureza de verdadeiros títulos
executivos permitindo ao Pretor, em caso da insistência no incumprimento por parte do
responsável pela dívida abrir acção executiva sem a necessidade de voltar a proceder à
recolha e analise de qualquer prova.
De acordo com a 2ª Lei da Tábua III, após o confessio In Iure ou a emanação da Iudicatio
é concedido ao responsável pela divida um período de 30 dias para que este pague. Este
período de 30 dias era entendido como um verdadeiro período de tréguas, desde logo,
porque se proibia toda e qualquer espécie de vingança privada. Findo este período e
não ocorrendo o pagamento, o credor podia agarrar na pessoa do responsável pela
divida levando-o de novo ao tribunal para se dar inicio à fase executiva.
A 3ª Lei da Tábua III dispunha que uma vez em tribunal, o responsável pela divida visse a
sua pessoa ser adjudicada à pessoa do credor por força da Manius iniectio que o Pretor
proferia.
Esta Manius iniectio permitia, portanto, o apoderamento físico da pessoa do
responsável pela dívida, pelo credor, que o levava para sua casa onde o mantinha em
cárcere privado.
A 4ª Lei da Tábua III referia a situação de quase escravidão em que o responsável da
dívida se passava a encontrar e em consequência a limitação do núcleo essencial dos
seus direitos de personalidade.
Contudo também se referia nesta Lei que uma vez que o responsável da divida ainda
conservava a sua condição de Sui Iuris, ele mantinha a capacidade de gozo e de exercício
de Direito sobre o seu património. O que lhe será essencial para o eventual exercício da
primeira forma do Direito de pactar, tal como consagrado na 5ª Lei da Tábua III.
De acordo com esta 5ª Lei, o responsável pela dívida, de forma a evitar a fase final da
acção executiva, que traduzia a perda da sua condição de Sui Iuris e a consequente
conversão em escravo, podia exercer com o sujeito credor o Direito de pactar mediante
uma das seguintes formas:
a) Decidia, e comunicava tal decisão ao credor, pagar o montante da dívida, assim se
auto-libertando (a partir da Lex Vallia – 160 a.C.);
b) Era resgatado por alguém;
c) Decidia entregar-se ao credor como seu serviçal e criado para qualquer tipo de função
até que a dívida se considerasse paga, momento em que se libertaria.
Se contudo, não fosse exercido este Direito de pactar, o responsável pela dívida manter-
se-ia preso durante mais 60 dias – período no qual seria levado a 3 feiras públicas
consecutivas, onde o valor da sua divida era anunciado pelo Pretor na expectativa que
algum familiar ou amigo paga-se resgatando, assim, o sujeito.
Se nada do que se acaba de descrever acontecesse, chegava-se à fase final da execução
da dívida, sem que a dívida fosse saldada, sendo o devedor objecto de uma das seguintes
penas:
• Capitis deminutiu mínima: perda do status familie, não pode constituir família;
• Capitis deminutiu média: perda do status ciutatis, deixava de ser cidadão de romano;
• Capitis deminutiu máxima: perda do status libertatis, perdia a liberdade.
De acordo com a 6ª Lei da Tábua III, se passa-se as 3 feiras, o devedor sofria uma das
penas anteriormente referidas, ficava na posse do credor ou era morto ou esquartejado.
Acção declarativa
• Confessio In Iure, na fase In-Iure (Pretor)
ou
• Iudicatio na fase Apud-Iudicem (particular – Iudex)
Acção executiva
• Manius Iniectio
• Direito de Pactar …
Acto de se nexundare
• 3ª Feiras Públicas
• Perda da condição de Sui Iuris e conversão em escravo
• Transferência para a propriedade do credor enquanto um verdadeiro “Res”
Em suma, a Tábua terceira tem como premissa a existência de um processo executivo;
um modelo de execução pessoal – a pessoa do devedor respondia perante as dívidas e não
o seu património; conceito materialista de obrigação. O paradigma jurídico da Lei das XII
Tábuas é o processo civil e o processo executivo.
Ainda de relevar que, mais tarde devido a excessos dos credores, foi publicada a Lex
Phoethelia Papiria de Nexis, que veio revogar a se nexum dare. Ou seja, o que responde
pela dívida do devedor deixa de ser a sua pessoa e passa a ser o seu património.
