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A FORMAÇÃO DA POLÍTICA

IMIGRATÓRIA BRASILEIRA:
DA COLONIZAÇÃO AO ESTADO NOVO

Ana Luisa Zago de Moraes1

Resumo: No presente artigo, será estudada a construção da política imigratória no


Brasil, desde a relação da imigração com a colonização, passando pela Primeira
República, em que houve a relação do imigrante com o anarquista-estrangeiro e,
posteriormente, o Estado Novo com o estopim da repressão ao “estrangeiro”, não
mais “imigrante”. Através de uma digressão histórica, objetiva-se a compreensão
das origens da política imigratória atual, cuidando-se o presente artigo do início
de uma discussão que, futuramente, passará pela Ditadura civil-militar brasileira
e pela última transição democrática. Nesse primeiro trabalho, o método utilizado
foi a pesquisa bibliográfica, e os resultados iniciais evidenciaram que a política
imigratória, outrora relacionada à colonização, objeto de propaganda e interesse
governamental devido à necessidade de povoar o imenso território e substituir o
trabalho escravo, em períodos autoritários como do Estado Novo se direcionou à
repressão do “inimigo externo”, como sendo o contraponto da própria formação
da nacionalidade brasileira.

Palavras-chave: Brasil. Política. Imigração. Colonização. Formação.

Abstract: In this paper, we will study the construction of immigration policy in


Brazil, since the relationship between immigration and colonization. The First
Republic market the relationship between the immigrant and anarchism abroad
and subsequently the New State was characterized for the repression of the
“foreigner”, not “immigrant” anymore. Through a historical digression, we would

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1 Mestre e Doutoranda em Ciências Criminais pela PUCRS. Defensora Pública Federal
em Porto Alegre.
144 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS – Volume Especial, 2014

like to understand the origins of the current immigration policy. That is just the
begging of the discussion, because in the future, we will analyze the Brazilian
civil-military dictatorship and the last democratic transition and the Transitional
Justice for foreign people. In this first paper, the method used was the literature
search, and the initial results show that the immigration policy – except when
related to colonization and the interest to populate the vast territory and replace
the slave labor - was directed to the suppression of the “external enemy”, as the
was opposite to the formation of Brazilian nationality, mainly in authoritarian
periods us the “New State” or Third Republic..

Keywords: Brazil. Policy. Immigration. Colonization. Formation.

INTRODUÇÃO em caráter temporário; (c) aquele em


situação especial, que devido a acordos
Política migratória é um conjunto bilaterais, multilaterais ou regionais
de medidas adotadas por determinado possuem os mesmos direitos que os
Estado para controlar o fluxo de pessoas cidadãos nacionais; (d) os refugiados
através de suas fronteiras, bem como (RAMOS, 2008, p. 721-745).
a permanência dos estrangeiros. Como Na Europa atual, muito em razão
o mundo segue ordenado em Estados de interesses eleitorais, a migração se
soberanos, o imigrante é recebido ora tornou bode expiatório da crise eco-
como invasor, ora como promotor do nômica, e o trabalhador migrante tem
desenvolvimento, de acordo com o sido acusado de subtrair empregos
interesse estatal em cada momento. No dos nacionais, abusar dos serviços do
entanto, o Estado não se limita ao as- Estado e elevar os índices de crimi-
pecto negativo de autoridade coatora nalidade, contrariando as pesquisas a
sobre as pessoas num dado espaço, mas respeito. Ademais, a diversidade racial
detém outro viés de extrema importân- e cultural gera mal-estar em sociedades
cia, que é o da proteção e do amparo descritas como “nostálgicas, homogê-
ao indivíduo (SICILIANO, 2012, p. 5). neas, individualistas e pautadas pelo
O estrangeiro pode ser observado consumo” (VENTURA; ILLES, 2013,
por diferentes realidades normativas: (a) p. 2). Dessa forma, tem ocorrido um
o imigrante, que é quem que se deslo- retrocesso do direito humanista desen-
ca para outro Estado com o intuito de volvido no período após a Segunda
ali permanecer, legal ou ilegalmente Guerra Mundial.
(docu­mentado ou não); (b) o estrangeiro Nos Estados Unidos, seguindo a
transitório, que vai para outro Estado mesma tendência, a demonização do
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estrangeiro atingiu seu ápice após os ropa e nos Estados Unidos, especial-
atentados do 11 de setembro de 2001, mente durante o regime militar. Apesar
quando foi declarada “guerra ao ter- das limitações que foram sendo agra-
ror” e, junto com isso, guerra aos vadas durante o século XX, o Brasil,
“forasteiros”, principalmente de ori- durante mais de quatro séculos, foi
gem árabe. Nessa “guerra”, a descober- marcado pelo intenso fluxo migratório,
ta de potenciais terroristas confunde-se colaborando para a consolidação da
com a xenofobia e converte a diferença miscigenação supramencionada.
em ameaça. No presente artigo, será estudada
O Brasil, por sua vez, é um país a construção da política migratória no
caracterizado pela forte miscigena- Brasil, desde a relação da migração
ção de seu povo, ocasionada pelo seu com a colonização, passando pela
passado colonial e pelos significativos Primeira República, em que houve a
fluxos migratórios recebidos durante construção do imigrante como anar-
o período Imperial e, principalmen- quista-estrangeiro e, posteriormente,
te, Republicano. Ao lado dos Estados o Estado Novo como o estopim da
Unidos, Canadá e Argentina, o Brasil repressão ao “estrangeiro” (não mais
é um dos países receptores de milhões “imigrante”, como nos tempos da colo­
de europeus e asiáticos que vieram nização).
para as Américas em busca de opor- A ideia de “evolução”, no presente
tunidade de trabalho e ascensão social trabalho, não intenciona organizar a
(BARRACLOUGH, 1983). O período história da repressão ao imigrante de
de 1870-1930 marcou o último mo- forma linear. Não se trata, portanto, de
mento relevante de grande influxo de uma análise historiográfica, de tempo
estrangeiros. Durante esse interregno, cronológico, uma vez que utiliza tam-
o Brasil recebeu cerca de 3,7 milhões bém de recursos de memória, de tem-
de pessoas, inclusive japoneses, sírio- po múltiplo, tanto é que não pretende
-libaneses e judeus. No período sub- abordar todas as normas direcionadas
sequente houve significativa redução aos imigrantes, mas apenas aquelas que
das imigrações devido à crise de 1929 contribuíram para a construção da atual
e ao fechamento das fronteiras decor- política imigratória, bem como da polí-
rente da Constituição de 1934, que tica repressiva, em especial o instituto
estabeleceu cotas para o ingresso de da expulsão. O que se busca, portanto,
imigrantes (SICILIANO, 2012, p. 9). é resgatar os acontecimentos e textos
Desde então, as restrições ao fluxo normativos passados para compreender
migratório se tomaram gradativa­mente de onde surgiram as atuais normas que
mais rígidas, tanto aqui quanto na Eu- regem a política migratória.
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IMIGRAÇÃO densidade demográfica e pela limitação


