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PSICOLOGIA DA RELIGIÃO

CURSO DE GRADUAÇÃO – EAD

Disciplina:
Psicologia da Religião – Prof. Ms. Eliana Massih

Meu nome é Eliana Massih. Sou graduada em Psicologia, especialista em psicoterapia


de adultos e mestre em Psicologia Clínica pela PUC (São Paulo), onde também faço
parte do Núcleo de Pesquisas em Psicologia da Religião do programa de Pós-graduação
em Ciências da Religião, coordenado pelo Prof. Dr. Edênio Valle. Escrevi o livro O
agir terapêutico: um modo possível de cuidar, publicado pela Educ/Cortez, além de
publicar artigos na área de Psicologia da Religião em várias revistas acadêmicas.
Atuo como psicóloga em consultório particular há 33 anos. Leciono as disciplina de
Psicologia da Religião e Aconselhamento Pastoral no Itesp (São Paulo), instituição
na qual coordeno a área de Ciências. Nas Faculdades Integradas Claretianas, leciono
Psicologia do Desenvolvimento Religioso para o curso de Especialização em Ensino
Religioso e, ainda, Desenvolvimento Humano e Educação religiosa para o curso de
Extensão em Pastoral.

e-mail: elianamassih@yahoo.com
Profª. Ms. Eliana Massih

PSICOLOGIA DA RELIGIÃO

Guia de Disciplina
Caderno de Referência de Conteúdo
© Ação Educacional Claretiana, 2009 – Batatais (SP)

Trabalho realizado pelo Centro Universitário Claretiano de Batatais (SP)

Curso: Graduação
Disciplina: Psicologia da Religião
Versão: abr./2010

Reitor: Prof. Dr. Pe. Sérgio Ibanor Piva


Vice-Reitor: Prof. Ms. Pe. Ronaldo Mazula
Pró-Reitor Administrativo: Pe. Luiz Claudemir Botteon
Pró-Reitor de Extensão e Ação Comunitária: Prof. Ms. Pe. Ronaldo Mazula
Pró-Reitor Acadêmico: Prof. Ms. Luís Cláudio de Almeida

Coordenador Geral de EAD: Prof. Artieres Estevão Romeiro


Coordenador de Material Didático Mediacional: J. Alves

Preparação Revisão
Aletéia Patrícia de Figueiredo Felipe Aleixo
Isadora de Castro Penholato
Aline de Fátima Guedes
Maiara Andréa Alves
Camila Maria Nardi Matos
Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes
Elaine Cristina de Sousa Goulart Projeto gráfico, diagramação e capa
Lidiane Maria Magalini Eduardo de Oliveira Azevedo
Luciana A. Mani Adami Joice Cristina Micai
Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Luiz Fernando Trentin
Luis Antônio Guimarães Toloi
Patrícia Alves Veronez Montera
Raphael Fantacini de Oliveira
Rosemeire Cristina Astolphi Buzelli Renato de Oliveira Violin
Simone Rodrigues de Oliveira Tamires Botta Murakami

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial


por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia,
gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco
de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana.

Centro Universitário Claretiano


Rua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo
Batatais SP – CEP 14.300-000
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Fone: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006
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Sumário

GUIA DE DISCIPLINA
1 APRESENTAÇÃO .............................................................................................. VII
2 DADOS GERAIS DA DISCIPLINA.......................................................................... VII
3 CONSIDERAÇÕES GERAIS ................................................................................. IX
4 BIBLIOGRAFIA BÁSICA....................................................................................... IX
5 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR . ........................................................................ IX
6 E-REFERÊNCIAS ............................................................................................... X

CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO


APRESENTAÇÃO.............................................................................................. 1

INTRODUÇÃO À DISCIPLINA
AULA PRESENCIAL.......................................................................................... 2

Unidade  1 – PSICOLOGIA DA RELIGIÃO ENQUANTO DISCIPLINA CIENTÍFICA


1 INTRODUÇÃO. .................................................................................................. 4
2 BREVE HISTÓRICO ........................................................................................... 4
3 OBJETO DE ESTUDO DA PSICOLOGIA DA RELIGIÃO............................................... 5
4 PSICOLOGIA DA RELIGIÃO HOJE......................................................................... 6
5 PSICOLOGIA DA RELIGIÃO: CIÊNCIA QUALITATIVA E QUANTITATIVA. ...................... 7
6 DEFINIÇÃO FUNCIONAL DE RELIGIÃO.................................................................. 8
7 ATITUDES DIANTE DO MISTÉRIO ....................................................................... 9
8 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 9
9 E-REFERÊNCIA ................................................................................................. 9
10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 10

Unidade  2 – NOÇÃO DE EXPERIÊNCIA RELIGIOSA


1 INTRODUÇÂO. .................................................................................................. 12
2 DIMENSÕES DA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA ........................................................... 13
3 NÚCLEOS EXPERIENCIAIS . ............................................................................... 14
4 OUTRAS EXPERIÊNCIAS..................................................................................... 14
5 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 17
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS .......................................................................... 17

Unidade  3 – ALGUMAS TEORIAS DA PSICOLOGIA DA RELIGIÃO


1 INTRODUÇÃO . ................................................................................................. 20
2 EUA E A POSIÇÃO PRAGMÁTICA ........................................................................ 21
3 POSIÇÃO INTROSPECCIONISTA /FENOMENOLÓGICA.............................................. 22
4 ABORDAGEM IDIOGRÁFICA DE ALLPORT . ........................................................... 23
5 ANTOINE VERGOTE............................................................................................ 26
6 AVANÇOS DAS NEUROCIÊNCIAS ......................................................................... 28
7 A PESQUISA QUANTITATIVA CONTEMPORÂNEA . ................................................... 32
8 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 33
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 33
Unidade  4 – AMADURECIMENTO DA RELIGIOSIDADE
1 INTRODUÇÃO. .................................................................................................. 36
2 ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO DA FÉ SEGUNDO FOWLER................................. 36
3 DESENVOLVIMENTO RELIGIOSO SEGUNDO AMATUZZI........................................... 38
4 ESTÁGIOS DA VIDA E A PROVIDÊNCIA DIVINA: VISÃO JUNGUIANA......................... 39
5 FASES DO DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA E SUAS IMPLICAÇÕES PARA O
ENSINO RELIGIOSO SEGUNDO PIAGET5............................................................... 40
6 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 42
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 43

Unidade  5 – A VISÃO DA PSICANÁLISE


1 INTRODUÇÃO. .................................................................................................. 46
2 ILUSÃO NA PSICOLOGIA DA RELIGIÃO................................................................. 47
3 ANDRÉ GODIN.................................................................................................. 48
4 ESPAÇO TRANSICIONAL DA ILUSÃO EM WINNICOTT.............................................. 48
5 ANA MARIA RIZZUTO......................................................................................... 51
6 MARIO ALETTI3................................................................................................. 52
7 CONSIDERAÇÕES ............................................................................................. 53
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 53

Unidade  6 – VISÃO DA PSICOLOGIA DA RELIGIÃO NO BRASIL


1 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 56
2 BALANÇO HISTÓRICO ...................................................................................... 56
3 RELIGIOSIDADE E TRANSCENDÊNCIA NO SÉCULO 21............................................ 59
4 QUATRO ATITUDES BÁSICAS DE WULFF............................................................... 59
5 PSICANÁLISE E TEOLOGIA.................................................................................. 61
6 CONSIDERAÇÕES GERAIS.................................................................................. 62
7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 63
8 E–REFERÊNCIA . ............................................................................................... 63
GUIA DE DISCIPLINA
1 APRESENTAÇÃO
Seja bem-vindo! Você iniciará o estudo de Psicologia da Religião, que é mais
uma importante disciplina para o desenvolvimento de nosso curso.

Nesta disciplina, estudaremos a área de atuação da Psicologia da Religião,


seu objeto de estudo e suas tarefas enquanto disciplina científica. Além disso, buscaremos
a compreensão da experiência religiosa com base no estudo histórico, em pesquisas na
área e no conhecimento dos vários autores e suas abordagens.

Desse modo, é válido salientar que teremos, ainda, a oportunidade de conhecer


os estudos das neurociências e do avanço da compreensão psicanalítica do fato religioso,
de estabelecer uma ponte entre os primeiros passos da Psicologia da Religião e o que é
abordado nas pesquisas e na produção científica, bem como de reconhecer a atualidade e
a necessidade da disciplina na pastoral, na catequese e no ensino religioso.

Neste Guia de Disciplina, você encontrará as informações práticas indispensáveis


para o estudo dos conteúdos desta disciplina, o qual se efetivará no Caderno de referência
de conteúdo. Essas informações ajudarão você a se programar e a se organizar.

Sugerimos, contudo, que não se limite aos conteúdos explicitados nesse caderno,
e, sim, interprete-o como um referencial por meio do qual você possa expandir seus
horizontes de conhecimentos com o objetivo de uma formação consistente, de maneira
especial, no que se refere à Psicologia da Religião.

Desejamos êxitos na realização de seus estudos, pesquisas, atividades e


interatividades!

2 DADOS GERAIS DA DISCIPLINA


Ementa

Área de atuação da Psicologia da Religião, objeto de estudo e tarefas como


disciplina científica. Experiência religiosa baseada no estudo histórico e de pesquisas
na área. Autores e abordagens da Psicologia da Religião. Neurociências e avanço da
compreensão psicanalítica do fato religioso. Ponte entre os primeiros passos da Psicologia
da Religião e o que hoje se pratica nas pesquisas e na produção científica. Atualidade e
necessidade da disciplina na pastoral, na catequese e no ensino religioso.

Objetivo geral

Os alunos da disciplina Psicologia da Religião dos cursos de Graduação, na


modalidade EAD do Claretiano, dado o Sistema Gerenciador de Aprendizagem e suas
ferramentas, serão capazes de reconhecer os principais conceitos relacionados a esse
tema, delimitando a área de atuação da Psicologia da Religião, objeto de estudo e tarefas
enquanto disciplina científica.

Com esse intuito, os alunos contarão com recursos técnico-pedagógicos


facilitadores de aprendizagem, como Material Didático Mediacional, bibliotecas físicas
e virtuais, ambiente virtual, bem como acompanhamento do tutor complementado por
debates no Fórum e na Lista.

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GUIA DE DISCIPLINA
Cursos de Graduação

Ao final desta disciplina, de acordo com a proposta orientada pelo tutor, os


alunos terão condições de interagir com argumentos contundentes, além de dissertar com
comparações e demonstrações sobre o tema estudado nesta disciplina, elaborando um
resumo, ou uma síntese, entre outras atividades. Para esse fim, levarão em consideração
as ideias debatidas na Sala de Aula Virtual, por meio de suas ferramentas, bem como o
que produziram durante o estudo.

Objetivos específicos
• Delimitar a área de atuação da Psicologia da Religião, seu objeto de estudo e
suas tarefas enquanto disciplina científica.
• Explicitar e classificar a experiência religiosa partindo do estudo histórico e
das pesquisas na área.
• Reconhecer os vários autores e as várias abordagens da Psicologia da Religião
desde seu início.
• Identificar os estudos das neurociências e do avanço da compreensão
psicanalítica do fato religioso.
• Estabelecer relação entre os primeiros passos da Psicologia da Religião e o
que hoje se pratica nas pesquisas e na produção científica.
• Reconhecer a atualidade e a necessidade da disciplina na pastoral, na
catequese e no ensino religioso.

Competências (domínios cognitivos, habilidades e atitudes)

Ao final deste estudo, os alunos dos cursos de Graduação contarão com uma
sólida base teórica para fundamentar criticamente sua prática educacional/profissional. Além
disso, adquirirão as habilidades necessárias não somente para cumprir seu papel de docente/
profissional nesta área do saber, mas também para agir com ética e com responsabilidade
social, contribuindo, assim, para a formação integral do ser humano.

ATENÇÃO!
O segredo do sucesso em um curso na modalidade a distância é PARTICIPAR,
ou seja, INTERAGIR, procurando sempre cooperar e colaborar com seus
colegas e tutores.

Modalidade

( ) Presencial ( X ) A distância

Duração e carga horária

A carga horária da disciplina Psicologia da Religião é de 60 horas. O conteúdo


programático para o estudo das sete unidades que a compõem está desenvolvido no
Caderno de referência de conteúdo, anexo a este Guia de Disciplina, e os exercícios
propostos constam do Caderno de atividades e interatividades (CAI).

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VIII Claretiano – Batatais
GUIA DE DISCIPLINA Cursos de Graduação

ATENÇÃO!
É importante que você releia no Guia Acadêmico do seu curso as informações
referentes à Metodologia e à Forma de Avaliação da disciplina Psicologia
da Religião, descritas pelo tutor na ferramenta “Cronograma” na Sala de
Aula Virtual – SAV.

3 CONSIDERAÇÕES
Com a leitura deste Guia de Disciplina, você já pôde perceber que o estudo
da Psicologia da Religião é importante, pois permite a reflexão sobre a experiência
religiosa com base no estudo histórico, de pesquisas na área e no conhecimento dos vários
autores e suas abordagens.

Dessa forma, é importante que você tenha uma visão clara dos objetivos que
desejamos atingir com o estudo da presente disciplina. Se for necessário, recorra ao
Guia acadêmico do curso para esclarecer eventuais dúvidas a respeito da metodologia de
estudo de um curso EAD, que privilegia a autonomia como fator importante na modalidade
a distância. Chamamos sua atenção para a leitura e a pesquisa das obras indicadas, para
o aprofundamento dos conteúdos e para a interação na Sala de Aula Virtual.

Esperamos que você atinja suas metas! Bom estudo!


ATENÇÃO!
Para aprofundar seus
conhecimentos, não deixe
de ler os livros indicados
4 BIBLIOGRAFIA BÁSICA nas Bibliografias Básica e
Complementar. É importante
que visite os sites indicados nas
AVILA, A. Para conhecer a Psicologia da Religião. São Paulo: Loyola. 2007 Referências, disponibilizadas na
Sala de Aula Virtual.
CATALAN, J. F. O homem e sua religião. São Paulo: Paulinas, 1999.

PAIVA, G. J.; ZANGARI, W. A representação na religião: perspectivas psicológicas. São


Paulo: Loyola, 2004.

USARSKI, F. (Org.). O espectro disciplinar da ciência da religião. São Paulo: Paulinas.


2007.

VALLE, E. Psicologia e experiência religiosa. São Paulo: Loyola, 1998.

5 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
ALETTI, M. A representação de Deus como objeto transicional ilusório. Perspectivas e
problemas de um novo modelo. In: PAIVA, G. J.; ZANGARI, W. A representação na religião:
perspectivas psicológicas. São Paulo: Loyola, 2004.

AMATUZZI, M. M. (Org.) Psicologia e espiritualidade. São Paulo: Paulus, 2005.

______. (Org.). Desenvolvimento Psicológico e Desenvolvimento Religioso: uma hipótese


descritiva. In: MASSIMI, M.; MAHFOUD, M. (Org.). Diante do mistério. Psicologia e senso
religioso. São Paulo: Loyola, 1999.

ANSPACH, S. S. (Org.). A religião e a psique: edições alternativas mulheres emergentes.


Belo Horizonte: Edições Alternativas, 2005.

BEIT-HALLAHMI, B. Prolegomena to the psychological study of religion. London: University


of London, 1989.

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© Psicologia da Religião • •
IX
Batatais – Claretiano
GUIA DE DISCIPLINA
Cursos de Graduação

BRYANT, C. Jung e o cristianismo. São Paulo: Loyola, 1996.

CAZAROTTO, J. L. Acompanhamento espiritual. Revista vida pastoral, São Paulo, ano 46,
n. 240, jan-fev. 2005.

DIAS, E. O. A teoria do amadurecimento humano de Winnicott. Rio de Janeiro: Imago,


2003.

FOWLER, J. Estágios da fé: a psicologia do desenvolvimento humano e a busca de sentido.


São Leopoldo: Sinodal, 1994.

JUNG, C. G. Psicologia e religião. São Paulo: Vozes, 1978.

MASSIH, E. Emoção e experiência religiosa. Revista Espaços, São Paulo, v. 12, n. 1, p.


71-77, 2004.

______. Da ilusão à utopia Psicologia da Religião e do amadurecimento humano em DW


WINNICOTT. Revista espaços, São Paulo, v. 14, n. 2, p. 157-174, 2006.

______. Sexualidade e religião católica. Rever – Revista Eclesiástica Brasileira, Petrópolis,


jan-mar., 2007.

MASSIMI, M.; MAHFOUD, M. (Orgs.). Diante do mistério. Psicologia e senso religioso. São
Paulo: Loyola, 1999.

MORANO, C. D. Crer depois de Freud. São Paulo: Loyola, 2003.

OTTO, R. O sagrado. São Leopoldo. Sinodal.

PAIVA, G. J. Entre a necessidade e o desejo: diálogos da psicologia com a religião. São


Paulo: Loyola, 2001.

______. Religião, enfrentamento e cura: perspectivas psicológicas. Revista estudos de


psicologia, Campinas, ano 1, n. 24, p. 99-104, jan-mar. 2007.

RIZZUTO, A. M. O nascimento do Deus vivo: um estudo psicanalítico. São Leopoldo:


Sinodal, 2006.

______. Psicanálise e teologia: interpelações e aproximações. In: ANSPACH, S. S. (Org.).


A religião e a psique. Belo Horizonte. Edições Alternativas Mulheres Emergentes, 2005.

WONDRACEK, K. H. K. (Org.). O Futuro e a ilusão: um embate com Freud sobre psicanálise


e religião. Petrópolis: Vozes, 2003.

6 E-REFERÊNCIAS
DOWNES, Stephen. Guia das falácias. Disponível em: <http://criticanarede.com/falacias.
htm>. Acesso em: 3 ago. 2009.

MASSIH, E. Obsessão, culpa e espiritualidade em um religioso com comportamento


pedofílico. Disponível em: < http://www.pucsp.br/rever/rv1_2006/t_massih.htm>.
Acesso em: 3 de ago. 2009.

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X Claretiano – Batatais
CADERNO DE REFERÊNCIA
DE CONTEÚDO
APRESENTAÇÃO

Seja bem-vindo ao estudo da disciplina Psicologia da Religião, disponibilizada


para você em ambiente virtual (Educação a Distância)!

Como você poderá observar, nesta parte, denominada Caderno de referência


de conteúdo, encontraremos o conteúdo básico das seis unidades em que se divide a
presente disciplina.

O estudo que ora se inicia irá levá-lo ao conhecimento da área de atuação da


psicologia da religião, seu objeto de estudo e suas tarefas enquanto disciplina científica,
ou seja, compreenderemos o histórico da psicologia da religião, sua epistemologia e sua
metodologia, as aproximações e diferenças entre psicologia e psicologia da religião, a
definição de religião para a psicologia da religião e a forma como psicologia da religião
compreende ou explica o fenômeno religioso.

Prosseguindo, estudaremos a definição de experiência religiosa. Perceberemos


que experiências religiosas podem ser individuais ou grupais e que sempre estarão ligadas
à vivência do sagrado e que elas fazem parte do caminho para a santidade.

Na sequência, vamos convidá-lo a compreender as várias teorias em psicologia da


religião, reconhecendo que cada teoria tem seu valor e sua implicação na vida comum, na
adesão a uma religião específica e na compreensão da variedade das experiências religiosas
e que cada teoria apresentada tem como fundo uma visão filosófica e teológica.

Além disso, conheceremos os autores que se preocuparam em apresentar


etapas ou estágios do amadurecimento da religiosidade e reconhecer as limitações e o
alcance das escalas de amadurecimento, verificando a importância dos fatores culturais e
biográficos no amadurecimento da religiosidade.

Nesta caminhada do saber, ainda, analisaremos as recentes descobertas da


neurofisiologia do cérebro que ajudam na compreensão de experiências religiosas de
conversão e sua delimitação das crendices e visões fragmentárias e analisar, resumidamente,
a literatura referente ao tema para ampliar sua compreensão sobre o mesmo.

Para finalizar, conheceremos referências que nos ajudarão aprofundar os


conhecimentos ligados ao conceito de ilusão, compreenderemos a psicanálise como
uma vertente da psicologia, porém, não a única e analisaremos a realidade brasileira da
psicologia da religião.

Esperamos que esse programa atenda às suas expectativas em relação ao


estudo desta disciplina. Bom estudo!

ATENÇÃO!
Aceite o desafio! Venha fazer parte deste novo processo de construção coletiva
e cooperativa do saber.

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INTRODUÇÃO À DISCIPLINA

AULA PRESENCIAL

Objetivos
• Analisar e discutir a estrutura da disciplina Psicologia da
Religião e as formas de participação e aprendizagem dos
conteúdos.

• Estabelecer interação face a face com os demais alunos


e com o tutor.

• Interpretar determinados conceitos necessários ao estudo


da disciplina.

Conteúdo
• Programa para o desenvolvimento da disciplina.

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PSICOLOGIA DA RELIGIÃO

UNIDADE 1
ENQUANTO DISCIPLINA
CIENTÍFICA

Objetivo
• Reconhecer o tema e as tarefas da Psicologia da Religião.

Conteúdos
• Histórico da Psicologia da Religião.

• Epistemologia e metodologia da Psicologia da Religião.

• Definição de religião para a psicologia da religião.

• A psicologia da religião deve compreender ou explicar o fenômeno


religioso?
UNIDADE 1
Cursos de Graduação

ATENÇÃO!

1 INTRODUÇÃO
Durante o estudo desta unidade,
procure anotar os conteúdos que
mereçam destaque, impressões
e dúvidas. Tais anotações são
importantes, pois, ao escrever No início desta disciplina podemos observar que a psicologia da religião é
algo, estamos usando inúmeras
operações de pensamento além um ramo da ciência psicológica que busca entender o fenômeno religioso, isto é, as
das memórias visual e auditiva. motivações, desejos, experiências, atitudes e dinâmicas afetivas que estão por trás dos
Assim, prepare um caderno comportamentos religiosos, sejam eles sociais e grupais, ou seja, fruto das vivências do
ou utilize o Bloco de Notas
disponibilizado na Sala de Aula sujeito.
Virtual.
Desde o nascimento dessa ciência, no século 19, a Psicologia da Religião mostrou
INFORMAÇÃO: uma grande diversidade em seus pontos de partida, metodologias e concepções teóricas,
Quando alguém pretende fazer que se prolongou e se ampliou pelo século 20, e confronta-se com diversas outras ciências
um estudo científico sobre um
determinado assunto ou matéria, e realidades:
o mais natural é que comece
explicando qual é o tipo de 1) Ciências Expeculativas: as Teologias e as Filosofias.
abordagem adotada pela ciência
na qual quer enfocar aquele dado 2) Ciências “Psi”: a Psiquiatria e Psicologia geral.
objeto. Ou seja, o estudioso pode
começar sempre por explicar o 3) Ciências Humanas: Etnologia, Sociologia, Antropologia, História, Ciências da
estatuto teórico e metodológico
de sua abordagem. Esse
Religião etc.
princípio vale, também, para a
psicologia da religião, não existe Entretanto, cada uma dessas ciências tem sua especificidade própria, o que fazem
nem nunca existiu apenas um diferir bastante entre si. Com o firmar-se das modernas Ciências Humanas (Etnologia,
paradigma ou modelo único.
Sociologia, Antropologia, História, Ciências da Religião etc.), a Psicologia da Religião viu-se
obrigada a estender o leque de seus interlocutores para o campo interdisciplinar, passando
a dialogar com essas várias especializações do conhecimento. Hoje a característica
principal das Ciências da Religião é a interdisciplinaridade e a Teologia igualmente dialoga
e faz conexões com todas elas.

As transformações do mundo, como a globalização e a comunicação estão cada


vez mais rápidas e diretas. Surge, assim, um outro estimulante complicador para o
psicólogo da religião: percebeu-se com clareza que as teorias psicológicas da religião eram
de corte marcadamente ocidental, tendendo, por essa razão, a reduzir sua compreensão
do mundo e da história tão somente ao que podiam constatar no âmbito de sua própria
realidade e cultura.

No entanto, essa é uma constatação que vale de maneira ainda mais característica
para o fenômeno religioso, dada a forte influência do estilo religioso judaico-cristão e
monoteísta sobre os modelos criados nas fases iniciais da psicologia da religião.

Surgiu espontaneamente a pergunta: será que essa visão vale para as religiões
que não nasceram dentro das mesmas tradições?

Vamos encontrar a resposta para essa questão no estudo do próximo tópico.

Nesta unidade, almejamos delimitar nossa temática, no que diz respeito à


junção dos termos psicologia e religião e apresentar as tarefas, as características e os
objetivos dessa ciência.

Desejamos um bom desenvolvimento no estudo desta unidade.