A Lei como Fonte do Ius Civile
leges em sensu stricto
Depois da Lei das XII Tábuas o Ius Romanum deixou de ser ius consuetudinarium – um
direito consuetudinário, baseado exclusivamente no costume, mores maiorum – para
principiar a ser um ius legitimum – direito legítimo, baseado fundamentalmente na lex.
Ou seja, o costume cedeu o seu lugar à lei – lex –, às leis – leges.
Etimologicamente lex deriva:
• Legere – ler, leitura pública da lei;
• Ligare – obrigar, a lei obriga a agir em conformidade com ela, vincula;
• Eligere – eleger, a lei elege uma solução em detrimento de outra;
• Edlegare – é um mandato para o legislador poder alegar num ou outro sentido.
A lei enquanto fonte Manifestandi do Ius Civile, assumia duas acepções distintas
consoante se fundasse numa declaração solene baseada num compromisso entre os
sujeitos - lex contractus – ou num compromisso entre o órgão que elaborava a lei (a sua
fonte Existendi) e a própria comunidade (Sponsio). À primeira chamava-se Lex privata e
ela consistia na base dos diversos negócios jurídicos celebrados em Roma porquanto
vigorava o princípio de que aquilo que os sujeitos diziam, valeria como Lei. A segunda
chamava-se Lex pública, sendo que nos inícios o principal género de Lex pública do
Direito romano era a Lei comicial, isto é, a lei votada pelo povo reunido em comícios.
Importante: É na votação da proposta de lei, elaborada por um Magistrado Ordinário ou
Extraordinário no exercício do respectivo poder de potestas, que se traduzia o poder
legislativo do Populus Romanus. Sendo por este exercício essencialmente durante a fase
da república e que lhe foi retirado por Octávio César Augusto durante a fase do
Principado. Dentro das leis comiciais existiam dois géneros, a chamada Lex Rogata e o
Plebiscito que entre si tinham as seguintes similitudes (semelhanças):
• Provinham ambas de propostas elaboradas por Magistrados.
• A sua votação era rogada, isto é, pedida de forma solene por estes mesmos
Magistrados, ao povo reunido em comícios. A este pedido solene de votação
chamava-se rogatio (pedido), porém entre a Lex Rogata e o Plebiscito, existiam
também grandes diferenças, nomeadamente, o facto de a Lex Rogata ter sempre
como Magistrado proponente, um Magistrado Ordinário que ao elaborar a
proposta de Lei exercia o seu poder de potestas, ou seja de representação do
Populus Romanus, enquanto que o Plebiscito era exclusivamente da iniciativa do
Magistrado Extraordinário - Tribuno da Plebe.
• A Lex Rogata era votada pelo povo reunido ora nos Comitia Centuriata (se a sua
proposta fosse da autoria do censor, cônsul ou Pretor) ou nos comitia tributa (se
a sua proposta proviesse do Edil Curul ou Questor). Já o Plebiscito só podia ser
votado pelo Populus Romanus nos Concilia Plebis o que significava que enquanto
a Lex Rogata era votada quer por Plebeus quer por Patrícios, os Plebiscitos só
eram por Plebeus.
• Por último a Lex Rogata envolvia no seu processo de formação três órgãos, o
Magistrado Ordinário que a propunha, o povo reunido em comícios que a votava
e o Senado que lhe conferia aprovação. Já o Plebiscito envolvia apenas dois
órgãos sendo que aquele que o produzia, o Magistrado Extraordinário - tribuno
da plebe, e aquele que a votava os Plebeus reunidos nos Concilia Plebis.
• Para finalizar, enquanto que a Lex Rogata observa os requisitos subjacentes às várias
fases do seu processo de formação, se convertia numa Lei com carácter
vinculativo para todo o Populus Romanus, já o Plebiscito, inicialmente, apenas
tinha carácter vinculativo para os Plebeus pelo que em bom rigor não podia
considerar-se uma autêntica Lei do Ius Civile.
A lex publica surge depois da lex privata. Esta não é uma declaração unipessoal – a não
ser a partir da época decadente do Baixo-Império –, ditada ou imposta superiormente. A
lex publica deriva de uma promessa solene da comunidade social; baseia-se num negócio
público.
A lei é um compromisso solene de uma determinada sociedade, tomado em comum; é
uma declaração solene com valor normativo assente entre a proposta feita pelo
magistrado e aprovado pelo populus – lex comicial, lex contratus – manifestação clara de
uma democracia, é o povo que legisla, pronuncia-se directamente.
