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Disciplina:
Psicologia da Religião – Prof. Ms. Eliana Massih
e-mail: elianamassih@yahoo.com
Profª. Ms. Eliana Massih
PSICOLOGIA DA RELIGIÃO
Guia de Disciplina
Caderno de Referência de Conteúdo
© Ação Educacional Claretiana, 2009 – Batatais (SP)
Curso: Graduação
Disciplina: Psicologia da Religião
Versão: abr./2010
Preparação Revisão
Aletéia Patrícia de Figueiredo Felipe Aleixo
Isadora de Castro Penholato
Aline de Fátima Guedes
Maiara Andréa Alves
Camila Maria Nardi Matos
Rodrigo Ferreira Daverni
Elaine Aparecida de Lima Moraes
Elaine Cristina de Sousa Goulart Projeto gráfico, diagramação e capa
Lidiane Maria Magalini Eduardo de Oliveira Azevedo
Luciana A. Mani Adami Joice Cristina Micai
Lúcia Maria de Sousa Ferrão
Luiz Fernando Trentin
Luis Antônio Guimarães Toloi
Patrícia Alves Veronez Montera
Raphael Fantacini de Oliveira
Rosemeire Cristina Astolphi Buzelli Renato de Oliveira Violin
Simone Rodrigues de Oliveira Tamires Botta Murakami
GUIA DE DISCIPLINA
1 APRESENTAÇÃO .............................................................................................. VII
2 DADOS GERAIS DA DISCIPLINA.......................................................................... VII
3 CONSIDERAÇÕES GERAIS ................................................................................. IX
4 BIBLIOGRAFIA BÁSICA....................................................................................... IX
5 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR . ........................................................................ IX
6 E-REFERÊNCIAS ............................................................................................... X
INTRODUÇÃO À DISCIPLINA
AULA PRESENCIAL.......................................................................................... 2
Sugerimos, contudo, que não se limite aos conteúdos explicitados nesse caderno,
e, sim, interprete-o como um referencial por meio do qual você possa expandir seus
horizontes de conhecimentos com o objetivo de uma formação consistente, de maneira
especial, no que se refere à Psicologia da Religião.
Objetivo geral
Objetivos específicos
• Delimitar a área de atuação da Psicologia da Religião, seu objeto de estudo e
suas tarefas enquanto disciplina científica.
• Explicitar e classificar a experiência religiosa partindo do estudo histórico e
das pesquisas na área.
• Reconhecer os vários autores e as várias abordagens da Psicologia da Religião
desde seu início.
• Identificar os estudos das neurociências e do avanço da compreensão
psicanalítica do fato religioso.
• Estabelecer relação entre os primeiros passos da Psicologia da Religião e o
que hoje se pratica nas pesquisas e na produção científica.
• Reconhecer a atualidade e a necessidade da disciplina na pastoral, na
catequese e no ensino religioso.
Ao final deste estudo, os alunos dos cursos de Graduação contarão com uma
sólida base teórica para fundamentar criticamente sua prática educacional/profissional. Além
disso, adquirirão as habilidades necessárias não somente para cumprir seu papel de docente/
profissional nesta área do saber, mas também para agir com ética e com responsabilidade
social, contribuindo, assim, para a formação integral do ser humano.
ATENÇÃO!
O segredo do sucesso em um curso na modalidade a distância é PARTICIPAR,
ou seja, INTERAGIR, procurando sempre cooperar e colaborar com seus
colegas e tutores.
Modalidade
( ) Presencial ( X ) A distância
ATENÇÃO!
É importante que você releia no Guia Acadêmico do seu curso as informações
referentes à Metodologia e à Forma de Avaliação da disciplina Psicologia
da Religião, descritas pelo tutor na ferramenta “Cronograma” na Sala de
Aula Virtual – SAV.
3 CONSIDERAÇÕES
Com a leitura deste Guia de Disciplina, você já pôde perceber que o estudo
da Psicologia da Religião é importante, pois permite a reflexão sobre a experiência
religiosa com base no estudo histórico, de pesquisas na área e no conhecimento dos vários
autores e suas abordagens.
Dessa forma, é importante que você tenha uma visão clara dos objetivos que
desejamos atingir com o estudo da presente disciplina. Se for necessário, recorra ao
Guia acadêmico do curso para esclarecer eventuais dúvidas a respeito da metodologia de
estudo de um curso EAD, que privilegia a autonomia como fator importante na modalidade
a distância. Chamamos sua atenção para a leitura e a pesquisa das obras indicadas, para
o aprofundamento dos conteúdos e para a interação na Sala de Aula Virtual.
5 BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR
ALETTI, M. A representação de Deus como objeto transicional ilusório. Perspectivas e
problemas de um novo modelo. In: PAIVA, G. J.; ZANGARI, W. A representação na religião:
perspectivas psicológicas. São Paulo: Loyola, 2004.
CAZAROTTO, J. L. Acompanhamento espiritual. Revista vida pastoral, São Paulo, ano 46,
n. 240, jan-fev. 2005.
MASSIMI, M.; MAHFOUD, M. (Orgs.). Diante do mistério. Psicologia e senso religioso. São
Paulo: Loyola, 1999.
6 E-REFERÊNCIAS
DOWNES, Stephen. Guia das falácias. Disponível em: <http://criticanarede.com/falacias.
htm>. Acesso em: 3 ago. 2009.
ATENÇÃO!
Aceite o desafio! Venha fazer parte deste novo processo de construção coletiva
e cooperativa do saber.
AULA PRESENCIAL
Objetivos
• Analisar e discutir a estrutura da disciplina Psicologia da
Religião e as formas de participação e aprendizagem dos
conteúdos.
Conteúdo
• Programa para o desenvolvimento da disciplina.
UNIDADE 1
ENQUANTO DISCIPLINA
CIENTÍFICA
Objetivo
• Reconhecer o tema e as tarefas da Psicologia da Religião.
Conteúdos
• Histórico da Psicologia da Religião.
ATENÇÃO!
1 INTRODUÇÃO
Durante o estudo desta unidade,
procure anotar os conteúdos que
mereçam destaque, impressões
e dúvidas. Tais anotações são
importantes, pois, ao escrever No início desta disciplina podemos observar que a psicologia da religião é
algo, estamos usando inúmeras
operações de pensamento além um ramo da ciência psicológica que busca entender o fenômeno religioso, isto é, as
das memórias visual e auditiva. motivações, desejos, experiências, atitudes e dinâmicas afetivas que estão por trás dos
Assim, prepare um caderno comportamentos religiosos, sejam eles sociais e grupais, ou seja, fruto das vivências do
ou utilize o Bloco de Notas
disponibilizado na Sala de Aula sujeito.
Virtual.
Desde o nascimento dessa ciência, no século 19, a Psicologia da Religião mostrou
INFORMAÇÃO: uma grande diversidade em seus pontos de partida, metodologias e concepções teóricas,
Quando alguém pretende fazer que se prolongou e se ampliou pelo século 20, e confronta-se com diversas outras ciências
um estudo científico sobre um
determinado assunto ou matéria, e realidades:
o mais natural é que comece
explicando qual é o tipo de 1) Ciências Expeculativas: as Teologias e as Filosofias.
abordagem adotada pela ciência
na qual quer enfocar aquele dado 2) Ciências “Psi”: a Psiquiatria e Psicologia geral.
objeto. Ou seja, o estudioso pode
começar sempre por explicar o 3) Ciências Humanas: Etnologia, Sociologia, Antropologia, História, Ciências da
estatuto teórico e metodológico
de sua abordagem. Esse
Religião etc.
princípio vale, também, para a
psicologia da religião, não existe Entretanto, cada uma dessas ciências tem sua especificidade própria, o que fazem
nem nunca existiu apenas um diferir bastante entre si. Com o firmar-se das modernas Ciências Humanas (Etnologia,
paradigma ou modelo único.
Sociologia, Antropologia, História, Ciências da Religião etc.), a Psicologia da Religião viu-se
obrigada a estender o leque de seus interlocutores para o campo interdisciplinar, passando
a dialogar com essas várias especializações do conhecimento. Hoje a característica
principal das Ciências da Religião é a interdisciplinaridade e a Teologia igualmente dialoga
e faz conexões com todas elas.
No entanto, essa é uma constatação que vale de maneira ainda mais característica
para o fenômeno religioso, dada a forte influência do estilo religioso judaico-cristão e
monoteísta sobre os modelos criados nas fases iniciais da psicologia da religião.
Surgiu espontaneamente a pergunta: será que essa visão vale para as religiões
que não nasceram dentro das mesmas tradições?
2 BREVE HISTÓRICO
Inicialmente precisamos saber que a psicologia da religião passou por fases de
altos e baixos.