2 BREVE HISTÓRICO
Inicialmente precisamos saber que a psicologia da religião passou por fases de
altos e baixos.

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4 Claretiano – Batatais
UNIDADE 1 Cursos de Graduação

Entre, aproximadamente, 1880 e 1920, quando gozou de notável prestígio,


ATENÇÃO!
autores como: Wundt e Keilbach, na Alemanha; Stanley Hall e William James, nos Estados Para ampliar seus
Unidos; Flournoy e Sabatier, na França; Ardigó e Sergi, na Itália; Girgensohn, Freud e conhecimentos sobre os
Jung, nos países de língua alemã etc., colocaram a psicologia da religião em uma espécie autores mencionados no texto
principal você poderá consultar o
de primeiro plano na atenção dos cientistas, dentro e fora das Universidades e Centros de Material Didático Complementar
Pesquisa. denominado: Psicologia Geral
disponibilizado na Sala de Aula
Virtual, pesquisar nas obras
Surgiu, então, uma corrente que alguns historiadores batizaram com o nome referenciadas ao término desta
Psychology of Religion Movement. Foi um período de apogeu do tema da religião e da unidade e em sites de busca,
utilizando o nome do autor como
religiosidade no mundo científico em geral, o que, no entanto, não significa que todos os palavra-chave.
estudiosos olhassem de maneira amistosa o fato religioso.

Na década de 1920, surgiu um tempo de inverno acadêmico para esse tipo de


estudos. As tendências científicas e ideológicas que se impuseram após a primeira guerra
mundial (1914-1918) tiveram forte repercussão nos meios científicos em geral. A religião
passou a ser vista como um fenômeno secundário, que não merecia maior atenção por
parte dos cientistas da psicologia.

Desse modo, a psicologia da religião foi muito atingida por essa virada positivista
e materialista que teve seus representantes mais expressivos no Behavorismo, na
INFORMAÇÃO:
Psicanálise Freudiana e na Psicologia marxista. Um bom exemplo de trabalho
psicológico competente foi
dos cientistas que se reuniram
Nessa fase, Igrejas cristãs mantinham um tipo de atenção à psicologia da em torno do Centro de
religião, embora, às vezes, com características um tanto apologéticas. Porém, a psicologia Estudos Laennec e outros.
da religião manteve um bom nível de debate e pesquisa, entrando em discussão com Eles escreveram inúmeros
trabalhos reunidos nos Études
novas idéias, em geral críticas às religiões e às Igrejas. Carmélitaines e em revistas
como La Vie Spirituelle-
Supplèment. Suas posições
Com isso, surgiram textos importantes, alguns traduzidos ao português, de
encontravam respeito, também,
escritores como Baudoin, Bovet, Hesnard, Beinaert, Plé, Godin, Oraison etc. Esses autores nos meios intelectuais críticos
já não eram teólogos na defensiva e sim psicólogos, psicanalistas, médicos e psiquiatras em que a França era pródiga
bem enfronhados nos dois lados das temáticas em discussão. naqueles anos.

ATENÇÃO!
A influência de tais estudos chegou ao Brasil no início dos anos de 1960 quando Para saber mais sobre a
foi fundada a Sociedade brasileira de psicologia da religião, que reunia médicos psiquiatras, Sociedade Brasileira de
psicoterapeutas, teólogos protestantes e católicos e os primeiros psicólogos da religião. Psicologia da Religião acesse o
site de busca de sua preferência
e pesquise utilizando o título
Nos ambientes da psicologia, a resistência ao diálogo continuava, tanto no Brasil dessa organização como
quanto na Europa e Estados Unidos, diminuíam, também, as publicações acadêmicas, expressão para sua busca.
embora revistas importantes nunca deixassem de circular.
VOCÊ SABIA QUE...
Nos anos de 1990, porém, dava-se uma inversão nessa curva descendente. Na ANPEPP (Associação
Nacional de Programas Pós-
Paralelamente ao retorno das religiões no plano mundial deu-se uma retomada dos
Graduados em Psicologia),
estudos, no campo da psicologia da religião. reunindo professores e
pesquisadores de importantes
Multiplicaram-se de novo os cursos e as cátedras dessa matéria nas grandes Universidades brasileiras,
criou-se o Grupo de Trabalho
Universidades, inclusive, embora mais lentamente, também, nas brasileiras. Aumentaram Psicologia e Religião que,
as revistas e multiplicaram-se as pesquisas das mais variadas naturezas, sobre a crescente desde 1997 já organizaram seis
busca de espiritualidade. Seminários Nacionais, cada
vez mais concorridos. Você terá
contato com estas ideias na
Unidade 6.

3 OBJETO DE ESTUDO DA PSICOLOGIA DA RELIGIÃO


INFORMAÇÃO:
A Psicologia, no sentido de disciplina acadêmica, sempre se preocupou com o Quando Freud e Jung foram à
Universidade de Clark em 1908
fenômeno religioso em suas vertentes individual e social. A Psicologia da Religião passou e conheceram William James,
a evoluir partindo de duas frentes: a européia e a norte americana. muito do que hoje se sabe a
respeito desse assunto começou
a ser construído.

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5
Batatais – Claretiano
UNIDADE 1
Cursos de Graduação

(1) O livro de James: As Freud (1856-1939) médico neurologista e psiquiatra judeu-austríaco, em sua
variedades da experiência visão positivista do mundo rejeitou a religião e a considerou uma ilusão, própria de quem
religiosa, publicado pela
editora Cultrix, teve sua edição teme crescer e tornar-se autônomo. Assim, o ser humano teria criado a ideia de Deus para
brevemente esgotada e não foi proteger-se de sua fraqueza e finitude.
reeditado. Consta de 15 palestras
(Conferências Giford) publicadas
em 1902. Contém extensos Jung (1875-1961), psiquiatra suíço, pronunciou-se desde cedo sobre a realidade
relatos pessoais que visam incontestável da experiência religiosa, diferente de tudo o que é dogmático nas religiões
demonstrar não só a variedade
das experiências religiosas em
instituídas. Por isso mesmo foi por muito tempo rejeitado pelos estudiosos católicos.
si, mas também a adequação
epistemológica de estudar o fato William James (1842-1910), filósofo e psicólogo norte americano, visão
religioso partindo de experiências
vivenciais concretas. pragmática, tinha muito respeito pelas experiências religiosas individuais, pelos fenômenos
de conversão e pela santidade tal como postulada pelas religiões. Assim, dedicou-se a
relatá-las em seu mais famoso livro: As variedades da experiência religiosa1.

James, por ter formação filosófica, fala da realidade do invisível, o que abre
INFORMAÇÃO:
caminho para o estudo científico das experiências religiosas vividas pelos indivíduos,
Na psicologia da religião os
relatos pessoais das experiências experiências estas nem sempre adequadas ao modelo positivista de nomear objetos de
religiosas, recheados de emoção pesquisa, ou seja, deveriam ser visíveis, concretos e mensuráveis.
e fala poética, podem ter estatuto
científico e levar a conclusões ou,
ao menos, nomear padrões de Agora que já sabemos sobre a história e o objeto de estudo da Psicologia da
comportamento. Além disso, há
Religião: a experiência religiosa individual e/ou grupal, pergunto a você: podemos abrir
o interesse de se compreender
as motivações da religiosidade mão de uma visão interdisciplinar que envolva os vários aspectos da experiência, o
humana além da visão redutivista momento histórico em que ela se dá, as características culturais da comunidade, e mesmo
da Psicanálise.
as condições geográficas em que vive o indivíduo ou grupo que experimenta o sagrado em
suas inumeráveis versões? Parece ficar claro também que devemos compreender o fato
religioso sem desejar explicá-lo por esta ou aquela teoria.

4 PSICOLOGIA DA RELIGIÃO HOJE


Hoje em dia pode-se dizer que a Psicologia da Religião é uma disciplina
científica não apologética e não confessional que estuda as experiências religiosas
individuais e coletivas e sua repercussão no amadurecimento humano e religioso das
pessoas e das comunidades.

Pode-se, também, afirmar com segurança que essa ciência tem como objeto de
estudo a experiência religiosa, que é sempre pessoal e diversa, porém, paradoxalmente,
tem um fundo comum que a faz ser vista e reconhecida como própria do humano.

A psicologia da religião é um ramo da ciência psicológica que busca entender o


fenômeno religioso desde as motivações, experiências, atitudes, e dinâmicas afetivas e
cognitivas, que estão, por trás dos comportamentos dos indivíduos e grupos ao longo de
seu desenvolvimento religioso.

Dessa forma, as visões de mundo dos teóricos da Psicologia são múltiplas, seja
pelas características pessoais dos autores, seja pela formação filosófica que os embasa,
seja pela cultura na qual receberam sua própria formação religiosa. O que comprova
mais ainda a necessidade de se conhecer a cultura original na qual emerge a experiência
religiosa individual ou grupal que pretendemos estudar. Esta visão cultural está cada vez
mais presente nos Programas de pós-graduação em Ciências da Religião no Brasil e no
mundo.

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6 Claretiano – Batatais
UNIDADE 1 Cursos de Graduação

5 PSICOLOGIA DA RELIGIÃO: CIÊNCIA QUALITATIVA E


QUANTITATIVA
PARA VOCÊ REFLETIR:
Ao longo deste curso você
A psicologia, ao estudar o fenômeno religioso, em seus variados aspectos,
terá contato com algumas
não pode renunciar à coerência epistemológica, que leva o psicólogo a reconhecer que a ideias de teóricos que farão
religião tem “sua” própria ótica e “suas” próprias categorias, hermenêuticas, na busca da alguns questionamentos:
Como estudar a experiência
verdade. religiosa? Como estudar a
religiosidade humana? Como
Se quisermos ser científicos e reconhecidos pela comunidade mais ampla que definir Religião e Religiosidade?
Como compreender o sagrado
estuda as ciências da religião, não podemos dogmatizar nossas afirmações e sim salientar e o profano partindo da vivência
o caráter provisório e incompleto dos conhecimentos já que os mesmos são baseados psicológica do fato religioso?
em fatos empíricos e experiências grupais de pertença a um grupo religioso específico.
Isto não significa que as afirmações não têm validade e sim que se prestam ao diálogo
interdisciplinar e podem ser complementadas por outras visões mais abrangentes.

Desse modo, ter consciência dos próprios limites e possibilidades é uma condição
básica para se fazer ciência psicológica da religião. A psicologia da religião precisa ainda
embasar-se filosoficamente e ter consciência da visão teológica que, mesmo de modo
não consciente, pode estar influenciando. Trata-se de uma autorreflexão permanente e
metodológica.

Seu objetivo e campo de atuação são delineados da seguinte maneira por Ávila
(2003, p. 12):

Inventariar os comportamentos religiosos, explorar as diferenças significativas,


compreender as relações com outros fenômenos humanos, conhecer as
estruturas internas das experiências e dos comportamentos religiosos, discernir
a atitude religiosa aparente da autêntica e formular hipóteses compreensivas
da dimensão religiosa humana. INFORMAÇÃO:
A auto-observação nada mais
é que o próprio sujeito religioso
Com esse objetivo em mente, a Psicologia da Religião foi criando os mais autoanalisar-se, mais ou menos
como fez Santo Agostinho em
diversos instrumentos. Em um primeiro momento serviu-se da observação direta, primeiro sua obra Confissões. Ele teria
pela auto-observação dos comportamentos religiosos, depois pela via de conversas tido a visão de um menino que
de aprofundamento com as pessoas que narravam suas experiências religiosas. Mais cantava tal qual um refrão:
Toma e lê! Inicia-se aí uma
recentemente, com o uso de questionários, escalas e mesmo exames médicos avançados busca sistemática suscitada
ligados ao funcionamento do cérebro e das glândulas. pela frase que leu ao abrir um
pequeno livro que estava sobre
a mesa: “não caminheis em
Os estudiosos serviram-se igualmente, como mostra o livro mais importante de agruras e embriaguez, não nos
William James: As variedades da experiência religiosa, da leitura atenta e comparativa prazeres impuros do leito e em
leviandades, não em contendas
de autobiografias de místicos como João da Cruz e Tereza de Ávila e da análise de casos e emulações, mas revesti-vos
clínicos. Esse último método, graças a Freud, teve enorme peso teórico no desenvolvimento de Nosso Senhor Jesus Cristo,
e não cuideis da carne com
das hipóteses levantadas pela Psicologia sobre a religiosidade. demasiados desejos” (Santo
Agostinho, 1996. p.5).
O objetivo final era sempre o mesmo: descrever com exatidão e tipificar os fatos,
formulando hipóteses explicativas e mostrando possibilidades clínicas de intervenção.

Em um certo momento, a finalidade, passou a ser quantificar estatisticamente


os mais variados aspectos do comportamento religioso, por exemplo o que se fazia com
os famosos testes psicométricos de inteligência.

Desse modo, surgiram, também, os testes ditos projetivos, que ajudam a adentrar
os meandros das motivações profundas e inconscientes do comportamento religioso.
Em Universidades como a de Louvain, na Bélgica, foram feitos estudos detalhados de
muitos traços comportamentais de fundo religioso, mediante o uso de tais instrumentos.
Alguns foram criados com a finalidade expressa de se chegar de modo mais adequado às
dimensões propriamente religiosas dos sentimentos e comportamentos.

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7
Batatais – Claretiano
UNIDADE 1
Cursos de Graduação

Surgiu aos poucos, especialmente nos Estados Unidos, uma psicologia da


religião calcada em métodos positivos e quantitativos de observação direta. Com isso,
perdeu-se muito dos elementos especulativos, mais qualitativos e fenomenológicos, que
caracterizavam o estudo anterior dos comportamentos religiosos. Até hoje constata-se
uma tensão entre as duas abordagens.
(2) Antoine Vergote: padre e
psicólogo belga, com condições
de separar a Psicologia da Concluindo essas observações epistemológicas e metodológicas, deve-se dizer,
Religião de uma visão redutiva, com psicólogos de rara competência, como Vergote2 (em Valle, 2007, p. 130) que não
virtualmente presente em
quaisquer das abordagens
é tarefa do psicólogo da religião emitir juízos de valor sobre a veracidade intrínseca do
oferecidas (VALLE, 1998 p. que suas pesquisas levantam como provável, previsível ou certo, não cabe a ele dizer
43-44). algo definitivo sobre o que dizem as religiões, sobre a realidade e natureza do divino e do
sobrenatural em si.

Bryant, estudioso de Jung, coloca em evidência e esclarece os múltiplos fatores,


estruturas e processos de natureza psicológica implicados no fenômeno religioso que o
tornam peculiar até por não poderem ser refutados ou comprovados. E explicita:

Jung defende a opinião de que a realidade da vida por vir, como a da


existência de Deus, não pode nem ser provada nem refutada cientificamente.
Suas observações sobre o efeito psicológico da crença em uma vida futura
indicam sua relevância e importância. A fé cristã na vida por vir baseia-se
primordialmente na fé em Deus e na auto revelação de Deus em Cristo. Mas
aquele que crê, embora baseie-se em algo que não pode provar racionalmente,
insiste em que sua fé de forma alguma contradiz a razão e é congruente com
o que pode ser conhecido pela observação e reflexão racional. E, assim, ele
pode ficar satisfeito com a confirmação trazida por Jung de que sua fé está de
acordo com as necessidades da psique e não é de forma alguma alheia a elas
(BRYANT, 1996, p. 71).

6 DEFINIÇÃO FUNCIONAL DE RELIGIÃO


Para quem propõe-se a estudar o fato religioso com base na psicologia é bom
que tenha em mente uma das primeiras intuições de Jung em relação ao tema, intuição
esta que foi se confirmando com o avanço das pesquisas em psicologia da religião.

Afirmava Jung que o psicólogo que se coloca em uma posição científica não deve
ter a pretensão de carregar consigo a verdade exclusiva e eterna. Em suas palavras:
PARA VOCÊ REFLETIR: O psicólogo que se coloca numa posição puramente científica, não deve
A Psicologia da Religião não trata considerar a pretensão de qualquer credo religioso: a de ser possuidor da verdade
da fé como conceito teológico
e sim de experiências de fé
exclusiva e eterna. Uma vez que trata da experiência religiosa primordial, deve
vividas de modo individual e/ concentrar sua atenção no aspecto humano do problema religioso, abstraindo o
ou coletivo em sua influência que as confissões religiosas fizeram com ele (JUNG, 1982, p. 11).
sobre o processo de evolução e
amadurecimento humano. Como
o ser humano faz sua trajetória Para concluir, citemos Valle (2007):
impregnado pelo impacto dessas
experiências religiosas? Para mim, a religião, do ponto de vista da Psicologia, deve ser entendida como
uma ‘atitude’, isto é, como uma maneira de ser diante de alguém ou algo.
Estrutura-se como uma síntese dinâmica, orientada por metas, normas e
valores que são assimilados pelas pessoas a partir do que são, sentem, pensam
e buscam. A atitude religiosa se expressa por meio de palavras, gestos e
símbolos de natureza religiosa, elaborados no seio de cada cultura e expressos
na sua linguagem e seus conceitos.

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8 Claretiano – Batatais
UNIDADE 1 Cursos de Graduação

7 ATITUDES DIANTE DO MISTÉRIO


Antes de partir para a compreensão da experiência religiosa como algo próprio
da pessoa humana, vejamos algumas reações do homem diante do mistério da realidade
humana, realidade esta finita do ponto de vista biológico e infinita do ponto de vista da
transcendência.

Esta parte da unidade está baseada no Manual do Instituto Teológico de Ensino


a Distância elaborado em Madrid- Espanha em 1985 (p. 59-63). Na ocasião, o diretor de
estudos do Instituto Teológico Católico de Madrid era Don Juan Martin Velasco e, embora
este material não esteja disponível entre nós, apresento a você o que considerei útil para
compreender a variedade de atitudes que se mesclam na vivência religiosa. As reações do
ser humano diante do mistério foram elencadas como se segue:

1) Atitude de reconhecimento: trata-se da acolhida extática do ser que se


revela e não depende de posse intelectual e/ou esforços humanos. O supremo
revela-se ou irrompe e só o que podemos fazer é reconhecê-lo como real.

2) Atitude de estupor: esta surge na medida e no momento em que o ser se


apercebe de um Outro o qual causa estranhamento, mas é acolhido como
real e diverso.

3) Atitude de temor: trata-se daquela sensação de dependência que nos


torna cativos e ao mesmo tempo ativos diante da vivência. Isso faz com que
possamos sentir nossa pequenez e o desejo ético de ser melhor.

4) Atitude de fascinação: trata-se do estado de alma que nos põe diante de


algo que nos transcende, arrebata e, paradoxalmente, nos comunga com o
mistério.

5) Atitude simbólica: trata-se do estado que nos leva a projetar em atos


concretos a vivência, celebrando-a com palavras e participação em ritos
ATENÇÃO!
organizados e comunitários. Caso tenha dúvidas em relação
aos conteúdos estudados
nesta unidade, sugerimos que
estabeleça contato com seu

8 CONSIDERAÇÕES tutor pela Lista da Sala de


Aula Virtual ou, se você for
aluno off-line pelo telefone nos
horários pré-estabelecidos. Ele
Nesta unidade você estudou o histórico da psicologia da religião, sua epistemologia está preparado para oferecer
e metodologia. Refletimos, ainda, sobre as aproximações e diferenças entre psicologia e o suporte necessário para sua
aprendizagem. Pense nisso...
psicologia da religião, sobre a definição de religião e sobre como a psicologia da religião
compreende o fenômeno religioso.

Já na Unidade 2 iremos adquirir, por meio de uma análise crítica, uma noção de
experiência religiosa. Até lá!

9 E-REFERÊNCIA
WIKIPÉDIA. Home page. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_
principal>. Acesso em: 4 set. 2007.

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9
Batatais – Claretiano
UNIDADE 1
Cursos de Graduação

ATENÇÃO!
Com a pesquisa, você não 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
impõe fronteiras em sua
aprendizagem e pode construir AGOSTINHO, S. Confissões. Coleção: Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
um conhecimento amplo e
profundo sobre determinado AVILA, A. Para conhecer a psicologia da religião. São Paulo: Loyola, 2007.
assunto. Sugerimos, portanto,
que você leia os livros citados BRYANT, C. Jung e o cristianismo. São Paulo: Loyola, 1996.
nas referências bibliograficas,
principalmente o livro escrito JAMES, W. As variedades da experiência religiosa. São Paulo, Cultrix, 1995.
por Antonio Avila,traduzido em
2007, que apresenta um resumo JUNG, C.G. Psicologia e religião. Petrópolis: Vozes, 1982.
organizado e fiel das conquistas
da Psicologia da Religião. VALLE, E. Psicologia e experiência religiosa. São Paulo: Loyola, 1998.

________. A Psicologia da Religião. In. Usarski, F. (Org.) O espectro disciplinar da Ciência


da Religião. São Paulo: Paulinas, 2007.

VELASCO, J. M. Introducción a la fenomenología de la religión. Madrid: Ediciones


Cristianidad, 1982.

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10 Claretiano – Batatais
UNIDADE 2
NOÇÃO DE EXPERIÊNCIA
RELIGIOSA

Objetivos
• Compreender o que é experiência religiosa.

• Reconhecer que experiências religiosas podem ser


individuais ou grupais e que sempre estarão ligadas à
vivência do sagrado.

• Reconhecer que experiências religiosas fazem parte do


caminho para o amadurecimento espiritual.

Conteúdos
• Dimensões da experiência religiosa.

• Núcleos experienciais.

• Outras experiências.
UNIDADE 2
Cursos de Graduação

1 1 INTRODUÇÂO
ATENÇÃO!
Ao iniciar seus estudos sobre a
noção de experiência religiosa
é importante considerar as
seguintes técnicas que poderão Nesta unidade, você perceberá que a experiência religiosa comporta sempre
potencializar sua aprendizagem: uma emoção. Emoção gerada por um desejo de sentido, de pertença, por um desejo de
a) tente estabelecer um horário e
lugar fixo para o estudo;
Deus. Perceberá ainda que a experiência religiosa faz separar o sagrado (tudo o que gera
b) procure ter à mão todos os sentido) do profano (aquilo que não tem sentido). Esta delimitação foi explicitada mais
recursos e materiais de que irá claramente somente no século 20 com os escritos de Mircea Eliade que define religião com
necessitar; base nas experiências vividas por indivíduos ou grupos.
c) participe ativamente do estudo:
estude com compreensão,
atenção e concentração; Toda experiência humana comporta uma ou mais emoções. Emoção na experiência
d) faça as reflexões sugeridas; psicológica não quer dizer, no entanto, emoção religiosa. Podemos experimentar fortes
e) distribua racionalmente os
períodos de estudo. emoções em um show de rock ou diante de um discurso político. Entretanto, o que define
a experiência religiosa é sua vinculação com o sagrado.
INFORMAÇÃO:
Leia mais sobre a História das
Religiões no livro indicado na Para iniciar o estudo desta unidade convido você a refletir sobre os seguintes
bibliografia básica: O espectro questionamentos: o que é sagrado para você? Em nossa sociedade de consumo, em que
disciplinar da Ciência da Religião o funcional e o econômico superam o transcendente e o atemporal, como se vivencia o
(p.43-44).
sagrado?

O “vivido” e experimentado por alguém em um certo contexto é que dará o


estatuto de sagrado e a experiência religiosa configura um tipo de relacionamento com
o divino, com a divindade. Como conceituar esta experiência? Esta é uma das principais
tarefas da psicologia da religião: representar o “vivido religioso” de modo que se torne
aceito pela comunidade científica.

Desse modo, procuraremos fazer algumas associações e questionamentos:

1) Quais atos e vivências podem ser considerados religiosos?

2) Que tipo de emoção eles comportam? Qual a ligação dessas emoções com o
sagrado e com o profano?

3) O que delimita o sagrado do profano?

4) Qual a característica essencial desses atos?

5) Que tipo de emoção eles comportam?

O certo é que mesmo se tiver se iniciado com alguma emoção considerada ruim,
como o medo e a raiva, a experiência religiosa deve levar a um bem estar no final. Assim,
diante de uma situação limite como a iminência da morte (em si geradora de medo) pode
surgir uma vivência reparadora (bem estar e entrega, superação do risco e reversão da
situação etc.) que serão consideradas religiosas por quem as vivencia. Portanto, se nada
foi concluído ou elaborado, então não se trata de experiência religiosa, já que essa opera
uma mudança no estado de alma e geralmente equilibra - ao menos por um certo período-
aquele que vive a experiência.

Assim, vale destacar que algumas dessas experiências religiosas podem levar
a mudanças mais permanentes parecidas com conversão. E ainda, assemelham-se a um
bem estar vivido pelos santos (na experiência cristã) ou por quaisquer outras experiências
espirituais diferentes das ocidentais.

A experiência religiosa de uma pessoa é sempre e necessariamente uma vivência


INFORMAÇÃO:
Podemos observar na psicológica do tipo relacional, já que supõe dois polos em tensão:
experiência judaico-cristã que
Deus curva-se sobre os homens 1) O ser humano concreto com todas as circunstâncias que o constituem.
e fala pelos seus profetas e
por seu Filho Jesus. Em outras 2) O Outro que chamamos de Deus e de tantos outros nomes e que, embora,
religiões algo análogo se dá, mas
permanecendo em seu mistério, apresenta-se e revela-se por meio de sinais
em linguagens, concepções e
modos distintos. que nascem da própria realidade do mundo.

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12 Claretiano – Batatais
UNIDADE 2 Cursos de Graduação

O homem religioso não percebe sua relação com a divindade como se fosse
um apêndice estranho a ele ou então, como se fosse um mero produto de seu próprio
psiquismo e sim como uma totalidade com a qual está em comunicação e que o interpela,
dando um sentido.