E COLONIZAÇÃO da disponibili­dade de terras (BARRA-
DO BRASIL CLOUGH, 1983, p. 64-73). A emigração
NO SÉCULO XIX de orientais, indianos, chineses e japone-
ses encontra explicação em causas aná-
Durante quase todo o período que logas: grandes excessos populacionais,
o Brasil ainda era colônia portuguesa necessitando de espaço para subsistir
e, portanto, desde o “descobrimento” em melhores condições, dentre outras
datado de 1500 até a proclamação da causas (CÔRTES, 1958, p. 10-11).
independência, em 1822, o território na- Já nessa época, o sistema de coloni­
cional somente conheceu os contingentes zação – no sentido de habitação e explo-
estrangeiros desembarcados contra a von- ração de novas áreas do território nacio-
tade lusa ou apesar dela, destacando-se nal - não foi a única forma de fomentar a
os holandeses, os franceses e os ingleses migração. Algumas correntes migratórias
(CÔRTES, 1958, p.8-9). foram eminentemente urbanas, como a
Entretanto, em 1808, com a vinda portuguesa e a sírio-libanesa, outras para
da família real portuguesa para o Brasil, fins de “braço” nas lavouras antes culti-
foram abertos os portos ao comércio vadas por escravos, sem a pretensão de
internacional e foi promulgado o de- concessão de terras ou exploração de no-
creto que assegurava aos estrangeiros o vas áreas. E, muitos dos que se dirigiam
direito à propriedade territorial,2 opor- às áreas de colonização ou de substituição
tunizando a imigração de contingentes do trabalho escravo, acabaram por per-
populacionais excedentes do continente manecer na cidade, seja pelas condições
europeu. Essa abertura ocorria justa- precárias de vida em algumas colônias, ou
mente quando a Europa já era marcada simplesmente por desconhecerem o traba-
pelo progresso industrial, pela elevada lho agrícola (SEYFERTH, 1990, p. 20).
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2 Trata-se do Decreto de 25 de novembro de 1808, de D. João VI, cujo objetivo era
permitir a concessão de sesmarias aos estrangeiros residentes no Brasil, cujo teor era o
seguinte: “Sendo conveniente ao meu real serviço e ao bem publico, aumentar a lavoura
e a população, que se acha muito diminuta neste Estado; e por outros motivos que me
foram presentes: hei por bem, que aos estrangeiros residentes no Brazil se possamcon-
ceder datas de terras por sesmarias pela mesma fórma, com que segundo as minhas
reaes ordens se concedem aos meus vassallos, sem embargo de quaesquer leis ou dis-
posições em contrario. A Mesa do Desembargo do Paço o tenha assim entendido e o
faça executar. Palacio do Rio de Janeiro em 25 de Novembro de 1808.” (BRASIL. Leis
etc. Colecção das Leis do Brazil de 1808. Rio de Janeiro: Imprensa Nacional, 1891, p.
166. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/revista/Rev_48/dim251808.
htm>. Acesso em: 24 mar. 2014).
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O núcleo pioneiro de imigrantes foi sujeita à orientação e à fiscalização


a colônia de Nova Friburgo, Estado do dos órgãos federais, principalmente
Rio de Janeiro, fundada em 1818 por ao “Conselho de Imigração e Coloni-
imigrantes suíços. Na mesma época, zação”. Assim, ao lado da colonização
também se estabeleceu uma colônia oficial, estimulou-se também a atuação
com imigrantes alemães na Bahia, deno- das companhias de colonização.
minada Leopoldina. Entretanto, houve Outro grande impulso à imigração
o fracasso desta e de outras tentativas foi a abolição da escravatura em 18884,
de ambientação de colonos alemães no e a necessidade de incentivar a vinda de
Nordeste, e as correntes imigratórias trabalhadores de fora do país, principal-
europeias passaram a se dirigir para as mente para as plantações de café nas
regiões Sudeste e Sul do País, sendo grandes fazendas do interior de São Pau-
que, em 1824 foi fundada a colônia de lo, em substituição ao trabalho escravo
São Leopoldo, próxima a Porto Ale- (FELMANAS, 1974, p. 18). Em razão
gre, no Rio Grande do Sul (PETRONE, disso, foi criado o Departamento de Imi-
1982, p. 27). gração e Colonização de São Paulo, fi-
A intensificação da imigração so- liado à Secretaria da Agricultura, com a
mente ocorreu após 1850, ano em que finalidade de incentivar as Companhias
foi determinado o fim do tráfico de es- de Imigração, que tinham a concessão
cravos3, e quando a colonização passou de trazer os imigrantes europeus para as
para a responsabilidade dos governos lavouras de café, convolando a campa-
provinciais e se abriram oportunidades nha de imigração para uma campanha
para a iniciativa privada, porém ainda de arrecadação de mão de obra.
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3 Lei n.o 581, de 4 de setembro de 1850, que estabeleceu medidas para a repressão do
tráfico de africanos, em 27 de Setembro de 1850. Disponível em: <http://www.planalto.
gov.br/ccivil_03/Leis/LIM/LIM581.htm>. Acesso em: 24 mar. 2014. Não se ignora,
ainda, medidas anteriores, porém ineficazes, como a Lei Feijó́ , promulgada em 7 de
novembro de 1831, que também tinha por finalidade principal reprimir o tráfico de
africanos. Nesse mesmo ano, também foi promulgada a Lei de Terras que, entre outras
coisas, transformou a terra em mercadoria. Regulamentada em 1854 através do Decreto
n.º 1318 de 30 de janeiro, esta Lei aboliu a gratuidade de lotes aos colonos, estabelecendo
como único título de posse a compra. Criou a Repartição Geral das Terras Públicas que
teria a seu cargo a delimitação, divisão e proteção das terras devolutas e a promoção
da colonização nacional e estrangeira. Esta Lei pode ser interpretada como resultado
da pressão dos grandes proprietários monocultores de café, que pretendiam drenar a
corrente de imigrantes para as suas fazendas (IOTTI, 2010).
4 Lei n.o 3.353, de 13 de maio de 1888, chamada “Lei Áurea”. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LIM/LIM3353.htm>. Acesso em: 24 mar. 2014.
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A mão de obra imigrante era, por- A “teoria do branqueamento” pre-