Desse modo, a psicologia da religião foi muito atingida por essa virada positivista
e materialista que teve seus representantes mais expressivos no Behavorismo, na
INFORMAÇÃO:
Psicanálise Freudiana e na Psicologia marxista. Um bom exemplo de trabalho
psicológico competente foi
dos cientistas que se reuniram
Nessa fase, Igrejas cristãs mantinham um tipo de atenção à psicologia da em torno do Centro de
religião, embora, às vezes, com características um tanto apologéticas. Porém, a psicologia Estudos Laennec e outros.
da religião manteve um bom nível de debate e pesquisa, entrando em discussão com Eles escreveram inúmeros
trabalhos reunidos nos Études
novas idéias, em geral críticas às religiões e às Igrejas. Carmélitaines e em revistas
como La Vie Spirituelle-
Supplèment. Suas posições
Com isso, surgiram textos importantes, alguns traduzidos ao português, de
encontravam respeito, também,
escritores como Baudoin, Bovet, Hesnard, Beinaert, Plé, Godin, Oraison etc. Esses autores nos meios intelectuais críticos
já não eram teólogos na defensiva e sim psicólogos, psicanalistas, médicos e psiquiatras em que a França era pródiga
bem enfronhados nos dois lados das temáticas em discussão. naqueles anos.
ATENÇÃO!
A influência de tais estudos chegou ao Brasil no início dos anos de 1960 quando Para saber mais sobre a
foi fundada a Sociedade brasileira de psicologia da religião, que reunia médicos psiquiatras, Sociedade Brasileira de
psicoterapeutas, teólogos protestantes e católicos e os primeiros psicólogos da religião. Psicologia da Religião acesse o
site de busca de sua preferência
e pesquise utilizando o título
Nos ambientes da psicologia, a resistência ao diálogo continuava, tanto no Brasil dessa organização como
quanto na Europa e Estados Unidos, diminuíam, também, as publicações acadêmicas, expressão para sua busca.
embora revistas importantes nunca deixassem de circular.
VOCÊ SABIA QUE...
Nos anos de 1990, porém, dava-se uma inversão nessa curva descendente. Na ANPEPP (Associação
Nacional de Programas Pós-
Paralelamente ao retorno das religiões no plano mundial deu-se uma retomada dos
Graduados em Psicologia),
estudos, no campo da psicologia da religião. reunindo professores e
pesquisadores de importantes
Multiplicaram-se de novo os cursos e as cátedras dessa matéria nas grandes Universidades brasileiras,
criou-se o Grupo de Trabalho
Universidades, inclusive, embora mais lentamente, também, nas brasileiras. Aumentaram Psicologia e Religião que,
as revistas e multiplicaram-se as pesquisas das mais variadas naturezas, sobre a crescente desde 1997 já organizaram seis
busca de espiritualidade. Seminários Nacionais, cada
vez mais concorridos. Você terá
contato com estas ideias na
Unidade 6.
(1) O livro de James: As Freud (1856-1939) médico neurologista e psiquiatra judeu-austríaco, em sua
variedades da experiência visão positivista do mundo rejeitou a religião e a considerou uma ilusão, própria de quem
religiosa, publicado pela
editora Cultrix, teve sua edição teme crescer e tornar-se autônomo. Assim, o ser humano teria criado a ideia de Deus para
brevemente esgotada e não foi proteger-se de sua fraqueza e finitude.
reeditado. Consta de 15 palestras
(Conferências Giford) publicadas
em 1902. Contém extensos Jung (1875-1961), psiquiatra suíço, pronunciou-se desde cedo sobre a realidade
relatos pessoais que visam incontestável da experiência religiosa, diferente de tudo o que é dogmático nas religiões
demonstrar não só a variedade
das experiências religiosas em
instituídas. Por isso mesmo foi por muito tempo rejeitado pelos estudiosos católicos.
si, mas também a adequação
epistemológica de estudar o fato William James (1842-1910), filósofo e psicólogo norte americano, visão
religioso partindo de experiências
vivenciais concretas. pragmática, tinha muito respeito pelas experiências religiosas individuais, pelos fenômenos
de conversão e pela santidade tal como postulada pelas religiões. Assim, dedicou-se a
relatá-las em seu mais famoso livro: As variedades da experiência religiosa1.
James, por ter formação filosófica, fala da realidade do invisível, o que abre
INFORMAÇÃO:
caminho para o estudo científico das experiências religiosas vividas pelos indivíduos,
Na psicologia da religião os
relatos pessoais das experiências experiências estas nem sempre adequadas ao modelo positivista de nomear objetos de
religiosas, recheados de emoção pesquisa, ou seja, deveriam ser visíveis, concretos e mensuráveis.
e fala poética, podem ter estatuto
científico e levar a conclusões ou,
ao menos, nomear padrões de Agora que já sabemos sobre a história e o objeto de estudo da Psicologia da
comportamento. Além disso, há
Religião: a experiência religiosa individual e/ou grupal, pergunto a você: podemos abrir
o interesse de se compreender
as motivações da religiosidade mão de uma visão interdisciplinar que envolva os vários aspectos da experiência, o
humana além da visão redutivista momento histórico em que ela se dá, as características culturais da comunidade, e mesmo
da Psicanálise.
as condições geográficas em que vive o indivíduo ou grupo que experimenta o sagrado em
suas inumeráveis versões? Parece ficar claro também que devemos compreender o fato
religioso sem desejar explicá-lo por esta ou aquela teoria.
Pode-se, também, afirmar com segurança que essa ciência tem como objeto de
estudo a experiência religiosa, que é sempre pessoal e diversa, porém, paradoxalmente,
tem um fundo comum que a faz ser vista e reconhecida como própria do humano.
Dessa forma, as visões de mundo dos teóricos da Psicologia são múltiplas, seja
pelas características pessoais dos autores, seja pela formação filosófica que os embasa,
seja pela cultura na qual receberam sua própria formação religiosa. O que comprova
mais ainda a necessidade de se conhecer a cultura original na qual emerge a experiência
religiosa individual ou grupal que pretendemos estudar. Esta visão cultural está cada vez
mais presente nos Programas de pós-graduação em Ciências da Religião no Brasil e no
mundo.
Desse modo, ter consciência dos próprios limites e possibilidades é uma condição
básica para se fazer ciência psicológica da religião. A psicologia da religião precisa ainda
embasar-se filosoficamente e ter consciência da visão teológica que, mesmo de modo
não consciente, pode estar influenciando. Trata-se de uma autorreflexão permanente e
metodológica.
Seu objetivo e campo de atuação são delineados da seguinte maneira por Ávila
(2003, p. 12):
Desse modo, surgiram, também, os testes ditos projetivos, que ajudam a adentrar
os meandros das motivações profundas e inconscientes do comportamento religioso.
Em Universidades como a de Louvain, na Bélgica, foram feitos estudos detalhados de
muitos traços comportamentais de fundo religioso, mediante o uso de tais instrumentos.
Alguns foram criados com a finalidade expressa de se chegar de modo mais adequado às
dimensões propriamente religiosas dos sentimentos e comportamentos.
Afirmava Jung que o psicólogo que se coloca em uma posição científica não deve
ter a pretensão de carregar consigo a verdade exclusiva e eterna. Em suas palavras:
PARA VOCÊ REFLETIR: O psicólogo que se coloca numa posição puramente científica, não deve
A Psicologia da Religião não trata considerar a pretensão de qualquer credo religioso: a de ser possuidor da verdade
da fé como conceito teológico
e sim de experiências de fé
exclusiva e eterna. Uma vez que trata da experiência religiosa primordial, deve
vividas de modo individual e/ concentrar sua atenção no aspecto humano do problema religioso, abstraindo o
ou coletivo em sua influência que as confissões religiosas fizeram com ele (JUNG, 1982, p. 11).
sobre o processo de evolução e
amadurecimento humano. Como
o ser humano faz sua trajetória Para concluir, citemos Valle (2007):
impregnado pelo impacto dessas
experiências religiosas? Para mim, a religião, do ponto de vista da Psicologia, deve ser entendida como
uma ‘atitude’, isto é, como uma maneira de ser diante de alguém ou algo.
Estrutura-se como uma síntese dinâmica, orientada por metas, normas e
valores que são assimilados pelas pessoas a partir do que são, sentem, pensam
e buscam. A atitude religiosa se expressa por meio de palavras, gestos e
símbolos de natureza religiosa, elaborados no seio de cada cultura e expressos
na sua linguagem e seus conceitos.
Já na Unidade 2 iremos adquirir, por meio de uma análise crítica, uma noção de
experiência religiosa. Até lá!
9 E-REFERÊNCIA
WIKIPÉDIA. Home page. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/P%C3%A1gina_
principal>. Acesso em: 4 set. 2007.
ATENÇÃO!
Com a pesquisa, você não 10 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
impõe fronteiras em sua
aprendizagem e pode construir AGOSTINHO, S. Confissões. Coleção: Os pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 1996.
um conhecimento amplo e
profundo sobre determinado AVILA, A. Para conhecer a psicologia da religião. São Paulo: Loyola, 2007.
assunto. Sugerimos, portanto,
que você leia os livros citados BRYANT, C. Jung e o cristianismo. São Paulo: Loyola, 1996.
nas referências bibliograficas,
principalmente o livro escrito JAMES, W. As variedades da experiência religiosa. São Paulo, Cultrix, 1995.
por Antonio Avila,traduzido em
2007, que apresenta um resumo JUNG, C.G. Psicologia e religião. Petrópolis: Vozes, 1982.
organizado e fiel das conquistas
da Psicologia da Religião. VALLE, E. Psicologia e experiência religiosa. São Paulo: Loyola, 1998.