Desse modo, o ser humano tem consciência de que essa experiência do


divino é complexa, considerando que refere-se a sentimentos, atitudes e processos de
compreensão que escapam à racionalidade, ancorando-se no intuitivo e no inconsciente,
além de radicar-se no somático. Intui, assim, serem profundas suas raízes últimas, tanto
as psico-mentais quanto as bio-psíquicas.

Como você pôde notar, na experiência religiosa existe uma dimensão inconsciente,
densamente afetiva e não isenta de conflitos. Nota-se, também, que ela traz um sentido
que exerce influência sobre o agir, sobre o pensar e sobre o querer, moldando a vida de
acordo com Alguém com quem se vê em relação.

Vamos observar a afirmação de Jung, que complementa nossa visão de


experiência religiosa:

Devo observar que não se trata de uma questão de fé, mas de experiência. A
experiência religiosa é algo de absoluto. Não é possível discutir acerca disso.
Uma pessoa poderá dizer que nunca teve uma experiência desse gênero, ao
que o oponente replicará: “lamento muito, mas eu a tive”. E com isso se porá
termo a qualquer discussão (1978, p. 111).

Desse modo, vale ressaltar que construir um embasamento sobre tais


conhecimentos será uma tarefa importante para a continuação dos estudos de Ciências
da Religião e Teologia.

Desejamos sucesso nesta estrada.

2 DIMENSÕES DA EXPERIÊNCIA RELIGIOSA


Com base na psicologia social, Glock e Stark (1998 p. 67-70), fazem a leitura
do vivido religioso em cinco dimensões. Portanto, não se trata de intuições dos autores,
mas fruto de pesquisas científicas. Tais resultados confirmam-se sempre que estudamos
pessoas ou grupos.

Observe as cinco dimensões:

1) Experiencial: é idiossincrática e fortemente colorida pela emoção. É


intransferível. Geralmente está associada a um fato repentino que faz com
que a pessoa tenha que lidar com a situação estressora. Desse modo,
subitamente, algo se dá em seu sistema neuropsicológico.

2) Ritual: implica em práticas religiosas distintivas do grupo do qual faz parte


quem vive a experiência. Os ritos implicados variam de religião para religião
e de grupos para grupos na mesma religião. Assemelha-se as experiências
primeiras de fundadores de Congregações.

3) Ideológica: refere-se a crenças e convicções doutrinárias de quem vive a


experiência. Sempre haverá uma ideologia por trás da experiência, mesmo
que a mesma esteja inconsciente para aquele que a vive.

4) Conseqüencial: abrange a conduta moral e comportamental tipicamente


proposta e exigida pela adesão ao grupo.

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13
Batatais – Claretiano
UNIDADE 2
Cursos de Graduação

ATENÇÃO! 5) Intelectual: a pessoa religiosa será informada e introduzida nos princípios


Para aprofundar seus
conhecimentos sobre as
básicos de sua fé e das estruturas sagradas.
dimensões da experiência
religiosa leia a obra: VALLE,
E. Psicologia e experiência
religiosa. São Paulo: Loyola,
1998. 3 NÚCLEOS EXPERIENCIAIS
A experiência religiosa é um conjunto de todos os sentimentos, percepções e
sensações que são experienciados por um sujeito ou definidos por um grupo ou sociedade
como sendo relacionados a algum tipo de comunicação, mesmo que precária, com a
essência divina, isto é, com Deus, com a realidade última, com a autoridade transcendente.
Algumas experiências se repetem no contexto da religião em que se dão, mostrando a
importância do fator cultural no modo como o ser humano atualiza seus potenciais de ser
e sentir.

Assim observamos certos núcleos que se repetem nas pesquisas realizadas com
adeptos da religião católica, permitindo uma divisão em tipos:

1) Experiência responsiva: envolve compreensão e aceitação empática do


vivido e do experimentado. Portanto, aquele que a experimenta tem certeza
de seus efeitos na vida prática e a entende como um marco na história de
sua crença em um mundo divino. Os subtipos são:
• Salvação: o sujeito sente-se de novo unido com a divindade após período
de desunião ou descrença. Anteriormente em estado de pecado, vê-se
liberto e salvo após a vivência restauradora.
• Poder milagroso ou poder taumatúrgico: o crente associa com segurança e
certeza os fatos externos à realização de seus pedidos, vendo assim, suas
necessidades satisfeitas de modo mágico.
• Sanção (ou castigo, perda, medo, insegurança, culpa): semelhante ao
anterior, mas envolve considerações morais e éticas relacionadas ao vivido
e praticado.

2) Experiência de confirmação: o vivido torna mais seguro as crenças,


corrobora, remove dúvidas pela via da autoridade ou pela evidência
inquestionável dos fatos enquanto tais. Há um súbito sentimento,
conhecimento, intuição, da veracidade de tudo o que foi vivido.

3) Experiência de êxtase: comunhão e arrebatamento com Deus. É uma


elevação física e psicológica de proporções gigantescas, semelhante ao
orgasmo, com o embebedamento, que tem os sentidos tomados pela pegada
do poder divino.

4) Experiência de revelação: é encontrada com menor freqüência. Nela a


divindade assume a pessoa e a torna confidente direta. As revelações dão-
INFORMAÇÃO:
As revelações foram comuns nas se por meio de visões, de vozes, de iluminações, de missões que assumem
grandes religiões e atualmente caráter de obrigatoriedade.
ocorrem com muito menos
freqüência.

4 OUTRAS EXPERIÊNCIAS
Baseada nos estudos de Greeley, a psicossocióloga norte-americana Margaret
Poloma (1998, p. 70-72) realizou uma grande pesquisa, na qual estudou as seguintes
experiências:

1) Fenômenos paranormais: pessoas com talentos ou sensibilidades hoje


explicáveis pelas inteligências múltiplas eram genericamente denominadas

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14 Claretiano – Batatais
UNIDADE 2 Cursos de Graduação

de paranormais. Hoje em dia os avanços das Neurociências trouxeram


novas respostas a estes fenômenos mas ainda nada que os explique
totalmente. Tomemos como exemplo, o medium que recebe guias e faz
previsões comprováveis com certa regularidade, segundo os relatos de seus
seguidores.

2) Experiência de culminação ou peak experience referidas por Maslow:


nestas experiências o sujeito vive um clímax de autorrealização e bem estar
consigo mesmo e com o mundo.

3) Clarividência: “é o fenômeno parapsicológico que permite a perceção visual


de objetos por meios paranormais. Difere da telepatia pelo meio através do
qual é adquirida a informação: enquanto na telepatia a informação provém
da mente de outra pessoa, a clarividência provém de objetos. Este nome
também é dado, em certas escolas de ocultismo, à chamada “visão espiritual”,
que permite enxergar objetos e pessoas fora do meio físico” (WIKIPÉDIA,
2007).

4) Dejà vu: estado em que o sujeito julga já ter vivido em outro tempo a
experiência do presente. A neuropsicologia já tem explicações para estas
vivências, mas não para o conteúdo das mesmas, pois como diz Damásio,
mente é o que cérebro produz para falar de realidades intangíveis.

5) Mediunidades: experiências muito comuns no Brasil talvez devido às


raízes reprimidas de nosso povo. Segundo Neto (2004, p.305) esta palavra
“se refere a uma situação em que cliente ou curador, ou ambos vivenciam
estados alterados de consciência sob a forma de dissociação ou possessão.
No xamanismo, o feiticeiro é possuído por um ser sobrenatural que o torna
capaz de realizar curas”.

6) Glossolalias: experiências presentes em cultos da RCC e igrejas neo


pentecostais, em que o ‘crente’ se expressa por meio de uma língua
desconhecida a ele próprio e frequentemente também aos demais. Há
estudiosos que confirmam a criatividade da manifestação, embora na maioria
das vezes se perceba a artificialidade da atuação.

7) Oração profunda e misticismo: aquele que a experimenta relata a posteriori


– uma sensação de perda de identidade e/ou comunicação com a divindade.

Estas experiências não procedem do intelecto, mas de processos de


amadurecimento do si mesmo que, ao se expandir geram respostas adaptativas de
aceitação do novo.

Valle (2008, p.91) define ainda:

1) Experiência anômala: uma experiência incomum de alucinação ou


anestesia, as vezes interpretadas como telepáticas que não tem relação
necessária com qualquer patologia ou anormalidade.

2) Estados alterados de consciência: o indivíduo sente-se ou experimenta


um modo qualitativamente diferente de seu modo habitual de ser como se
funcionassem dois programas diferentes em um mesmo computador. ATENÇÃO!
Para compreender melhor este
Muitas das chamadas conversões se devem a esses processos, inicialmente tema consulte a obra: REVER.
inconscientes. A Psicologia Clínica tem explorado esses modos de amadurecimento N. 3, 2006, p. 77-93. Disponível
em: <http://www.pucsp.br/rever/>.
humano que se dão com base nas vivências ligadas a religiosidade e religião superando Acesso em: 30 jul. 2009.
a visão reducionista de Freud.
PARA VOCÊ REFLETIR:
Para refletir sobre o assunto,
A este respeito, quem desejar aprofundar o tema pode consultar o artigo de descreva experiências religiosas
Gilberto Safra elencado na bibliografia ao final da unidade. vividas em primeira pessoa e
sinta o efeito de seu relato nos
sentimentos dos colegas.

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Batatais – Claretiano
UNIDADE 2
Cursos de Graduação

Apresentamos, a seguir, um fluxograma denominado: A constituição da pessoa


religiosa hoje.

Fonte: Psicologia e Experiência Religiosa, Edênio Valle, 1998, Loyola/Eliana Massih

Fonte:Profª Eliana Massih, para uso em sala de aula

O objetivo do mesmo é trazer uma visualização do que se dá no âmbito da


Igreja Católica em sua aplicação dos conhecimentos em Psicologia da Religião. Pode ser
adaptado para qualquer outra denominação religiosa que tenha como ética o cuidar.

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16 Claretiano – Batatais
UNIDADE 2 Cursos de Graduação

O indivíduo que vive a experiência religiosa se vê interpelado a dar continuidade


ao sentimento suscitado transformando-o em serviços e maior participação na comunidade.
De outro lado, esta atuação o realimenta ampliando sua consciência e facilitando o
amadurecimento do si mesmo (self).

Para outras religiões deverá se adaptar a nomenclatura, embora o conceito de


que as experiências religiosas interferem na constituição do si mesmo (self) se mantenha.
Entendo self como o define William James (BEZERRA; ORTEGA. F. 2007, p. 138) como a
soma de tudo que um indivíduo sente como seu e que didaticamente se divide em self
corporal (que vive a experiência religiosa), self social (que reconhece a existência do outro
e pode se solidarizar com ele) e self espiritual (a parte mais central, que se apresenta
introspectivamente quando o pensamento se volta para si mesmo em autorreflexão). Trata-
se de várias possibilidades do self que vão se robustecendo com base em experiências
religiosas vividas e trabalhadas em contextos ou comunidades religiosas específicas.

5 CONSIDERAÇÕES
Com o estudo desta unidade, você pôde compreender as diferentes modalidades
de experiência religiosa e/ou mística através de vários relatos de pesquisas. Você pôde
ainda entender que experiência religiosa e emoção caminham juntas. Eu mesma vivi uma
experiência religiosa com base em um sonho relacionado a minha história de vida. Por
este motivo inclui a referência na bibliografia (MASSIH, 2004).

Finalmente, vimos que experiências religiosas podem ser individuais ou grupais


e que sempre estarão ligadas à vivência do sagrado e fazem parte do caminho para o
amadurecimento espiritual.

Na Unidade 3, estudaremos alguns teóricos da psicologia da religião. Não será


possível abarcar toda a diversidade de escolas e visões, principalmente no início deste
século 21 em que a psicologia da religião está em franca evolução. Esperamos por você!

ATENÇÃO!
Sua aprendizagem não tem
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS fronteiras! Assim, é muito
importante que leia as obras e os
sites referenciados ao lado.
JUNG, C. G. Psicologia e religião. São Paulo: Vozes, 1978.

LOTUFO NETO, F. Influências religiosas sobre a psicoterapia. In. PAIVA, G. J.; ZANGARI,
W. A representação na religião: perspectivas psicológicas. São Paulo: Loyola, 2004.

MASSIH, E. Emoção e experiência religiosa. In. Espaços. v. 12, n. 1, p. 71-77, mar.,


2004.

PAIVA, G. J.; ZANGARI, W. A representação na religião: perspectivas psicológicas. São


Paulo: Loyola, 2004.

OTTO, R. O sagrado: os aspectos irracionais na noção do divino e sua relação com o


racional. São Leopoldo: Sinodal, 1992.

SAFRA, G. Perspectivas do manejo clínico da experiência religiosa. In. Temas em Psicologia


da Religião. ARCURI, I.G.; ANCONA-LOPEZ, M. (Org.). São Paulo: Vetor, 2007, p. 77-90.

VALLE, E. Psicologia e experiência religiosa. São Paulo: Loyola, 1998.

________. Estados alterados de consciência, experiências anômalas e psicoterapia. In.


SAVIO, A. et all. Religiosidade e Psicoterapia. São Paulo: Roca, 2008, p. 81-100.

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17
Batatais – Claretiano
Anotações
UNIDADE 3
ALGUMAS TEORIAS DA
PSICOLOGIA DA RELIGIÃO

Objetivos
• Identificar algumas teorias importantes em Psicologia da
Religião.

• Reconhecer que cada teoria reflete as condições histórico-


culturais nas quais foram geradas.

• Reconhecer que cada teoria apresentada tem como


fundo uma visão filosófica e teológica e que não há como
compreendê-las sem um enfoque multidisciplinar.

Conteúdos
• Visão pragmática de William James.

• Posição introspeccionista de Girghensohn.

• Abordagem idiográfica de Allport.

• Antoine Vergote e sua visão global da psicologia da


religião.

• A visão das neurociências.


UNIDADE 3
Cursos de Graduação

ATENÇÃO!

1 INTRODUÇÃO
Lembre-se de que a organização
de um horário de estudo é útil
para estabelecer hábitos e,
assim, possibilitar que você
utilize o máximo de seu tempo e Na Unidade 2 vimos o que se passa na intimidade do sujeito religioso. Mas, a
de sua energia. Pense nisso...
Ah, não se esqueça de consultar psicologia da religião vê esses processos eminentemente pessoais como sendo resultado
as informações contidas no Guia também de dinâmicas interpessoais e sociais que acontecem dentro de grupos humanos
de disciplina e na página inicial concretos, como são a família e as igrejas. De modo mais amplo, hoje em dia a psicologia
desta unidade.
da religião sabe que é impossível compreender as motivações religiosas das pessoas sem
conhecer sua sociedade e sua visão de mundo. Melhor dizendo, só é possível produzir
psicologia da religião dialogando com a Sociologia e a Antropologia. Igualmente vem
se ampliando as interfaces com outras áreas do conhecimento como a Geografia e a
Estética, consideradas subdisciplinas complementares. A história natural e os modelos
INFORMAÇÃO: computacionais também vêm ampliando os horizontes de saber das Ciências da Religião e
Para aprofundar e tomar contato
com estas ideias sugiro a da Teologia. Modificam assim a visão do psicólogo da religião que precisa compreender o
leitura dos livros organizados ser humano em sua relação com o que é considerado sagrado.
por Faustino Teixeira e Frank
Usarski, elencados na bibliografia
geral e desta unidade. A religiosidade é modelada pela cultura na qual o indivíduo nasce e se caracteriza
por orações, rituais, crenças, sentimentos e padrões de comportamento recebido desta
cultura com base nas pessoas significativas com quem este indivíduo partilha a vida.

Não podemos compreender a religiosidade que é pessoal separadamente da


religião que é social. Por isso, os psicólogos da religião trabalham com a Psicologia Social,
a Sociologia e a Antropologia.

Podemos observar claramente que as religiões referem-se ao sagrado, o que é


absolutamente natural. Assim, de que modo as ciências como a Psicologia, a Sociologia
ou a Antropologia passam a considerar o sagrado, tendo-o como algo próprio de suas
investigações?

A verdade é que não existe experiência, fato ou fenômeno que não possa ser
considerado sagrado ou religioso. É condição própria do ser humano sacralizar a vida,
suas passagens, suas etapas de amadurecimento e é exatamente isto que a adesão a uma
denominação religiosa pode fornecer ao indivíduo: um lugar social para que ele metabolize,
vivencie esta possibilidade humana de separar o sagrado do profano, significando e re-
significando permanentemente sua vida.

Na psicologia da religião estão presentes todas as tendências existentes na ciência


psicológica, que vão da objetivação mais simplista do fenômeno até as elaborações mais
espiritualizantes. Assim, temos visões behavioristas, neuropsicológicas e transpessoais.
Temos também humanismos ateus e/ou teístas.
(1) Atos obsessivos e práticas
religiosas é um artigo escrito
por Freud em 1907 que afirma a Podem ser identificadas hoje as posições pragmáticas (mais relacionadas aos
associação entre religiosidade e autores norte americanos), as posições cognitivistas (cujo autor de fundo é Jean Piaget),
males do psiquismo.
as posições ligadas à Psicologia Clínica e à Psiquiatria com sua tendência a patologizar o
fato religioso e, igualmente elevá-lo a fator de cura. Por aí passam a visão psicanalítica e
(2) Girghensonhn: psicólogo o seu desenvolvimento ao longo desses cem anos desde que Freud escreveu o artigo: Atos
alemão que reuniu seus obsessivos e práticas religiosas1.
conhecimentos de Filosofia ao
conhecimento de nossa então
nascente disciplina científica: Há ainda a posição que chamamos de fenomenológica, nem sempre distante
a Psicologia da Religião. Um da existencial, para a qual a experiência religiosa é multifacetária, pessoal e escapa da
resumo de sua visão pode ser
encontrado no livro de Edenio padronização exigida pelas posturas científicas mais ortodoxas. Será enfocada com base
Valle, 1998, elencado na em Girghensohn2 e Antoine Vergote.
bibliografia , p. 82-86.

Vá em frente!

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20 Claretiano – Batatais
UNIDADE 3 Cursos de Graduação

2 EUA E A POSIÇÃO PRAGMÁTICA


As transformações da sociedade na esfera religiosa funcionaram como um
estimulante para a psicologia da religião em sua luta para ser reconhecida como ramo
autônomo e científico da psicologia.

O panorama que se desenhou no século 19 na cultura mundial, cada vez mais


influenciado pela psicanálise, mostrou que as primeiras teorias psicológicas da religião
seguiam uma linha quase que exclusivamente ocidental. Tendiam, assim, a reduzir sua
(3) William James: filósofo
compreensão do mundo religioso ao âmbito de sua própria realidade e cultura judaico- e psicólogo foi bastante
cristã e monoteísta. influenciado pelo empirismo
inglês. Acreditava que o mais
importante não é explicar
A psicologia da religião questionava se essa visão valia para as religiões que não o fenômeno religioso e sim
nasceram dentro das mesmas tradições. observar o efeito do mesmo na
vida dos indivíduos. Nas três
conferências sobre santidade
Na busca de respostas, psicólogos como o americano William James começaram afirma a importância dos frutos
a voltar seus discursos para a variedade das experiências religiosas, embora tendo das experiências religiosas
no âmbito da vida social e
consciência de que todas elas expressavam, no fundo, uma só natureza humana. institucional das religiões.
Assegura que o nome coletivo
para os frutos maduros da
William James3 (1842-1910) que considera o modo pragmático o mais profundo religião é a santidade. A tradução
para se compreender o fato religioso, é o principal representante desta abordagem. para o português, feita pela
Para James aquele que tem um senso religioso vive melhor e de modo mais integrado e Editora Cultrix/Pensamento
rapidamente se esgotou e nela
apresenta condição biológica e psicológica assemelhada ao “estado de fé” nomeado por não encontrei a data exata e
Leuba4. A religiosidade é, para James, a maior das forças psicológicas do homem e, se sim uma sequência numeral
de vai de 1991 a 1995. Em
colocada a serviço da saúde, trará resultados de grande amplitude. inglês, a data de publicação é
1902. No entanto, em termos
No que se refere à Psicologia Geral sua principal obra denomina-se ‘Os princípios cronológicos a primeira obra
intitulada ‘Psicologia da Religião
de Psicologia’ e não foi traduzida para o português. Nela James explicita sua visão de self foi publicada em 1899 por Edwin
que hoje em dia vem sendo bastante estudado e foge da caracterização psicanalítica. E. Starbuck, aluno de James
em Harvard, conforme se pode
Assim, a traduziu Francisco Ortega, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (2007, conferir em Avila, 2007, p. 24.
p.138-139):
(4) Leuba: é um clássico da
psicologia da religião e seu
No sentido mais amplo possível, no entanto, o self de um indivíduo é a soma de principal livro é: A psychological
tudo o que ele pode chamar de seu, não apenas seu corpo e seus poderes psíquicos, mas study of Religion: Its origin,
function and future. Nova York:
suas roupas e sua casa, sua esposa e seus filhos, seus ancestrais e amigos, sua reputação
Macmillan Co. 1912. Esta
e trabalhos, suas terras e cavalos, e seu iate e conta bancária. obra não foi traduzida para o
português. Você pode saber mais
sobre Leuba consultando o livro
A teoria de William James em Psicologia da Religião apresentada no livro de Avila (2007) p.29 referido na
“As variedades da experiência religiosa” (Cultrix/Pensamento. 1991-1995) é composta Bibliografia geral.
básicamente das 20 conferências Gifford, publicadas em forma de livro em 1902. Apresenta
três pontos de força:

1) o pragmatismo;

2) a emocionalidade;

3) a variedade da experiência religiosa.

O componente emocional da experiência religiosa foi profundamente abordado


por William James por meio de relatos detalhados de conversões associadas à força
e impacto dessas experiências no psiquismo. Além disso, ele afirma que o fenômeno
religioso é múltiplo e pessoal e, ao mesmo tempo, reconhecido como algo próprio do sentir
e viver humano.

Segundo suas palavras, o estado de fé, como o amor e o medo, é um complexo


psíquico natural que carrega a caridade como conseqüência “orgânica”. A vida fica mais
ampla que os interesses egoístas e os ideais morais.

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21
Batatais – Claretiano
UNIDADE 3
Cursos de Graduação

O indivíduo tem uma sensação de continuidade “amistosa”. Vive estados de


alegria e liberdade intensas, aumenta sua força de alma para enfrentar o que a vida
traz.

Assim, não se poderia falar em santidade ou outro estado de equilíbrio e


integração sem pensar primeiro em conversão genuína e permanente para a prática do
bem (caridade, na visão cristã). Fora disso, há o risco de se viver uma vida regrada,
partindo de normas externas que não se conectam a uma religiosidade saudável e menos
ainda a um estado de fé na vida e no futuro.

Por ter tido contato com muitos relatos de experiências e, por seus conhecimentos
de psicanálise comuns a intelectuais de seu tempo, desenvolveu, também, a ideia de que
a mentalidade religiosa pode ser doentia (sick soul), influenciado pela visão de Freud, ou
saudável (healthy minded), a exemplo das posições de Jung e Rudolf Otto.

Para James, o misticismo é um estado alterado de consciência que comporta


quatro características:

1) Inefabilidade: dificuldade de falar racionalmente do que se viveu.

2) Qualidade noética: conhecer com base no sentir.

3) Transitoriedade: ao final da experiência pode–se sentir como se ela não


tivesse existido de fato tal a peculiariedade das sensações vividas.

4) Passividade: o sujeito é tomado pelo sagrado

ATENÇÃO! É provável que a principal contribuição de William James para a psicologia


Para ampliar seus da religião seja mesmo a de que a emoção é a base da experiência religiosa.
conhecimentos sobre os
Decodificadas por áreas diferenciadas do cérebro e da consciência, fato que
conceitos desse autor clássico
reflita sobre as influências de vem se confirmando nos estudos avançados das neurociências, as emoções
Freud em seu pensamento bem ligadas à religiosidade se desdobram em práticas e atitudes éticas de cuidado
como sua clareza em delimitar ao outro ser humano.
saúde e doença na religiosidade
humana. Apresentem exemplos
concretos vividos em primeira
pessoa, ou seja, experiências Após muitas ressalvas, Valle apud James (1998, p. 258) propõe uma definição
místicas que o ajudaram na
caminhada vivencial e aquelas
operacional da religiosidade:
outras que o levaram a paradas
e/ou congelamento, palavra A religião, assim como arbitrariamente proponho a vocês, significará para nós
sinônimo de neurose. Retome os sentimentos, atos e experiências do indivíduo em sua solidão, na medida em
a UNIDADE 2 para conferir a que estes experimentam estar em relação com o que for por eles considerado
definição de estados alterados de
divino.
consciência.

VOCÊ SABIA QUE...


Girgensohn foi educado na
linha da observação empírica e
teria tudo para ratificar posturas
3 POSIÇÃO INTROSPECCIONISTA /FENOMENOLÓGICA
reducionistas como a de Freud
diante da Religião. Mas foi Um dos principais expoentes é Girgensohn que sofreu influência de Schleiermacher
adiante e pôde reconhecer
a importância do sentimento que via o sentimento e a intuição como fatores constituintes da vivência religiosa.
na vivência religiosa por ter
recebido formação do teólogo, Resumidamente, para Girgensohn o pensamento religioso não classifica os fatos,
filósofo e pedagogo alemão
Schleiermacher, autor que você mas os apreende com base na vivência simultânea de vários aspectos de um mesmo
deve ter visto na disciplina de fenômeno. De modo complementar, o pensamento discursivo, organizado e sistemático,
Filosofia.
completa a captação global do fenômeno, sendo imprescindível para a vida prática das
religiões.