tanto, a solução à carência de braços tendia “solucionar” impasse que era
no campo. Era trabalhadora e bara- a construção de uma nação civilizada
ta, e passível, segundo parecia aos apesar de seu povo ser composto de
interessados, de ser paga com os mais muitos índios, negros e mestiços, e ti-
baixos salários, em troca somente da nha como Oliveira Vianna um dos seus
sobrevivência: “[...] algo assim, como princi­pais idealizadores (VIANNA,
a escravatura em nova versão, versão 1952, p. 108; CARNEIRO, 1988, p.
século vinte” (FELMANAS, 1974, p. 90-92). Assim, seria a resposta a esse
22). Nessa época, considerava-se que “problema” do povo brasileiro: após
os libertos tinham o vício original de a entrada de grandes contingentes de
não gostar de trabalhar, o que era uma imigrantes brancos e muita miscigena-
mácula moral, cuidando-se do “mito ção, em mais ou menos três ou quatro
da vadiagem, da preguiça natural do gerações, a população se tornaria cada
brasileiro”. Nesse sentido, ao invés vez mais branca, eliminando as raças
de “educar o liberto”, decidiu-se pelo inferiores e constituindo o utópico
que “seria mais econômico, encon- “tipo brasileiro”. Daí porque a sele-
trar quem já tivesse a virtude natural” ção de estrangeiros deveria obedecer
(GUERRA, 2012, p. 31). a essa demanda de branqueamento
A imigração de europeus para o (OLIVEIRA, 2006, p. 8 e 25).
Brasil era objeto de intensa propaganda Resumidamente, as ideias que per-
no Velho Continente, e estimulada não sistiam entre esses intelectuais – além
somente por razões econômicas. Isso de Vianna, influenciaram posteriormen-
porque, para muitos intelectuais, polí- te o campo político Francisco Campos,
ticos e cientistas brasileiros da segunda Azevedo Amaral, Gustavo Barroso e
metade do século XIX e do início do Alceu Amoroso Lima, exemplificati-
século XX, uma das finalidades da imi- vamente – e que foram retomadas nos
gração europeia era o “branqueamento anos 30 podem ser assim enumeradas:
da raça” (PETRONE, 1982, p. 38; (a) admitem a existência de raças supe-
PRADO JR., 2000, p. 82). Tal intento riores e inferiores; (b) delegam às raças
tinha como base um argumento racista manifestações que decorrem de fatores
que supunha a superioridade dos bran- sociais; (c) afirmam a ideia da inferio-
cos e a inferioridade de outras raças, ridade do mestiço; (d) confirmam a
especialmente a negra, e buscava sua influência negativa da presença do san-
legitimidade científica nas teorias ra- gue negro em todas as civilizações; (e)
ciais em voga na Europa e nos Estados propõem a formação de uma população
Unidos (SEYFERTH, 1990, p. 20). eugênica; (f) e a necessidade de contro-
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lar a imigração, incentivando a entrada homo­gêneas como no Sul, e a pequena


de elementos arianos (CARNEIRO, propriedade surgiu apenas na periferia
1988, p. 97). dos grandes latifúndios de café muito
Pelos mesmos motivos, as primei- depois de iniciado o processo imigrató-
ras campanhas de aliciamento humano rio. E, pela mesma razão, uma parcela
ocorreram na Espanha, em Portugal e considerável dos estrangeiros procurou
na Itália – países declaradamente prefe­ as áreas urbanas, sobretudo a capital
ridos pelo Estado brasileiro razão do (SEYFERTH, 1990, p. 16-18).
branqueamento da raça, por serem “po- Chegando às fazendas as quais se
vos latinos”, bem como em virtude dos destinavam, os imigrantes constata-
ideais capitalistas e do afastamento do ram logo que haviam sido ludibriados,
Oriente (FELMANAS, 1974, p. 20). e que a nova vida, pela qual haviam
Nesse norte, o grande fluxo de imi- optado espontaneamente, os colocava
grantes para o Brasil ocorreu entre em condições quase de escravidão. Em
1888 e 1910, coincidindo, portanto, razão disso, começaram a enviar cartas
com a extinção do trabalho escravo aos seus conterrâneos, recomendando a
e com a implantação e consolidação não emigrarem da Europa para o Bra-
do regime republicano. Trata-se do sil, bem como, principalmente a partir
fenômeno conhecido como “grande de 1920, começaram maciçamente a
imigração”.5 fugir para a cidade de São Paulo, à
Durante tal período, foi o Estado procura de trabalho mais adequado,
de São Paulo que recebeu o maior nú- principalmente na indústria têxtil
mero de estrangeiros, justamente em (FELMANAS, 1974, p. 28). Nesse
razão da necessidade de solucionar o momento, na Europa, os órgãos oficiais
problema de mão de obra nas grandes dos países dos emigrados já tomavam
propriedades cafeeiras. Então, os gran- medidas no sentido de proibir a con-
des fazendeiros queriam o imigrante tinuação da imigração para o Brasil
como trabalhador rural, e não como (IOTTI, 2010, p. 7).
pequeno proprietário, distorcendo a No século XIX, os imigrantes,
“colonização” em seu sentido nato. que em sua maioria entraram no Bra-
Por esse motivo, nessa região, não sil como colonos estrangeiros, isto
se constituíram colônias etnicamente é, como indivíduos subordinados às
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5 Na comemoração dos 500 anos do Brasil, o IBGE apresentou dados oficiais sobre a
imigração no Brasil, segundo a nacionalidade, de 1884 a 1939 (período mais extenso
que o mencionado como o auge da imigração): 170.645 alemães, 581.718 espanhóis,
1.412.263 italianos, 185.799 japoneses, 1.204.394 portugueses, 98.962 sírios e turcos,
504.936 outros (OLIVEIRA, 2006, p. 43).
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autoridades governamentais (que, dessa situação foi a aglutinação de


no nível mais imediato, eram os ad- pessoas da mesma origem (étnica ou
ministradores das colônias), não ti- regional) em grupos étnicos mais ou
nham direito à cidadania brasileira. menos identificados com valores cultu-
Isso porque a naturalização era quase rais próprios e reivindicações comuns,
impossível, principalmente em face como a de alcançar a cidadania plena
dos entraves burocráticos e de uma (SEYFERTH, 1990, p. 81).
legislação que sempre foi desfavorá- Nesse período inicial, estava em
vel ao imigrante, em qualquer época vigor a Constituição do Império de
focalizada. Mesmo aqueles que perma- 1824,6 de caráter liberal e proprietista
neceram nos grandes centros urbanos (GAUER, 2014, p. 40-47), que fixou
também tiveram que enfrentar a bu- os primeiros critérios para que um
rocracia governa­mental e mais a sua indivíduo fosse considerado cidadão
situação de estran­geiros frente a uma brasileiro (art. 6o), excluindo os escra-
população nacional pouco disposta vos e os estrangeiros, mas conferindo
a vê-los como iguais (SEYFERTH, cidadania, dentre outros, aos libertos,
1990, p. 80). aos nascidos no Brasil ainda que de
Naquele século, no entanto, “imi- pai estrangeiro (critério do jus solli),
grante” ainda era sinônimo de traba- aos nascidos no estrangeiro, mas fi-
lhador, no sentido de que estavam no lhos de pai brasileiro, caso venham a
país para substituir o “braço escravo” residir no Império (jus sanguinis), e
ou para produzir alimentos. A discri- aos estrangeiros naturalizados (art. 6º,
minação, porém, já existia, quer em V). A perda da cidadania, por sua vez,
relação à elite econômica e política, segundo o art. 7o, ocorreria aos banidos
que queria “braços” para o trabalho, por sentença, dentre outros casos, e a
quer em relação às outras classes so- suspensão dos direitos políticos “Por
ciais, com as quais iam competir no Sentença condemnatoria a prisão, ou
mercado de trabalho das cidades maio- degredo, emquanto durarem os seus
res. Um dos efeitos mais importantes effeitos” (art. 8o, III).
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6 “Constituição Política do Império do Brazil”, outorgada pelo Imperador D. Pedro I em
25 de março de 1824. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao24.htm>. Acesso em: 10 abr. 2014. O documento define, em seu art. 1.o, o
Império como sendo “a associação Politica de todos os Cidadãos Brazileiros”. Segundo
Ruth Gauer, a escolha de uma solução monárquica em vez de republicana deveu-se à
convicção da elite de que só a figura de um rei poderia manter a ordem social, e a questão
do Império parece estar ligada à complexidade da sociedade da época vinculada ainda
a opções politicas de tradição diferente do modelo republicano (GAUER, 2014, p. 32).
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Um marco importante na luta pela de origem”, bem como os “estrangei-