Objetivos
• Compreender o que é experiência religiosa.
Conteúdos
• Dimensões da experiência religiosa.
• Núcleos experienciais.
• Outras experiências.
UNIDADE 2
Cursos de Graduação
1 1 INTRODUÇÂO
ATENÇÃO!
Ao iniciar seus estudos sobre a
noção de experiência religiosa
é importante considerar as
seguintes técnicas que poderão Nesta unidade, você perceberá que a experiência religiosa comporta sempre
potencializar sua aprendizagem: uma emoção. Emoção gerada por um desejo de sentido, de pertença, por um desejo de
a) tente estabelecer um horário e
lugar fixo para o estudo;
Deus. Perceberá ainda que a experiência religiosa faz separar o sagrado (tudo o que gera
b) procure ter à mão todos os sentido) do profano (aquilo que não tem sentido). Esta delimitação foi explicitada mais
recursos e materiais de que irá claramente somente no século 20 com os escritos de Mircea Eliade que define religião com
necessitar; base nas experiências vividas por indivíduos ou grupos.
c) participe ativamente do estudo:
estude com compreensão,
atenção e concentração; Toda experiência humana comporta uma ou mais emoções. Emoção na experiência
d) faça as reflexões sugeridas; psicológica não quer dizer, no entanto, emoção religiosa. Podemos experimentar fortes
e) distribua racionalmente os
períodos de estudo. emoções em um show de rock ou diante de um discurso político. Entretanto, o que define
a experiência religiosa é sua vinculação com o sagrado.
INFORMAÇÃO:
Leia mais sobre a História das
Religiões no livro indicado na Para iniciar o estudo desta unidade convido você a refletir sobre os seguintes
bibliografia básica: O espectro questionamentos: o que é sagrado para você? Em nossa sociedade de consumo, em que
disciplinar da Ciência da Religião o funcional e o econômico superam o transcendente e o atemporal, como se vivencia o
(p.43-44).
sagrado?
2) Que tipo de emoção eles comportam? Qual a ligação dessas emoções com o
sagrado e com o profano?
O certo é que mesmo se tiver se iniciado com alguma emoção considerada ruim,
como o medo e a raiva, a experiência religiosa deve levar a um bem estar no final. Assim,
diante de uma situação limite como a iminência da morte (em si geradora de medo) pode
surgir uma vivência reparadora (bem estar e entrega, superação do risco e reversão da
situação etc.) que serão consideradas religiosas por quem as vivencia. Portanto, se nada
foi concluído ou elaborado, então não se trata de experiência religiosa, já que essa opera
uma mudança no estado de alma e geralmente equilibra - ao menos por um certo período-
aquele que vive a experiência.
Assim, vale destacar que algumas dessas experiências religiosas podem levar
a mudanças mais permanentes parecidas com conversão. E ainda, assemelham-se a um
bem estar vivido pelos santos (na experiência cristã) ou por quaisquer outras experiências
espirituais diferentes das ocidentais.
O homem religioso não percebe sua relação com a divindade como se fosse
um apêndice estranho a ele ou então, como se fosse um mero produto de seu próprio
psiquismo e sim como uma totalidade com a qual está em comunicação e que o interpela,
dando um sentido.
Como você pôde notar, na experiência religiosa existe uma dimensão inconsciente,
densamente afetiva e não isenta de conflitos. Nota-se, também, que ela traz um sentido
que exerce influência sobre o agir, sobre o pensar e sobre o querer, moldando a vida de
acordo com Alguém com quem se vê em relação.
Devo observar que não se trata de uma questão de fé, mas de experiência. A
experiência religiosa é algo de absoluto. Não é possível discutir acerca disso.
Uma pessoa poderá dizer que nunca teve uma experiência desse gênero, ao
que o oponente replicará: “lamento muito, mas eu a tive”. E com isso se porá
termo a qualquer discussão (1978, p. 111).
Assim observamos certos núcleos que se repetem nas pesquisas realizadas com
adeptos da religião católica, permitindo uma divisão em tipos:
4 OUTRAS EXPERIÊNCIAS
Baseada nos estudos de Greeley, a psicossocióloga norte-americana Margaret
Poloma (1998, p. 70-72) realizou uma grande pesquisa, na qual estudou as seguintes
experiências:
4) Dejà vu: estado em que o sujeito julga já ter vivido em outro tempo a
experiência do presente. A neuropsicologia já tem explicações para estas
vivências, mas não para o conteúdo das mesmas, pois como diz Damásio,
mente é o que cérebro produz para falar de realidades intangíveis.
5 CONSIDERAÇÕES
Com o estudo desta unidade, você pôde compreender as diferentes modalidades
de experiência religiosa e/ou mística através de vários relatos de pesquisas. Você pôde
ainda entender que experiência religiosa e emoção caminham juntas. Eu mesma vivi uma
experiência religiosa com base em um sonho relacionado a minha história de vida. Por
este motivo inclui a referência na bibliografia (MASSIH, 2004).
ATENÇÃO!
Sua aprendizagem não tem
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFIAS fronteiras! Assim, é muito
importante que leia as obras e os
sites referenciados ao lado.
JUNG, C. G. Psicologia e religião. São Paulo: Vozes, 1978.
LOTUFO NETO, F. Influências religiosas sobre a psicoterapia. In. PAIVA, G. J.; ZANGARI,
W. A representação na religião: perspectivas psicológicas. São Paulo: Loyola, 2004.
Objetivos
• Identificar algumas teorias importantes em Psicologia da
Religião.
Conteúdos
• Visão pragmática de William James.
ATENÇÃO!
1 INTRODUÇÃO
Lembre-se de que a organização
de um horário de estudo é útil
para estabelecer hábitos e,
assim, possibilitar que você
utilize o máximo de seu tempo e Na Unidade 2 vimos o que se passa na intimidade do sujeito religioso. Mas, a
de sua energia. Pense nisso...
Ah, não se esqueça de consultar psicologia da religião vê esses processos eminentemente pessoais como sendo resultado
as informações contidas no Guia também de dinâmicas interpessoais e sociais que acontecem dentro de grupos humanos
de disciplina e na página inicial concretos, como são a família e as igrejas. De modo mais amplo, hoje em dia a psicologia
desta unidade.
da religião sabe que é impossível compreender as motivações religiosas das pessoas sem
conhecer sua sociedade e sua visão de mundo. Melhor dizendo, só é possível produzir
psicologia da religião dialogando com a Sociologia e a Antropologia. Igualmente vem
se ampliando as interfaces com outras áreas do conhecimento como a Geografia e a
Estética, consideradas subdisciplinas complementares. A história natural e os modelos
INFORMAÇÃO: computacionais também vêm ampliando os horizontes de saber das Ciências da Religião e
Para aprofundar e tomar contato
com estas ideias sugiro a da Teologia. Modificam assim a visão do psicólogo da religião que precisa compreender o
leitura dos livros organizados ser humano em sua relação com o que é considerado sagrado.
por Faustino Teixeira e Frank
Usarski, elencados na bibliografia
geral e desta unidade. A religiosidade é modelada pela cultura na qual o indivíduo nasce e se caracteriza
por orações, rituais, crenças, sentimentos e padrões de comportamento recebido desta
cultura com base nas pessoas significativas com quem este indivíduo partilha a vida.
A verdade é que não existe experiência, fato ou fenômeno que não possa ser
considerado sagrado ou religioso. É condição própria do ser humano sacralizar a vida,
suas passagens, suas etapas de amadurecimento e é exatamente isto que a adesão a uma
denominação religiosa pode fornecer ao indivíduo: um lugar social para que ele metabolize,
vivencie esta possibilidade humana de separar o sagrado do profano, significando e re-
significando permanentemente sua vida.
Vá em frente!
1) o pragmatismo;
2) a emocionalidade;
Por ter tido contato com muitos relatos de experiências e, por seus conhecimentos
de psicanálise comuns a intelectuais de seu tempo, desenvolveu, também, a ideia de que
a mentalidade religiosa pode ser doentia (sick soul), influenciado pela visão de Freud, ou
saudável (healthy minded), a exemplo das posições de Jung e Rudolf Otto.
estudos partindo de “frases-estímulo” (como por exemplo, a Oração de São Francisco de INFORMAÇÃO:
Senhor fazei que eu procure
Assis) e chegou a identificar três elementos estruturais que constituiriam a experiência mais: consolar que ser
religiosa: consolado, compreender que
ser compreendido; amar que
ser amado; pois é dando que se
1) Sentimentos: palavra genérica que designa diversos estados, sensações, recebe; é perdoando que se é
intuições ligadas a vivência de bem estar e/ou mal estar que conectam-se a perdoado; e é morrendo que se
vive para a vida eterna...(Trecho
funções do ego. da Oração de São Francisco).