A lex publica por antonomásia é a lex rogata. Esta é uma declaração solene com valor
normativo – sponsio –, feita pelo povo, pelo facto de aprovar em comum, nos comícios,
com uma autorização responsável, a proposta apresentada pelo magistrado – rogatio. À
semelhança da lex privata, a lex publica tem por base um acordo entre magistrado que
propõe a norma e o povo que a aprova, responsabilizando-se sponsio communis, vincula
os dois.
3 – A Lex pública em sentido estrito comportava as seguintes espécies:
• Lex Rogata
• Plebiscito
• Leges Datae e Dictae
A primeira Lex pública e comicial do Direito Romano é a Lei das XII tábuas.
A lex por antonomásia é principalmente a deliberação proposta por um magistrado e
votado pelos comitia – a lex rogata.
Equiparada à lex rogata está o plebiscitum, que é uma deliberação apresentada pelos
tribunos da plebe e votada nos concilia plebis.
Era através das leis e plebiscitos que o povo se manifestava. As leis, Leges rogatae, eram
discutidas nos comícios em que só participavam os cidadãos romanos (populus romanus).
Os magistrados propunham textos de leis e, para deliberar sobre estes textos, convocavam
os comícios. Já os plebiscitos, plebiscita, forma anómala de fonte do direito, eram
decisões da plebe, reunidas sem os patrícios. Essas deliberações passaram a ser válidas
para a comunidade toda desde que a lei hortênsia, em 286 a.C., assim determinou.
Em sentido estrito a lei pública subdividia-se nas seguintes espécies:
Lex Rogata
Terá sido a espécie mais usual de Lei pública do Direito Romano e traduzia uma
deliberação solene com valor normativo, proposta por um Magistrado Ordinário no
exercício do seu poder de Potestas, votada após a respectiva votação pelo povo reunido
nos comícios das centúrias e depois aprovado pelo Senado mediante a concessão da
Auctoritas Patrum.
Tratava-se pois, de uma Lei pública e comicial que tinha como fontes Exsistendi um
Magistrado Ordinário, o Populus Romanum e o Senado. Denominava-se de Lex Rogata
porque para se converter em autêntica Lei, necessitava ser favoravelmente votada pelo
povo, reunido em comícios, e essa votação era desencadeada por um pedido, um
verdadeiro rogo, que ao comício popular era dirigido pelo Magistrado proponente. O
processo de formação de uma Lex Rogata exigia a observância das seguintes fases:
1ª - Promulgatio – era a fase da afixação da proposta de Lei durante três semanas num
lugar público para que o povo a lesse e tomasse conhecimento do seu conteúdo. A
partir do momento em que a Lei era afixada (promulgada), a sua proposta tornava-se
inalterável, sendo portanto insusceptível de qualquer alteração.
2ª - Conciones – Decorridas as referidas três semanas, podiam convocar-se reuniões
sem carácter oficial nem jurídico, normalmente por iniciativa do Magistrado proponente
e com a finalidade de discutir o conteúdo da proposta da norma. A estas reuniões
chamavam-se Conciones, porque para que alguém nelas falasse era necessário que o
Magistrado, que a elas presidia, concedesse a palavra. Os discursos favoráveis ao
conteúdo da norma chamavam-se suasiones e os desfavoráveis dissuasiones.
3ª - Rogatio – Celebradas ou não as conciones, o Magistrado proponente, findo o prazo
da promulgatio, rogava ao povo reunido nos comícios das centúrias, a votação da
proposta da norma, através da seguinte pergunta: “Quereis e ordenais cidadãos?”. A
fase da rogatio era verdadeiramente essencial à validade do processo de formação da
Lex Rogata, porque permitia ao povo, reunido nos comícios, o exercício do seu poder
legislativo que se traduzia na faculdade de poder votar favoravelmente,
desfavoravelmente, ou abster-se de votar a proposta de lei.
4ª – Votação - Caso o Povo reunido nos comícios das Centúrias votasse favoravelmente
a proposta de Lei, tal como lhe tinha sido rogado pelo Magistrado Ordinário
proponente, esta proposta convertia-se numa autêntica Lei que, no entanto, para entrar
em vigor necessitava ainda a aprovação do Senado.
Inicialmente a votação era oral tornando-se depois escrita e secreta por força da Lex
Papiria Tabellania
5ª – Aprovação pelo Senado - Depois de votada favoravelmente pelo Povo a Lei era
levada ao Senado para aprovação mediante a concepção da Auctoritas Patrum.
Tornando-se então perfeita e apta para entrar em vigor o processo de formação da Lex
Rogata.