cidadania7 foi a “Grande Naturaliza- ros que possuírem bens imóveis no
ção” prevista na Constituição repu- Brasil e forem casados com brasileiros
blicana de 1891 que, em seu art. 69 ou tiverem filhos brasileiros contanto
definia como brasileiros também os que residam no Brasil, salvo se mani-
“estrangeiros, que achando-se no Bra- festarem a intenção de não mudar de
sil aos 15 de novembro de 1889, não nacionalidade” (art. 69, §§ 1 ̊ a 5 ̊).8
declararem, dentro em seis meses de- Em 15 de dezembro de 1889, o
pois de entrar em vigor a Constituição, Decreto no 58-A já previa a “Grande
o ânimo de conservar a nacionalidade Naturalização”, que apenas foi constitu-

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7 Importante lembrar que, no início do século XIX, período em que a nação foi imaginada
como uma comunidade política, de um estado, as ideias de cidadania que emergiram das
Revoluções americana e francesa foram as de cidadão e cidadania em substituição das
de “súdito”. No entanto, os dois critérios históricos que balizavam o direito à cidadania
frente à complexidade de uma sociedade que convivia com indígenas, libertos estran­
geiros e nacionais, crioulos e escravos. A hierarquia social impedia a simples inclusão
ou exclusão de indivíduos. Entre a racionalidade e o pacto social nasceram novas formas
de resoluções, formas essas explicitadas nos discursos dos Constituintes de 1823, que
finalizou adotando os critérios já mencionados (GAUER, 2014, p. 47-57).
8 Os tipos de naturalização do período estão explanados no acórdão do Supremo Tri-
bunal Federal relativo ao Recurso Extraordinário no 9.208 – Min. Relator Orosimbo
Nonato – Rio de Janeiro, 26 de dezembro de 1947 (data do julgamento), nominado como
“Naturalização tácita – Requisitos constitucionais – Interpretação do art. 69, n.o V, da
Constituição de 1891”. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/
rda/article/viewFile/11322/10285>. Acesso em: 10 abr. 2014. Ainda definindo a ampli-
tude da naturalização tácita e a originária inexigibilidade de formalidades para obtê-la
e prová-la: “a) que só manifestação específica em contrário excluiria o interessado dos
efeitos da grande naturalização; b) que manifestações posteriores não poderiam alterar
o fato consumado, salvo processo de perda de nacionalidade; c) que o título declarató-
rio não poderia ser erigido em solenidade indispensável, mantendo caráter meramente
probatório para provar situação já atribuída pela Carta magna; d) que a designação de
italiano ainda em documento público não indicaria senão a naturalidade. Assim, nem
o desaparecimento de livros, nem a confissão ficta, quando mesmo adequada, podem
alterar a resultante de um sistema político que se orientara, sem sombra de dúvida, por
uma tendência ampliativa, exatamente oposta à que hoje vigora, após longa experiência e
menos romantismo; tampouco se poderia cuidar de aplicação de uma lei de 1938, poste­
rior, aliás, ao falecimento de Picchi” (BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.
Recurso Extraordinário n.o 5.396, Min. Relator Filadelfo Azevedo. Rio de Janeiro, 25
de outubro de 1943. Disponível em: <http://bibliotecadigital.fgv.br/ojs/index.php/rda/
article/viewFile/9170/8272>. Acesso em: 10 abr. 2014).
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cionalizada em 1891. Tal Decreto previa afirmação da cidadania por parte dos
que seriam também naturalizados aqueles imigrantes, principalmente no aspecto
que passassem a residir, a partir da data relativo ao direito à participação polí-
da publicação normativa, por dois anos, tica. Tal movimento ocorreu por meio
desde que não requeressem expressa- da imprensa e outras espécies de pro-
mente o contrário (art. 2 )̊ . No art. 3 ,̊ paganda, como forma de garantir os
estava definida a grande naturalização: direitos de cidadania até então cercea-
“Os estrangeiros naturalizados por este dos. Um dos objetivos era a eleição de
Decreto gozarão de todos os direitos civis representantes “da mesma origem”, que
e políticos dos cidadãos natos, podendo pudessem atuar mais objetivamente na
desempenhar todos os cargos públicos, defesa dos interesses dos seus grupos
excepto o de Chefe do Estado”. étnicos (SEYFERTH, 1990, p. 88).
Cuidou-se de uma medida de facili- Em cidades maiores, como São
tação da inclusão nacional dos imigran- Paulo9, no entanto, a reivindicação da
tes, que já correspondiam a uma parcela cidadania se juntou com outras lutas de
significativa da população. Tratou-se, cunho trabalhista, por exemplo: os ita-
ainda, do reconhecimento da coopera- lianos tiveram grande participação nos
ção dos imigrantes no desenvolvimento primórdios da organização sindical no
do território (GUERRA, 2012, p. 43). Brasil e nos movimentos sociais, lem-
brando que eles formavam grande par-
te do proletariado paulista no início do
O SÉCULO XX: século. Em muitas levas de imigrantes
DO CONTROLE ESTATAL chegaram operários que haviam tomado
E O PARADIGMA parte nas lutas sindicais organizadas na
DO “ANARQUISTA” Itália pelos socialistas, e também imi-
OU “QUANDO O IMIGRANTE grantes anarquistas, sempre dispostos a
SE TORNA ESTRANGEIRO” tomar parte neste tipo de reivindicação
(SEIXAS, 2004, p. 127-154).
Durante o período republicano, Os “anarquistas”, no Brasil, eram
mesmo ainda no século XIX, como aqueles que perturbavam a República
já dito, iniciou-se um movimento de Velha de diversas formas: criticavam as
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9 Pelo censo de 1890, a população de São Paulo contava com quase 65 mil habitantes.
Destes, 14 mil eram estrangeiros (21%). Já́ em 1920, São Paulo tinha quase 580 mil ha-
bitantes e destes 206 mil eram estrangeiros, ou seja, mais de um terço (35,5%) [BRASIL.
Censo Demográfico de 1890. In: GUERRA, 2012, p. 39]. O Deputado Adolpho Gordo, em
1912, calculou “a população do Estado de S. Paulo em 3.600.000 habitantes e o número
de estrangeiros em cerca de 1.200.000, ou na terça parte” (GORDO, 1913, p. 39-40).
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instituições politicas liberais, a igreja, que “o Brasil já está se constituindo um


