Morfologia - Laroca (2003)

Você também pode gostar

Fazer download em pdf
Fazer download em pdf
Você está na página 1de 5
Maria Nazaré de Carvalho Laroca Mestre em Lingiistica pela Universidade Federal do Rio de Janeiro PNUD MLO MARLO IMOOLUCUS 3 EDICAO Revisada e Ampliada com Chave de Respostas dos Exercicios Pontes 1, Morfologia LI - Breve histérico termo morfologia, tadicionalmente ‘empregado para designaro estudo das formas das palavras de uma lingua, n3o era conhecido dos Bramaticos greco-latinos. A gra- miatlea classica dividia-se em tres partes: ' flexdo (ou “acidentia’), derivacdo (ou formacto de palavras) e sintaxe. Na realidade, © termo que se opunha 2 sintaxe era a flexio, ficando a derivacao em segunda plano. Apesar de consideradas ‘como “todos invisiveis’ as palavras apresentavam flexdes, isto variagoes acidentais em suas formas, dentro dos diferentes paradigmas. Para essa gramatica, que era de base filosofica, 0 WONS T1970) p. 150 era a classificacao das palavras de acordo com essas caracteristicas uildvels ou “acidentes* como, por exemplo, as declinacdes, que serviam marcar os nomes em face dos verbos. A esse modelo de andlise em 4 palavra € considerada a unidade central minima da-se o nome de ra-e-Paradigma Somente no século XIX, por volta de 1860, a palavra morfofogia foi Uutlizada como termo lingtistica, englobando a flexto e a derivacio. Surgiu Imelramente como termo biol6gico, em 1830, criado por Goethe Nar 0 estudo das formas dos organismos vivos. O seu uso em ling 40 deve a infiuencla do modelo evalucionista de Darwin sobre os estudos da Hinguagem. Os gramaticos e filésofos alimentavam 0 sonho de descobrir 2 forigem da linguagem através do estudo da evolucto das palavras em indo- @uropeu. Houve, entzo, um interesse crescente pelo estudo sistematico dos processos de formacao de palavras, numa perspectiva historica, pois os [ramaticos consideravam as formas minimas constituintes das palavras como @lementos originarios Para 0s estudos morfoldgicos, muito contribuiu também a gramatica de Panini (sé. VI aC. (2)) a qual pds os filésofos em contato com a tradicao framatical hindu, A descoberta do sanscrito (antiga lingua sagrada da India), fio fim do século XVII, permitiu aos estudiosos um exame dessa gramética }0 contrério da gieco-romana, reconhecia a estrutura interna das palavras, lepreendendo unidades minimas como raizes e afixos. Podem-se reconhecer Aagul as sementes das funuras pesquisas estruturalistas nos dominios da cléncia linguagem. ‘Amorfologia esiruturalista ameticana teve seu petiodo dureo na década } 40 e principios de 50. Em Readings in Linguistics J abreviadamente, Rl ‘antologia de autores americanos, (de 1925 a 1956), organizada por n Joos, 0s artigos selecionados para 0 periodo de 1940 a 1956 dedicam- dominantemente a questoes morfoldgicas, No Brasil, em 1942, o professor elingtifsica Joaquim Mattoso Camara sia primeira edicdo dos seus Princfpros de linguistica geral obra proneira cada em lingua portuguesa, Segundo Eugénio Coseriu, “desde a segunda (Rio, 1954), tomou-se o melhor manual de introducao a lingifstica IMO publicado em um pais latino’? ue a vasta obra mattosiana, podemos destacar dois manuais que 0 finalidade a descricao sincronica das estruturas fonoldgica e do portugu 1s de Iingolstica descritva (atigos escritos entre 1967 € 1968) Para se ter uma visio abrangente e modema dos mais avancados estudos na area da morfologia lingdlstica, ¢ indispensavel a consulta as obras de PH. Matthews, Morfology an introduction (o the theory of the word-structure (Cambridge, 1974) ¢ loan L Bybee, Morfology ~a study of he relation between meaning and form. (Amsterdam, 1985). 1.2 - Conceito e objeto Muito se tem discutido sobre a autonomia da morfologia como uma tinta da sintaxe. Alguns lingdistas, privilegiando as inter-relacoes | morfolégico e o sintatico preferem falar em morfossintaxe, Saussure cchegou mesmo a declarar: “s morfologia nao tem um objeto real e autonomo"* Mattoso Camara, no artigo "Morfologia e sintaxe", refuta a tese saussureana, valendo-se da nocao de relacéo associativa ou paradigmatica, Dando como exemplo a forma pronominal e/e, através de suas relacoes de oposi¢ao dentro do paradigma, sabe-se que se trata de um pronome masculino, endo feminino; singular, e ndo plural; da terceira pessoa gramatical, e no da primeira ou segunda. disci entre oni To pes. eu] Mase. ele | Sing ele 2 pes. | Fem ela | PL_eles 3 pes. ele Esse valor de efe é um valor morfol6gico, independente de sua funcdo sintética, quer seja sujeito, complemento ou adjunto como, por exemplo, respectivamente: ele estuda; vou telefonar para ele; o livro dele sumiu. S40, portanto, as relacbes particulates em auséncia, dentro do paradigma, que constituem 0 dominio da morfologia Entretanto, morfologia e sintaxe nao s80 compartimentos estanques nna estrutura lingUistica, ‘Nenhuma parte de uma lingua pode ser descrita adequadamente sem referéncia a todas as outras partes Tal principio significa que a fonemica, a morfologia e a sintaxe de uma lingua nao podem ser descritas sem referéncia umas as outras”.’ O estabelecimento das classes de palavras, por exemplo, deve ser feito dentro da sintaxe, a partir do estudo de seu comportamento sintatico® ‘A morfologia ¢ 0 “ramo da lingalstica, que trata das formas das fem diferentes usos e construcées.” Trata da estrutura intema das palavtas, dos seus constituintes, significativos minimos ov morfemas. Segundo Nida, a morfologia pode ser definida como “o estudo dos morfemas e seus arranios nna formacdo de palavtas”.® 7 TAUBURRE 1975) w 157 5 CAMARA I (1972).

Você também pode gostar