6ª Afixação – O processo de formação da Lex Rogata conclui-se com a afixação da Lei no
Fórum público, para meros efeitos de publicidade (conhecimento) da mesma.
Estrutura da Lex Rogata:
• Praescriptio – é uma espécie de prefácio da lei onde se indica o nome do magistrado
que a propôs, a assembleia que a votou, a pessoa que a votou primeiro etc.
• Rogatio – parte mais nobre da lex rogata. Aqui significa a parte dispositiva da lei, onde
a lei expõe.
• Sanctio – a parte final da lei. Parte destinada a tutelar o cumprimento da lei – sanção.
Classificação tripartida quanto à sanção:
• Lex Perfectae – declara nulo todos os actos jurídicos ou negócios jurídicos
contrários às suas disposições;
• Lex minus quam perfectae – os actos contrários à lei não implicavam a sua
invalidade, mas o pagamento de multas;
• Lex imperfectae – não implicava nem a validade do acto, nem sanção
pecuniária, a quando da violação da lei. Só que elas eram alvo de tutela
pelo magistrado, que inutilizava o processo – protecção processual. Isto é,
apesar de não haver sanção havia uma tutela processual.
A lex rogata, pelo facto de ser uma lex imperfectae, não significa que
pode ser transgredida à vontade. Os magistrados, especialmente o pretor,
dispunham do expediente da exceptio, de ordem processual, para tornar
ineficazes essas transgressões.
A lei será mais perfeita quanto maior, mais forte, for a sanção. A classificação da lei
quanto à sanção obedece a este preconceito.
Mais tarde foi anexa uma quarta categoria à classificação anterior:
• Leges mais quam perfectae – verificava casos de violações gravíssimas da lei.
Implicava, para além da invalidade do acto, um castigo de natureza penal.
Exemplos de Lex Rogata:
A Lei das XII Tábuas;
Lex Poetelia de nexus (326 a.C.) – lei de valor histórico e que toca no Direito Processual
Civil. Surgiu a seguir à Lei das XII Tábuas; proibia directa e expressamente o se nexum
dare. Ou seja, proibia a pessoa do devedor entregar a sua pessoa ao credor para efeitos de
pagamento da dívida; mas não o nexum enquanto stipulatio pecuniária.
Lex Cintia (que é um plebiscito, 204 a.C.) – veio proibir as doações inter vivos para além
de determinada quantia – ultra modum –, exceptuando as doações feitas a parentes mais
próximos. A lei proibia as doações exageradas, porque perante a afirmação social que os
romanos ostentavam, faziam-se doações excessivas.
A anulação do negócio jurídico da doação, tinha de ser em vida do doador.
Esta lei era uma lex imperfectae; o pretor aplicava a proibição mediante a exceptio legis
Cinciae. O direito pós-clássico diminui a aplicação dessa lex, aduzindo que, se durante a
vida do doador a doação excessiva não foi denunciada, a sua morte confirmava-a – lex
cincia removetur. Portanto, os herdeiros do doador não gozavam da exceptio legis
cinciae.
Lex Falcidia (que é uma lei ou talvez um plebiscito, 40 a.C.) – do domínio do Direito
Sucessório. Determinava que ¼ da herança pertencia ao herdeiro testamentário, quer
fosse voluntário, quer fosse necessário. Esta lei só se aplicava se havia testamento, e
válido. Se o testador tivesse legado mais do que ¾ da herança, esses legados, embora
continuassem validos, eram reduzidos ipso iure, proporcionalmente, ate se encontrar livre
a quota do herdeiro testamentário, ¼ da herança.
Fundamentalmente, pretendia-se evitar duas coisas: a) a inutilidade dos testamentos por
falta de aceitação da herança, tratando-se de herdeiros voluntários; b) o prejuízo dos
herdeiros, sobretudo quando eles são necessários, visto não poderem recusar a herança. A
faculdade de legar, chegou a converter-se de um modo abusivo de ostentação de
liberalidades que por vezes eram satisfeitas á custa dos próprios bens dos herdeiros
instituídos no testamento, pois os bens deixados pelo de cuis eram inferiores aos legados.
Plebiscito
Foi outra das espécies de Lex Pública e comicial do Direito Romano.
Com efeito, tal como a Lex Rogata era uma deliberação solene com valor normativo que
resultava de um compromisso entre o Magistrado que a propunha e o Povo reunido em
comícios que a votava.
Tal também como a Lex Rogata, o Plebiscito via a sua votação ser rogada pelo
Magistrado proponente ao Povo.