a família e até a educação tradicional. refúgio de anarquistas e fomentadores
Cuidavam-se especialmente dos fomen- de desordens” (GORDO, 1913, p. 11).
tadores de greves, ou seja, pregavam Aduzia que, além de fomentadores de
a ação direta mediante a organização greves, na primeira década do século XX
dos trabalhadores em movimentos de eles estavam incitando os colonos “com
contestação não mediados pelas insti- o intuito de desorganizarem completa-
tuições formais, que se tornavam um mente o serviço agrícola, promovendo,
grande incômodo para o governo e para durante a colheita, uma greve geral”.
as indústrias (GUERRA, 2012, p. 25; Defendia, ainda, a extrema facilidade
OLIVEIRA, 2006, p. 51). da naturalização, o que atrairia os “inde­
Dessa forma, considerando que tra- sejáveis”, de forma que a facilitação da
balho e ordem pública eram valores cen- expulsão e o aumento da repressão seria
trais na Primeira República, a contestação uma medida de “profilaxia social”, uma
ao trabalho era inaceitável, fosse com vez que impediria a invasão do país por
objetivo de alcançar a anarquia, fosse “elementos nocivos”, perturbadores da
apenas para a recomposição de salários. “vida normal” (GORDO, 1913, p. 31-32).
Tanto é que, nesse período, houve a crimi- Cuida-se de uma estratégia de exclu-
nalização da greve pacífica pelo Código são sofisticada: a junção do desordeiro
Penal de 1890. com o estrangeiro, criando um discur-
A “Grande Naturalização” foi uma so do inimigo externo. Se o incômodo
resposta a essas lutas e necessidades. for externo, seria possível mandá-lo de
Por outro lado, foi um dos estopins para volta para fora do País e se livrar do
discursos excludentes e de manutenção problema, de forma rápida, econômi-
da ordem vigente. Tais discursos criaram ca e eficaz, motivo pelo qual foi nessa
a figura do indesejável, uma espécie época em que se iniciaram os debates
de bode expiatório para os problemas na Câmara de Deputados sobre o ins-
da República: o anarquista-estrangei- tituto da expulsão, liderados por Adol-
ro. Com este personagem, foi possível pho Gordo, nos termos acima. Então,
asso­ciar repressão social com a eficien- se nos primeiros anos da República o
te medida da expulsão de estrangeiros principal problema era lidar com os
(GUERRA, 2012, p. 27). escravos libertos, sendo que o imigran-
Adolpho Gordo, Deputado Federal te era considerado “detentor natural”
na época, foi um dos precursores dessa da capacidade de trabalho, nos anos
associação, ao defender, em seus dis- seguintes o anarquismo se consolidou
cursos em prol do enrijecimento das como o “inimigo da ordem do trabalho”
normas de expulsão de estrangeiros, (GUERRA, 2012, p. 38).
154 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS – Volume Especial, 2014

Acrescente-se que, como a elite e brasileiro”, característico do Império, e


o Estado não admitiam a existência de que não mais poderia persistir em uma
problemas sociais no Brasil (como o sociedade em fase de industrialização
desemprego e a miséria), qualquer movi­ e voltada ao progresso (OLIVEIRA,
mento contestatório da ordem era visto 1990, p. 108, p. 124).
como algo importado, ou seja, um mal Dessa forma, houve uma alteração
causado pela infiltração do estrangeiro conceitual significativa: de imigrantes,
subversivo. Consagrou-se, com isso, o passaram a ser estrangeiros. E, enquan-
“[...] mito do imigrante militante, que to o imigrante pode ser integrado na
traz da Europa experiência sindical e nova sociedade, inclusive pelo cará-
política” (BONFÁ, 2009, p. 187). ter de definitividade que representa a
Essas mudanças ocorreram durante migração e a própria colonização, o
o início da construção do nacionalis- estrangeiro será sempre o de fora e
mo ufanista brasileiro, que posterior- não faz parte da nação, tampouco da
mente tomou força durante o Estado construção do incipiente nacionalismo.
Novo. 10 Esse nacionalismo lutava Essa alteração da nomenclatura, aliás,
contra o passado, avaliado negativa- facilitou o trabalho dos parlamentares
mente, se contra­pondo à colonização ao aprovar as leis de expulsão, destina-
e ao Império, e prestigiava a terra e o das justamente aos “estrangeiros”, em
homem nacional, que falava a língua especial aos “indesejáveis” avaliados
“brasileira” (OLIVEIRA, 2006, p. 154). sob parâmetros como o de utilidade e
Aliás, durante a Primeira República, a nocividade, muito afetos ao positivismo
definição do brasileiro começou a ser em voga na época (GUERRA, 2012,
construída por exclusão, em oposição ao p. 45-46).
estrangeiro, que passava então a encar- Ao final da República Velha, preva-
nar o defeito, um mal que concorria em leceu a orientação de que, envolvendo
periculosidade com o próprio “atraso estrangeiros, a competência é exclusiva
___________________
10 O nacionalismo é uma representação ideológica preocupada em definir os traços
específicos de um povo e suas diferenças frente aos demais: identidade e alteridade.
Pode ser político ou cultural. O primeiro está preocupado com a construção de Esta-
dos-nacionais, e se faz presente em todos os momentos em que se procura reestruturar
a vida política de um país. Já o cultural é baseado nos traços que definem a identidade
de um povo e o diferenciam dos demais (costumes, etnias, religiões e língua), e esteve
presente no romantismo no século XIX e no modernismo dos anos 20, e foi retomado
no Estado Novo. A interpretação ufanista do nacionalismo é aquela que dialoga mais
com elementos da cultura, com valores de longa duração como a terra e o caráter do ser
humano que a habita, e sua interpretação da história da nação é otimista (OLIVEIRA,
1990, p. 143, p. 188-189).
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS – Volume Especial, 2014 155