Girgensohn já havia intuído que, para que essa apropriação seja possível, ou
seja, tal estado de confiança na experiência é preciso que entre o ego que vivencia e o
objeto vivenciado, o sagrado, haja uma troca que produza integração. No entanto, INFORMAÇÃO:
A abordagem fenomenológica
no momento em que o ego se desfaz é que, paradoxalmente, se dá a experiência mística.
tem muitos seguidores
Para ele, embora os atos e imagens religiosos possam parecer contraditórios, irrealistas na psicologia da religião
ou sem sentido, demonstrarão significado profundo se vistos à luz do contexto mais amplo contemporânea e um de seus
expoentes é Mauro Martins
em que ocorreram. Amatuzzi, professor da
PUC-Campinas e membro da
ANPEPP. Vocês o conhecerão
melhor na Unidade 4, onde
Allport parte da ideia de que o ser humano deve ser visto como um arco evolutivo
em que as primeiras etapas da vida vão se somando e integrando para formar o todo da
personalidade que, no final, decresce do ponto de vista biológico e amadurece do ponto
de vista religioso e/ou filosófico.
INFORMAÇÃO:
Allport prioriza o individual Para Allport, o amadurecimento não se dá de modo espontâneo e previsível
ao sociológico-cultural, mas
com a clareza de que tudo
como nas plantas e nos animais e sim pelas influências do meio ambiente com seus
influi na constituição de uma estímulos afetivos, pedagógicos e mesmo institucionais ou sociais.
personalidade madura e
autônoma. A palavra idios em
grego quer dizer “o que é próprio” O ser humano evolui com base nos contatos com o mundo e, igualmente, com
e a abordagem idiográfica de base em seus traços de personalidade (traits).
Allport não fala em tipos ou
classes. No entanto, Allport
reconhece a importância da A motivação possui autonomia funcional e é fundamental para o amadurecimento;
comparação, presente nos depende dos traços de personalidade, das necessidades fisiológicas e igualmente
autores que utilizam a visão
nomotética para apreender das necessidades espirituais.
o fato religioso (nomos quer
dizer padrão), o que mostra a
flexibilidade de seu pensamento. Critérios da personalidade madura
Como psicólogos, científicos da
Religião aceitaremos a idéia de Para uma maior clareza da teoria de Allport é preciso que compreendamos o
que é possível comparar grupos
de pessoas segundo vários
conceito de maturidade e suas intersecções com o conceito de religiosidade.
padrões e/ou pontos de vista,
entre eles a filiação religiosa, Os motivos infantis inconscientes precisam ser superados e integrados pelas
sexo, idade e classe social.
Mas nunca perderemos de vista funções do ego. Igualmente se dá com a religiosidade, que deve superar as primeiras
a singularidade da evolução fases ligadas à realização de desejos ou a necessidade pura e simples de proteção.
espiritual.
4) Busca da verdade.
Em suas obras ele deixa claro que a psicologia da religião não se ocupa do
sentido último da vivência religiosa, tarefa esta exclusiva dos teólogos.
Hoje, a ciência nos afirma que durante as vivências que são consideradas
religiosas acontecem alguns fenômenos neurológicos que podem ser comprovados
empiricamente por exames como o PET e outros. Mas ainda não compreendemos como
estas experiências vêm carregadas de poética e de mística, fatos não explicáveis. Para
Vergote (Valle,1998 p. 258):
INFORMAÇÃO:
Vergote esteve no Brasil As atitudes religiosas ordenam as pulsões dando a elas um colorido cultural que
em 1999 por ocasião do 3º respeita o momento na qual se inserem, injetando espiritualidade nessas mesmas pulsões
Seminário de Psicologia e Senso
religioso e proferiu importante que, de outro modo, se esvaziariam sem fornecer abertura para o mais ser, que é o vínculo
palestra com o título/tema do com o divino.
evento: Necessidade e desejo da
Religião na ótica da Psicologia.
Sua pergunta base foi a seguinte: Noção de pecado e psicologia da religião
hoje é necessária a religião para
o bom funcionamento psicológico
do homem? Vergote deixou claro em sua visita ao Brasil que o psicólogo da religião deve
delimitar sua atuação à vivência religiosa. A idéia de pecado está associada à teologia e
se vincula à falta moral e falta contra Deus, que interpela o homem e o coloca diante de
um impasse.
O sentimento de vergonha diante do outro que me olha faz com que eu deseje
ser melhor. Igualmente, se a criança que cresce for julgada insatisfatória, “feia”, poderá INFORMAÇÃO:
carregar consigo a imagem e sensação de que não é alguém digno de ser amado. Esta Importante pesquisa sobre
condição certamente incidirá em sua maneira de lidar com a religião, e com os outros a representação de Deus e
as doenças psicológicas foi
com quem convive. As experiências negativas com figuras de cuidado e/ou autoridade se realizado por Anna Maria
associarão frequentemente à idéia de um Deus punitivo. Rizzutto, psicanalista e psicóloga
contemporânea da Religião e
pode ser consultado em sua
A consciência da culpa quando não se cumpre o que é prescrito leva ao desejo tradução em português referida
da confissão, pois o maior medo não é ser descoberto e sim ser punido. A penitência vinda na bibliografia desta unidade e
novamente na Unidade 6.
da autoridade religiosa (o padre) repara simbolicamente a culpa. Assim, culpa e vergonha
fazem com que as religiões se consolidem. Na tradição judaico-cristã, a falta contra os
mandamentos é que compõe a ideia de pecado e é composta de três elementos:
Necessidade e desejo
Antes do avanço das ciências e com base na nossa visão de mundo judaico-
cristão, a religião era imprescindível e a única forma de se ler o mundo e a realidade.
Hoje já se pode falar de escolhas: viver com ou sem religião? E ainda, religião
se insere na cultura como um fenômeno assemelhado às artes e às sociedades leigas
próprias de cada grupo.
O mesmo acontece com a superação da idéia de uma cisão entre mente e corpo.
Os neurologistas interessados em religiosidade desejavam saber em que lugar do cérebro
aconteciam os fatos vividos pela pessoa em estados alterados de consciência.
Com base em estudos realizados nos últimos três séculos acreditava-se que a INFORMAÇÃO:
Antonio Damásio, neurologista
mente paira em algum lugar fora do corpo, talvez de um ens caído do alto. Hoje sabemos
português, mostra em seu livro,
que o funcionamento do corpo depende de genes e células, mas também, e principalmente, O erro de Descartes, Emoção,
de sinapses e do amadurecimento do cérebro em suas relações com as outras esferas da Razão e o cérebro humano, o
momento em que o médico e
presença do homem no mundo. filósofo Descartes separou o
corpo (res extensa) da mente
Com base em estudos muito técnicos, Damásio postula a existência de três (res cogitans), cuja sede se
localizaria na glândula pineal, a
cérebros que existem e atuam distintamente um do outro, com configurações anatômicas única que não tem duplicação no
e fisiológicas que se interrelacionam em diversas etapas da vida humana, seja do ponto corpo humano.
de vista filogenético ou ontogenético. São eles:
A partir da década de 1970, por meio de Mac Lean, fala-se de três cérebros que,
apesar de estarem ligados em inúmeras conexões, têm funcionamento independente e
evoluíram ao longo de diferentes etapas filogenéticas.
Aparece de forma intocada nos répteis e pássaros. Células advindas desta área
têm semelhança a dos répteis e é este o cérebro responsável por nosso funcionamento
INFORMAÇÃO:
A perda dos três Fs e a origem vegetativo autônomo. É também responsável pela vigília e pelos comportamentos
do stress da vida moderna se instintivos de cópula dos animais e danças de acasalamento.
deu da seguinte maneira: Os
primitivos diante de um susto
ou ataque podiam lutar ou fugir Os neurologistas o associam aos chamados três “Fs”: fight/flight/freeze que,
para então resfriar ou relaxar, o no ser humano evoluído, foi se perdendo, gerando o que chamamos de stress da vida
que não se dá nos dias de hoje
em situações institucionais e/ou moderna.
políticas em que nos sentimos
impotentes e incapazes de reagir
aos ataques e situações limite. A Cérebro límbico
saída para as Religiões poderia
então funcionar como modo de O cérebro límbico há muito tempo é associado ao nosso cérebro emocional. Nós
lidar (to cope/ coping) com este
stress.
o temos igualmente aos mamíferos que se apegam entre si e conosco e são capazes de
brincar quando filhotes, tal como os bebês, crianças e adultos humanos. Esses últimos
agregam ainda a capacidade de proteger suas crias ao longo de toda a vida.
Cérebro neocortical
Este contém mais de 10.000.000 neurônios responsáveis por sinapses e por todo
o funcionamento de tecidos e nervos. É o último a se constituir e surgiu há pouco tempo.