Diferentemente da Lex Rogata, o Plebiscito era exclusivamente elaborado por um
Magistrado Extraordinário, o Tribuno da Plebe, votado pelo Povo reunido nos Concilia
Plebis e nunca sujeito à aprovação pelo Senado, o que significa que apenas possuía duas
fontes Existendi - O Tribuno da Plebe e os Concilia Plebis.
Também diversamente do que sucedia com a Lex Rogata, que após a aprovação pelo
Senado entrava em vigor com um carácter geral vinculando quer Patrícios, quer Plebeus.
O Plebiscito até ao ano de 287 a.C. apenas vinculava os Plebeus, pelo que não possuía
até ao referido ano a mesma dignidade normativa da Lex Rogata.
Assim, sabe-se que os plebiscita:
• De início, embora tivesse um carácter normativo não-jurídico, não vinculavam
coercitivamente, ou seja, não vinculavam como as leges, nem patrícios nem
plebeus;
• A partir de 449 a.C., pela Lex Valeria Horacia de plebiscitis, adquirem força
vinculativa igual à das leges, mas só em relação aos plebeus;
• Em 287 a.C., a Lex Hortensia de Plebiscitis determina que vinculem, como as leges,
tanto plebeus como patrícios. Os plebiscitos são equiparados às leis comiciais.
Princípios estruturantes:
• Princípio da prioridade absoluta da sucessão testamentária sob a sucessão legítima, ou
seja, sucessão testata sob a sucessão intestata;
• Princípio da prioridade do grupo – não se passa para o grupo seguinte quando o 1.º
grupo não está todo observado.
1.º Esquema Ius Civile:
1- Heredes sui
2- Outros agnados
3- Gentis
# Este esquema em Roma não dá resultado
Relação final:
1º I.C.
1º I.P. em ambos existe o direito de representação
2º I.C
2º I.P. a distribuição per propiriquioum
3º I.P
4º I.P.
3º I.C.
• Não praticar a praeteritio – se quiser que alguns herdeiros sejam preteridos terá de
excluí-los. O testamento, para ser válido em relação a certos herdeiros, tinha que
mencionar os herdeiros excluídos. Aqueles que devem ser referidos são:
• Uxor in manu – mulher casada sobre a conventio in manu – colocada em
submissão ao marido;
• Heres sui – herdeiros mais chegados em termos familiares: filhos e filhas e
herdeiros descendentes pela linha masculina;
• Manumitidos – herdeiro necessário – indivíduo considerado como herdeiro e,
no mesmo testamento, era concedido uma datio libertatis – eram
manumitidos.
Todos estes devem ser expressamente excluídos do testamento, para que este possa ser
válido. Assim, um pater podia deserdar todas as pessoas da sua família, inclusive os
heredes sui. Simplesmente, em relação a estes não podia praticar a praeteritio – a
omissão dos seus nomes no testamento, nem que fosse só para os deserdar. A praeteritio
de um dos heredes sui anulava o testamento.
Existe uma distinção dentro da categoria dos herdeiros quanto ao acto de aceitação, que
divide os heredes (quer intestati quer testati) em:
• Herdeiros necessários: não podem recusar a herança. É a própria morte do de cuis que
os faz ou institui herdeiros. Estes são os heredes sui e os manumitidos.
• Herdeiros voluntários: podem recusar a herança; portanto, tornam-se herdeiros, não por
força da morte do de cuis, mas por um acto de aceitação da herança. Estes são
todos aqueles que não são herdeiros necessários.
Senatusconsulta
Senatusconsulta significa uma consulta ao senado, já que certos magistrados, para
resolver determinadas questões, eram obrigados a ouvir, a consultar, o senado, mas não a
seguir a sua opinião.
Principiou a significar uma decisão do senado, que tinha força de lei. E conforme a
evolução da força normativa dessa decisão, encontramos nas fontes jurídicas romanas
diversas definições de senatusconsultos, sendo considerados fonte imediata de direito.
Passa, também, por resoluções formais aprovadas pelo senado, que constituíam ordens
direccionadas ao pretor.
O poder do senado está constituído no autorictas patrium e não sob uma figura de
carácter jurídico. Este poder deve-se ao facto dos senadores terem uma enorme imagem e
impacto social e pelo carácter político do próprio senado, o que constitui um efectivo
reconhecimento social dos seus elementos.
Senatusconsultum valleianum
Senatusconsultum Macedonianum
É da época de Vespasiano – 75 d.C..