do Poder Executivo, o responsável pelas Após a Primeira Guerra Mundial,


questões de soberania. Tratou-se da vi- a maioria dos países progressivamente
tória das orientações repressivas. Em aumentou as restrições à livre migração
mensagem ao Congresso em 1924, Artur anteriormente existente. Inicialmente,
Bernardes explicava: da parte dos Estados de imigração e de-
pois também dos de emigração, alguns
As leis que regulam a aquisição da na-
dos quais chegaram à proibição integral
cionalidade precisam ser revistas, com
uma orientação mais conservadora, e outros à permissão só para determi­
que restrinja o excesso de liberalidade nados grupos populacionais. Tornaram-
nas naturalizações, com grave prejuí- se difíceis, portanto, tanto os vistos para
zo da ordem pública e inconveniente entrada quanto as permissões de saída
assimilação de elementos indesejáveis (CÔRTES, 1958, p. 113-114).
(BONFÁ, 2013).
O Estado Novo, cujas condições
para surgimento o antecederam e foram
reforçadas pela crise mundial, iniciou
DO ADVENTO DO ESTADO com o Golpe de 1937 – que consolidou
NOVO AO ÚLTIMO GOLPE Getúlio Vargas no cargo de Presidente
MILITAR: NACIONALISMO, da República, que já ocupava desde
AUTORITARISMO 1930 e somente deixou em 1945 – e
E REPRESSÃO AO IMIGRANTE consumou o fechamento do Congres-
so Nacional, a extinção dos partidos
A Primeira República foi o período políticos, das eleições e das garantias
que perdurou da proclamação deste regi- individuais. Segundo Edgard Carone
me, em 1889, até 1930 – nesse inter­regno, é o período mais complexo, nebuloso
mas já no século XX, houve a mudança e pouco estudado, muito em razão dos
do paradigma do colono-imigrante para ataques, constantes nos livros da época,
o do anarquista-estrangeiro – seguindo- contra Vargas, que deveria ser clama-
se a Segunda República (1930-1937) do por todos como “grande líder”, um
e da Terceira República (1937-1945), “herói” (CARONE, 1976, p. 1-4).
também chamada de “Estado Novo”, Tratou-se de um Estado autoritá-
que finalizou com a abertura democrática rio, elitista, conservador, hierárquico e
pelo Ato Institucional no 9 (CARONE, mitológico (CARONE, 1976, p. 166-
1991, p. 336). No contexto internacional, 171), muito em razão da construção do
o mundo enfrentava a Primeira Guerra líder – o “pai dos pobres”, dentre outros
Mundial, a crise de 1929 ou “Grande predicados criados e divulgados pelo
Depressão” e, posteriormente, a Segunda Departamento de Imprensa e Propagan-
Guerra Mundial. da e pelos idealizadores do regime – e
156 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS – Volume Especial, 2014

da autoridade estatal pela propaganda e opositores, abrangeu “[...] riscar auto-


pela censura. Ao mesmo tempo, era um maticamente o Brasil da lista dos países
período de ditadura constitucional, sen- de imigração”, fechando seus portos à
do que a Constituição de 1937 reforçou corrente imigratória e impulsionando
o autoritarismo do regime, ao dar plenos o sentimento de nacionalidade que o
poderes ao Presidente da República. Estado tratava de cultivar (CANCELLI,
No projeto político estado-novista, 1993, p. 247).
o liberalismo, que já vinha sendo aban- Paralelamente ao fomento do na-
donado a partir da Primeira República cionalismo, iniciaram-se medidas de
– como se verificou em relação ao enrije- nacionalização. Exemplo foi a “lei de
cimento da política imigratória e à inter- nacionalização do trabalho” (Decreto-
venção na produção cafeeira, auxilian- -Lei n.o 19.482), instituída em 1931,
do-a mediante a entrada de mão de obra deter­minou que as indústrias contratas-
estrangeira –, foi definitivamente abo- sem, para 2/3 (dois terços) de empre-
lido. Isso porque não havia mais lugar gados nacionais, apenas 1/3 (um terço)
para a igualdade e para a não inter­venção de estran­geiros, e foi acompanhada de
do Estado, já que agora este deveria atuar outras medidas como a nacionalização
como verdadeiro coorde­nador na distri- gradual da propriedade, de empresas,
buição da riqueza nacional, e o “homem recursos hidroelétricos e comunicações.
novo” deveria participar do processo de O objetivo era restringir a iniciativa
progresso, da busca do “bem comum” estran­geira, seja na esfera política ou na
e da manutenção da “ordem pública”, o econômica, e o resultado foi o aprimo­
que conduziria às condições necessárias ramento do conceito do imigrante como
para a manutenção de uma vida digna indesejável (CARNEIRO, 1988, p. 158).
para todos (OLIVEIRA, 1982, p. 97-99, Nesse período, concomitante­mente
p. 129-133). à crise no campo, se consolidava a pre-
Ainda no início da década de 30 sença de multidões de trabalhadores
do século XX, ou seja, após a “Gran- nas grandes cidades, a redefinição do
de Depressão” – e com ela a crise do espaço urbano e o projeto político de
setor cafeeiro, um dos principais incen­ um Estado que se autoimpunha a tarefa
tivadores da vinda de mão de obra ex- de promover a inovação moral e política
terior -, iniciou-se um projeto nacio- de toda a sociedade. Essa “inovação”
nalista, que tomou várias dimensões, ocorria através de novas estratégias de
dentre elas a restrição da entrada do dominação que negava, em sua essên-
trabalhador estrangeiro, no intuito de cia, os princípios políticos do liberalis-
proteger o nacional (CARONE, 1976, mo clássico – base para a Constituição
p. 7-9). Esse projeto, ainda que com do Império, como já visto acima –, e os
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS – Volume Especial, 2014 157