A mente mística
1) Sentir-se absorvido no Todo como se fosse uma coisa só com esse Todo.
8 CONSIDERAÇÕES
Poderíamos nos estender e apresentar outros autores da Psicologia da
Religião. Contudo, nosso objetivo não é esgotar o tema e sim abrir o caminho para que
vocês possam ter uma visão crítica e ir a busca de conhecimento cientificamente válido
a respeito da questão mais antiga da humanidade: o mistério da criação e a presença do
sagrado em todas as culturas.
______. The feeling of what happens: body and emotion in the making of consciousness.
New York: Harcourt Brace and Court, 1999.
______. The mystical mind: Probing the Biology of Religious Experience. Minneapolis:
Fortress Press, 1999.
MAC LEAN, P. The triune brain, emotions and scientific bias. In: SCHIMITT, F.O. (Ed.) The
neuroscience: the second study program. New York: Rockfeller University Press, 1970.
______. TheTriune brain in evolution: role in paleocerebral functions. New York: Plenum
Press, 1990.
TEIXEIRA, F (org) A(s) Ciência(s) da Religião no Brasil. Afirmação de uma área academica.
São Paulo, Paulinas, 2001
Objetivos
• Apontar alguns autores que se preocuparam em apresentar
etapas ou estágios do amadurecimento da religiosidade.
Conteúdo
• Escalas de amadurecimento religioso e/ou psicológico.
UNIDADE 4
Cursos de Graduação
ATENÇÃO!
1 INTRODUÇÃO
Ao iniciar seus estudos,
procure ter em mãos todos os
recursos de que irá necessitar,
tais como: dicionário, caderno
para anotações, canetas, lápis, Nesta unidade estudaremos o amadurecimento da religiosidade com base na
obras etc. Desse modo, você
poderá evitar as interrupções visão de alguns autores da Psicologia da Religião. É importante para você, aluno, saber
e aproveitar seu tempo para que a religiosidade vai se transformando ao longo da vida e tem a ver com o percurso ou
ampliar sua compreensão. Pense itinerário de cada pessoa inserida em seu ambiente histórico-cultural. As relações com
nisso...
pessoas e grupos significativos vão modelar seu amadurecimento psicoespiritual.
INFORMAÇÃO:
Escalas são recursos Alguns autores utilizam escalas, outros fazem descrições de etapas ligadas a
pedagógicos que não devem
tirar o psicólogo da religião de períodos da vida. Todos os autores tem em comum a clareza da contínua mobilidade do
sua intenção de compreender pensar e sentir religioso e da influência das experiências vividas e refletidas. Mais adiante
cada indivíduo em sua
peculiaridade histórica e
no curso vocês terão a disciplina específica que tratará deste tema. Para o momento, farei
cultural. Escalas ajudam, se apenas uma introdução para que você aluno perceba a importância da formação para
usadas de modo reflexivo e se atingir a religiosidade madura. Lembre-se que na Unidade 3 Allport se referia a uma
qualitativo com a certeza de que
o amadurecimento religioso é, religiosidade intrínseca em oposição à religiosidade extrínseca. É isto mesmo que você
em si, permeado de quedas e comprovará, ou seja, que a religiosidade intrínseca pode e deve ser construída com base na
avanços, perdas e retomadas de
fé e sentido ao longo da biografia formação, do ensino religioso e da elaboração das experiências religiosas vividas.
de cada um.
(1) Mauro Martins Amatuzzi: Antoine Vergote, conhecido por você na Unidade 3, reafirma ao longo de sua
psicólogo e psicoterapeuta obra que o nascimento da ideia de Deus não brota espontaneamente por germinação
contemporâneo, de linha
fenomenológica, baseou-se em espontânea. Sem um mínimo de educação religiosa não há como se avaliar ou elaborar
Fowler, mas também em Erick sequências de desenvolvimento nesta área. O que de fato precisamos é aprofundar o
Erickson. É um estudioso da conhecimento de casos concretos e resultados obtidos por questionários e/ou relatos de
religiosidade professor da PUC de
Campinas-SP e será apresentado experiências e assim nortear a preparação de roteiros catequéticos cada vez mais eficazes,
a vocês na Unidade 6. que gerem uma participação consciente na comunidade religiosa na qual o indivíduo se
(2) Erik Homburger Erikson insere.
(Frankfurt, 15 de junho de 1902
— Harwich, 12 de maio de 1994) A religiosidade vista como algo inerentemente humano anda em paralelo com
foi um psiquiatra responsável
pelo desenvolvimento da o desenvolvimento fisiológico, respeitando-se a história e o meio cultural do indivíduo.
Teoria do Desenvolvimento Assim, a religiosidade presente nas escalas é aquela religiosidade sadia que ajuda a
Psicosocial na Psicologia e
um dos teóricos da Psicologia compor a totalidade do amadurecimento humano.
do desenvolvimento. Nasceu
em Frankfurt-sobre-o-Meno, Podemos observar que vários autores se ocuparam da evolução do sentimento
Alemanha, em 15 de Junho de
1902. Começou a sua vida como de fé e da sua inserção na personalidade total. Seguramente, a escala de Fowler (1992),
artista plástico. Em 1927, depois além de ser a mais conhecida, baseou-se em observação direta, o que dá maior alcance
de estudar arte e viajar pela
Europa, passou a lecionar em
a seus resultados.
Viena a convite de Anna Freud,
filha de Sigmund Freud. Sob Mauro Martins Amatuzzi1 em sua escala prioriza a ideia de passagem para
orientação dela, submeteu-se
à psicanálise e tornou-se ele compreender as progressões e eventuais regressões da evolução do senso religioso.
próprio psicanalista, embora Baseia-se em Erik Erickson2 que fala em polos antagônicos a serem superados, mas
tenha tecido criticas à psicanálise
por esta não ter em conta as
prefere a ideia de passagem de uma etapa à outra.
interações entre o individuo e o
meio, assim como por privilegiar
os aspectos patológicos e
Deve ser entendida em seu sentido grego original (da palavra “pisteuo”) que
quer dizer “eu confio, me comprometo, coloco todo o meu coração, empenho minha
felicidade”. Assim, a fé não é uma postura abstratamente derivada das verdades teológicas
reveladas e não pode ser separada da vida como se fosse um espaço compartimentado.
2) faz a pessoa se sentir ligada aos outros por vínculos de confiança e lealdade;
3) permite que o que é pessoal na vida tenha uma referência com um horizonte
maior de sentido;
1) Fé primal (in utero e nos primeiros meses após o nascimento): esta fase
envolve o início da confiança emocional e constitui a base do desenvolvimento
posterior da fé.
1) Primeira etapa: o bebê (até um ano de vida) tem como principal tarefa
passar do sonho a realidade e descobrir um mundo objetivo fora de si
mesmo. Para isso, a experiência necessária é a da confiança em relação aos
pais (ou substitutos), a quem o bebê se entrega mesmo sem ter consciência.
É a base para as formas mais evoluídas de religião e adesão a um grupo, pois
haverá no futuro uma associação entre esta experiência e aquela em quem
se filia a um credo.
Outro fato a ser compreendido é a evolução da moral na criança. Pois, até mais (6) “Anomia é um estado de
dissonância cognitiva que justifica
ou menos quatro anos, a criança não possui a compreensão de algo parecido com as a ausência de Organização,
normas de um grupo ou instituição. não sendo organizado, ou
seja, um estado caótico. Do
ponto de vista da Sociologia é
Tendo um pensamento pré-operatório, a consciência baseia-se nas suas o enfraquecimento das normas
necessidades motoras e em suas fantasias. Esta 1ª etapa da anomia6 envolve a fase sociais de um povo ou grupo
social; esta desorganização
perceptivo motora e parte da fase pré-operatória. Nesta etapa ela cumpre as normas não enfraquece a integração dos
como um ato moral, mas para evitar o castigo. indivíduos, deixando-os sem
saber como agir, ficando sem
uma regulamentação por um
A 2ª etapa da heteronomia é vivida pela criança até cerca de nove a dez período de tempo, indeterminado
anos, envolvendo o final da 2ª e a totalidade da 3ª etapa. Nesta fase, os grupos passam ou determinado” (WIKIPÉDIA,
2007).
a ter significado e a criança entende que as regras foram construídas por alguém e,
eventualmente, são atribuídas a Deus, pois a criança vê a autoridade como autora das
normas.
Como as crianças não têm ainda noção do relativo, não percebem que uma falta
grave, se for realizada sem intenção, pode ser menos sancionada que outra menos grave
praticada intencionalmente.
A relação com os pais é assimétrica, mas pode ser movida pela cooperação. Esse
fato também ocorre no ensino religioso que, por exemplo, ensinará sobre a impropriedade
de sanções que causam sofrimento desnecessário a quem viola as leis.
A evolução moral se dá mais com a cooperação que com a coação. Assim, o bem
aparecerá como um desejo e uma aspiração. Enquanto a coação forneceria um modelo, a
cooperação forneceria um método.