O fato de Girgensohn ter formação empírica facilitou na precisão e exatidão com


que estudou o fato religioso nos sujeitos pesquisados por ele. Entre 1911 e 1913 realizou

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22 Claretiano – Batatais
UNIDADE 3 Cursos de Graduação

estudos partindo de “frases-estímulo” (como por exemplo, a Oração de São Francisco de INFORMAÇÃO:
Senhor fazei que eu procure
Assis) e chegou a identificar três elementos estruturais que constituiriam a experiência mais: consolar que ser
religiosa: consolado, compreender que
ser compreendido; amar que
ser amado; pois é dando que se
1) Sentimentos: palavra genérica que designa diversos estados, sensações, recebe; é perdoando que se é
intuições ligadas a vivência de bem estar e/ou mal estar que conectam-se a perdoado; e é morrendo que se
vive para a vida eterna...(Trecho
funções do ego. da Oração de São Francisco).

2) Imagens ou representações: são reproduções das sensações físicas


experimentadas como evidências tangíveis.

3) Processos da vontade: que são funções do ego combinadas com a consciência


da liberdade e da autodeterminação direcionadas a um comportamento
específico.

Assim, Girgensohn (Valle, 1998, p. 82-86) utilizou o pensamento de


Schleiermacher para compreender a separação necessária entre a moral (agir), o
metafísico (pensamento) e a religião (sentimento), relacionando essas categorias com
o Absoluto e a suprema dependência que temos desse Absoluto.

Girgensohn critica o iluminismo da época e, influenciado por Brentano,


fundador da Fenomenologia, pôde visualizar o fenômeno religioso de modo holístico e
não redutivo. Estudou na Escola de Psicologia Experimental de Wüsburg onde aprendeu
a juntar a introspecção dos sujeitos religiosos a uma metodologia apurada, mas atenta a
subjetividade característica do sentimento e comportamento religioso.

Ainda hoje, autores contemporâneos beneficiam-se dessa junção que é, no


mínimo, sensata para quem quer estudar a religiosidade, algo tão próprio do humano em
qualquer cultura da qual tomamos conhecimento.

Antes de Girgensohn dava-se importância às fontes históricas para se chegar ao


proprium do religioso ao invés de se olhar para a experiência. Graças a seus conhecimentos
de filosofia, se pôde juntar a visão de Schleiermacher com a de Hegel, que fala em espírito
e com Kant que fala em moral e vontade. A experiência religiosa se dá de modo repentino
e ilógico para então ser captada pelo intelecto que a julga e avalia, fazendo com que o
sujeito se aproprie da mesma e a insira em sua história pessoal e social.

Girgensohn já havia intuído que, para que essa apropriação seja possível, ou
seja, tal estado de confiança na experiência é preciso que entre o ego que vivencia e o
objeto vivenciado, o sagrado, haja uma troca que produza integração. No entanto, INFORMAÇÃO:
A abordagem fenomenológica
no momento em que o ego se desfaz é que, paradoxalmente, se dá a experiência mística.
tem muitos seguidores
Para ele, embora os atos e imagens religiosos possam parecer contraditórios, irrealistas na psicologia da religião
ou sem sentido, demonstrarão significado profundo se vistos à luz do contexto mais amplo contemporânea e um de seus
expoentes é Mauro Martins
em que ocorreram. Amatuzzi, professor da
PUC-Campinas e membro da
ANPEPP. Vocês o conhecerão
melhor na Unidade 4, onde

4 ABORDAGEM IDIOGRÁFICA DE ALLPORT


apresentaremos As etapas do
amadurecimento Religioso.

Gordon W. Allport (1897-1969) pode ser considerado um dos principais


representantes da Psicologia Geral do século 20. Sua maior contribuição é o estudo
sistemático da personalidade que, para ele, é possível ser conhecida e compreendida se
tivermos os instrumentos adequados.

Desse modo, é um psicólogo respeitado pela psicanálise das relações objetuais


pela importância que dá ao ambiente e pelo respeito que tem pela função do ego como
organizador dos estímulos que chegam ao indivíduo. Estes estímulos podem ser internos

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23
Batatais – Claretiano
UNIDADE 3
Cursos de Graduação

(emoções, sentimentos, fatores fisiológicos) ou externos (relacionados ao meio social e


religioso em que o indivíduo foi educado).

Sua visão de personalidade total facilitou as teorias sobre a religiosidade humana.


Igualmente, por ser filósofo, foi dos primeiros a reconhecer que toda teoria em Psicologia
tem como base uma visão filosófica do mundo mesmo que não a expresse claramente.

Allport parte da ideia de que o ser humano deve ser visto como um arco evolutivo
em que as primeiras etapas da vida vão se somando e integrando para formar o todo da
personalidade que, no final, decresce do ponto de vista biológico e amadurece do ponto
de vista religioso e/ou filosófico.
INFORMAÇÃO:
Allport prioriza o individual Para Allport, o amadurecimento não se dá de modo espontâneo e previsível
ao sociológico-cultural, mas
com a clareza de que tudo
como nas plantas e nos animais e sim pelas influências do meio ambiente com seus
influi na constituição de uma estímulos afetivos, pedagógicos e mesmo institucionais ou sociais.
personalidade madura e
autônoma. A palavra idios em
grego quer dizer “o que é próprio” O ser humano evolui com base nos contatos com o mundo e, igualmente, com
e a abordagem idiográfica de base em seus traços de personalidade (traits).
Allport não fala em tipos ou
classes. No entanto, Allport
reconhece a importância da A motivação possui autonomia funcional e é fundamental para o amadurecimento;
comparação, presente nos depende dos traços de personalidade, das necessidades fisiológicas e igualmente
autores que utilizam a visão
nomotética para apreender das necessidades espirituais.
o fato religioso (nomos quer
dizer padrão), o que mostra a
flexibilidade de seu pensamento. Critérios da personalidade madura
Como psicólogos, científicos da
Religião aceitaremos a idéia de Para uma maior clareza da teoria de Allport é preciso que compreendamos o
que é possível comparar grupos
de pessoas segundo vários
conceito de maturidade e suas intersecções com o conceito de religiosidade.
padrões e/ou pontos de vista,
entre eles a filiação religiosa, Os motivos infantis inconscientes precisam ser superados e integrados pelas
sexo, idade e classe social.
Mas nunca perderemos de vista funções do ego. Igualmente se dá com a religiosidade, que deve superar as primeiras
a singularidade da evolução fases ligadas à realização de desejos ou a necessidade pura e simples de proteção.
espiritual.

Em sua teoria, Allport não nega as necessidades, mas critica a manutenção


do foco da formação religiosa aí. Prefere o encaminhamento para uma visão ética que
organiza e norteia a vida. Assim, o indivíduo passaria de um estado de religiosidade
extrínseca, baseada em necessidades, ritos exteriores e filiação institucional para o que
Allport nomeou de religiosidade intrínseca, de fato vinculada a uma escolha de vida.

As características da religiosidade madura segundo Allport são:

1) Ampliação e sentido do eu: A percepção e o sentido do eu expandem-se com


a experiência à medida que a criança ou adulto se insere em novos projetos
de vida, ampliando o alcance da identidade. Por exemplo, a conversão a uma
religião abre espaços desconhecidos que estavam à espera de ser ativados
e alimentados.

2) Relação afetuosa do eu com os outros: Envolve os sentimentos de compaixão


humana tão comuns nas religiões e inclui também as experiências afetivo-
sexuais, porém, essa relação é contrária à visão freudiana que vê esta esfera
como central na vida humana.

3) Segurança emocional e auto-aceitação: A vida é repleta de fatos novos


que trazem possibilidades de amadurecimento, na qual uma boa segurança
emocional transforma problemas em desafios. A adesão a uma religião
complementa e reforça a aceitação segura dos imprevistos/previsíveis da vida
de todos nós e, conseqüentemente, o pânico advindo do imprevisível é menos
freqüente nas pessoas de fé e participação em comunidades religiosas.

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24 Claretiano – Batatais
UNIDADE 3 Cursos de Graduação

4) Percepções, habilidades e tarefas realistas: A pessoa madura tem uma visão


bastante realista dos fatos e das pessoas não permitindo que suas fantasias
e desejos se distorçam a tomada de contato com o ambiente que a cerca.
Tem consciência de seus limites e capacidades o que ajuda a enfrentar as
situações e apontar soluções viáveis e concretas para a melhoria dos vínculos
humanos.

5) Auto-objetivação, compreensão e humor: A possibilidade de ver-se como


objeto permite que tenhamos uma compreensão bem humorada de nossos
fracassos e fragilidades a ponto de rir dos mesmos. Rir no sentido de aceitar
as falhas como inevitáveis quando se tem um caminho a percorrer em
que o início é o que desejamos conquistar e reta fina é a conquista do que
desejamos. Devemos contar com as dificuldades no caminho e considerá-las
como parte do itinerário.

6) Filosofia unificadora de vida: Mecanismo próprio do amadurecimento: a


conquista de um sentido de orientação de vida, norteado por certa filosofia
somada a uma escolha religiosa, uma adesão a uma sociedade e/ou ordem.
Esta filosofia ajudaria a compor, também, o que ele chama de religiosidade
intrínseca em oposição à religiosidade extrínseca, conceitos centrais em sua
teoria.

Vejamos no quadro a seguir algumas características da religiosidade intrínseca


versus extrínseca, segundo Allport:

CARACTERÍSTICAS DA RELIGIOSIDADE CARACTERÍSTICAS DA RELIGIOSIDADE


INTRÍNSECA EXTRÍNSECA
a) Devoção, forte compromisso pessoal, uni-
versalista, ética, amor ao próximo. a) Religião de conveniência; surgimento em
momentos de crise e necessidade.
b) Altruísta, humanitária, não egocêntrica.
b) Etnocêntrica, exclusivista, fechada grupal-
c) Influência a vida diária e lhe dá sentido. mente.
d) A fé possui importância central; é aceita c) Não se integra no cotidiano.
sem reservas; o credo é seguido inteira-
mente. d) Fé e crenças são superficiais; as crenças
sofrem uma seleção subjetiva.
e) A fé tem um significado último: é um bem
final, um valor supremo; uma resposta e) Utilitária; sem visar outras finalidades; a
última. serviço de outras necessidades pessoais
e sociais.
f) As pessoas são vistas como indivíduos.
f) Vê as pessoas em termos de categorias,
g) Auto-estima elevada. de sexo, idade e status.
h) Vê Deus como amoroso e misericordioso. g) Auto estima baixa ou confusa.
i) Aberta a experiências religiosas intensas; h) Deus é visto como duro e punitivo.
vê positivamente a morte.
i) Visão negativa da morte; sentimento de
j) Sentimentos de poder e capacidade impotência e de controle externo.
própria.
Fonte: Valle (1998, p. 270)

Ralph W. Hood, psicólogo contemporâneo da religião, estudioso da obra de


Allport, acrescenta uma terceira dimensão, a religião de busca (quest religion), que tem
se mostrado bastante útil para a compreensão da religiosidade hoje (Valle, 1998. p. 271).
As características básicas são:

1) Prontidão para enfrentar questões existenciais.

2) Não-redução da complexidade da vida.

3) Resistência a respostas da tradição.

4) Busca da verdade.

Versão para impressão econômica © Psicologia da Religião • •• CRC 25


Batatais – Claretiano
UNIDADE 3
Cursos de Graduação

ATENÇÃO! 5) Possível conflito religioso “pré-intrínseco”.


Com o uso de sites de pesquisa
e as Referências Bibliográficas 6) Autocrítica.
aprofunde seu conhecimento
sobre a visão de Allport, fazendo 7) Visão positiva da dúvida.
uso do conhecimento filosófico.
8) Abertura a mudanças.
INFORMAÇÃO:
Para uma maior reflexão discuta 9) Preocupação com princípios morais ausência de preconceitos.
com seu grupo as características
da religiosidade intrínseca 10) Conflitividade geral e ansiedade, mas construtiva.
versus extrínseca e reflita sobre
o que você pôde observar na
visita que realizou aos cultos de
outras denominações. Observe
a dimensão acrescentada por
Hood e apresente exemplos
5 ANTOINE VERGOTE
que comprovam a atualidade de
suas posições. Faça também Padre e psicólogo contemporâneo belga representa talvez a maior contribuição
uma autoanálise do modo como
você tem atuado diante da viva da psicologia da religião no mundo.
religião e observe progressos e
retrocessos na caminhada. Para ele a tarefa do psicólogo da religião é buscar o sentido humano dos
comportamentos e atitudes religiosas e, compreendê-los em função da relação que
mantém com os demais fatos humanos. Vergote, tal como Allport, entende que a função da
psicologia da religião é fazer o discernimento entre o que ele chama de atitude religiosa
aparente e religião humanamente verdadeira.

Em suas obras ele deixa claro que a psicologia da religião não se ocupa do
sentido último da vivência religiosa, tarefa esta exclusiva dos teólogos.

Hoje, a ciência nos afirma que durante as vivências que são consideradas
religiosas acontecem alguns fenômenos neurológicos que podem ser comprovados
empiricamente por exames como o PET e outros. Mas ainda não compreendemos como
estas experiências vêm carregadas de poética e de mística, fatos não explicáveis. Para
Vergote (Valle,1998 p. 258):

Religião é um conjunto orientado e estruturado de sentimentos e pensamentos,


por meio dos quais o homem e a sociedade tomam consciência vital de seu ser
último e íntimo e, simultaneamente, nele se torna presente o poder divino.

INFORMAÇÃO:
Vergote esteve no Brasil As atitudes religiosas ordenam as pulsões dando a elas um colorido cultural que
em 1999 por ocasião do 3º respeita o momento na qual se inserem, injetando espiritualidade nessas mesmas pulsões
Seminário de Psicologia e Senso
religioso e proferiu importante que, de outro modo, se esvaziariam sem fornecer abertura para o mais ser, que é o vínculo
palestra com o título/tema do com o divino.
evento: Necessidade e desejo da
Religião na ótica da Psicologia.
Sua pergunta base foi a seguinte: Noção de pecado e psicologia da religião
hoje é necessária a religião para
o bom funcionamento psicológico
do homem? Vergote deixou claro em sua visita ao Brasil que o psicólogo da religião deve
delimitar sua atuação à vivência religiosa. A idéia de pecado está associada à teologia e
se vincula à falta moral e falta contra Deus, que interpela o homem e o coloca diante de
um impasse.

Sua visão da vergonha coincide com a de outros teóricos da psicologia que


afirmam que o ver-se nu é fonte da primeira consciência de nossa ferida narcísica e remete
a algumas perguntas: Sou perfeito? Sou belo? Como administro minha “feiura”? Como os
outros me vêem e como posso modificar esta imagem que apresento ao mundo?

Essas questões desencadeiam uma produtiva realização de tarefas. Tarefas estas


que, se bem concluídas, geram uma melhoria na auto-imagem e, conseqüentemente, na
auto-estima. Se o outro existe e é fonte de saber para mim, então devo cuidar do outro
como cuido de mim mesmo.

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26 Claretiano – Batatais
UNIDADE 3 Cursos de Graduação

O sentimento de vergonha diante do outro que me olha faz com que eu deseje
ser melhor. Igualmente, se a criança que cresce for julgada insatisfatória, “feia”, poderá INFORMAÇÃO:
carregar consigo a imagem e sensação de que não é alguém digno de ser amado. Esta Importante pesquisa sobre
condição certamente incidirá em sua maneira de lidar com a religião, e com os outros a representação de Deus e
as doenças psicológicas foi
com quem convive. As experiências negativas com figuras de cuidado e/ou autoridade se realizado por Anna Maria
associarão frequentemente à idéia de um Deus punitivo. Rizzutto, psicanalista e psicóloga
contemporânea da Religião e
pode ser consultado em sua
A consciência da culpa quando não se cumpre o que é prescrito leva ao desejo tradução em português referida
da confissão, pois o maior medo não é ser descoberto e sim ser punido. A penitência vinda na bibliografia desta unidade e
novamente na Unidade 6.
da autoridade religiosa (o padre) repara simbolicamente a culpa. Assim, culpa e vergonha
fazem com que as religiões se consolidem. Na tradição judaico-cristã, a falta contra os
mandamentos é que compõe a ideia de pecado e é composta de três elementos:

1) Remorso ou fisgada da consciência.

2) Sensação de peso, sobrecarga.

3) Sensação de medo das conseqüências.

A pessoa que está em estado de pecado precisa voltar ao equilíbrio, ao estado


de graça e, movida pelo alerta da consciência, pela sensação de peso e pelo medo das
conseqüências, aspira à confissão como modo de reparar o mal causado ao próximo e
a si própria. A confissão apazigua e traz de volta o bem-estar supondo que se existe o
equilíbrio emocional tudo correrá bem.

Em contrapartida, quando a criança recebe castigos violentos e indevidos ou


quando foi julgada com excessiva severidade, a culpabilidade gera angústia e perturba o
amadurecimento global e da religiosidade em particular. Neste momento, a psicologia da
religião tem o que dizer à pessoa, à família ou à comunidade.

O psicólogo da religião deverá então atuar de modo não confessional INFORMAÇÃO:


Consulte o artigo de Edenio Valle
ou apologético para orientar as pessoas, separando acompanhamento espiritual de (2007), referido na bibliografia
acompanhamento psicológico. se você desejar aprofundar
este tema do acompanhamento
psicológico em suas delimitações
Nas patologias sociais, o sujeito não padece de qualquer uma dessas vivências de do acompanhamento espiritual.
culpa. Supõe-se que esta pessoa não superou a etapa do narcisismo primário, necessária
apenas como passagem para a aceitação da presença do outro e do cuidado que lhe
devemos. Sair do narcisismo é tarefa fundamental para tornar-se religioso e em contínuo
processo de amadurecimento.

Necessidade e desejo

Antes do avanço das ciências e com base na nossa visão de mundo judaico-
cristão, a religião era imprescindível e a única forma de se ler o mundo e a realidade.

Hoje já se pode falar de escolhas: viver com ou sem religião? E ainda, religião
se insere na cultura como um fenômeno assemelhado às artes e às sociedades leigas
próprias de cada grupo.

Atualmente, temos na religião um fator adicional: o desejo. Não precisamos


mais da Religião e sim desejamos o encontro com o absoluto, o intangível, com o mistério
do existir no mundo. Hoje é o desejo de sentido que aciona a busca por Deus. Além das
necessidades e soluções para os impasses da vida, há também um desejo estético, de
ritos e celebrações que fazem parte da Cultura e que tem por finalidade admirar a obra
de Deus.

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27
Batatais – Claretiano
UNIDADE 3
Cursos de Graduação

Aletti (2004, p. 40-41), psicanalista italiano radicado em Milão, que será


apresentado a você na Unidade 6, concorda com Vergote e pensa “a fé religiosa como
um posicionamento de confiança que se exprime no interior de um sistema simbólico
cultural definido. O homem não inventa as palavras com que diz Deus: ele as recebe”. Com
Winnicott, acrescentaria que este encontro estrutura uma religiosidade pessoal apenas
quando o homem “cria” a religião que “encontra”. O que este autor quer dizer é que a
experiência religiosa é multifacetária e pede uma interlocução com o momento histórico e
cultural em que se insere. E ainda, é fortalecida pela criatividade humana.

Em pesquisa realizada em 1981 no Centro de Psicologia da Religião de Louvain,


Vergote e seu parceiro Tamayo (PAIVA; ZANGARI, 2004, p. 125) demonstraram que o
Deus cristão se assemelha a figura de pai como transmissor e representante da lei e,
igualmente, se assemelha a figura de mãe enquanto provedora e afeto e colo. Observa-
se aqui a clara influência cultural da visão judaico cristã na representação de Deus no
psiquismo.

6 AVANÇOS DAS NEUROCIÊNCIAS


Apresentaremos agora, de modo muito resumido, as obras dos mais conhecidos
ATENÇÃO! neurocientistas da atualidade que se ocuparam dos fenômenos religiosos. O objetivo é
Durante o estudo deste tópico, fazer com que vocês tomem contato com estes avanços e possam buscar posteriormente
procure realizar as reflexões
sugeridas. Faça seu cronograma mais informações no âmbito de seu trabalho específico: escolas, hospitais, pastorais,
e não se apresse em prosseguir catequese, missão ou pesquisa científica de conversões, experiências místicas etc.
seus estudos. Afinal, as reflexões
são importantes para possibilitar
que você se envolva por inteiro Nesta parte da unidade, você será convidado a refletir sobre os avanços das
na aprendizagem. Pense nisso... Neurociências por meio de uma atividade dirigida e orientada pelo Prof. Dr. Edenio Valle
do Programa de Mestrado em Ciências da Religião da PUC/SP. O curso aconteceu em
2001, ocasião em que tive acesso a esta visão. Farei um resumo das teorias de modo
geral. Alguns dos livros já estão traduzidos para o português, outros não. No entanto,
acho importante que você, aluno de Teologia e Ciências da Religião da EAD, tenham um
primeiro contato com estas ideias já bastante difundidas pela mídia.

Os atuais avanços obtidos pelas Neurociências fazem alguns estudiosos voltarem


a um velho postulado materialista, pelo qual os processos mentais são totalmente
explicáveis pelos processos bioquímicos e neurais que se verificam no cérebro.

Não é bem assim! Como declaramos no início, a visão positivista em muito


marcou os avanços da psicologia da religião. O materialismo médico, representado por
Freud e seus seguidores, pretendia uma cisão entre religião e ciência. Acreditavam que,
com isso, o impasse seria solucionado. Assim, as ciências falariam do mundo e as religiões
interpretariam a ação de Deus no mundo.

A realidade não confirmava esta proposta simplista. A natureza humana produzia


experiências religiosas e era preciso compreendê-las muito mais do que explicá-las nos
moldes da ciência positiva. Note-se que apesar de ter condição biológica, não se pode
dizer que o ser humano é apenas biológico.

O mesmo acontece com a superação da idéia de uma cisão entre mente e corpo.
Os neurologistas interessados em religiosidade desejavam saber em que lugar do cérebro
aconteciam os fatos vividos pela pessoa em estados alterados de consciência.

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28 Claretiano – Batatais
UNIDADE 3 Cursos de Graduação

O neurocirurgião Raul Marino Jr (2005) é uma ótima referência em português


sobre este tema, pois, defende o uso da expressão neuroteologia, controvertida nos
meios acadêmicos.

As situações limites na prática médica, como cirurgias de alto risco, e a utilização


de novos anestésicos fazem com que certas regiões do cérebro sejam mais conhecidas
em sua fisiologia. Estimuladas, reagem revelando experiências pouco estudadas pelos
cientistas no cotidiano funcional de nossa sociedade hiperativa e ansiosa por excelência
(EAC e EA vistas na Unidade 2). Relatos de experiências de “quase morte” por parte de
pacientes em cirurgia mostram a necessidade de pesquisas na área.
ATENÇÃO!
No século 21 os cientistas já falam de uma integração entre ciência e religião no Para aprofundar seus
sentido de complementar-se uma a outra para compreender o fato religioso (Cruz, 2007. conhecimentos acerca desta
temática, consulte em outras
p. 261). Referências ou em algum site de
sua preferência as contribuições
Bons estudos, dedicação e perseverança! de D’Aquili e Newberg e demais
autores citados neste tópico.

Os três self de Damásio

Com base em estudos realizados nos últimos três séculos acreditava-se que a INFORMAÇÃO:
Antonio Damásio, neurologista
mente paira em algum lugar fora do corpo, talvez de um ens caído do alto. Hoje sabemos
português, mostra em seu livro,
que o funcionamento do corpo depende de genes e células, mas também, e principalmente, O erro de Descartes, Emoção,
de sinapses e do amadurecimento do cérebro em suas relações com as outras esferas da Razão e o cérebro humano, o
momento em que o médico e
presença do homem no mundo. filósofo Descartes separou o
corpo (res extensa) da mente
Com base em estudos muito técnicos, Damásio postula a existência de três (res cogitans), cuja sede se
localizaria na glândula pineal, a
cérebros que existem e atuam distintamente um do outro, com configurações anatômicas única que não tem duplicação no
e fisiológicas que se interrelacionam em diversas etapas da vida humana, seja do ponto corpo humano.
de vista filogenético ou ontogenético. São eles:

1) proto self: que deve sua existência a estágios muito primitivos do


desenvolvimento e que nossa consciência tem em comum com os animais;

2) self auto-biográfico: (autobiographical self) ligado à consciência


estendida;

3) self central: (core self) ligado à consciência nuclear.

O proto self, responsável por nossas medidas do sistema vegetativo, isto é,


pressão sanguínea, sensações térmicas, respiração, batidas do coração, digestão, postura,
configuram centros ancestrais de monitoramento global. Normalmente não prestamos
atenção a este funcionamento a menos que algo de anormal ocorra e sejamos chamados
a incluir novas sensações e/ou acontecimentos.

Nesse momento nosso self autobiográfico aciona memórias de situações vividas


anteriormente e seu impacto em nossa afetividade.