que passaram a empregar novas formas novo período, não era apenas o caráter
de controle social, agora dirigidos, de subver­sivo – anarquista e comunista –
maneira cada vez mais centralizada, à que estava associado à figura do imi-
sociedade como um todo (CANCELLI, grante, mas sua conduta de ordem moral
1993, p. 55). era um dos tópicos prediletos da polícia,
O projeto político do Estado previu quando se referia a este elemento de
a existência de um aparato policial ca- “caráter degenerado”, sendo que as teo-
paz de exercer o controle social, disci­ rias como o positivismo, o darwinismo
plinar o dia a dia dos trabalhadores e e o evolucionismo, muito influentes na
da sociedade como um todo e, ainda, época, eram utilizadas para fundamen-
negar a individualidade dos homens tar esse tipo de conclusão (CANCELLI,
a partir do estabelecimento de parâ- 1993, p. 165; CARNEIRO, 1988, p. 84).
metros comuns de comportamento e A “eugenia”, que surgiu no século
sentimento. A sociedade era engajada XIX como uma nova ciência destinada
no projeto através de campanhas cívi- a aperfeiçoar a raça humana, tornou-se
cas para a construção de um novo país, frequente nos discursos acadêmicos e
dentre elas a campanha anticomunista, políticos, expressando ideias comuns
bem como da delação dos inimigos do ao fascismo italiano, como a construção
regime, evidenciando que o poder já se de um povo forte e com o pensamento
dissipava, não estando apenas centrado concentrado no futuro da pátria. Com
na máquina estatal, e passou ao nível base nela, visava-se à formação de uma
do corpo, se tornando um biopoder.11 raça homogênea, de um povo integral-
Nesse projeto totalitário, naciona- mente adaptado à realidade social de seu
lista e nacionalizante, que não tolerava país e preparado para servi-lo. A isso
a pluralidade, cada vez mais se consoli- soma-se que a elite dos intelectuais que
dava a aversão ao estrangeiro e, se em pregava a necessidade de se “abrasi­
1907 e 1913 foram dados os primei- leirar a República” e de se construir uma
ros passos para a regulamentação da consciência nacional, através da prote-
expulsão de estrangeiros, esta política ção a homem brasileiro e do progresso
foi aprimorada e agravada. E, nesse material e moral do país. Foi natural,
___________________
11 A expressão biopoder designa a introdução da vida e seus mecanismos aos cálculos do
poder e conhecimento, pretendendo transformar a vida humana, inclusive pela aplicação
desse poder e conhecimento mediante leis (FOUCAULT, 2004, p. 82). Segundo Michel
Foucault, esse processo desenvolveu-se mediante o adestramento e a ampliação das ap-
tidões do corpo como máquina e, posteriormente, através da ingerência no corpo como
espécie, estando o Estado atento à sua proliferação, sua longevidade, à geração de corpos
dóceis, o que caracteriza uma biopolítica da população (FOUCAULT, 1998, p. 127-128).
158 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS – Volume Especial, 2014

portanto, que o controle da imigração houvesse quaisquer publicações em lín-


se tornasse um dos meios eleitos para gua estrangeira, o que provocou uma
se atingir os objetivos mais imediatos crise nessa imprensa, sendo que, após
(CARNEIRO, 1988, p. 123-124). a Segunda Guerra Mundial, a imprensa
Uma política imigratória aberta a to- ligada à imigração ressurgiu apenas em
dos entraria em choque com esse ideário parte (SEYFERTH, 1990, p. 72-74).
político de “homogeneizar a população”. Por fim, o Decreto-lei n.o 383, de
Assim, o regime ditatorial de Vargas, em- 18 de abril de 1938 exigiu, para o licen-
basada pelo pensamento de teóricos como ciamento das sociedades, a sua nacio-
Francisco Campos, Azevedo Amaral e nalização (diretoria com dois terços de
Oliveira Vianna, dedicou-se à elabora- brasileiros, sendo seu presidente brasi-
ção de um projeto educacional e de um leiro) e o parecer da Delegacia Especial
projeto contra a entrada de estrangei- de Segurança Política e Social sobre os
ros, em prol “do abrasileiramento dos antecedentes político-sociais dos com-
núcleos de colonização”, enfatizando o ponentes da Diretoria e da Delegacia
aspecto nega­tivo da presença do estran- de Estrangeiros. Além disso, no mes-
geiro. Neste contexto, inclusive, aflorou mo ano, foram enviados batalhões do
o antissemitismo na esfera política, insti- Exército para as áreas povoadas predo­
tucionalizando o discurso acusatório da minantemente com imigrantes, prin-
demonização e animalização do judeu, cipalmente os três estados do Sul, de
considerando, inclusive em documentos forma a “nacionalizar” uma “população
oficiais, “raça” inassimilável e psiquica- estrangeira” e fazer cumprir as determi-
mente degenerada e, portanto, indesejá- nações constantes no parágrafo anterior
vel no Brasil (CARNEIRO, 2003, p. 12). (CANCELLI, 1993, p. 267-270).
Os imigrantes que já estavam no Antes mesmo do Estado Novo, a
país deveriam ser assimilados à força, Constituição de 1934 fixou cotas de
se necessário, inclusive através da lín- entrada de imigrantes em 2% do total
gua, de forma a impor valores nacionais de entradas de cada nacionalidade já pre-
brasileiros, substituindo o sentimento sente no país entre 1.o de janeiro de 1884
de pertencer a outras nacionalidades. e 31 de dezembro de 1933 (art. 121).
Assim, até setembro de 1939, já estava Tratou-se da definitiva consolidação
determinado que o ensino fosse condu- legis­lativa da eugenia e do nacionalismo,
zido apenas em língua portuguesa; que que já eram postulados imprescindíveis à
nos negócios não houvesse qualquer política imigratória desde o início da dé-
pronunciamento em outra língua; que cada de 30 do século XX. Essa proposta
todos os serviços religiosos deveriam foi encampada por um grupo de parla-
ser conduzidos em português; que não mentares liderados por Miguel Couto,
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS – Volume Especial, 2014 159

que decidiu formar uma forte corrente preâmbulo. A concentração de poderes


de pressão dentro Assembleia Nacio- nas mãos do Presidente da República
nal Constituinte, principalmente para também se deu em matéria de mobili-
opor uma barreira indireta à imigração dade humana, e ficou consolidada uma
de asiáticos, considerados “inassimilá- política migratória restritiva e protetiva
veis” (CARNEIRO, 1988, p. 104-159). do mercado de trabalho nacional, bem
Sob a vigência da Constituição de como voltada ao nacionalismo (art. 16,
1934, sobreveio o Congresso Policial de III, 122, XV, “g” e art. 150).
20 de outubro de 1936, em que um dos Depois da Constituição de 1937,
principais temas debatidos foi a entrada, várias restrições sobrevieram, principal-
permanência e expulsão de estrangeiros. mente de objetivos antissemitas, dentre
Na ocasião, foi realizado um convênio elas a Circular n.o 1.127 (secreta), do
secreto entre os agentes policiais, o Ministério das Relações Exteriores, Mi-
Ministério das Relações Exteriores e o nistro Mario Pimentel Brandão, de 7 de
Ministério do Trabalho e Emprego para junho de 1937, que configura a adoção
a expulsão “de uma vez por todas” dos de uma política imigratória restritiva a
apátridas e daqueles cujos consulados judeus; e a Circular n.o 1323 (Secre-
negassem conceder visto nos passa­ ta) de 1939, Ministério das Relações
portes. Estipulou-se, ainda, que o modelo exteriores, Ministro Osvaldo Aranha,
do processo de expulsão, de naturali- proibindo a concessão de visto tempo-
zação, de controle e permanência seria rário a estrangeiros de origem semita
feito de acordo com os procedimentos (CARNEIRO, 1988, p. 181).
da polícia do Distrito Federal, de forma O Decreto-lei n.o 406, de 4 de maio
a uniformizar o procedimento. Também de 1938, também chamado de “Lei de
foram tomadas medidas no sentido de Imigração”, passou a regulamentar a
centralizar as informações sobre estran- entrada de estrangeiros no território
geiros na sede da polícia civil do Distrito nacional e, com isso, representou uma
Federal (CANCELLI, 1993, p. 133-134). nova política migratória, voltada à sele-
O regime de cotas foi mantido pelo ção de “boas correntes migratórias”,
art. 151 da Constituição dos Estados sendo que para estas tinha orientação
Unidos do Brasil, de 10 de novembro favorável, ao contrário da orientação para
de 1937, inspirada nas Cartas fascis- o “estrangeiro indesejável”. A partir deste
tas europeias (WOLKMER, 1999, p. Decreto, houve a centralização do servi-
113-114) e outorgada justamente para ço de registro de estrangeiros no Depar-
conter o “estado de emergência” criado, tamento de Imigração, ligado à Polícia
dentre outros fatores, pela “infiltração do Distrito Federal e dos estados, e ficou
comunista”, conforme enunciava seu mais clara a dicotomia entre as migra-
160 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS – Volume Especial, 2014