Igualmente, precisamos ficar atentos para não cair num racionalismo indevido
já que o ensino religioso inclui necessariamente também os afetos e devoções, medo e
(7) Heteronomia é um conceito
amor, próprios de qualquer ser humano diante do Absoluto.
criado por Kant significando
as leis que recebemos. Ao
Para Piaget, agimos moralmente quando guiados pela razão e pelo afeto. O contrário de autonomia, consiste
na sujeição do indivíduo à
sentimento do sagrado, associado inicialmente à etapa da heteronomia7, deve evoluir para vontade de terceiros ou de
uma autonomia que implique a fazer escolhas sobre os desejos e sobre as condutas. uma coletividade. É conceito
básico relacionado ao Estado de
Direito, em que todos devem se
Com os avanços da psicologia de religião sabemos que a idéia de Deus pode e submeter à vontade da lei.
deve ir se transformando ao longo do tempo por meio da formação religiosa adequada e do
É uma fase de extrema importância, pois muita coisa poderá ser ensinada neste
período e o que aprender servirá como base para qualquer experiência ao longo da vida.
Diferentemente das fases precedentes, nesta etapa ela pode deduzir com base
em realidades abstratas, ou seja, aplicar conceitos teóricos a realidades concretas. Se a
criança não foi devidamente estimulada psicológica e pedagogicamente até esta idade
encontrará dificuldades e/ou certa demora em captar novos conceitos.
6 CONSIDERAÇÕES
Chegamos ao final da Unidade 4, a qual tratou de conceitos relevantes em relação
ao amadurecimento da religiosidade, considerando algumas escalas de amadurecimento
religioso e/ou psicológico. Estes temas serão aprofundados em disciplina específica mais
adiante no curso.
Objetivos
• Conhecer os conhecimentos ligados ao conceito de
ilusão.
Conteúdos
• Ilusão na psicologia da religião.
• André Godin.
• Mario Aletti.
UNIDADE 5
Cursos de Graduação
ATENÇÃO!
1 INTRODUÇÃO
Para atingir, aos objetivos que
nos propomos para esta unidade,
é importante que participe
ativamente do estudo. Lembre-
se de que a aprendizagem com Como já vimos na Unidade 1, sempre houve divergências de opinião dos
a utilização de vários sentidos:
visão, audição e tato – facilita a estudiosos da alma humana em relação à religiosidade. As ideias de Freud e, sobretudo,
aprendizagem dos conteúdos. seu artigo O futuro de uma ilusão de 1927 faziam referência à religião como algo próprio
Assim, procure estabelecer
contato com o material por meio de pessoas frágeis e ainda, que o saber científico suplantaria a necessidade da mesma.
de tantos meios sensoriais
quantos forem possíveis: Para ele ilusão é uma crença fundada no desejo delirante de estarmos sempre
a) leia o texto, depois faça uma
revisão preferencialmente em em estado de equilíbrio e bem estar.
voz alta a fim de organizar os
seus pensamentos;
b) após compreender o texto, Sigmund Freud (1856-1939) judeu, filho de rabino, neurologista de formação
estabeleça conexões entre os organicista estava imbuído do espírito de sua época que postulava a soberania da ciência
temas e a sua realidade.
c) faça a síntese dos textos,
em detrimento dos conhecimentos ligados à tradição. Mostrou claramente a associação
usando técnicas de redução que fazia entre patologia e Religião.
do texto, como por exemplo:
resumos, resenhas, mapas
conceituais etc. Foi com base em seus pacientes (pessoas adoecidas) que elaborou seus conceitos
d) procure enriquecer as e a aplicação da psicanálise para outras áreas do saber.
anotações com sua
contribuição pessoal.
No artigo de 1907 relacionava sintomas obsessivos a práticas religiosas. Hoje
INFORMAÇÃO:
Sigmund Freud apesar de em dia temos uma melhor compreensão dos fatos e sabemos que o transtorno obsessiva
ter estudado Antropologia e compulsivo é a associação de uma ideia obsessiva (por exemplo: sentimento de culpa)
Mitologia ignorou a importância
dos ritos e da vivência do a um ou vários comportamentos compulsivos (na nossa realidade católica, seria, por
sagrado na constituição do ser exemplo, acender velas, rezar o terço inúmeras vezes ou mesmo buscar a confissão) que
humano integrado. Hoje sabemos
que a Religião, fenômeno visam diminuir a angústia.
presente em todas as culturas
das quais temos conhecimento,
fornece ao indivíduo e ao grupo a
Certamente trata-se de uma patologia que causa sofrimento e merece cuidados
possibilidade de humanizar-se e e tratamento adequado. O que não se pode, com os conhecimentos que hoje possuímos
ter acesso ao desejo de encontro
considerar que, qualquer prática religiosa seja doentia.
com a divindade, como sagrado
em qualquer uma de suas formas
culturalmente disponíveis. Williiam James já havia intuído e comprovado com base no estudo sistemático
INFORMAÇÃO: de casos concretos que a religiosidade pode ser sadia (healthy mind) ou doentia (sick
O manual CID 10: Classificação soul), como você pôde aprender na Unidade 2.
Estatística Internacional
de Doenças e Problemas
Relacionados à Saúde elenca
esta doença de alta incidência
na atualidade.. Para consultá- Religiosidade em si é um modo próprio de ser do humano e carrega o potencial
lo na íntegra, acesse o site da saúde e da doença, dependendo dos vários fatores envolvidos na história
referenciado a seguir. DATASUS. pessoal e social de quem vive a experiência.
CID 10. Disponível em: <http://
www.datasus.gov.br/cid10/
webhelp/cid10.htm>. Acesso em:
31 jul. 2009. Carl Gustav Jung (1875-1961) cedo se revelou um dissidente das ideias do
(1) Numinoso: sentimento mestre. Para ele, a experiência religiosa é o encontro com o numinoso1 que põe o indivíduo
único vivido na experiência do em contato com suas esferas mais profundas, com o inconsciente coletivo (AVILA, 2007,
sagrado, em que se confundem
a fascinação, o terror e o p. 43). Como psicólogo, o objeto de seu estudo não é afirmar ou não a existência de Deus,
aniquilamento. mas sua presença e influência no homem que crê (AVILA, 2007, p. 43).
ATENÇÃO!
Para aprofundar seus O pastor e psiquiatra Oskar Pfister escreveu em 1928, uma celebre resposta
conhecimentos sobre este tema
ao ensaio escrito por Freud em 1927: O futuro de uma ilusão intitulado A ilusão de um
leia a obra: WONDRACEK, K.
O futuro e a ilusão: um embate futuro. Devido a sua grande amizade com Freud e a seriedade com que rebateu sua posição
com Freud sobre psicanálise e antirreligiosa teve seu artigo publicado por indicação do próprio Freud. Você pode ter acesso
religião. Rio de Janeiro: Vozes,
2003. Nesse livro vários autores a ele no livro organizado por Karen Wondracek (Wondracek, 2003. p. 17-56).
se debruçam sobre o embate
entre Freud e Pfister. Vale a pena Ao que parece Freud considerava muito as ideias de Pfister e, respeitava-o como
conhecer as demais posições
expressas nos 14 artigos sob os amigo, como figura de importância para seus filhos que o tratavam como um tio querido.
mais variados enfoques.
Com formação em Teologia, Pfister soube dialogar e mesmo enfrentar Freud em suas
posições fechadas em relação a quem tem fé.
Com base em sua resposta abriu-se um vasto campo para a interlocução sobre
o tema da ilusão na leitura psicanalítica da religiosidade humana.
Bons estudos!
Superando a visão freudiana que considera a pulsão ou libido aquilo que leva o
ser humano ao amadurecimento, a psicanálise das relações objetais considera o ambiente
um meio facilitador do amadurecimento humano. Assim, não seria somente o desejo
ilusional de proteção que faria as pessoas buscarem a religião, ter fé. A religiosidade
teria também outras razões e sentidos próprios e mesmo a ideia de ilusão passa a ser
considerada como algo positivo que nos faz ter acesso ao intangível pela via da criatividade
e da imaginação.
Esta mesma ilusão oferece uma explicação aos desvios gerados por situações
traumáticas e de abandono vividas nas primeiras etapas da vida. Estas experiências
influenciariam a vivência saudável da religião e, igualmente, incidiriam nos comportamentos
e atitudes religiosas doentias.
Freud sempre teve dificuldade para incorporar o fato religioso com a vida
cotidiana e não se deu conta que os rituais das religiões diferem dos rituais obsessivos
das pessoas doentes.
3 ANDRÉ GODIN
André Godin sofreu influência de Freud, Piaget, Jung, mas também de D.W.
Winnicott e, principalmente, de P.W. Pruyser, importante psicólogo da religião holandês,
ainda não traduzido para o português. Um ponto de divergência com Freud se deu ao
compreender que o mundo da ilusão faz a transição entre a fantasia privada e autística e o
mundo externo e real, podendo levar a experiência de alteridade (VALLE, 1998, p. 96-99).