Sincronicamente já estaremos pondo o self central a organizá-las e situá-las em


nossa formação consciente. Nas experiências religiosas é mais ou menos o que acontece.

O curso do funcionamento automático se modifica. Somos invadidos pela nova


sensação, bem como pela mudança de estado anímico e então temos que configurar esta
experiência em algum contexto específico que dê um significado ao vivido.

Desse modo, em lesões ou disfunções cerebrais, os 3 self atuam de modo


cindido e não organizado, o que geraria condutas específicas e/ou gestos autônomos e
aparentemente inexplicáveis.

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Batatais – Claretiano
UNIDADE 3
Cursos de Graduação

Os três cérebros de Mac Lean

A partir da década de 1970, por meio de Mac Lean, fala-se de três cérebros que,
apesar de estarem ligados em inúmeras conexões, têm funcionamento independente e
evoluíram ao longo de diferentes etapas filogenéticas.

Cérebro reptiliano (ou R complex)

Localiza-se no tronco encefálico e é a parte mais primitiva que o ser humano


compartilha com os invertebrados.

Aparece de forma intocada nos répteis e pássaros. Células advindas desta área
têm semelhança a dos répteis e é este o cérebro responsável por nosso funcionamento
INFORMAÇÃO:
A perda dos três Fs e a origem vegetativo autônomo. É também responsável pela vigília e pelos comportamentos
do stress da vida moderna se instintivos de cópula dos animais e danças de acasalamento.
deu da seguinte maneira: Os
primitivos diante de um susto
ou ataque podiam lutar ou fugir Os neurologistas o associam aos chamados três “Fs”: fight/flight/freeze que,
para então resfriar ou relaxar, o no ser humano evoluído, foi se perdendo, gerando o que chamamos de stress da vida
que não se dá nos dias de hoje
em situações institucionais e/ou moderna.
políticas em que nos sentimos
impotentes e incapazes de reagir
aos ataques e situações limite. A Cérebro límbico
saída para as Religiões poderia
então funcionar como modo de O cérebro límbico há muito tempo é associado ao nosso cérebro emocional. Nós
lidar (to cope/ coping) com este
stress.
o temos igualmente aos mamíferos que se apegam entre si e conosco e são capazes de
brincar quando filhotes, tal como os bebês, crianças e adultos humanos. Esses últimos
agregam ainda a capacidade de proteger suas crias ao longo de toda a vida.

No cérebro límbico localiza-se a amídala (hipocampo) que exerce a função de


sentinela emocional, enviando ao tálamo a informação que chegará ao cérebro pensante, o
neocórtex. Estas relações explicariam o confronto entre as emoções e as funções cerebrais
mais altas que levam a produções altamente sofisticadas como a religião.

Cérebro neocortical

Este contém mais de 10.000.000 neurônios responsáveis por sinapses e por todo
o funcionamento de tecidos e nervos. É o último a se constituir e surgiu há pouco tempo.

Pode–se dizer que aí está a sede da consciência humana embora se saiba,


partindo de Damásio, que o amadurecimento se dá de modo orgânico e integral não se
podendo falar de partes separadas.

O cérebro neocortical se divide em duas partes separadas pelo corpo caloso e


recentemente encontramos muitos avanços na compreensão de cada lado do cérebro.

Quem mais aprofunda esta compreensão é Victor Turner, de quem falaremos


a seguir.

Os dois hemisférios cerebrais

Os hemisférios cerebrais são como duas estruturas paralelas de forma


arredondada em forma de nozes que se contrapõem simetricamente dentro da caixa
craniana.

O lado esquerdo funciona na produção do discurso lógico e articulado. O direito


vê o mundo mais holísticamente, captando-o de modo assemelhado ao das experiências
religiosas.

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30 Claretiano – Batatais
UNIDADE 3 Cursos de Graduação

Os atos específicos devem conjugar a atuação conjunta de ambos os hemisférios.


A alternância no ligar e desligar de cada um dos lados explicaria as variedades dos modos
de ser da pessoa com a certeza cada vez mais comprovada de que podemos ativar a
utilização de ambos os lados por meio de estímulos planejados.

Turner é um antropólogo interessado na compreensão dos rituais das várias


culturas e suas relações como o funcionamento cerebral.
VOCÊ SABIA QUE...
Um animal privado do seu córtex pode ainda encontrar o caminho de casa, pode O ensino religioso, por exemplo,
se alimentar e saciar sua sede, mas terá dificuldade em atribuir função ou significado a deve contar com isso e não
tentar ensinar algo muito
objetos (um predador será percebido, mas não como ameaça). Isso porque a percepção e a “teológico” antes da hora. A
atribuição de significado requerem evidentemente a presença dos hemisférios cerebrais. criança poderá repetir o que
aprendeu, mas certamente
não terá maturidade suficiente
O corpo caloso é que faz a comunicação entre as duas partes e se desenvolve para compreender conceitos
mais ou menos após os dez anos. mais elaborados que deverão
ser agregados na medida em
que haja desenvolvimento de
O lóbulo frontal é a sede da imaginação, concatenação e elaboração do raciocínio áreas ligadas a lingüística,
e decisão, sua maturação se realiza lentamente dos quatro aos sete ou oito anos de idade; raciocínio numérico e espacial.
A esse respeito os estudos
sem o amadurecimento do lóbulo frontal não poderia existir a consciência e a mente ligados à inteligências múltiplas
humana em suas acepções culturais e religiosas mais avançadas. têm contribuído muito para
o planejamento didático e
pedagógico do Ensino Religioso.
Hoje em dia diríamos com os mais estudiosos neurocientistas do planeta que o
cérebro é responsável pelo que chamamos de realidades intangíveis, as mesmas realidades
das quais se pronunciou William James há mais de cem anos. D’Aquili e Newberg vão mais
fundo e apostam numa mente mística da qual falamos a seguir.

A mente mística

Para D’Aquili e Newberg, mente é o nome que se dá a realidades intangíveis


produzidas pelo cérebro humano. Estas múltiplas realidades têm a ver com o que de
fato criamos no mundo, por exemplo, as injustiças que praticamos e com as quais
nos debatemos a cada dia. Em linguagem religiosa estas realidades intangíveis seriam
exemplificadas pelos sentimentos: presença de Deus, solenidade diante do sagrado,
sensação de irrealidade, vida como dom e graça, paz de espírito, fusão com o todo.

Em outras palavras, todos aqueles elementos que Ralph W. Hood pesquisou em


seu Inventário de Misticismo ( que será apresentado a seguir).

Esses autores tentam demonstrar como a mente e o cérebro, quase a mesma


coisa para eles, têm condições intrínsecas para gerar estados místicos e nos fazer vivenciá-
los. Nesse sentido é válido usar o termo místico para referir-se ao que o cérebro de fato
faz.

Compreenderemos melhor certas experiências religiosas e místicas por meio


de conceitos da física quântica. Alguns experimentos comprovam o fato de o elétron
comportar-se, às vezes, como onda e, às vezes, como partícula fazendo com que os
cientistas o definam como onda e partícula sem ver nisto uma imprecisão. Assim se dá
com a experiência religiosa: ela é neurológica e bioquímica e igualmente é uma imagem INFORMAÇÃO:
mental e/ou espiritual. A ideia de mútua exclusão não
se aplica a experiências que
misturam medo e fascinação e
De modo semelhante ao elétron, mente e cérebro não são duas realidades são captadas por quem, de fato,
distintas, mas simultaneamente neurônios e imagens mentais. São a um só tempo teve experiências semelhantes.
A esse respeito, nas unidades
realidade mística e mental. seguintes falaremos do
sentimento oceânico, rejeitado
Ainda assim, não há ainda explicação para o fenômeno humano que insere por Freud que afirmava
desconhecê-lo em si mesmo
conteúdo e sentido em sensações corpóreas mesmo as mais elementares.

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31
Batatais – Claretiano
UNIDADE 3
Cursos de Graduação

Quando os neurocientistas afirmam que são os neurônios e os estímulos


eletroquímicos que produzem esses efeitos, parece-nos difícil reduzir aquilo que é irredutível
e que chamamos de mente mística ou meditativa. Esta transita além do cotidiano com
suas tarefas e metas e recheia a vida com entusiasmo e desejo de continuidade, quem
sabe para além da vida corpórea.

7 A pesquisa quantitativa contemporânea


Apresentamos a Escala M (de misticismo) de R. W. Hood, psicólogo contemporâneo
que leciona na Califórnia. Este estudo detectou três fatores com base em afirmações que
seriam confirmadas ou negadas pelos sujeitos da pesquisa. Os fatores 1 e 3 incluem
experiências respondidas de modo afirmativo ou negativo pelo sujeito. O fator 2 inclui
oito afirmações na linha de interpretações religiosas mais frequentes, com respostas
afirmativas e negativas.

R. W. Hood e seus colaboradores criaram também a Escala REEM (medição


INFORMAÇÃO:
Para conhecer mais sobre a de episódios de experiência religiosa) que ainda não teve uma adaptação ao Brasil. Mas
realidade brasileira e os avanços já percebemos avanços nas pesquisas sobre religiosidade individual ou grupal em várias
das pesquisas nas Ciências da
Religião e suas interfaces com universidades brasileiras.
a Teologia, consulte Teixeira
(2001); Guerriero (2004) e As frases referem-se ao conteúdo das perguntas dirigidas aos sujeitos da
Usarski (2007).
pesquisa. Encontram-se sem a interpretação estatística por não dispormos desses dados.
O intuito é o de elencar as possíveis experiências ou vivências relatadas pelos sujeitos
pesquisados e confrontá-las com aquelas já ouvidas ou vividas em primeira pessoa por
vocês, alunos deste curso (VALLE, 1998, p. 262-264; AVILA, 2007, p. 112-113).

Fator 1: misticismo de extroversão

As perguntas se referem às seguintes vivências:

1) Sentir-se absorvido no Todo como se fosse uma coisa só com esse Todo.

2) Sentir como se todas as coisas fossem vivas.

3) Sentir-se plenamente consciente de tudo.

4) Sentir a unidade do meu eu com todas as outras coisas.

5) Sentir como se o tempo e o espaço não existissem mais.

6) Sentir que todas as coisas do mundo faziam parte de um só todo.

Fator 2: Interpretação religiosa

As perguntas se referem a interpretações de vivências:

1) Experimentar uma alegria realmente profunda.

2) Experimentar um estado de paz total.

3) Experimentar um estado de santidade.

4) Experimentar que uma nova visão da realidade foi revelada.

5) Experimentar alguma coisa que pareça divina.

6) Experimentar uma realidade absoluta.

7) Experimentar que uma realidade me está sendo revelada.

8) Experimentar que tudo está perfeito em determinado momento.

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32 Claretiano – Batatais
UNIDADE 3 Cursos de Graduação

9) Experimentar a certeza de ser santo.

10) Experimentar algo que deixou em mim um sentimento de adoração.

11) Experimentar algo que deixou em mim um sentimento de admiração


infinita.

12) Experimentar que aspectos profundos da realidade me foram revelados.

Fator 3: Misticismo de introversão

As perguntas se referem a sensações corpóreas:

1) Experiência sem tempo e sem espaço.

2) Experiência impossível de ser descrita em palavras.

3) Experiência de ser absorvido por algo maior que eu mesmo.

4) Experiência de que tudo desapareceu de minha mente e que fiquei apenas


com a consciência de um vazio.

Neste tópico estudamos as recentes descobertas da neurofisiologia do cérebro que


nos ajudam a compreender as experiências religiosas de conversão e sua delimitação das
crendices e visões fragmentárias. Vimos também a possibilidade de elaborar questionários
e/ou escalas para quantificar experiências religiosas ou místicas. Estas experiências não
aparecem apenas de forma espontânea, mas são também induzidas em experimentos
científicos e pelas próprias religiões. (AVILA, 2007. p. 122-123)

8 CONSIDERAÇÕES
Poderíamos nos estender e apresentar outros autores da Psicologia da
Religião. Contudo, nosso objetivo não é esgotar o tema e sim abrir o caminho para que
vocês possam ter uma visão crítica e ir a busca de conhecimento cientificamente válido
a respeito da questão mais antiga da humanidade: o mistério da criação e a presença do
sagrado em todas as culturas.

Ainda com estes objetivos, convidamos você a estudar, na Unidade 4, o ATENÇÃO!


amadurecimento da religiosidade. Para enriquecer seus
conhecimentos, sugerimos a
leitura dos livros citados nas
Referências Bibliográficas e
a consulta dos sites indicado

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS na e - referência. Lembre-se


de que é fundamental para
seu crescimento pessoal e
ALETTI, M. A representação de Deus como objeto transicional ilusório. Perspectivas profissional que amplie sua
bagagem teórico-conceitual
e problemas de um novo modelo. In. PAIVA, G.J. e ZANGARI, W. A representação na com pesquisas e aproveite este
Religião: perspectivas psicológicas. P.19-50. São Paulo: Loyola. 2004. momento para eliminar eventuais
dúvidas com seu tutor.
AVILA, A. Para conhecer a psicologia da religião. São Paulo: Loyola. 2007.

CRUZ, E. R. Em busca de uma história natural da Religião. In. USARSKI, F. O espectro


disciplinar da ciência da religião. São Paulo: Loyola, 2007, p. 261-280.

DAMÁSIO, A. O erro de Descartes, emoção, razão e o cérebro humano. São Paulo:


Companhia das Letras, 1996.

______. The feeling of what happens: body and emotion in the making of consciousness.
New York: Harcourt Brace and Court, 1999.

D`AQUILI; E. G.; NEWBERG,A. B. Religious and mystical states: a neuropsychological


substrate. Zigon, n. 28, p. 177-200, jan. 1993.

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33
Batatais – Claretiano
UNIDADE 3
Cursos de Graduação

______. The mystical mind: Probing the Biology of Religious Experience. Minneapolis:
Fortress Press, 1999.

GUERRIERO, S. O estudo das religiões: desafios contemporaneous. São Paulo: Paulinas.


2004.

MAC LEAN, P. The triune brain, emotions and scientific bias. In: SCHIMITT, F.O. (Ed.) The
neuroscience: the second study program. New York: Rockfeller University Press, 1970.

______. TheTriune brain in evolution: role in paleocerebral functions. New York: Plenum
Press, 1990.

MARINO JR., R. A religião do cérebro: as novas descobertas das neurociências a respeito


da fé humana. São Paulo. Gente. 2005.

ORTEGA, F. Self e continuidade: entre Winnicott e William James. In BEZERRA JR, B;


ORTEGA, F. Winnicott e seus interlocutores. Relume Dumará, 2007, p. 126-165.

PAIVA, G.J. Representação da religião no encontro de culturas: o catolicismo na literatura


do escritor japonês Shusaku Endo. In. PAIVA, G. J.; ZANGARI, W. A representação na
religião: perspectivas psicológicas.. São Paulo: Loyola, 2004, p.113-127.

RIZZUTTO, A. M. O nascimento do Deus vivo: um estudo psicanalítico. São Leopoldo:


Sinodal. 2006

TEIXEIRA, F (org) A(s) Ciência(s) da Religião no Brasil. Afirmação de uma área academica.
São Paulo, Paulinas, 2001

UZARSKI, F. (Org.). O espectro disciplinar da Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas,


2007.

VALLE, E. Psicologia e experiência religiosa. São Paulo: Loyola, 1998.

________. Aconselhamento Psicológico e Aconselhamento Espiritual: contextualização


geral e um estudo de caso. In. ARCURI, I.G.; ANCONA-LOPEZ, M. (Org.). Temas em
psicologia da Religião. São Paulo: Vetor, 2007, p. 137-149.

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34 Claretiano – Batatais
UNIDADE 4
AMADURECIMENTO DA
RELIGIOSIDADE

Objetivos
• Apontar alguns autores que se preocuparam em apresentar
etapas ou estágios do amadurecimento da religiosidade.

• Reconhecer e interpretar as limitações e o alcance das


escalas de amadurecimento, mostrando a importância
dos fatores culturais e biográficos no amadurecimento da
religiosidade.

Conteúdo
• Escalas de amadurecimento religioso e/ou psicológico.
UNIDADE 4
Cursos de Graduação

ATENÇÃO!

1 INTRODUÇÃO
Ao iniciar seus estudos,
procure ter em mãos todos os
recursos de que irá necessitar,
tais como: dicionário, caderno
para anotações, canetas, lápis, Nesta unidade estudaremos o amadurecimento da religiosidade com base na
obras etc. Desse modo, você
poderá evitar as interrupções visão de alguns autores da Psicologia da Religião. É importante para você, aluno, saber
e aproveitar seu tempo para que a religiosidade vai se transformando ao longo da vida e tem a ver com o percurso ou
ampliar sua compreensão. Pense itinerário de cada pessoa inserida em seu ambiente histórico-cultural. As relações com
nisso...
pessoas e grupos significativos vão modelar seu amadurecimento psicoespiritual.
INFORMAÇÃO:
Escalas são recursos Alguns autores utilizam escalas, outros fazem descrições de etapas ligadas a
pedagógicos que não devem
tirar o psicólogo da religião de períodos da vida. Todos os autores tem em comum a clareza da contínua mobilidade do
sua intenção de compreender pensar e sentir religioso e da influência das experiências vividas e refletidas. Mais adiante
cada indivíduo em sua
peculiaridade histórica e
no curso vocês terão a disciplina específica que tratará deste tema. Para o momento, farei
cultural. Escalas ajudam, se apenas uma introdução para que você aluno perceba a importância da formação para
usadas de modo reflexivo e se atingir a religiosidade madura. Lembre-se que na Unidade 3 Allport se referia a uma
qualitativo com a certeza de que
o amadurecimento religioso é, religiosidade intrínseca em oposição à religiosidade extrínseca. É isto mesmo que você
em si, permeado de quedas e comprovará, ou seja, que a religiosidade intrínseca pode e deve ser construída com base na
avanços, perdas e retomadas de
fé e sentido ao longo da biografia formação, do ensino religioso e da elaboração das experiências religiosas vividas.
de cada um.
(1) Mauro Martins Amatuzzi: Antoine Vergote, conhecido por você na Unidade 3, reafirma ao longo de sua
psicólogo e psicoterapeuta obra que o nascimento da ideia de Deus não brota espontaneamente por germinação
contemporâneo, de linha
fenomenológica, baseou-se em espontânea. Sem um mínimo de educação religiosa não há como se avaliar ou elaborar
Fowler, mas também em Erick sequências de desenvolvimento nesta área. O que de fato precisamos é aprofundar o
Erickson. É um estudioso da conhecimento de casos concretos e resultados obtidos por questionários e/ou relatos de
religiosidade professor da PUC de
Campinas-SP e será apresentado experiências e assim nortear a preparação de roteiros catequéticos cada vez mais eficazes,
a vocês na Unidade 6. que gerem uma participação consciente na comunidade religiosa na qual o indivíduo se
(2) Erik Homburger Erikson insere.
(Frankfurt, 15 de junho de 1902
— Harwich, 12 de maio de 1994) A religiosidade vista como algo inerentemente humano anda em paralelo com
foi um psiquiatra responsável
pelo desenvolvimento da o desenvolvimento fisiológico, respeitando-se a história e o meio cultural do indivíduo.
Teoria do Desenvolvimento Assim, a religiosidade presente nas escalas é aquela religiosidade sadia que ajuda a
Psicosocial na Psicologia e
um dos teóricos da Psicologia compor a totalidade do amadurecimento humano.
do desenvolvimento. Nasceu
em Frankfurt-sobre-o-Meno, Podemos observar que vários autores se ocuparam da evolução do sentimento
Alemanha, em 15 de Junho de
1902. Começou a sua vida como de fé e da sua inserção na personalidade total. Seguramente, a escala de Fowler (1992),
artista plástico. Em 1927, depois além de ser a mais conhecida, baseou-se em observação direta, o que dá maior alcance
de estudar arte e viajar pela
Europa, passou a lecionar em
a seus resultados.
Viena a convite de Anna Freud,
filha de Sigmund Freud. Sob Mauro Martins Amatuzzi1 em sua escala prioriza a ideia de passagem para
orientação dela, submeteu-se
à psicanálise e tornou-se ele compreender as progressões e eventuais regressões da evolução do senso religioso.
próprio psicanalista, embora Baseia-se em Erik Erickson2 que fala em polos antagônicos a serem superados, mas
tenha tecido criticas à psicanálise
por esta não ter em conta as
prefere a ideia de passagem de uma etapa à outra.
interações entre o individuo e o
meio, assim como por privilegiar
os aspectos patológicos e

2 ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO DA FÉ SEGUNDO


defensivos da personalidade.

(3) James Fowler é um


conhecido pesquisador dos FOWLER
estágios pelos quais passa a
evolução psico-religiosa em
sociedades complexas como
Fowler3 (1992) estabeleceu uma distinção entre fé (faith), crença (belief) e
a norte-americana. É um dos religião (religion).
principais estudiosos da “teoria
do desenvolvimento da fé”.
Usando no título de seus livros Segundo Fowler (1992), a “fé” é um traço genérico de todos os seres humanos que
a palavra “fé” ele sentiu a não deve ser confundida com “crença” e “religião”, duas expressões que freqüentemente
necessidade de explicar o que
são usadas como se fossem sinônimas de fé.
entende mais exatamente, como
psicólogo, sobre esta palavra.

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36 Claretiano – Batatais
UNIDADE 4 Cursos de Graduação

Desse modo, é preferível guardar o termo “crença” para o assentimento


intelectual que se dá aos aspectos doutrinais e ideológicos enfatizados pelas religiões e
igrejas. A crença está relacionada às circunstâncias históricas e culturais de cada grupo
ou instituição religiosa, algumas antigas, outras recém-surgidas sob a forma de “novos
movimentos religiosos”, difusos e aparentemente não impositivos, mas incisivos em propor
crenças próprias bastante pregnantes.

As crenças enquanto assentimento pessoal às verdades e dogmas de um


determinado grupo têm a ver com a fé do sujeito, um modo de atualização da fé que
existe potencialmente em cada um.

A atitude de fé inclui, sobretudo, dinâmicas profundas e muito parcialmente


conscientes. Tem raízes no inconsciente da pessoa. Sua natureza é afetiva e emocional,
mais que cognitiva. É algo que decorre da percepção existencial única de cada um, VOCÊ SABIA QUE...
Nos últimos anos, alguns
eminentemente idiossincrática. psicólogos da religião, têm
insistido na utilidade de mudar
Desse modo, com o termo “fé”, Fowler (1992) designa algo único e próprio de o nome de “Psicologia da
Religião” para o de “Psicologia
cada pessoa. A “fé” em nossa cultura Ocidental cristã inclui quase sempre elementos da Espiritualidade”, exatamente
transmitidos pelas religiões, porém, pode existir sem se apoiar no religioso. porque constatam que hoje
em dia muitas pessoas têm
uma espiritualidade (uma fé)
De modo inclusivo e amplo, a fé é um processo subjacente à formação das sem, contudo, aderirem a essa
crenças, valores e significados que podem ter origem na religião, mas que se ancoram em ou aquela religião. Alguns
se apresentam até como
percepções e vivências do sujeito, mais afetivas que cognitivas. A fé, psicologicamente formalmente ateus, mas afirmam
falando, diz Fowler (1992): ter uma fé natural.

Fé é a categoria mais fundamental da busca humana de relacionamento com


a transcendência seja ela religiosa ou não. É uma orientação da pessoa total,
dando propósito e alvo para as lutas e esperanças, para os pensamentos e
ações das pessoas (...) é uma forma ativa de ser e comprometer-se, um meio
para adentramos e modelarmos novas experiências de vida (...) é sempre
relacional, sempre há um outro na fé .

Deve ser entendida em seu sentido grego original (da palavra “pisteuo”) que
quer dizer “eu confio, me comprometo, coloco todo o meu coração, empenho minha
felicidade”. Assim, a fé não é uma postura abstratamente derivada das verdades teológicas
reveladas e não pode ser separada da vida como se fosse um espaço compartimentado.

Para Fowler (1992), a fé:

1) propicia uma orientação coerente à vida da pessoa como um todo;

2) faz a pessoa se sentir ligada aos outros por vínculos de confiança e lealdade;

3) permite que o que é pessoal na vida tenha uma referência com um horizonte
maior de sentido;

4) permite à pessoa lidar de maneira adequada e criativa com os limites que


a vida traz sempre consigo, relacionando essas inevitáveis limitações a algo
maior que abre espaço para um sentido transcendente e último.

Observe a seguir os estágios da fé (Ávila, 2007. p. 179-181 e Valle, 1998. p. 272):

1) Fé primal (in utero e nos primeiros meses após o nascimento): esta fase
envolve o início da confiança emocional e constitui a base do desenvolvimento
posterior da fé.

2) Fé intuitiva/projetiva (primeira infância): neste segundo estágio a


imaginação articula-se à percepção e aos sentimentos para criar imagens
religiosas de longa duração. A criança se torna consciente do sagrado, das
proibições e da existência das normas morais.

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37
Batatais – Claretiano
UNIDADE 4
Cursos de Graduação

3) Fé mítica e literal (no período da escola do primeiro grau): corresponde ao


estágio das operações concretas de J. Piaget que possibilita o pensamento
lógico e a ordenação do mundo. A criança aprende a distinguir a fantasia e o
real e tem condições de perceber a perspectiva dos outros. Apresenta grande
aceitação das crenças e símbolos.