ções desejáveis e associadas à política soluções repressivas começaram a ser


eugenista e os indesejáveis, scalizados reforçadas pelo Estado. Em 29 de janeiro
e controlados pela polícia (CANCELLI, de 1942, foi restringida a liberdade de
1993, p. 107-129). Nesse sentido, cons- locomoção, através das normas estipu-
tou expressamente no art. 2.º que ladas pela polícia. E, depois da entrada
do Brasil na Guerra com as potencias
“O Governo Federal reserva-se o direi-
do Eixo, houve ainda maiores restrições
to de limitar ou suspender, por motivos
econômicos ou sociais, a entrada de aos japoneses, italianos, alemães e seus
indivíduos de determinadas raças ou descendentes, que estavam proibidos
origens, ouvido o Conselho de Imigra- de ingressar no país, salvo expressa
ção e Colonização”. autorização do Presidente, ocasião em
que suas atividades seriam oficialmente
A partir dele, publicamente, estava controladas pela Delegacia de Ordem
vedada a entrada de estrangeiros tidos Política e Social. Para os demais países
como aleijados e mutilados, inváli- extracontinentais, era exigida, além de
dos, cegos, surdos-mudos, indigentes, passaporte autenticado, certidão negativa
vaga­bundos, ciganos e congêneres, os de antecedentes dos últimos cinco anos,
que apresentassem afecção nervosa ou certificado de não ter conduta nociva à
mental, doentes de moléstias infectocon- ordem pública, dentre outras exigências.
tagiosas ou lesões orgânicas com insu- Ademais, se locomoverem no território
ficiência funcional (art. 1.o, I a VII). Ade- nacional, os estrangeiros precisavam de
mais, além dos estrangeiros indesejáveis, “salvo-conduto” e, por fim, também foi
impedia-se também a entrada daqueles determinada a censura à correspondência
de conduta nociva à ordem pública, à internacional (8 de dezembro de 1942).
segurança nacional ou à estrutura das Não bastassem essas medidas, tra-
instituições, e aos condenados em outros tados secretos eram firmados na obscu-
países por crimes de natureza política ridade, inclusive visando a entrega de
que determinassem sua extradição (art. pessoas aos países firmatários, o que con-
1.o, VIII a XI). Desse modo, a imigração tribuía para o sentimento de insegurança
dos indesejáveis passou a ser conside- de toda a sociedade, mas em especial dos
rada com um problema de segurança estrangeiros em território alheio. Exem-
nacional – uma questão política – sendo, plo foi o tratado com a Alemanha, em
a partir de 1939, área decisória do Minis- que constava a troca de conheci­mentos
tério da Justiça e Negócios do Interior. contra o comunismo, anarquismo e ou-
Com a eclosão da Segunda Guerra tras ideologias contrárias ao Estado, e o
Mundial, as medidas restritivas de con- intercâmbio de material, informações e
trole social ficaram ainda mais fortes, e provas sobre o comunismo, anarquismo
Revista da Faculdade de Direito da UFRGS – Volume Especial, 2014 161

e outras ideologias contrárias à Nação. debater amplamente a atual política.


Com base neste tratado foram expulsas Para essa construção, no entanto, além
e entregues para o serviço secreto ale- das experiências externas, também se
mão, entre 1936 e 1937, Olga Prestes, faz necessária a rememoração da gênese
Elisa Ewer e Ana Gerturde Lambrecht do pensamento e ação em relação ao
(CANCELLI, 1993, p. 186). fenômeno da imigração no Brasil.
O extremismo da repressão ao estran­ Isso porque, durante o período estu­
geiro e a definitiva relação entre se- dado, o Brasil recebeu cerca de 3,7 mi-
gurança nacional e a questão migrató- lhões de pessoas, fechou suas fronteiras
ria ocorreu com a criação da Seção de depois da Constituição de 1934, que
Segurança Nacional, em 1939, órgão estabeleceu cotas para o ingresso de imi-
destinado, entre outras funções, a “[...] grantes e, somente em 1945, reabriu a
sugerir medidas para a boa marcha do imigração, mas o volume de entradas foi
serviço de registro de estrangeiros e fis- bem inferior aos momentos anteriores.
calizar suas atividades e dos brasileiros Nesse interregno, a política imi-
naturalizados”, reforçando o trabalho gratória, outrora relacionada à coloni­
da polícia. Um de seus trabalhos foi zação, objeto de propaganda e interesse
remeter formulários a 600 municípios governamental devido à necessidade de
para que estes preenchesse com o nome povoar o território e substituir o traba-
e a qualificação dos estrangeiros que lho escravo, em períodos autoritários
viviam nas respectivas localidades, no como do Estado Novo se direcionou à
intuito de identificar “elementos sus- repressão do “inimigo externo”, como
peitos” (CANCELLI, 1993, p. 140). sendo o contraponto da própria forma-
ção da nacionalidade brasileira, descrita
como uma contraposição ao passado
CONSIDERAÇÕES FINAIS colonial e à submissão a “estrangeiro”,
e do próprio brasileiro como sendo o
Consoante analisado, o período de “homem novo”, capaz de levar seu país
1870-1930 marcou o último momento ao progresso, independentemente da
relevante de grande influxo de estrangei- nominação e do auxílio externo.
ros, movimento esse que tem sido reto­ O desafio atual, além do convívio
mado no século XXI, revitalizando o com uma herança autoritária e com a
desafio que é a construção de uma nova incompletude das transições democrá­
política migratória, inclusive mediante ticas – gerando um legado autoritário
conferências nacionais, como a Primeira que sobrevive até momento atual, como
Conferência Nacional sobre Migrações é a própria Lei n.o 6815, de 1980, o atual
e Refúgio (COMIGRAR), que objetiva Estatuto do Estrangeiro -, é justamente a
162 Revista da Faculdade de Direito da UFRGS – Volume Especial, 2014

superação de preconceitos também rela­ mas a desigualdade social e a carên-


cionados à construção de um “inimigo cia de alteridade, como evidenciou o
externo”. Esse inimigo, na atualidade, preconceito com a imigração haitiana
não é mais o anarquista, ou o comunista, e senegalesa no início do século XXI.

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