Com base em sua teoria, para compreender o gesto de acender velas a um santo
é preciso buscar motivações inconscientes e/ou parcialmente conscientes em relação à
busca de sentido contida nesse gesto.
Quando essas defesas são excessivas, esse falso self se sobrepõe à personalidade
total tiranizando-a e sobrecarregando-a em um ou outro aspecto. Com frequência o falso
ATENÇÃO!
self incide nas vivências religiosas de caráter obsessivo. Para conhecer mais sugiro a
leitura do artigo de Gilberto
Desse modo, se faltou um cuidado genuíno e confiável vindo da mãe e do ambiente Safra: Sacralidade e fenômenos
transicionais: visão winnicottiana.
a criança não adquire a capacidade de “acreditar em” (believe in) e a capacidade de “ficar In: MASSIMI, M.; MAHFOUD,
só” indispensáveis para a experiência da oração e/ou filiação a qualquer religião. M. 1999, p. 173-182. Diante do
Mistério. São Paulo: Loyola,
1999. p. 173-182. Neste artigo o
Apresento a seguir, as fases do amadurecimento humano segundo a teoria de autor refere-se aos fenômenos
Winnicott, expressa ao longo de sua obra e organizada em detalhes por Elsa Oliveira Dias, transicionais e analisa os ícones
das igrejas como um lugar
psicanalista de São Paulo (Dias, 2003). Eu mesma fui adicionando em cada uma destas privilegiado para a vivência do
fases a esfera religiosa, que está melhor delineada no artigo que escrevi para a Revista sagrado.
Espaços (MASSIH, 2006).
ATENÇÃO!
1ª fase: dependência total do bebê com total adaptação da mãe Para compreender melhor esta
fase consulte a obra: MASSIH,
E. Da ilusão à utopia Psicologia
Neste período o bebê e a mãe constituem uma unidade da qual o bebê não tem da Religião e do amadurecimento
consciência que a mãe lhe fornece a ilusão de que tudo está bem. O bebê vive como se humano em DW Winnicott.
Revista Espaços. Ano 2006. Ed
ele mesmo tivesse criado o mundo que dele cuida. 14/2 ISSN 1677-4833 p. 157-174.
O bebê sente fome e rapidamente é saciado, o que o faz crer que é onipotente. INFORMAÇÃO:
Este é um modo didático de se
falar já que o bebê, por não ter
o sistema cortical desenvolvido,
Por confiar totalmente na mãe ou no ambiente que dele cuida, a criança instaura não poderia “crer ou tampouco
saber”. Pode sim vivenciar e
as bases do “acreditar em”, fator precursor da fé. Instauram-se também nesse período as guardar na memória corpórea
bases da devoção a partir da função espelho, já que a mãe é devotada ao bebê. (sistema nervoso reptiliano e
límbico) essas experiências
significativas.
Nesta etapa sedimenta-se a criatividade humana, pois, o bebê cria o mundo que
existe lá fora e que a mãe lhe fornece. A identificação é chamada primária pelo fato da
mãe e o bebê estarem fundidos.
Desse modo, pode-se afirmar que o mundo é captado pelo Sistema Nervoso
Reptiliano e os primórdios do Sistema Nervoso Límbico. Ao contrário da visão freudiana,
este período ilusional é que institui a capacidade de perceber o mundo real., o que não
ocorreria sem a ajuda da mãe natural ou substituta.
Aos onze (ou doze) meses o bebê aprende a usar os objetos transicionais nos
momentos de falta. A mãe, ora é este objeto, ora não é. Tal como se dá com os ícones das
religiões, em que o objeto evoca a divindade.
Aos dois anos e meio, a etapa de concernimento, se nada deu errado, terá sido
estabelecida. A criança já sabe que pode machucar/magoar, reconhecer que magoou e
buscar o perdão.
O bebê já sabe que a raiva vem de dentro dele (e não de um monstro ou algo
assim) e integra em si mesmo sua agressividade instintual. Integra também a mãe como
objeto interno e externo, apreendendo conceitos de realidade, tais como:
Aparece a imagem do pai como alguém que interdita as relações com a mãe. O
número 3 se esboça no psiquismo da criança possibilitando a apreensão da Lei, das normas.
Caso esta fase seja mal completada, haverá problemas no Ensino Religioso e no
convívio social. As patologias sociais surgem neste período.
Quando a mãe possui uma personalidade depressiva, a criança cria a idéia de que é ATENÇÃO!
ela quem causa a tristeza da mãe, sentindo-se inconscientemente culpada. A esse ou outros Para aprofundar seus
fatores de ordem afetiva pode associar-se uma religiosidade que se alimenta do sentimento conhecimentos sobre a questão
da culpabilidade leia o capítulo
de culpa frequentemente reforçado por certas linhas de formação religiosa. 7, O peso da culpabilidade, p.
105-118, da obra: CATALAN, J. F.
As defesas da criança não se associam à genuína percepção do mal causado a O homem e sua religião: enfoque
psicológico. São Paulo: Paulinas,
alguém e a conseqüente remissão pela mudança de atitude e comportamento. 1999.
Para que isso aconteça, a criança ou jovem deve ter a clareza interna de ser uma
pessoa totalmente em contato com outra e totalmente separada de quem pode causar danos.
Quando esse processo falha, o outro pode ser usado como complemento do
que falta a si mesmo. É importante lembrar que muitos transtornos sexuais (fetichismo,
voyeurismo e principalmente pedofilia) encontram-se aí enraizados.
O amadurecimento não para por aqui. Possui uma continuidade ao longo de uma vida
saudável com tarefas e etapas a cumprir, cada uma pedindo novas e adaptativas respostas.
6 MARIO ALETTI
proximidade dos conceitos
3
de objeto transicional, área
transicional e fenômenos
transicionais, todos eles a Com base na psicanálise das relações objetais a questão do psicólogo da religião
partir da teoria winnicottiana
que inovou o conceito não é mais a de responder a Freud sobre como libertar o homem das ilusões e sim libertar
de ilusão na literatura no homem a capacidade da ilusão.
psicanalítica em geral e na
Psicologia da Religião em Ao libertar no homem a capacidade da ilusão, o psicólogo da religião deve
particular.
observar o percurso ou itinerário em direção ao desejo de Deus, o que difere em muito da
necessidade da religião como muleta ou anteparo de um viver inautêntico e medroso.
Aletti (2004) nos sugere com muita procedência que acompanhemos o sujeito que
vive a experiência religiosa em seus percursos e desdobramentos. Como está evoluindo esta
intuição primeira? Esta apropriação da ilusão é genuína e instaura um modo criativo de estar no
mundo e relacionar-se com a religião? Afirma que o desejo de Deus no homem é um percurso
“atravessado por ilusões, decepções e também delírios, enquanto ligado a vicissitude pessoal, a
seus processos, a seus conflitos e aos resultados destes conflitos” (ALETTI, 2004, p. 20).
Fica claro em sua teoria que o brincar da criança não pode ser simplesmente
transposto para a experiência ilusional religiosa, pois, o adulto é permeado por outras
instâncias: a cultura, sua resolução das problemáticas pessoais e desenvolvimentais e, a
religião na qual nasce e é formado.
Aletti (2004) ratifica Vergote que tem uma visão mais ampla do fato religioso,
dos fenômenos de crença e descrença e da adesão a uma religião específica. Em uma frase
a posição de Aletti (2004, p. 26) em sua concordância com Winnicott:
Para Winnicott, nossas ilusões são nossas iluminações. A ilusão não é um erro,
e também não uma verdade, mas o lugar de emergência do verdadeiro, porta aberta de
um percurso.
7 CONSIDERAÇÕES
Nesta unidade, você pôde estudar e analisar alguns conceitos relacionados à
psicanálise e à psicologia da religião, com base nas ideias de Freud, Godin, Winnicott, Ana
Maria Rizutto e Mario Aletti.
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALETTI, M. A. Representação de Deus como objeto transicional ilusório. Perspectivas e
problemas de um novo modelo. In. PAIVA, G.J.; ZANGARI, W.(Org.) A representação na
religião: perspectivas psicológicas. São Paulo: Loyola, 2004, p. 19-50.
Objetivo
• Reconhecer e analisar a realidade brasileira da psicologia
da religião.
Conteúdos
• O que é o seminário de psicologia e senso religioso?
ATENÇÃO!
1 1 INTRODUÇÃO
Para ampliar seus conhecimentos
sobre a Psicologia da Religião,
procure distribuir racionalmente
os períodos de estudo: organize
seu horário de maneira que não Nesta unidade, você será convidado a refletir e estudar, de forma sucinta,
fique saturado e procure variar
seu programa, alternando entre apesar de alguns pontos já terem sido mencionados nas unidades anteriores, sobre todo o
escrever, ler, refletir, participar período histórico da psicologia da religião, perpassando por suas principais épocas e seus
na Sala de Aula Virtual, realizar respectivos autores.
atividades etc.
1) século 19;
2) século 20;
3) século 21.