4) Fé sintética/convencional (início da adolescência e puberdade): a


confiança desloca-se para as idéias abstratas do pensamento lógico formal,
que leva a criança à sede de um relacionamento mais pessoal com Deus. A
reflexão sobre as experiências passadas, as preocupações com o futuro e o
estabelecimento de relações mais pessoais contribuem para o surgimento de
uma perspectiva dialogal e a construção de um mundo baseado em pontos
de vista e em valores do mesmo tipo.

5) Fé individualizada e reflexiva (fim da adolescência e início da vida


adulta): dá-se uma reconstituição e exame crítico dos valores e crenças,
inclusive uma mudança do apoio em autoridades externas para um apoio
mais interno a pessoa. Isto leva a compromissos assumidos conscientemente
e à emergência de um executive ego.

6) Fé conjuntiva (na meia idade e além): este estágio permite a conjugação


de opostos, por exemplo, a compreensão de que cada indivíduo é ao mesmo
tempo jovem e velho, masculino e feminino, construtivo e destrutivo.
O “conhecimento dialógico” possibilita uma abertura para múltiplas
perspectivas do mundo em sua complexidade. Isto permite à pessoa ir além
dos limites da fé alcançada no estágio cinco e a apreciar a verdade em sua
multidimensionalidade e interdependência orgânica.

7) Fé universalizante (sem idade específica): o estágio final envolve a


experiência de unidade com o poder do ser e de Deus, um compromisso
ATENÇÃO!
Para saber mais sobre a fé e
com a justiça e o amor e a superação da opressão e violência. Pessoas que
seus estágios, sugerimos que alcançam este estágio vivem como se o reino do amor e da justiça estivesse
você acesse sites de busca de realmente entre nós e tendem a interpelar as demais por sua atitude em
sua preferência. É fundamental
para sua aprendizagem que você relação “ao reino da justiça e da paz”.
amplie seus conhecimentos por
meio de pesquisas pessoais e da
interação com seus colegas de

3 DESENVOLVIMENTO RELIGIOSO SEGUNDO aMATUZZI


curso. Pense nisso...

Amatuzzi (1999, p. 123-140), autor contemporâneo, cuja teoria baseia-se em


Erick Erickson e em Fowler, porém, diferente de Erickson, prefere a ideia de passagem de
etapas, sendo contrário aos conflitos entre duas polaridades. Baseia-se na confiança inicial
nas primeiras etapas da vida e na fenomenologia, dando fundamental importância às
experiências religiosas vividas pelo sujeito. Utilizando uma linguagem coloquial apresenta
as seguintes etapas:

1) Primeira etapa: o bebê (até um ano de vida) tem como principal tarefa
passar do sonho a realidade e descobrir um mundo objetivo fora de si
mesmo. Para isso, a experiência necessária é a da confiança em relação aos
pais (ou substitutos), a quem o bebê se entrega mesmo sem ter consciência.
É a base para as formas mais evoluídas de religião e adesão a um grupo, pois
haverá no futuro uma associação entre esta experiência e aquela em quem
se filia a um credo.

2) Segunda etapa: a criança (aproximadamente de um a seis anos), além


de superar a possessividade, tem um novo desafio. É a transformação do
símbolo em linguagem, pois a linguagem é o interpessoal e permite um
afastamento do mundo, um olhar de recuo, um dirigir-se ao outro.

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38 Claretiano – Batatais
UNIDADE 4 Cursos de Graduação

A confiança básica se expressa agora pela mediação simbólica da linguagem por


meio de duas situações:

• a linguagem sendo convencional não se relaciona aos verdadeiros símbolos da


criança, mas levará a uma religião também convencional.
• a linguagem quando for conectada com experiências simbolizadas pela criança,
o resultado será de amadurecimento da fé.
3) Terceira etapa: a criança (de sete a onze ou doze anos) tem como tarefa
adquirir habilidades e desenvolver competência própria. O desafio é tornar-
se capaz de fazer, de realizar. Precisa de experiências de coragem, ousadia,
iniciativa. Nesta etapa, a criança começa a compreender o sentido das
histórias. A religião continua sendo a dos pais, porém é compreendida e
permite identificações com personagens, o que ajuda a construção de
sua identidade. Se a religião dos pais é vivida com autenticidade, então o
menino/a poderá crescer com tranqüilidade na religião de origem.
4) Quarta etapa: o jovem (adolescente) deve partir em busca do que ele é
de fato. Deve fazer escolhas que passe pelo grupo: só é bom aquilo que é
bom para o grupo. Ele confia no grupo tanto quanto confiou em sua família
de origem.Ele compreende o valor da comunidade concreta de pessoas, os
irmãos de fé, e precisa ser do grupo para assim, libertar-se da família de
origem e criar sua própria identidade. Com freqüência, segue o grupo sem
ter absoluta convicção do por que o faz.
5) Quinta etapa: o jovem adulto (de dezoito a vinte e cinco anos) começa
a desenvolver a experiência de intimidade, os vínculos devem ser mais
pessoais e a manutenção no grupo já não satisfaz totalmente o jovem adulto.
A confiança precisa se escorar no vivido e experimentado e a fé deve ser
crítica e fundamentada para que haja sustentação.
6) Sexta etapa: o adulto (entre os trinta e cinco e quarenta anos) deve abrir-
se para a criatividade e fecundidade, criar novos modos de relação no grupo
religioso para que a fecundidade não se transforme em esterilidade (o desafio
é harmonizar os opostos). Nesta etapa, re-significar a confiança básica nada
mais é que, identificar-se com um projeto universal em que o adulto creia e
coloque suas energias a serviço. Quando ocorrem mudanças radicais nesta
etapa, estas são devidas à falhas em etapas anteriores que emergem, pois o
momento é de adesão e compromisso.
7) Sétima etapa: o adulto maduro (entre os trinta e cinco e sessenta anos)
precisa descobrir um novo sentido para tudo. Precisa passar do tédio à
verdadeira liberdade, pois esta etapa traz uma segunda crise vocacional. O
adulto vive mudanças drásticas como perdas, doenças e a confiança básica,
adquirida nas etapas anteriores, deve impulsioná-lo para conquistar o
presente com suas alegrias. As normas externas são relativizadas, a religião
se torna mais uma filosofia de vida e, os ritos meros instrumentos.
8) Oitava etapa: o ser humano maduro (depois dos sessenta) é chamado a
aprofundar a libertação, pois as perdas tornam-se mais significativas: entes
queridos, a saúde etc. A experiência é de desapego sobre a confiança. O
idoso ficará mais ranzinza se não estiver de bem com a divindade.

4 ESTÁGIOS DA VIDA E A PROVIDÊNCIA DIVINA: VISÃO


JUNGUIANA
INFORMAÇÃO:
Jung utiliza a palavra individuação para indicar o processo de amadurecimento Jung compara desenvolvimento
psicológico ao nascente e poente
contínuo em direção à integração que acompanha o ser humano desde o
do sol, e acredita que, partindo
momento em que é gerado até a morte. deste ciclo, se torna melhor a
compreensão das configurações
de Deus ao longo da vida.

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39
Batatais – Claretiano
UNIDADE 4
Cursos de Graduação

A visão Junguiana apresenta o conceito de função transcendente a qual permite


que o indivíduo integre as diferenças, os conflitos da primeira metade da vida. Por meio dos
símbolos da psique (sonhos, imagens, vivências especiais) é que a função transcendente se
realiza e favorece a individuação. Os estágios ou etapas são (BRYANT, 1996. p.63-79):

1) Primeira etapa – Infância: é a manhã de um dia ensolarado. A criança é


dependente do ambiente, não tem consciência de suas motivações e vive na
atmosfera psíquica de seus pais. A criança se desenvolve e se apresenta ao
mundo.

2) Segunda etapa – Juventude: representa o período da tarde. É a etapa


em que temos maior produtividade, construímos nossa autonomia, nossa
profissão, realizamos escolhas que podem nos acompanhar por toda a vida.

3) Terceira etapa – Maturidade: nesta fase vislumbramos o anoitecer.


(4) Jung nomeia o tempo Queremos rever conceitos e acelerar as atividades para fazer o que ainda
vivido na terceira etapa não pudemos fazer por falta de tempo e disposição. O homem desejará
como metanoia. Esta se dá
na metade da vida e gera viver seu lado mais feminino e a mulher o inverso. Jung nomeia este tempo
preocupações com as medidas de metanoia4. A finalidade de estar no mundo é questionada e entendida
a serem tomadas para que a
velhice tenha um sentido de
como causa. A causa passa a estar no futuro e não no passado. Ou ao menos
transcendência. É a hora de deveria ser assim se a neurose não congelar o passado e impedir a pessoa
perguntar para que em oposição de projetar-se para o futuro.
ao por que da criança.
4) Quarta etapa – Velhice: o dia escureceu. A inserção na cultura, no
cuidado social, nas artes e na Religião darão ao indivíduo a compreensão
de sua transcendência. Pelo fato desta etapa se encontrar no escurecer é o
momento de iluminar-se internamente, apesar de que nem todos conseguem
e frequentemente se apegam ao passado. Quando as fases anteriores não
foram elaboradas, a pessoa não encontra forças para enfrentar o presente e
afirmar-se como ser transcendente.

Permanecer na inconsciência própria da infância é que faz com que as pessoas


continuem vendo Deus como castigo, repressor dos desejos, um tirano a quem se deve
prestar tributos.

A individuação não se dá espontaneamente. Se apenas deixarmos o tempo


passar não nos tornaremos sábios e sim velhos.

Se compreendermos melhor a fase do vislumbramento e nos direcionarmos


para o futuro ancorados em experiências com o divino, o processo de individuação será
completado e não temeremos a morte como um fim tenebroso e sim como a redenção
para nossa luta ao longo da vida.

(5) Piaget (1896-1980)


dedicou seus estudos a área
de psicologia, epistemologia
e educação. Nascido em
Neuchâtel, Suiça, lecionou
5 FASES DO DESENVOLVIMENTO DA INTELIGÊNCIA E SUAS
psicologia na Universidade
de Genebra. Na Sorbonne,
IMPLICAÇÕES PARA O ENSINO RELIGIOSO SEGUNDO
trabalhou com com A. Binet em PIAGET5
substituição a T. Simon, o que
lhe possibilitou elaborar escalas
e desenvolver suas idéias. Foi O conhecimento, segundo a teoria de Piaget, dá-se por assimilação e acomodação
diretor do Instituto J. Rousseau dos estímulos ambientais ao meio interno.
(Genebra) e entre 1929 e
1939 foi diretor da Agência
Internacional de Educação. Desse modo, o ensino religioso deve suscitar vivências religiosas para facilitar a
assimilação da teoria com a prática e devemos sempre ajudar a criança a ter contato com
o absoluto, respeitando seu amadurecimento psiconeurológico.

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40 Claretiano – Batatais
UNIDADE 4 Cursos de Graduação

Outro fato a ser compreendido é a evolução da moral na criança. Pois, até mais (6) “Anomia é um estado de
dissonância cognitiva que justifica
ou menos quatro anos, a criança não possui a compreensão de algo parecido com as a ausência de Organização,
normas de um grupo ou instituição. não sendo organizado, ou
seja, um estado caótico. Do
ponto de vista da Sociologia é
Tendo um pensamento pré-operatório, a consciência baseia-se nas suas o enfraquecimento das normas
necessidades motoras e em suas fantasias. Esta 1ª etapa da anomia6 envolve a fase sociais de um povo ou grupo
social; esta desorganização
perceptivo motora e parte da fase pré-operatória. Nesta etapa ela cumpre as normas não enfraquece a integração dos
como um ato moral, mas para evitar o castigo. indivíduos, deixando-os sem
saber como agir, ficando sem
uma regulamentação por um
A 2ª etapa da heteronomia é vivida pela criança até cerca de nove a dez período de tempo, indeterminado
anos, envolvendo o final da 2ª e a totalidade da 3ª etapa. Nesta fase, os grupos passam ou determinado” (WIKIPÉDIA,
2007).
a ter significado e a criança entende que as regras foram construídas por alguém e,
eventualmente, são atribuídas a Deus, pois a criança vê a autoridade como autora das
normas.

As regras são consideradas sagradas e imutáveis e há um respeito quase


religioso por elas. É como se fossem imutáveis tais como as leis da física já que seu
pensamento é operatório e concreto.

Como as crianças não têm ainda noção do relativo, não percebem que uma falta
grave, se for realizada sem intenção, pode ser menos sancionada que outra menos grave
praticada intencionalmente.

A 3ª etapa é a fase da autonomia que favorece a saída do realismo moral.


As normas passam a ser percebidas como consenso de certos grupos e não como algo
absoluto. A criança passa a perceber também a intencionalidade dos atos.

Piaget supõe que o desenvolvimento moral se consolide nesta etapa que se


inicia na 4ª e se conclui na 5ª, no período da puberdade e início da adolescência.

Até a puberdade, apesar do amadurecimento não permitir julgar o que é certo


e errado para si e para os outros, a criança deve ser trabalhada para fazer escolhas
e optar pelo que lhe parece melhor em função de suas necessidades e respeitando as
necessidades dos outros.

Nas relações interpessoais se fala em coação ou cooperação para o cumprimento


das regras de bom convívio.

A relação com os pais é assimétrica, mas pode ser movida pela cooperação. Esse
fato também ocorre no ensino religioso que, por exemplo, ensinará sobre a impropriedade
de sanções que causam sofrimento desnecessário a quem viola as leis.

A evolução moral se dá mais com a cooperação que com a coação. Assim, o bem
aparecerá como um desejo e uma aspiração. Enquanto a coação forneceria um modelo, a
cooperação forneceria um método.

Igualmente, precisamos ficar atentos para não cair num racionalismo indevido
já que o ensino religioso inclui necessariamente também os afetos e devoções, medo e
(7) Heteronomia é um conceito
amor, próprios de qualquer ser humano diante do Absoluto.
criado por Kant significando
as leis que recebemos. Ao
Para Piaget, agimos moralmente quando guiados pela razão e pelo afeto. O contrário de autonomia, consiste
na sujeição do indivíduo à
sentimento do sagrado, associado inicialmente à etapa da heteronomia7, deve evoluir para vontade de terceiros ou de
uma autonomia que implique a fazer escolhas sobre os desejos e sobre as condutas. uma coletividade. É conceito
básico relacionado ao Estado de
Direito, em que todos devem se
Com os avanços da psicologia de religião sabemos que a idéia de Deus pode e submeter à vontade da lei.
deve ir se transformando ao longo do tempo por meio da formação religiosa adequada e do

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41
Batatais – Claretiano
UNIDADE 4
Cursos de Graduação

processo de amadurecimento humano. O Deus da infância é da ordem da necessidade, das


fragilidades, das sanções e, se bem trabalhado vai se transformar em desejo de Deus.

Segue as etapas do desenvolvimento segundo Piaget:

1) Primeira etapa – Perceptivo motora (de 0 a dois anos): A criança aprende


pela exploração sensorial. Há uma interdependência entre a capacidade de
aprender e o desenvolvimento da inteligência. A criança aprende, também,
por meio da formação religiosa as propriedades dos objetos (como são) e as
funções (para que servem).
INFORMAÇÃO:
Em uma de suas obras, Os atos instintivos da etapa que faz a criança captar o mundo são: pegar, sugar
Allport ( conhecido por vocês e olhar. Como diria Allport, Deus ainda é parecido com um ursinho de pelúcia ou mesmo
na UNIDADE 3) compara a uma pequena almofada ou cobertorzinho que consola o infante (in-fans: aquele que ainda
imagem de Deus com a de
um Papai Noel que presenteia não fala) em seus momentos de fragilidade.
como conseqüência do bom
comportamento e, igualmente, 2) Segunda etapa – Representativa pré-operatória (de dois a sete
pune ou sanciona o mau anos): A criança adquire a função simbólica de representar a realidade
comportamento.
mentalmente sem abandonar seu ponto de vista. Fala-se de irreversibilidade
do pensamento. Dificilmente acreditará que Deus é bom se seu pai ou mãe
ou ambiente em que vive são ruins.

A compreensão desta fase é fundamental não só no Ensino Religioso, mas


também na catequese e no trabalho pastoral. A religião deve se vincular à realidade e
oferecer a possibilidade de transformar esta mesma realidade.

A vida é como se apresenta à criança e a única ferramenta para transformarmos


sua visão é fazê-la sentir esperança, alegria, desejo de cooperação e comunicação.

3) Terceira etapa – Inteligência operatório concreta (de sete a 11 anos):


Nesta fase ocorre o alargamento da experiência. A criança compreende
que há multiplicidade de pontos de vista e, portanto, reversibilidade do
pensamento.

É uma fase de extrema importância, pois muita coisa poderá ser ensinada neste
período e o que aprender servirá como base para qualquer experiência ao longo da vida.

Diferentemente da segunda etapa, compreenderá a idéia de Deus como bondade


a partir de experiências novas, mesmo que seu pai tenha sido insatisfatório.

Passa a realizar dois tipos de operação: temporais (medida, tamanho, quantidade


e duração) e Lógicas (classificação, número e encadeamento).

4) Quarta etapa – Inteligência operatório abstrata (de 11 a 15 anos):


O/a menino/a amadurece a capacidade de trabalhar conceitos e realidades
abstratos e pode fazer generalizações.

Diferentemente das fases precedentes, nesta etapa ela pode deduzir com base
em realidades abstratas, ou seja, aplicar conceitos teóricos a realidades concretas. Se a
criança não foi devidamente estimulada psicológica e pedagogicamente até esta idade
encontrará dificuldades e/ou certa demora em captar novos conceitos.

6 CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final da Unidade 4, a qual tratou de conceitos relevantes em relação
ao amadurecimento da religiosidade, considerando algumas escalas de amadurecimento
religioso e/ou psicológico. Estes temas serão aprofundados em disciplina específica mais
adiante no curso.

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42 Claretiano – Batatais
UNIDADE 4 Cursos de Graduação

A reflexão apenas se iniciou aqui e autores contemporâneos continuam


se preocupando com o assunto, cientes da influência do contexto sócio-cultural no
amadurecimento da religiosidade.
ATENÇÃO!
O amadurecimento da
religiosidade é um tema amplo e

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS profundo. Assim, para se manter


atualizado, sugerimos que leia
as obras e consulte os sites
AVILA, A. Para conhecer a psicologia da religião. São Paulo: Loyola. 2007. referenciados, além de realizar
pesquisas freqüentes sobre eles.
AMATUZZI, M. M. Desenvolvimento psicológico e desenvolvimento religioso: uma hipótese
descritiva. In. MASSIMI M.; MAHFOUD, M. Diante do Mistério. São Paulo: Loyola, 1999,
p. 123-140.

BRYANT, C. Jung e o cristianismo. São Paulo: Loyola, 1996.

CATALAN, J. F. O homem e sua religião. São Paulo: Paulinas, 1999.

FOWLER, J. W. Estágios da fé. São Leopoldo: Sinodal, 1992.

PAIVA, G.J.; ZANGARI, W. A representação na religião: perspectivas psicológicas. São


Paulo: Loyola. 2004.

PIAGET, J. O julgamento moral na criança. São Paulo: Mestre Jou, 1977.

VALLE, E. Psicologia e experiência religiosa. São Paulo: Loyola, 1998.

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43
Batatais – Claretiano
Anotações
UNIDADE 5
A VISÃO DA PSICANÁLISE

Objetivos
• Conhecer os conhecimentos ligados ao conceito de
ilusão.

• Compreender a psicanálise como uma vertente da


Psicologia, porém, não a única.

Conteúdos
• Ilusão na psicologia da religião.

• André Godin.

• Espaço transicional da ilusão em Winnicott.

• Ana Maria Rizzuto.

• Mario Aletti.
UNIDADE 5
Cursos de Graduação

ATENÇÃO!

1 INTRODUÇÃO
Para atingir, aos objetivos que
nos propomos para esta unidade,
é importante que participe
ativamente do estudo. Lembre-
se de que a aprendizagem com Como já vimos na Unidade 1, sempre houve divergências de opinião dos
a utilização de vários sentidos:
visão, audição e tato – facilita a estudiosos da alma humana em relação à religiosidade. As ideias de Freud e, sobretudo,
aprendizagem dos conteúdos. seu artigo O futuro de uma ilusão de 1927 faziam referência à religião como algo próprio
Assim, procure estabelecer
contato com o material por meio de pessoas frágeis e ainda, que o saber científico suplantaria a necessidade da mesma.
de tantos meios sensoriais
quantos forem possíveis: Para ele ilusão é uma crença fundada no desejo delirante de estarmos sempre
a) leia o texto, depois faça uma
revisão preferencialmente em em estado de equilíbrio e bem estar.
voz alta a fim de organizar os
seus pensamentos;
b) após compreender o texto, Sigmund Freud (1856-1939) judeu, filho de rabino, neurologista de formação
estabeleça conexões entre os organicista estava imbuído do espírito de sua época que postulava a soberania da ciência
temas e a sua realidade.
c) faça a síntese dos textos,
em detrimento dos conhecimentos ligados à tradição. Mostrou claramente a associação
usando técnicas de redução que fazia entre patologia e Religião.
do texto, como por exemplo:
resumos, resenhas, mapas
conceituais etc. Foi com base em seus pacientes (pessoas adoecidas) que elaborou seus conceitos
d) procure enriquecer as e a aplicação da psicanálise para outras áreas do saber.
anotações com sua
contribuição pessoal.
No artigo de 1907 relacionava sintomas obsessivos a práticas religiosas. Hoje
INFORMAÇÃO:
Sigmund Freud apesar de em dia temos uma melhor compreensão dos fatos e sabemos que o transtorno obsessiva
ter estudado Antropologia e compulsivo é a associação de uma ideia obsessiva (por exemplo: sentimento de culpa)
Mitologia ignorou a importância
dos ritos e da vivência do a um ou vários comportamentos compulsivos (na nossa realidade católica, seria, por
sagrado na constituição do ser exemplo, acender velas, rezar o terço inúmeras vezes ou mesmo buscar a confissão) que
humano integrado. Hoje sabemos
que a Religião, fenômeno visam diminuir a angústia.
presente em todas as culturas
das quais temos conhecimento,
fornece ao indivíduo e ao grupo a
Certamente trata-se de uma patologia que causa sofrimento e merece cuidados
possibilidade de humanizar-se e e tratamento adequado. O que não se pode, com os conhecimentos que hoje possuímos
ter acesso ao desejo de encontro
considerar que, qualquer prática religiosa seja doentia.
com a divindade, como sagrado
em qualquer uma de suas formas
culturalmente disponíveis. Williiam James já havia intuído e comprovado com base no estudo sistemático
INFORMAÇÃO: de casos concretos que a religiosidade pode ser sadia (healthy mind) ou doentia (sick
O manual CID 10: Classificação soul), como você pôde aprender na Unidade 2.
Estatística Internacional
de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde elenca
esta doença de alta incidência
na atualidade.. Para consultá- Religiosidade em si é um modo próprio de ser do humano e carrega o potencial
lo na íntegra, acesse o site da saúde e da doença, dependendo dos vários fatores envolvidos na história
referenciado a seguir. DATASUS. pessoal e social de quem vive a experiência.
CID 10. Disponível em: <http://
www.datasus.gov.br/cid10/
webhelp/cid10.htm>. Acesso em:
31 jul. 2009. Carl Gustav Jung (1875-1961) cedo se revelou um dissidente das ideias do
(1) Numinoso: sentimento mestre. Para ele, a experiência religiosa é o encontro com o numinoso1 que põe o indivíduo
único vivido na experiência do em contato com suas esferas mais profundas, com o inconsciente coletivo (AVILA, 2007,
sagrado, em que se confundem
a fascinação, o terror e o p. 43). Como psicólogo, o objeto de seu estudo não é afirmar ou não a existência de Deus,
aniquilamento. mas sua presença e influência no homem que crê (AVILA, 2007, p. 43).
ATENÇÃO!
Para aprofundar seus O pastor e psiquiatra Oskar Pfister escreveu em 1928, uma celebre resposta
conhecimentos sobre este tema
ao ensaio escrito por Freud em 1927: O futuro de uma ilusão intitulado A ilusão de um
leia a obra: WONDRACEK, K.
O futuro e a ilusão: um embate futuro. Devido a sua grande amizade com Freud e a seriedade com que rebateu sua posição
com Freud sobre psicanálise e antirreligiosa teve seu artigo publicado por indicação do próprio Freud. Você pode ter acesso
religião. Rio de Janeiro: Vozes,
2003. Nesse livro vários autores a ele no livro organizado por Karen Wondracek (Wondracek, 2003. p. 17-56).
se debruçam sobre o embate
entre Freud e Pfister. Vale a pena Ao que parece Freud considerava muito as ideias de Pfister e, respeitava-o como
conhecer as demais posições
expressas nos 14 artigos sob os amigo, como figura de importância para seus filhos que o tratavam como um tio querido.
mais variados enfoques.

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46 Claretiano – Batatais
UNIDADE 5 Cursos de Graduação

Com formação em Teologia, Pfister soube dialogar e mesmo enfrentar Freud em suas
posições fechadas em relação a quem tem fé.

Com base em sua resposta abriu-se um vasto campo para a interlocução sobre
o tema da ilusão na leitura psicanalítica da religiosidade humana.