Conceito: Tem como conceito a proibição de empréstimo de dinheiro a todo o
filiusfamilias, mesmo que ele ocupasse um alto cargo.
Designação: A sua designação deve-se em virtude de um comportamento gravemente
escandaloso de um tal Macedónio. Este, filiusfamilias, obtinha empréstimos (com juros
elevados), entregava-se às maiores imoralidades e à prática de crimes – até perpetrou o
assassínio do seu pater, para ficar mais depressa sui iuris e receber a herança.
Finalidade: A finalidade do senatusconsulto macedoniano foi de evitar a devassidão dos
filiifamilias e protegê-los contra esse perigo. Este perigo existia face à aos factos
anteriormente descritos.
Conteúdo: A proibição estabelecida pelo senatusconsulto macedoniano visava só os
empréstimos em dinheiro.
Carácter: Este senatusconsulto é de carácter público. Não pode renunciar-se à exceptio
por ele concedida, nem mesmo apresentando um garante; este também fica protegido pela
exceptio.
Constituições imperiais
As constituições imperiais são decisões de carácter jurídico proferidas directamente pelo
imperador. São directamente, no sentido em que o princeps não necessita de cooperação
do senado nem do povo; as decisões do imperador são unilaterais.
O prinicipado surgiu no ano 27 a.C. e prolongou-se até ao final do século III. O princeps
tem um poder quase absoluto, por estar investido da tribunitia potestas e do imperium
proconsulare.
As magistraturas republicanas, sobretudo os cônsules e pretores, transformam-se em
funcionários executivos, subordinados ao princeps.
Este, cheio de prestígio e de poderes, começa a produzir edictos – programa de
actividades a realizar, afixada publicamente.
Os edictos dos magistrados eram fonte de ius honorarium; os edictos do princeps passam
a ser fonte do ius civile.
Evolução da iuris-prudentia
- Até ao século IV a.C. (época arcaica) – só os pontifíces eram os iurisprudentes. Só estes
dominavam o calendário jurídico;
- A partir do século IV a.C. – laicização da iurisprudentia. Ultrapassa o valde religiosum,
o privilégio dos pontifíces na iurisprudentia, através dos seguintes factores
impulsionadores da laicização da iurisprudentia:
• 1.º Factor de laicização: Lei das XII Tábuas;
• 2.º Factor de laicização: Ius Flavianum – publicação de forma processual que caíram
no domínio público;
• 3.º Factor de laicização: O ensino público do Direito.
A partir do Império há uma universalidade da iurisprudentia.
Augusto resolveu admitir para cargos importantes jurisconsultos, pessoas da classe
média – é a última consequência da laicização da iurisprudentia. O imperador cede,
pelos menos aos melhores, autoridade de carácter político.
Adriano, mais tarde, avançou mais um pouco, na medida em concede aos
jurisconsultos autoridade social de carácter burocrático. É o triunfo do funcionalismo
sobre a aristocracia; é a universalidade da iurisprudentia.
Funções da Iurisprudentia
A actividade da nova iurisprudentia é tríplice:
• Cavere: aconselhar os particulares como deviam realizar os negócios jurídicos;
• Agere: função de assistir às partes do processo. A iurisprudentia era fundamentalmente
um saber-agir, isto é, uma agere.
• Respondere: actividade mais nobre dos iurisprudentes, porque era a actividade onde
manifestavam a sua nobreza jurídica. Consistia em dar sentenças ou pareceres a
particulares ou a magistrados. Era a função mais importante dos iurisprudentes, já
que nos responsa se concretizava a Ciência do Direito.
• Fase – século III a.C. até 130 a.C. (2.ª Etapa da época arcaica): o pretor baseado no seu
poder de imperium – poder de soberania, a que os cidadãos não podiam opor-se –,
usa expedientes próprios para criar direito – ius praetorium –, mas de uma forma
indirecta:
- se uma situação incial merecia a protecção jurídica e não a tinha do ius civile, o pretor
colocava-a sob a alçada do ius civile;
- se, pelo contrário, determinada situação social estava protegida pelo ius civile e não
merecia essa protecção, retirava-a da alçada do ius civile. O pretor não derrogava o ius
civile, simplesmente, conforme era justo ou não, conseguia que o ius civile se aplicasse
ou não. Ou seja, flexibilizava a utilização do ius civile face a uma situação; faz alargar o
ius civile sem alterar a sua essência.