2 BALANÇO HISTÓRICO
No desenrolar dos anos eram muitas as discussões e polêmicas epistemológicas
tanto dentro da psicologia quanto em seu confronto com as demais ciências. Sucederam-
se, por essa razão, momentos de altos e baixos na história da psicologia da religião.
Constatemos essas informações:
Século 19
Século 20
A religião passou a ser vista como um fenômeno secundário que não merecia
maior atenção por parte das ciências humanas.
A psicologia da religião, por sua vez, foi muito atingida por essa virada positivista
e materialista que, na psicologia, teve seus representantes mais expressivos por meio do
behaviorismo, da psicanálise freudiana e da psicologia marxista.
Nessa fase, foram as igrejas cristãs que mantiveram algum tipo de atenção à
psicologia da religião, embora quase sempre com um viés apologético. Houve exceções
importantes.
Anos 1950
Anos 1960
A influência desses estudiosos chegou ao Brasil no início dos anos 1960, década
em que a psicologia teve notável incremento em nosso país, com o reconhecimento oficial
da profissão do psicólogo e a criação de cursos de psicologia destinados à formação de
profissionais.
Nessa mesma ocasião foi criada em São Paulo a Sociedade Brasileira de psicologia
da Religião que reunia médicos psiquiatras, psicoterapeutas, teólogos protestantes e
católicos e os primeiros psicólogos da religião. Infelizmente, na fase de retrocesso do
interesse, essa instituição desapareceu.
Anos 1990
Nos anos de 1990, porém, deu-se uma inversão nessa curva descendente.
Paralelamente ao retorno das religiões no plano mundial, houve uma retomada dos
estudos científicos voltados para a religião.
Final do século 20
Já havia surgido no Brasil em meados dos anos 1980 dois centros interdisciplinares
representativos de alto nível. No Rio de Janeiro, o ISER (Instituto Superior de Estudos da
Religião) e, em São Paulo, o CER (Centro de Estudos da Religião).
Século 21
Geraldo José de Paiva, psicólogo social, professor titular do IPUSP, foi quem
organizou o livro referente ao III Seminário ocorrido em São Paulo, em 1999, no Centro
Maria Antônia. Em parceria com Wellington Zangari, organizou também o livro referente
ao IV Seminário, acontecido em São Paulo, na PUC/SP.
prática clínica e de como os psicoterapeutas podem e devem fazer uso desse fato para a
compreensão e melhoria da qualidade de vida de seus pacientes.
Não há mais como negar a religiosidade como um modo próprio e possível de ser
no mundo. A busca das religiões e dos profissionais ligados a acompanhamento espiritual
e psicológico é hoje um direito do cidadão como a alimentação, a saúde, a justiça e a
educação. Cabe a nós, profissionais da área, buscar as ferramentas adequadas.
referência ao tema até uma postura de total aceitação das experiências ligadas à emoção
e sentimento religioso. O que a autora considera mais perigoso é o fato de que estas
posturas são inconscientes e precisariam ser devidamente trabalhadas por quem se dispõe
a atender pessoas nas mais variadas situações humanas.
As quatro posturas elencadas por Wullf são didáticas e fornecem apoio para se
trabalhar com o itinerário do amadurecimento espiritual de pessoas e grupos.
Freud afirmava que devemos considerar sempre o fato religioso como doentio e que
as religiões acabariam com o avanço das ciências. Porém, nada disso se deu, pelo contrário,
as experiências religiosas e místicas se multiplicam no mundo. O que nos resta é aprender
a lidar com esse fenômeno e abordá-las de modo próprio e científico sem cair no extremo
oposto de sacralizar ou absolutizar o fato religioso por falta de critérios organizadores.
O símbolo religioso, o rito, a palavra, o mito são sempre maiores que nossa
capacidade de apreensão; excedem as categorias de entendimento comum e
seus vários sentidos, dão-se a ver e se retraem, provocando conhecimento
instantâneo vivo para, em seguida, tornarem-se apenas lembranças.
A aparente fugacidade da experiência religiosa faz com que lhe tiremos o estatuto
de realidade, baseados em um mundo funcional que vê como realidade simplesmente o
que se mantém ao longo do tempo e se materializa em obras concretas e imediatas.
4) Profissionais integrados que sabem dar o devido lugar ao religioso, sem julgá- INFORMAÇÃO:
Ancona-Lopez aponta para as
lo totalmente inútil ou prejudicial e sim tirando da mistificação e elevando-o interfaces entre o fato religioso
a fonte de significado e fé na vida. e as patologias informando que
a partir de 1994 a categoria
Para ilustrar, vejamos no esquema a seguir, as quatro atitudes básicas de Wulff Problemas religiosos foi
incluída no DSM-4, Manual
(em Ancona-Lopez (1999, p.78). da Associação Americana de
Psiquiatria. Esta categoria pode
ser usada “quando o foco da
Exclusão da transcendência atenção clínica é um problema
religioso ou espiritual como
experiências estressantes
Negação literal Interpretação redutiva que envolvem a perda ou
questionamento da fé, problemas
Literal Simbólica associados à conversão para
Afirmação literal Interpretação restauradora uma nova fé, questionamento
dos valores espirituais,
relacionados, ou não, a uma
igreja organizada ou instituição
Inclusão da transcendência religiosa”.
5 PSICANÁLISE E TEOLOGIA
recomendo a leitura sistemática
do artigo de Cazarotto na
Revista Vida Pastoral referida na
bibliografia desta unidade. Ah,
Dentre os autores brasileiros, o mais preparado para esta interlocução é caso queira conhecer algo da
certamente Valle (2005), que elenca em seu artigo algumas citações de Freud e de Rizutto, clínica da espiritualidade, convido
você a partilhar o artigo de minha
autores significativos para a compreensão do diálogo entre psicólogos e teólogos ao longo autoria publicado na Rever,
de quase um século. também referido na bibliografia
desta unidade.
Freud afirmava ainda não ser fácil lidar cientificamente com estes sentimentos. INFORMAÇÃO:
A afirmação revela o aprisionamento de Freud a um modelo que, de fato, não se adaptava Esta teria sido a frase de Freud:
“Não consigo descobrir em mim
ao objeto de estudo da psicologia da religião: as experiências religiosas e sua elaboração este sentimento oceânico. Não
ao longo do amadurecimento do indivíduo. é fácil lidar cientificamente com
sentimentos”. No artigo de Valle
(2005) você encontra maiores
Hoje em dia fala-se de uma certa abertura, iniciada na Associação dos Psicólogos detalhes sobre seu diálogo
dos Estados Unidos, que teriam criado uma 36ª divisão destinada aos interessados em epistolar com Roman Rolland.
Faz-se referência ainda a Morano (2003) que apresenta na obra Crer depois
de Freud a luta que precisou manter consigo mesmo enquanto escrevia sua tese de
doutoramento e que culminou com a publicação do livro Crer depois de Freud após ter
concluído a tese que o engessava. Padre jesuíta e psicanalista, vê no fato religioso o
resultado de sentimentos infantis de onipotência ancorados na ilusão, uma das mais
acabadas expressões da onipotência das idéias. É muito interessante ter um contato
direto com a totalidade desta obra que não caberia detalhar neste contexto de introdução
à Psicologia da Religião.
Algo parecido ocorreu com Ana Maria Rizutto, freudiana de formação, que passa
a dialogar com o conceito de ilusão em Winnicott. Hoje em dia contamos também com
Igualmente Gilberto Safra conceitua com clareza o que ele chama de “idioma
pessoal“, um complexo que inclui as visões teológicas e teleológicas do paciente e o levam
a ampliar seu self em direção ao transcendente.
Observe que são aspectos que incluem sua realidade corpórea e sensória
(biológica), sua capacidade de pensar e entender (a mente), sua realidade emocional
(os sentimentos).
6 CONSIDERAÇÕES GERAIS
interatividade sugerida é apenas
uma possibilidade de ampliar
seus conhecimentos, pois a
Interatividade oficial proposta
para esta unidade consta Assim termina a última unidade da disciplina Psicologia da Religião, com a
do Caderno de atividades e
interatividades.
qual você teve a oportunidade de compreender os principais conceitos relacionados a este
tema, delimitando a área de atuação da psicologia da religião, objeto de estudo e tarefas
enquanto disciplina científica.
7 E–REFERÊNCIA
MASSIH, E. Obsessão, culpa e espiritualidade em um religioso com comportamento
pedofílico. Disponível em: <http://www.pucsp.br/rever/rv1_2006/t_massih.htm>. Acesso
em: 3 ago. 2009.
8 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AMATUZZI, M. M. (Org.) Psicologia e espiritualidade. São Paulo: Paulus, 2005.
MASSIMI, M.; MAHFOUD, M. (Org.) Diante do mistério. Psicologia e senso religioso. São
Paulo: Loyola, 1999.
SAFRA, G. Religiosidade e representação na clínica do self. In: PAIVA, G. J.; ZANGARI, W. (Org.) A
representação na religião: perspectivas psicológicas. São Paulo: Loyola, 2004. v. 1.