Bons estudos!

2 ILUSÃO NA PSICOLOGIA DA RELIGIÃO


A princípio é importante sabermos que, para Freud, ilusão é uma crença
fundada no desejo. Portanto, em sua linha de raciocínio, o pensamento ilusional renuncia
a validação da realidade e com o avanço das ciências e das pesquisas empíricas não tem
outro futuro senão sua eliminação.

Ao prevalecer a realização do desejo, a crença não pode ser confirmada e


tampouco negada. Não seria então tema para quem está ocupado de assuntos científicos.
Ilusão, para Freud, é vista como um procedimento enganador, um autoengano da psique,
que se recusa a aceitar a realidade tal como se apresenta ao intelecto do homem.

Por muito tempo adormecido, o conceito de ilusão reaparece com o


desenvolvimento da Psicanálise e das relações objetais ou objetuais.

Superando a visão freudiana que considera a pulsão ou libido aquilo que leva o
ser humano ao amadurecimento, a psicanálise das relações objetais considera o ambiente
um meio facilitador do amadurecimento humano. Assim, não seria somente o desejo
ilusional de proteção que faria as pessoas buscarem a religião, ter fé. A religiosidade
teria também outras razões e sentidos próprios e mesmo a ideia de ilusão passa a ser
considerada como algo positivo que nos faz ter acesso ao intangível pela via da criatividade
e da imaginação.

Donald Wood Winnicott, inglês, falecido em 1971, um dos mais significativos


psicanalistas do mundo contemporâneo, percebeu que havia uma terceira via: não era
preciso dividir as experiências em reais ou falsas. No mundo da ciência positiva, só era
considerado real o visível e mensurável. Já no mundo das ciências humanas poderíamos e
deveríamos pensar de modo diferente, isto é, o invisível também é real.

Winnicott afirmou ainda que há um mundo ou espaço transicional que


intersecciona a realidade externa do mundo e a realidade interna do sujeito. Neste espaço
se dá o brincar da criança e também as produções culturais e, de modo particular em
nosso estudo, a religião.

Este espaço permite criar e recriar um mundo melhor com características


absolutamente aceitáveis e reconhecidas como realidade. A ilusão passa a ser vista não
mais como produto delirante do inconsciente, mas como via de acesso ao real e ao mundo
compartilhado.

A ilusão se instaura na criança em torno da experiência da mãe com seu bebê,


que dele cuida com tanto zelo que o faz vivenciar uma realidade isenta de dissabores e/
ou conflitos fazendo supor que o mundo real é bom. Este modo privilegiado de acesso ao
real configurará o gesto criativo da criança e também as imagens ou representações de
Deus.

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47
Batatais – Claretiano
UNIDADE 5
Cursos de Graduação

Esta mesma ilusão oferece uma explicação aos desvios gerados por situações
traumáticas e de abandono vividas nas primeiras etapas da vida. Estas experiências
influenciariam a vivência saudável da religião e, igualmente, incidiriam nos comportamentos
e atitudes religiosas doentias.

Freud sempre teve dificuldade para incorporar o fato religioso com a vida
cotidiana e não se deu conta que os rituais das religiões diferem dos rituais obsessivos
das pessoas doentes.

Nos tópicos a seguir serão apresentadas as teorias de alguns autores que se


ocuparam do tema da ilusão.

3 ANDRÉ GODIN
André Godin sofreu influência de Freud, Piaget, Jung, mas também de D.W.
Winnicott e, principalmente, de P.W. Pruyser, importante psicólogo da religião holandês,
ainda não traduzido para o português. Um ponto de divergência com Freud se deu ao
compreender que o mundo da ilusão faz a transição entre a fantasia privada e autística e o
mundo externo e real, podendo levar a experiência de alteridade (VALLE, 1998, p. 96-99).

Com base em sua teoria, para compreender o gesto de acender velas a um santo
é preciso buscar motivações inconscientes e/ou parcialmente conscientes em relação à
busca de sentido contida nesse gesto.

Deste modo, tal como postulam os autores mais clássicos da Psicologia da


Religião, como James e Allport, os comportamentos e atitudes religiosas não são em si
saudáveis ou doentios. Dependem do estágio de desenvolvimento e das motivações de
quem os emite.

Influenciado por Lacan, psicanalista francês, Godin pôde compreender o desejo


de um outro que, em sua alteridade ou diferença, faz com que a pessoa religiosa vá em
busca e se coloque a escuta da(s) palavra(s) ( VALLE, 1998, p. 97).

Podemos sentir a importância de Godin na superação da visão reducionista de


Freud e de seus seguidores ortodoxos que persistem até hoje. Para entender sua posição,
INFORMAÇÃO: citamos Valle:
P.W.Pruyser é um autor holandês
clássico da Psicologia da Godin demonstra grande interesse pela maneira positiva com que a psicanálise
Religião, estudado por todos inglesa conceitua a ilusão. Ele próprio descreve a realidade psicológica a partir
aqueles que desejam aprofundar
nesta área. Seus livros ainda
de três mundos: o autístico, o ilusório e o realístico. Recusa-se a conferir ao
não foram traduzidos para o ilusório uma conotação pejorativa. Não a toa a palavra ilusão tem, em latim, a
português. Publicados pela mesma raiz que a palavra jogo ou brinquedo (Ludus). A ilusão é transicional,
Harper and Row. Nova York permitindo à criança “jogar” ou criar, dois aspectos fundamentais na dinâmica de
tem como títulos: Between assunção do outro como referencial afetivo e real e não como uma manipulação
belief and unbelief, 1974 (Entre
autística e egóica. Para compreender a influência destes três mundos sobre a
crença e descrença) e A Dinamic
Psychology of Religion,1968 religiosidade, Godin sofreu o influxo do psicólogo holandês Paul W. Pruyser, da
(Uma Psicologia Dinâmica da Memminger Foundation, nos EUA (1998, p. 97).
Religião).

4 ESPAÇO TRANSICIONAL DA ILUSÃO EM WINNICOTT


(2) Esta palestra foi proferida em
Winnicott nunca falou propriamente de religião, mas em uma importante
1963, ocasião em que Winnicott
apresenta o conceito de acreditar palestra para catequistas2 afirmou a impropriedade de ensinar moral para as crianças
em (to believe in). antes da hora.

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48 Claretiano – Batatais
UNIDADE 5 Cursos de Graduação

Para Winnicott, só com o amadurecimento a criança passaria a ter preocupação


genuína com o outro podendo então dizer que seria capaz de compreender os preceitos
de qualquer religião.

Assim, o amadurecimento deveria contar com um colo (holding) suficientemente


bom e acolhedor. Só então se poderia incluir a vivência de algo como “descansar nos
braços eternos”.

A observação de crianças pequenas saudáveis e adoecidas permitiu-lhe


aprofundar ideias sobre a importância e influência que o meio ambiente tem para o
desenvolvimento adequado. Em momentos de fragilidade, o mundo se apresenta de
modo diverso daquele dos momentos de bem estar, originando as “doenças” associadas
à religiosidade.

Pelo fato de não integrar o bem e o mal em si mesmo, a religiosidade cumpriria


a função defensiva de dividir rigidamente o mundo: Bem e Mal, céu e inferno, sagrado e
profano, santo e pecador etc.

Winnicott foi o psicanalista que mais enfocou a importância do ambiente facilitador


no amadurecimento humano. Para ele, a ilusão fornecida pela mãe suficientemente boa é
o fator crucial para a captação da realidade, é a ilusão que instaura a realidade na vivência
da criança que se desenvolve.

A realidade instaura-se no que ele nomeia de espaço transicional ilusório. Não


há acesso ao real senão pela ilusão. Quando não existe a ilusão a criança desenvolve
defesas para proteger o ego do desfacelamento e muitas dessas defesas se associam a um
excesso de intelectualidade que leva ao desenvolvimento do que ele chama de falso self.

Quando essas defesas são excessivas, esse falso self se sobrepõe à personalidade
total tiranizando-a e sobrecarregando-a em um ou outro aspecto. Com frequência o falso
ATENÇÃO!
self incide nas vivências religiosas de caráter obsessivo. Para conhecer mais sugiro a
leitura do artigo de Gilberto
Desse modo, se faltou um cuidado genuíno e confiável vindo da mãe e do ambiente Safra: Sacralidade e fenômenos
transicionais: visão winnicottiana.
a criança não adquire a capacidade de “acreditar em” (believe in) e a capacidade de “ficar In: MASSIMI, M.; MAHFOUD,
só” indispensáveis para a experiência da oração e/ou filiação a qualquer religião. M. 1999, p. 173-182. Diante do
Mistério. São Paulo: Loyola,
1999. p. 173-182. Neste artigo o
Apresento a seguir, as fases do amadurecimento humano segundo a teoria de autor refere-se aos fenômenos
Winnicott, expressa ao longo de sua obra e organizada em detalhes por Elsa Oliveira Dias, transicionais e analisa os ícones
das igrejas como um lugar
psicanalista de São Paulo (Dias, 2003). Eu mesma fui adicionando em cada uma destas privilegiado para a vivência do
fases a esfera religiosa, que está melhor delineada no artigo que escrevi para a Revista sagrado.
Espaços (MASSIH, 2006).
ATENÇÃO!
1ª fase: dependência total do bebê com total adaptação da mãe Para compreender melhor esta
fase consulte a obra: MASSIH,
E. Da ilusão à utopia Psicologia
Neste período o bebê e a mãe constituem uma unidade da qual o bebê não tem da Religião e do amadurecimento
consciência que a mãe lhe fornece a ilusão de que tudo está bem. O bebê vive como se humano em DW Winnicott.
Revista Espaços. Ano 2006. Ed
ele mesmo tivesse criado o mundo que dele cuida. 14/2 ISSN 1677-4833 p. 157-174.

O bebê sente fome e rapidamente é saciado, o que o faz crer que é onipotente. INFORMAÇÃO:
Este é um modo didático de se
falar já que o bebê, por não ter
o sistema cortical desenvolvido,
Por confiar totalmente na mãe ou no ambiente que dele cuida, a criança instaura não poderia “crer ou tampouco
saber”. Pode sim vivenciar e
as bases do “acreditar em”, fator precursor da fé. Instauram-se também nesse período as guardar na memória corpórea
bases da devoção a partir da função espelho, já que a mãe é devotada ao bebê. (sistema nervoso reptiliano e
límbico) essas experiências
significativas.

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Batatais – Claretiano
UNIDADE 5
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Nesta etapa sedimenta-se a criatividade humana, pois, o bebê cria o mundo que
existe lá fora e que a mãe lhe fornece. A identificação é chamada primária pelo fato da
mãe e o bebê estarem fundidos.

Em torno de mais ou menos oito meses instaura-se as relações objetais com a


apresentação dos objetos ao bebê. Nesta fase, três tarefas devem ser cumpridas:

1) Alojamento da psique no corpo por meio do colo ou acalanto (holding).

2) Temporalização e espacialização por meio do manejo adequado do bebê


(handling).

3) Constituição do si mesmo primário (self).

Desse modo, pode-se afirmar que o mundo é captado pelo Sistema Nervoso
Reptiliano e os primórdios do Sistema Nervoso Límbico. Ao contrário da visão freudiana,
este período ilusional é que institui a capacidade de perceber o mundo real., o que não
ocorreria sem a ajuda da mãe natural ou substituta.

2ª fase: dependência parcial com adaptação relativa da mãe

Entre os quatro e oito meses pode se iniciar o período da desilusão ou desmame.


Iniciam-se as funções intelectuais (Sistema Nervoso Cortical).

O sistema límbico começa a se organizar a partir do aconchego e da separação;


a mãe às vezes “some” e o bebê sente-se aflito e, por não ter desenvolvido a compaixão,
ainda, é impiedoso quer tudo e o melhor para si o tempo todo, de modo particular, a mãe.
Nesse período iniciará a descoberta do outro que existe não só para satisfazê-lo.

No oitavo mês, aproximadamente, inicia-se a transicionalidade e a simbolização


com a posse do primeiro objeto (chupeta ou outro) que serve como consolo e substituto
da mãe. Nesta época em se instauram as bases da religiosidade protecional. A mesma
chupeta que ofereceu consolo devido à ausência da mãe será substituída pelos santos de
devoção, terços, correntinhas e objetos considerados sagrados.

Aos onze (ou doze) meses o bebê aprende a usar os objetos transicionais nos
momentos de falta. A mãe, ora é este objeto, ora não é. Tal como se dá com os ícones das
religiões, em que o objeto evoca a divindade.

A criança capta o sentido do externo e inicia-se a saída da implacabilidade. Seu


ATENÇÃO!
Para conhecer mais sugiro a
sistema nervoso límbico organiza-se a cada dia sentindo apego pelas pessoas que dele
leitura do artigo de Gilberto cuidam. Estariam aí as bases da compaixão humana.
Safra: Sacralidade e fenômenos
transicionais: visão winnicottiana
p. 173-182. In: MASSIMI, M.; A adaptação da mãe deve ser relativa para que o bebê consolide a relativa
MAHFOUD, M. Diante do independência.
Mistério. São Paulo: Loyola,
1999. Neste artigo o autor
inicia uma compreensão da 3ª fase: rumo à independência com adaptação relativa da mãe
transicionalidade como o
caminho para a religiosidade
madura. Nesta fase, o “eu” diferente é o próprio bebê em relação ao outro, o qual sente
a presença. Ao final desse período já pode dizer ‘eu sou’. Sente também que pode magoar
e ser magoado pelo outro e amadurece um pouco mais a preocupação com o outro
(concerning), base da religiosidade adulta.

Aos dois anos e meio, a etapa de concernimento, se nada deu errado, terá sido
estabelecida. A criança já sabe que pode machucar/magoar, reconhecer que magoou e
buscar o perdão.

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50 Claretiano – Batatais
UNIDADE 5 Cursos de Graduação

O bebê já sabe que a raiva vem de dentro dele (e não de um monstro ou algo
assim) e integra em si mesmo sua agressividade instintual. Integra também a mãe como
objeto interno e externo, apreendendo conceitos de realidade, tais como:

1) Integra o “eu” tranquilo com o “eu” excitado. A criança se reconhece


como a mesma pessoa, estando relaxada, com tudo correndo bem e nos
momentos em que está tensa, com dificuldades e problemas aparentemente
insolúveis.

2) O outro não existe apenas para a realização de meus desejos e


necessidades.

3) O sistema nervoso cortical evolui muito e a criança capta o conceito de


número 2 (eu mais o outro).

4ª fase: independência sempre relativa ou parcial

Aparece a imagem do pai como alguém que interdita as relações com a mãe. O
número 3 se esboça no psiquismo da criança possibilitando a apreensão da Lei, das normas.

Caso esta fase seja mal completada, haverá problemas no Ensino Religioso e no
convívio social. As patologias sociais surgem neste período.

Ocorre à simbolização da cena primária, a criança passa a ver-se como a terceira


pessoa, deixando de ser o centro do mundo. Não se sente mais como o todo poderoso e
semeia-se aí o sentimento de culpa, ou seja, preocupação genuína com o mal que pode
causar, ou patológico, ligado as culpas, escrúpulos e penitências excessivas características
da religiosidade doentia (algo normal nessa fase).

Quando a mãe possui uma personalidade depressiva, a criança cria a idéia de que é ATENÇÃO!
ela quem causa a tristeza da mãe, sentindo-se inconscientemente culpada. A esse ou outros Para aprofundar seus
fatores de ordem afetiva pode associar-se uma religiosidade que se alimenta do sentimento conhecimentos sobre a questão
da culpabilidade leia o capítulo
de culpa frequentemente reforçado por certas linhas de formação religiosa. 7, O peso da culpabilidade, p.
105-118, da obra: CATALAN, J. F.
As defesas da criança não se associam à genuína percepção do mal causado a O homem e sua religião: enfoque
psicológico. São Paulo: Paulinas,
alguém e a conseqüente remissão pela mudança de atitude e comportamento. 1999.

Para que isso aconteça, a criança ou jovem deve ter a clareza interna de ser uma
pessoa totalmente em contato com outra e totalmente separada de quem pode causar danos.

Quando esse processo falha, o outro pode ser usado como complemento do
que falta a si mesmo. É importante lembrar que muitos transtornos sexuais (fetichismo,
voyeurismo e principalmente pedofilia) encontram-se aí enraizados.

Se tudo correu bem, neste período instaura-se a ética e preparação para a


adolescência e inserção nos grupos de pertença, religiosos ou não.

O amadurecimento não para por aqui. Possui uma continuidade ao longo de uma vida
saudável com tarefas e etapas a cumprir, cada uma pedindo novas e adaptativas respostas.

5 ANA MARIA RIZZUTO


Ana Maria Rizzuto psicanalista argentina, de origem italiana e radicada nos EUA,
hoje com cerca de 90 anos foi a primeira a estudar profundamente a representação de
Deus nas pessoas. Suas pesquisas se deram a partir de pacientes internos no hospital em
que trabalhava. A constatação final é de que a imagem de Deus é algo vivo e associado
às imagens parentais.

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Batatais – Claretiano
UNIDADE 5
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Rizutto (2006) estudou Freud em profundidade, mas leu Winnicott e iniciou a


compreensão dos fenômenos transicionais como lugar da vivência religiosa no homem.
Seu principal livro, já traduzido para o português, propõe também que esta área da
representação de Deus se localize no espaço privado da solidão de cada um. Assim, não
haveria a necessidade de ser comunicado, mas vivido como experiência.

Segundo ela, Deus e os amigos invisíveis teriam função psicológica semelhante


e complementar. Se juntarmos a essa visão o que hoje sabemos do amadurecimento
religioso, poderíamos incrementar a formação religiosa com uma melhor elaboração
dessas imagens primitivas, corrigindo-as e levando a compreensão da transcendência
como um caminho a ser percorrido e uma escolha a ser feita.

Rizzuto (2006) considera a Religião uma parte integrante do homem na


capacidade de criar realidades invisíveis, significativas e, sobretudo, reais. Seu livro trata
de um aspecto central da experiência religiosa: a formação epigenética e desenvolvimental,
a transformação e o uso da representação de Deus ao longo da vida humana.

Em sua teoria, pergunta-se que tipo de experiências conferem plausibilidade


ao pensamento que deseja (wishfull thinking) e como o mero desejo pode se tornar
uma representação coletiva. Parece que permanece sempre a questão da religião ou
religiosidade como algo que perpassa o mistério e o indecifrável.

Rizzuto define religião como uma instituição que consiste de interações


culturalmente modeladas com seres super humanos culturalmente
postulados.

Na conclusão de suas pesquisas Rizzuto (2006, p. 273) afirma categoricamente


discordar de Freud quanto ao conceito de ilusão:

Cheguei ao ponto em que inevitavelmente tenho que me afastar de Freud.


Freud considera Deus e a religião uma ilusão infantil gerada pelo desejo.....
sou obrigada a discordar. Realidade e ilusão não são termos contraditórios. A
realidade psíquica ...não pode ocorrer sem o espaço transicional específicamente
humano para o jogo e a ilusão.

ATENÇÃO: Um importante conceito de Rizzuto é o de objeto transformacional.


Ela afirma que Deus é um objeto mental que, se atualizado (transformado)
(3) Mario Aletti é ao longo da vida e adaptado à etapa do desenvolvimento em que o indivíduo
psicanalista italiano, se encontra pode permanecer durante a maturidade e todo o resto da vida. E
professor da Universidade ninguém poderá ser considerado neurótico por isso.
Católica de Milão,
conhecedor da obra
de Winnicott e de Ana-
Maria Rizzuto, estuda a

6 MARIO ALETTI
proximidade dos conceitos
3
de objeto transicional, área
transicional e fenômenos
transicionais, todos eles a Com base na psicanálise das relações objetais a questão do psicólogo da religião
partir da teoria winnicottiana
que inovou o conceito não é mais a de responder a Freud sobre como libertar o homem das ilusões e sim libertar
de ilusão na literatura no homem a capacidade da ilusão.
psicanalítica em geral e na
Psicologia da Religião em Ao libertar no homem a capacidade da ilusão, o psicólogo da religião deve
particular.
observar o percurso ou itinerário em direção ao desejo de Deus, o que difere em muito da
necessidade da religião como muleta ou anteparo de um viver inautêntico e medroso.

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52 Claretiano – Batatais
UNIDADE 5 Cursos de Graduação

Aletti (2004) nos sugere com muita procedência que acompanhemos o sujeito que
vive a experiência religiosa em seus percursos e desdobramentos. Como está evoluindo esta
intuição primeira? Esta apropriação da ilusão é genuína e instaura um modo criativo de estar no
mundo e relacionar-se com a religião? Afirma que o desejo de Deus no homem é um percurso
“atravessado por ilusões, decepções e também delírios, enquanto ligado a vicissitude pessoal, a
seus processos, a seus conflitos e aos resultados destes conflitos” (ALETTI, 2004, p. 20).

Fica claro em sua teoria que o brincar da criança não pode ser simplesmente
transposto para a experiência ilusional religiosa, pois, o adulto é permeado por outras
instâncias: a cultura, sua resolução das problemáticas pessoais e desenvolvimentais e, a
religião na qual nasce e é formado.

Aletti (2004) ratifica Vergote que tem uma visão mais ampla do fato religioso,
dos fenômenos de crença e descrença e da adesão a uma religião específica. Em uma frase
a posição de Aletti (2004, p. 26) em sua concordância com Winnicott:

Para Winnicott, nossas ilusões são nossas iluminações. A ilusão não é um erro,
e também não uma verdade, mas o lugar de emergência do verdadeiro, porta aberta de
um percurso.

Os objetos transicionais são apropriados pela criança que os cria a partir da


realidade concreta dos mesmos. Assim, a chupeta ou o ursinho que são objetos do mundo
compartilhado passam a ter um significado pessoal e interno, isto é, são carregados de
afeto e emoção.

Os objetos transicionais podem se tornar um paralelo com os objetos religiosos


sejam imagens seja miniaturas de santos seja ainda ícones das religiões. São adorados e
cuidados e sua eficácia para apaziguar são notáveis.

Os fenômenos transicionais se associam diretamente a esses objetos e instauram


um modo de realidade que se dá na chamada área transicional, que não é interna e tampouco
externa, quebrando a visão dicotômica proposta pelas ciências positivas. Saímos do mundo
“é ou não é” e embarcamos no universo do “é e não é” ao mesmo tempo e lugar.
ATENÇÃO!
Para aprofundar seus
Psicólogos da religião brasileiros contemporâneos tem escrito sobre essa ideia conhecimentos sobre a questão
do brincar winnicottiano em
como veremos na próxima unidade. um modo adulto, a utopia,
leia o artigo de Eliana Massih,
referenciado ao término desta
unidade.

7 CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você pôde estudar e analisar alguns conceitos relacionados à
psicanálise e à psicologia da religião, com base nas ideias de Freud, Godin, Winnicott, Ana
Maria Rizutto e Mario Aletti.

Com os conhecimentos adquiridos nesta unidade, convidamos você a estudar na


Unidade 7 conceitos relacionados à visão da psicologia da religião no Brasil. Até lá!

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALETTI, M. A. Representação de Deus como objeto transicional ilusório. Perspectivas e
problemas de um novo modelo. In. PAIVA, G.J.; ZANGARI, W.(Org.) A representação na
religião: perspectivas psicológicas. São Paulo: Loyola, 2004, p. 19-50.

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53
Batatais – Claretiano
UNIDADE 5
Cursos de Graduação

FREUD, S. Atos obsessivos e práticas religiosas. Rio de Janeiro: Imago, 1969.

MASSIH, E. Da ilusão à utopia Psicologia da Religião e do amadurecimento humano em


DW Winnicott. Revista Espaços. Ano: 2006, ed. 14/2 ISSN 1677-4833 p. 157-174.

RIZZUTO, A. M. O nascimento do Deus vivo: um estudo psicanalítico. São Leopoldo:


Sinodal, 2006.

SAFRA, G. Sacralidade e fenômenos transicionais: visão winnicottiana. In. MASSIMI, M.;


MAHFOUD, M. Diante do Mistério. São Paulo: Loyola, 1999, p. 173-182.

VALLE, E. Psicologia e experiência religiosa. São Paulo: Loyola, 1998.

WINNICOTT, D. W. Ambiente e processos de maturação. Porto Alegre: Artmed, 1990.

WONDRACEK, K. O futuro e a ilusão: um embate com Freud sobre psicanálise e religião.


Rio de Janeiro: Vozes, 2003.

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54 Claretiano – Batatais
UNIDADE 6
VISÃO DA PSICOLOGIA DA
RELIGIÃO NO BRASIL

Objetivo
• Reconhecer e analisar a realidade brasileira da psicologia
da religião.

Conteúdos
• O que é o seminário de psicologia e senso religioso?

• Pesquisas e contribuições dos autores brasileiros que


reforçam e aprofundam as teorias dos clássicos e
fornecem material em português dos autores ainda não
traduzidos.

• História e desenvolvimento da psicologia da religião no


Brasil.
UNIDADE 6
Cursos de Graduação

ATENÇÃO!