Stipulatio praetoria
A stipulatio praetoria é um dos expedientes do pretor baseado no seu imperium. Esta é
imposta pelo pretor, a fim de ele poder conceder protecção jurídica a uma situação social
que não a tem do ius civile e a merece.
O funcionamento da stipulatio praetoria resulta do poder que pretor tinha em impor uma
stipulatio a que juntava garantias pessoais, por força do seu poder de imperium.
A stipulatio praetoria é uma stipulatio como outra qualquer, que tem de específico o
facto de ser imposta pelo pretor a fim de proteger uma situação social não prevista pelo
ius civile e que merecia protecção.
Características da stipulatio em geral
A stipulatio é um negócio jurídico tipicamente obrigacional. Ou seja, é um negócio
solene, destinado a criar obrigações.
É uma das mais geniais criações do Direito Romano, na medida em através do esquema
ágil e simples da stipulatio passa toda a vida romana: relações familiares, negociações e
processos; é um processo preciso, breve e sensível.
Esta realiza-se mediante inter praesentes, havendo um stipulador que pergunta ao
promissor, respondendo este no imediato.
A stipulatio tem como efeito o nascimento de uma obligatio para o promissor e uma
actio para o stipulador, a fim de obrigar o promissor a cumprir, caso o não fizesse
voluntariamente – actio ex stipulatu.
A stipulatio é um negócio jurídico: solene, formal, verbal-oral e abstracto.
Solene: era feito com a invocação e presença espiritual dos deuses. Usava-se a palavra
spondeo, que usava-se só nas promessas feitas perante os deuses. Havia a necessidade da
presença espiritual da divindade, enquanto elemento vinculativo para o cumprimento.
Formal: este negócio tinha uma forma jurídica. Devia ser realizado entre presentes; tinha
fórmula própria, sacramental – tinha uma expressão própria a cumprir –, bastava alterar a
ordem das palavras ou substituir uma delas para o negócio ficar nulo.
Verbal-oral: deviam empregar-se palavras, não escritas, mais orais – negócios verbais.
Este procedimento ser interpresente, na medida em que as partes tinham de estar
presentes, sem qualquer representação.
Abstracto: é um negócio jurídico em que se prescinde da sua causa. Ou seja, a causa
jurídica não é elemento constitutivo do negócio.
Restitutiones in integrum
É um expediente do pretor para obter um efeito contrário ao das stipulatio praetoria.
Ou seja, há um negócio jurídico injusto, mas válido perante o ius civile, que origina uma
situação, protegida por conseguinte pelo ius civile e que não merece. Uma stipulatio
formalmente correcta, mas realizada sob coacção grave.
Neste sentido, apesar de existir um negócio jurídico válido pelo ius civile, o pretor retira-
lhe a tutela jurídica do ius civile. O efeito deste expediente é uma reposição na situação
anterior à celebração do negócio jurídico.
De um modo semelhante, mas oposto, ao verificado com a stipulatio praetoria, o pretor
com o seu poder de imperium – poder de soberania a que ninguém ousa opor-se – ordena
que as partes se desvinculem, isto é, desfaçam a stipulatio efectuada, através de uma
restitutiones in integrum.
Missiones in possessionem
É aquilo que se designa por um embargo dos bens; é um meio de coacção, justa, de que
dispõe o pretor.
Ou seja, é a protecção do “ordenar do pretor” – da stipulatio (o pretor ordena fazer
determinado acto) ou da restitutiones in integrum (o pretor ordena desfazer determinado
negócio) – através da ameaça de uma missiones in possessionem, de um embargo de
bens.
Espécies de interdicta:
• Exibitórios: a ordem do pretor destinava a que alguém apresentasse ou mostrasse,
exibesse uma coisa;
• Restitutórios: a sua finalidade era ordenar a devolução, a restituição de uma coisa;
• Proibitórios: destinava a impedir que alguém fosse perturbado no gozo de um direito
que está desfrutando pacificamente.
Neste tipo é ainda possível identificar diferentes modalidades consoante o tipo de bem:
• Uti possidetis: defesa da posse de coisas imóveis; podia ser concedido: proprietário
civil, proprietário natural; precarista (mas não contra o dono do bem); ao credor
de um penhor.
• Interdicta utrubi: defesa da posse de coisas móveis; podia ser concedido: presumível
possuidor; sequester (pessoa imparcial a quem se confiava em depósito uma
coisa); ao credor de um penhor.
A fórmula processual é uma ordem por escrito, dada pelo pretor ao juiz, para condenar ou
absolver, conforme se demonstrasse ou não determinado facto.
A fórmula encabeça pela nomeação do juiz, geralmente escolhido pelas partes, e que era
um particular e não um magistrado; depois segue-se as várias partes da fórmula:
• Partes Ordinárias – mais importantes:
• Intentio: indica o estado da questão, a pretensão do demandante – petição
inicial;
• Condemnatio: cláusula que manda condenar ou absolver o demandado.
• Partes Eventuais:
• Demonstratio: se a intentio era incerta, tinha que se demonstrar;
• Adiudicatio: se a actio é divisória, ou se se tratade uma coisa comum, objecto
de discussão.
• Partes Extraordinárias:
• Exceptio: cláusula concedida a favor do demandado que inutilizava a pretensão
do demandante;
• Praescriptio: cláusula concedida a favor do demandante;
• Replicatio;
• Duplo Replicatio.
A posição do pretor, depois da lex aebutia de formulis, era além de subtrair ou de colocar
sob a acção do ius civile, como já procedia até 130 a.C., também (sempre que a justiça ou
a equidade assim o exigissem) 1) a de neutralizar a actio civilis – denegatio actionis,
recusando a concessão da actio, ou inutilizando a eficácia da acção ius civile concedendo
uma exceptio; 2) a de criar actiones próprias.
Desta forma, o pretor passou a integrar e a corrigir directamente o ius civile por via
processual.
No Direito Romano não se verifica que o direito é constitutivo da acção – situação típica
do Direito Português –, mas sim a acção é constitutiva do direito.
O pretor tinha o poder de criar direito, visto que o Direito Romano tem um carácter
casuístico, e tinha como base a produção imediata de justiça – o Direito Romano invoca a
justiça em desprestígio da segurança.
As actiones praetoriae: o pretor, depois da lex aebutia de formulis, cria ius directamente
– ius praetorium –, pois cria actiones próprias.
Portanto, as actiones praetoriae contrapõem-se a actiones civiles ou actiones in ius
conceptae.
As várias actiones praetoriae são:
• Actiones in factum conceptae: o pretor, vendo que determinada situação social (factum)
merece protecção jurídica e não a tem do ius civile, concede uma actio conceptae
baseada nesse facto, para que se faça justiça.
• Actiones ficiticiae: tem na sua origem uma fictio, isto é, é uma ficção. O pretor, para
aplicar a justiça, finge como existente uma coisa ou um facto que se sabe não
existir, ou finge como não-existente uma coisa ou um facto ou até um negócio que
se sabe que existe – poder de criação ou de “descriação”.
Por exemplo: si heres esset: concede uma actio ficticiae ao filho emancipado, tornando
herdeiro com os outros filius famílias. Contudo, o seu património é somado ao património
do de cuis, sendo, posteriormente, divido com a herança inicial.; si dominus esset: como
se fosse proprietário.
A ficção supõe e provém de um imperium e não da doutrina.
Os expedientes do pretor visavam, essencialmente, a resolução de um caso concreto,
inspirado no princípio e lógica da justiça e não, como se pode pensar, por mera
arbitrariedade.
• Actiones utiles: se o pretor aplica, por analogia, actiones civiles a casos diferentes, mas
semelhantes, dos que o ius civile protege; aqui, há lógica, por semelhança. Ou
seja, invoca o raciocínio analógico colocando em discussão o caso e a norma;
ponderação analógica entre o caso concreto e a norma e os seus princípios.
• Actiones adiecticiae qualitatis: são actiones que responsabilizam, também, o pater
famílias, total ou parcialmente, pelas dívidas dos seus filius ou servus,
provenientes de contratos celebrados por estes alieni iuris.
O Direito Romano ignorava a representação jurídica; o próprio tinha de se apresentar.
Um dos casos em que se observava tal facto era no direito da família.
Na estrutura da família havia um pater famílias que geria todo o património. Estas
famílias eram, politicamente, mais vantajosas, quanto mais numerosas fossem; também
era mais vantajoso que a família tivesse um maior património.
Visto a dimensão da família e seu património, o pater famílias precisava de se socorrer de
representantes para uma melhor gestão das suas coisas.
Assim, a magistratura romana criou um conjunto de acções que invocavam uma espécie
de transição do sujeito por via processual. O pater famílias podia, deste modo, constituir
ligações de sujeitos a elementos dentro da sua família, garantindo, simultaneamente, as
obrigações decorrentes dessa “representação”.