1 1 INTRODUÇÃO
Para ampliar seus conhecimentos
sobre a Psicologia da Religião,
procure distribuir racionalmente
os períodos de estudo: organize
seu horário de maneira que não Nesta unidade, você será convidado a refletir e estudar, de forma sucinta,
fique saturado e procure variar
seu programa, alternando entre apesar de alguns pontos já terem sido mencionados nas unidades anteriores, sobre todo o
escrever, ler, refletir, participar período histórico da psicologia da religião, perpassando por suas principais épocas e seus
na Sala de Aula Virtual, realizar respectivos autores.
atividades etc.

Isso quer dizer que, procuraremos apresentar um balanço histórico do seguinte


período:

1) século 19;

2) século 20;

3) século 21.

Desejamos êxito nesta caminhada!

2 BALANÇO HISTÓRICO
No desenrolar dos anos eram muitas as discussões e polêmicas epistemológicas
tanto dentro da psicologia quanto em seu confronto com as demais ciências. Sucederam-
se, por essa razão, momentos de altos e baixos na história da psicologia da religião.
Constatemos essas informações:

Século 19

Entre aproximadamente 1880 e 1920, a Psicologia teve uma fase de apogeu.


Autores como W. Wundt e W. Keilbach, na Alemanha; G. Stanley Hall e William James, nos
Estados Unidos; Th. Flournoy e A. Sabatier, na França; R. Ardigó e G. Sergi, na Itália; K.
Girgensohn, S. Freud e C.G. Jung nos países de língua alemã etc., colocaram a psicologia
da religião em uma espécie de primeiro plano na atenção dos cientistas da época.

Século 20

A década de vinte do século passado foi um período de “inverno acadêmico”


para esse tipo de estudos. As tendências científicas e ideológicas que se impuseram após
a primeira guerra mundial (1914-1918) tiveram forte repercussão nos meios científicos
em geral.

A religião passou a ser vista como um fenômeno secundário que não merecia
maior atenção por parte das ciências humanas.

A psicologia da religião, por sua vez, foi muito atingida por essa virada positivista
e materialista que, na psicologia, teve seus representantes mais expressivos por meio do
behaviorismo, da psicanálise freudiana e da psicologia marxista.

Nessa fase, foram as igrejas cristãs que mantiveram algum tipo de atenção à
psicologia da religião, embora quase sempre com um viés apologético. Houve exceções
importantes.

Seja na França, seja na Alemanha, a psicologia da religião manteve um bom


nível de pesquisa, debate e reflexão, entrando em discussão de alto nível com os novos
enfoques que se difundiam pelas Universidades e ambientes cultos, geralmente muito

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56 Claretiano – Batatais
UNIDADE 6 Cursos de Graduação

críticos às religiões e às igrejas. Daí surgiram autores importantes, alguns traduzidos ao


português.

Entre outros, poderíamos mencionar Ch. Baudoin, P. Bovet, A. Hesnard, L.


Beinaert, A. Plé, A. Godin, M. Oraison etc. Esses autores já não eram teólogos na defensiva
e sim psicólogos, psicanalistas, médicos e psiquiatras bem enfronhados nos dois lados das
temáticas em discussão.

Anos 1950

Um outro exemplo de trabalho psicológico sério foi o dos cientistas católicos


que se reuniram em torno ao Centro de Estudos Laennec e o dos que fundaram os
Études Carmélitaines e as revistas La Vie Spirituelle-Supplèment e Cahiers Laennec. Suas
posições encontravam respeito, também, nos meios intelectuais críticos de que a França
era pródiga naqueles anos.

Anos 1960

A influência desses estudiosos chegou ao Brasil no início dos anos 1960, década
em que a psicologia teve notável incremento em nosso país, com o reconhecimento oficial
da profissão do psicólogo e a criação de cursos de psicologia destinados à formação de
profissionais.

Nessa mesma ocasião foi criada em São Paulo a Sociedade Brasileira de psicologia
da Religião que reunia médicos psiquiatras, psicoterapeutas, teólogos protestantes e
católicos e os primeiros psicólogos da religião. Infelizmente, na fase de retrocesso do
interesse, essa instituição desapareceu.

Anos 1970 e 1980

Nos ambientes propriamente científicos, existiu sempre certa aversão ao diálogo


entre psicologia e religião. Essa má vontade cresceu nos referidos anos, provocando a
diminuição e até o desaparecimento de iniciativas promissoras.

Uma exceção era propiciada por um progressivo, mas vigoroso lançamento e/


ou retomada da Psicologia Analítica de Jung. Diminuíram nessa época as publicações
acadêmicas e reduziram as publicações em revistas de pesquisa, embora sem nunca
terem cessado inteiramente. Alguns cientistas julgavam ter temas mais importantes com
que se ocupar.

Anos 1990

Nos anos de 1990, porém, deu-se uma inversão nessa curva descendente.
Paralelamente ao retorno das religiões no plano mundial, houve uma retomada dos
estudos científicos voltados para a religião.

As grandes Universidades da Europa e Estados Unidos se abriram novamente à


psicologia da religião, embora com moderação. Multiplicaram-se de novo os cursos e as
cátedras dessa matéria em expressivos centros de pesquisa.

No Brasil, de forma moderada, começaram a aparecer pesquisas de bom nível


nos cursos de pós-graduação e em revistas de psicologia, elas também em fase de
crescimento e retomada.

O renascimento do interesse por meio dos estudiosos correspondia a uma busca


cada vez mais acentuada de espiritualidade na sociedade em geral.

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UNIDADE 6
Cursos de Graduação

Final do século 20

O currículo de algumas Faculdades de Teologia católicas e protestantes prevê,


atualmente, o ensino da psicologia da religião propriamente dita e, deixando de lado o viés
apologético, encara os problemas de natureza pastoral desde perspectivas psicológicas
que supõem um bom conhecimento acerca da psicologia e psicoterapia contemporâneas.
É o caso, para exemplificar, do ITESP (Instituto de Teologia São Paulo).

Pode-se, assim, afirmar que a psicologia da religião já conquistou um lugar ao


sol. Resta, porém, um largo caminho à frente, quando se compara o panorama brasileiro
com o de países mais avançados no tocante ao embasamento científico da psicologia da
religião de cunho científico.

Já havia surgido no Brasil em meados dos anos 1980 dois centros interdisciplinares
representativos de alto nível. No Rio de Janeiro, o ISER (Instituto Superior de Estudos da
Religião) e, em São Paulo, o CER (Centro de Estudos da Religião).

Nesses dois espaços, predominavam os enfoques de cunho sociológico e


antropológico, mas retornavam os estudos de psicologia da religião, com ênfase na
psicanálise. A revista “Religião e Sociedade”, do ISER, por exemplo, publicou artigos de
muito interesse para a psicologia.

Século 21

Há cerca de dez anos a tendência seguida no final do século passado, fez-se


notar na ANPEPP (referida na Unidade 1) que realizou seu I Seminário em 1997.

Encontros como esse tiveram sempre como resultado a publicação de livros


organizados por profissionais membros da Comissão Científica do evento. Trata-se de
psicólogos e psiquiatras vindos de várias áreas deste saber que, juntos, vêm conseguindo
nos presentear com toda a variedade de abordagens e enfoques.

Assim, temos artigos de diversas áreas, tais como: a psicologia social, a


psicanálise, psiquiatria, literatura e artes em geral. Ao todo são cinco livros, referidos
nesta unidade e incluídos na bibliografia geral pela importância que tem no avanço dos
estudos da área. Neles praticamente todos os autores clássicos foram revisitados e
tornados palpáveis nas reflexões sobre a psicologia da religião.

Marina Massimi e Miguel Mahfoud organizaram o livro referente ao II Seminário


ocorrido em 1998 em Belo Horizonte e organizado pela UFMG.

Geraldo José de Paiva, psicólogo social, professor titular do IPUSP, foi quem
organizou o livro referente ao III Seminário ocorrido em São Paulo, em 1999, no Centro
Maria Antônia. Em parceria com Wellington Zangari, organizou também o livro referente
ao IV Seminário, acontecido em São Paulo, na PUC/SP.

Mauro Martins Amatuzzi, da PUC/CAMP, organiza o livro referente ao V


Seminário, realizado em Campinas. Na introdução apresenta um breve histórico destes
encontros que tiveram sua primeira versão em Ribeirão Preto no ano de 1997.

Destacamos a importância de Gilberto Safra, psicoterapeuta, professor da PUC/


SP e da USP, profundo estudioso da obra de D.W. Winnicott em suas aplicações para a
psicologia da religião.

Marilia Ancona-Lopes, psicoterapeuta e professora da PUC/SP, é responsável


por grande parte da compreensão que hoje temos da presença da religiosidade na

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58 Claretiano – Batatais
UNIDADE 6 Cursos de Graduação

prática clínica e de como os psicoterapeutas podem e devem fazer uso desse fato para a
compreensão e melhoria da qualidade de vida de seus pacientes.

Edenio Valle, padre, filósofo, teólogo e psicólogo, além de abordar a questão


da religiosidade na clínica e no acompanhamento a membros da Igreja, é quem nos
ATENÇÃO!
fornece material para a compreensão das interfaces entre psicanálise e Teologia. Na área Para um estudo aprofundado
da psicologia social, seu maior interesse, escreve importantes ensaios sobre conversão, de todos os autores brasileiros
que se ocupam da temática,
religiosidade popular, crença e descrença, ateísmo e devoção. faça leitura e consulta dos
livros diretamente referidos nas
Referências Bibliográficas desta
unidade.

3 RELIGIOSIDADE E TRANSCENDÊNCIA NO SÉCULO 21


Em 1930, no século passado, Freud descreveu o sentimento oceânico como
uma sensação subjetiva de um vínculo indissolúvel, de uma experiência de ser com todo
o universo, algo sem limites e sem tempo. Afirma, ainda, que tinha dificuldades de viver
essa experiência, imbuído que estava em seu espírito científico.

Poetas e místicos deleitam-se sem divisões internas, vivendo aquilo que a


espiritualidade madura fornece: sensação de pertença ao planeta, indignação diante do
sofrimento desnecessário, respeito à Natureza e aos seres vivos, respeito a qualquer
forma de diversidade que leve em conta a Ética do cuidar do outro como quem bem cuida
de si. E, sobretudo, transcendência com base na presença do divino no mundo.

Não há mais como negar a religiosidade como um modo próprio e possível de ser
no mundo. A busca das religiões e dos profissionais ligados a acompanhamento espiritual
e psicológico é hoje um direito do cidadão como a alimentação, a saúde, a justiça e a
educação. Cabe a nós, profissionais da área, buscar as ferramentas adequadas.

4 QUATRO ATITUDES BÁSICAS DE WULFF


O acompanhamento psicológico e o acompanhamento espiritual passam por
um momento, em que pontos de aproximação e distanciamento se tornam cada vez
mais comuns. Há psicólogos que, inadvertidamente, fazem acompanhamento espiritual.
Igualmente há religiosos de várias denominações, não só padres da Igreja Católica, que
fazem acompanhamento psicológico. Em ambos os casos há problemas e delimitações
devem ser feitas. Um psicólogo não deve realizar acompanhamento espiritual a menos que
esteja preparado para isso. Um agente religioso quando está funcionando como psicólogo
deve evitar atuações e orientações de ordem espiritual.

Todos aqueles que trabalham em ambientes religiosos, seja no âmbito da educação


propriamente, seja no âmbito das pastorais, não podem mais ignorar os conhecimentos
da Psicologia da Religião, conhecimentos estes que vem ajudando a delimitar os campos
de atuação e evitar modos preconceituosos de lidar com a religiosidade. Em nossa cultura
INFORMAÇÃO:
ainda persiste forte rejeição do religioso nos meios considerados científicos, embora esta Marília Ancona-Lopes em seu
visão já venha sendo superada paulatinamente. . artigo denominado Religião e
psicologia clínica: quatro atitudes
básicas (em Massimi, M e
Marília Ancona-Lopes em artigo dirigido aos psicólogos e a todos que se Mahfoud, M. Org, 1999. p.71-86)
preocupam com pessoas, difundiu o conhecimento das quatro atitudes básicas de David trata do tema em referência com
mais profundidade. O livro de
M. Wulff em relação ao transcendente. Wulff: Psychology and Religion:
classic &contemporary views.
John Willey and Sons, New York,
O artigo se refere a importância que os profissionais de saúde dão aos relatos
1997 ainda não foi traduzido para
religiosos dos pacientes indo de uma rejeição absoluta, excluindo da escuta qualquer o português.

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UNIDADE 6
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referência ao tema até uma postura de total aceitação das experiências ligadas à emoção
e sentimento religioso. O que a autora considera mais perigoso é o fato de que estas
posturas são inconscientes e precisariam ser devidamente trabalhadas por quem se dispõe
a atender pessoas nas mais variadas situações humanas.

A religiosidade é uma realidade que, desde sempre, esteve presente nas


relações sociais e individuais. Portanto, é preciso que a levemos em conta em todas as
suas vertentes.

As quatro posturas elencadas por Wullf são didáticas e fornecem apoio para se
trabalhar com o itinerário do amadurecimento espiritual de pessoas e grupos.

Freud afirmava que devemos considerar sempre o fato religioso como doentio e que
as religiões acabariam com o avanço das ciências. Porém, nada disso se deu, pelo contrário,
as experiências religiosas e místicas se multiplicam no mundo. O que nos resta é aprender
a lidar com esse fenômeno e abordá-las de modo próprio e científico sem cair no extremo
oposto de sacralizar ou absolutizar o fato religioso por falta de critérios organizadores.

Vejamos o que nos diz Lopes (1999, p. 85):

O símbolo religioso, o rito, a palavra, o mito são sempre maiores que nossa
capacidade de apreensão; excedem as categorias de entendimento comum e
seus vários sentidos, dão-se a ver e se retraem, provocando conhecimento
instantâneo vivo para, em seguida, tornarem-se apenas lembranças.

A aparente fugacidade da experiência religiosa faz com que lhe tiremos o estatuto
de realidade, baseados em um mundo funcional que vê como realidade simplesmente o
que se mantém ao longo do tempo e se materializa em obras concretas e imediatas.

Desse modo, o desejo de Deus e de sentido andam na contramão da funcionalidade


do mundo e o interpelam a todo o momento perguntando: o que, de fato, vale a pena
e nos humaniza pelo paradoxo da diferença? No espaço em que se insere a vivência da
religiosidade a clareza dos ideais e objetivos nem sempre se fazem presentes.

ATENÇÃO: Se o psicólogo da religião ou o agente religioso não se ocupar dessa delimitação,


Na Unidade 3 vocês aprenderam estaremos incrementando uma falsa religiosidade. Valle (2007. p. 142) nos alerta para o fato
sobre religiosidade extrínseca
em Allport; sobre alma doente de que, hoje em dia, agentes religiosos de todas as denominações “não mais se restringem a
em William James e na Unidade dimensão do espritual e religioso e passam a agir como se fossem psicólogos”.
5 sobre obsessão e delírio
coletivo em Freud. Portanto já
reconhecem a importância desta A questão da transcendência está no mundo, nos fatos inesperados e sutis
delimitação. que fazem com que a vida se torne recheada de sentido. A ciência, ao tentar facilitar,
racionalizar e organizar a vida com escolhas objetivas e técnicas que não incluem a
variedade das manifestações do sagrado, pode-se excluir a transcendência.

Wullf propõe um esquema bidimensional que define quatro atitudes em relação


a inclusão ou exclusão da transcendência. Assim teríamos:

1) Profissionais que negam literalmente a linguagem religiosa e a definem como


ilógica e imprópria para solucionar os problemas do dia a dia.

2) Profissionais que afirmam literalmente o fato religioso afirmando que tudo


se resolve com medidas religiosas, sejam orações ou promessas e quaisquer
outras medidas utilizadas nas variadas denominações religiosas (trabalhos
de umbanda, celebrações ruidosas, repetição de mantras, mentalizações).

3) Profissionais que interpretam a religião como um fenômeno social ingênuo


e ultrapassado e ainda mantém a postura do século 19 de que só a Ciência
melhorará o mundo.

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60 Claretiano – Batatais
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4) Profissionais integrados que sabem dar o devido lugar ao religioso, sem julgá- INFORMAÇÃO:
Ancona-Lopez aponta para as
lo totalmente inútil ou prejudicial e sim tirando da mistificação e elevando-o interfaces entre o fato religioso
a fonte de significado e fé na vida. e as patologias informando que
a partir de 1994 a categoria
Para ilustrar, vejamos no esquema a seguir, as quatro atitudes básicas de Wulff Problemas religiosos foi
incluída no DSM-4, Manual
(em Ancona-Lopez (1999, p.78). da Associação Americana de
Psiquiatria. Esta categoria pode
ser usada “quando o foco da
Exclusão da transcendência atenção clínica é um problema
religioso ou espiritual como
experiências estressantes
Negação literal Interpretação redutiva que envolvem a perda ou
questionamento da fé, problemas
Literal Simbólica associados à conversão para
Afirmação literal Interpretação restauradora uma nova fé, questionamento
dos valores espirituais,
relacionados, ou não, a uma
igreja organizada ou instituição
Inclusão da transcendência religiosa”.

Estudaremos, a seguir, a psicanálise e teologia. ATENÇÃO!


Para aprofundar a questão do
acompanhamento espiritual
em suas delimitações do
acompanhamento psicológico,

5 PSICANÁLISE E TEOLOGIA
recomendo a leitura sistemática
do artigo de Cazarotto na
Revista Vida Pastoral referida na
bibliografia desta unidade. Ah,
Dentre os autores brasileiros, o mais preparado para esta interlocução é caso queira conhecer algo da
certamente Valle (2005), que elenca em seu artigo algumas citações de Freud e de Rizutto, clínica da espiritualidade, convido
você a partilhar o artigo de minha
autores significativos para a compreensão do diálogo entre psicólogos e teólogos ao longo autoria publicado na Rever,
de quase um século. também referido na bibliografia
desta unidade.

Segundo Valle (2005, p. 24) as afirmações de Freud abriram caminho para


o estudo aprofundado das tradições judaico-cristãs em sua complexidade ritual e
simbólica.

Afirma-se que Freud, em resposta as observações de Romain Rolland, teria


dito que desconhecia em si mesmo o “sentimento oceânico” tão conhecido dos poetas e
místicos e que envolve totalidade, medo e prazer diante da imensidade do mar.

Freud afirmava ainda não ser fácil lidar cientificamente com estes sentimentos. INFORMAÇÃO:
A afirmação revela o aprisionamento de Freud a um modelo que, de fato, não se adaptava Esta teria sido a frase de Freud:
“Não consigo descobrir em mim
ao objeto de estudo da psicologia da religião: as experiências religiosas e sua elaboração este sentimento oceânico. Não
ao longo do amadurecimento do indivíduo. é fácil lidar cientificamente com
sentimentos”. No artigo de Valle
(2005) você encontra maiores
Hoje em dia fala-se de uma certa abertura, iniciada na Associação dos Psicólogos detalhes sobre seu diálogo
dos Estados Unidos, que teriam criado uma 36ª divisão destinada aos interessados em epistolar com Roman Rolland.

estudos ligados aos fatos religiosos.

Faz-se referência ainda a Morano (2003) que apresenta na obra Crer depois
de Freud a luta que precisou manter consigo mesmo enquanto escrevia sua tese de
doutoramento e que culminou com a publicação do livro Crer depois de Freud após ter
concluído a tese que o engessava. Padre jesuíta e psicanalista, vê no fato religioso o
resultado de sentimentos infantis de onipotência ancorados na ilusão, uma das mais
acabadas expressões da onipotência das idéias. É muito interessante ter um contato
direto com a totalidade desta obra que não caberia detalhar neste contexto de introdução
à Psicologia da Religião.

Algo parecido ocorreu com Ana Maria Rizutto, freudiana de formação, que passa
a dialogar com o conceito de ilusão em Winnicott. Hoje em dia contamos também com

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a visão de Aletti que vem aprofundando a leitura winnicottiana do fenômeno religioso


(ambos os autores foram estudados brevemente por você na Unidade 5).

Igualmente Gilberto Safra conceitua com clareza o que ele chama de “idioma
pessoal“, um complexo que inclui as visões teológicas e teleológicas do paciente e o levam
a ampliar seu self em direção ao transcendente.

Safra (1999, p.173), professor de psicologia na PUC-SP e na USP, clínico de


profissão afirma que a experiência vivida nas primeiras relações interpessoais com a
mãe “inscreve na vida psíquica da criança uma experiência estética de encanto”, abrindo
sentimentos, seu desejo de comunicação e relacionamento (a afetividade e a sexualidade)
e, de modo muito especial, sua busca de transcendência (espiritualidade).

A experiência religiosa, diante de tudo que vimos, é, portanto se a vivência de


ilusão. Assim, a subjetividade vai se constituindo em direção a uma religiosidade saudável.
Se isto não tiver ocorrido, ou seja, o encontro adequado com a mãe, consequentemente,
a religiosidade também não será madura como as postuladas por Allport (intrínseca) ou
James (healthy mind).

Expressar o que vive ao sentir-se em comunhão com o divino só é possível


por meio de símbolos que traduzem as distintas realidades culturais em que cada um é
socializado desde criança, dos processos evolutivos que podem ao amadurecimento global
das várias dimensões que integram o ser humano.

Observe que são aspectos que incluem sua realidade corpórea e sensória
(biológica), sua capacidade de pensar e entender (a mente), sua realidade emocional
(os sentimentos).

Para algumas pessoas este encontro pode se limitar a um momento místico


circunscrito ao imanente. Seria uma espécie de autotranscendência que pode alcançar
elevados níveis de iluminação interior.

Para os que vivem mais profundamente a experiência de Deus e do divino a


afirmação mais frequente é a de sentir uma presença que abre o mais íntimo do ser a uma
relação de reciprocidade. No Cristianismo isso se dá a quem assume o caminho de Jesus,
uma relação filial com Deus, o Pai.

O psicólogo, contudo, sabe que nessa relação podem existir sentimentos de


ATENÇÃO! paz, comunhão e fascínio, mas também sentimentos confusos de indignidade, medo
Para aprofundar, leia os artigos
de Safra (1999) e Valle (1998) e pequenez. O psicólogo que vem da psicoterapia e da psicanálise acentua mais esses
citados nas Referências últimos aspectos que sinalizam estruturas e dinâmicas neuróticas de personalidade.
Bibliográficas disponibilizadas ao
término desta unidade e, discuta
com seus colegas de curso,
Parece-me que, ao fazer dialogar a psicanálise com a Teologia, esses autores
como a maturidade psicológica de peso querem demonstrar primeiro que a psicanálise é apenas uma das abordagens do
afeta a religiosidade (dimensão fenômeno humano da religiosidade e, segundo, pela importância cultural da psicanálise
experiencial e dimensão no mundo ocidental, a Teologia não poderia excluí-la da interlocução culta e engajada do
ritual) e a formação para uma
religião específica (dimensão fato religioso.
conseqüencial e dimensão
intelectual).
Lembre-se de que a

6 CONSIDERAÇÕES GERAIS
interatividade sugerida é apenas
uma possibilidade de ampliar
seus conhecimentos, pois a
Interatividade oficial proposta
para esta unidade consta Assim termina a última unidade da disciplina Psicologia da Religião, com a
do Caderno de atividades e
interatividades.
qual você teve a oportunidade de compreender os principais conceitos relacionados a este
tema, delimitando a área de atuação da psicologia da religião, objeto de estudo e tarefas
enquanto disciplina científica.

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62 Claretiano – Batatais
UNIDADE 6 Cursos de Graduação

Esperamos que os conceitos estudados nesta unidade sobre a visão da psicologia


da religião no Brasil, junto com suas pesquisas e sua participação, possam contribuir com
sua formação acadêmica e profissional.

7 E–REFERÊNCIA
MASSIH, E. Obsessão, culpa e espiritualidade em um religioso com comportamento
pedofílico. Disponível em: <http://www.pucsp.br/rever/rv1_2006/t_massih.htm>. Acesso
em: 3 ago. 2009.

8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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______________. (Org.) Desenvolvimento Psicológico e Desenvolvimento Religioso: uma


hipótese descritiva. In: MASSIMI, M.; MAHFOUD, M. (Org.) Diante do mistério: psicologia
e senso religioso. São Paulo: Loyola, 1999.

MASSIMI, M.; MAHFOUD, M. (Org.) Diante do mistério. Psicologia e senso religioso. São
Paulo: Loyola, 1999.

MORANO, C. D. Crer depois de Freud. São Paulo: Loyola, 2003.

PAIVA, G. J. Entre a necessidade e o desejo: diálogos da psicologia com a religião. São


Paulo: Loyola, 2001.

__________; ZANGARI, W. A representação na religião: perspectivas psicológicas. São


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______ . Sacralidade e fenômenos transicionais. In: Diante do mistério-psicologia e senso religioso.


São Paulo: Loyola, 1999.

VALLE, E. Psicologia e experiência religiosa. Loyola, 1998.

________. Aconselhamento psicológico e aconselhamento spiritual: contextualização geral


e um estudo de caso. In. ANCONA-LOPEZ, M. E Arcuri, I.G. (Org.) Temas em Psicologia da
Religião. São Paulo: Vetor. 2007, p. 137-164.

________. Psicanálise e Teologia: interpelações e aproximações. In. ANSPACH, S. S.


(Org.) A religião e a psique: mulheres emergentes. Belo Horizonte: Edições Alternativas,
2005.

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Batatais – Claretiano
Anotações

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